segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Leandro Colon – Ameaça mora ao lado

- Folha de S. Paulo

Datafolha mostrou que Moro é a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam

O presidente Jair Bolsonaro começou 2020 sem surpreender. Soltou nos primeiros dias do ano frases desconexas, como a do “montão de amontado de muita coisa escrita” nos livros didáticos, e apoiou desnecessariamente o ataque dos EUA que matou um líder militar iraniano.

No sábado (4), passou 55 minutos em uma live em rede social. Falou de assuntos diversos e transpareceu o que tende a ser sua obsessão a partir deste segundo ano de governo: pavimentar o caminho para disputar a reeleição ao Planalto em 2022.

“Tem alguma liderança hoje em dia para 22? Me respondam. Não tem, não tem. Nenhuma liderança sólida para 22”, disse. “Às vezes o cara é muito bom. Aí você vai ver, é bom para ganhar o voto, mas vai chegar na hora e não vai funcionar”, afirmou.

Bolsonaro negará a intenção, porém não é um despropósito vincular as frases acima ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Ao dizer que não há um nome sólido para 2022, o presidente não considera que o ex-juiz da Lava Jato esteja pronto para sucedê-lo, apesar da popularidade alta, inclusive acima da do próprio chefe da República, segundo o mais recente Datafolha, e de ser um ministro conhecido por 93% dos brasileiros.

Assim como também declara que alguém com potencial de voto, como Moro indica ser, pode não dar certo.

O mesmo Datafolha mostrou neste domingo (5) que o ministro da Justiça é a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam entre 12 figuras do cenário político. Ele supera nomes pesos-pesados, como Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT).

Após a divulgação da pesquisa, com Brasília sob uma garoa chata e ininterrupta, Bolsonaro foi dar uma volta na Esplanada. Rezou na catedral, abraçou e tirou fotos com populares e brincou com crianças.

Logo depois, publicou as imagens em suas páginas. Assim foi também durante a estadia na base naval de Aratu, na véspera do Ano-Novo. O presidente sabe que hoje a maior ameaça à sua candidatura em 2022 não está no campo da esquerda, mas em um gabinete na Esplanada.

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