sábado, 23 de novembro de 2019

Ricardo Noblat - A aposta de Lula na polarização com Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

De olho no segundo turno da eleição de 2022

A discordância é o elemento fundador da democracia, embora não o único. Se ela não existe ou não é tolerada, democracia não há. A polarização é possível numa democracia. Ela ocorre quando duas forças se antagonizam dada à fraqueza circunstancial das demais.

Nas falas anteriores, à saída da cadeia em Curitiba e no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, Lula falou para seus devotos. Revelou-se amargo, ressentido e disposto a vingar-se dos que acusa de terem tramado sua exclusão temporária da política.

Na abertura, ontem, do 7º Congresso do PT, em São Paulo, falou para dentro do partido, e não poderia ter sido diferente, mas preferencialmente para fora. Assumiu que está de volta para polarizar com o governo Bolsonaro. E que o siga quem quiser.

“Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita”, esbravejou.

A maior parte do discurso foi lida, recurso do qual raramente se vale. Mas houve momentos em que improvisou. Vestia paletó, sem gravata. Tinha ao seu lado a socióloga Rosângela da Silva, sua nova namorada. Parecia em boa forma. Disparou fortes petardos.

“Não fomos nós que falamos em fechar congresso e muito menos o Supremo Tribunal Federal. […] Não fomos responsáveis pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia”, disse. “São essas pessoas que agora nos dizem para não polarizar o país.”

“Não venham me dizer que o PT é radical. Um pouco de radicalismo faz bem a nossa alma”, prosseguiu. “Não estou mais radical, estou mais consciente”. Lula, outra vez, negou-se a fazer autocrítica, e disse por que:

– Querem de nós um humilhante ato de contrição, como se tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir.

Mesmo assim, reconheceu:

– Deveríamos ter feito mais universidades do que fizemos, mais reforma agrária, mais Luz Pra Todos, mais Minha Casa Minha Vida, mais Bolsa Família e mais investimento público. Teríamos de ter conversado muito mais com o povo e com os jovens.

Em um único trecho do discurso, Lula estendeu a mão aos outros partidos de oposição. Foi quando afirmou:

– Salvar o país da destruição e do caos social que este governo está produzindo não é tarefa para um único partido. […] Por mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da centro-esquerda.

Apelou aos jovens:

– O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país. Essa juventude quer e merece um mundo melhor do que este em que vive.

E por fim, ofereceu-se “para contribuir nessa travessia para uma vida melhor […] sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino”.

Em entrevista recente ao jornal inglês The Guardian, perguntado se pretende concorrer à eleição presidencial de 2022, Lula respondeu:

– Em 2022 eu estarei com 77 anos. A Igreja Católica, com seus 2.000 anos de experiência, aposenta seus bispos aos 75.

O que isso quer dizer? Nada. Por ora, Lula está solto, embora condenado três vezes no processo do tríplex Guarujá. Só poderá ser candidato a qualquer coisa se a condenação for anulada, e se não for condenado outra vez. Responde a meia dúzia de processos.

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