terça-feira, 12 de novembro de 2019

Vera Magalhães - Bolsonaro fora do PSL: bom negócio?

- O Estado de S. Paulo

Presidente soma polarização com Lula a desnecessária diáspora de sua base: qual o ganho?

Espalha-roda. No momento em que a até aqui apática oposição ganha um elemento de aglutinação, com a volta de Lula ao palanque, o presidente dobra a aposta na dispersão de sua já minguada base de apoio. Chama os pesselistas que lhe são fiéis para deixar a sigla que elegeu a ele e aos aliados e fundar uma nova.

Cipoal burocrático. O processo de criação de um partido é lento, e as leis que regulam a divisão de tempo de TV e fundos partidário e eleitoral, além da discussão sobre a fidelidade partidária, são todos temas passíveis de infindáveis controvérsias jurídicas.

Para quê? Por que o presidente da República ocasiona uma cizânia de tal grau com a legenda que o elegeu a ponto de precisar pular do barco três anos antes da própria reeleição, mas a menos de um ano de decisivas eleições municipais, é algo que desafia a lógica tradicional da política - como de resto, quase tudo no bolsonarismo.

Reinvenção da roda? Pouco provável. Bolsonaro trata de reforçar divisões numa direita que já é um emaranhado ideológico cujo amálgama eram o antipetismo e as redes sociais. Bem agora que Lula nas ruas poderia funcionar como uma cola na porcelana trincada dessa direita, ele trata de macerar ainda mais os caquinhos.

Enquanto isso, na economia. Paulo Guedes vai tentando combinar reformas estruturais com medidas de curto prazo para dinamizar o crescimento e a geração de empregos, que andam a passos de tartaruga. O anunciado programa Verde e Amarelo foi anunciado nesta segunda-feira, mas com apenas um dos focos previamente prometidos: os jovens. As pessoas acima de 55 anos ficaram de fora da MP lançada pela equipe de Guedes.

E no cenário externo. A renúncia de Evo Morales suscitou um infindável debate no Brasil e no mundo: foi golpe ou não? A pressão para que o presidente da Bolívia renunciasse e os métodos empregados para isso levam à resposta de que sim, mas não se tratou de uma medida de força do Exército e da polícia contra uma franca maioria pró-Morales: ele já perdera apoio entre os setores que sempre lhe deram suporte, as eleições foram consideradas fraudulentas pela OEA e o próprio ex-presidente reconheceu apoio "cívico" à sua saída, tanto que antes de decidir deixar o poder admitira convocar novas eleições.

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