sábado, 26 de outubro de 2019

Huck defende doações privadas em campanha eleitoral e parlamentarismo

Cotado para disputar Presidência, apresentador falou a políticos e empresários em evento em São Paulo

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Cotado para concorrer à Presidência da República em 2022, o apresentador Luciano Huck despistou sobre seus planos, mas falou muito de eleições e política em um evento nesta sexta-feira (25) em São Paulo. Ele defendeu mudanças no financiamento de campanhas, disse apoiar o voto distrital e demonstrou simpatia pelo parlamentarismo.

“Acho que a gente tem que rever doações. Com critérios, mas não pode ser única e exclusivamente um fundo público que vá sustentar os partidos e as eleições”, afirmou em seminário da Comunitas, organização independente que atua em parceria com governos e iniciativa privada.

“Você limitar o financiamento político-partidário e eleitoral só a um fundo público, no montante que ele está hoje, gerido e administrado por quem está dentro dele, eu não acho que seja o sistema mais eficiente e democrático”, disse.

Para ele, o que existia “no passado, de você poder doar para todo mundo, a qualquer tempo, independentemente da sua ideologia e da sua crença, não funcionou. Tem que trazer isso para o debate de novo”. As doações privadas foram proibidas em 2015.

O apresentador da TV Globo, que não está filiado a nenhum partido, afirmou ter ressalvas sobre a possibilidade de autorização para candidaturas independentes no Brasil. O STF (Supremo Tribunal Federal) fará audiência pública sobre o tema em dezembro e julgará uma ação sobre a possibilidade de permitir a candidatura de pessoas sem filiação.

“Não sei se candidaturas independentes, neste momento, com mais de 30 partidos, iriam contribuir”, considerou Huck. Ele apontou a necessidade de uma reforma política ampla, para instituir o sistema de voto distrital puro ou misto e fortalecer os partidos.

“Para que [as legendas] sejam em menor número, para que não sejam plataformas fisiológicas de venda de tempo na televisão, ou de pura e simplesmente negociações políticas”, argumentou. O parlamentarismo, analisou, também poderia ser um modelo viável no Brasil, para aperfeiçoar "a relação do Poder Executivo com o Legislativo e com sociedade como um todo".

Huck evitou comentar o governo Jair Bolsonaro (PSL), depois que o presidente rebateu críticas anteriores dele e o acusou de ser “parte do caos” por ter comprado um jatinho com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Sem citar o nome do presidente, o apresentador afirmou que os eleitores em 2018 “depositaram muita esperança” em um salvador da pátria, “no que a gente está vivendo neste momento”, e falou que promessas exageradas foram feitas “no último ciclo eleitoral”.

Huck ainda opinou sobre o risco de eclodirem manifestações de rua no Brasil como as que têm atingido países na América Latina e em outras regiões, com espírito semelhante ao das jornadas de junho de 2013.

Para ele, o risco imediato é baixo, mas há possibilidade de protestos a longo prazo se “a vida não melhorar para valer” e a população sentir um distanciamento entre o que governos e políticos prometem e o que entregam concretamente.

Nesse ponto, ele insistiu na necessidade de enfrentar a crescente desigualdade no país e disse que o ex-presidente Lula (PT) é respeitado, sobretudo no Nordeste, onde muitas das melhorias de vida para a população pobre ocorreram nos anos do petista.

Contando o exemplo de uma viagem que fez ao Piauí para gravar seu programa de TV, disse que “o Lula é muito respeitado lá, mas muito respeitado”. Mas pontuou que os avanços na região foram frutos de duas gestões: a do PT e a de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

“Muito da política que veio da dona Ruth [Cardoso]. Tem uma herança de dois governos que trabalharam de maneira contínua nos projetos de proteção social.”

Apoiador dos grupos RenovaBR e Agora!, ele repisou o discurso de que tem buscado atuar politicamente por meio dos movimentos cívicos e se disse contra antecipar o debate sobre sucessão presidencial.

“Estou me colocando como um cidadão ativo. Entrar nesse ringue agora do debate personificado eu acho, de verdade, que não contribui”, declarou, cobrando um foco maior sobre a solução dos problemas mais imediatos do país no lugar da especulação eleitoral.

Instado a falar sobre redes sociais, o apresentador disse ser vítima de ataques em massa e compartilhou a impressão de que o ambiente virtual está mais agressivo que a vida real.

“Eu estou sendo atacado ferozmente nas redes nesses últimos três meses”, relatou. “A temperatura nas redes sociais no Brasil hoje não é a das ruas, mesmo. E esse é um problema que a gente vai ter que enfrentar.”

Para Huck, a polarização política, embora negativa, pode indicar novas rotas. “Talvez não esteja trazendo uma consequência imediata positiva para a democracia, mas está todo mundo falando disso. Então vamos aproveitar e apontar um caminho possível.”

Ele buscou se posicionar no caminho do meio: concorda com teses liberais, mas acredita ser necessário dar atenção a políticas sociais e reduzir a desigualdade. É o que resume como Estado eficiente, ou Estado afetivo.

"O mundo hoje está todo muito assimétrico. O que a ONU imaginou que seria o equilíbrio não aconteceu, o que o marxismo pensou não deu certo, o que o liberalismo pensou não deu certo. Acho injusto deixar a classe política sozinha tentando resolver o problema da sociedade como um todo", filosofou.

Em sua participação no 12º Encontro de Líderes da Comunitas, o apresentador conversou no palco com o empresário Carlos Jereissati Filho (grupo Iguatemi), que é seu colega no movimento Agora! e também sobrinho do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos políticos experimentados que têm dialogado com Huck sobre candidatura.

Ao longo de sua fala, o comunicador reiterou que na plateia estava uma parte dos líderes atuais que mais admira —alguns, inclusive, se tornaram seus interlocutores frequentes.

Pelas mesas se espalhavam políticos como o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (sem partido) e os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Pará, Helder Barbalho (MDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

Também ouviram Huck: os empresários Guilherme Leal (Natura), Elie Horn (Cyrela) —que pegou o microfone para sugerir ao comunicador a criação do "Ministério do Bem"— e Rubens Ometto (Cosan), deputados do Partido Novo e o ex-senador Jorge Bornhausen, a quem o apresentador agradeceu pela maneira como foi tratado, com “palavras gentis”, em entrevista publicada pela Folha.

Bornhausen disse ao jornal que o centro político vai apoiar Huck, e não João Doria (PSDB), contra o PT e Bolsonaro em 2022.

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