sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Nelson Motta - Sob o sol de Lisboa

- O Globo

O pior problema são os taxistas. Insuportáveis

Lisboa é uma cidade linda, limpa e luminosa, com uma gente educada e acolhedora. Tem grandes artistas, intensa vida cultural e uma das melhores nights da Europa, se tornou um centro de inovação tecnológica, recebe muito mais turistas que o Brasil, todo mundo fala inglês. E o melhor, pode-se andar na rua a qualquer hora do dia ou da noite em qualquer bairro, sem medo de ser assaltado ou morto. Meu único medo é encontrar o Gilmar Mendes no Chiado.

Uma brasileira contou que apreciava a vista da cidade em um mirante, quando um jovem negro se aproximou oferecendo “hashish, hashish”. O susto foi tão grande que ela abriu os braços e gritou. Gentil e preocupado, ele tentou tranquilizá-la:

“Calma moça, a senhora não está no Brasil.”

Um estranho fenômeno acontece: quanto mais imigrantes Portugal recebe, mais cai o desemprego, atualmente em 4,5%, praticamente pleno emprego.

É duro ser rentista aqui: a poupança rende 1%. Ao ano! Mas a inflação é de 0,3%. Há que trabalhar. Ou arriscar investimentos.

O governo “geringonça”, de socialistas, comunistas, ecologistas, verdes e animalistas-naturalistas, surpreendentemente funcionou. E se reelegeu.

O pior problema: os taxistas são insuportáveis. Há 50 anos. Ontem peguei um táxi com um tiozão ao volante e perguntei: “o senhor conhece a Rua Alves Torgo?”. Longa pausa.

“Ora pois, sei.”

Depois de rodar dez minutos, perguntei pela terceira vez: “o senhor não tem GPS?”

“Tenho em meu telemóvel.”

“E por que não usa?”

Longo silêncio.

“O senhor pode usar meu telemóvel”, ofereci.

Olhou o Google Maps como um jumento diante de um livro.

Com o taxímetro em 8,80 euros numa corrida que normalmente dá menos de cinco, falei grosso.

“Para agora! Vou descer e pegar outro táxi.”

Assustado, ou cínico, ele resmungou “então vou descontar oitenta cêntimos pelo erro do caminho.”

“Olha aqui, amigo, não vim do Rio de Janeiro para levar “banho” em Lisboa. Vou te denunciar, mané.” Fotografei a placa e gritei:

“É por isso que os aplicativos estão acabando com vocês”.

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