quinta-feira, 16 de outubro de 2008

'Vencerei máquinas estadual, federal e universal'


Sergio Duran
DEU EM O GLOBO

Gabeira ironiza apoio de Crivella a Paes, lembrando que os dois trocavam acusações no primeiro turno

O candidato a prefeito Fernando Gabeira (PV) ironizou ontem o apoio do senador Marcelo Crivella (PRB), terceiro colocado no primeiro turno, a Eduardo Paes (PMDB). Em discurso na Ceasa, em Irajá, Gabeira disse que a hora é de enfrentar também a "máquina universal". Classificou de curioso o fato de políticos que trocavam acusações estarem aliados. Ele almoçou ontem com o prefeito eleito de Niterói, Jorge Ribeiro Silveira, cujo partido (PDT) apóia Paes. Jorge Roberto disse que seu apoio é pessoal.

- Vencemos duas máquinas na primeira eleição: a universal e a municipal. Agora vamos vencer a máquina estadual, a federal e a universal, que se juntou de novo - discursou Gabeira, sobre o apoio do governador Sérgio Cabral e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Paes, e ao fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.

Para Gabeira, só uma parte da Universal está com Crivella

Gabeira também se referiu a Jandira Feghali (PCdoB) - que anunciou apoio a Paes -, afirmando ter percebido mudanças nas visões dos dois candidatos derrotados no primeiro turno (ela e Crivella).

- Acho perfeitamente legítimo que candidatos derrotados se aliem a outros candidatos. O que é curioso é que alguns deles passam por uma grande fase de acusação e depois alteram sua posição completamente. Acho que isso desvaloriza um pouco a seriedade do político, mas é legítimo. Acho que os dois juntos (Crivella e Paes) vão fazer uma dupla muito interessante. Gabeira disse que só uma parte da Universal está com Crivella. Por isso, afirmou não temer a migração de votos para Paes. Ele disse acreditar que a disputa não envolve o apoio de religiões, mas a diferença entre as candidaturas em disputa. Gabeira agendou para a próxima quarta-feira um encontro com pastores em Campo Grande:

- Se ele (Crivella) tivesse realmente esses votos, teria ido ao segundo turno. Ele representa uma parte dos evangélicos, que não se resumem à Igreja Universal - disse.

Gabeira confirmou ter sido procurado por Crivella, mas afirmou ter desencorajado qualquer aliança.

- Digo apenas que as negociações foram desencorajadas porque as premissas não eram passíveis de serem cumpridas - afirmou, evitando comentar a suposta intenção do senador de barganhar cargos.

De manhã, Gabeira se comprometeu a discutir a isenção de IPTU para os comerciantes da Ceasa. Em troca, eles venderiam alimentos a preço de custo em áreas carentes. Em seguida, fez corpo-a-corpo no conjunto Amarelinho e visitou o Hospital Municipal de Acari. Após conhecer a unidade, sem permitir a entrada da imprensa, propôs nova parceria a líderes comunitários: aumentar a capacidade do hospital, em troca da preservação do entorno.

À tarde, ao deixar o almoço com Jorge Roberto, Gabeira disse ter evitado construir uma visão de busca de partidos:

- Estou tentando construir uma frente na sociedade. Acho que essa frente de partidos não é o aspecto principal. Meu tecido é o tecido social, o tecido deles é o partidário. De um lado você tem uma grande coligação de partidos, de outro a sociedade querendo uma renovação.

À frente na pesquisa Ibope divulgada anteontem, com 42% dos votos contra 39% de Paes, Gabeira disse que não vai mudar a estratégia. Voltou a criticar o instituto, afirmando que o Ibope tem contratos com o PMDB.

- É a minha campanha que muda as pesquisas, não as pesquisas que mudam a campanha. A estratégia é a mesma.

Era vidro e se quebrou


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Castelos construídos sobre areia estão para a ação do vento assim como receitas de vitórias pré-fabricadas estão para o livre-arbítrio do eleitor: por frágeis, não resistem a movimentos contrários.

Aplicada ao resultado das eleições municipais, essa lógica derrubou duas teses muito bem apresentadas por seus autores ao longo deste ano, não obstante sua carência total de fundamento.

A mais festejada antes e agora a mais apedrejada discorreu longa e detalhadamente sobre os poderes do presidente da República de transformar qualquer material eleitoral em ouro apenas com a força de sua popularidade.

Expostos os fatos, o presidente Luiz Inácio da Silva foi parar no topo da lista dos derrotados porque não conseguiu influir nem contribuir para a vitória de aliados ou a derrota de adversários.

Lula ficou onde sempre esteve, cuidando do culto à sua personalidade, cuja mítica, se for abalada, não será ao custo de meia dúzia de resultados municipais os quais, no dia seguinte à proclamação oficial, dará um jeito de apresentar com uma versão conveniente e edulcorada.

Na verdade, perdeu (tempo) quem acreditou na fantasia sobre a eleição de postes, muitas vezes baseada em “provas” de acontecimentos de um passado remoto, uma época de outro Brasil, menos informado e de relações muito mais simplificadas.

A segunda tese foi a da “convergência total”, lançada pelo governador de Minas, Aécio Neves, que, segundo consta, faria da aliança entre PT e PSDB em Belo Horizonte um experimento a ser aplicado como regra-mãe da “nova política” com data marcada para entrar em vigor: o “pós-Lula”.

Conceitos de uma vaguidão ímpar e de prática inexeqüível, pois, como princípio, carimba o embate político como algo pejorativo, imaturo mesmo, e põe o consenso permanente no ápice dos ideais democráticos.

Um truque engendrado pelo governador mineiro para conquistar um lugar de destaque para seu “pedaço” no debate nacional, mas recebido com reverência de doutrina profunda.

Por essa ótica fantasiosa, realmente Aécio perdeu a chance de fundar uma nova corrente do pensamento político. Numa visão realista, entretanto, alcançou o objetivo de pôr Minas na cena principal. A feiúra da derrota deve-se ao mesmo pressuposto equivocado que sustenta a tese do poste: o menosprezo ao livre-arbítrio do eleitor.

Este ganhou porque se impôs, não por consciência repentina. Esteve e estará no mesmo lugar: pronto para pôr em seus devidos lugares invencionices concebidas e recebidas de maneira folgazã.

Fogaréu

O PT foi praticamente unânime na condenação ao tom da campanha do segundo turno em São Paulo, mas nuances separam os defensores e os detratores de Marta Suplicy nas internas.

Os contra esticam o repúdio à propaganda sobre a solteirice de Gilberto Kassab e dão a fatura da derrota como liquidada.

Os favoráveis tentam virar a cena do avesso. Dizem que ela pôs o dedo na ferida certa, foi mal interpretada, mas teve o mérito de não se render à hipocrisia.

O primeiro grupo quer vê-la excluída de todos os páreos; o segundo pretende preservá-la para disputar o governo do Estado. Um terceiro olha de longe, ainda na esperança de convencer Lula de que, na batalha pelo Planalto, mais vale Marta com um capital menor que Dilma Rousseff sem nenhum voto.

Para todos

O senador Demóstenes Torres levantou uma boa lebre ao lembrar que o presidente do Senado, Garibaldi Alves, pode ser processado por improbidade administrativa se não forem demitidos todos os parentes empregados na Casa, conforme norma do Supremo Tribunal Federal.

Nesse caso, se o Ministério Público resolver agir, podem ser processados também os chefes de outros Poderes - federais, estaduais e municipais - que ignorarem a proibição da prática do nepotismo, pois são também, em última análise, os responsáveis pelas nomeações.

E aqui, com “brecha” ou sem ela, justiça seja feita ao presidente do Senado, é a única autoridade empenhada publicamente no trato do assunto. As outras, do presidente da República ao presidente da Câmara do mais minúsculo dos municípios, levam o tema na flauta, completamente indiferentes à voz do Supremo.

Costumes

Há 20 anos, um casamento repentino uniu o deputado Álvaro Valle (falecido em 2000) e uma moça frentista de posto de gasolina escolhida para o papel de primeira-dama do então candidato à Prefeitura do Rio.


Na época, a equipe do deputado avaliou que, solteiro e sem filhos, ele estaria exposto aos ataques dos adversários.


Ocorreu o contrário. O gesto foi muito criticado, não se sabe se foi o casamento de conveniência a causa, mas a emenda saiu pior que o soneto e Álvaro Valle perdeu a eleição.

Em busca do milagre


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. Somente um milagre para livrar o republicano John McCain de uma derrota consagradora nas urnas em novembro. Com 14 pontos percentuais de vantagem, dianteira que só fez aumentar de um mês para cá, quando o primeiro sinal da crise surgiu com a quebra do Lehman Brothers, Barack Obama está em uma zona de conforto que o livra da margem de erro das pesquisas e também do "efeito Bradley", a diferença que aparece nas urnas, devido ao racismo, entre o voto declarado antes da eleição e o voto dado na cabine eleitoral.

O nome deve-se ao prefeito de Los Angeles, Tom Bradley, um negro que se candidatou ao governo da Califórnia em 1982 e perdeu surpreendentemente, depois de aparecer como líder das pesquisas durante toda a campanha. Um estudo da Universidade de Stanford mostrou que existe uma diferença de até seis pontos percentuais das pesquisas para as urnas quando um candidato negro está na disputa.

Há quem considere que hoje em dia já não existe essa marca tão forte no eleitorado médio americano, mas, antes da crise econômica ficar tão explícita, a dificuldade para Obama abrir uma dianteira sobre McCain foi atribuída por muitos analistas ao racismo, travestido de críticas à falta de experiência ou à ingenuidade de do democrata.

Para desespero dos republicanos, seus marqueteiros políticos estão constatando que as diversas táticas de ataque ao democrata não estão dando certo porque o eleitor está com sua atenção voltada para a crise econômica, não dando muita atenção à campanha política propriamente dita.

De acordo com essas análises, esta eleição presidencial, em que o assunto principal não é a disputa em si, se parece com as quatro vencidas sucessivamente pelo democrata Franklin Roosevelt, que tiveram como pano de fundo a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.

Também hoje, com a crise econômica e a perspectiva de uma recessão internacional que trará falências e desempregos, os eleitores estão preocupados mais pragmaticamente com seu próprio futuro.

O fator ideológico, ou mesmo a desconfiança sobre a capacidade de Obama, está dando lugar a uma necessidade de mudar o comando da Casa Branca, e o candidato democrata é a alternativa visível.

Por essa razão as campanhas de "desconstrução" de Obama não têm dado certo. As esperanças de McCain estão depositadas em algum fato novo que venha a surgir no cenário internacional, a chamada "surpresa de outubro", ou então em uma estabilização da crise econômica, que permita ao eleitor focar em outros temas.

Como o dia de ontem demonstrou, é bastante remota a chance de acontecer uma estabilização no sistema financeiro nos próximos dias. E uma das razões seria justamente a falta de definição sobre o comando da economia dos Estados Unidos nos próximos anos.

A definição do próximo presidente, e sua capacidade de liderar um processo de recuperação da economia americana, é um dos fatores essenciais para a regularização dos mercados financeiros. A escolha do próximo secretário do Tesouro, por exemplo, será crucial nessa perspectiva de futuro.

Para se prevenir de surpresas, e também para tentar reverter a situação eleitoral em estados tradicionalmente republicanos, o que já está conseguindo, a campanha de Obama vem fazendo, desde que ele foi indicado oficialmente candidato a presidente, um forte trabalho de alistamento de eleitores novos.

Caravanas de jovens estão se alistando em estados onde geralmente os republicanos vencem, e muitos se mudaram para fazer um trabalho político a favor de Barack Obama.

Existem muitos voluntários que trabalham nessa campanha, e uma das organizações empenhadas em aumentar o número de eleitores no país é a Acorn, sigla em inglês para uma associação de organizações comunitárias para reformas agora, uma ONG que atua com bastante agressividade em atividades sociais para famílias de baixa renda, focando especialmente problemas de moradia, segurança e saúde.

A associação tem mais de 350 mil membros e atua em mais de cem cidades dos Estados Unidos, tendo atividades em outros países também, e é considerada um foco de política radical pelos republicanos, que a acusam desde de 2.000 de fraudar o alistamento de eleitores.

Até agora a Acorn conseguiu alistar cerca de 1,3 milhão de eleitores por todos os Estados Unidos, e a campanha de McCain a acusa de estar promovendo fraudes com o registro de eleitores fantasmas em diversos estados. Um dos casos de destaque foi a descoberta de um eleitor que se alistou com o nome de Mickey Mouse.

O que está sendo apontado como prova de fraude pelos adversários é tido pela ONG como uma demonstração de que existe uma campanha difamatória em curso. A Acorn alega que se quisesse fazer uma fraude, não colocaria em risco sua ação com um registro como esse.

Além de ser muito ligada aos democratas, a Acorn é vinculada diretamente ao candidato Barack Obama, que foi seu conselheiro em Illinois. A campanha do democrata encaminhou de seu fundo perto de US$800 mil para financiar seu trabalho de alistamento eleitoral, que agora está sendo questionado na Justiça pelos republicanos, e investigado pelo FBI em onze estados.

Essa é uma das últimas cartadas dos republicanos, criar um clima de denúncia que permita, caso a eleição venha a ser apertada, colocar um eventual resultado a favor de Obama sob suspeita de fraude. Mas nada indica até o momento que o resultado será apertado.

O desvio do compulsório


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Os bancos são as instituições que mais se esbaldam no mundo e particularmente no Brasil, onde os sucessivos recordes de lucro são um escárnio diante da miséria e do analfabetismo. O Bradesco, para ficar num exemplo, fechou 2007 com lucro líquido de R$ 8 bi, 58,5% maior do que em 2006.

Em greve há dias, os funcionários reclamam sua parte do sucesso em salários. E nós, correntistas, queremos mais funcionários para dar conta de filas imensas, apesar da internet, para ter informações confiáveis sobre contas e investimentos e, por favor, para atender o telefone.

Com a crise global, os bancos não estão passando a perna só em funcionários e clientes, mas no governo, como gritou ontem a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti.

Preocupado com a redução de créditos, o governo relaxou as margens dos depósitos compulsórios dos bancos. Para quê? Para que tivessem mais dinheiro para financiar compras, projetos. E o que eles estão fazendo? Comprando títulos públicos do Tesouro Nacional. Ou seja: em vez de garantir o movimento da economia, eles tiram uma casquinha da crise.

Numa das suas manifestações sobre a crise, ora falando do Atlântico, ora de marolas, Lula ensinou aos países ricos que é necessária uma maior regulação sobre os bancos.

No Brasil também, presidente. Eles fazem o que querem -com os que estão lá dentro, trabalhando, e com os que estão aqui fora, produzindo, investindo, comprando ou pagando suas contas do dia-a-dia.

Os EUA já arranjaram uns US$ 250 bi, e a Europa, uns US$ 2 tri para tentar salvar o sistema. E o sistema continua fazendo água por todo lado, com as Bolsas afundando e o mundo mergulhado em incertezas, sem uma bóia a que se agarrar.

Por mais que haja uma lógica nos trilhões de dólares despejados nos bancos, os leigos se perguntam: e se essa grana toda fosse investida em gente? O mundo certamente seria muito melhor.

O gato e o arroio


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MADRI - Com 54 anos de carreira, iniciada como diretor da União de Bancos do Uruguai, Enrique Iglesias é seguramente uma das pessoas mais bem-informadas do planeta.Hoje é secretário-geral da Comunidade Iberoamericana, conglomerado de 22 país. Mas exerceu antes cargo de banqueiro central, no Uruguai, de dirigente da Cepal, que já foi uma usina de idéias na América Latina, de presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, de chanceler.

Viu de tudo na vida, especialmente crises, item em que a América Latina é uma fartura só. Mesmo assim, seu espanto com a crise atual é tamanho que usa uma expressão uruguaia para descrevê-lo: "Como estará la cañada que hasta el gato pasa trotando?". "Cañada" é um riozinho, um arroio.

Secou tanto que até os Estados Unidos mergulham a trote no intervencionismo do Estado. Mas, atenção, Iglesias tem vivência suficiente para descartar a hipótese de que os Estados Unidos passem a ser ator de segunda na nova ordem global que, supostamente, advirá da crise.Ao contrário, diz que os Estados Unidos tendem a ser, ao lado da China, um dos dois pilares da economia mundial assim que passar o susto. Quando? "Não me atrevo a prever como e quando termina", responde, prudente.

Iglesias lamenta que o mundo das finanças, "que parecia ter as chaves do Reino", ficou absolutamente sem controle. Deu no que deu. Prega, por isso mesmo, "uma economia mundial muito mais regulada". Acha até que será "uma realidade inevitável e necessária".Mas lembra um detalhe importante: foi nesse mundo desregulado que a economia cresceu espetacularmente nos últimos tempos. A questão que talvez algum estudioso se anime a responder, depois do terremoto, é se o crescimento foi por conta da alavancagem excessiva ou apesar dela.

Que preço se pode pagar pela vitória?


Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

"Assim como na política, falar na hora certa (na psicanálise) é fundamental. Quando o paciente não está preparado para uma interpretação do analista, não pode se apropriar dela nem usá-la para seu crescimento. A interpretação pode simplesmente se perder ou ter um peso errado. Na política, falar demais pode produzir um dano maior. Eu ainda escorrego". Esta é Marta Suplicy, por ela mesma. Está no livro "Minha vida de prefeita: o que São Paulo me ensinou", lançado pouco antes do início oficial da campanha eleitoral para a prefeitura, que ela agora disputa, em segundo turno, com o atual prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM).

Marta Suplicy falou demais pela boca alheia, de locutores da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, por dois dias desta semana. E escorregou. As peças de campanha insistiram muito para que o eleitor fosse atrás de informações sobre a vida pessoal de seu adversário. "É casado? Tem filhos?", pergunta o locutor. "Será que ele esconde mais coisas?", perguntou a voz masculina em outro comercial. Marta negou, em sabatina na "Folha de S. Paulo", que sua campanha insinuava que o atual prefeito seja homossexual. "É uma pergunta como qualquer outra", disse a candidata do PT.

Não é uma "pergunta qualquer". Kassab é solteiro, não tem filhos - e se insinua que ele está escondendo alguma coisa, certamente não é sobre o seu estado civil, que, aliás, ele nunca escondeu de ninguém. A campanha de Marta também não disse qual a importância de o eleitor saber detalhes da vida pessoal do candidato - o conhecimento da vida pública já é o bastante para que se saiba se ele é honesto, ou competente, ou ambas as coisas, que é o que importa na escolha do voto. Não consta que ter uma mulher ou filhos o credencie a ser prefeito. O deputado Paulo Maluf, por exemplo, tem mulher, filhos e netos e foi fartamente processado por corrupção em todos os cargos públicos executivos que ocupou. Em nenhum momento a campanha da petista perguntou claramente se o candidato do DEM era homossexual, mas suas insinuações deixaram os jornalistas bastante à vontade para fazer essa pergunta a ele. E isso virou conversa de botequim. Uma certa fonte da campanha disse em off, para o jornal O Globo: "A idéia era a de desestabilizar o Kassab no debate [da TV Bandeirantes] e tivemos sucesso. Ele ficou perdido nos dois primeiros blocos". E, sobre a acusação de "baixaria", afirmou "um dos coordenadores" do staff de Marta: "Não tem essa de não poder bater. Em 1989 [Fernando] Collor bateu em Lula em todo o segundo turno e ganhou".

A declaração da intenção está aí. Vale ela, mesmo em off. Faltou a fonte lembrar que Lula, mesmo engolindo uma devassa em sua vida privada em 1989, e mesmo sendo acusado de coisas que ele não fez, recusou-se a usar dessa mesma arma contra Collor. Sua campanha tinha elementos fartos para isso. Essa foi a norma usada por Lula em todas as campanhas posteriores à Presidência - 1994, 1998, 2002 e 2006 - e, com toda certeza, o fato de não ter usado golpes baixos garantiu que conseguisse baixar, a cada eleição, a resistência dos eleitores ao seu nome e às suas posições pessoais e políticas.

A derrapada de Marta, aliás, foi inexplicável. Ela sempre bancou, às custas de perder muito voto, sua posição favorável à união de pessoas do mesmo sexo; assumiu-se como sexóloga numa época que não havia nenhuma tolerância a isso, nem se aceitava essa especialidade como científica - era interpretada mais como uma perversão do que como conhecimento; bancou a separação com o senador Eduardo Suplicy quando era prefeita, e fez pública a sua cerimônia de casamento com Luis Favre. Nem indo tão longe, no mês passado a candidata a prefeita foi num encontro com batistas, que queriam saber sua posição sobre uma proposta em tramitação na Câmara que pune a homofobia. Ela colocou todos os votos batistas lá presentes em risco ao responder, com todas as letras: "Minha posição é que (o homossexual) não pode ser desrespeitado. Se for para xingar, dizer que é doente, sou contra".

Entre os defeitos apontados por marqueteiros de campanha em Marta, um deles era uma qualidade: ela nunca, até então, havia aberto mão de uma convicção pessoal para ganhar um voto, mesmo quando os assuntos colocados em debate eram espinhosos, como o aborto e a união de pessoas do mesmo sexo. A candidata, assim como Lula, sempre impôs limites a concessões que poderia fazer para ganhar a eleição - um deles, a sua própria privacidade e o respeito à privacidade dos adversários; o outro, não abrir mão do que pensava. Espera-se que a candidata, ao fazer uma autocrítica, não tenha justamente eliminado de sua biografia uma qualidade: a aversão a invasões de privacidade e baixarias na campanha. Mesmo na política, existem limites - e o limite pessoal numa disputa é não pagar qualquer preço por um voto. O voto que vale é aquele dado em biografias e convicções, não o obtido à custa de biografias e convicções.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Quem pariu a crise?

Sérgio C. Buarque
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)


O mundo inteiro reclama, com razão, dos norte-americanos que deixaram o sistema financeiro se precipitar na grande crise que provoca agora um abalo profundo na economia mundial, de conseqüências ainda imprevisíveis. O presidente Lula, em particular, na sua empáfia, chama Bush à responsabilidade e "manda" ele resolver os problemas dos Estados Unidos e não exportar sua crise para os outros. No entanto, nas últimas décadas, quando a economia americana consumia vorazmente os produtos e bugigangas produzidos em todas as partes do mundo e inundava o planeta com dólares e títulos governamentais, os parceiros comemoravam e agradeciam a irresponsabilidade econômica e financeira dos Estados Unidos.

Quando os delirantes déficits externos da economia norte-americana, viabilizando o consumismo desenfreado da população americana, alimentavam o impulso exportador de todos os países, incluindo os emergentes, ninguém reclamava, ao contrário, pediam mais consumo e mais déficits, e reclamavam de eventual elevação de juros na grande potência. O mesmo vale para o déficit fiscal do governo americano, rodando a máquina na emissão de títulos para financiar a farra e satisfazer o apetite insaciável do sistema financeiro mundial, todos os países se lambuzavam no excesso de liquidez, incluindo o Brasil que se beneficiava da entrada forte de capital e de crédito para financiar o consumo e o investimento no País, e o governo brasileiro propagava os sucessos da balança de pagamentos, indiretamente financiada pela corrida descontrolada dos déficits e endividamento da economia norte-americana.

Não se trata, evidentemente, de inocentar o governo dos Estados Unidos pela crise sistêmica que enfrenta no momento nem, muito menos, de negar a irresponsabilidade do sistema financeiro norte-americano na alavancagem desproporcional de títulos e ativos financeiros. A imprudência das autoridades econômicas dos Estados Unidos e o descontrole do mercado financeiro são as causas da crise financeira mundial que deve atingir, com diferentes graus e intensidades, todos os países do mundo, pelo simples fato de que todos vinham se beneficiando do excesso de demanda e de liquidez na economia internacional, do qual advinha parte do seu sucesso.

A grande maioria dos governos e economistas defende agora uma intervenção do governo americano para salvar o sistema financeiro mundial, devendo mobilizar quase um trilhão de dólares para financiar a insolvência geral dos bancos, financeiras e seguradoras, quem pariu a crise que a assuma. Alguns economistas justificam a medida e aproveitam para registrar o que seria o fim do neoliberalismo e a volta do intervencionismo do Estado, neste caso para salvar os banqueiros, curiosamente, parte destes economistas classificava de neoliberal o Proer, programa criado pelo governo brasileiro, em 1995, para salvar o sistema bancário dos impactos desorganizadores do Plano Real, impedindo uma crise sistêmica na economia brasileira e assegurando a solvência dos bancos.

Ao contrário do Proer, o socorro trilionário do governo americano chega tarde e, feito às pressas e já no meio do furacão, aumenta o custo e reduz a eficácia da intervenção política. De fato, esta era uma crise anunciada e propalada por importantes autoridades econômicas, entre as quais o ex-presidente do Banco Central dos Estados Unidos (FED) Alan Greenspan, que advertia para o que chamava de "exuberância irracional" da economia e do sistema financeiro norte-americano. Em outras palavras, faltou ao governo Bush e ao Banco Central norte-americano uma ação antecipatória de evitar ou se preparar para a previsível explosão da bolha do excesso de liquidez, que estourou agora com o elevado endividamento das famílias.

Os Estados Unidos são responsáveis pela crise e, evidentemente, devem assumir os custos, mas todos os países se aproveitaram e defenderam as vantagens geradas pela exuberância irracional dos Estados Unidos, e vão pagar parte dos prejuízos. Com a mesma naturalidade que condenam agora a inoperância do governo americano, todos pedem a sua proteção contra o risco sistêmico na economia internacional, esquecendo que todos foram igualmente imprevidentes e irresponsáveis, sócios (ao menos, entusiastas defensores) na aventura do capital liquefeito (ou gasoso?).

» Sérgio C. Buarque é economista e consultor

Capitalista imita comunista, comunista imita capitalista


Milton Coelho da Graça
DEU NO DIÁRIO DA MANHÃ (GO
)

Paul Krugman receberá merecidamente o Nobel de Economia. Poucos dias antes de anunciado o prêmio, vários jornais brasileiros publicaram o artigo de Krugman em que ele criticava o primeiro pacote aprovado pela dupla Bush-Paulson para enfrentar a crise financeira. O governo não pode apenas garantir os bancos, argumentava, deveria dar dinheiro em troca de ações, participar do controle das operações. A banda mais conservadora e monetarista dos Estados Unidos bradou: “Isso é coisa de comunista”.

O Congresso recusou o pacote, começou a negociar algo mais do que um simples oferta de dinheiro, enquanto o governo britânico preferiu embarcar na crítica de Krugman e praticamente assumiu e direção do sistema bancário, dando plena garantia a depositantes e alguns credores.

Bush, Paulson e o Federal Reserve docilmente concordaram com a velha e sábia Inglaterra e adotaram diretrizes bem próximas da política econômica da China onde todos os grandes bancos (como a nossa Caixa Econômica) são estatais. Só faltaram gritar “Viva o socialismo”.

Do outro lado do planeta, reuniu-se o Comitê Central do Partido Comunista Chinês. Examinaram com paciência os números da produção agrícola, aparentemente felizes com a produção de grãos do ano passado, 510 milhões de toneladas. Mas chinês sabe comparar números, sabe que esse número foi menor do que o triplo da produção brasileira, um país com uma população sete e picos vezes menos do que a da China. Pior: eles aceitaram a triste realidade de que a produção aumentara nos dez primeiros anos da reforma, mas praticamente vinha mancando nos quase 30 depois disso..

Na reforma chinesa do final da década de 70, um dos pontos básicos foi o fim da ilusão de que solidariedade socialista e amor ao próximo seriam mais produtivos do que o empreendedorismo.


Acabaram-se as fazendas coletivas no estilo soviético e criou-se um sistema de arrendamento de
terras. Cada família teria direito a um pedaço de terra desde que entregasse anualmente uma certa parte de sua produção a armazéns do Estado como “aluguel”. O restante poderia vender livremente no mercado. Quem não pagasse religiosamente o “aluguel”, tinha de entregar a terra a outra família mais disposta a trabalhar. Sem esquecer um detalhe fundamental: ninguém tem a propriedade da terra na China, ela é de todo o povo, da mesma forma como a água e o ar.

Mas uma família isolada, mesmo se juntando aos vizinhos para usar máquinas e financiamento fácil para fertilizantes etc., não consegue nem de longe competir com a altíssima produtividade obtida pelos fazendeiros do meio oeste americano ou mesmo com o nosso agronegócio.

Agora os comunistas chineses mudaram o jogo. Quem quiser pode transferir o arrendamento de suas terras para grandes empresas rurais, que ainda poderão ampliar o prazo de arrendamento para 70 anos e com a área que desejarem, desde que cumpram metas de produção. Com algum
dinheirinho no bolso, é claro que, até 2020, uma boa parte da população rural – mais ou menos metade do número de hoje, acima de 700 milhões – vai se mandar para as cidades, em busca de empregos, estima-se que pelo menos metade desse número.

Não se assustem com esse número, basta recordar que, em uns 40 ou 50 anos, pelo menos um terço da população brasileira deixou de ser rural para ser urbana. E sem o governo fazer qualquer força para isso. Nos Estados Unidos, cuja produtividade agrícola é invejada pelos chineses, hoje apenas 2% ou 3% da população vivem da terra.

Dois detalhezinhos que não devem ser esquecidos. A produtividade é também essencial para o aumento da produção agrícola, porque a China, embora maior do que o Brasil, tem pouco mais um milhão de quilômetros quadrados cultiváveis, enquanto nós temos mais de três milhões. E outro objetivo importante dos comunistas chineses é dobrar em cinco anos a renda per capita da população rural.

Nos corações e mentes de boa parte dos dirigentes do PC, um grito alegre certamente foi contido: “Viva o capitalismo”.

Números e memória

Alguns jornais têm afirmado que Lula alcançou o recorde de popularidade de todos os presidentes em nossa História. Não é verdade.


Sem discutir se a metodologia foi a mesma em todas as pesquisas nem o fato de que não existem registros de pesquisas antigas, o recorde continua a ser de José Sarney, que, em 1986, no auge do Plano Cruzado, chegou a 82%, três pontos acima do mais recente e melhor índice de Lula. E também não se pode esquecer que, três anos depois, ele recebeu pedradas no Rio e o PMDB sofreu derrota esmagadora nas urnas.

Nem tudo que é legal é sempre justo

O governador Sérgio Cabral Filho, do Rio de Janeiro, tomou decisões que, nos meios de comunicação, apareceram meio escondidas mas com importante significado para nossas instituições.

Na primeira, revogou uma iniciativa da Procuradoria do Estado, que, agindo corretamente por “motivos técnicos”, apresentou recurso à Justiça contra decisão que concedia modesta indenização a um cidadão. O Governador determinou a retirada do recurso porque o considerou injusto, embora legal.


Essa é uma distinção que freqüentemente é deixada de lado, tanto por juízes como defensores dos interesses do Estado.

Na outra, cancelou a cobrança da taxa de incêndio pela segunda vez este ano.


A taxa referente ao ano passado foi cobrada no primeiro semestre deste ano, porque esse vinha sendo o costume. Mas os bombeiros, como todos os setores públicos, sempre têm pressa de mexer em nossos bolsos e, não é nada, não é nada, a taxa vale 100 milhões anuais. O governador mandou cancelar a cobrança, cujo objetivo oficial era “facilitar a vida dos contribuintes.” Eu e todos os cidadãos do Rio de Janeiro preferimos que a vida tenha ficado um pouco mais difícil.

Em qual pesquisa você confia mais?

Eliakim Araújo que, ao lado de Leila Cordeiro, foi um ótimo âncora de jornais da Globo e do SBT e hoje trabalha nos Estados Unidos, informa em seu jornal online http://www.diretodaredacao.com.br/ uma curiosa pesquisa sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos. A cadeia de lancherias 7-Eleven ofereceu copinhos para café azuis ou vermelhos a seus clientes, os azuis para eleitores de Obama, azuis para os de McCain. Ganhou Obama por 59 a 40. Por enquanto os institutos de pesquisa dão em média dez pontos de vantagem para Obama.

Quanto custaram grampos e antigrampos

Segurança Pública foi um dos itens de despesa que mais cresceram no orçamento federal no ano passado (13,1% em relação a 2006) e três quartos do dinheiro (35 bi) foram gastos em grampos, maletas, detectores de grampos e maletas etc. Mas ninguém explica quanto desse dinheiro foi gasto para nos defender e quanto foi gasto para saber o que estamos fazendo.

Dona Marta, Crivella e Aécio pisam na bola

Ah, dona Marta Suplicy, por que essa compulsão de dizer coisas erradas no momento errado? Por que relaxar e gozar os outros por motivos infames? Uma mulher guerreira como a senhora também não precisa sair por aí tirando fotos ao lado de pelegos bem conhecidos em todo o Brasil.

E Crivella, que oferece apoio ao candidato da Opus Dei, braço político da Igreja Católica que só decidiu intervir na eleição do Rio para impedir a Igreja Universal de virar força política? E pior, Crivella anuncia que aderiu à candidatura Eduardo Paes porque este apoiou seu projeto Cimento Social. Um projeto que a população das favelas ainda não aprovou. Ainda está pensando, acha que lage é melhor do que telha. É da lage que morador vê o mundo, menino solta pipa. É na lage que rola churrasquinho, a conversa é mais amistosa, o ar é mais puro, a esperança se solta.

Quanto ao governador Aécio, esqueceu que mineiro entende melhor quem fala como mineiro, uai. E os jovens de Belo Horizonte estão mostrando, nas pesquisas mais recentes para o segundo turno, que querem renovação de caciques.

A crise internacional e o condicionamentode decisões do governo sobre o pré-sal

Jarbas de Holanda

As reações articuladas dos governos e bancos centrais do G-7 por meio da montagem de uma rede trilionária de sustentação dos sistemas financeiros, adotadas a partir do último fim de semana, conseguiram enfim deter a corrida para um colapso desses sistemas, motivando na segunda-feira uma vigorosa reanimação das bolsas de valores, inclusive da Bovespa, que nos pregões de ontem se manteve nas asiáticas e européias, sendo substituída pela volatilidade (realização de lucros) nas dos EUA e na brasileira. Isso foi bastante positivo, não obstante não represente garantia de que a crise tenha sido revertida ou menos ainda solucionada, pois é enorme a escala de danos à chamada economia real que ela já causou. E que vai causar à frente nos países ricos e naqueles em desenvolvimento, como o Brasil, dependente da exportação de matérias primas, com a escassez e o encarecimento do crédito. Aqui, em paralelo a tais reações, nosso Banco Central – fortalecido dentro do governo Lula – segue tomando novas medidas de contenção dos reflexos da crise, vendendo mais dólares e decidindo a liberação, por etapas, de até R$ 106 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos, a fim de reduzir a carência do financiamento de contratos de exportação e de liquidez de várias atividades voltadas para o mercado interno.

Entre as implicações que a crise terá no Brasil destaca-se a que decorrerá da combinação de abrupta baixa das cotações do petróleo com a conjuntura de escassez do financiamento internacional. Este mix deplorável pode retardar o desencadeamento da exploração das reservas do pré-sal e reduzir a própria viabilidade desse desafio, se essas cotações caírem a bem menos de US$ 80 por barril. Pois ambos dependem em grande medida de recursos privados externos. Mas tal implicação terá ao menos uma conseqüência política positiva: o esvaziamento da proposta de setores fisiológicos e estatizantes do governo da criação, em detrimento do papel da Petrobras, de nova estatal para controle das reservas do pré-sal. Outra conseqüência de implicações da crise no plano político-institucional é a necessidade de reavaliação do projeto do fundo soberano, de viés dirigista, em face da projeção de queda da receita fiscal em 2009 e do imperativo de manutenção do superávit primário (reforçado pela turbulência internacional). Apostando nessa reavaliação, as lideranças parlamentares oposicionistas passaram a admitir a instituição do referido fundo mas com a vinculação dele ao BC.

O favoritismo de Kassab. A “onda Gabeira” e a derrota de Aécio em BH

O questionamento da vida pessoal de Gilberto Kassab – se é casado, se tem filhos – que deu o tom da retomada agressiva da campanha de Marta Suplicy, na disputa da prefeitura de São Paulo no 2º turno, se ainda não teve seus efeitos junto à população medidos por pesquisas do Datafolha e do Ibope, suscitou de pronto tal impacto negativo no conjunto da mídia, nos segmentos sociais bem informados e também em vários grupos e lideranças do próprio PT que, certamente, representou um verdadeiro “tiro no pé” da candidatura da ex-prefeita. Agravado pela tentativa dela de justificar o recurso preconceituoso de lançar insinuações sobre a orientação sexual do adversário (embora atribuindo-o ao marqueteiro da campanha), em declarações à imprensa nas quais reagiu à bateria de manifestações críticas ao uso de tal expediente endossadas por parlamentares petistas e aliados de sua candidatura. O que sem dúvida dificultou ainda mais o empenho de Marta Suplicy de tentar reverter o favoritismo de Kassab.

A “onda Gabeira” na classe média e nos meios culturais e artísticos do Rio, com Caetano Veloso à frente, pode pôr em xeque o forte esquema político montado pelo governador Sérgio Cabral para a eleição de seu candidato Eduardo Paes. Esquema, centrado no PMDB, que ganhou no 2º turno o respaldo do presidente Lula e a adesão do PT, do PCdoB, do PDT e a dos evangélicos do bispo Marcelo Crivella (além das que já tinha antes do PP e do PTB), e que tenta barrar uma vitória de Fernando Gabeira com os votos da grande periferia carioca. Mas cuja amplitude é fragilizada pelo apoio pessoal a Gabeira de lideranças importantes desses partidos, como o deputado Miro Teixeira e o prefeito eleito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, os pedetistas mais expressivos do Grande Rio, e a ex-ministra do Meio Ambiente e senadora do PT, Marina Silva
Outra onda ainda mais forte ameaça sufocar o candidato da aliança PSB-PT-PSDB à prefeitura de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que, segundo pesquisa do Ibope divulgada hoje, já foi largamente ultrapassado pelo peemedebista Leonardo Quintão, por 51% a 33%. O que é lido por vários analistas políticos como significativa derrota eleitoral do governador mineiro Aécio Neves, principal promotor da aliança, bem como de seu projeto “pós-Lula” de candidatura presidencial alternativa pelo PSDB, capaz de ter apoio de parte da base governista federal, inclusive dos peemedebistas.