sábado, 11 de outubro de 2008

FRASE SELECIONADA

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo”.

(Karl Marx: XI Teses sobre Feuerbach, 1846)

POESIA: CULPAS

Graziela(sentada) com Tereza Vitale e Irina

Graziela Melo

Quantas vezes
Me contemplo
Tentando
Me perdoar

De culpas
Que guardo
Na alma

Ao longo
Do meu
Caminhar

Pelas trilhas
Desse
Mundo

Sem nunca
Deixar
De sonhar!!!

Rio de Janeiro, 09/10/08

Aposta no vermelho


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A estratégia deu certo em 2006, quando o PT deixou o PSDB tonto ante a inesperada retomada do discurso ideológico no segundo turno da disputa entre o presidente Luiz Inácio da Silva e Geraldo Alckmin.

Conseguiu rapidamente dar a volta por cima na frustração da expectativa de vitória em primeiro turno e pôs o adversário a reboque da agenda que lhe foi mais conveniente durante as três semanas de campanha.

Uma arquitetura realmente digna de constar em manual.

Tão bem-sucedida que é adotada agora em São Paulo, na tentativa de virar o jogo em favor de Marta Suplicy. No ato de apoio à candidata petista, quinta-feira, isso ficou nítido.

Bem instruídos a traçar uma risca de giz entre o campo dos “progressistas” e o terreno freqüentado pelos “conservadores” adeptos da candidatura de Gilberto Kassab, ministros, governadores, intelectuais e sindicalistas bateram no mesmo ponto: a construção de um cenário de luta entre mocinhos e bandidos. Estes, de “direita”, aqueles, de “esquerda”.

Pode dar certíssimo de novo, como pode resultar no chamado tiro no pé. A grande vantagem de Marta agora é justamente o que foi o trunfo de Kassab no primeiro turno: em condição de franca inferioridade, não tem nada a perder. Portanto, em tese, qualquer risco vale a pena.

Quem precisa tomar todos os cuidados é o prefeito, para não perder a dianteira. A administração da superioridade - conforme demonstraram os principais resultados do primeiro turno - é uma tarefa bem mais difícil e perigosa.

A subida de Kassab é prova viva, bem como as ultrapassagens de Fernando Gabeira no Rio e Leonardo Quintão em Belo Horizonte.

Os três largaram no prejuízo, foram deixados de lado, tidos desde o início como fora do páreo até pelos próprios correligionários e cresceram na base do que vier é lucro, contrastando com a soberba e a tensão dos favoritos.

Agora é deles o compromisso maior com a gerência do inesperado sucesso.

Marta, porém, tem uma situação peculiar, porque joga no terreno da sucessão presidencial, onde a distância entre uma derrota e uma derrota estrondosa fará uma enorme diferença.

Levar o debate para o campo da briga entre conservadores e progressistas em São Paulo, para um eleitor atento a questões municipais, pode ter o efeito inverso ao obtido por Lula em 2006, quando os ataques à “herança maldita” ocorreram sob o olhar aparvalhado de um adversário incapaz de apontar a incoerência do discurso de quem rezara quatro anos pela mesma cartilha.

Aqui já não existe o elemento surpresa. Por isso, não há um oponente tão desprevenido que não possa rebater com fatos do cotidiano do governo federal as acusações de alianças com as “forças do atraso”, com a “elite”, os “fisiológicos”, os “oportunistas que mudam de lado”, o “uso da máquina administrativa”.

A tentativa de mostrar intimidade com o grupo de Mario Covas pode soar excessiva no que tange ao senso de oportunidade, bem como talvez pareça incongruente dizer que a prefeitura será comandada pelo “pefelê” e, ao mesmo tempo, acusar Kassab de ser comandado por José Serra.

Ademais, quem garante ao PT que “conservador” é insulto para o paulista? Paulo Maluf não caiu do pedestal onde se manteve anos a fio por sua posição no campo ideológico. Caiu pelo conjunto da obra que o levou à cadeia, acusado de corrupção.

Fiel depositário

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, não se alia - ao contrário, repudia - à interpretação de que o PMDB estaria condicionando sua posição na aliança nacional com Lula à atuação do presidente no segundo turno das campanhas municipais.

No caso do ministro, a neutralidade em Salvador, onde patrocina a reeleição do prefeito João Henrique contra a eleição do petista Walter Pinheiro. “Não defendo candidatura própria em 2010 e, pessoalmente, sou a favor da manutenção da aliança com Lula em qualquer circunstância.”

Afinal, reconhece, o partido cresceu nos municípios em virtude da adesão total ao governo federal no segundo mandato.

Depende

A decisão de enviar o secretário particular do presidente Lula, Gilberto Carvalho, para “reforçar” a campanha de Marta Suplicy deu margem a duas leituras.

A otimista vê o gesto como sinal do grande empenho do presidente. A pessimista enxerga a intenção de Lula de manter relativa distância.

Os adeptos da segunda hipótese lembram que Marta só queria sair do Ministério do Turismo para ser candidata depois que o presidente lhe fizesse um pedido público.

Lula enviou o marqueteiro João Santana para cuidar da campanha e considerou que, assim, pontuava a identificação na medida certa. O apelo pessoal o faria responsável pela candidatura tornando quase obrigatória a volta de Marta ao ministério, em caso de derrota.

Se ela perder, pode até voltar. Mas não necessariamente.

Nova geografia eleitoral


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Qual a conseqüência política de uma eleição municipal em que o vitorioso claro foi o PMDB: teve 18,6% dos votos; elegeu o maior número de vereadores; é o único partido a disputar as três decisões mais importantes em segundo turno, em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, nos dois últimos com candidato próprio, e em São Paulo dando a vice da chapa de Gilberto Kassab. Além disso, o PMDB foi o que mais cresceu entre os grandes, com um aumento de nada menos que 195% de votos entre 2004 e hoje. O Sudeste, onde foi derrotado no interior do Rio, São Paulo e Minas, foi a única região onde o PMDB perdeu. Aumentou em 95% o número de prefeituras no Norte, 25% no Nordeste, 51% no Centro-Oeste e 5% no Sul.

Entre as capitais e os 53 municípios com mais de 200 mil eleitores, equivalentes a 36,4% do total do eleitorado, PT, PMDB e PSDB são os vencedores. O PT venceu em 13 cidades e disputará o segundo turno em outras 15. O PMDB e o PSDB venceram nove primeiros turnos cada um e disputam o segundo turno em outras dez.

O PT, que esperava chegar às mil prefeituras no país com a popularidade do presidente Lula - meta, aliás, que vem de 2004 - cresceu, mas nem tanto. O PT, que passou por vários períodos, começou como um partido de intelectuais e da classe média, depois virou um partido corporativo, especialmente dos sindicatos e, mais especificamente, dos funcionários públicos, perdeu com o mensalão a influência na classe média e nas grandes cidades, teve que ir para o Nordeste e, nesta eleição municipal, não conseguiu conquistar nem mesmo a nova classe média ascendente das regiões Sul e Sudeste.

A incapacidade de transferir seu prestígio popular para eleger Marta Suplicy em São Paulo no primeiro turno acabou colocando em xeque a estratégia do presidente Lula de fazer da ministra Dilma Rousseff a candidata do PT à sua sucessão. O reforço político do PMDB já se revela na pressão para que o presidente não tente ajudar candidatos petistas em estados onde a disputa é com o PMDB, como na Bahia ou no Rio Grande do Sul.

Além de tornar mais caro o apoio do partido nos últimos anos de governo, é provável que o PMDB não consiga se unir em torno nem de uma candidatura própria, nem para apoiar uma candidatura do PT, dividindo-se para governar no pós-Lula.

O sociólogo Hamilton Garcia, do Centro de Ciência do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense, vê uma diferença básica entre o PT e o PMDB: "O PT se guia pela conquista dos interesses imediatos das corporações que o integram, reduzindo o programa societário de esquerda a um minimalismo anti-inflacionário e assistencial, mantém seus vínculos populares corporativos, enfraquecendo sua cultura de esquerda, mas sem se reduzir ao peemedebismo".

Para Garcia, "enquanto o fisiologismo e a corrupção são a alma e o oxigênio do PMDB, para o PT e o PSDB eles não passam de instrumentos de governabilidade, pois suas bases sociais estão muito bem delimitadas".

Já o cientista político Fernando Lattman Weltman, da Fundação Getulio Vargas, não concorda que o fortalecimento do PT no Nordeste tenha a ver com a perda de prestígio entre a classe média devido ao escândalo do mensalão:

"Ele se tornou muito mais poderoso lá por força das políticas sociais e de redistribuição de renda postas em prática pelo governo Lula já bem antes do estouro da crise, em 2005; a rigor, sem o mensalão, muito provavelmente Lula já teria ganhado a reeleição no primeiro turno de 2006, de lavada, também no Sudeste, e talvez até no Sul, onde as variáveis econômicas talvez não lhe fossem tão favoráveis".

Weltman lembra que não é só o PT que muda: "O DEM também é um ótimo exemplo: deixa de ser importante no Nordeste e tenta se renovar - mudando de nome, inclusive - para aproximar-se das classes médias do Sul e Sudeste. É claro que militantes históricos, mais ou menos puristas de suas identidades partidárias, podem ficar incomodados com isso, mas é da competição democrática pelo poder numa sociedade dinâmica", analisa o cientista político da FGV.

Para Paulo Roberto Figueiredo, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, esse eleitorado que dá vitórias ao PT em muitos lugares nos quais o partido tinha pouca entrada, como no interior do Nordeste, não é uma base eleitoral petista, mas "lulista": "Na verdade, creio que o "petismo" e o "lulismo" podem até convergir em momentos ou em lugares específicos mas, no fundo, são forças cada vez menos coincidentes".

Para ele, um estudioso do PT, "o projeto de Lula demonstrou-se de tal modo personalista que não há garantias de transferência sistemática, pelo menos não de modo sustentável e perene, dos votos "lulistas" para o PT em eleições futuras".

Num momento excepcionalmente bom em termos de avaliação do governo federal e de Lula, Paulo Roberto Figueiredo faz uma análise do desempenho do PT "naquela que outrora foi sua base fundamental, as capitais do eixo Sul-Sudeste" e chega à conclusão de que foi "apenas razoável":

O PT venceu em Vitória e chegou ao segundo turno, como segundo colocado em Porto Alegre e São Paulo, cidades que já governou. Perdeu em Florianópolis, Curitiba, Rio e, em certo sentido, Belo Horizonte, onde está dividido entre os que defenderam e os que se opuseram à aliança com o governador Aécio Neves.

Além dos fatores eminentemente locais, que costumam ser predominantes nas disputas municipais, a influência de Lula no auge de sua popularidade não se transformou necessariamente em vitórias petistas, ressalta Figueiredo.

"Em alguns lugares certamente ajudou, mas não houve uma avalanche de votos "lulistas" se convertendo em votos "petistas", como alguns imaginavam. Isso sugere que tal transferência não é automática e pode ser decrescente em eleições futuras". ( Continua amanhã)

ELEIÇÕES: AGENDA DE GABEIRA


Dia 10/10 – Manhã: Jacarepaguá ( Taquara, Freguesia e Praça Seca)

Dia 11/10 – 10hs.: Corpo a corpo em Santa Cruz, Paciência e Bangu

Dia 12/10 - Domingo - 10hs. Corpo a corpo no Aterro do Flamengo
11.30 hs. - Corpo a corpo na Lagoa , Parque do Cantagalo
15 hs. Quinta da Boa Vista - Porta do Zoológico
22 hs Debate na Band.

Dia 13/10 – Corpo a corpo no Largo do Machado, Rua do Catete.

Dia 14/10 – 9/11 hs.: Debate Rádio Mundial
20 hs.: Debate JB (por 2 horas). Está sendo estudado cancelamento.

Dia 15/10 – Corpo a corpo na Av. N. S Copacapan.

Dia 16/10 – 11/13 hs: Debate da Folha de S. Paulo ( Cine Odeon – Cinelândia)
18 hs: Caminhada na Visconde Pirajá (Ipanema).

Dia 17/10 – 11 hs: Rádio CBN, com Sidney Resende
15 hs. Corpo a corpo no Saara

Dia 18/10 - Manhã: Corpo a corpo no Calçadão de Campo Grande
Tarde: Calçadão de Madureira

Dia 19/10 Domingo - Caminhada em Copacabana, Ipanema, Leblon
21 hs. Debate TV Brasil

Dia 20/10 – Pavuna, Vila da Penha, Ilha do Governador
22hs: Debate na CNT

Dia 21/10 - 9/12 hs: Debate na Fecomercio
15 hs: Corpo a corpo na Tijuca, Saens Pena

Dia 22/10 – Méier

Dia 23/10 – Av. Rio Branco / Largo da Carioca


Dia 24/10 – Debate TV. Globo

Dia 25/10 - Sábado Carreata encerramento da campanha.

Dia 26/10 – Eleições.

A campanha não segura a crise


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

AS FICHAS QUE O GOVERNO APOSTOU no segundo turno da campanha para a eleição de prefeitos e vereadores estão caindo no pano da decepção. E a briga pelo voto é decidida na correria de três semanas, com a votação no domingo, dia 26. Uma semana passou com a velocidade da pista encharcada pela inclemência da chuva que não prejudicou a articulação das alianças que obedeceram ao rito da coerência. A estréia dos debates que devem cumprir a obrigação de esquentar a temporada não peca pela modéstia e, ao contrário, assusta pelo risco de passar da medida e maltratar a paciência do eleitor.

Nas manchas no rendilhado municipal em que a fatura foi liquidada no primeiro tempo, sobrou para a população a comodidade de espectadores da disputa na vizinhança, seja pela mídia que transmitirá os debates ou pelo horário de propaganda eleitoral, que promete ser mais animado e de melhor nível do que a baixaria deprimente do primeiro turno. Nem tudo está perdido. Afinal, qualquer eleição deve interessar a todos. E, como a próxima, em 2010, mobilizará o país na campanha para a sucessão do presidente e dos governadores e para senadores, deputados federais e estaduais, estamos na preliminar, com o alinhavo das alianças que antecipam o modelo de polarização do nosso falido esquema político, atolado na crise sistêmica que envolve os três poderes, com o destaque do distúrbio ético que aflige o Legislativo.

Antes de bater ponto no dia de amanhã, a ameaça da recessão mundial, afinal admitida pelo presidente Lula e pela dupla que embaralha as cartas, formada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega e pelo presidente do Banco Central, Domingos Meirelles, que desistiu do quebra-cega dos truques para ousar as primeiras medidas para valer, com injeções maciças de bilhões no mercado. Seguiram o rastro da redução dos juros pelos bancos centrais dos três continentes, em inédita decisão que sinaliza a gravidade da crise financeira desencadeada pelos Estados Unidos.

A choradeira ensopa os lenços em todo o mundo e pinga nos prognósticos de escassas esperanças. O Fundo Monetário Internacional (FMI), pela voz rouca do seu conselheiro econômico Oliver Blanchard, puxa o crepe e anuncia tempos difíceis, com crescimento zero e até negativo ­ o que não é crescimento, mas encolhimento ­ regado com o pífio consolo de longínqua recuperação que comece lá por 2009. O presidente George Bush buscou alivio dos seus remorsos e fracassos em um a bate-papo pelo telefone com o presidente Lula. Pela versão oficial, a voz chegou pelo fio no tom de otimismo: "o Brasil tem uma plataforma sólida para enfrentar a crise devido aos bons fundamentos da economia", deu o recado.

Lula retribuiu o agrado, saudando a aprovação do pacote de socorro do sistema financeiro americano. Em meio a tal turbação, sobra uma beirada no tabuleiro para o movimento no jogo de dama da política doméstica. Mas, não vamos sepultar a esperança de alguns dividendos com a eleição dos novos prefeitos e dos vencedores do mano a mano das urnas eletrônicas do dia 26.

As alianças que estão sendo firmadas ou ainda nas preliminares não prometem correções significativas na bagunça da incoerência dos blocos de interesse estaduais e municipais. Na nossa abandonada ex-capital do país e que não parece capital do Estado do Rio de Janeiro, a surpresa da classificação de Fernando Gabeira, do Partido Verde, pelo menos coloriu a campanha com o toque do inesperado.

O favoritismo do candidato do PMDB, ampliado com os acordos firmados com PT, o PSB e o PSC, vai enfrentar o teste dos debates, que prometem sacudir a cidade até o limite da saturação.

Mais de 20 estão agendados pelas redes de TV, emissoras de rádio e pela mídia. Além dos 10 minutos diários para cada um no horário eleitoral. Por todo o país, em todas as capitais e municípios em que a eleição será decidida no segundo turno, com as suas peculiaridades, a população será atraída para o espetáculo democrático do debate de idéias e até do xingamento entre os finalistas que conquistaram a vaga na primeira rodada. E até é o caso de lamentar pela oportunidade perdida ou adiada.

Na próxima eleição, com toda a certeza teremos uma nova legislação eleitoral. E uma das modificações inadiáveis atingirá o horário de propaganda eleitoral para acabar com o ridículo desfile dos candidatos a vereador e estimular o debate sobre programas e idéias. Quem viver, verá.

Ainda sobrou um otimista


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MADRI - Não está entendendo o que ocorre na ciranda financeira global? Quase ninguém está. Tanto que dois professores de universidades de um mesmo país, os Estados Unidos, escrevem textos diametralmente opostos sobre o que vai acontecer com o mundo.

Em seu "site" e na entrevista que deu a Sérgio Dávila, desta Folha, Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, prevê o apocalipse, fiel à todas as suas previsões anteriores: "O mundo corre sério risco de um derretimento global sistêmico e de uma severa depressão global".

Já Casey B. Mulligan (Universidade de Chicago) diz o oposto. "O setor não-financeiro de nossa economia não sofrerá muito, mesmo em uma prolongada crise bancária, porque a importância geral dos bancos tem sido muito exagerada".

O pior é que ambos trabalham não apenas com suas opiniões -firmes, muito firmes, como se vê- mas também com números da vida real. Os de Roubini já são conhecidos, e 99,9% das pessoas que comandam o mundo parecem acreditar neles.

Por isso, repasso ao leitor -que merece um pouco de cor-de-rosa- os números de Mulligan:


1 - Balanços das empresas dos EUA mostram nos últimos 18 meses um retorno de 10 centavos de dólar para cada dólar de capital investido. A média histórica, antes da crise, é inferior (entre 7% e 8%).

2 - "A pesquisa econômica tem demonstrado repetidamente que as oscilações do setor financeiro como as atuais dificilmente estão conectadas com a performance do setor não-financeiro. Estudos mostram que o crescimento econômico não pode ser previsto a partir da expectativa de retorno de títulos do governo, ações ou depósitos em poupança".

Não tenho a mais remota idéia de qual dos dois está certo (talvez nenhum esteja inteiramente certo), mas meu coração está com o professor de Chicago, quem diria.

O pânico derivado


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


NOVA YORK - A boataria dominou os mercados ontem. Ford e GM tiveram de negar que estivessem falindo ou pedindo concordata. A Casa Branca precisou declarar desinteresse pelo plano de decretar feriado nos mercados financeiros. O presidente norte-americano praticamente pediu clemência às Bolsas de Valores num depoimento infeliz e ineficaz na TV. Nada adiantou.

Ontem a Bolsa de Valores de Nova York fechou sua pior semana nos seus 112 anos de vida. Os papéis despencam há oito pregões consecutivos. A semana acumulou uma desvalorização de 18%. Já se pode usar, sem medo de errar, a expressão "crash" (quebra) dos mercados.

É importante registrar esse momento, pois as quedas recentes eram ainda sempre menores em algum sentido do que as registradas em anos passados. A diferença agora parece ser o total descontrole dos agentes reguladores nos Estados Unidos, a incompetência e a tibieza política de George W. Bush e a globalização completa do mercado de ações.

Em nenhum dos outros "crashes" o mundo estava tão integrado. Mesmo no início da década, quando explodiu a bolha das empresas "pontocom", tratava-se de um setor específico. Havia ramificações, mas nada comparável à explosão dos chamados derivativos.

Há na praça US$ 531,2 trilhões de contratos de derivativos. Grosso modo, uns 500 "Brasis". Em 2002, o total era de US$ 106 trilhões. Não se sabe exatamente o quanto, mas uma parcela gigantesca desses papéis não vale nada.

Esse é o DNA do atual colapso financeiro. Se as reuniões do G7 e do G20 não chegarem a um consenso neste fim de semana sobre como tornar esse tipo de mercado mais regulado, nada adiantará injetar dinheiro nos bancos.
Será como enxugar gelo. Não há US$ 531 trilhões disponíveis para que todos os derivativos sejam honrados no mundo.