segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Lula busca unir oposição com crítica a Guedes

Política econômica será o principal alvo de críticas do petista

Por Cristiane Agostine e André Guilherme Vieira | Valor Econômico

São Bernardo do Campo (SP) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende unificar a oposição ao governo Jair Bolsonaro em torno das críticas à política econômica, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Nos dois discursos feitos depois dos 580 de prisão, Lula indicou que sua estratégia para buscar o apoio da população, sobretudo dos mais carentes, será focada nos ataques ao aumento da pobreza, do desemprego, à precarização das relações de trabalho, à redução do poder de compra do trabalhador e às novas regras para a aposentadoria.

Lula tem reunido dados econômicos do governo Bolsonaro e deve comparar indicadores como emprego e renda aos das gestões petistas, para buscar argumentos contra a atuação de Guedes.
O ex-presidente começará hoje a despachar com aliados políticos em reuniões na capital paulista e deve definir uma agenda prévia das viagens que pretende fazer pelo país, especialmente para o Nordeste. A tônica de seus discursos Brasil afora deve ser o aumento da desigualdade social e do trabalho informal, registrado pelo IBGE.

Com as críticas à política econômica, Lula buscará o apoio do centro político. O petista deve tentar se reaproximar do ex-governador Ciro Gomes (PDT), com um discurso crítico à reforma da Previdência e ao “desmonte” de estatais. Um aliado do ex-presidente diz que Lula está aberto ao diálogo, mas observa que, “tem de ser uma via de mão dupla” e Ciro tem que estar disposto a participar de uma frente ampla de centro-esquerda.

No sábado, o ex-presidente teria conversado com o apresentador Luciano Huck. Os dois teriam combinado de marcar uma reunião, quando se falaram por telefone logo depois que Lula viajou de Curitiba a São Paulo em um jato da companhia de táxi aéreo de Huck fretado pelo PT. 

Segundo pessoas próximas ao ex-presidente, o petista pretende reforçar o discurso de que Bolsonaro e Guedes atuam para destruir avanços obtidos durante seus dois governos e na primeira gestão de Dilma Rousseff. A estratégia do ex-presidente é sensibilizar o eleitorado com argumentos que pegam no bolso, como o aumento da inadimplência e a dificuldade cada vez maior na obtenção de crédito.
Um dos exemplos citados por Lula a interlocutores é a dificuldade para liberação de financiamento para habitação. Isso afeta também a classe média, que vive de aluguel e vê a taxa de juros dos bancos impedir planos de aquisição da casa própria.

Ao atacar a política econômica, Lula buscará também a reconciliação com parte da população que votava no PT mas apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018. A ideia é lembrar do poder de compra dos trabalhadores nos anos petistas.

“[Vou] Lutar para recuperar o orgulho de ser brasileiro, lutar para que as mulheres possam levar os seus filhos para o supermercado [para] comprar o suficiente para eles comerem. Lutar para que o trabalhador possa ter emprego com carteira assinada e leve para casa, no fim do mês, o dinheiro com a garantia de alimentar sua família. Lutar para que o trabalhador possa ter o direito de ir ao cinema, ir ao teatro, ter um carro, uma televisão, ter um computador, um celular, ir ao restaurante e poder todo final de semana se reunir a família e fazer um p... de um churrasco, tomar uma p... de uma cerveja gelada, que é na verdade o que deixa a gente feliz”, disse Lula, ao discursar na frente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no sábado.

Aos militantes, Lula chamou Guedes de “demolidor de sonhos” e “destruidor de emprego e de empresa pública”. “Não é possível ver os ricos mais ricos e os pobres mais pobres”, disse. “Estamos vendo o que está acontecendo no Chile. É um modelo de país que o Guedes quer construir. A aposentadoria que o Guedes fez aqui é a que tem no Chile, que está fazendo com que pessoas velhas morram porque não tem salário. É por isso que no Chile o povo está na rua”.

Lula tem mostrado interesse em entender melhor as revoltas populares do século XIX e na prisão leu recentemente quatro livros históricos sobre o a escravidão, segundo relato de um amigo do petista.

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