segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Danielle Brant – Um líder que corre

- Folha de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro vira chacota por fugir da imprensa pelos corredores da Câmara

Terças-feiras costumam ser corridas na Câmara. É o dia em que os deputados iniciam de fato sua semana e concentram seus esforços de articulação para aprovar projetos que consideram importantes.

A terça-feira passada teve um ingrediente peculiar: foi a primeira em tempos em que um líder de partido correu pelos corredores da Câmara.

O líder, no caso, era recém-empossado: trata-se de Eduardo, o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, o mesmo que protagonizou o dramalhão com reviravoltas que virou a disputa pelo comando do PSL na Câmara.

Já o motivo da corrida é questionável: o sprint não foi para aprovar um projeto ou para chegar a tempo a uma comissão, e sim para fugir da imprensa. Tudo registrado em vídeo.

Verdade seja dita: na gravação de 35 segundos, Eduardo demonstrou fôlego invejável. E pode realmente fazer parte da nova política correr pelos corredores da Câmara --se bem que, considerando a média etária e a disposição física dos outros líderes da Casa, talvez seja uma forma inútil de articular, sem entrar no mérito do bom senso.

O saldo, contudo, foi negativo para o 03. No mesmo dia em que derrotou a ala ligada ao presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), e desistiu do cargo de embaixador do Brasil em Washington, Eduardo virou motivo de chacota para muitos de seus colegas --e não somente da oposição.

O deputado não chegou ontem à Câmara. Ele já preside a Comissão de Relações Exteriores da Casa. Também é visto como sucessor político natural de seu pai --Flávio, o filho mais velho, lida com a incômoda investigação de "rachadinha" envolvendo o assessor Fabrício Queiroz; e Carlos, o 02, é visto como radical, além de ser associado ao "gabinete do ódio" do Palácio do Planalto.

Dito isso, vale lembrar que uma das atribuições dos líderes partidários é receber críticas e lidar com situações incômodas. Embora não haja previsão legal para entrevista coercitiva, Eduardo deveria saber que ocupa um cargo público e tem o dever de prestar contas à população.

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