segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Vinicius Mota - Sexo, drogas e roubalheira

- Folha de S. Paulo

Pesquisadora sugere que ilegalidade eleva em US$ 200 bi a renda oficial dos EUA

Francisca vai ao supermercado e compra uma dúzia de latinhas de cerveja, Bento passa no ponto de tráfico e arremata cinco pedras de crack. Pedro é cliente de uma sex shop, Maria paga michês.

Renata tem uma atuação exemplar no controle de estoques da loja de bijuterias, Paulo desvia algumas peças todo mês sem ser percebido.

Embora os quatro primeiros movimentem a economia, demandando bens e serviços, as atividades acessadas por Bento e Maria escapam em larga medida dos cálculos tradicionais do Produto Interno Bruto.

Os furtos de Paulo não deveriam modificar o PIB, pois as mercadorias só trocaram de mãos. Na prática, empresas costumam registrar essas subtrações silenciosas como alta de custos, o que reduz a conta final.

Há alguns anos as melhores práticas de contabilidade nacional passaram a preconizar a inclusão das atividades ilegais, processo que está caminhando mais depressa na Europa.

Para os EUA, que estão com o Brasil no pelotão dos atrasados, a pesquisadora Rachel Soloveichik, do homólogo ao IBGE, divulgou em 2019 um exercício preliminar curioso.

A indústria da ilegalidade teria feito a economia americana cerca de 1% maior em 2017 se tivesse sido computada. A diferença, de uns US$ 200 bilhões, equivale ao PIB de Angola.

O segmento das drogas ilícitas e o da roubalheira empresarial dividem quase meio a meio essa fatura. Mas nem sempre foi assim, sugere o estudo, que traça uma série desde 1929.

No início dos agitados anos 1930 e nos bagunçados 1970, a ilegalidade pesava o quádruplo. Reduziu-se nas últimas quatro décadas e chega agora às mínimas históricas. Prostituição e jogo ilegal foram sumindo.

O mercado das sombras parece ter atenuado a desaceleração da produtividade na década de 1970 e após a crise de 2008. Neste último período, a introdução do opioide fentanyl está ligada a um grande ganho de eficiência (e letalidade) na narcolândia.

Nos anos 1980, pelo contrário, a alta de traficantes na praça contribuiu para piorar a produtividade.

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