sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Bernardo Mello Franco - Rodízio na frigideira

- O Globo

Prestes a voltar das férias, Onyx foi lançado na frigideira. O caso mostra que os aliados de Bolsonaro podem cair em desgraça da noite para o dia. Só os filhos dele estão a salvo

O governo Bolsonaro inventou o rodízio de fritura política. Na semana passada, o presidente chamuscou o ministro da Justiça, Sergio Moro. Agora é a vez do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O ministro foi torrado nos últimos dias de férias. Pelo Twitter, Bolsonaro comunicou a demissão de seus dois auxiliares mais próximos. Além disso, transferiu o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia.

Onyx frequenta a frigideira desde o sexto mês de governo, quando o presidente entregou a articulação política ao ministro Luiz Eduardo Ramos. Deputado de cinco mandatos, perdeu o posto de negociador para um general recém-chegado a Brasília.

As mudanças de ontem esvaziam de vez a Casa Civil, que já foi a pasta mais poderosa da Esplanada. “É a pá de cal”, resume um dirigente do DEM. Ele explica que o poder de um ministro da área política se mede pela influência sobre o Orçamento e sobre as nomeações federais. “O Onyx ficou sem as duas canetas”, sentencia.

A nova fritura foi detonada pelo caso de Vicente Santini, que usou um avião da FAB para ir à Índia. Na terça-feira, Bolsonaro disse que a atitude era “completamente imoral” e demitiu o aliado de Onyx. Na quarta, cedeu a um pedido dos filhos e decidiu recontratá-lo como assessor especial. Ontem Santini levou outro cartão vermelho, o segundo em 48 horas.

O episódio mostra como o presidente é sensível aos humores das redes sociais. Ao notar a decepção dos apoiadores, ele recuou do próprio recuo. A conta sobrou para Onyx. Agora ele terá que escolher entre duas opções incômodas: engolir a humilhação no palácio ou reassumir o mandato de deputado.

O ministro comprou as ações do capitão na baixa. Foi um dos primeiros políticos a estimular sua candidatura ao Planalto. Como recompensa, ascendeu do baixo clero da Câmara à chefia da Casa Civil.

Sua fritura reforça uma lição que já foi aprendida por outros bolsonaristas. Neste governo, quem não pertence ao clã presidencial pode cair em desgraça da noite para o dia. Até durante as férias.

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