sábado, 1 de junho de 2019

Sob tensão, PSDB elege Bruno Araújo, aliado de Doria, para presidir partido

Ex-deputado sucede Alckmin no comando da sigla ao ser eleito em chapa única

Carolina Linhares, Daniel Carvalho / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo (PE), 47, foi eleito presidente nacional do PSDB nesta sexta-feira (31) em Brasília com o objetivo de colocar em prática as diretrizes do novo PSDB, engendrado pelo governador João Doria (SP), hoje principal líder do partido na ativa.

Doria, que constrói a sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2022, foi recebido pela militância tucana aos gritos de “Brasil pra frente, Doria presidente”. Em um espaço de eventos, o governador paulista chegou acompanhado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), de quem se tornou aliado na articulação para aprovação da reforma da Previdência.

Bruno Araújo sucede o ex-governador Geraldo Alckmin no comando do PSDB. Ele foi eleito em chapa única não porque todos os tucanos concordem com os rumos ditados por Doria, que prega renovação, mas porque caciques fundadores da sigla não conseguiram viabilizar um nome competitivo.

O novo presidente do PSDB, assim como Doria, afirma que o partido será de centro –rejeitando o que consideram extrema esquerda e extrema direita. Ambos, no entanto, colaram suas campanhas no ano passado a Jair Bolsonaro (PSL), para surfar na onda conservadora que elegeu o presidente da República.

Em Pernambuco, Araújo é conhecido como um político tradicional, pragmático e habilidoso nos bastidores. No ano passado, chegou a elogiar o ex-presidente Lula (PT) classificando o petista, cuja popularidade é alta no Nordeste, de “presidente excepcional”.

Em 2015, ganhou holofote nacional ao proferir o voto que sacramentou, na Câmara, a admissibilidade do impeachment da ex-presidente Dilma (PT). Araújo é advogado e filho do ex-deputado estadual Eduardo Araújo. Em 1998, aos 26 anos, foi eleito pelo PSDB o deputado estadual mais jovem de Pernambuco.

Nesta sexta, logo após sua eleição ao comando do partido, Araújo disse que o PSDB terá uma postura de independência em relação ao governo Bolsonaro e fará oposição quando achar necessário.

"[Teremos] uma posição de absoluta independência. Se for necessário, oposição nos momentos em que haja discordância, e há", afirmou o tucano.

"Primeiro em relação à compreensão que democracia se constrói num processo de diálogo com as instituições, de forma firme. Não é só chamando para assinar algumas folhas de um pacto. É com interlocução direta, tratando com os representantes da sociedade civil organizada", completou.

O novo presidente tucano defendeu que o partido feche questão a favor da reforma da Previdência e afirmou que vai trabalhar para tirar do partido a característica de não ter posicionamento claro sobre os principais temas do país, como, por exemplo, o decreto sobre porte de armas.

Representantes de DEM, MDB, PP, PL (ex-PR) e PRB participaram da convenção, mas Araújo disse acreditar ser muito cedo para se falar sobre se refazer a aliança para as eleições de 2022.

Na convenção desta sexta-feira, a tensão entre a velha guarda tucana e aliados de Doria ficou evidente, por meio de discursos e de uma briga. Dois grupos da juventude do partido, um ligado ao governador paulista e outro ligado e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, trocaram agressões físicas.

A confusão começou quando o grupo de Doria vaiou a nova presidente da juventude tucana, Júlia Jereissati, sobrinha do senador Tasso Jereissati (CE) e representante do grupo opositor. Até o presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, que foi indicado por Doria, se envolveu no bate-boca.

Aliados de Doria estavam vestidos com camiseta amarela e boné azul, onde se lia “novo PSDB”. Já o grupo próximo a Alckmin questionava se a alegada renovação era real. Questionavam, em tom de ironia, se os "cabeças-pretas" não eram apenas cabelos brancos tingidos.

No entanto, a ala alckmista não se furtou a fazer autocrítica. Em rodas de conversas pelo salão, aliados reconheceram o tamanho da derrota na disputa eleitoral do ano passado, quando Alckmin obteve apenas 5% dos votos na corrida ao Planalto, e a perda de espaço no lado direito do espectro político para o presidente Jair Bolsonaro, do PSL.

"Sentimento de dever cumprido", disse Alckmin, ao chegar à convenção. Questionado sobre seu sucessor, se comprometeu a ajudá-lo. "Bruno é um bom quadro, preparado, animado. Vai fazer um bom trabalho e vamos ajudá-lo."

Um dos jovens quadros do partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, vê "um processo de renovação natural e, ao mesmo tempo, com responsabilidade de respeitar o passado e construir o futuro".

Já o senador Tasso Jereissati disse que a transição é importante e representa a superação de "um período difícil". "Renovar não é só idade, é ideias. Cabeça nova, hábitos, comportamento político. Tem muita gente nova. Muita gente boa, que tem condições de levar o partido no seu rumo verdadeiro", afirmou.

Sobre a reaproximação com DEM e MDB, representados, respectivamente, por Rodrigo Maia (DEM) e Romero Jucá (presidente nacional da sigla), disse entender que é algo necessário.

"Estamos vivendo em um momento de extremos. Extrema-direita de um lado, extremamente radicalizada, intransigente e intolerante, e a mesma coisa na esquerda. E a grande maioria silenciosa brasileira não está em nenhuma dessas extremidades e precisa de um grupo político que os represente."

Rompido com Alckmin na eleição passada, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), pregou que "o PSDB não pode ter dono", "tem que redefinir identidade" e defendeu o parlamentarismo, momento em que foi aplaudido.

O prefeito disse que o PSDB não é mais o partido que polariza e cobrou "que nunca mais se realize eleição para presidente da República sem prévias duras" e fez autocríticas. "Que saiam daqui notícias das vaias, das divergências, mas que tem um jovem de valor que assume a presidência do PSDB", disse Virgílio.

A convenção nacional que elegeu a nova direção do PSDB foi mais modesta que as anteriores. O evento tucano foi realizado no mesmo centro de eventos onde Alckmin lançou sua candidatura à Presidência no ano passado, mas desta vez não ocupou o salão principal, reservado a um congresso médico.

Os filiados se reuniram em um salão no subsolo, contíguo à garagem. O público se aglomerou à frente do palco e sobraram cadeiras vazias ao fundo.

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