quarta-feira, 26 de novembro de 2008

MUSEU DA HISTÓRIA DA IMPRENSA COMUNISTA!

DEU NO EX-BLOG DO CESAR MAIA
A casa na Gamboa onde ficava a imprensa do partido comunista brasileiro, onde rodavam seus jornais e os livros da editora Vitória, será recuperada pelo PPS e transformada em Museu da História da Imprensa Comunista. A casa foi adquirida pelo PCB em 1950. Nos anos de repressão foi "empastelada" e fechada. A prefeitura encaminhará à Câmara Municipal projeto de lei de remissão de suas inevitáveis dívidas, pelas razões.
Clique abaixo e veja as fotos na Rua Leôncio de Albuquerque numero 34 -Gamboa- que será restaurado.
IDÉIAS INICIAIS PROPOSTAS PARA O PROJETO DO MUSEU DA HISTÓRIA DA IMPRENSA COMUNISTA!
Clique abaixo.

A AUSÊNCIA

EDITORIAL
GAZETA DO POVO (PR)
26/11/2008


Quando alguma nação é atingida por grandes tragédias, uma presença comum, principalmente nos países desenvolvidos, é a do chefe de Estado ou de governo. Presidentes, primeiros-ministros ou monarcas visitam a área atingida e manifestam solidariedade às vítimas. Um exemplo de como este comportamento virou a regra é a crítica a George W. Bush, que em 2005 agiu de forma considerada insensível após a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans.

Em 1961, durante uma das várias enchentes que atingiram a cidade de Blumenau (SC), o então presidente João Goulart sobrevoou a cidade para determinar as medidas de recuperação da área. Quase três décadas depois, o presidente da República praticamente não se pronuncia sobre a calamidade que volta a atingir Santa Catarina. Lula limitou-se a pedir um minuto de silêncio durante um evento e a mandar para lá alguns ministros. É a mesma atitude tomada há um ano, na tragédia com o Airbus da TAM. E o descaso em relação aos compatriotas fica ainda mais evidente quando comparado à atitude de Lula em setembro, após a passagem dos furacões Gustav e Ike por Cuba. Na época, houve reunião de emergência com sete ministérios e a criação de um grupo de trabalho para envio imediato de ajuda humanitária. Era de se esperar que Lula demonstrasse pela dor dos catarinenses uma consideração ao menos equivalente à exibida diante dos cubanos.

De papel passado


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Se havia alguma dúvida de que Cássio Cunha Lima é um político capaz de abusar de suas prerrogativas quando lhe convém, ele mesmo tratou de dirimi-la no epílogo do exercício de seu mandato como governador da Paraíba.

Na quinta-feira, 20, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu por unanimidade cassar Cunha Lima por uso dos recursos do Estado para obtenção de benefícios eleitorais.

Na segunda-feira, 24, a maioria governista na Assembléia Legislativa de João Pessoa fez dez sessões extraordinárias e aprovou um festival de aumentos nos gastos do estado.

Reajustou salários do funcionalismo (em alguns casos à razão de 100%), autorizou contratação de novos servidores, adiantou a aprovação do Orçamento de 2009 e, como já havia anunciado a antecipação do pagamento do 13º, deixou toda a bomba armada para estourar na mão do sucessor.

Um gesto realmente à altura do veredicto do TSE. Em português rude, o governador foi condenado à perda do mandato porque, no entendimento da Justiça, usou dinheiro público para comprar votos.

Na campanha pela reeleição, em 2006, a Fundação Ação Comunitária distribuiu 35 mil cheques no valor total de R$ 4 milhões, a título de benemerência social. Cunha Lima defendeu-se alegando completo desconhecimento a respeito da distribuição do dinheiro, uma iniciativa da diretoria da fundação ligada ao governo do Estado.

Os ministros do TSE não acreditaram na independência da entidade, cujos propósitos fizeram-se ainda mais suspeitos quando se descobriu que os recursos não se destinaram necessariamente a minorar as agruras da pobreza.

Foram achados rastros da verba no pagamento de planos de saúde, na contratação de artistas, no pagamento de TV a cabo (algo aqui soa familiar), uma situação elegantemente definida pelo ministro Eros Grau como de “marcante descontrole na distribuição de valores financeiros na proximidade do pleito”.

Ainda assim, no fim de semana, entre a decisão judicial e a farra final da abertura dos cofres às corporações amigas, Cássio Cunha Lima deu entrevistas dizendo-se injustiçado: “Fui condenado pelo que não fiz.”

Recebeu a solidariedade dos companheiros de partido, o PSDB, foi simbolicamente abraçado da tribuna do Senado por parlamentares de muitas agremiações, correlatas e adversárias.

Todas deixadas com cara de tacho diante do monumental recibo que Cássio Cunha Lima resolveu passar, corroborando que de fato não tem pudor em usar a máquina pública como propriedade privada.

Aproveitou os últimos momentos de posse da prerrogativa de manipular verbas públicas para armar um legado em forma de arapuca ao substituto - o segundo colocado na eleição, ex-governador José Maranhão, também alvo de processos na Justiça Eleitoral - e preparar as bases para a campanha de senador em 2010.

Pela sentença, fica inelegível só até 2009.

Popular, Cássio Cunha Lima certamente terá a legenda do PSDB garantida, votos a mancheias assegurados, cabos eleitorais desde já arregimentados entre os favorecidos pelos aumentos, um mandato praticamente conquistado e nenhuma responsabilidade sobre as contas públicas estouradas.

Seu partido, o legítimo dono do mandato, conforme recente determinação judicial, não impôs nenhum reparo. Isso a despeito de ter sido o inventor, fiador, propagador e guardião da responsabilidade fiscal.

Mas, como na política vale a regra da aplicação da lei a cada um de acordo com suas amizades, o tucanato fez-se de morto. Não deu sinal de considerar a folia paraibana nem de longe parecida com a gastança patrocinada pelo governo federal.

Quando a coisa se refere ao PT é chamada de irresponsabilidade, aparelhamento, aproveitamento, ultraje ao pudor e qualificativos assemelhados. Bem merecidos, note-se.

Agora, quando um governador do partido faz o que fez Cássio Cunha Lima pelo pior dos motivos (porque quis, podia, tinha a caneta, o Diário Oficial e a maioria na Assembléia) à disposição na praça, o PSDB chama de injustiça e presta solidariedade.

No partido que se pretende em breve de volta à Presidência da República, há os esforços dos governadores José Serra e Aécio Neves para construir a imagem de responsabilidade e eficiência. Mas há o empenho de um Cássio Cunha Lima em alimentar a face do atraso que, não tendo o repúdio da direção, lícito concluir que mereça dela aprazível acolhimento.

Quase garoto, 24 anos, Cunha Lima chegou à Assembléia Nacional Constituinte, em 1987, como uma grande promessa da nova geração de líderes. Vinte anos depois, é a materialização do espírito carcomido da velhíssima política em sua mais anacrônica expressão.

Em 1988 nascia o PSDB, produto da revolta dos modernos contra os retrógrados do PMDB. Chegou ainda verde ao poder, produziu os grandes avanços da estabilidade, das privatizações, das regras de Estado acima das circunstâncias de governo, mas quando o assunto é prática política, reza pela cartilha arrivista dos velhos coronéis.

Por onde o PT se renova


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Aguerrido, como se sabe, no presente, mesmo sem muitas opções à escolha, o PT, ao contrário de seus principais adversários, preocupa-se, sim, com o futuro, e tem permitido que novas lideranças, insinuadas nas duas últimas eleições majoritárias, desenvolvam suas chances. Exemplo puro desta situação é o da paranaense Gleisi Hoffman, 43 anos, dois filhos, duas campanhas eleitorais - candidata a senadora, teve 2,3 milhões de votos (começou com 2%) quando o vencedor ganhou com 2,5 milhões, e candidata a prefeita de Curitiba, recebeu 18% porcento dos votos - é atualmente presidente do PT do Paraná.

Vestida com elegância clássica, bastante articulada e pensamento organizado para o perfil do meio em que vem galgando degraus, Gleisi, depois de transitar dois dias em Brasília para contatos no governo e no partido, exibiu, docemente mas firme, uma avaliação resumida e realista sobre a política, tal como praticada no seu Estado e no seu partido, mostrando como vê o futuro e as tarefas mais urgentes.

"Não estou pensando em mim ou em 2012, o foco é 2010, para construirmos um bom palanque para a Dilma no Paraná", afirma, referindo-se ao objetivo imediato, a candidatura da ministra chefe da Casa Civil a presidente da República, com apoio do presidente Lula. Neste palanque a que se refere há, para governador do Estado, dois nomes também em processo de construção. Um, Jorge Samek, presidente de Itaipu Binacional, e o outro o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, seu marido. Não está definido qual deles será o candidato do PT nem as alianças que serão firmadas com outros partidos para as demais candidaturas, mas é o trabalho a partir de agora

"Vamos fortalecer o projeto local com a consciência de que precisamos dar muita atenção ao projeto nacional", assinala, indicando qual é a sua expectativa política, no momento: "Ter feito o Presidente da República, ter mudado tanto o país, e não conseguir manter isto"...Não pode, subentende-se de suas reticências.

Há algo com que Gleisi convivia mal, uma estranheza imposta a uma técnica formada na política pela prática eleitoral, mas que agora, como presidente do partido, terá que enfrentar, além de procurar formas de mudar as regras não escritas de que não gosta: a articulação política, interna, no PT, e com partidos aliados. "Estas articulações são conversações sem nenhum resultado concreto, articulações abstratas, e a vida está correndo", traduz. Se há algo que a mobiliza é o desejo de levar a vida real para a política, interferir de forma direta no seu conteúdo. Destaca, por exemplo, que recentemente o Paraná registrou o assassinato brutal de cinco meninas, e o assunto ficou confinado à segurança. "Temos que trazer isso para a política, não adianta ficar só na polícia".

Outro exemplo de quem reconhece ser a articulação política seu papel, mas pretende reinventá-la, é a questão agrícola. "O Paraná é um estado agrícola, o futuro da economia e da solução da crise está no agronegócio. Enfrentamos problemas sérios, como a crise do álcool, temos grandes produtores no Paraná, precisamos dar respostas".

Gleisi se volta também para seu partido, o PT, que, segundo identifica, sofre um vácuo no planejamento do futuro. "Éramos um partido de esquerda, ganhamos as eleições em um país continental, passamos a administrar com uma coalizão de forças que não tinham a mesma visão dos problemas, isto gerou uma crise no partido. Quando nos preparávamos para viver este debate, veio outra crise, a do mensalão, e gastamos nossa energia nisto em vez de discutir os grandes temas. Chegou a reeleição do presidente, e nós não paramos para pensar".

Afastando o conformismo com o que está posto, Gleisi dá indicações de que vai mudar, a começar do discurso. Política substantiva, não usa adjetivos para o governo, para a oposição, nem mesmo para os adversários locais. A análise é objetiva: "Beto (Richa) fez mais que (Cássio) Tanigushi, capitalizou bem os investimentos federais e nós não conseguimos capitalizar para o PT". Ou: "As pessoas estavam indiferentes, não estavam querendo discutir política e não conseguimos politizar a campanha". Richa, do PSDB, foi reeleito com quase 80% dos votos no primeiro turno, e Gleisi diz que, quem via a campanha de perto, imaginava que a disputa estava equilibrada. As pessoas me cercavam e diziam: "Estou em dúvida, gosto muito de você, mas gosto muito do Beto, por que te colocaram nisso logo agora?" Na campanha para o Senado, Gleisi viajou todo o Estado, saiu mais conhecida mas com idéias mais diluídas. Na campanha municipal acredita ter sido possível expor melhor as idéias e explicar quem é, de onde veio e para onde quer ir.

Militante do PT desde 1989, Gleisi, formada em Direito, Administração Financeira e Gestão Pública, fez sua carreira, em alguns momentos, de forma paralela à de Paulo Bernardo. Foi Secretária de Reforma do Estado no Mato Grosso do Sul quando ele assumiu lá a Secretaria da Fazenda. Em outra fase, transferiram-se para Londrina, onde Paulo Bernardo foi Secretário de Fazenda e, ao deixar o governo para ser candidato a deputado, Gleisi se viu compatibilizada a assumir a Secretaria de Administração e Gestão. No Congresso, em Brasília, onde viveram outro período, trabalhou com Orçamento, área em que permaneceu quando integrou a equipe de transição para o governo Lula. Foi, no primeiro mandato do presidente, Diretora Financeira de Itaipu, de onde saiu para as recentes candidaturas.

Hoje, é presidente do PT no Paraná, e tem muitos planos. "Estamos fazendo uma intervenção política conjuntural. Isto nunca foi do PT". Seu desafio é levar o partido à reflexão sobre seu papel meio a campanhas, eleições e sucessão. "Esta análise é que aproximará o partido da sociedade". O que acha mais que necessário, principalmente em se tratando de um estado conservador, berço do MST onde, até por isto, o PT ainda inspira alta rejeição e onde, em 2006, o popularíssimo Lula foi derrotado no primeiro turno e só conseguiu empatar com seu adversário no segundo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

No limite da irresponsabilidade


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. O presidente Lula tem reafirmado em privado o que vem fazendo em público: vai tentar manter de todas as maneiras o ritmo de crescimento da economia brasileira em meio à crise econômica internacional. O crescimento de 4% do PIB no ano que vem, reafirmado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, é o número mágico com que o governo sonha, e as medidas anunciadas têm o objetivo básico de destravar o crédito tanto para as empresas quanto para o cidadão comum, a quem o presidente tem transferido, de maneira nada sutil e no limite da irresponsabilidade, parte da culpa por uma crise de desemprego que pode acontecer no próximo ano: "Ele corre o risco de perder o emprego se não comprar, porque daí o comércio não encomenda para a indústria, que não produz e aí não tem emprego".

Embora pareça haver um consenso entre os economistas de que a situação brasileira é melhor do que em crises anteriores, e melhor também do que a dos demais países da América Latina e até mesmo de alguns do mundo - a revista inglesa "The Economist" diz neste último número que com um pouco de sorte o crescimento dos emergentes do Bric será menos espetacular, mas continuará robusto - a tentativa do governo Lula de manter o ritmo a qualquer custo parece perigosa a médio e longo prazo.

Um exemplo do tamanho do problema é como foi afetado o crescimento industrial do país. A indústria automobilística sozinha responde por 26% do crescimento industrial neste ano, e a de máquinas e equipamentos, por outros 14%; juntas, as duas indústrias explicam 40% da expansão do setor. Foram atingidas em cheio, pela falta de crédito e, sobretudo no segundo caso, já pela deterioração das exportações.

O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, embora considere muito difícil traçar um cenário completo para o final do ano que vem, diz que dá para dizer que os riscos são muito grandes: "Mais do que uma previsão pontual, que não me arrisco a fazer, o certo é que a distribuição de possibilidades inclui alguns cenários bastante preocupantes".

Para ele, o governo tem que ter isso presente e dar uma resposta "que não nos exponha demais". Armínio diz que "a economia não é muito diferente de quase tudo na vida. Com vento a favor você anda mais rápido, não tem muito mistério nisso não. Pode tentar compensar um pouco, e até deve, em algumas dimensões, proteger talvez o investimento".

Ele lembra que já vínhamos crescendo "acima da nossa capacidade, o crédito vinha crescendo a uma taxa muito acelerada, e os riscos existem. Estamos em melhor situação que em outros momentos, mas não estamos invulneráveis".

No Brasil, diz ele, "está claro que está havendo uma desaceleração, mas não está claro que haverá uma recessão", como previu o relatório da Morgan Stanley. "Recessão no Brasil seria crescer 1% ao ano no trimestre, perto de zero. É possível, vai depender do andar da carruagem pelo mundo, que está com uma pinta ruim. Nessas horas, se não houver um pouco de prudência, os riscos aumentam".

Armínio não acha que o governo deva ficar de braços cruzados, mas adverte que "se errar a mão em outra direção, é ruim. Estão falando em 4% no ano que vem, acho difícil". Os riscos dessa política seriam dois: a inflação e o balanço de pagamentos. "Acho que há um pouco mais de risco hoje do lado do balanço de pagamentos, a conta de capital não está com a cara muito boa", analisa Armínio.

Já o economista José Roberto Afonso ressalta desde o início da crise que o problema no Brasil estava mais no setor real do que no bancário. Ao contrário do que diz a teoria e do que ocorreu nos EUA e na Europa, José Roberto Afonso acha que a demanda não é a origem da crise do setor real brasileiro.

Sua tese é que a nossa é muito mais uma crise de oferta: o empresário parou de investir e, também, de produzir. "Parou antes mesmo que os seus compradores diminuíssem os pedidos, que o povão sumisse das lojas". Aumentar o gasto governamental seria a solução para quando a demanda privada caiu, o que não é o nosso caso segundo ele, que considera que "crédito e governo" são as razões da crise de confiança, que leva o empresário a parar ou a produzir menos. "No primeiro caso, o crédito sumiu e, agora, voltou aos poucos, com custo impossível - taxas superiores a 100% quando o mundo vai para deflação. No segundo caso, e mais importante (porque o crédito é muito baixo), o empresariado, até mesmo a banca, já percebeu que a política econômica precisa ser mudada. Mais do mesmo é pouco".

José Roberto Afonso avalia que o empresariado, não vendo "vontade política e capacidade técnica no governo para promover essa travessia, não se arrisca, ou seja, não investe e começa a se retrair. Não quer abrir mão de seu caixa, começa a comprar menos, a produzir menos, a oferecer menos para venda, depois começará a demitir".

O economista Claudio Contador, da empresa de consultoria Silcon, acredita que uma recessão no Brasil "não deve acontecer nem em 2009. Mas a taxa de crescimento cai". Na sua avaliação, este ano o crescimento do PIB do Brasil ficará nos 4%, portanto abaixo dos 5% que o governo prevê, e em 2009 deve ficar nos 2,8 a 3 %.

O problema sério que ele antevê, e que na sua opinião vai arranhar a popularidade do Lula, é a queda do salário real: "O IPCA, que corrige salários, está crescendo menos, praticamente a metade do que o IGP-DI, que dá a média dos preços em geral. A massa de rendas caindo e os juros altos devem desaquecer o consumo do mercado interno".

Contador considera que o governo manter e reforçar uma política de estímulo a gastos e aumento de impostos é "suicida para o médio e longo prazos".

Saída à francesa


Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


É por causa do satélite de comunicações e do submarino nuclear que o presidente Lula prefere a parceria com a França, em detrimento dos Estados Unidos e da Rússia

Não existe nada que deixe um russo mais satisfeito com a hospitalidade brasileira do que um bom rodízio de churrasco regado a caipirinha. O risco é o convidado passar mal de tanto comer e beber. Nada mais natural, portanto, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereça um banquete à gaúcha ao jovem presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, sob a guarda do Cristo Redentor, no Palácio Guanabara, no Rio, tendo como co-anfitrião o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

Rússia

Por trás da gastronomia, porém, há dois recados: o Brasil pretende comprar os “soviéticos” helicópteros de ataque MI-35, verdadeiros tanques voadores, mas quer que os russos ampliem as cotas de exportação para os produtos brasileiros, principalmente a carne. Ou seja, a cooperação militar com a Rússia depende da ampliação das relações comerciais de US$ 5 bilhões para US$ 10 bilhões e, principalmente, de uma política de transferência de tecnologia na área militar, à qual os russos são reticentes. Eles argumentam que isso exigiria uma escala de compras de armamentos semelhante às da China e da Índia, o que não é o caso brasileiro.

Oficialmente, no Ministério da Defesa, essa é a razão de o Brasil ter desclassificado os mais versáteis aviões de caça da atualidade, o Sukhoi SU-35, na licitação para renovação da esquadrilha de ataque da Força Aérea Brasileira. Os helicópteros russos, porém, são eficientes e robustos, têm tecnologia menos sofisticada e servirão de pau para toda obra na Amazônia. Além disso, os russos topam produzir no Brasil as peças de reposição. A compra dos aviões russos, diga-se de passagem, foi uma das causas da queda do ex-ministro da Defesa José Viegas Filho.

O governo brasileiro acendeu uma vela para Deus e outra para o diabo. Ao rejeitar os Sukhoi na habilitação para a licitação, sinalizou aos norte-americanos que vai manter a cooperação com os russos em termos moderados, ao contrário da Venezuela de Hugo Chávez ; ao mesmo tempo, abriu a porta para a compra de novos caças franceses Rafaele F 3 em substituição aos velhos Mirages. O problema é que os pilotos brasileiros preferem os F-18 E norte-americanos. Aliás, recentemente, com os F-5 recauchutados da FAB, deram um baile nos pilotos franceses durante exercícios aéreos conjuntos da Cruzex IV em que derrubaram os Mirage2000 baseados na Guiana Francesa. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, por razões geopolíticas, não esconde a torcida pelo Rafaele; o comandante da Aeronáutica, Junit Saito, por razões militares, prefere os aviões ianques.

França

No governo, quem defende maior cooperação com a Rússia é o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, por causa do futuro da Amazônia, da qual os russos estão mais distantes. Mas o que avança mesmo é a cooperação militar com a França (que tem um pedaço do território no subcontinente), na qual Jobim aposta todas as suas fichas. Haveria de parte dos franceses mais disposição para a transferência de tecnologias do que revelam norte-americanos e russos. Além dos aviões, os franceses querem nos vender um novo satélite de comunicações, que deixaria o Brasil livre da dependência em relação aos norte-americanos nessa área. Em tempos de “guerra eletrônica”, durante visita à França, Jobim se encantou com o projeto de “soldado do futuro” (infantaria com comunicação e equipamentos integrados), utilizando veículos blindados leves de transportes de tropas como ponto de apoio para “guerra em rede”.

Porém, a menina dos olhos da cooperação militar Brasil-França é a transferência de tecnologia para a construção do submarino nuclear que está sendo desenvolvido pela Marinha brasileira.

Em termos doutrinários, para os militares, nosso país não terá “poder de dissuasão” para defender a plataforma continental e a chamada “Amazônia Azul” sem esse submarino, capaz de submergir por longos períodos e atacar de surpresa à longa distância da costa. Os ciclos de construção do seu reator nuclear e do combustível (urânio enriquecido) estão dominados, mas falta o principal em qualquer embarcação: o casco. O Brasil precisa construir os enormes anéis do casco e soldá-los; a França se dispõe a fazer isso por aqui, num estaleiro preparado para transferir tecnologia. É por causa do satélite e do submarino nuclear que o presidente Lula prefere a parceria com a França, em detrimento dos Estados Unidos e da Rússia. De quebra, deixaria o Brasil de fora da histórica rivalidade entre os dois protagonistas da antiga Guerra Fria.

Tudo isso, é claro, se uma recessão mundial não atrapalhar.

A crise, Lula e a realidade


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Enquanto Lula manda seus ministros dizerem que o Brasil vai crescer 4% em 2009, no mundo real fica cada vez mais claro como está distante o fim da atual crise. O salvamento do Citibank é a demonstração acabada sobre a gravidade do momento. Pela concordância tácita, também indica a intenção de Barack Obama de utilizar a mesmíssima política do atual ocupante da Casa Branca: despejar toneladas de dinheiro público na economia.


George W. Bush titubeou em setembro. Sua equipe econômica piscou na hora de salvar o Lehman Brothers da falência. O banco evaporou. Depois, a crise foi ladeira abaixo.Engenheiros de obras feitas no Brasil -e nos Estados Unidos- criticaram a decisão da equipe de Bush. O Lehman era muito grande para quebrar, disseram. Alguns desses críticos eram os mesmos que antes reclamavam dos socorros estatais a bancos privados -como ocorrera no início do ano com o Bear Stearns.


Depois da vacilada, a política econômica ficou clara como nunca.


Haverá dinheiro estatal de sobra para salvar tantos quantos forem os bancos ou empresas em dificuldades por causa de barbeiragens com derivativos e outros ativos tóxicos.


A lógica toda será usar a confiança ainda existente na maior reserva de valor do planeta: o dólar. Mais adiante, quando a inflação brotar por causa da emissão de moeda sem lastro, assistiremos à pior parte da crise, com uma brutal alta dos juros.


No Planalto, mesmo vendo a degradação do cenário, Lula parece comandar um bloco do auto-engano. Repete um mantra sobre a solidez do país. Fará uma propaganda na TV a respeito. Ou o petista enxerga o que ninguém vê ou prepara o país para uma das maiores decepções recentes ao longo do ano de 2009. A ver.