terça-feira, 10 de setembro de 2019

Ricardo Noblat - O embaixador pistoleiro e o guerrilheiro Carlos

- Blog do Noblat | Veja

Boletim sobre os intrépidos garotos
Com o pai preso a um leito de hospital e impedido por ora de dizer ou de cometer sandices, os garotos Carlos e Eduardo Bolsonaro voltaram a pontificar em grande estilo nas redes sociais.

Haveria melhor momento para chamar atenção e aumentar o número dos seus seguidores, sejam eles devotos mansos ou adversários indignados? Não resistiram, pois.

À caça de votos para ser nomeado embaixador do Brasil em Washington, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou no Instagram uma foto sua ao lado do pai convalescente.

Detalhe que o aspirante a diplomata fez questão de mostrar: na cintura, uma pistola Glock 9mm de cor preta. É a arma padrão usada pelos policiais federais. Eduardo é escrivão licenciado.

Pode uma visita entrar armada em um hospital e circular por ali? A direção do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, respondeu que cabe à presidência da República cuidar da segurança do enfermo.

E da segurança dos outros enfermos e funcionários do hospital, quem cuida? E se Eduardo sacasse a arma para reagir ao desacato de um eventual inimigo com quem cruzara pelos corredores?

O Zero Três gosta de armas, de praticar tiro ao alvo e de falar grosso quando pode. Não foi ele que deu a receita para fechar o Supremo Tribunal Federal? Bastariam um cabo e dois soldados.

Ultimamente discreto no Twitter, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) voltou com a corda toda. Em meio aos elogios de praxe ao pai e ao governo, postou um comentário que logo bombou.

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”

Se por vias democráticas o Brasil não mudará na velocidade desejada por ele e os que pensam como ele, o que sugere o Zero Dois? Pegar em armas? Aplicar um golpe? Instalar uma ditadura?

Convenhamos: isso não seria um comportamento típico da esquerda que os Bolsonaros acusam de antidemocrática, autoritária e golpista? Não teria mais a ver com Cuba e Venezuela?

É fato que uma fatia da esquerda pegou em armas duas vezes com a promessa de mudar o Brasil: em 1935 e no final dos anos 60. Foi esmagada pelas ditaduras de Getúlio Vargas e dos militares.

Os garotos estão preocupados com a queda de popularidade do pai e do seu governo, e com a ameaça de voltarem a ser investigados pelo Ministério Público no caso de rolos fiscais (alô, alô, Queiroz!).

De resto, têm colecionado más notícias. Uma delas, a derrubada pelo Congresso do veto do seu pai ao projeto de lei que aumentou a pena para quem distribuir notícias falsas nas redes sociais.

Eduardo protestou. Disse que o projeto só beneficia a esquerda que dispõe de “melhores advogados”. O pai o apoiou. Os dois negam que distribuam notícias falsas. (kkkkkkkkkkkkkkkkk)

Tirar dos Bolsonaros seu principal instrumento de fazer política é desarmá-los por completo, é deixá-los expostos à sua falta de ideias construtivas, é reduzi-los à sua magnífica insignificância.

O aspirante a diplomata bem que poderia se ocupar fritando hambúrguer para os amigos em Washington. Mas, e o guerrilheiro de fancaria? Com o que iria se ocupar?

Huck quer um lugar no caldeirão de 2022

Te cuida, Doria!
Foi o discurso possível que a essa altura alguém se arriscaria a fazer como aspirante a candidato à sucessão do presidente Jair Bolsonaro. Se lhe perguntarem se será, negará. É de praxe.

Em seminário promovido pela revista Exame, em São Paulo, diante de uma plateia de executivos de empresas, o apresentador do Caldeirão do Huck falou como se só pensasse naquilo.

Descreveu-se como uma pessoa “com a cabeça aberta”. Disse que o Brasil precisa se debruçar sobre problemas urgentes como a falta de mobilidade social e o atraso na educação.

Contou histórias sobre pessoas que conheceu ao viajar pelo país para as gravações do seu programa na Rede Globo de Televisão, e afirmou que “se a gente não fizer nada, este país vai implodir”.

Explicou: “Eu não convivo bem com a polarização. Eu não sou um cara do grito, de falar alto. Eu não enxergo as pessoas que pensam diferente de mim como inimiga”.

Parte da plateia agitou-se ao ouvir: “A gente não acha que vai discutir redução de desigualdade ou solução para favela com um monte de gente branca, rica, sentada numa mesa na Faria Lima”.

E convocou o que chamou de elite a abandonar a indiferença e “colocar a mão na massa” para buscar uma transformação no país. Advertiu, cuidadoso, como quase todo político costuma fazer:

– Isso não é um projeto pessoal, isso não é um projeto de poder, isso não é um projeto político. É um projeto de país.

Sobre o governo Bolsonaro, só uma frase: “A agenda econômica deste governo é correta”. Mas não se recusou a alfinetar Lula e o prefeito Marcelo Crivella, do Rio.

“A gente precisa de uma narrativa conciliadora no Brasil. Não dá para ficar brigando com todo mundo, discutindo, iludindo as pessoas. E, olha, não é de hoje. Já usaram muito a retórica do ‘nunca antes na história deste país’. Não é verdade.”

“De coração, acho que o povo para valer não está preocupado com como é que é o desenho do casal que está no gibi da Marvel. As pessoas querem saber como a vida delas pode melhorar de verdade. É só isso”.

Arderam as orelhas do governador João Doria (PSDB-SP) que sonha em ser o candidato da direita para desbancar Bolsonaro na eleição de 2022.

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