sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Bruno Boghossian – Diploma de baixo clero

- Folha de S. Paulo

Disputa mostra que operação política desvairada do presidente virou fumaça

A guerra no PSL é um retrato acabado da operação política desvairada de Jair Bolsonaro. O presidente usou o Planalto para tentar derrubar o líder do próprio partido --e fracassou; recebeu retaliação de aliados e foi gravado por um correligionário; depois, demitiu a líder do governo, a quem acusa de traição. Tudo isso em apenas 24 horas.

Ao mergulhar na disputa pelo comando da legenda, Bolsonaro lançou uma espécie de voto de desconfiança dentro de sua própria sigla. O presidente pediu um sinal de apoio a si mesmo quando apelou aos deputados para que destituíssem o líder do PSL. Para piorar, ofereceu o filho Eduardo como substituto e foi obrigado a ver parte da sigla reagir contra alguém com seu sobrenome.

A retirada de Joice Hasselmann da liderança do governo no Congresso é um sintoma claro de que a expressão política do bolsonarismo virou fumaça (se é que um dia existiu).

O presidente se livrou imediatamente da deputada, porque ela se recusou a assinar a lista que daria o comando do PSL na Câmara à facção alinhada ao Planalto, mas manteve no posto o líder do governo no Senado mesmo depois que ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal.

Confrontado com o noticiário sobre as batalhas, Bolsonaro dizia que era tudo fofoca. A gravação em que ele pede apoio a deputados e o áudio em que o líder do PSL promete "implodir o presidente" mostram que o mexerico é dos grandes.

Deputados que foram ao Planalto relataram que a ordem de Bolsonaro seguia a linha: "assina, senão é meu inimigo". Foi o próprio presidente, portanto, quem incluiu seus impulsos personalistas incorrigíveis no embate pelo comando da sigla.

O capital eleitoral que levou Bolsonaro ao palácio e 53 deputados ao Congresso escorre pelo ralo numa enxurrada. Os sinais da desordem sempre estiveram aí --da absoluta incompetência do governo na articulação ao comportamento juvenil da bancada da selfie. A disputa só deixou mais visível o diploma de baixo clero pendurado na parede.

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