quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Poema de Natal

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Dúvidas da crise

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Em meio à perplexidade generalizada com a revelação do gigantesco esquema Ponzi do megainvestidor Bernard Madoff, ouvi recentemente, almoçando no University Club, um dos mais exclusivos da cidade, um banqueiro fazer uma confissão de culpa teórica, em nome do capitalismo, sobre a falta de confiança que o sistema transmite atualmente ao cidadão comum. Desta vez foi demais, dizia ele, nós estimulamos o endividamento pessoal, inventamos investimentos "criativos", brigamos por menos regulação e quebramos o mundo. Ninguém confia mais em ninguém.

O University Club, criado em 1861 por um grupo de estudantes de Yale e Columbia, hoje instalado num prédio construído em 1899 em estilo palazzo renascentista em plena 5ª Avenida, com sua biblioteca cujo teto tem murais baseados nos existentes nos apartamentos do Vaticano, provavelmente é um dos lugares menos indicados para uma revisão desse tipo, embora seja um bom lugar para discutir a fraude de Madoff e a crise por que passa a economia mundial.

A frase famosa do escritor Mark Twain - "Os boatos sobre minha morte foram um pouco exagerados" - serve bem para se falar sobre o excitamento que o suposto fim do capitalismo está provocando em certos círculos.

Antes mesmo que o candidato a ditador Hugo Chávez tivesse decretado, sob o sol da Costa do Sauípe, na Bahia: "O capitalismo está morto, viva o socialismo bolivariano".

A frase - de Chávez, não de Twain - não é engraçada apenas por ser uma bobagem, mas também porque entre as muitas vítimas dessa crise do capitalismo estão países comunistas ou com tendências totalitárias, como a própria Venezuela, a Rússia, a China, o Irã e vários países árabes que, recentemente, com o barril de petróleo a US$150, ganharam força política e viram sua importância geopolítica crescer, e agora, na mesma proporção, não têm mais condições de aproveitar o que imaginam ser "o fim do capitalismo".

A tal ponto que Chávez está querendo antecipar ao máximo mais um plebiscito, para tentar ficar eternamente no poder antes que a crise faça a maré descer e revele que ele está "nadando nu", na imagem do investidor Warren Buffet sobre os efeitos da crise nos investidores.

A intervenção no mercado de governos de diversas tendências - desde o ultra-reacionário George Bush no centro do capitalismo mundial até o autoritário Putin na Rússia e o trabalhista Gordon Brown na Inglaterra - dá a sensação de que só o aumento dos gastos públicos e uma forte intervenção estatal podem salvar a economia mundial.

Nunca foi tão repetida a frase "Somos todos keynesianos" (de John Maynard Keynes, economista inglês que defendeu o papel regulatório do Estado na economia para evitar recessões). É atribuída ao economista Milton Friedman, que ocupou a capa da revista "Time" em 1965, durante uma crise econômica, relembrada pelo ex-presidente Nixon em 1970, em outra crise.
E não há ninguém que discorde. Os republicanos estão até fazendo piada, dizendo que precisam pôr anúncio no jornal para conseguir alguém que critique os planos econômicos da futura gestão de Obama, que todos, no mundo inteiro, querem que funcione.

Os liberais não estão encontrando espaço político para criticar as intervenções estatais, que consideram tão equivocadas quanto teriam sido as de Franklin Roosevelt. Essas, segundo eles, agravaram e prolongaram a Grande Depressão, desencadeada pela quebra da Bolsa, em 1929. Algumas dessas intervenções repercutem até hoje, como a atuação das gigantes hipotecárias Fannie Mae e Fred Mac, novamente estatizadas na crise.

Essas "empresas apoiadas pelo governo" (Government Sponsored Enterprises) foram criadas por ações do governo - a Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) em 1938, por Franklin Roosevelt, durante o New Deal, para permitir acesso a financiamentos para a casa própria depois da crise econômica.

Foi privatizada em 1968, para conter o déficit orçamentário provocado pela Guerra do Vietnã, mas sob regime especial. No governo Clinton, essas agências quase-governamentais foram pressionadas a ampliar o crédito para pessoas de baixa renda, e os republicanos identificam nessa intervenção do governo democrata o início da bolha imobiliária que estourou agora.

O economista prêmio Nobel Paul Krugman, ao contrário, acha que o New Deal não resolveu a crise porque Roosevelt não foi tão fundo quanto deveria ter ido na intervenção estatal, tendo cedido às pressões em 1937, quando reduziu o gasto público, aumentou os impostos e "ajudou a pôr os Estados Unidos em uma profunda depressão".

Para Krugman, vai levar um bom tempo até que a economia americana consiga se recuperar, e até lá o governo Obama vai ter que manter a intervenção do Estado.

Mas mesmo essa intervenção estatal não significa uma virada anticapitalista no mundo. Ao contrário, é um esforço para salvar o capitalismo. Por outro lado, capitalismo e democracia sempre tiveram uma estreita correlação, que está sendo deixada de lado com o surgimento de países capitalistas não-democráticos.

Fenômeno que aconteceu bem antes de a crise explodir em setembro deste ano, uma mudança estrutural que está sendo estudada já há algum tempo, com o crescimento da importância da China na economia mundial.

O cientista político Adam Przeworski, professor da Universidade de Nova York, faz uma relação entre a renda per capita de uma população e a probabilidade de a democracia prevalecer. Quanto maior a renda, mais forte a democracia se enraiza, afirma Przeworski.

O historiador Niall Ferguson lembra o período da Grande Depressão nos EUA como tendo sido de grande desafio para a democracia, mas considera que essa ligação entre democracia e capitalismo parecia mais estreita nos anos 80 e 90 do século passado, não sendo mais tão direta no longo prazo da economia mundial.

(Continua amanhã)

2009 começa mal e . . .

Carlos Alberto Sardenberg
DEU EM O GLOBO


2008 começou bem e terminou muito mal.

Já 2009 começa muito mal e....

Não dá para dizer que termina bem. Talvez se possa dizer que termina melhor, porque há um amplo entendimento segundo o qual os piores movimentos da crise ocorrem neste momento e se prolongam até o primeiro semestre de 2009.

Muitos acham que ruim mesmo é agora e no próximo primeiro trimestre. Não que melhore a partir de abril, mas talvez pare de piorar, o que, para as circunstâncias, já seria muito bom.

Admitamos, de todo modo, que isso tudo está muito abstrato. É preciso colocar números nessa história. Por exemplo, se o desemprego aqui no Brasil vai de 7,5% para 8%, é ruim, mas melhor do que 9%.

Idem para os Estados Unidos. Os últimos números avaliados pela equipe econômica de Barack Obama dizem que a recessão, tal como vai, pode eliminar até três milhões de empregos, o que elevaria a taxa de desemprego dos atuais 6,7% para 9%, um espanto para os padrões americanos.

Por isso mesmo, o plano de Obama está cada vez maior. Ainda na campanha, o candidato anunciou sua disposição de lançar um programa de investimentos no valor de US$175 bilhões.

Na medida em que a percepção da situação foi piorando, o plano foi subindo. Pelas últimas versões, já está em US$800 bilhões. E pode ser mais, porque sua equipe e a ampla maioria dos economistas entendem que, neste caso, é melhor errar para mais. Ou seja, os investimentos têm que ser grandes o suficiente para produzir efeito em uma economia de US$14 trilhões.

Por outro lado, não se trata apenas de gastar, mas de gastar bem. Os economistas de Obama estão à procura de projetos que gerem emprego mas que também melhorem a infra-estrutura e a produtividade da economia privada e dos serviços públicos. Não pode ser como no Japão, cujo governo, na longa recessão dos anos 90, fez um monte de estradas e pontes ligando nada a lugar nenhum. Isso porque esses gastos públicos acabaram atendendo às demandas dos senhores deputados (às emendas deles!).

Eis o ponto: não é fácil gastar bem US$800 bilhões. Por isso, pode-se garantir que o plano é uma boa tentativa, mas não que vai dar inteiramente certo. E de novo nos faltam os números. Bons projetos reduzirão o desemprego, mas quantos bons planos serão postos em funcionamento?

No entanto, não faltam números na praça. O presidente Lula e a ministra Dilma disseram que o país vai crescer 4% em 2009. Cobrados, coube à ministra explicar que se tratava de uma meta a ser buscada.

Mas se é meta, por que não colocar logo... bem, deixemos isso de lado.

Já o Banco Central, em seu Relatório de Inflação de dezembro, um magnífico documento de análise e projeções para a economia brasileira, tem que cravar número por dever de ofício. No chamado "cenário de referência", o Brasil cresce 3,2% no próximo ano. É menos do que a meta da ministra, porém mais do que a previsão do mercado, ou seja, dos analistas de instituições financeiras, consultorias, departamentos econômicos de associações, faculdades de economia etc... Trata-se de mais de cento e tantos cenários que toda sexta-feira são enviados ao Banco Central, que os elabora e publica o resumo toda segunda de manhã, no seu site.

Por esse documento, o país cresce 2,4% em 2009. Às vezes, parece pouca diferença. Mas só parece. Estima-se que a cada ponto percentual de crescimento da economia (do Produto Interno Bruto, PIB), são criados de 400 a 500 mil empregos.

Portanto, é uma discussão relevante, mas não se deve tomar todos esses números pelo seu valor de face. Melhor observar a tendência - e esta é clara. O Brasil vai crescer bem menos do que em 2008. Mesmo que se consiga a meta dos 4%, isso significará que a economia vai criar um milhão de empregos a menos, isso comparado com o ritmo de expansão do PIB até o terceiro trimestre de 2008.

O resumo da ópera: o mundo não vai nada bem, mas há uma incrível sequência de planos em preparação e de medidas dos bancos centrais, já em execução, para debelar a crise. Podem funcionar bem, mais ou menos ou não dar certo. Disso dependemos.

Mas que são bons planos, isso são.

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

Lula continua surfando em marolas

Rolf Kuntz
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua prometendo um crescimento econômico de pelo menos 4% em 2009. Ele fala sobre o assunto com a mesma segurança de quando se referia à crise financeira como problema dos americanos ou como simples marolinha para o Brasil. A expansão dependerá, segundo ele, da persistência dos consumidores e da manutenção de um bom fluxo de investimentos produtivos, incluídas neste grupo as obras de infra-estrutura. O governo, garante o presidente, cuidará de sua parte, realizando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, já mencionou até uma possível ampliação do programa. Para cumprir o atual, o governo já precisaria de muito mais competência do que tem mostrado.

Toda essa conversa envolve um pressuposto aparentemente simples e seguro: com base no mercado interno, o País poderá crescer quase tanto quanto cresceu nos últimos dois ou três anos. Mas o ritmo de crescimento é apenas um dos componentes do problema - e não é necessariamente o mais complicado.

A diferença entre a aposta de Lula e a projeção do Banco Central (BC) para 2009 não está somente nas taxas de crescimento atribuídas ao Produto Interno Bruto (PIB). O presidente fala em 4%, o pessoal do BC estima 3,2%. Os jornais chamam a atenção para essa divergência, mas esse não é o ponto mais importante.

Para os economistas do BC, uma expansão econômica de 3,2% virá associada a uma inflação de 4,7% - muito perto do centro da meta, portanto - e a um déficit de US$ 25 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos.

Nesse mesmo conjunto, o consumo das famílias aumentará 3,9% e o do governo, 2,2%. Serão números muito mais modestos que os estimados para 2008, 6,2% e 5,1%, respectivamente. O quadro inclui duas outras associações importantes. O descompasso entre a demanda total e a oferta será menor e isso reduzirá as pressões sobre os preços. Do lado externo, diminuirão não só as exportações de bens e serviços, mas também as importações. As despesas externas serão menores graças à menor demanda interna e ao dólar mais caro.

Um crescimento econômico maior, baseado no mercado interno, afetará todas essas variáveis e combinações. Quais são os pressupostos por trás da aposta de Lula e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega?

Para se projetar o balanço de pagamentos, será preciso levar em conta, para começar, a provável contração da demanda externa e preços de commodities mais baixos que os de 2007 e 2008. A receita de exportações poderá ser afetada tanto pela quantidade quanto pelo valor dos produtos vendidos. No sentido oposto, as importações dependerão, em grande parte, da evolução da demanda interna. Receita e despesa também refletirão, naturalmente, o câmbio desvalorizado.

Nas contas do BC, as exportações de bens diminuirão 3,5%, de US$ 200 bilhões para US$ 193 bilhões, e as importações ainda subirão 1,4%, de US$ 176,5 bilhões para US$ 179 bilhões. O resultado será um superávit comercial de US$ 14 bilhões, US$ 8,5 bilhões inferior ao estimado para este ano. Como ficará esse quadro, se a demanda interna crescer o suficiente para o PIB aumentar 4%?

O pessoal do BC também projeta uma redução de US$ 56,4 bilhões para US$ 41,5 bilhões no déficit de serviços e rendas, decorrente de fatores como a depreciação cambial e a rentabilidade menor das empresas. As transferências correntes, formadas em grande parte pelo dinheiro enviado por brasileiros no exterior, deverão diminuir de US$ 4,1 bilhões para US$ 2,1 bilhões.

Somadas todas essas contas, o déficit em transações correntes encolherá dos US$ 29,6 bilhões, estimados para 2008, para US$ 25 bilhões em 2009. Os cálculos do mercado financeiro apontam, por enquanto, déficits de US$ 36,1 bilhões neste ano e de US$ 30,2 bilhões no próximo.

Para o BC, o investimento estrangeiro direto passará de US$ 40 bilhões para US$ 30 bilhões e será suficiente, portanto, para cobrir com alguma sobra o buraco na conta corrente. Para o mercado, a entrada líquida, também estimada em US$ 30 bilhões, ficará pouco abaixo do valor necessário. As duas estimativas poderão revelar-se otimistas, se o aperto no mundo rico for mais forte do que se prevê. Mas há outro detalhe importante: o mercado projeta para 2009 um crescimento econômico abaixo de 3%. Novamente a pergunta: como ficam esses cálculos quando se desenha um PIB 4% maior que o de 2008? Mais aritmética e menos voluntarismo no Planalto seriam bem-vindos.

*Rolf Kuntz é jornalista

Presente de natal

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo
(Interino)Com Guilherme Queiroz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Para o Palácio do Planalto, é mais fácil o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), virar Papai Noel do que se reeleger presidente da Casa. Parecer do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Maurício Correa, porém, estriba o pleito de permanência de Garibaldi no cargo. A assessoria jurídica do governo avalia que a proposta morrerá na praia, mas a bancada do PT está imobilizada porque o assunto precisa entrar em pauta no plenário para que haja qualquer contestação.

Na avaliação do governo, tudo não passa de uma manobra do ex-presidente da Casa senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para consolidar a tese da candidatura própria na bancada do PMDB. Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), porém, até agora não moveram uma palha contra a tese de Garibaldi.

Captação

O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), de olho nos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vai entregar a Secretaria de Habitação da Prefeitura carioca ao deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ). Espera, com isso, consolidar sua aliança com os petistas e cair nas graças da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por causa do grande número de favelas, a pasta é uma das mais cobiçadas da administração municipal.

Beques

O líder da bancada do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), e o deputado Paulo Renato (SP), ex-ministro da Educação do governo FHC, não consideram o ex-deputado Aloysio Nunes Ferreira candidato natural ao Palácio dos Bandeirantes, caso o governador José Serra seja mesmo o candidato do PSDB a presidente da República. Avaliam que Ferreira pôs o carro na frente dos bois.

Paulistana

A jornalista Soninha Francine (PPS), que disputou a prefeitura de São Paulo e agora encerra o mandato de vereadora, foi convidada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) para assumir a sub-prefeitura da Lapa, uma das mais importantes da capital paulista. Deve aceitar o convite.

Dúvida

O governador José Roberto Arruda (DEM) não sabe ainda como fará para prestigiar a posse do novo presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM). A primeira-dama Flávia Arruda quer que ele tire 10 dias de férias, a partir do Natal, mas Arruda está em dúvida por causa da troca de comando na Assembléia.

Repeteco

O caos nos aeroportos brasileiros volta à pauta da Câmara dos Deputados. Está agendada para o início de fevereiro uma audiência pública com a presença da Infraero e da Agência Nacional de Aviação (Anac). Na pauta, cinco projetos que tratam da abertura do capital das companhias aéreas para investimentos estrangeiros.

No cafezinho

Surdina/ Cobiçado pelos tucanos, o ex-governador da Bahia Paulo Souto passou discretamente pelo gabinete do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), na terça-feira. A visita se deu a pedido do cacique tucano, que nega o convite ao democrata para o PSDB.

Reciclagem/ A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviou parte de sua cúpula para treinamento na CIA, órgão correlato norte-americano. Participaram do curso os diretores Luiz Alberto Salaberry (Inteligência Estratégica), Carlos Ataíde (Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência) e Rômulo Dantas (Contra-Terrorismo). O Alto Comando das Forças Armadas não gosta de muita intimidade da Abin com a CIA.

Boas Festas/ O ex-ministro Antonio Palocci passa Natal sem o presente que esperava: a absolvição, no Supremo Tribunal Federal, no caso da quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Mas bota muita fé no ano novo, pois o presidente do STF, Gilmar Mendes, relator do processo, pretende colocar a matéria na pauta do Supremo em fevereiro.

Baiano/ O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, só por conveniência, alimenta as especulações de que pretende ser o vice da candidata do presidente Luiz Inácio lula da Silva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Geddel quer mesmo é ser candidato a governador da Bahia.

Feliz Natal/ São os votos da coluna.

Tucano à procura de um discurso

Coisas da Política
Tales Faria
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Com os índices de aprovação popular do presidente Luiz Inácio da Silva batendo os 80%, segundo as pesquisas, era de se esperar que a oposição – pelo menos nas suas parcelas mais racionais – começasse a repensar o seu discurso. Na cúpula nacional do PSDB, um dos mais preocupados em encontrar argumentos convincentes para um eleitorado que dificilmente estará contra o atual governo é o líder do partido na Câmara, José Aníbal (SP). O deputado aproveita o recesso do Congresso para passear na Europa. Foi pego ao telefone ontem, por esta coluna, quando estava de passagem pela Alemanha.

– Estive aqui há 30 anos, com o país sob escombros. É interessante ver como esse povo sabe emergir com vigor de situações adversas. Perguntei a um amigo aqui como estão vendo essa crise, e ele respondeu que da mesma forma que das vezes anteriores: os alemães arregaçarão as mangas e superarão qualquer problema – comentou Aníbal. E eu provoquei:

– Isso que o senhor fala dos alemães, em relação à crise, é mais ou menos o que o presidente Lula está falando por aqui. Mas, no Brasil, o PSDB acha que a crise vai ser arrasadora...

– Não, não é bem assim. Como o Lula, eu acho que essa crise foi criada pelos americanos. Os EUA e a Inglaterra é que estavam com seus sistemas financeiros mergulhados numa verdadeira farra. Parecia casa de tolerância. Nem o Brasil, nem a França ou a Alemanha viveram a mesma situação. Nós vamos sentir, sim, os efeitos da crise, mas acho que não será um impacto arrasador. É pouco provável que, neste quadro de crise global, aumentem as encomendas de produtos brasileiros no exterior, mas não creio que elas venham a diminuir significativamente. No final, vai dar para segurar as pontas.

– Então o senhor não está no discurso catastrófico?

– Essa coisa de quanto pior melhor não é o caminho adequado para a oposição. As pesquisas mostram: o eleitor já notou que o Lula não é culpado pela crise. Que o presidente, de certa forma, está cumprindo seu papel. Se a situação da economia piorar, o cidadão não irá culpar o governo, então não adianta a oposição ir por aí.

– E o que fazer?

– Vamos ter que construir um novo discurso para a oposição. Em 2010, o Lula tentará jogar toda a emoção possível no apoio à sua candidata à sucessão presidencial, a ministra Dilma Roussef. Nós só teremos um caminho: apelar para a razão. Tentar atrair o eleitorado do Lula, explicando que, se foi bom com ele, pode ser melhor ainda, por exemplo, com o José Serra, que faz um excelente governo em São Paulo.

– E quanto ao Serra? O senhor já esteve mais próximo do Geraldo Alckmin, que tomou do Serra uma candidatura a presidente e foi derrotado pelo Lula. Na última eleição, o Alckmin perdeu também, desta vez para o prefeito Gilberto Kassab (DEM), um aliado do Serra. O senhor acha que, agora, os tucanos de São Paulo estão unificados em torno da candidatura presidencial do Serra? Ou vai continuar essa briga entre o grupo do Serra e o do Alckmin?

– Não haverá essa briga. Em São Paulo, agora, não tem como ser de outra forma: todos vão defender a candidatura Serra, um movimento que já até se consolidou em outros partidos no Estado, como o PMDB. O DEM nem se fala, já é Serra desde criancinha.

– Pois é, nesse quadro, a candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, fica difícil.

– Pode ser... Mas eu não vou dizer que o Aécio está fora. Digamos que, agora, o PSDB está numa situação delicada. Que precisaremos ter muito empenho e muita criatividade para solucionar. O Serra tem tudo para ser candidato, mas o Aécio também. Não há como o PSDB vencer as eleições presidenciais sem Minas Gerais. E ninguém vai vencer em Minas sem o apoio efetivo do Aécio Neves. Então, se o Serra quiser mesmo ser o candidato, ele e o PSDB terão de encontrar uma solução que deixe o Aécio Neves satisfeito.

– Serra para presidente e Aécio, para vice?

– Falar em Aécio para vice pode melindrá-lo... Prefiro não entrar nessa bola dividida.

Berzoini afirma que Dilma deve ser candidata

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, disse ontem que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) tem a simpatia do partido e o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que deverá ser indicada "com tranqüilidade" à sucessão de 2010.

Após uma visita ao presidente ontem, no Planalto, Berzoini afirmou que a palavra de Lula é "imprescindível" para a definição da candidatura do PT.

"Já começamos a discutir [a candidatura de Dilma]. Ela foi convidada para vários atos do partido e achamos que ela pode, sim, ser a candidata. O PT vive clima de muita tranqüilidade, e a palavra do presidente [tem peso] muito grande e é imprescindível", disse.

Em 12 de dezembro, o PT reuniu prefeitos e vices eleitos do partido em Brasília, quando Dilma adotou discurso de pré-candidata, motivada por Lula e pela Direção Nacional do partido. Com um terninho vermelho, usou um dos termos preferidos dos petistas -"neoliberalismo"- exaltou a trajetória do partido, criticou a gestão FHC e coroou o discurso dizendo que o PT "é uma força do bem".

No último sábado, de férias em Porto Alegre, Dilma deu um retoque no visual, fazendo uma bioplastia (espécie de plástica sem cortes) no rosto e no pescoço. Em café da manhã com jornalistas, semana passada, Lula admitiu que está testando Dilma para ver se ela ganha traquejo político para enfrentar uma campanha.

Natal como este, só no futuro governo

Valdo Cruz
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


A despeito da crise, teremos ainda um bom final de ano. Mas os Natais seguintes serão difíceis. E crescer acima de 5% será missão para o sucessor do presidente Lula. Por sinal, consolidado o cenário político atual, pouco importa quem ganhará: a receita econômica será a mesma para que o país tente voltar a crescer forte.

Sonhos natalinos

NATAL COMO ESSE, infelizmente, só no próximo governo. A despeito da crise aguda na economia mundial, teremos ainda um bom final de ano. Os seguintes, contudo, serão difíceis.E taxa de crescimento acima de 5% será missão para o sucessor do presidente Lula. Por sinal, consolidado o cenário político atual, pouco importa quem ganhará: a receita será a mesma para que o país tente voltar a crescer forte.

Dentro do Ministério da Fazenda, por exemplo, é comum ouvir de assessores de Guido Mantega que, mantida a tendência de Dilma Rousseff e José Serra monopolizarem a eleição de 2010, não há com o que se preocupar. Um deles chega a dizer que dá até para tirar férias durante o período eleitoral.

Tal tranqüilidade, com certeza, não se repete no Banco Central, alguns quilômetros distante do gabinete de Mantega. Na equipe de Henrique Meirelles, o comentário deve ser exatamente o oposto: Dilma e Serra vão exercer uma pressão e influência sobre os rumos da política monetária bem superior à do presidente Lula, e há risco de turbulências na campanha.

O fato é que a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra praticamente rezam pela mesma cartilha. São adeptos de uma forte presença do Estado na economia e críticos contundentes da política monetária conservadora do BC. Dependesse apenas dos dois, o ex-tucano já não estaria mais na direção do Banco Central.

Claro que, uma vez na cadeira de presidente, a visão de Dilma e Serra pode sofrer mutações.

Tal como aconteceu com Lula, que se revelou um conservador em termos econômicos, eles podem se aproximar do estilo atual do petista. Lula também não gosta nem um pouco da receita de Meirelles. O presidente, contudo, assimilou como poucos no mundo petista a importância de uma das regras basilares da economia capitalista: a força das expectativas e da confiança sobre o ritmo de crescimento do país.

Não por outro motivo o petista tem insistido nos últimos discursos na necessidade de consumidores e empresários manterem a confiança no país. Pela mesma razão, Lula sabe que, mesmo desejando, não pode trocar o comando do BC em meio a uma crise. Seria o mesmo que jogar gasolina na fogueira.

O presidente perdeu a oportunidade de fazer a mudança na virada do primeiro para o segundo mandato. Agora terá de aguardar o tempo certo. Que, tudo indica, está próximo. Quando os juros caírem, no início de 2009, e a política monetária começar a ser suavizada, Meirelles deve deixar o BC para retomar seus projetos políticos. Essa é, pelo menos, a aposta de quem o conhece de perto. Que diz inclusive que ele tem sonhos presidenciais.

Tudo bem, estamos numa época em que sonhar é liberado.

Valdo Cruz, repórter especial da Folha, escreve hoje excepcionalmente neste espaço.