sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Bernardo Mello Franco - O inimigo das universidades

- O Globo

Em nova ofensiva, Weintraub associou as universidades federais à produção de drogas. Num governo funcional, a acusação falsa resultaria em demissão sumária

As universidades são centros de pensamento crítico e produção de conhecimento. No governo Bolsonaro, passaram a ser tratadas como inimigas do poder.

O ministro Abraham Weintraub não demorou a atacá-las. Assim que assumiu o cargo, em abril, ele classificou as instituições federais como locais de “balbúrdia”. Em seguida, passou a asfixiá-las com o corte de verbas e bolsas de pesquisa.

Há duas semanas, o ministro iniciou uma nova ofensiva. Em entrevista a um site bolsonarista, ele associou as universidades à produção de drogas. No dia seguinte, repetiu o besteirol no Twitter.

Weintraub disse que “algumas universidades” teriam plantações extensivas de maconha, “a ponto de precisar de borrifador de agrotóxico”. Depois afirmou que faculdades de química esconderiam laboratórios de metanfetaminas.

As acusações misturavam notícias distorcidas e mentiras deslavadas. Mesmo assim, serviram para incitar as milícias virtuais contra as universidades.

O ministro já demonstrou que não merece ser levado a sério. Seguidor de Olavo de Carvalho, ele costuma recorrer à polêmica vazia e ao insulto para tumultuar o debate político. Ao se ver em apuros, fabrica outro factoide para desviar a discussão.

O novo ataque às universidades cumpriu essa tarefa. Quando delirou com as plantações de maconha, Weintraub já sabia que o Brasil seria reprovado no Pisa, que mede o desempenho dos países na educação. Os dados remetem ao último ano do governo Temer, mas reforçam a pressão sobre quem está no poder.

Na quarta-feira, o ministro foi convocado a se explicar sobre as acusações falsas na Câmara. Ontem os reitores foram à Justiça para obrigá-lo a se retratar. Na interpelação, afirmaram que Weintraub promove a “difamação genérica” contra instituições que deveria proteger.

Num governo funcional, o episódio levaria à demissão sumária do ministro. Na gestão atual, é mais provável que ele ganhe um afago do chefe.

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