quinta-feira, 25 de julho de 2019

Bernardo Mello Franco: O triunfo de Boris

- O Globo

A maioria dos britânicos não compraria um carro usado de Boris Johnson. Mesmo assim, ele foi escolhido para assumir o cargo de primeiro-ministro

No mês passado, o instituto YouGov fez uma pergunta inusitada aos eleitores britânicos: “Você compraria um carro usado deste homem?”. O questionário
citava seis políticos cotados para o cargo de primeiro-ministro. O pior desempenho foi o de Boris Johnson. De cada dez entrevistados, seis se recusariam a fechar negócio com ele.

A pesquisa também perguntou quem teria mais chances de conduzir o Partido Conservador à vitória nas próximas eleições. Desta vez, Boris saltou do último lugar para o primeiro. Para 47%, ele seria a melhor escolha para derrotar a oposição trabalhista.

Boris começou a vida profissional como jornalista, mas perdeu o primeiro emprego por publicar frases inventadas. O vexame não reduziu suas ambições. Em pouco tempo, ele voltaria à cena como participante de um programa de humor na TV.

O sucesso foi instantâneo. O ex-repórter conquistou uma legião de fãs e transformou o cabelo desarrumado em marca registrada. Depois transportou o personagem cômico para a política. Com poucas convicções e muitas piadas, virou prefeito de Londres.

Seu mandato de oito anos foi um circo permanente. Ele se especializou em produzir factoides e cenas engraçadas. Durante as Olimpíadas de 2012, saltou de uma tirolesa empunhando duas bandeirinhas britânicas. Perdeu velocidade e ficou pendurado no meio do caminho, a seis metros do chão.

“Se qualquer outro político no mundo ficasse preso numa tirolesa, seria um desastre. Para Boris, é um triunfo absoluto...”, resignou-se o então premiê David Cameron, seu colega no Partido Conservador.

Nos últimos tempos, Boris se aproximou do estilo de Donald Trump. Ele espalhou fake news para defender o Brexit e usou termos pejorativos para debochar de imigrantes muçulmanos. Em artigo publicado no “Daily Telegraph”, comparou mulheres que vestem burcas a ladrões de banco e caixas de correio.

Os britânicos não confiam no novo premiê, mas reconhecem seu talento para entreter a plateia. No mundo de hoje, isso parece suficiente para chegar ao poder.

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