segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo*

Viceja no País um clima de crescente desordem. Policiais militares – encapuzados, armados e sindicalizados – mantêm governantes e cidadãos como reféns de suas vontades, tudo ao arrepio da lei que todos esses servidores, uma vez envergada a farda e armados pelo Estado, juraram respeitar e fazer valer. Não bastasse isso, e talvez seja esse o principal problema, esses policiais amotinados, em lugar de serem censurados e punidos pelo poder público, são tratados como força política legítima – a tal ponto que recebem atenção e apoio inclusive do presidente da República, Jair Bolsonaro, e de parlamentares bolsonaristas.

Editorial – “Só há ordem com respeito à lei”, O Estado de S. Paulo, 23/2/2020

Fernando Gabeira - O governo Bolsonaro escolheu o isolamento

- O Globo

Hoje dá bananas, amanhã põe a língua de fora, não importa, o curso geral é este

Às vezes temos a ilusão de que numa longa existência é possível ver tudo na vida. Uma das grandes lições do acúmulo dos fatos é sua incerteza e imprevisibilidade.

Vivo num país em que o presidente dá banana para a imprensa, faz piadas de teor sexual sobre uma jornalista e se envolve em polêmica sobre a morte de um miliciano acusado de dirigir o Escritório do Crime.

É uma situação inédita, parece saída de novelas. Aliás, em novelas há piores situações, como acordar transformado num inseto. Cada observador, diante do inédito inquietante, tem sua análise do que está acontecendo e como superar esses tempos sombrios.

Nesse caso, a experiência tem alguma utilidade. Bolsonaro subiu ao poder e desenvolveu seus piores defeitos. Seu movimento básico é o de isolamento, de buscar confrontos e agradar apenas aos seus eleitores mais fiéis, que relevam ou se identificam com seus preconceitos.

Historicamente, governos isolados abrem caminho para grandes frentes de oposição, com um acordo básico em torno da democracia. O discurso nazista de Roberto Alvim foi um momento especial em que essa possibilidade se mostrou.

Uma tática que me parece adequada diante de governos agressivos que tendem ao isolamento é a inspiração oriental: aproveitar o desequilíbrio de quem se lança ao ataque usando o seu próprio impulso.

Bolsonaro, ao dar banana para a imprensa, acredita que a enfraquece. O mesmo vale quando se refere grosseiramente à repórter Patrícia Campos Mello.

Demétrio Magnoli - O enigma de Adriano

- O Globo

A estratégia de Bolsonaro, cínica e inteligente, persegue o objetivo de lavar sua própria reputação

Por que Jair Bolsonaro acusou a PM da Bahia de assassinar deliberadamente o miliciano Adriano da Nóbrega? Por que 20 governadores assinaram o manifesto em defesa das PMs — e da PM da Bahia? Por que, afinal, a polícia baiana eliminou o foragido cercado? A análise política oferece respostas às duas primeiras perguntas. A terceira, porém, forma um enigma de elevado interesse público que exige investigação judicial.

A estratégia de Bolsonaro, cínica e inteligente, persegue o objetivo de lavar sua própria reputação. Os laços entre o clã presidencial e o miliciano conduzem à conclusão lógica de que o evento policial em Esplanada (BA) deve ser classificado como uma queima de arquivo cujos beneficiários são os Bolsonaro. A acusação à PM da Bahia, “do PT”, turva as águas, desviando a agulha magnética para um ator inesperado.

Na nota do Planalto, incluiu-se o registro de que a culpa de Adriano não transitou em julgado. Assim, em flagrante contradição com seu supremo desprezo pela presunção de inocência, o presidente sugere que Adriano foi um herói da lei e da ordem perseguido pelo “Estado profundo”. Nesse passo, aproveitando-se da conhecida circunstância de que mortos nunca mais falam, o presidente desenha uma auréola de santidade em torno da condecoração ofertada por seu filho 01 ao policial-miliciano.

Cacá Diegues - Aqui e lá fora

- O Globo

Cinema é o maior instrumento de difusão de um modo de viver nacional, na oferta do que cada país tem de específico

O Festival de Cinema de Berlim é um dos três maiores certames cinematográficos do mundo. No seu nível de grandeza, só dá para comparar Berlim com Cannes e Veneza. Mas, diferente desses dois, Berlim se torna, cada vez mais, um festival eminentemente político, dando preferência aos filmes que revelam o que está acontecendo nos países de onde eles vêm. Em Berlim, os espectadores se aproximam mais profundamente dos países de onde os filmes vêm.

É nesse rigor político de Berlim que o cinema brasileiro vem se tornando uma presença indispensável. De tal modo que, no festival deste ano, que começou sexta-feira passada, temos nada menos que 19 filmes brasileiros selecionados, exibidos em diferentes sessões, inclusive na competição oficial. Na disputa pelo Urso de Ouro, contamos com “Todos os mortos", filme de Caetano Gotardo e Marco Dutra, ambos de nossa nova geração de cineastas originais. Esses 19 títulos são uma seleção de filmes que representam a diversidade de nosso cinema. Ou, dito de outro modo, a diversidade da cultura brasileira, uma produção múltipla de tudo o que somos e que podemos celebrar.

Poucos países, no mundo de hoje, podem ostentar essa qualidade múltipla e diversificada de sua cultura, essa cultura faiscante visível através de seu cinema, independente de etnias, regiões, gerações, preferências políticas, opções estéticas e tudo mais. O cinema brasileiro é hoje não só uma expressão do que somos de fato, como também uma projeção utópica de tudo que gostaríamos de ser. Ou, quem sabe, planejamos ser.

Marcus André Melo* - "Order... order!!"

- Folha de S. Paulo

Na vida política, quase tudo depende de conexões intrapartidárias

John Berkow acaba de lançar "Unspeakable: the autobiography" (Weidenfeld, 2020). Nenhum "Speaker of the House of Commons" (presidente da Câmara dos Deputados) adquirira tamanha visibilidade: ele é criatura de uma nova política espetacularizada que produz personas exuberantes. São múltiplas as tramas que entrelaçam as instituições e o indivíduo e que são expostas em narrativa viva.

O jovem conservador —judeu e de origem modesta— foi atraído para a política por Thatcher, a quem admirava e abordou após uma palestra. Foi aconselhado que suas chances seriam maiores como quadro de partido se tivesse curso superior. Abandona então o sonho de tenista profissional e submete-se ao processo seletivo do curso de ciência política da Essex University. Ao se deparar com um enorme pôster de Karl Marx no escritório do entrevistador, o teórico marxista Ernesto Laclau, o jovem thatcherista concluiu que suas chances eram nulas. Estava enganado.

Sua militância em um meio universitário de esquerda forjou um quadro pronto para o confronto. A ascensão para a liderança da Associação Nacional de Estudantes Conservadores abriu o caminho para uma carreira política, inicialmente como "councillor" (vereador) e depois como membro do Parlamento.

Celso Rocha de Barros* - A Lava Jato apoia isso?

- Folha de S. Paulo

Se junho de 2013 ocorresse sob Bolsonaro, o presidente decretaria GLO com excludente de ilicitude

Como chegamos ao ponto de termos no governo do Brasil gente degenerada capaz de lançar contra Patrícia Campos Mello a campanha mais suja que o poder público já promoveu contra a imprensa livre em nossa história democrática?

Por incrível que pareça, a origem disso está em nossa aspiração por ética na política. Os bolsonaristas se sentem no direito de ofender e destruir porque se acham herdeiros de uma onda de indignação legítima que começa nas manifestações de 2013 e culmina na Lava Jato.

Se os membros da força-tarefa da Lava Jato não querem entrar para a história como percursores da degeneração final da democracia e da decência, devem desfazer o mal-entendido. Supondo que seja um mal-entendido.

Senhores, sem a democracia os senhores não seriam nada.

Foi a democracia que fortaleceu o Ministério Público e os mecanismos de controle na Constituição de 88, e os senhores sabem disso. Duvido que entre os modelos que inspiraram os senhores durante sua formação não estivesse gente que combateu a ditadura. Todos os senhores teriam terminado nas mãos de Brilhante Ustra se tivessem tentado fiscalizar o regime militar.

Bolsonaro é inimigo de sangue da democracia, inimigo de ódio ancestral.

Vinicius Mota - A vez do augusto-helenismo

- Folha de S. Paulo

Disputa-se o monopólio do fornecimento de teorias conspiratórias

Na Antiguidade, os romanos, que legariam os seus augustos, foram coveiros impiedosos do império macedônico, difusor da cultura grega, ou helênica, do norte da África até a Índia. No Brasil de hoje, Augusto Heleno, general da reserva, tornou-se um dos assessores mais influentes do presidente da República.

O augusto-helenismo que avança no Planalto Central está para o olavismo como as legiões do passado estiveram para os déspotas orientais que quiseram retomar os feitos de Alexandre. Vai varrendo do mapa os representantes da chamada ala ideológica, que costumávamos chamar de aloprada até conhecermos melhor o apito que toca o general.

O correr da luta sugere que na verdade o que está em disputa é o monopólio do fornecimento de teorias conspiratórias e conselhos estapafúrdios ao Palácio do Planalto. Pelejam de um lado o noviciado místico da Virgínia e, do outro, a velha escola verde-oliva. Com o predomínio da segunda, não deixa de haver um ciclo de substituição de importações.

Leandro Colon - Fantasia de Carnaval

- Folha de S. Paulo

Governo não tem uma articulação política e uma base capazes de estabelecer um cronograma de votações

O primeiro mês do ano legislativo de 2020 termina nos próximos dias sem um avanço relevante nas pautas prioritárias e significativas para o governo de Jair Bolsonaro.

Fevereiro foi perdido. Um desperdício de precioso tempo em ano de eleição municipal, quando o Congresso trabalha apenas nos primeiros meses para retornar em novembro, após os resultados das urnas.

A tão esperada reforma administrativa virou lenda na Esplanada. Depois de até ensaiar uma desistência da proposta, o governo parece que enfim deve enviá-la ao Parlamento. Pelo menos Bolsonaro tem dito isso nos últimos dias —se é que é possível levar a sério qualquer coisa que diga.

O Congresso pretende iniciar em março as reuniões da comissão mista da reforma tributária, outro ponto essencial da agenda econômica do ministro Paulo Guedes (Economia).

Enquanto Câmara e Senado duelam pelo protagonismo da tramitação das medidas, o Planalto, sob pressão de setores empresariais, não desce do muro e mantém mistério sobre o que realmente vai sugerir.

Ruy Castro* - De novo com Tia Amelia

- Folha de S. Paulo

O menino fincava os cotovelos no piano e a escutava, ao vivo, todos os dias

O Rio de 1953 tinha uma boate exclusiva, criada por um grupo de artistas e boêmios que gostavam de se encontrar para beber, ouvir música e conversar, livres dos chatos de sempre. Era o Clube da Chave, formado por 50 sócios, cada qual com sua chave, daí o nome. Mulheres não precisavam ser sócias —tinham entrada livre, inclusive desacompanhadas, tabu até então. Ficava no Posto 6 de Copacabana e mantinha um pianista para fazer fundo musical. Um desses pianistas, antes da fama, foi Antonio Carlos Jobim.

Era permitido aos sócios levar um ou outro músico para dar uma canja, e alguns convidados foram Sylvio Caldas, Nora Ney e Luiz Bonfá, para se ver o nível. Certa noite, um sócio anunciou que Tia Amelia iria se apresentar. Ouviram-se cochichos: como alguém se atrevia a trazer sua tia para tocar naquele lugar sofisticado? E ainda mais aquela senhora robusta e de cara amarrada, cabelos brancos e severo tailleur escuro.

Carlos Pereira - Quem tem medo do papangu?

- O Estado de S.Paulo

O que tem ameaçado a democracia é, na realidade, apenas uma quimera

Hoje é segunda-feira de carnaval. Estamos em pleno reinado de Momo, quando a irreverência, o excesso e o risco tomam conta das pessoas. Como bom pernambucano, sempre levei o carnaval muito a sério. Lembro, ainda criança, brincando carnaval pelas ruas estreitas do centro do Recife e pelas ladeiras íngremes de Olinda, de várias figuras então “ameaçadoras” do carnaval de Pernambuco. Logo de manhã cedo, ouvia troças carnavalescas com suas orquestras de frevo ou simplesmente batedores de lata. À frente, alguém fantasiado de urso, vestindo um velho macacão de veludo e com uma máscara de papel marche, gritava: “a La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro!”.

No Pátio do Terço, à meia-noite da segunda-feira de carnaval, participava da “Noite dos Tambores Silenciosos”, cerimônia de sincretismo religioso que reúne maracatus da região. O que mais me causava espanto era o maracatu “de baque solto”, formado por canavieiros da zona da mata com sua cútis curtida pelo sol. Esses “caboclos de lança” vestem fantasias coloridas, com sinos de metal pendurados nas costas que soam de forma ritmada a cada movimento. Carregam lanças enormes e dançam como verdadeiros ninjas do canavial.

Entretanto, as figuras mais amedrontadoras do carnaval de Pernambuco eram os enigmáticos papangus, cuja definição é homem ridículo, sem compostura, tolo, mané ou otário. Se fantasiam com túnicas que os cobrem dos pés à cabeça, com abertura apenas para olhos e boca. Os mais famosos vêm de Bezerros, no agreste pernambucano. Quando se ouve de longe o barulho das castanholas que anunciam sua chegada, todas as crianças morrem de medo. Acredita-se que o papangu nasceu de uma brincadeira de dois irmãos que comiam muito angu. Resolveram cortar as pernas das calças e cobrir o rosto com capuz para não serem reconhecidos, mas o disfarce não funcionou. Terminaram descobertos pela gula.

Assim como as crianças do Recife, uma boa parte da sociedade brasileira tem temido um enfraquecimento democrático, se deixando atormentar por um papangu com jeito autoritário, que elogia torturadores, ameaça fechar o STF e decretar um novo AI-5, tenta reinterpretar a história dizendo que o regime militar de 1964 não foi uma ditadura, pois não matou o suficiente para extirpar o comunismo. Esse papangu também assusta ao perder o decoro difamando jornalistas, ao dar banana a repórteres, ultrapassando, assim, os limites da boa convivência democrática. Sem maioria legislativa estável, esse personagem é necessário para manter o apoio de seu eleitorado mais retrógrado.

Entrevista: ‘A origem do crime, como qualquer crime, é a impunidade’, diz Ivo Gomes, prefeito de Sobral

Irmão de senador baleado afirma que policiais em greve se sentem amparados pelo daiscurso do presidente e critica anistias a motins do passado

Sérgio Roxo | O Globo

RIO — Mais novo do clã de políticos cearenses, Ivo Gomes, de 52 anos, é prefeito de Sobral, cidade onde seu irmão Cid foi baleado na última quarta-feira. Para ele, os policiais queriam desmoralizar a gestão do município, que foi comandada pelo próprio Cid entre 1997 e 2005 e por seu pai, José Euclides, na década de 1970.

Ivo também diz que policiais se sentem amparados pelo que chama de discurso beligerante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele responsabiliza ainda o Congresso Nacional por anistiar participantes de outras greves.

• Qual a situação hoje em Sobral depois de toda a confusão de quarta-feira?

A cidade está tranquila justamente por causa da confusão. Se não tivesse a confusão, sabe Deus o que estaria acontecendo.

• O senhor atribuiu isso à atitude de seu irmão Cid Gomes de usar um trator contra os manifestantes?

Não interessa se foi com trator, sem trator, com megafone. O importante é que ele foi lá para retomar uma rua que estava ocupada por bandidos armados.

Ricardo Noblat - No Sambódromo e nas ruas, o carnaval do “cala a boca já morreu”

- Blog do Noblat / Veja

Censura nunca mais

Melhor que os seguidores fieis da família Bolsonaro deixem para lá, não estrilem e nada comentem. Melhor já irem se acostumando. Porque nem na ditadura militar os governantes conseguiram tapar a boca dos que gritavam nas ruas durante o carnaval.

O medo em diversas fases da ditadura inibiu o que muitos brasileiros pareciam dispostos a expressar – e por medo não o fizeram. Mas a crônica da época não guarda lembrança de censura bem-sucedida, ou de prisões, ou de cancelamentos.

“Abra a porta desse armário
Que não tem censura pra me segurar
Abra a porta desse armário
Que alegria cura, venha me beijar” (Daniela Mercury)

Os episódios mais notáveis de tentativa malsucedida de intervenção no carnaval aconteceram no final do século XIX e no início do seguinte. Em 1892, por causa de um surto de febre amarela, o carnaval foi proibido. Aconteceu assim mesmo.

Em 1912, um gênio do governo teve a ideia de adiar o carnaval devido à morte do Barão do Rio Branco, o papa da diplomacia brasileira. Os cariocas pularam o carnaval na data prevista e, meses depois, também na data marcada pelo governo.

Carnaval é irreverência, anarquia, liberdade. E tais coisas nunca são a favor de tudo o que está aí. Sempre foi assim e assim será. Tanto mais quando o país atravessa “tempos estranhos”, segundo o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo.

“Cala a boca já morreu”, decretou a ministra Cármen Lúcia, também ministra do Supremo, no julgamento da ação sobre a inconstitucionalidade de autorização prévia para biografias. Morreu, embora muitos não se conformem com isso.

O que a mídia pensa – Editoriais

Responsabilidade ainda que tardia – Editorial | O Estado de S. Paulo

Na contramão do saneamento fiscal que a União e os Estados e municípios mais ajuizados vêm promovendo, a Assembleia de Minas Gerais aprovou um aumento salarial para o funcionalismo de quase 30%. O caso ilustra a necessidade de se implementar garantias constitucionais que imponham disciplina à contabilidade criativa engendrada por governantes locais para repassar a conta de seu populismo aos demais contribuintes do País e às futuras gerações.

Tudo começou com a pressão das corporações policiais. O governador Romeu Zema (Novo) encaminhou à Assembleia um projeto de reajuste de 41,7% apenas para os agentes de segurança. Numa retaliação peculiarmente oportunista, a oposição propôs uma emenda estendendo o aumento a outras categorias, incluindo as mais privilegiadas, como Ministério Público e Judiciário. O impacto no orçamento será de mais de R$ 20 bilhões. Agora, cabe ao governador vetar ou sancionar o reajuste.

Música | Jorge Aragão & Beth Carvalho - Coisinha do Pai / Vou Festejar

Poesia | Fernando Pessoa -Acho tão natural que não se pense

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.