sábado, 11 de janeiro de 2020

Maria Paula* - Espelhos

- Folha de S. Paulo

Talvez esteja na hora de criarmos novas concepções de sucesso

O que é sucesso? Numa sociedade capitalista, ele é representado pelo status social determinado pelos bens materiais acumulados, ou seja, por elementos externos à pessoa, sem levar em conta a condição interna, o estado da vida subjetiva ou o impacto que a pessoa causa no mundo em que vive.

Mas será que faz sentido cultuarmos, como ícones de sucesso, quem apresenta comportamentos cruéis ou mesmo autodestrutivos como alcoolismo, adição química, automutilação e por aí vai? Quais são as implicações disso na formação de caráter das novas gerações?

Será que alguém que precisa fazer uso de aditivos para se distrair de uma condição de miséria íntima, mesmo sendo rico e/ou famoso está vivendo uma experiência de sucesso?

Talvez esteja na hora de criarmos novas concepções que possam conferir sucesso às pessoas que estão experimentando estados emocionais saudáveis; de bem-estar físico, mental e intelectual e possam elevar o nível do jogo nos ambientes em que circulam!

Me refiro a pessoas que estabelecem vínculos afetivos profundos, capazes de resistir às dificuldades do dia a dia e se posicionar de forma equilibrada, respeitosa, construtiva. Gente que possa optar por ocupar seus dias com atividades significativas em níveis mais sofisticados da experiência humana.

Em outras palavras, dar valor à qualidade da experiência vivida e, para além disso, aos benefícios coletivos que essa qualidade imprime nos ambientes.

Sei que muitos dos ídolos que viveram num nível de sofrimento avassalador, capaz de levar até ao suicídio, em sua sensibilidade extrema e com seus talentos em diferentes áreas, ofereceram preciosidades ao mundo com suas obras-primas... Meus questionamentos apenas sugerem aumentarmos o escopo de nossas projeções icônicas, conferindo sucesso também aos que servem como exemplos a serem seguidos.

Que masculinidades e feminilidades mais saudáveis venham por aí.

*Maria Paula Fidalgo é psicóloga, mestre em processos de desenvolvimento humano e saúde pela Universidade de Brasília, Embaixadora da Paz, atriz e escritora.

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