terça-feira, 29 de outubro de 2019

Bernardo Mello Franco – A birra presidencial contra a Argentina

- O Globo

Bolsonaro precisa engolir o choro e se conformar com a vitória de Alberto Fernández. Criticar a escolha dos argentinos soa como birra e contraria os interesses do Brasil

Jair Bolsonaro se recusou a cumprimentar o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. Acrescentou que o país vizinho “escolheu mal”, numa afronta aos eleitores que foram às urnas no domingo.

Fernández chegou ao poder por decisão dos argentinos. Foi eleito no primeiro turno, batendo Mauricio Macri. Sua vitória frustrou Bolsonar o, que tentou interferir na disputa a favor do atual inquilino da Casa Rosada.

Passada a eleição, o governo brasileiro deveria adotar uma atitude pragmática. A Argentina é a nossa terceira maior parceira comercial. Tensionar a relação por motivos ideológicos contraria o interesse nacional.

Isso é o que um chanceler normal diria ao presidente. Mas o chanceler brasileiro se chama Ernesto Araújo, e passou o dia no Twitter esperneando contra o triunfo do candidato peronista. Numa postagem, ele escreveu que as “forças do mal” estavam em festa. Em outra, sugeriu que Fernández vai apoiar ditaduras —no mesmo dia, seu chefe visitou o Catar e a Arábia Saudita.

Alheio a esses delírios, Macri agiu como um democrata. Reconheceu a derrota, acordou cedo e recebeu o sucessor para dar início à transição. Quando ele se elegeu, em 2015, a então presidente Cristina Kirchner se recusou a cumprir o ritual.

Hostilizar a Argentina porque Fernández defende a libertação de Lula soa como birra infantil. Bolsonaro tem que engolir o choro e se acostumar à vitória do peronista, que ficará no poder pelos próximos quatro anos.

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Bastou o Queiroz voltar ao noticiário para Bolsonaro cavar outra polêmica. Em vídeo publicado nas redes, ele se comparou a um leão sob ataque. No papel das hienas, apareceram partidos políticos, veículos de comunicação, as Nações Unidas e o Supremo Tribunal Federal.

O presidente sempre rugi upara instituições democráticas. Mesmo assim, exagerou ao comparar o STF a um predador em busca de carniça. O vídeo contou mais de 1,2 milhão de visualizações. Quando foi retirado do ar, já havia cumprido a tarefa de incitar a tropa governista.

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