quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Bernardo Mello Franco - Em busca do vice perfeito

- O Globo

Bolsonaro voltou a cutucar Mourão. Em 2022, seus aliados querem substitui-lo por Sergio Moro. Ao contrário do vice, ele nunca contestou as trapalhadas à sua volta

Além de trocar de partido, o presidente quer trocar de vice. Em reunião com dissidentes do PSL, Jair Bolsonaro deu uma nova cutucada em Hamilton
Mourão. Disse que preferia ter dividido chapa com o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, descendente da família real que é chamado de “príncipe”.

“Você deveria ter sido meu vice, e não esse Mourão aí”, afirmou o presidente, segundo relato da colunista Mônica Bergamo. “Eu casei errado, agora não tem como voltar atrás”, prosseguiu.

O “príncipe” confirmou o diálogo e disse ter perdido a vaga por causa de um dossiê entregue a Bolsonaro. “Sei que circulam informações falsas. O dossiê era de fotos que eu fazia uma suruba gay e que eu batia em mendigo”, contou à revista “Época”.

O episódio deve marcar o fim do armistício entre o presidente e o vice. Em abril, os dois chegaram perto de romper relações. Bolsonaro se exaltou com o novo tom de Mourão, que despontou como uma voz moderada num governo de radicais.

O general deu declarações a favor da democracia, defendeu a liberdade de imprensa e ironizou os delírios do guru Olavo de Carvalho. Foi o suficiente para entrar na mira das milícias virtuais e de Carlos Bolsonaro, que costuma atirar em nome do pai.

Irritado com o bombardeio, Mourão ameaçou “pegar as coisas e ir embora”. Foi um desabafo da boca para fora. Assim como o presidente, o vice tem mandato de quatro anos. No Brasil, isso se soma a uma chance considerável de assumir a cadeira do titular.

A nova provocação de Bolsonaro surpreende porque a crise parecia superada. Mourão topou se afastar dos holofotes, e nunca mais foi visto criticando uma diretriz do governo. Em nova fase, só aparecia como figurante nas solenidades oficiais.

Nas últimas semanas, aliados de Bolsonaro voltaram a sonhar com Sergio Moro como vice na eleição de 2022. Não é só pela popularidade do ex-juiz. Diferentemente do general, ele nunca contestou as trapalhadas à sua volta. Ao contrário: aceitou calado todas as humilhações impostas pelo chefe.

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