terça-feira, 20 de julho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna


Nesse sentido, avizinhamo-nos, ainda sem ideologia, de um bismarquismo tardio, para o qual contamos, sem dúvida, com a nossa pesada tradição de modernização autoritária que nos vem das eras de Vargas e a do regime militar. Essa fusão entre economia e política em nome de objetivos grão-burgueses, com o sindicalismo crescentemente vinculado ao Estado, não é nada promissora para a democracia brasileira. A agenda dos candidatos à sucessão presidencial comprometidos com ela está equivocada: não se trata apenas de disputar, com os maneirismos do marketing político, o modo de continuar um ciclo feliz, mas de impedir o nascimento de um que ameace as conquistas democráticas já realizadas e a serem aperfeiçoadas.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo, ‘Um bismarquismo tardio’, no Valor Econômico, ontem, 19/7/2010)

A polêmica do dia:: Marco Antonio Villa

DEU NO BLOG DO VILLA

As declarações do Índio da Costa tiveram enorme repercussão. As respostas do PT mostram que o resultado foi obtido. Diversamente do que está (hoje) na imprensa, o PT caiu na defensiva. Um fato interessante (e que escrevi e falei tantas vezes) é que a oposição não gosta de ser oposição. Oposição tem de atacar o governo.

É parte do jogo democrático. A relação PT/Farc é conhecida. Pode não ser uma relação orgânica. Mas setores do partido apoiam a guerrilha colombiana. Uribe passou maus bocados com a diplomacia brasileira.

Mesmo apresentando fatos do envolvimento da Venezuela e Equador, era visto como um direitista, golpista e aliado incondicional dos EUA. Além do episódio de Emanuel (post anterior), teve a prisão de Fernandinho Beira-Mar e, muitos já devem ter esquecido, a libertação de Ingrid Bettancourt e de outros reféns, quando o governo brasileiro fez uma crítica indireta ao governo colombiano.

Todo o barulho feito pelo PT significa que o golpe foi acusado.

Este tipo de debate é desenvolvido em um terreno movediço. Qualquer escorregão pode ser fatal. É preciso sempre relacionar o ataque aos fatos e evitar o discurso extremista. No Brasil a direita e a esquerda não têm uma relação saudável com a democracia e seus corolários. Um debate logo vira troca de xingamentos e acusações de baixo nível.

Postura de Lula tensiona campanha- Editorial / O Globo

O choque entre o presidente, sua candidata e o Ministério Público eleitoral vem sendo construído com afinco desde o início do segundo mandato, quando Lula decidiu antecipar a campanha eleitoral e colocar o nome da ministra Dilma Rousseff na rua.

Como, queiram ou não, há prazos legais para as diversas fases de qualquer campanha, Lula, de forma consciente, criou este conflito. Decidiu pagar o preço para tornar a ministra conhecida da massa do eleitorado. A legislação existe para supostamente dar condições de igualdade na disputa entre candidatos da situação e da oposição. Procura impedir o uso da máquina e do dinheiro públicos em benefício de uma única corrente política, forma deletéria de privatização do imposto pago pelo contribuinte, exemplo clássico de patrimonialismo, distorção da vida política brasileira praticada à direita e à esquerda.

A Justiça eleitoral - talvez inibida diante da popularidade recorde de Lula - demorou a agir. E quando passou a multar o presidente-cabo eleitoral, em obediência à lei, não houve recuo do ocupante do mais elevado cargo da República.

Um primeiro efeito negativo da lerdeza da Justiça foi estimular a oposição a cometer os mesmos delitos: José Serra, ainda governador, recebeu honras de candidato em eventos típicos de governo, e, há poucos dias, seu sucessor, Alberto Goldman, imitou Lula ao propagandear em solenidade oficial alegadas virtudes do candidato tucano.

O último lance da escalada de Lula ocorreu no comício realizado na Cinelândia, na sexta à noite, em que o presidente, sem citar nomes, se referiu a "uma procuradora qualquer aí", que o estaria impedindo de fazer menção a Dilma Rousseff. Sábado, no interior de São Paulo, foi a vez de a própria Dilma criticar a representante do MP.

O alvo lulo-petista é Sandra Cureau, vice-procuradora-geral eleitoral. Tudo porque, como exige o cargo, ela acompanha atenta candidatos desafiarem a lei. A irritação do presidente se deve à notícia de que Sandra pediu vídeos às TVs do pronunciamento de Lula no lançamento do projeto do trem-bala, feito com menções a Dilma Rousseff de cunho eleitoral. Num discurso seguinte, em outro evento, o presidente, sob pretexto de comentar o fato, repetiu os elogios à candidata, com o agravante de estar na presença do presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski. A ousadia e o desafio à Justiça foram indiscutíveis.

A rigor, outra coisa não faz o presidente há no mínimo dois anos. Os índices das últimas pesquisas eleitorais mostram que Lula teve êxito e tornou a ministra conhecida. Mas, para isso, desafiou e desafia as instituições, dá um péssimo exemplo como a mais importante autoridade do Executivo - daí a oposição fazer o mesmo - e cria uma indesejada tensão na campanha.

A popularidade presidencial não vale como salvo-conduto para o atropelamento de qualquer legislação. Ou retrocederemos ao estágio de uma republiqueta tropical. O lulo-petismo testa e ultrapassa os limites do estado de direito bem ao estilo das falanges que se digladiam na luta sindical. O presidente não esconde que deseja eleger a sucessora a qualquer custo. Mas a nação discorda que tenha de pagar o preço do desrespeito impune à lei.

O fato que virou fardo:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

E pensar que há dois anos os tucanos pareciam ter a solução perfeita para derrotar o presidente Luiz Inácio da Silva e impedi-lo da fazer o sucessor: uma chapa só do PSDB unindo os governadores de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País.

E pensar que o governo e o PT passaram dois anos morrendo de medo do impacto que a escolha do vice do PSDB provocaria na eleição presidencial.

O vice, aguardado como o grande fato político da temporada enquanto houve possibilidade de o mineiro Aécio Neves compor uma dobradinha com José Serra, acabou se transformando em um fardo.

Primeiro, por causa das atribulações da escolha, feita na base da eliminação, com direito a chilique e exigências do DEM - um debilitado que teve seus 15 minutos de possante porque o PSDB não podia se arriscar a perder metade do tempo do horário eleitoral de rádio e televisão.

Agora o PSDB enfrenta aborrecimentos com o vice, escolhido sabe-se lá por qual critério: juventude, fina estampa ou para tentar suprir a lacuna de uma confusa e pouco profícua aliança com o PV no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral da Federação.

O deputado Índio da Costa é mais jovem que Aécio, bonitinho tanto quanto, mas desprovido de cancha, peso político e estrada.

E, a julgar pela primeira entrada em cena, não oferece compensações: o que lhe falta em experiência não lhe sobra em sapiência e extrapola em imprudência.

Na segurança de terras amigas (o portal do PSDB) e sem medir palavras contra os inimigos, Índio da Costa simplesmente disse que "todo mundo sabe" que o "PT é ligado às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ao narcotráfico, ao que há de pior".

No dia seguinte retratou-se: "O PT não faz narcotráfico." Que bom, não é?

O desmentido deve ter soado tranquilizador ao titular da chapa, José Serra, aos partidos e aos demais cidadãos do Brasil, quiçá do mundo, que, segundo a primeira versão, sempre souberam da ligação do PT com o narcotráfico. Não precisam se sentir cúmplices por não terem denunciado à polícia o que sabiam.

Índio da Costa tampouco precisará demonstrar a veracidade de afirmação tão peremptória.
Apenas terá de responder a ações do PT por injúria, calúnia e difamação e danos morais.

Isso no exato momento em que o candidato à Presidência na chapa integrada por ele procura tirar dividendos das exorbitâncias contra a legalidade cometidas pelo presidente Luiz Inácio da Silva em nome da construção de um êxito eleitoral.

O candidato ontem ainda saiu em socorro do companheiro, deixando o narcotráfico para lá, mas "endossando" a história das Farc, mais velha que a Sé de Braga e absolutamente inócua em termos eleitorais.

E pensar que José Serra achou que a escolha de um candidato à Vice-Presidência fosse um assunto secundário. Bastaria, segundo seus critérios, encontrar alguém que não lhe trouxesse "aporrinhação".

Com se viu, não era tão trivial assim. Embora até pudesse ter sido se o próprio PSDB e adjacências não tivessem alimentado a expectativa de que daí sairia a grande, revolucionária e definitiva solução.

Mas, como diria o Barão de Itararé: "De onde menos se espera é que não sai nada mesmo."

Goldman explica. O governador de São Paulo, Alberto Goldman, acha um "exagero" comparar suas menções ao candidato e antecessor José Serra aos atos do presidente Lula e escreve para "esclarecer".

"Minhas citações são referências ao fato de que aquilo que estou inaugurando é um programa que começou no período em que era governador. O que entrego agora começou com ele. São fatos concretos. Não peço votos nem faço elogios, ainda que eles estejam implícitos."

Guardadas todas as proporções entre as citações do governador e as variadas extrapolações do presidente, Dilma Rousseff usa o mesmo tipo de argumento quando diz que Lula apenas faz "constatação da realidade" ao atribuir a ela esse ou aquele projeto de governo.

A volta dos que não foram :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Há duas perguntas que não querem calar nas eleições deste ano em Brasília:

1) Por que raios Joaquim Roriz decidiu se candidatar de novo e tentar ser governador pela quinta vez, agora pelo PSC? Ele já não é nenhum menino aos quase 74 anos e governou o Distrito Federal quatro vezes vezes -quatro vezes! Já não deu tudo o que poderia dar e tirou tudo que poderia tirar do cargo? Não chega? Não é suficiente?

2) E por que Roriz, que assumiu o mandato de senador em fevereiro de 2007 e renunciou em julho, quatro meses depois da posse e 12 dias depois de ser apontado como o beneficiário de um cheque de R$ 2,23 milhões, saiu correndo do Senado e agora não teme mais as mesmas denúncias, que continuam aí, iguaizinhas ou até piores, no Ministério Público e no Tribunal de Justiça? Por que em 2007, sem resposta e morto de medo, ele correu da raia? E por que agora, só três anos depois, resolve enfrentar tudo de novo? O que mudou?

Afinal, as denúncias são oriundas de grampos telefônicos e envolvem recursos do Banco de Brasília, o BRB, num escândalo que empurrou para a cadeia Tarcísio Franklin de Moura, que presidiu a instituição durante oito anos de governo de Roriz no DF.

Quieto e sem mandato, Roriz pode confiar na Justiça e continuar cuidando de suas fazendas e sua incalculável fortuna pessoal. Assanhado e candidato, não deve confiar nem um pouco no MP e na imprensa. Aquelas coisinhas todas que o deixaram apavorado a ponto de pular do Senado tão rápido vão estar de volta logo, logo. É questão de tempo, ou de oportunidade.

De outro lado, a candidatura mais forte contra ele é a de Agnelo Queiroz (ex-PC do B, atual PT), que não tem escândalos desse calibre, mas também não encanta nem anima ninguém e acaba se beneficiando do voto por exclusão.

Sinceramente, a capital da República já viveu tempos melhores.

Uma pedra no meio do caminho de volta:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O candidato José Serra, na condição de pretendente ao lugar para o qual se elegeram e se reelegeram o presidente Lula e seu antecessor Fernando Henrique, declarou-os mais parecidos do que parece por terem desanimado diante das dificuldades de fazer a reforma política. Não disse mais, nem lhe foi perguntado, por desnecessário, mas outras semelhanças os separam politicamente. A mais contundente tem sido a reeleição, cuja iniciativa coube a Fernando Henrique e cuja contestação veemente, feita por Luiz Inácio Lula da Silva, não o impediu de ter o mesmo procedimento. Nivelaram-se na capacidade de se declararem contra o segundo mandato consecutivo e não se conterem diante da oportunidade eleitoral.Um gostaria de ter sido o outro exatamente porque, em doses iguais, o que falta a um sobra no outro. E vice-versa. Serra está imune ao risco de ser contestado, porque a sucessão deixaria de ser real para se tornar virtual entre Fernando Henrique e Lula. Contra esse risco a democracia está garantida, pelo menos no próximo mandato.

Conheço bem os dois e posso garantir que são mais parecidos do que parece: estas palavras, mesmo que desagradem aos dois, ficam para a história não escrita, mas com a mão do tempo acabarão na outra. Serra podia ter acrescentado que eram ambos contra a reeleição, e que um fez e o outro disse que acabaria com ela, mas se elegeram e se reelegeram, e ela continua aí, no meio do caminho da democracia, como aquela pedra no poema de Carlos Drummond. Na avaliação pessimista dos efeitos da reeleição, a diferença que parece separá-los não convence. Serra ainda disse que (se eleito, claro) vai peitar o verbo exato para o desafio o Congresso Nacional e fazer a reforma política. Somente se for no começo do mandato, antes que a reeleição lhe suba à cabeça como cabelo. Melhor começar pelo fim, isto é, pela retirada da reeleição. Se o fruto proibido da República lhe apetecer, a reforma pedirá as contas.

Se o candidato social-democrata disser que vai acabar com a reeleição, seu potencial político, só por esse lance dobrará de uma pesquisa eleitoral para outra numa semana. E deixará Dilma Rousseff em sinuca de bico. Reeleição pode ser boa para os Estados Unidos, mas já ficou demonstrado que pouca coisa que seja boa por lá por aqui se aplica com alguma vantagem. Afinal, a reforma política não passa de um sentimento de culpa republicano de longa data. Mas, quando a hora de fazê-la parece aproximar-se, converte-se naquela homenagem suspeita que os vícios do presidencialismo prestam à República, quando os políticos cortejam reformas para passar a limpo (por estar suja) a vida pública para deixar tudo apenas com outra aparência e não como deveria ser.

Lula julga encerrado ciclo de alta dos juros:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Independentemente da taxa que for determinada na reunião de amanhã do Conselho de Política Monetária (Copom), o mais importante será o Banco Central (BC) sinalizar para um ciclo de alta menor que o de 2008, que se estendeu de abril até outubro. O atual ciclo também começou num mês de abril - o de 2010 - mas certamente será interrompido nesta quarta-feira ou no máximo na reunião de agosto. Já há algum tempo tornou-se ociosa a discussão sobre se o governo manda alguma coisa na política monetária. Manda, e manda muito. O resto é cena.

O ministro Guido Mantega (Fazenda), por exemplo, esteve semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se mostrou preocupado com uma elevação de 0,75% na taxa de juros, conforme previsão do mercado. Guido entende que esse percentual poderá comprometer o crescimento do país, no próximo ano. Nada de novo. Na realidade deve-se esclarecer que já há algum tempo funciona no governo Lula uma espécie de "Copom do B", uma denominação heterodoxa para o que na prática dos bastidores do governo é chamado de "Comitê de Política Econômica". O BC é oficiosamente independente, mas suas decisões são efetivamente discutidas no Palácio do Planalto de acordo com os interesses e metas das políticas de governo.

Ingênuo é supor o contrário, ou ainda que não sejam avaliadas e cruzadas as curvas da taxa de juros com as linhas no gráfico do desempenho de Dilma Rousseff na sucessão presidencial. A constituição do "Copom do B" é óbvia: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Guido Mantega e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Um jogo administrado. Mantega e Meirelles estão sempre em vias contrárias, o que não quer dizer trânsito desorganizado ou que os dois estejam em rota de colisão.

Meirelles trafega na via "fiscalista", isso não é segredo para ninguém, assim como o lado da rua de Mantega pode ser sinalizado de "desenvolvimentista" ou "neodesenvolvimentista", como já se referem petistas ao grupo mais afinado com o que pensa a candidata do partido a presidente, Dilma Rousseff. Importante é que parece haver algum consenso nas duas mãos sobre a questão dos juros "mais altos do mundo".

Em termos históricos, o entendimento é que a taxa de juros deixou de ser um problema estrutural no Brasil. Hoje seria mais uma questão de sintonia final, e é neste território que têm se dado os últimos embates entre Fazenda e Banco Central.

Nos dois últimos meses, o Ministério da Fazenda se posicionou de forma contrária ao aumento de 0,75% propostos por Meirelles. Alegou que havia uma inflação de alimentos, sazonal, e que em alguns segmentos ocorrera até deflação. O BC esgrimiu a inflação no setor de serviços, entre outros vários argumentos.

Às vésperas da eleição presidencial, a atual discussão sobre a taxa de juros é didática em relação ao que pode vir a ser um novo governo do PT, nas mãos da ex-ministra Dilma Rousseff. Uma das lições é que há sim espaço importante para o deputado Antonio Palocci (PT-SP) numa gestão Dilma, apesar do dissenso entre ambos no governo Lula.

O Palácio do Planalto e o comitê Dilma presidente são seres intrínsecos. Tanto num como no outro hoje avalia-se que é melhor manter certas tensões dentro do governo, do que deixar que elas escapem da garrafa. Mais ou menos o que ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso quando o "fiscalista" Pedro Malan reinou na Fazenda como um símbolo de governo e os desenvolvimentistas foram para rua atirar pedras no telhado. O que se quer dizer é que uma "certa tensão" pode ser positiva para o governo, se em vez de paralisia produzir uma resultante. Um denominador.

Neste eventual governo, o que não há é lugar para ministro forte. Valem as reflexões do presidente Lula, após seus dois mandatos no Palácio do Planalto, segundo as quais não existe ministro forte. Forte é o presidente. "O que se espera é que eles sejam bons". Ministro forte é alvo fixo para a oposição e para integrantes do próprio governo. Didático é o caso do ex-ministro José Dirceu. A própria Dilma balançou na crise dos cartões corporativos - a oposição só se deu por vencida quando percebeu que a ministra, já preferida por Lula para a sucessão, não cairia (caiu a ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, sem nenhuma relevância na disputa sucessória, já então em curso adiantado).

Palocci será um ministro importante na equipe de um eventual governo de Dilma Rousseff, pode ser até chefe da Casa Civil (não volta para a o Ministério da Fazenda), mas não será um ministro forte como ele mesmo já foi no primeiro mandato de Lula, a menos que muita coisa mude entre o que pensa a candidata em campanha e o que pensará a presidente Dilma. É claro, se ela for a eleita em outubro.

Palocci está há mais de quatro anos fora do governo, e hoje considera-se que Dilma está muito mais preparada sobre os assuntos de Estado que o ex-todo-poderoso ministro da Fazenda. Como diz um frequentador do carteado de Lula nos finais de semana: "Ela tem na mão a visão de governo".

Quando o mercado financeiro manifesta expectativas em relação a Palocci, isso mais prejudica que ajuda o deputado federal por São Paulo. As relações entre os dois podem ser classificadas de ótimas, mas não mudou o modo de cada um ver o país. Nenhum presidente da República eleito pelo voto de dezenas de milhões nunca vai aceitar que esteja sob tutela.

Para quem ainda hoje duvida da capacidade de formulação de Dilma Rousseff, seus principais aliados gostam de lembrar de um episódio ocorrido em 2005. A demanda na Junta Orçamentária entre Palocci, à época um ministro forte, e Dilma. A ministra bancou a discussão sobre a questão dos gastos públicos e ganhou. Para todos os efeitos, ela mostrou que os números dos ministério da Fazenda e do Planejamento estavam errados. E Dilma ainda foi decisiva na escolha de Guido Mantega para sucessor de Antonio Palocci no ministério da Fazenda.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Caso Lina: tucanos recorrem à Procuradoria

DEU EM O GLOBO

Partido quer imagens que comprovariam reunião de Dilma com ex-secretária da Receita Federal

Flávio Freire

SÃO PAULO. O PSDB anunciou ontem que entrará com representação na Procuradoria-Geral da República pedindo abertura de investigação para tentar obter o material do circuito interno do Palácio do Planalto do qual constariam imagens de um encontro, supostamente ocorrido em novembro de 2008, entre a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, hoje candidata à Presidência.

O assunto foi trazido à tona na revista "Veja" desta semana, numa reportagem em que Demetrius Felinto, ex-funcionário de uma empresa que prestava serviços ao Palácio do Planalto, afirma que as imagens que provam a realização do encontro existem, armazenadas num computador em poder do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Diante das novas informações, os tucanos decidiram tentar obter as imagens que podem mostrar que Dilma teria mentido quando disse que o encontro com Lina nunca existiu. Nessa reunião, segundo a versão de Lina, Dilma teria pedido a ela para que interferisse numa investigação da Receita sobre a família Sarney. Dilma nega.

- Precisamos saber se as imagens existem ou se foram apagadas. Precisamos provar que marginais da política continuam operando no subterrâneo - disse o senador tucano Álvaro Dias, em São Paulo.

Demetrius, que hoje trabalha numa empresa prestadora de serviços ao Senado, já havia mandado e-mail a senadores, inclusive o próprio Álvaro Dias, em dezembro de 2009, quando relatou o caso. Perguntado ontem por que o PSDB não entrou antes com ação, o senador disse que Demetrius havia recuado, num primeiro momento.

- Novos fatos ocorreram. Ele recuou no início do ano, e nós o respeitamos. Mas ele voltou recentemente e está trabalhando no Senado.

'O PT perdeu o rumo', diz Plínio Arruda Sampaio

DEU EM O GLOBO

Candidato do PSOL à Presidência se reúne com membros da ABL

Cássio Bruno

O candidato do PSOL à Presidência, Plínio Arruda Sampaio, participou ontem, no Centro Cultural Austregésilo de Athayde, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio, de um almoço com intelectuais e membros da Associação Brasileira de Letras (ABL). No encontro, Plínio criticou o PT, partido de sua adversária Dilma Rousseff, defendeu a redistribuição de renda com reforma agrária e debateu o papel da mídia nas eleições deste ano, além de apresentar propostas para as áreas de saúde e educação. À tarde, fez caminhada no centro comercial da cidade.

- O PT perdeu o rumo. Desviou-se do seu caminho. Era um projeto socialista, mas deixou de ser. Agora, é um projeto de poder normal como a política burguesa do Brasil - disse o candidato.

Ex-petistas também sobem o tom contra a legenda

Na reunião, que contou com a presença dos imortais Cícero Sandroni, Candido Mendes e Murilo Melo Filho, entre outros, estavam ainda alguns ex-petistas, como o deputado federal Chico Alencar (PSOL), que também subiu o tom contra a legenda:

- O que aconteceu com o PT foi a peemedelização (referência ao PMDB). O velho PT não volta mais.

Candido Mendes completou:

- O PT acabou como liderança, mas não podemos negar as melhorias no Brasil.

No fim, Plínio falou sobre a sua plataforma de governo:

- Queremos discutir o outro lado da realidade brasileira, como educação, saúde e violência. Acredito que possa haver uma mudança profunda na sociedade. Isso começa com uma forte redistribuição de renda, que se inicia com uma reforma agrária radical.

Jungmann e a sua “Tribuna 232”

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O candidato chegou antes, o caixote, trinta minutos depois. Com os dois na Praça da Independência, no centro do Recife, teve início ontem o primeiro comício do candidato ao Senado pela coligação Pernambuco pode Mais, Raul Jungmann (PPS), que cumpriu o prometido de falar sobre um caixote, a Tribuna 232. Ele foi recebido pelo frevo Voltei, Recife, de Luiz Bandeira, que marcou em 1990 a campanha eleitoral de Joaquim Francisco, então no PFL.

“Usar caixote não foi ideia de Eduardo Campos, em 2006”, lembrou Jungmann. “Eu mesmo fiz vários em cima deles”, justificou, sempre ao lado de sua inseparável suplente, a vereadora Aline Mariano (PSDB). O frevo partiu de um carro de som, placas KGS-6847, com adesivo do vereador Gilvan Cavalcanti. Cerca de 50 pessoas, entre militantes e populares, cercaram o candidato. Ao fundo, a estátua pensativa do poeta Carlos Pena Filho.

A princípio inseguro se o caixote suportaria seus 105 quilos, Jungmann, mais seguro, falou sobre o que espera da campanha: “Talvez o desejo oculto do governador Eduardo Campos (PSB) seja uma campanha mais agressiva, mas de nossa parte ficaremos com três metas: a verdade, a verdade e nada mais que a verdade, e isso basta. Eduardo segue o comportamento da Dilma (Rousseff), que se recusa a participar de debates, mas ele tem capacidade de fazer um bom debate para ajudar o eleitor”, previu.

Ainda sozinho, sem a presença da chapa majoritária e sem contar com panfletos e camisetas com seu nome, Jungmann teve de fazer o papel de conciliador para conter a fúria verbal do candidato a deputado federal Marlos Porto (PPS), que contestava, aos berros, as acusações de um morador de rua que acusou “todos os políticos” de “corruptos” porque não recebeu o que pediu: uma quentinha. “Não estamos aqui para distribuir ajuda, não é nossa obrigação no momento. Onde está o Fome Zero? O Bolsa Família?”, questionou o candidato que, a cada pedido de Jungmann, elevava mais a voz. “Menos, Marlos, menos”, pediu Raul. “Não faça isso, Marlos”. Porto só interrompeu o discurso contra o governo Lula quando ganhou um microfone para desabafar diante da câmera da produtora que acompanha o PPS e recebeu ao final um fraternal abraço do candidato ao Senado.

Imitando um apresentador bem-humorado de programa de auditório, Raul apresentou, sobre o caixote e com microfone na mão, os candidatos do PPS e PMN. “Vamos ouvir o vereador da cidade do Cabo, Arimatéia, do PPS, palmas para ele”, pediu. Ou quando chamou Gustavo Rosas (PPS), candidato a deputado federal. “Atenção para as palavras do candidato, ele é médico”, frisou. Ao fundo, um casal passou diante do comício. “São todos iguais”, condenou o homem. “Ei, Dilson Peixoto, quero um emprego”, gritou um ciclista, confundindo Jungmann com o presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes, talvez por causa do bigode e cavanhaque.

Sem perceber que estava em comício errado, um grupo de segura-bandeiras de Pedro Eugênio (PT) juntou-se aos do PPS e PMN. O grupo só deixou a praça quando foi informado que a manifestação da Frente Popular de Pernambuco estava na Praça Maciel Pinheiro.

Jungmann estará, hoje, às 16h, no Vasco da Gama e, às 19h, no PSDB, para encontro com mulheres.

Tucano ironiza a adversária

DEU NO ESTADO DE MINAS

Juliana Cipriani

A estratégia da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) de reforçar em sua campanha ao Palácio do Planalto a origem mineira foi ironizada ontem pelo candidato tucano, José Serra, em visita a Belo Horizonte, onde ele se disse um amigo de Minas Gerais. Acompanhado do ex-governador Aécio Neves e dirigentes do PSDB estadual, Serra disse conhecer bem a realidade do estado e desafiou a adversária a comparecer a um debate sobre o assunto. Agora, sou paulista. Não me apresento como sendo de dois estados ao mesmo tempo, porque não sou. Quanto à candidata, ela nasceu aqui, mas, na verdade, vive no Rio Grande do Sul há muitas décadas, afirmou.

O interesse dos dois candidatos por Minas Gerais pode ser medido pela força do eleitorado, segundo maior do país, que pode fazer a diferença nas urnas. Serra negou que haja pouco empenho dos mineiros em sua campanha, mas deu mostras de que será pró-ativo na hora de reforçar os laços com o estado. Tenho vindo o tempo inteiro e me considero semimineiro, porque tenho uma fronteira grande com Minas. Sempre fiz política aqui na época de estudante, aprendi aqui. Conheço bem os problemas de Minas e sei da importância que o estado tem para o Brasil, afirmou Serra.

O candidato se propôs a discutir propostas para o estado com a principal adversária. O que quero é ter debates a respeito dos problemas de Minas. Gostaria inclusive de ter um com ela, seria interessante, fazer um debate em Minas.

Em entrevista ao programa TV Verdade, Serra falou ainda dos laços com Aécio Neves, que encerrou seu mandato para se candidatar ao Senado com mais de 80% de aprovação. Serra disse ter sido convidado a elaborar o programa de governo do então candidato à Presidência, Tancredo Neves, época em que conheceu o neto Aécio. Lembrou que os dois também foram constituintes e atuaram juntos no Legislativo e fez afago no mineiro, que perdeu para ele o posto de candidato a presidente pelo PSDB. Olha que fui muito bem aprovado em São Paulo, mas ele foi ainda mais em Minas, disse.

METRÔ

Durante o programa, Serra afirmou que desde que foi ministro do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso, quando Eduardo Azeredo governava Minas, ambos do PSDB, não há investimento no metrô da capital. O tucano disse ter feito seis quilômetros do trem de superfície. A partir dali, nenhum metro a mais foi feito, afirmou.

O ex-governador Aécio Neves reforçou as críticas e disse que Dilma, quando ministra da Casa Civil, não priorizou Minas Gerais. Não vou dizer que prejudicaram Minas Gerais, mas é fácil perceber que, diferentemente de outros estados, não tivemos aqui grandes investimentos. Questões para nós estruturais, como o metrô, a ampliação do nosso aeroporto, não tiveram a prioridade que gostaríamos do governo federal. Obviamente, a quem cabia a coordenação dessas ações também não houve essa priorização, afirmou.


PSB propõe resgatar o que Dilma retirou de programa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

João Domingos / Brasília
O PSB entregou ontem à candidata do PT, Dilma Rousseff, proposta para ser incorporada a seu programa de governo que contém vários pontos polêmicos. O partido do deputado Ciro Gomes (CE), obrigado a desistir do páreo para apoiar Dilma, prega a taxação das grandes fortunas, o fortalecimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), atuação no mercado de câmbio e prioridade estratégica para o programa nuclear.

A proposta de taxação das grandes fortunas foi apresentada pelo PT no primeiro programa de governo registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 5, mas acabou retirada sete horas depois, quando o texto, considerado radical, foi substituído por outro, mais ameno.

No projeto entregue a Dilma, sem a presença de Ciro, o PSB diz que a candidata deve reconhecer o atraso na promoção da reforma agrária e compreendê-la como necessidade histórica. A candidata defendeu o diálogo com os movimentos sociais e disse que o MST não pode ser criminalizado.

"Não podemos tratar o movimento social como se fosse caso de polícia", comentou Dilma. "Quando alguém comete ilegalidade, é absolutamente imprescindível que se tome providências, mas é injustificável que o movimento social seja reprimido ou recebido a bordoada."

Para a taxação das grandes fortunas, o PSB defende uma reforma tributária progressiva. O partido criticou a política macroeconômica do governo, dizendo que ela foi bem-sucedida na maioria de seus aspectos, mas ainda não abordou de forma consequente os patamares da taxa de juros e do serviço da dívida do setor público. Por isso, o PSB pregou juros diferenciados quando destinados a investimentos.

Os socialistas consideram, ainda, que é importante o fortalecimento das estatais e dos bancos públicos. Segundo o texto entregue a Dilma, "essas relíquias jurássicas, como são classificadas pela social-democracia tucana", renderam ao País, no ano passado, R$ 52 bilhões de dividendos.

Fato relevante, de acordo com o PSB, é a necessidade de consagrar a eleição da cibernética, do programa espacial e do programa nuclear como prioridades estratégicas de um futuro governo Dilma. Sistemas relativos tanto ao programa espacial quanto ao programa nuclear, de acordo com o partido, continuam sendo administrados sem especificidades pela "perrenguinchada máquina burocrática, em seus diversos escalões". / Colaborou V.R.

Minas sinaliza ser Serra, Uai!

DEU NO BLOG PITACOS

As montanhas mineiras começam a se mover e em favor dos tucanos. O Instituto Sensus – insuspeito por ter íntimas relações com Clésio Andrade, do PR e suplente do petista Fernando Pimentel - divulgou uma pesquisa na qual Serra está à frente de Dilma, ainda que em situação de empate técnico. Eis os números:

Serra: 35,5%

Dilma: 34%

Marina: 9,2%

É um claro indicativo de que começou a pesar a liderança de Aécio Neves nas Alterosas e que parte dos seus eleitores já identifica Serra como o candidato de Aécio.

Mina começa a ser varrida por um vento pró-tucano, que já aparece na disputa estadual. O avião de Hélio Costa embicou para baixo e o de Anastasia – o candidato de Aécio ao governo do Estado – está ascendente. Em um mês, Hélio Costa perdeu mais de 6% das intenções de voto. Anastasia cresceu 1%. Na situação mineira, pode-se falar em início da reversão. Por enquanto o candidato do condomínio PMDB-PT ainda ganharia a eleição no primeiro turno, pois tem 43,4% enquanto o candidato de Aécio está com 21,5%.

Hélio Costa é famoso por sempre sair na frente nas disputas eleitorais, nadar, nadar e depois morrer na praia.

Olho no Pará

Vamos dar uma dica. A qualquer momento pode surgir uma notícia péssima para Dilma: a liderança de Serra no Pará.

O tracking tucano vem apontando, há alguns dias, que Serra está à frente de Dilma, na preferência dos eleitores paraenses.

Existem duas explicações: a governadora Ana Júlia Carepa fez uma gestão controvertida – para não dizer desastrosa. Ela conseguiu a proeza de levar Jáder Barbalho a fazer uma aliança tácita com o candidato do PSDB ao governo do Estado, Simão Jatene. É pule de dez que o PMDB paraense não se empenhará na candidatura de Dilma.

A liderança de Serra no Pará, caso se mantenha, poderá neutralizar em parte a expressiva frente de Dilma no Amazonas.

Está indo para o vinagre a versão comprada por muita gente boa, segundo a qual Dilma daria um passeio em Serra, em toda a região Norte.

Está aí o Pará, para não nos desmentir.

PSDB ameniza episódio e e lança ataque a petistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

Diante da ofensiva do PT contra as declarações de Índio da Costa (DEM), vice de José Serra (PSDB), os tucanos tentaram tirar o foco do assunto e partiram para o ataque anunciando medidas contra os principais adversários na campanha presidencial.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, coordenador da campanha tucana, pôs em prática a estratégia de criticar os petistas ao mesmo tempo em que tentava justificar as declarações de Índio da Costa ? que na sexta-feira disse que o PT tem ligação com o narcotráfico.

"O que está se discutindo são fatores de conhecimento público. É a relação do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). E as Farc se sustentam, em grande parte, com dinheiro do narcotráfico", declarou o senador.

Na avaliação de integrantes da campanha, no entanto, Índio avançou o sinal ao fazer a relação direta entre o PT e o narcotráfico. "O que o Índio diz é de responsabilidade dele", afirmou Guerra, acrescentando que o vice "falou por iniciativa própria".

Desde que foi escolhido candidato a vice, Índio tem dado declarações críticas em relação ao governo e à Dilma, orientado pela coordenação da campanha.

Acompanhado do vice-presidente executivo do partido, Eduardo Jorge, e do senador Álvaro Dias (PR), Guerra falou que o PT faz uma "operação política" ao anunciar o processo contra Índio, com o objetivo de "inverter as prioridades". "Estão fazendo barulho em torno de quase nada", completou.

Guerra anunciou que o PSDB vai entrar com uma representação na Procuradoria-Geral da República pedindo a investigação da denúncia publicada pela revista Veja no fim de semana.

Na reportagem, o ex-prestador de serviço do Palácio do Planalto Demetrius Felinto disse ter tido acesso às imagens que comprovariam que Dilma, então ministra da Casa Civil, recebeu a então secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para tratar de uma investigação sobre a família Sarney. A candidata do PT nega o encontro, e o Palácio do Planalto afirma não dispor mais das gravações do circuito interno de TV. À revista Felinto afirmou que as imagens existem.

"Onde estão essas imagens, quem são os responsáveis", questionou Dias. O PSDB já tinha recebido as denúncias de Felinto, por email enviado ao gabinete do senador. "Como ele recuou (das denúncias) no começo do ano, respeitamos", afirmou.

Tiroteio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO /PAINEL

O PT está partindo para uma atitude intimidatória, de mordaça, querendo calar as instituições e a oposição.

DO PRESIDENTE DO PPS, ROBERTO FREIRE, em resposta ao anúncio do PT de que processará o vice de José Serra, Indio da Costa, além de estudar ingressar no Conselho Nacional do Ministério Público contra a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, que apontou possível mau uso da máquina.

Procurador-geral: PT tenta intimidar Ministério Público

DEU EM O GLOBO

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, reagiu à ameaça do PT de processar a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, por esta ter dito que analisa ação contra o presidente Lula por suposto abuso de poder político em favor de Dilma. "É lamentável que qualquer partido tente intimidar a atuação legítima da instituição", diz nota assinada por Gurgel, para quem o MP continuará a cumprir sua "missão constitucional". Dirigentes de entidades do MP, da magistratura e dos advogados também reagiram com indignação à ameaça.

"É lamentável tentar intimidar"

Procurador-geral da República reage à ameaça do PT de processar procuradora

Isabel Braga e Carolina Brígido

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, chefe do Ministério Público, refutou ontem, em nota, a ameaça do PT de representar, no Conselho Nacional da instituição, contra a vice-procuradora-eleitoral, Sandra Cureau. Gurgel classificou a postura do partido como uma tentativa de intimidar o Ministério Público e avisou que os procuradores continuarão fiscalizando as eleições. O motivo do conflito foi declaração recente da procuradora criticando suposto uso da máquina pública, por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em favor da candidatura da petista Dilma Rousseff. Especificamente, a declaração dela de que Lula cometeu abuso de poder político ao citar Dilma como a principal responsável pelo projeto do Trem de Alta Velocidade entre o Rio e São Paulo.

"O Ministério Público tem exercido corretamente suas funções eleitorais, atuando adequadamente para o fiel cumprimento da lei eleitoral. É lamentável que qualquer partido político, que deveria estar preocupado em cumprir a lei, tente de forma equivocada intimidar a atuação legítima da instituição", diz a nota assinada por Gurgel, divulgada ontem à tarde, que prossegue: "O Ministério Público Eleitoral continuará a atuar com a firmeza que a sua missão constitucional impõe".

Procuradores do Ministério Público já foram alvo de ação do governo Lula, no primeiro semestre deste ano, quando contrariaram interesses do Planalto às vésperas do leilão da Usina de Belo Monte. O PT também já ameaçara processar um procurador paulista que atuou no caso do desvio de recursos da Bancoop.

"O presidente tem que dar exemplo"

Dirigentes de entidades do Ministério Público, da magistratura e dos advogados também reagiram com indignação à ameaça do PT. Para eles, a atuação do Ministério Público e da procuradora tem sido a de cumprir a lei eleitoral. Eles reforçaram a crítica de Gurgel de que a ameaça de representar contra Sandra é uma tentativa de calar a instituição.

O presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Mattar Jr., saiu em defesa da colega:

- Isso está me parecendo mais uma tentativa de intimidação do Ministério Público. O presidente da República não está acima de nenhum cidadão pelo cargo que ocupa. Ao contrário, tem de dar exemplo - disse Mattar Jr.: - O Ministério Público foi criado para fazer exatamente esse papel. Não se pode tentar intimidar um órgão que foi criado para fiscalizar as eleições. Isso não vale só para o PT, mas para todos os partidos.

Em comício para Dilma no Rio, na sexta-feira passada, o presidente Lula atacou a procuradora, sem citá-la:

- Há uma premeditação de me tirarem da campanha política para não permitir que eu ajude a companheira Dilma a ser presidente. Na verdade, o que eles querem é me inibir para fingir que não conheço a Dilma. É como se eu pudesse passar perto dela... Tem uma procuradora qualquer aí...

Durante todo o dia de ontem, procuradores eleitorais nos estados trocaram mensagens eletrônicas, pelo sistema da instituição, repudiando a atitude do PT e manifestando apoio a Sandra.

- A procuradora vem atuando dentro da estratégia que é a de toda a instituição. No portal fizemos uma nota: qual é o papel do MP dentro da eleição? É fiscalizar para evitar o abuso do poder político, do poder econômico. Temos que zelar pelo equilíbrio nas eleições - afirmou a procuradora eleitoral Silvana Battini, do Rio.

Presidente da Associação Brasileira dos Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais (Abramppe), o juiz Márlon Reis afirmou que os conselhos não existem para enquadrar politicamente integrantes do MP ou da magistratura.

- Não há nada que impeça qualquer membro do MP de dar entrevistas, de dar a devida publicidade às ações. Isso é normal dentro da democracia - disse Reis.

Para o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares, os partidos podem recorrer aos conselhos das instituições, mas não porque uma pessoa está cumprindo a função legal de fiscalizar e informar:

- Isso não é motivo. Ela pode externar suas opiniões e entrar com ação, se julgar que se está ferindo a lei. E quem julga não é ela, mas a Justiça.

O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, também criticou o PT.

Em março deste ano, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) criticou a atitude da Advocacia Geral da União (AGU) de protocolar representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra procuradores e promotores que obtiveram liminares que suspendiam o leilão da Usina de Belo Monte, uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Já para o ministro da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, o presidente Lula não fez campanha para Dilma ao citá-la no lançamento do edital do trem-bala, semana passada, em um ato oficial do governo. Ele considerou que a vice-procuradora eleitoral, Sandra Cureau, está fazendo o trabalho dela, mas também deverá chegar à mesma conclusão que a sua. Adams ainda lembrou que o governador de São Paulo, Alberto Goldman, também cita o candidato tucano, José Serra, em eventos oficiais.

Colaborou: Luiza Damé

PT levanta dados sobre Sandra Cureau

DEU EM O GLOBO

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, assumiu ontem tom mais cauteloso em relação à intenção de processar a vice-procuradora geral eleitoral, Sandra Cureau. Na véspera, Dutra havia sido enfático ao dizer que o partido tomaria ontem a decisão de entrar ou não com uma representação contra a procuradora junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Em seu Twitter, no fim de semana, Dutra chegou a afirmar que estavam coletando material sobre a atuação da procuradora. Ontem, ele disse que o caso ainda está sendo analisado com a área jurídica do partido.

Dirigentes petistas continuavam irritados com as declarações de Sandra Cureau e dispostos a enfrentar o desgaste político, mas estavam sendo aconselhados, inclusive por assessores jurídicos, a não o fazer. O que mais irritou o comando do PT foi a declaração da procuradora de que o presidente Lula deveria "fechar a boca".

Ontem, Dutra e o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), adotaram o discurso de que não se trata de uma "perseguição" ao Ministério Público. Segundo Dutra, o partido continua estudando o assunto.

- Neste momento, não temos elementos para nos manifestarmos sobre o assunto - desconversou Dutra.

Pouco depois, em entrevista às rádios, Dutra foi cauteloso:

- Isso não significa nenhuma afronta à instituição.

Na mesma linha, Cardozo disse que entrar com ação contra alguém não significa perseguição. Mas o PT continua coletando material sobre a atuação da procuradora. A tese daqueles que defendem uma ação junto ao CNMP é a de que Sandra Cureau não pode falar fora dos autos dos processos. E alegam que ela faz isso com frequência.

Os petistas acham que Sandra não poderia ter feito comentários sobre a atuação de Lula, em entrevistas à imprensa. Houve reclamações de que Sandra não citou o governador de São Paulo, Alberto Goldman, que também citou o candidato José Serra em vários discursos durante eventos oficiais.

No caso da atuação em si da procuradora, o PT ainda está fazendo um levantamento para saber se ela penderia para algum lado na disputa eleitoral. Mas ontem mesmo os dirigentes reconheceram que foi uma iniciativa da procuradora que resultou na multa de R$5 mil imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a Indio da Costa. O PT havia entrado com a ação, que foi arquivada por falha processual. Foi quando a procuradora assumiu a ação.

Mas há alguns petistas que estão preocupados, por outro lado, com o tom do presidente Lula, que, depois das críticas de Sandra Cureau, se referiu indiretamente a ela como "uma procuradora qualquer aí...". Segundo um dirigente, Lula já foi alertado, mas é "incontrolável".


Disposição para enfrentar polêmicas

DEU EM O GLOBO

Vice-procuradora é defensora da Lei da Ficha Limpa

Carolina Brígido, Isabel Braga e Roberto Maltchik
BRASÍLIA. Disposta a enfrentar polêmicas, Sandra Cureau começou a ganhar projeção nacional quando desafiou os partidos políticos a ingressarem no Supremo Tribunal Federal (STF) com ações de inconstitucionalidade contra a Lei da Ficha Limpa. Disse, após a sanção da lei, que quem se dispusesse a tomar tal atitude enfrentaria um desgaste sem precedentes junto à sociedade.

- Vai bater de frente. Não que eu duvide, mas seria um péssimo negócio. Um partido que entrar contra a lei (na Justiça) entrará contra a sociedade.

Em junho, quando o TSE decidiu que a lei teria aplicação para as eleições deste ano, Sandra lembrou que o projeto nasceu da iniciativa popular:

- O projeto teve sua origem numa ideia de dar um basta a essas candidaturas de pessoas que não apresentam perfil para gerir recursos públicos, para representar a sociedade no Parlamento ou no Poder Executivo.

Sandra é engajada na causa ambiental, área na qual também já atuou no Ministério Público. Na internet, participa da campanha "Salve o Código Florestal". Seu gabinete é repleto de quadros de Organizações Não-Governamentais (ONGs) ambientais. Mas, nos sites de relacionamento, deixa claro que isso não implica nenhuma preferência política.

Sandra formou-se em Direito em 1970 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ingressou no Ministério Público em 1976. Trabalhou em Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Na capital gaúcha e na fluminense, atuou na área eleitoral. Em 1997, foi promovida vice-procuradora-geral da República.

Apesar da agenda cheia no Ministério Público, não é só o lado profissional que enche a vida da procuradora. Em páginas da internet, ela prefere falar de seus hábitos pessoais: conta que caminha, nada, pratica ioga, pedala, come sushi, sai com os amigos, viaja, dança e paparica os filhos e a neta. Gaúcha de Porto Alegre, Sandra tem um fraco pela música nordestina - gosta de Luiz Gonzaga e Geraldo Azevedo. Em um de seus sites, ela também cita um trecho de uma letra de Almir Sater, meio contraditório com o corre-corre da procuradora: "Ando devagar porque já tive pressa".

Do Rio Grande do Sul, guarda a paixão pelo Internacional - pendurou uma faixa do clube de futebol na porta do gabinete.

Serra sai em apoio ao vice e aponta ligação de PT e Farc

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Partido anuncia que vai processar Índio da Costa, que recua de afirmação sobre narcotráfico

O candidato do PSDB José Serra endossou parte dos ataques que seu vice, Índio da Costa (DEM) , fez ao PT.

Em Belo Horizonte, o tucano afirmou que o partido tem ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, mas não com o narcotráfico. Índio ligara o PT às Farc e ao tráfico.

"Isso [o elo do PT com as Farc] todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa. Apenas isso. Agora, as Farc são uma força ligada ao narcotráfico. Isso não significa que o PT faça o narcotráfico", afirmou.

A petista Dilma Rousseff acusou Serra de baixar o nível do debate eleitoral.

O PT anunciou que vai processar Índio da Costa e quer direito de resposta do PSDB. Ontem, no Twitter, Índio recuou da afirmação relacionada ao narcotráfico, mas indicou textos sobre o PT e as Farc.

Serra endossa vice e repete que PT tem elo com as Farc

Candidato e dirigente tucano evitam ligar partido de Dilma ao narcotráfico

No Twitter, candidato a vice suaviza as críticas; presidente do PSDB diz que estratégia petista é tentar "esconder Dilma"

Rodrigo Vizeu
DE BELO HORIZONTE
Bernardo Mello Franco
DE SÃO PAULO
Catia Seabra
ENVIADA ESPECIAL A DIVINÓPOLIS (MG)

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, endossou ontem a associação entre o PT e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), feita por seu candidato a vice, Indio da Costa (DEM), mas evitou referendar a ligação entre o partido e o narcotráfico, como o deputado havia feito.

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, também engrossou o coro de ataques ao partido de Dilma Rousseff.

"A ligação do PT é com as Farc", disse Serra, em Belo Horizonte. "Isso todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa. Apenas isso. Agora, as Farc são uma força ligada ao narcotráfico, isso não significa que o PT faça o narcotráfico."

Em São Paulo, Guerra também procurou caracterizar o ataque do vice como uma mera citação de notícias sobre a suposta ligação do PT com a guerrilha.

"O Indio disse o que a gente sabe: as Farc se sustentam com dinheiro do narcotráfico, e o PT é ligado às Farc. É um sócio incômodo que o PT tem", afirmou.

Pelo Twitter, o próprio Indio tentou suavizar o tom de suas declarações, feitas em bate-papo com tucanos na internet e noticiadas pela Folha no domingo.

"PT não faz narcotráfico. As Farc, sim", escreveu. Em seguida, o vice publicou links para duas reportagens de jornais colombianos vinculando o PT à guerrilha.

Na entrevista que deu origem à polêmica, o vice de Serra foi claro ao vincular o PT ao tráfico: "Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso", disse, na ocasião.

EXAGERO

Em conversa reservada com o ex-governador Aécio Neves, candidato do PSDB ao Senado por Minas Gerais, Serra admitiu que Indio exagerou nos ataques, mas argumentou que é preciso ultrapassar o episódio e tocar a campanha adiante.

Em público, ele procurou manter o tema das drogas na ordem do dia. Sem que fosse questionado, defendeu o combate ao crack e criticou o policiamento das fronteiras.

Serra insinuou que o PT usa a polêmica em torno da declaração de Indio para encobrir a violação do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, o que chamou de "uma coisa mais séria".

"É quebra de sigilo de tucanos como arma de baixaria eleitoral. É um crime muito grave", afirmou.

Diante do anúncio de processos contra o vice de Serra, Sérgio Guerra chamou o partido adversário de "campeão do mensalão", lembrou o escândalo dos aloprados e acusou Dilma de não ter opinião.

"A Dilma não tem a menor condição de liderar este país ou coisa nenhuma. O povo não é bobo. A ideia deles é: "Vamos esconder a Dilma e enganar o povo". Nós temos um candidato e um projeto. Eles têm uma fraude", afirmou o presidente tucano.

Ele mirou no ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que disse que Indio age "como idiota". "Qual autoridade ele tem para chamar alguém de idiota? Ele produz um Orçamento vergonhoso todo ano. Não vou dizer que a cabeça dele é grande e a inteligência é menor."

Os tucanos anunciaram que pedirão ao Ministério Público para apurar a suposta existência de fitas que registrariam encontro de Dilma com Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal.

Em agosto do ano passado, Lina disse ter sido pressionada ao investigar empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

'Ligação do PT é com as Farc', diz Serra

DEU EM O GLOBO

Ao comentar polêmica criada pelo vice, tucano diz que relação não significa que partido "faça narcotráfico"

Marcelo Portela, Marcos Tadeu* e Flávio Freire

BELO HORIZONTE e SÃO PAULO. Depois de se recusar na véspera a falar sobre a polêmica criada por seu vice, Indio da Costa, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, negou que o PT de sua principal adversária, Dilma Rousseff, esteja ligado ao narcotráfico, mas reafirmou a proximidade da legenda com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - que, por sua vez, estão ligadas ao tráfico de drogas na Colômbia.

- A ligação do PT é com as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, isso todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa. Apenas isso. As Farc são uma força ligada ao narcotráfico. Agora, isso não significa que o PT faça narcotráfico - declarou Serra, durante inauguração do comitê do PSDB no Centro de Belo Horizonte.

As declarações de Indio, em entrevista a um site tucano, causaram revolta no PT, que deverá entrar com duas ações contra o candidato a vice e uma contra o próprio PSDB. Serra evitou repreender Indio e ressaltou que a posição externada pelo vice é subjetiva, dando a entender que não deveria ser discutida na Justiça, como ameaça fazer o PT. Para Serra, o que deve ser levado ao Judiciário é a "prática de crime" por parte de petistas no episódio do dossiê supostamente elaborado por integrantes da campanha de Dilma contra tucanos.

- Os esclarecimentos do que disse, do que não disse, o próprio Indio da Costa o fará. Agora, nós estamos discutindo opiniões. Alguns podem gostar, outros não gostar. Tem uma coisa mais séria, que é quebra de sigilo, afronta à Constituição. Quebra do sigilo de tucanos, como arma para baixaria eleitoral. Essa questão precisa ser apurada, ser resolvida na Justiça, porque é um crime muito grave, como vários outros que têm sido praticados, cercando toda essa história de dossiê - disse Serra.

O tucano também criticou o PT por ameaçar fazer representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra a procuradora Sandra Cureau. Para Serra, os adversários tentam pôr a culpa em todos que possam tomar qualquer atitude contra a legenda:

- Em geral, quando eles (petistas) fazem algo ilegal, a vítima é a culpada. O PT faz uma coisa interessante. Quando pratica algo ilegal contra alguém, a vítima passa a ser a culpada. Quando é condenado pela Justiça, a Justiça passa a ser culpada. Realmente, é uma capacidade de metamorfose sensacional, mas que tem muito pouca credibilidade.

Serra também criticou a centralização do esforço eleitoral petista na imagem do presidente e classificou a posição adversária como "campanha de ninguém", já que Lula não é candidato à reeleição.

- O presidente que for eleito governará - ressaltou Serra, ao lado do ex-governador de Minas Aécio Neves, candidato ao Senado, e do candidato à reeleição ao governo, Antonio Anastasia.

Em São Paulo, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, disse que a relação de petistas com as Farcs "é de conhecimento público":

- Discutimos fatos de conhecimento público, todo mundo sabe da relação do PT com as Farcs. E todos sabem que as Farc têm relação com narcotráfico.

Há dentro do partido quem aposte que a associação do PT com as Farc pode prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff. Diante da repercussão, a ideia dos tucanos é dar mais espaço a Indio da Costa, evitando assim a exposição de Serra em temas delicados.

No domingo, Indio foi convocado para uma reunião em São Paulo, e teria recebido a orientação de afinar o discurso com o comando da campanha.

- Indio não recebeu orientação nenhuma do partido. O que Indio diz é de responsabilidade dele - disse Guerra, para quem o PT esta usando o episódio para aparecer de vítima.

- Eles querem passar a ideia de que estão sendo vitimizados, mas não somos nós (PSDB) que fabricamos dossiês nem andamos pelo subterrâneo. Os aloprados não estão no nosso partido nem participam da nossa campanha.

* Especial para O GLOBO

'Todo mundo sabe' da ligação do PT com as Farc, diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tucano salientou que relação não significa que partido tenha vínculos com o narcotráfico

Eduardo Kattah

BELO HORIZONTE - O presidenciável tucano José Serra afirmou nesta segunda-feira, 19, em Minas Gerais, que "todo mundo sabe" da ligação do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas salientou que isso não significa que o partido tenha vínculos com o narcotráfico.

Ao participar de inauguração de um comitê no centro de Belo Horizonte, Serra foi questionado sobre as declarações de seu vice, Índio da Costa (DEM). Em uma entrevista gravada em vídeo e publicada no site do PSDB, Índio disse: "Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". O vídeo foi retirado do ar.

Apesar de dizer que os esclarecimentos cabem a Índio, o candidato tucano endossou o vice no que se refere às ligações das Farc com o Partido dos Trabalhadores. "A ligação do PT com as forças armadas revolucionárias colombianas, isso todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa. Apenas isso. Agora, as Farc são uma força ligada ao narcotráfico. Isso não significa que o PT faça o narcotráfico."

Serra também comentou a possibilidade de o PT entrar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra a subprocuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau. O tucano ironizou, afirmando que o PT, de forma recorrente, busca culpados "quando fazem algo ilegal". "Tem sempre essa novidade. Em geral, quando eles fazem algo ilegal, a vítima é a culpada", afirmou, evitando, contudo, críticas diretas ao presidente Lula.

Na mesma linha do discurso de Serra, Índio escreveu em seu Twitter nesta segunda que o "PT não faz narcotráfico. As Farc, sim". Ele também divulgou links de reportagens que comprovaria essas ligações. Segundo fontes do DEM, o deputado estaria em São Paulo para reuniões com a coordenação da campanha. A polêmica sobre o PT e as Farc seria um dos assuntos da pauta.

Reações

As declarações do vice de Serra geraram reações no PT, que prometeu ações contra Índio e o PSDB, e no governo. O ministro do planejamento, Paulo Bernardo, chegou a classificar o comportamento de Índio como o de "um idiota".

Em entrevista coletiva no início desta tarde, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que o partido vai entrar com uma ação criminal e uma ação civil por danos morais contra Índio e uma ação eleitoral contra o PSDB, já que o site do partido divulgou as declarações do deputado. Não foi descartada uma ação civil contra os tucanos, caso o partido não se manifeste através de uma desautorização ao vice até o meio dia de terça-feira, 20.

O secretário-geral do PT, José Eduardo Martins Cardoso, declarou que "em relação à ação eleitoral, obviamente é o PSDB o responsável pelo conteúdo do site". Se o PSDB não se pronunciar contra o que o deputado disse, vamos entender que há uma concordância do PSDB com a fala do deputado Índio", acrescentou Cardoso

Dutra, seguiu o mesmo discurso: "Não vou fazer qualquer ilação sobre os motivos que o levaram a fazer tal declaração", disse. "Ele fez afirmações categóricas de que o PT é cúmplice do narcotráfico", finalizou.

Bernardo, por sua vez, aproveitou as declarações para desqualificar o vice de Serra. "O comportamento desse rapaz mostra que ele não está preparado. É uma pessoa despreparada", criticou Bernardo. O ministro também procurou usar o episódio para atacar a candidatura tucana. "E é ruim para o candidato da oposição colocar uma pessoa que se comporta como um idiota, porque, francamente, o comportamento dele é de idiota", concluiu.

Constrangimento

De acordo com o advogado do PT, Pierpaolo Bottini, a expectativa é de que a legenda dê entrada ainda nesta segunda aos pedidos de abertura de ação penal contra o parlamentar por injúria e difamação. O advogado informou que a legenda deve pedir ainda direito de resposta às declarações do candidato a vice.

Embora o site Mobiliza PSDB tenha retirado do ar o vídeo no qual Índio ligou o PT às Farc, é possível assistir a íntegra da entrevista pelo YouTube.

De acordo com fontes no DEM, o deputado desembarcou nesta segunda em São Paulo para uma reunião com a cúpula da campanha. Mesmo aliados da campanha do PSDB admitiram que Índio da Costa errou a mão nos ataques feitos ao PT e à Dilma. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, preferiu se esquivar do assunto. Disse que preferia se manifestar depois de conversar com o vice de Serra.

Segundo um dos coordenadores da campanha do presidenciável tucano, as declarações são resultado da falta de experiência do deputado: "O Índio é um pouco inexperiente, pode dar algumas bolas foras no começo, mas conforme a campanha for avançando, ele vai acertar o discurso."

Questionado se será necessário enquadrar o candidato a vice, o tucano classificou o episódio como "parte natural da campanha". "O assunto (a ligação das Farc com o PT) sempre volta porque o PT nunca mostrou disposição em esclarecer essa relação", acrescentou.


(Com informações de André Mascarenhas, Gustavo Uribe, Rafael Moraes Moura e Rodrigo Alvares)

Serra diz em Minas Gerais que PT tem ligação com as Farc



'Isso todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa', afirmou.

Tucano ressalvou que isso não significa que 'PT faça o narcotráfico'.

Do G1, em São Paulo*


Serra e Aécio inauguram comitê em Belo Horizonte

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, disse nesta segunda-feira (19), durante evento de campanha em Belo Horizonte, que o PT tem ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

"A ligação do PT é com as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas. Isso todo mundo sabe, tem muitas reportagens, tem muita coisa. Apenas isso. Agora, a Farc [sic] é uma força ligada ao narcotráfico. Isso não significa que o PT faça o narcotráfico", disse.

Serra deu as declarações ao comentar os ataques feitos por seu candidato a vice, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ), ao PT. Na sexta (16), em declaração para o site da campanha tucana, Indio relacionou o partido às Farc e ao narcotráfico.

"Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso", disse o deputado na ocasião. No mesmo dia, ele publicou no Twitter críticas à candidata Dilma Rousseff, chamando-a de ateia “esfinge do pau oco”. Nesta segunda, o candidato a vice postou no Twitter a seguinte mensagem: "PT não faz narcotráfico. As Farc, sim."

O PT anunciou que vai entrar com três ações na Justiça, nas esferas criminal, civil e eleitoral, por conta das declarações de Indio.

Após as declarações de Serra, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, escreveu em seu perfil no Twitter que o tucano "faz jogo de palavras para evitar processo". Disse ainda que Serra não consegue esconder "a falta de propostas da sua candidatura."


*com informações da Globo Minas e da CBN

Partido criou Foro de São Paulo, em 1990

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PARA LEMBRAR

A conexão do PT com as forças guerrilheiras da Colômbia, mais conhecidas pela sigla Farc, se evidenciou no Foro de São Paulo, criado em 1990 por iniciativa de Luiz Inácio da Silva, após um encontro com o então presidente cubano Fidel Castro, que falou da necessidade de promover encontros de partidos e organizações de esquerda na América Latina.

As Farc, que agem à margem dos processos da democracia liberal, propondo a derrubada do regime colombiano pelas armas, participaram da fundação do foro ao lado do PT - o que acabou despertando suspeitas sobre o partido.

Em 2008, a revista Veja publicou um dossiê, com vários documentos, principalmente troca de mensagens escritas, que supostamente provariam a existência de contatos entre integrantes do governo Lula e as Farc. O PT e o governo desmentiram. Mas o assunto nunca foi completamente enterrado.

Grupo surgiu em 1964 para lutar por regime leninista

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Cenário: Roberto Lameirinhas

Mais antiga guerrilha esquerdista em atividade na América Latina, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) foram fundadas em 1964, como o braço armado do Partido Comunista Colombiano. No mesmo ano, iniciou sua campanha contra o Estado, com o objetivo de instalar no país um regime marxista-leninista. Em 46 anos, estima-se em mais de 200 mil os mortos do conflito - que envolveu, ao longo do período, outras guerrilhas, grupos paramilitares de extrema direita e milícias a soldo dos poderosos cartéis de narcotráfico colombianos.

Como força política, as Farc mantiveram vínculos com partidos e movimentos de esquerda de várias partes do mundo. Os laços com o Partido dos Trabalhadores, do Brasil, tornaram-se mais claros em 1990, quando o PT lançou o chamado Foro de São Paulo - que reúne grupos esquerdistas de vários países da América Latina e Caribe. Uma carta do então líder das Farc, Pedro Antonio Marín, também conhecido como Manuel Marulanda ou Tirofijo ("Tiro Certeiro", em espanhol), foi lida na abertura do evento.

Durante o apogeu dos cartéis de Cali e Medellín, na Colômbia, as Farc passaram a cobrar "imposto de guerra" sobre as atividades ligadas ao narcotráfico nas áreas que controlavam militarmente. No início dos anos 90, quando se estimava que a guerrilha dominava mais da metade do território colombiano, as Farc chegaram a ter 17 mil combatentes, segundo cálculos do governo de Bogotá. A polícia colombiana tem evidências de que, a partir desse período, a guerrilha passou a, além de cobrar impostos, vender serviços de segurança para as quadrilhas de narcotráfico. Com o desmantelamento dos cartéis, algumas frentes das Farc teriam assumido o controle total no negócio das drogas - o que lhe permitiria autofinanciar-se.

Em 2002, porém, o presidente Álvaro Uribe chegou ao poder com a promessa de debilitar a guerrilha - que passava a se dedicar mais ao tráfico e aos sequestros destinados à cobrança de resgate. Com isso, as Farc passaram a figurar na lista de organizações terroristas da Colômbia e dos EUA. Uribe tem hoje a guerrilha cercada e restrita às suas bases na selva. Seus combatentes, estima-se, não passam de 7 mil.

Limites do Amor :: Affonso Romano de Sant'Anna


Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.