segunda-feira, 15 de julho de 2019

Ricardo Noblat: Para quem governa o capitão

- Blog do Noblat / Veja

De costas para a maioria

A maioria dos brasileiros é contra os projetos do presidente Bolsonaro que enfraquecem as regras de fiscalização do trânsito, segundo pesquisa Datafolha realizada nos últimos dias 4 e 5 com 2.006 pessoas acima de 18 anos, em 130 municípios.

A proposta de acabar com a multa para quem transporte crianças de até sete anos sem cadeirinhas nos automóveis é rejeitada por 68% dos entrevistados. Em Nova Iorque, sem cadeirinha, nem recém-nascido sai da maternidade.

Bolsonaro quer acabar com radares de velocidade nas rodovias. Pois bem: 67% dos entrevistados pelo Datafolha são contra. Aumentar de 20 para 40 o limite de pontos da carteira de habilitação? Nem pensar, segundo 56% deles.

É verdade que a família de Bolsonaro – ele próprio, a mulher Michelle e os três filhos – coleciona pelo menos 44 multas de trânsito nos últimos cinco anos. Mas, convenhamos, nem por isso se deve mudar a lei. O problema é deles.

Na semana passada, o Datafolha mostrou que 70% dos brasileiros reprovam o projeto de Bolsonaro para facilitar a compra e o porte de armas. Foi sua principal promessa de campanha. Apoio ao projeto, só entre os mais ricos.

Para quem realmente governa Bolsonaro? Outras pesquisas indicam que a maioria dos brasileiros apoia a reforma da Previdência. Ele, Bolsonaro, foi constrangido a apoiar. Mandou a reforma para o Congresso e espera que seja aprovada

Parece terrivelmente desconectado até dos que o elegeram.

Escondido, Queiroz observa, mudo

Derrota à vista
Está prevista para amanhã a votação pela segunda turma do Tribunal de Justiça do Rio de um recurso da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) que pede o fim das investigações dos seus rolos da época em que foi deputado estadual.

O mais provável é que as investigações sejam mantidas por três votos a zero. As suspeitas que pesam sobre o senador são encaradas pelo pai dele como a maior ameaça ao destino do seu governo. Elas podem atingir em cheio o clã Bolsonaro.

Enquanto isso, em algum lugar escondido do Rio, Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista de Flávio, amigo de Bolsonaro há 40 anos, observa tudo à distância e em silêncio. Os outros que cuidem para que ele permaneça assim.

Bolsonaro perdeu a chance de ficar calado

Silêncio é ouro
De tão abissal é a ignorância do presidente Jair Bolsonaro, ou sua convicção rastaquera de que a preservação do meio ambiente é coisa da esquerda, que ele prometeu acabar com as taxas cobradas pelo governo federal a quem queira visitar o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

Obrigado a calar a boca por três dias depois da extração de um dente, o capitão afastado do Exército porque planejou detonar bombas em quartéis nos estertores da ditadura militar de 64 quebrou o silêncio durante o fim da semana. Valeu-se para isso da sua conta no Facebook administrada pelo garoto Carlos.

Compartilhou um vídeo que mostra deserta a Praia do Sancho, eleita pelo TripAdvisor como a melhor do mundo. E classificou “como roubo praticado pelo governo federal” a cobrança de taxa para visitá-la. Prometeu acabar com isso e pediu que a população denuncie práticas semelhantes em outros locais.

O valor do ingresso no parque é de R$ 106,00 para turistas brasileiros e R$ 212,00 para estrangeiros. Os turistas que vão a Noronha são obrigados a pagar ainda uma taxa de preservação que varia de acordo com a quantidade de dias que passarão na ilha. Ela começa em R$ 73,52.

Não se pode ficar por lá indefinidamente. É limitado o número de moradores da ilha porque ela carece de infraestrutura para abrigar uma população maior. Noronha é uma espécie de santuário mundial das forças da natureza. Como a Amazônia deveria ser, não fosse a devastação que a destrói.

O capitão, que já foi multado por pesca em área proibida, acha que é por causa do que acontece em Noronha e em outros lugares que o Brasil não atrai tantos turistas. Não é possível que falte vida inteligente ao seu redor para aconselhá-lo a respeito de assuntos que ele não domina, e que é quase tudo.

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