segunda-feira, 23 de março de 2009

Quando bolso é atingido, popularidade não resiste

EDITORIAL
DEU NA GAZETA MERCANTIL

A percepção do brasileiro para enfrentar a crise econômica piorou muito, como mostrou a pesquisa CNI/Ibope. Apenas 38% dos entrevistados, entre 11 e 15 de março, consideram que o Brasil está preparado para conviver com a crise, ante 43% na última pesquisa realizada nos mesmos moldes em dezembro de 2008. Esses dados, divulgados pela Confederação Nacional da Indústria, indicam que só 32% dos brasileiros acreditam que a crise terminará ainda neste ano. Em dezembro, a visão otimista sobre essa crise era bem diferente: 51% dos entrevistados acreditavam que crise terminaria em 2009. A pesquisa revelou que aumentou de 29% para 37% o percentual dos brasileiros que admitiram já sentir os efeitos da crise no seu cotidiano.

Esses números explicam com maior clareza porque a mesma pesquisa CNI/Ibope também mostrou que a aprovação da maneira como o presidente Lula governa caiu de 84% em dezembro para 78% em março. No final do ano passado 73% dos entrevistados definiram o governo como ótimo e bom. Neste mês esse índice caiu para 64%. Em dezembro, o desempenho do governo foi considerado regular por 20% dos entrevistados e agora esse número saltou para 25%. Há três meses o governo era ruim e péssimo para 6% e hoje esse índice passou para 10%. Em termos gerais, a nota média do governo caiu de 7,8 para 7,4 nesse período.

A pesquisa sugere que há um descontentamento em relação ao governo. Não adianta buscar razões políticas envolvendo algum ato ou atitude pessoal do presidente Lula para entender esse julgamento popular. A evidência mais consistente dessa pesquisa é que os problemas não estão no carisma do presidente, mas nas decisões mais recentes de seu governo. A pesquisa mostrou que despencou de 49% para 41%, entre dezembro e março, os que consideravam o segundo mandato do presidente Lula como melhor que o primeiro. Vale notar que o segundo mandato do presidente foi julgado pior que o primeiro por 11% dos entrevistados no final do ano passado, enquanto hoje esse percentual avançou para 18%. A administração está sendo julgada pelo que ocorre agora, na crise, e não pelo conjunto da obra. Há notória distinção, e forte, entre duas fases do atual governo, pré e pós crise.

A pesquisa CNI/Ibope também mostrou que a expectativa popular sobre o futuro embute forte receio e não confiança no atual momento. E a principal razão desse receio é a manutenção do emprego: 68% dos entrevistados acreditam que haverá aumento do desemprego nos próximos seis meses. Em março 62% tinham essa perspectiva. Só 29% afirmam que o desemprego pode recuar ou pelo menos ficar onde está, no mesmo patamar de hoje. Esta não é constatação isolada desse levantamento. O quadro não é diferente na pesquisa do instituto DataFolha, realizada entre 16 e 19 de março, mostrando que 59% dos entrevistados acreditam que o desemprego terá expansão nos próximos meses. Em novembro, a mesma pesquisa do instituto revelou que essa era a perspectiva de 44% dos pesquisados. Vale notar que essa pesquisa também mostrou que desemprego e saúde são os maiores problemas do País para os brasileiros.

O impacto desses receios consolidados em torno da crise econômica também atingiu o medo da inflação: em março 73% dos entrevistados acreditavam que a inflação deve aumentar nos próximos seis meses; em dezembro esse percentual era de 66%.

É preciso observar que os números dessa pesquisa não sugerem qualquer queda vertiginosa da popularidade do presidente Lula. O recuo na aceitação popular do governo indica a óbvia necessidade de medidas mais drásticas e urgentes quanto à crise. Bem diferente das questões políticas que muitas vezes impõem perda de popularidade, e quase sempre traduzem opções ideológicas ou antipatias pessoais, a pesquisa CNI/Ibope demonstrou que a fase de crescente desaprovação popular é reação vinculada diretamente ao bolso e não a qualquer razão política ou partidária. Até o presente momento, o presidente Lula não enfrentara maus ventos no cenário econômico internacional e a população esperava atitudes mais rápidas contra a crise.

Esse é o ponto preocupante: a agilidade do governo em tomar decisões certas. A queda da arrecadação mostrou que as empresas estão estranguladas pela carência de crédito e o govenro hesita em tomar medidas mais eficazes para devolver fôlego financeiro às empresas, para que o emprego não fique em risco. A população notou essa hesitação e deu um sinal de alerta ao Planalto. Ao governo só resta exibir a suficiente humildade para captar essa mensagem.

Alckmin é favorito para governo de SP

DEU EM O GLOBO

Tucano supera Marta Suplicy e lidera intenções de voto, segundo Datafolha

SÃO PAULO. O ex-governador e atual secretário estadual de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSDB), lidera a primeira pesquisa do instituto Datafolha de intenção de voto com possíveis candidatos ao governo de São Paulo, divulgada ontem. O tucano, derrotado no primeiro turno das eleições para prefeito em 2008, aparece com 41% das intenções de voto, contra 13% da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), derrotada no segundo turno à prefeitura.

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) tem 12% das intenções de voto; Luiza Erundina (PSB), 7%; Soninha Francine (PPS), 5%; e Paulinho da Força (PDT), 3%. Campos Machado (PTB), Paulo Skaf (sem partido) e Ivan Valente (PSOL) contam com 1%, cada.

Marta é a petista mais bem cotada na pesquisa. No cenário em que o candidato petista é o ex-ministro da Fazenda e atual deputado Antonio Palocci, Alckmin tem 45% das intenções. Se o candidato petista fosse o ministro da Educação, Fernando Haddad, Alckmin pularia para 46% das intenções de voto.

Realizada entre 16 e 19 deste mês, a pesquisa ouviu 2.062 pessoas, com margem de erro é dois pontos percentuais, para mais ou menos. Na pesquisa espontânea, quando não se apresentam nomes, o mais lembrado foi atual governador do estado, José Serra, citado por 12% das pessoas. Alckmin vem em seguida, com 9%, seguido por Marta, que soma 3% e Maluf, 1%.

Em Minas Gerais, outro estado pesquisado pelo Datafolha, o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), tem vantagem sobre os demais possíveis candidatos. Em quatro cenários pesquisados, Costa lidera as intenções de voto, com índices que variam de 37% a 43%. Fernando Pimentel (PT) tem 24% das intenções de voto.

No Rio Grande do Sul, a governadora, Yeda Crusius (PSDB), aparece em terceiro lugar, com 9%, atrás do ministro da Justiça, o petista Tarso Genro (30%) e do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), 27%.

PSDB também sai na frente no Paraná

No Paraná, o senador Álvaro Dias e o prefeito de Curitiba, Beto Richa, ambos do PSDB, lideram a corrida com 39% das intenções de voto cada em dois cenários pesquisados. A deputada federal Angela Amin (PP), ex-prefeita de Florianópolis, aparece como o principal nome em Santa Catarina, e lidera três cenários com potenciais candidatos no estado, com índices que vão de 32% a 37%.

AS HORAS (poema)

Graziela Melo

Fortuitas,
As horas
Se passam,

Se perdem
Em triste

Agonia

Se dispersam
Na fronteira

Entre
A saudade,
A dor
E a poesia...

Rio de janeiro, 17/10/08



ELEIÇÕES DATAFOLHA: RJ

Plínio Fraga
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Cabral lidera, mas oposição é forte no Rio

Governador tem 26% e vê empate entre Crivella, Gabeira, Montes e Maia em 2º

Com cacife eleitoral forte, Crivella, Gabeira e Maia são hoje capazes de enfrentar Cabral; Garotinho, com 7%, está num patamar abaixo

O governador Sérgio Cabral (PMDB) larga à frente na disputa sucessória de 2010 no Rio de Janeiro, mas pesquisa Datafolha mostra haver hoje adversários com potencial para tentar impedir sua eventual reeleição. Cabral aparece em primeiro nos dois cenários em que seu nome é apresentado, mas o senador Marcelo Crivella (PRB), o deputado federal Fernando Gabeira (PV), o deputado estadual Wagner Montes (PDT) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) são rivais próximos.

Foram apresentados quatro cenários ao eleitor. No primeiro, foi levado em conta que os partidos mais representativos teriam candidato próprio (veja quadro). Cabral atingiu 26%, Crivella, 16%, Gabeira, 15%, Montes, 11%, e Maia, 10%. Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, os quatro estão empatados em segundo lugar.

O segundo cenário permite uma especulação caso Cabral consiga se viabilizar como candidato a vice, numa eventual chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência, e abra mão da disputa no Rio.

Nesse caso, com o ex-governador Anthony Garotinho sendo colocado como candidato do PMDB, a liderança se dividiria entre Gabeira com 18%, Crivella com 17%, Maia, 16% e Montes, 13%. Garotinho teria 8%, ao lado de Frossard, com 7%.

No atual atual quadro político, se Cabral ficasse fora da disputa, ele dificilmente apoiaria Garotinho como nome do PMDB, preferindo alguém de seu grupo político, como o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Com Pezão como candidato do PMDB, Crivella teria 20% dos votos, Gabeira 19%, Maia 17% e Montes 14%.

A desgastada relação com Cabral pode levar Garotinho a trocar de partido. Ele já faz negociações discretas com legendas como PSDB, PTB e PR.

O Datafolha testou a hipótese de Garotinho deixar o PMDB. Cabral lideraria com 21% dos votos, seguido por Gabeira com 15%, Crivella com 14%, Montes com 12% e Maia com 11%. Garotinho ficaria com 7%, Frossard, com 6%.

Dos cenários traçados, conclui-se que Crivella, Gabeira e Maia são hoje donos de um cacife eleitoral forte, capazes de enfrentar Cabral. Garotinho está num patamar abaixo, e o petista Lindberg Farias vê comprometida a possibilidade de sair candidato.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: MG

Paulo Peixoto
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Hélio Costa lidera em todos os cenários e PT é 2º em Minas

Anastasia, vice de Aécio e possível nome do PSDB, fica em 3º e não passa dos 5%

O fato de já ter disputado duas vezes o governo do Estado contribui para que o peemedebista seja mais lembrado pelos eleitores


O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), apresenta ampla vantagem em relação aos demais aspirantes a candidato ao governo de Minas Gerais, a um ano e sete meses da eleição. Segundo pesquisa Datafolha, Costa lidera nas quatro situações apresentadas, variando de 37% a 43% das intenções de voto.

Nos dois primeiros cenários, com quatro candidatos, ele lidera com 41%. É seguido pelo também ministro do governo Lula, o petista Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), com 11%. Na sequência aparecem o vice-governador Antonio Anastasia (PSDB), que tem 5% e está empatado tecnicamente com Maria da Consolação Rocha (PSOL), com 4%.

No segundo cenário, em que o candidato do PT é substituído pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, a vantagem de Costa cai de 30 para 13 pontos. O ministro tem 37%, contra 24% de Pimentel, sendo que a intenção de voto no petista é maior na capital (50%) e na região metropolitana (45%). Costa aparece melhor no interior, com 42%.

Na segunda situação, Anastasia -que cada vez mais vem representando o governador Aécio Neves (PSDB) pelo interior- aparece com 4% das intenções de voto. Rocha tem 3%.O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirma que neste momento vale muito o "recall" do pré-candidato. No caso de Hélio Costa, as duas eleições que ele disputou ao governo, em 1990 e 1994, contribuem para que seja lembrado.

No caso de Anastasia, o PSDB considera que o fato de ele ser um nome desconhecido e integrante de um governo bem avaliado lhe dá boas chances de crescimento. O diretor do Datafolha concorda: "Qualquer candidato que venha a ser apoiado pelo Aécio tem potencial de crescimento".

Além disso, a partir do início da campanha mais informações sobre os candidatos vão surgir e eles podem se beneficiar disso. Esse pode ser o caso também de Patrus, que comanda um ministério de Lula.

Os outros dois cenários colocados, sem um candidato do PSDB, estão relacionados ao fato de Aécio vir a ser candidato a presidente. Se isso ocorrer, o PSDB cogita abrir mão de candidatura em Minas em nome da "unidade mineira", ou seja, não se indispor e não dividir as forças regionais para se apresentar mais forte nacionalmente.

Nesses cenários, Costa também lidera. Tem 43% contra Patrus (13%) e 40% contra Pimentel, que aparece com 25%. Rocha aparece com 5% e 4%, respectivamente.

Os votos brancos e nulos variam de 17% a 23% e os que disseram não saber em quem votar, entre 14% e 17%.

Em qualquer cenário, porém, a crise econômica poderá ser "componente importante" dependendo do seu desenrolar. Para o diretor do Datafolha, o candidato do PT e o candidato do governo estadual poderão se enfraquecer.

A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O Datafolha ouviu 1.073 eleitores entre os dias 16 e 19 deste mês, em 42 municípios mineiros.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: SP

José Alberto Bombig
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Alckmin lidera com folga e opositor está indefinido

Tucano obtém de 41% a 46% das intenções de voto para o governo de SP em 2010

Ex-governador obtém pior resultado em confronto com Marta; Datafolha diz que favoritismo de Alckmin está ligado a "recall" de eleições

O tucano Geraldo Alckmin, derrotado ainda no primeiro turno da eleição do ano passado para prefeito de São Paulo, é o preferido dos paulistas na corrida para governador, segundo o Datafolha. Trata-se da primeira pesquisa de intenção de voto nas eleições de 2010 para governos estaduais.

Atual secretário de Desenvolvimento do governador José Serra (PSDB), ele obtém entre 41% e 46% das intenções de voto -sempre na liderança- em todos os cenários em que ele foi citado.

Serra, nome mais cotado entre os tucanos para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também em 2010 e líder nas pesquisas, não aparece em nenhum deles.A 19 meses da eleição, nenhum dos adversários de Alckmin atinge sequer a metade de suas intenções de voto nos cenários em que ele é apresentado. Os mais bem posicionados são os ex-prefeitos Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PP).

O melhor desempenho do tucano (46%), que governou São Paulo de 2001 a 2006, ocorre quando o candidato do PT é o ministro da Educação de Lula, Fernando Haddad. Contra Marta, o tucano obtém seu pior resultado (41%).

Na hipótese de o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci concorrer pelo PT, Alckmin chega a 45%.

O outro nome tucano apresentado pelo Datafolha, o do secretário da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira, oscila de 2% a 3% das intenções. Ele e Alckmin já travam uma batalha dentro do partido e do Palácio dos Bandeirantes pelo direito de concorrer em 2010.

A pesquisa foi realizada entre 16 e 19 deste mês. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

"Recall"

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz que o levantamento mostra "amplo favoritismo de Alckmin". Mas ele ressalva que Aloysio, Haddad e o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf -também testado em todos os cenários-, ainda são pouco conhecidos.

"Os demais já concorreram nas urnas muitas vezes e recentemente. A campanha para o governo costuma ficar escondida por conta da disputa pela Presidência, e o eleitor, por causa disso, só se lembra dela mais adiante", afirma Paulino.

Como exemplo, ele cita o desempenho de Paulo Maluf (PP), que chega a liderar com 20% quando Alckmin sai da disputa. Também sem o ex-governador tucano, a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) atinge 14%, seu melhor índice.

O resultado da pesquisa deve servir de combustível para Marta na disputa interna do PT. Derrotada por Gilberto Kassab (DEM) no segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, ela chegou a ser apontada como nome descartado do processo.

No entanto, Palocci e Haddad, que seriam os preferidos de Lula, ainda mostram pouca viabilidade. O ex-ministro da Fazenda oscila de 3% a 5%.

O ministro da Educação não passa de 2%. Já Marta chega a liderar com 19% no cenário sem Alckmin e com Aloysio.

Além de Skaf (sem partido), também foram apresentados em todos os cenários Campos Machado (PTB), Ivan Valente (PSOL), Paulinho (PDT) e Soninha (PPS).

ELEIÇÕES DATAFOLHA: PR

Pedro Serápio
DEU NA GAZETA DO POVO/PR

Alvaro e Beto lideram pesquisa

Senador Osmar Dias (PDT) é o único que pode enfrentar os tucanos na disputa pelo governo do estado no próximo ano

Se a eleição para governador do Paraná fosse hoje, o prefeito Beto Richa e o senador Alvaro Dias, ambos do PSDB, seriam os nomes com maiores chances de vencer a disputa, tendo o senador Osmar Dias (PDT) como único capaz de enfrentar um dos tucanos. A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra empate entre Alvaro Dias e Beto Richa em quatro possíveis cenários da pesquisa estimulada, com 39% e 52%. Já na pesquisa espontânea (em que o nome dos candidatos não é apresentado) o prefeito leva vantagem sobre todos os pré-candidatos. Ele aparece com 9%, enquanto os irmãos Alvaro e Osmar Dias têm 6%. Os outros não atingiram 1%. Na espontânea, o nome do governador Roberto Requião lidera as intenções de voto, com 16%, embora ele seja impedido de disputar a reeleição.

Nas simulações sem Beto Richa, Alvaro Dias aparece na frente do irmão com 39% a 27%. Sem Osmar Dias, o tucano aumenta seu desempenho e pode vencer a eleição no primeiro turno, com 52% contra 10% do segundo colocado, Rubens Bueno.

Beto Richa também leva a melhor sobre Osmar Dias, com 39% a 31%. Se o senador estiver fora da disputa, aumenta a chance de o prefeito ganhar a eleição no primeiro turno com 52%, o mesmo porcentual do outro cenário liderado por Alvaro Dias. Rubens Bueno aparece novamente na segunda posição com 10%.

Em todos as situações, o vice-governador Orlando Pessuti, do PMDB, oscila entre 7% e 8%, enquanto o pré-candidato do PT, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não ultrapassa 4%.

Com larga vantagem sobre os demais concorrentes, Alvaro Dias e Beto Richa defendem a continuidade da aliança com o PDT e o PPS, o que tornaria o grupo “imbatível” na eleição. Como Rubens Bueno já anunciou que não será candidato, PSDB e PDT precisam chegar a um consenso.
Beto Richa disse ter ficado “honrado” com o resultado, mas ponderou que todos precisam ter sabedoria e desprendimento para manter o grupo unido nas eleições.

Sobre a definição de nomes, ele considera cedo demais. “O momento oportuno para discutir isso é no próximo ano, quando escolheremos o melhor nome que reúna as condições de representar o grupo e vencer as eleições”, afirmou.

A aliança, segundo Beto Richa, tem nomes com credibilidade, como Alvaro Dias, Osmar Dias, Rubens Bueno e Gustavo Fruet, mas “se cada um puxar para o seu lado vai ser difícil ficar unido”.

O senador Alvaro Dias também espera manter a aliança PSDB-PDT-PPS e descarta a possibilidade de enfrentar o irmão Osmar Dias. “Eu não disputo contra ele e ele não disputa contra mim.” No entanto, se o PSDB o escolher e o PDT lançar Osmar, Alvaro Dias diz que pretende manter sua candidatura.

Para o senador, a pesquisa Datafolha revelou um cenário bem próximo do que ele vinha traçando em sua avaliação pessoal. Com vantagens entre 8 e 42 pontos sobre os nomes que ficaram em segundo lugar, ele afirmou que o resultado “não interfere” em suas decisões e que se mantém como alternativa ao nome de Beto Richa dentro do PSDB.

O senador Osmar Dias não quis comentar o resultado. Ele informou, por meio de sua assessoria, que não analisa pesquisas desde 2006, quando os institutos Datafolha e Ibope revelaram que não teria 2º turno na eleição para o governo do estado e erraram.

Os números foram surpresa para Rubens Bueno. “Não disputei eleição em 2008, não faço campanha, não tenho exposição na mídia e não fazia a mínima ideia de uma pesquisa com esse resultado”, disse.

Apesar do bom desempenho, ele reafirmou que abriu mão da candidatura para que a aliança se consolide.

Para Rubens Bueno, o grupo precisa dar uma resposta ao que o povo do Paraná está esperando. “Todos nós teremos responsabilidade de, no momento certo, não só manter a aliança, mas lançar uma candidatura de fôlego para ser vitoriosa”, afirmou.

Orlando Pessuti também gostou do resultado. Nas pesquisas internas realizadas em dezembro, ele diz que aparecia com 3 pontos e agora está com 8. “É um crescimento lento, mas firme. No ano que vem nas convenções temos condições de estar com mais de 20% das intenções de voto”, prevê.

O ministro Paulo Bernardo não foi localizado para analisar a pesquisa. Segundo a presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann, ele estava num compromisso fora.

Alianças

Faltando pouco mais de 18 meses das eleições, as alianças nacionais ainda podem mudar o atual quadro político no Paraná. O governo federal trabalha para unir a pré-candidata a presidência da República, Dilma Rousseff (PT), e o senador Osmar Dias, numa aliança entre os dois partidos. Nos dois cenários da pesquisa Datafolha em que aparece Osmar Dias, nenhum nome do PT é colocado como adversário.

Do outro lado, Alvaro Dias e Beto Richa trabalham para dar um palanque forte para a candidatura do PSDB nacional. O partido também não descarta a possibilidade de apoio do PMDB do governador Roberto Requião.

Embora o PMDB trabalhe pela candidatura própria, as conversas sobre uma aliança com o PSDB não foram suspensas.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: BA

Breno Costa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Wagner está em 1º na Bahia; Geddel não passa do 4º lugar

Em todos os cenários, o 2º colocado é um nome do DEM e o 3º é César Borges, do PR

Peemedebista não vai bem na pesquisa porque ainda é desconhecido do eleitorado baiano, afirma o diretor do Datafolha, Mauro Paulino

Cotado a vice em uma eventual chapa presidencial encabeçada pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), aparece apenas em quarto lugar na intenção de voto dos eleitores da Bahia para o governo do Estado, a pouco mais de um ano e meio das eleições.

Quatro cenários projetados pelo Datafolha com oito possíveis candidatos ao governo indicam liderança folgada do atual governador baiano, Jaques Wagner (PT). Ele oscila entre 36% e 38% das intenções de voto na pesquisa estimulada. Na espontânea -sem a apresentação de nomes-, também mantém a dianteira, com 24%.

Geddel aparece em 2 dos 4 cenários. Em um deles, com a presença dos ex-governadores Paulo Souto (DEM) e César Borges (PR), tem 7%. No outro, em que Souto é substituído pelo deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), fica com 8%. Nos dois casos, ele aparece tecnicamente empatado com o radialista Raimundo Varela (PRB).

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz acreditar que, caso Geddel se candidate de fato ao governo da Bahia, a intenção de voto deve aumentar. Geddel nunca disputou cargos majoritários.

"Acredito que seja desconhecimento da população, que pode ser revertido a partir do momento em que começar a campanha. Muitas vezes as articulações de bastidores não atingem os eleitores", diz Paulino, em referência ao cenário das eleições municipais de Salvador, em outubro, quando o candidato de Geddel venceu o apadrinhado de Wagner.

DEM

O segundo lugar nas pesquisas é disputado entre os dois principais nomes do DEM baiano, ACM Neto e Paulo Souto. O partido vem sendo considerado cambaleante no Estado após três fatos: a morte do senador Antonio Carlos Magalhães, a perda da hegemonia no governo para o PT e a derrota de ACM Neto na disputa pela Prefeitura de Salvador no ano passado, quando não chegou ao segundo turno.

Quando confrontados, nos cenários, com o senador César Borges, ambos se saem melhor. ACM Neto fica com 17% nos dois cenários em que é citado. Em um deles, Borges tem 14%. Em outro, com Geddel Vieira Lima, o senador fica com 12%.

Quando o possível candidato é Paulo Souto, a diferença chega a ser de nove pontos percentuais (19% x 10%) quando Geddel é incluído na disputa. Sem o ministro, a diferença cai para quatro pontos (18% x 14%).

O Datafolha entrevistou 991 pessoas em 36 municípios baianos, entre os dias 16 e 19 deste mês. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: PE

Sílvia Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Eduardo Campos e Jarbas lideram empatados em PE

Diferença entre governador do PSB e senador do PMDB diminui em cenário com PT

Para o diretor do Datafolha, o equilíbrio na disputa não reflete a presença recente de Jarbas no noticiário, mas sua experiência no governo de PE

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) aparecem empatados tecnicamente em dois possíveis cenários na disputa pelo governo do Estado em 2010, segundo pesquisa Datafolha.

Em um cenário sem nome do PT, o ex-prefeito de Recife João Paulo, Campos tem 40% das intenção de voto, seguido por Jarbas, com 34%. Nesta simulação, os dois estão em empate técnico no limite da margem de erro -três pontos percentuais para mais ou para menos.

O equilíbrio entre Campos e Jarbas não reflete, segundo o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, a presença do senador no noticiário recente. Em entrevista à revista "Veja", em fevereiro, Jarbas afirmou que "boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção", gerando críticas da cúpula do partido. Na ocasião, também disse que "mais de 90% [do PMDB] praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos".

A 18 meses das eleições, no entanto, o que conta mais é a memória do eleitor, segundo Paulino. "O noticiário reforça uma imagem que ele [Jarbas] já tem, mas não chega a atingir a maioria do eleitorado. Os índices refletem mais a tradição dele em administrações anteriores em Pernambuco, e isso acaba contando mais nesse momento." Jarbas foi duas vezes seguidas governador de Pernambuco (1999-2006).

No cenário em que o ex-prefeito João Paulo foi incluído, a distância entre Campos e Jarbas diminui. O atual governador aparece com 34% das intenções de voto, e Jarbas, com 31%. João Paulo está em terceiro lugar, com 12% das citações, em empate técnico com o ex-governador José Mendonça Filho (DEM), com 10%. Outros candidatos somam 6%. Votos brancos e nulos tiveram 4%.

Na simulação em que o nome de Campos não foi incluído, Jarbas abre uma vantagem de 20 pontos percentuais sobre o segundo colocado, o ex-prefeito de Recife João Paulo (PT). O governador foi excluído deste cenário porque existe a possibilidade de coligação com o PT para que o ex-prefeito seja o candidato dos partidos.

Jarbas lidera com 41% das intenções, enquanto o petista João Paulo é citado por 21% dos entrevistados e se distancia de Mendonça Filho, que tem 13%. Os deputados federais Carlos Eduardo Cadoca (PSC) e Raul Jungmann (PPS) aparecem com 5% e 3% das intenções de voto, respectivamente. Edilson Silva (PSOL) tem 1%.

Na pesquisa espontânea, em que os nomes dos possíveis candidatos não são apresentados, o atual governador lidera com 26%. Jarbas tem 10%; João Paulo e Mendonça Filho, 2% cada um. Os demais não atingiram 1%.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: CE

Breno Costa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Atual governador, Cid lidera cenários no Ceará

Diferença para 2º colocado é superior a 15 pontos

Atual governador do Ceará, Cid Gomes (PSB) lidera com folga as intenções de voto dos cearenses para o governo do Estado. Nos dois cenários projetados pelo Datafolha Cid seria reeleito, com vantagens superiores a 15 pontos percentuais sobre o segundo colocado.No retrovisor de Cid Gomes, disputam entre si o senador e ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), o ex-governador Lúcio Alcântara (PR), a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), e o ex-deputado federal Moroni Torgan (DEM).

Na pesquisa espontânea, em que nomes de possíveis candidatos não são apresentados ao eleitor, Cid Gomes também lidera, com 20% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparece seu irmão, o deputado federal e ex-governador Ciro Gomes, do mesmo partido.

Ciro não foi incluído em nenhum dos dois cenários porque a tendência mais forte, no momento, é que ele tente uma candidatura presidencial, ainda que como vice.

"A presença do Ciro na espontânea é um recall que o eleitorado tem de campanhas e de administrações anteriores. É natural que ele apareça", diz o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.

No primeiro cenário pesquisado pelo Datafolha, Cid tem 34% das intenções de voto, com maior concentração no interior do Ceará. Tasso aparece em segundo, com 18%. Em seguida, tecnicamente empatados, vêm Alcântara (13%), Luizianne (12%) e Moroni (11%).

No segundo cenário, em que Tasso fica de fora, Cid aumenta sua vantagem para o segundo colocado. Ele tem 39%, contra 18% de Alcântara. O ex-governador segue tecnicamente empatado com Luizianne (13%) e Moroni, que oscilou positivamente três pontos percentuais, indo para 14%. Os dois cenários incluem o presidente estadual do PMDB e ex-ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e o possível candidato do PSOL no Estado Renato Roseno.

ELEIÇÕES DATAFOLHA: DF

Adriano Ceolin
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Arruda e Roriz disputam liderança no DF

Em dois cenários, governador, filiado ao DEM está tecnicamente empatado com seu antecessor, do PMDB
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e seu antecessor, Joaquim Roriz (PMDB), lideram na disputa pelo comando da capital do país em 2010. De acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, eles estão tecnicamente empatados, apesar da vantagem do democrata em pontos percentuais.

Enquanto Arruda obtém 40% e 41% nos dois cenários em que aparece como candidato, Roriz conquista 35% e 36%. A margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, por isso o empate técnico.

No primeiro cenário, Arruda está com 41% das intenções de voto e Roriz aparece com 35%. Já o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz (PT) tem 7% e o senador Gim Argello (PTB), que ficou com a vaga após Roriz renunciar ao Senado, fica com 3%. Nessa situação, votos em branco ou nulos são 9%, e 6% estão indecisos.

Na segunda situação, com o deputado Geraldo Magela como nome do PT, Arruda tem 40% e Roriz, 36%. O petista tem 7% e Argello, 3%. Nesse caso, 8% votariam nulo ou em branco, 6% se dizem indecisos.

Em outro cenário em que Arruda é substituído pelo vice-governador Paulo Octávio (DEM) como candidato, Roriz lidera com folga. O ex-governador chega a 46% contra 22% de Paulo Octávio. Agnelo fica com 9% e Gim Argello mantém 3%.

Na pesquisa espontânea, quando os entrevistados são questionados sem a apresentação prévia dos nomes dos candidatos, Arruda fica 17 pontos percentuais à frente de Roriz. Dos entrevistados, 34% querem reeleger o governador e 17% preferem o peemedebista.

No mesmo caso, Paulo Octávio ficou com 2%. Já os petistas Agnelo e Magela não passaram de 1%. Apesar de ter sido citado pelos entrevistados, Gim Argello não chegou a 1%. Votos brancos e nulos somam 5% e 35% não sabem em quem votar.

Arruda leva vantagem sobre Roriz entre os eleitores mais jovens, mais ricos e com maior escolaridade. Nos cenários em que concorre, obtém 46% entre pessoas de 25 a 34 anos. Ele chega a 60%, entre os que tem ensino superior, e a 55%, entre as pessoas com renda superior a dez salários mínimos.

Governador por quatro mandatos, Roriz lidera entre os que tem ensino fundamental, com percentuais que variam de 49% a 63%. Entre os de menor renda, tem melhor desempenho, com variação de 43% a 58%.

Judiciário, política e responsabilidade

Fábio Wanderley Reis
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O país atravessa um momento talvez peculiar de sua história institucional. Um dinamismo que pode ser visto como promissor e criativo, por certos aspectos, mostra nele outra face, em que se vê preocupante fluidez nas relações entre os poderes. O instrumento das medidas provisórias à disposição do Executivo e os dispositivos que lhe aumentam o poder de iniciativa e controle em relação à agenda do Congresso; um Judiciário marcado pela adesão explícita e afirmativa a uma postura ativista; um Legislativo acossado por denúncias, amplamente paralisado com respeito ao exercício de suas atribuições próprias, confrontado com o ativismo do Judiciário e a invasão do Executivo - e a tatear (como ocorre com os demais poderes, às vezes estouvadamente) em busca de ampliar ou recuperar espaços.

A reinterpretação agora proposta por Michel Temer quanto aos efeitos das medidas provisórias sobre o trancamento da pauta do Congresso é o episódio mais recente da fluidez mencionada.

Tudo somado, ela é certamente defensável do ponto de vista do anseio por relações equilibradas entre Executivo e Legislativo, e, a julgar pelo que noticiava a imprensa dias atrás, parece contar com receptividade entre os ministros do STF. É estranho, porém, como notaram constitucionalistas citados em matéria do Valor e atentos às disposições explícitas da Constituição, que se tenha pura e simplesmente nova leitura de um dispositivo legal pelos próprios órgãos legislativos que aprovaram há alguns anos a emenda constitucional cuja intenção era evidentemente contrária à leitura de agora. Desse ponto de vista, a suposta receptividade à ideia por parte de um STF ativista pode ela própria ser tomada como indício do que tem de precário o quadro geral.

Essa precariedade se mostra de maneira mais vívida na confusão envolvida nas recentes cassações pelo TSE de governadores eleitos em 2006. Por certo, nesse caso estamos longe da invencionice estapafúrdia de decisões como, por exemplo, a que impôs há algum tempo a "verticalização" das eleições: acham-se em vigor normas que têm sua justificação e que respaldam as decisões. Mas é evidente o que há de insatisfatório numa situação em que as normas em vigor e os instrumentos deficientes de que dispõe a Justiça eleitoral redundam numa espécie de "samba da Justiça doida", em que governadores eleitos em 2006 e empossados em 2007 são cassados em 2009 e o cargo é transferido, sem mais, aos derrotados na eleição, eles mesmos, em vários casos, submetidos a acusações e processos semelhantes aos dos cassados... Não será com a Justiça eleitoral substituindo-se aos eleitores, e de forma tão canhestra, que os vícios do processo de eleição serão sanados.

Mas talvez mereça destaque a manifestação pública do ministro Gilmar Mendes de há algumas semanas - mais uma. A propósito de críticas feitas anteriormente ao governo pela transferência de recursos públicos ao MST e de comentários de Lula no sentido de que ele falaria a título pessoal, Gilmar Mendes fez questão de esclarecer que falava como chefe do Judiciário e atento às responsabilidades políticas e institucionais que a posição envolveria.

É claro que o Judiciário tem responsabilidades institucionais, o que traz tais responsabilidades, naturalmente, também para o presidente do STF. Reclamar responsabilidades políticas para o Judiciário e seu chefe, porém, é algo bem mais complicado e exposto a confusões. O papel por excelência do Judiciário, num sistema constitucional baseado na separação de poderes, é o da revisão judicial, em que um princípio de "responsabilidade horizontal", para usar expressão de Guillermo O"Donnell, permite que um Judiciário que se supõe politicamente independente e imparcial atue como instância de controle dos demais poderes. Esse desiderato de independência e imparcialidade políticas é o que torna defensável que os membros do Judiciário não sejam escolhidos em eleições em que competissemm pelo voto popular, mas sim por meio de procedimentos capazes de permitir atenção maior para aspectos de qualificação "técnica" e de capacitação para aquilo que o próprio Gilmar Mendes tem designado como a "representação argumentativa" que supostamente caberia ao Judiciário, ao STF em particular.

O controle e a responsabilização do governo feitos em termos "horizontais", com base destacadamente na revisão judicial, podem mesmo ser vistos como forma importante de suprir as deficiências na "responsabilidade vertical", expressão com que O"Donnell designa a relação democrática do governo com o eleitorado em geral. E cabe assinalar, ainda, algo que tem sido salientado em discussões recentes sobre as chamadas "democracias iliberais" (Fareed Zakaria), em que o recurso a eleições, desacompanhado de garantias adequadas dos direitos civis ou liberais, levaria a autoritarismos com respaldo popular. Daí se tem pretendido extrair o argumento de que seria preciso estender a outros setores ou entidades da aparelhagem estatal o princípio, afirmado quanto ao Judiciário, de tratar de neutralizar sua exposição aos setores politicamente sensíveis do governo: um exemplo importante se tem com a pretensão de assegurar autonomia para os bancos centrais.

Sem dúvida, não há razão para acreditar, mesmo na vigência de orientações em princípio marcadas pela ideia de isenção política, que o que se observa na atuação do Judiciário moderno em países diversos justifique a leitura de que essa isenção prevaleça de maneira irrestrita: o que se observa é com frequência a Justiça contaminada pelo jogo político-partidário. De todo modo, não há como negar as complicações com que se choca o reclamo de responsabilidade "política" para o Judiciário e seu chefe. Pretenderá o ministro cancelar a invocação da "representação argumentativa" e sugerir que venhamos a ter eleições para o Judiciário?

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

Vícios são vícios, mesmo quando úteis

Carlos Alberto Sardenberg
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Sabem por que o Brasil apanha menos que outros emergentes nesta crise? Por causa de seus vícios.

Há uma forte queda no comércio mundial ? e a economia brasileira é fechada, exporta pouco, ou seja, perde relativamente menos.

Há uma severa restrição do crédito ? e havia muito pouco crédito no Brasil, de novo, com pouco a perder.

Considerem o comércio. Neste ano, pela primeira vez em décadas, a soma de exportações e importações mundiais vai encolher, será menor do que em 2008. Isso já está ocorrendo desde outubro, o que arrasa o desempenho das economias exportadoras.

Coreia do Sul e México, por exemplo, estão apanhando mais do que o Brasil neste quesito. Ocorre que a economia coreana exporta algo equivalente a 50% do seu Produto Interno Bruto (PIB), vendas de US$ 420 bilhões para um PIB de US$ 860 bilhões.

No México, a exportação passa um pouco dos 40% do PIB e vai, na maior parte, para os Estados Unidos, o centro da crise.

No Brasil? As vendas externas (US$ 198 bilhões no ano passado) equivalem a 13% do PIB. Portanto, a queda nas exportações, que já ocorre, afeta menos a atividade econômica local.

Mas o lado mais evidente dessa "vantagem" dos vícios está no departamento do crédito.

No ano passado, o crédito total no Brasil chegou a 41% do PIB, um resultado muito bom para os padrões locais.

Na Coreia, para dar apenas um exemplo, o crédito doméstico equivale a 110% do PIB. Portanto, investimentos e consumo dependem muito mais do fluxo de empréstimos do que no Brasil.

Logo, se o crédito seca, o problema é maior lá.

Outras comparações: no grande ano de 2007, quando o mundo todo cresceu espetacularmente, o crédito concedido nos Estados Unidos para a compra de casa própria chegou a 86% do PIB, algo como a espantosa cifra de US$ 12 trilhões. Para a aquisição de carros, 9,2%.

Na Coreia do Sul, o crédito imobiliário representava 53% do PIB. Para automóveis, 17%.

E no Brasil? O ano passado foi considerado um dos melhores para o setor imobiliário. Só pelo Sistema Financeiro de Habitação ? empréstimos com base nos recursos da caderneta de poupança ? foram financiadas quase 300 mil casas, no valor total de R$ 30 bilhões. Isso dá a ridícula relação de 1% do PIB. Se consideradas outras modalidades de financiamento, incluindo as casas populares, subsidiadas, o total financiado não chega a 3% do PIB.

Eis o ponto: o Brasil não teve bolha imobiliária simplesmente porque não empresta.

Para completar as comparações, o financiamento de automóveis é um pouco melhor no Brasil, 3% do PIB, ainda assim muito abaixo dos outros países desenvolvidos e emergentes importantes.

Quais conclusões se podem tirar daí?

A mais estúpida seria afirmar que é melhor exportar menos e emprestar pouco, para evitar danos maiores na eventualidade das crises. Seria como não comer para prevenir eventuais dores de estômago.

Tanto assim que os melhores esforços que o Brasil deve fazer para sair da crise são justamente elevar o crédito para consumo e investimento e aumentar as exportações.

Por outro lado, antes da crise os outros emergentes mais abertos e com mais crédito cresceram mais que o Brasil. Lá no México se costuma dizer: tão perto dos Estados Unidos; tão longe de Deus.

O lamento vale especialmente para estes momentos, mas atenção. Desde que o México assinou o acordo de livre comércio com os americanos, os Estados Unidos tiveram muito mais anos de crescimento do que de recessão.

Isso vale para o conjunto do mundo. Em 2009, o comércio global está diminuindo, mas este é um ano de raríssima exceção.

O panorama geral do mundo emergente mostra o seguinte. Antes da crise mundial, todos os principais países haviam alcançado a estabilidade macroeconômica baseada no tripé: inflação de no máximo 4,5% ao ano; contas públicas equilibradas; dívida líquida pública não superior aos 30% do PIB; contas externas financiáveis e reservas elevadas.

Cada país tem um problema nesta ou naquela perna, mas o geral era isso aí. Todos cresceram fortemente do final dos anos 1990 para cá, especialmente no século 21. Todos elevaram fortemente suas exportações.

O Brasil veio atrasado. Estabilizou a macroeconomia depois de todos os outros e pegou a onda mundial depois dos outros. Assim, o Brasil ainda não havia atingido o voo de cruzeiro ? juros ainda muito elevados, carga tributária altíssima, crédito limitado, pouca abertura ao exterior.

Tudo isso era e continua sendo defeito. A menor exposição brasileira ao comércio externo e ao crédito limita os efeitos da crise externa, mas, antes, limitou muito mais o crescimento do País.

Isso quer dizer que, terminada a crise mundial, os outros países iniciarão a retomada de modo mais firme e rápido. Assim como apanham mais agora, a Coreia e o México (e a China, por sinal) vão decolar quando o comércio mundial voltar a crescer.

É uma história diferente da que conta o presidente Lula. Ele tem dito que o Brasil sofre menos porque estava mais bem preparado do que outros. Basta olhar os quesitos. Onde o Brasil estava melhor?

Na inflação? Todos a tinham controlado.

Nas contas públicas? A dívida brasileira ainda é a maior entre os mais importantes.

Nas reservas? Nas exportações? As nossas eram menores.

No sistema bancário sólido e regulado? Mas claro que é sólido: não empresta e quando empresta cobra esses juros!

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

Proposta brasileira ao G20

Luiz Carlos Bresser-Pereira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Está na hora de o Brasil fazer uma proposta inovadora: o estabelecimento de limites para déficits em conta corrente

ESTAMOS na véspera da reunião de cúpula do G20. Qual deve ser o papel do Brasil nela?

Deveremos desempenhar um papel que nunca teve real êxito -o de intermediário entre os países ricos e os demais países de renda média que adotam políticas econômicas mais nacionalistas, como a China e a Índia? Deveremos nos aliar a esses países? Apoiar as medidas visando maior regulação dos mercados financeiros -algo sobre o qual já existe um razoável consenso mundial?

Concentrarmo-nos em pedir maior participação do Brasil nos fóruns internacionais? Ou existe alternativa mais criativa, que reflita experiência e implique contribuição brasileira para a crise?

Se optarmos pela última alternativa, a proposta fundamental deve ser a da limitação dos déficits em conta corrente. Se existe uma recomendação universal de prudência em relação ao déficit do setor público, se o Tratado de Maastricht estabelece para os países da União Europeia um limite de 3%, por que não estabelecer limites acordados internacionalmente também para os déficits em conta corrente -ou seja, para os déficits dos países?

Em vez de caminharem nessa direção, os países ricos estão dando grande ênfase ao aumento do capital do FMI (Fundo Monetário Internacional). Repetem, assim, sua política de incentivar os países em desenvolvimento a se endividarem -a incorrem em déficits em conta corrente e, assim, "crescerem com poupança externa". Depois das crises de balanço de pagamentos dos anos 1990, muitos países em desenvolvimento aprenderam que essa política era absurda, que grande parte dos recursos externos acaba indo para o consumo devido à apreciação do câmbio e ao aumento artificial dos salários. Verificaram que mesmo os investimentos diretos provocavam uma elevada taxa de substituição da poupança interna pela externa na medida em que causavam valorização cambial.

Por isso, principalmente os países asiáticos dinâmicos desvalorizaram suas taxas de câmbio, passaram a ter superávits em conta corrente e deixaram o FMI sem clientes. Mas apenas por algum tempo, porque, de um lado, a pressão dos países ricos para que os países em desenvolvimento recorram a seu capital é forte, e, de outro, porque a tentação dos políticos e dos empresários de usar recursos externos "baratos" é grande. Por isso, alguns países desavisados situados principalmente no leste da Europa incorreram em elevados déficits em conta corrente e agora estão obrigados a recorrer ao FMI.

Os países em desenvolvimento já pagam verdadeiras fortunas aos países ricos para remunerar sob a forma de lucros e juros investimentos que pouco ou nada representam em termos de promoção de seu desenvolvimento econômico e, principalmente, causam a substituição da poupança interna pela externa. Diante desse fato, o lógico do seu ponto de vista é realizar pequenos superávits em conta corrente de forma a gradualmente reduzir as remessas de lucros e juros ou então compensá-los com receitas derivadas de investimentos no exterior.

A reunião do G20 é uma excelente oportunidade para colocar essa proposta. O presidente Lula teve uma viagem exitosa aos Estados Unidos, onde tratou de igual para igual o presidente americano. Não chegou a oferecer auxílio, como fazem os chineses, mas quase. Agora está na hora de o Brasil fazer uma proposta simples, positiva e inovadora que muito contribuirá para a diminuição da instabilidade financeira mundial: o estabelecimento de limites para os déficits em conta corrente.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

Choro nº 1

Heitor Villa- Lobos
Violão: David Russell
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