segunda-feira, 4 de julho de 2011

Opinião – Rubens Bueno: Crise no Ministério do Transporte

Diante das gravidades das denúncias, a presidente Dilma Rousseff deveria seguir o exemplo do ex-presidente e senador da república, Itamar Franco, e afastar o ministro, alé de demitir todos os subordinados envolvidos. É necessário apurar cabalmente todas as denúncias feitas pela revista Veja. Com essa resposta, Dilma daria ao pais a dimensão do cargo que exerce e acabaria definitivamente com o conceito petista de que, por ser companheiro, nada acontece. A medida serviria de exemplo e mostraria aquilo que não deve acontecer em uma gestão pública, quanto mais a federal.

Rubens Bueno, deputado federal e líder do PPS na Câmara

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Brasileiros compram mais imóveis no exterior
Crise no Dnit ameaça ministro dos Transportes
Ex-presidentes se despedem de Itamar

FOLHA DE S. PAULO

Saúde perde R$ 12 bi por maquiagem de Estados
Ao menos 30 mil vão ao velório de Itamar em Minas
Irregularidades estão no 'DNA do Dnit', diz ministro
Ministro do STF defende a criminalização da homofobia

O ESTADO DE S. PAULO

Projeto reduz rombo da Previdência pela metade
Corpo de Itamar será cremado hoje
Escândalo pode derrubar ministro dos Transportes
Abílio quis rediscutir acordo com Casino

VALOR ECONÔMICO

Captações externas batem recorde
Conselho do Carrefour aprova fusão
Memória
Mudanças nas taxas de mineração
Dilma pode passar BNB e Basa para Ministério da Integração

ESTADO DE MINAS

União e lágrimas no adeus a Itamar

CORREIO BRAZILIENSE

Brasileiros correm para comprar imóveis em Miami
Ex-presidentes dão adeus a Itamar Franco
Ministro dos Transportes com o cargo por um fio
Inadimplência faz o DF perder verbas da União

ZERO HORA (RS)

Suposto esquema fragiliza ministro dos Transportes
O que muda no ato de prender

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Autoridades e populares lotam o velório de Itamar

Crise no Dnit ameaça ministro dos Transportes

O afastamento de assessores da cúpula do Ministério dos Transportes após denúncias de irregularidades abriu nova crise no governo, agora com o PR. A presidente Dilma determinou que os afastados, inclusive o diretor do Dnit, não reassumam. O ministro Alfredo Nascimento pode ser o próximo a cair

Sinal amarelo nos Transportes

Denúncias de corrupção na pasta ameaçam cargo do ministro Alfredo Nascimento

Fábio Fabrini, Roberto Maltchik e Cristiane Jungblut

Combalido com o afastamento de dois assessores de confiança do gabinete, envolvidos em suspeitas de superfaturamento bilionário em obras e cobrança de propina no Dnit, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, está com o cargo por um fio e, hoje, pode ter seu "dia D" num encontro com a presidente Dilma Rousseff. Segundo fontes do Planalto, a presidente decidiu mantê-lo, por ora, porque nenhuma prova cabal de seu envolvimento no suposto esquema ainda veio à tona. A demissão poderia aprofundar a crise com outro partido aliado, o PR, ao qual Nascimento é filiado.

- O que ainda sustenta o Nascimento é o PR . Ele só não caiu junto com os outros quatro porque não tem uma prova cabal contra ele - disse um ministro que acompanha o caso.

Nascimento tinha encontro agendado com Dilma amanhã, mas sua situação se agravou com a publicação de denúncias que a presidente já conhecia, e os dois devem conversar ainda hoje. No fim de semana, ele foi chamado, às pressas, a Brasília.

Dilma realmente se queixou de preços

No sábado, conversou com Dilma por telefone, quando ela determinou o afastamento de seu chefe de gabinete, Mauro Barbosa, o assessor do ministério Luiz Tito Bonvini, o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, e o presidente da estatal Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, ligado ao deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário geral do partido que renunciou ao mandado para não ser cassado no mensalão.

Um ministro ouvido pelo GLOBO informou que o afastamento é definitivo e que os quatro não devem retornar aos cargos. Esse interlocutor do Planalto disse que Dilma tem uma lista detalhada das obras, dos aditivos feitos e dos problemas nos preços que levaram o ministro a pedir um aditivo de cerca de R$10 bilhões para as obras do PAC. A lista foi mostrada por Dilma na reunião que teve com Nascimento. Fontes do Planalto confirmaram que Dilma se queixou dos preços na reunião, como mostrou a "Veja".

Além de desagradar ao PR , outra dificuldade de Dilma para demitir Nascimento é que o senador João Pedro (PT-AM), seu suplente, é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, o PR tentou reduzir a pressão sobre suas principais figuras. O secretário-geral Valdemar Costa Neto divulgou nota tentando desvincular o PR dos investigados e afirmando que o partido apoia as investigações. Valdemar disse que "ninguém está autorizado a discutir qualquer contrato público, em nenhum lugar, em nome do PR. Portanto, caso haja esta ocorrência, tal conduta é criminosa e não diz respeito ao PR".

Valdemar é ligado ao diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, um dos afastados por Dilma. Já o senador Blairo Maggi (PR-MT) é ligado ao diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Na nota, Valdemar avisou que processará a "Veja": "A Executiva Nacional do PR apoia a decisão que instaurou sindicância para, no menor prazo possível, ficar provada a inocência dos republicanos afastados, lhes garantindo pleno direito de defesa."

A insatisfação não é apenas no Planalto. A oposição disse que o afastamento temporário de quatro representantes da cúpula dos Transportes não é "suficiente" e pretende convocar, no Senado, o ministro Alfredo Nascimento e o diretor-presidente do Dnit, Luiz Antonio Pagot, afastado. No Senado, há chances da retomada de uma antiga proposta do PSDB de abertura de CPI, já que aliados do governo poderiam aderir ao pedido. Na Câmara, o PSDB quer convocar o ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage. E discutir a abertura de CPI.

Interlocutores de Dilma deixavam claro que o afastamento foi uma forma amena de dispensar, em definitivo, os auxiliares do ministro. Dilma não estaria disposta a reincorporá-los. A presidente já estava incomodada com os rumores de superfaturamento em obras de rodovias e ferrovias.

- A reação enérgica e imediata de Dilma é uma sinalização de que o estilo Lula já passou - diz um ministro.

De acordo com a "Veja", em reunião no dia 24 com a cúpula dos Transportes, a presidente Dilma reclamou dos preços "inflados" de obras, que estariam inviabilizando seu governo. Em troca de sucesso em licitações, garantia de superfaturamento e aditivos contratuais, nomes do partido cobrariam de 4% a 5% do valor das faturas recebidas.

O líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), defendeu, no velório do ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG), rigor nas apurações.

- Quem cometeu o crime tem que pagar pelo que cometeu. Tem que investigar tudo. Espero que entrem com os encaminhamentos necessários para que os responsáveis respondam de forma contundente à sociedade.

Na oposição, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que apresentará hoje requerimento junto à Comissão de Infraestrutura, pedindo a convocação de Nascimento e de Pagot. O tucano irá ver se é possível ressuscitar o pedido de abertura de uma CPI do Dnit:

- O afastamento não é suficiente. É tardio, porque as denúncias sobre o Dnit são antigas, há até uma CPI proposta no Senado. Vamos pedir a retomada dela. E vou requerer a convocação do ministro e de Pagot.

Na Câmara, o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), pedirá investigações do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU).

- Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas. Estamos avaliando se é o caso de pedir CPI - disse Duarte Nogueira.

FONTE: O GLOBO

Escândalo pode derrubar ministro dos Transportes

O envolvimento da cúpula do Ministério dos Transportes em suposto esquema de propina enfraqueceu o ministro Alfredo Nascimento, que pode perder o cargo. No sábado, quatro de seus principais auxiliares já foram afastados

Denúncia de corrupção ameaça ministro dos Transportes e abre nova crise na base

Demissão de 4 integrantes da cúpula da pasta no fim de semana, a mando de Dilma, após reportagem da "Veja" ter denunciado esquema de propina, fragiliza Alfredo Nascimento e aumenta tensão com o PR, que controla o setor; oposição já sugere CPI

Denise Madueño e Rosa Costa

BRASÍLIA - O afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes por suspeita de corrupção pela presidente Dilma Rousseff no final de semana deixou o ministro Alfredo Nascimento (PR) em posição insustentável no comando da pasta, na avaliação de aliados do Planalto. A queda do ministro é esperada em breve por governistas e a oposição avalia a apresentação de um pedido de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso.

A rapidez com que Dilma atuou no episódio levantou ressentimentos na base. Parlamentares aliados previam, ontem, dificuldades futuras para a presidente na relação com os partidos que a apoiam no Legislativo. Eles sustentam que a presidente humilhou o PR, que comanda o Ministério dos Transportes, e fragilizou a confiança com a base pela forma com que agiu.

Dilma anunciou o afastamento assim que a revista Veja começou a circular com a denúncia sobre um esquema de cobrança de propinas na pasta, na manhã de sábado, sem dar chance ou prazo para explicações ao ministro Alfredo Nascimento. Esses fatos, avaliam governistas, revelam que Dilma já pretendia fazer mudanças no ministério e aproveitou a oportunidade.

Nos bastidores, as desconfianças com a presidente vão além. Setores da base afirmam não ter dúvidas de que as informações sobre o suposto esquema foram passadas à revista por integrantes do próprio governo.

Reportagem publicada pela revista revela um esquema montado nos Transportes baseado na cobrança de propinas de 4% das empreiteiras e de 5% das empresas de consultoria que elaboram os projetos de obras em rodovias e ferrovias.

Foram afastados pelo governo o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, o presidente da Valec Engenharia, José Francisco das Neves, o chefe de gabinete do ministério, Mauro Barbosa Silva, e o assessor Luís Tito Bonvini.

"Ao afastar, como fez, os suspeitos, a presidente legitimou as denúncias, que não traziam nenhuma prova. Ela criou uma oportunidade para a abertura de uma CPI", avaliou um deputado da base de Dilma. "A presidente vai ter uma crise política com o PR, que vai dar o troco."

Oposição. Ao mesmo tempo em que aplaudiu a atitude de Dilma, a oposição quer mais investigações. O PSDB avalia a criação de uma CPI. O líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), afirmou que vai entrar com um pedido de investigação no Ministério Público Federal, com um requerimento à Polícia Federal e com uma solicitação de auditoria especial para o Tribunal de Contas da União (TCU). Um requerimento de convocação do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, será apresentado nesta semana em uma comissão da Câmara.

"Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas", disse o tucano.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) cobrou a demissão do ministro Alfredo Nascimento junto com a equipe. "Será que ele não sabia? A ser verdade a diatribe contra o pessoal do ministério, a presidente tinha obrigação de demitir todos", disse.

O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO ), considerou que Dilma deu uma resposta imediata. "Espero que ela continue nesta linha", disse. "O ministro também deve entrar na linha de tiro da presidente. Torcemos para que o surto moralizador vá adiante", completou.

SUCESSÃO DE PROBLEMAS

Após a 1ª queda no ministério, nova articulação

Queda
Com a saída de Antonio Palocci da Casa Civil, Dilma refez a articulação política com Ideli Salvatti à frente do Ministério das Relações Institucionais

Pressão
Para agradar ao PMDB e evitar novas crises, Dilma confirmou o deputado Mendes Ribeiro, do PMDB-RS, como líder do governo no Congresso

Tensão na base
Quando testa a nova articulação política, Dilma afasta 4 integrantes dos Transportes e abre novo foco de tensão na base aliada, desta vez com o PR

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Conselho do Carrefour aprova fusão

O conselho de administração do Carrefour na França aprovou ontem a combinação dos negócios com o Pão de Açúcar. Falta, porém, os sócios controladores do Pão de Açúcar, Abilio Diniz e Casino, se entenderem. O Carrefour quer que os dois sócios se reconciliem antes de levar as negociações adiante. Hoje, chega ao Brasil, Jean-Charles Naouri, presidente do Casino. Veio negociar - não com Diniz, mas com o governo. Quer enfraquecer a posição de Diniz, diminuindo o apoio político que recebeu.

Carrefour na França aprova fusão

Varejo: Espera-se para hoje convocação do conselho da Wilkes, controladora do Pão de Açúcar

Graziella Valenti

São Paulo - O conselho de administração do Carrefour na França aprovou ontem a combinação dos negócios com o Pão de Açúcar. Falta os sócios controladores do Pão de Açúcar, Abilio Diniz e Casino, se entenderem. O Carrefour também quer que os sócios se reconciliem antes de levar as negociações adiante.

A expectativa é que hoje seja feita a convocação da reunião de conselho da Wilkes, holding controladora que reúne Diniz e Casino, na qual cada um tem dois membros - sem voto de minerva. O Casino já afirmou diversas vezes que só debaterá a proposta de combinação com o Carrefour no conselho da Wilkes, por ser o "foro adequado" para a questão. Mas os representantes de Diniz dizem não acreditar em diálogo nessa reunião. Sua expectativa é que o Casino venha munido para uma batalha jurídica sobre o acordo de acionistas.

Jean-Charles Naouri, o CEO do Casino, chega ao Brasil hoje. Vem negociar - não com Abilio Diniz, mas com o governo brasileiro. No fim da tarde, deve encontrar-se com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

O empresário fundador do Pão de Açúcar também está se armando. Teme que o Casino peça a antecipação do acordo para obtenção já do controle. Diniz tem na manga três pareceres, sendo um deles de Sérgio Bermudes, de que não descumpriu o acordo com o sócio.

Tudo porque a proposta depende do aval do Casino e não há nenhum compromisso assinado entre Diniz e o Carrefour. Tudo, até o momento, foram tratativas sem vínculo definitivo.

A falta de consenso entre Diniz e Casino é tamanha que divergem até mesmo na leitura sobre os poderes políticos que cada um teria na complexa estrutura montada para a combinação de negócios com o Carrefour.

De um lado, os representantes de Diniz alegam que ele ficaria menor que o Casino. Já os franceses enxergam na estrutura uma forma de o empresário se igualar em poder de voto.

As mensagens do Casino são repetitivas: quer aquilo que já possui, o controle garantido. A partir de julho de 2012, pelo acordo atual, ele pode assumir o controle da rede brasileira. Porém, no modelo para a junção de Pão de Açúcar e Carrefour que está na mesa, sob nenhuma ótica, isso é possível. No máximo, há espaço para que o Casino tenha um pouco mais de votos do que Diniz.

No formato em questão, todos os acionistas atuais do Pão de Açúcar migram para uma nova empresa, chamada Novo Pão de Açúcar (NPA), formada apenas por ações ordinárias. É nessa companhia que BNDESPar e BTG Pactual aportariam capital, num total de R$ 4,6 bilhões.

Ao fim, Wilkes teria 20,5% de NPA, sendo o equivalente a 6,4% de Diniz e 14,1% do Casino.

Fora da holding, Diniz teria mais 10,5% de participação direta na NPA e o Casino outros 20,3% - após as compras em bolsa. O BNDES teria 18% e o BTG Pactual, 3,2%. Os minoritários em mercado somariam os demais 27,5%.

O estatuto de NPA limita o direito de voto a uma fatia de 15% do capital. Caso Wilkes seja dissolvida, uma vez que ela regula o controle do Pão de Açúcar, algo que deixaria de existir na nova estrutura, Diniz teria 17% de NPA e o Casino 34,4%. Nesse cenário, os sócios teriam o mesmo poder de voto, ao lado do BNDES - todos com 15%.

Porém, caso Wilkes seja mantida e o Casino assuma o controle da holding em 2012, o grupo francês teria o poder sobre o bloco de 20,5% do capital de NPA - que votaria com o limite de 15%. A participação direta não poderia ser usada para votar. Fora da Wilkes, Diniz possui apenas 10,5% do capital. Assim, nessa estrutura, o sócio francês ficaria com aproximadamente 50% a mais de poder político sobre Diniz.

O Casino, contudo, mantém o argumento de que não tem interesse em ser maior, sendo minoritário. Quer o controle. Diniz está disposto a sentar e negociar. Pode aceitar compor um novo acordo. Juntos agora Casino e Diniz somariam mais de 51% da NPA.

Uma nova negociação não estaria tão distante das pretensões de Diniz, uma vez que tem interesse em permanecer no comando do negócio por mais tempo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Aliados de Marina Silva adiam saída do PV para depois das eleições

Cristiane Agostine

São Paulo - A ex-senadora Marina Silva deve se desfiliar do PV nesta semana, mas não será acompanhada pelos parlamentares do partido. Com receio de perder o mandato, até mesmo o vice-presidente do partido, deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), um dos principais aliados de Marina, continuará na legenda para evitar que seu mandato seja cassado. Mesmo sem cargo no Legislativo, o ex-deputado Fernando Gabeira, fiador do ingresso da ex-senadora na sigla, também deve continuará no PV para disputar a eleição à Prefeitura do Rio, em 2012.

A insegurança jurídica sobre o mandato, com a possibilidade de cassação, fez com que parlamentares desistissem do desligamento da sigla. Sirkis afirma que deixará a vice-presidência e a presidência do diretório estadual do Rio de Janeiro, mas diz que "não poderá" sair do partido. "Tenho mandato, não vou arriscar", declara. "É uma saída burocrática", resumiu. "No nosso sistema político brasileiro, o eleitor vota na pessoa e não na legenda. Com isso, os partidos tornaram-se cartórios dominados por dirigentes. A crise do PV é a maior prova disso", analisa Sirkis. "O dono do cartório quer obrigar os filiados, os parlamentares a permanecerem no partido. Isso é opressivo, anti-democrático", opina.

O deputado federal Dr. Aluizio (RJ) diz que "não há outra saída" aos parlamentares, mesmo entre aqueles que contestam o atual comando partidário. "Quem tem mandato está em uma posição incomoda", comenta. " A lei é clara e diz que o mandato pertence ao partido, não ao eleito. Nossa alternativa é pressionar a direção por mudanças", afirma. " A democratização do PV é fundamental."

Na Câmara dos Deputados, o PV elegeu 14 deputados federais em 2012, um a mais do que na eleição anterior. A bancada, no entanto, já perdeu um deputado: Guilherme Mussi (SP) migrará para o PSD do prefeito Gilberto Kassab.

Marina deve anunciar a desfiliação do partido nesta semana, em evento a ser realizado na quarta ou quinta-feira. O grupo que sairá com ela será basicamente o mesmo que ingressou por influência da ex-senadora. Entre eles estão os empresários Ricardo Young e Guilherme Leal, o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo Capobianco, o ex-presidente do Ibama Basileu Margarido e o ex-deputado Luciano Zica. Ligado a Marina, mas filiado ao PV desde 2005, o ambientalista Fabio Feldmann deixou a sigla na semana passada.

Segundo aliados da ex-senadora, o desligamento desse grupo deve ter um impacto mais simbólico, da crise que o PV enfrenta, do que numérico. Os aliados de Marina são minoritários na sigla. "No partido nossa saída não vai mudar muito. O impacto maior será nos simpatizantes", comenta Luciano Zica. Para João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina, "não se trata de uma conta matemática". "Nossa intenção não é a de fazer um estrago no PV. Mas não nos resta outra alternativa a não ser deixar o partido. O PV mostrou que não é o espaço da política institucional que procurávamos. Ao contrário, é um partido fisiológico, sem nenhuma perspectiva de se modernizar", diz Capobianco.

A tensão no partido agravou-se em março, quando o grupo do presidente nacional do PV, deputado José Luiz Penna (SP), derrotou o de Marina e prorrogou seu mandato por mais um ano, adiando o processo de renovação da legenda. Penna preside o PV desde 1999. Desde então, os aliados da ex-senadora formaram a tendência Transição Democrática e tentaram mudar a escolha dos dirigentes no país. Todos os diretórios são comissões provisórias, nomeadas por Penna. O grupo, no entanto, não conseguiu mudar essas regras.

O grupo de Penna não se manifesta sobre a crise. Procurados, nem o presidente nem os dirigentes próximos a ele não retornaram aos pedidos de entrevista.

Os aliados de Marina planejam formar um novo partido depois das eleições de 2012 e já teriam o apoio de cerca de 30 parlamentares. No entanto, a decisão do Senado de punir com a perda de mandato quem sair de um partido e migrar para uma nova sigla deve atingir em cheio os planos desse grupo. "Hoje, a gente conseguiria atrair de 20 a 30 deputados e uns quatro senadores. Mesmo se a regra for aprovada, vai pegar só esse punhado de parlamentares", diz Sirkis. "Nós apostamos em uma base maior, da sociedade civil. Marina teve quase 20 milhões de votos. Conseguir 500 mil assinaturas para fazer um partido não vai ser difícil", afirma. A regra, aprovada pelo Senado na semana passada, ainda será votada na Câmara.

Antes de formar o novo partido, o grupo planeja reunir-se em um movimento chamado provisoriamente de Verdes e Cidadania.

VALOR ECONÔMICO

Ex-presidentes se despedem de Itamar

Cerca de 30 mil pessoas acompanharam o velório do ex-presidente Itamar Franco, em Juiz de Fora. Os ex-presidentes Sarney, Lula e Collor compareceram. Ilustres e anônimos destacaram a importância de Itamar para o sucesso do Plano Real. A presidente Dilma vai hoje à cremação

Ex-presidentes se reúnem em velório de Itamar

Lula, Collor e Sarney estiveram entre as 30 mil pessoas que se despediram do político cujo governo iniciou estabilidade

Fábio Brisolla

JUIZ DE FORA (MG) O velório de Itamar Franco reuniu o primeiro escalão da política brasileira. Diante do caixão de Itamar estiveram os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor. Eles chegaram ao mesmo tempo, no início da tarde de ontem. Lula veio no primeiro carro e foi ovacionado pelo público concentrado em frente à Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora, onde a cerimônia foi realizada. Depois, surgiu Collor, ao lado de Renan Calheiros, ambos vaiados. O vice-presidente Michel Temer representou a presidente Dilma Rousseff.

Até as 18h, segundo a Polícia Militar, cerca de 30 mil pessoas entraram na fila para dar o último adeus a Itamar. As duas filhas, Giorgiana e Fabiana, acompanharam a movimentação.

Temer ressaltou a importância do ex-presidente no processo que resultou na estabilidade da economia brasileira:

- Itamar Franco deixa um exemplo de dignidade, de coerência ao longo da vida, especialmente em matérias administrativa e política. Foi responsável por um dos atos mais importantes da História do país, que trouxe estabilidade em relação à inflação. Foi capaz e teve a coragem de lançar o Plano Real, que manteve o Brasil nos trilhos.

Enquanto Temer concedia entrevista diante da escadaria da Câmara, Collor e Sarney saíram sem dar entrevistas. Ao avistar os dois senadores, porém, o público reagiu com vaias e gritos de "Pega ladrão!". Minutos depois, Lula saiu pelo mesmo caminho. Foi aplaudido.

Visivelmente emocionado, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) falou com carinho de sua experiência ao lado de Itamar:

- Tratava-se de uma pessoa fantástica. Não há uma vírgula de algo que estivesse errado em seu governo e que ele não tenha tomado providências.

O senador relatou um episódio dos bastidores do governo. Após a saída de Collor, Itamar convocou uma reunião com líderes de todos os partidos e cogitou renunciar à Presidência caso fosse vontade da maioria.

- Ele disse que renunciaria ao cargo naquele momento se os líderes partidários julgassem que a melhor opção seria convocar nova eleição.

A presença de Collor foi vista com ironia por Simon.

- Não há no mundo dois pontos tão equidistantes como Itamar e Collor. Tirando o fato de eles falarem português, não há nada em comum entre eles.

Collor passou boa parte do velório, em silêncio, ao lado do senador Lindbergh Farias (PT - RJ), ex-líder estudantil que, na época, liderou movimento a favor do seu impeachment.

O senador Aécio Neves (PSDB - MG) não esteve no velório. Entretanto, na manhã de ontem, ele foi ao aeroporto da cidade para esperar o desembarque do avião que trouxe o corpo do ex-presidente.

- Fiz questão de receber, em solo mineiro, esse brasileiro que, como poucos, tanto honrou Minas Gerais. Itamar era singular. Uma ausência, uma lacuna que não será preenchida. Foi único no seu tempo. Sua retidão, sua dignidade pessoal, sua coragem em defender valores e princípios são um legado para as próximas gerações - afirmou Aécio.

O deputado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, comentou a presença de "ex-adversários ferrenhos" na homenagem a Itamar e reconheceu equívocos na oposição petista ao governo Itamar.

- Num momento de transição como aquele, era muito difícil para a esquerda imaginar que um pacote econômico pudesse produzir avanços como se notou depois com o advento do Plano Real.

O corpo do ex-presidente segue hoje para o Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, em Belo Horizonte, e depois será cremado. A presidente Dilma vai à cerimônia.

FONTE: O GLOBO

Itamar e a imprensa:: Mônica Gugliano

Era o primeiro fim de semana de Itamar Franco na Presidência da República, após o impeachment de Fernando Collor. No comitê de imprensa do Planalto, onde trabalham os jornalistas que cobrem diariamente a Presidência, havia um grande alvoroço. O presidente, que acabara de ser empossado no meio da crise institucional, prometera dar uma entrevista. Ninguém sabia exatamente quando. Seria uma coletiva ou ele falaria apenas com um veículo?

Imaginávamos que aconteceria naquele sábado. Até que no meio da tarde um dos nossos telefones tocou.

- O presidente está chamando a repórter do GLOBO (era eu), a repórter do "Estadão" e a repórter da "Folha" - disse um assessor, convidando-nos a subir ao 3º andar, onde fica o gabinete do presidente.

Gravadores e blocos na mão, subimos e esperamos alguns minutos na antessala. Logo, o presidente apareceu. Cumprimentou-nos e fugiu de nossas perguntas, dizendo que não daria entrevista. Meio sem entender o que iria acontecer, ouvimos o convite:

- Venham aqui comigo que quero mostrar-lhes uma coisa - convidou Itamar.

Seguimos o presidente por uma porta que, do gabinete, dava acesso a uma área reservada. Em segundos nos deparamos com um quarto reservado. Itamar comandou um tour pelas dependências mais íntimas do Planalto. Entrevista? Não.

Voltamos ao comitê de imprensa, ligamos para nossos chefes nos jornais, que aguardavam por notícias exclusivas, explicamos como fora o encontro - frustrante para quem esperava revelações sobre como seria o governo - e inauguramos, assim, o que seria a relação entre os jornalistas e o presidente Itamar Franco.

O presidente tinha secretário de Imprensa. Era o jornalista Francisco Baker. Mas seus verdadeiros porta-vozes estavam longe do Palácio. Eles eram a dona Raimunda, cozinheira em Brasília; Hélio, uma espécie de faz-tudo que preparava o melhor pão de queijo da República; seu Pedro, motorista, e dona Maria, que trabalhavam no apartamento de Itamar em Juiz de Fora. Telefonávamos para a casa do presidente quando queríamos falar com ele. Um deles atendia e passava o recado a Itamar. Com sorte, o presidente retornava, e tínhamos a manchete do jornal do dia seguinte.

A influência dos quatro ia muito além das opiniões e conselhos dos ministros do governo. Se dona Maria ou dona Raimunda, pela manhã, reclamava do preço dos medicamentos ou do aumento da conta de gás, era só esperar que chegasse a noite. Quase sempre por volta das 22h, ao sair do Palácio, por uma porta lateral que hoje já não é mais usada, Itamar parava, chamava-nos e anunciava singelamente:

- Estou pensando em tabelar os preços dos medicamentos...

Ou:

- Acho que devemos congelar o preço do gás...

Era um rebuliço. Saíamos correndo, ligando para nossos editores, que, traumatizados por congelamentos e outras maluquices econômicas dos nossos governantes anteriores, não sabiam se acreditavam ou não na informação. Afinal, ainda que ela viesse do chefe da nação, nunca era uma afirmação clara e, o tempo nos mostrou, quase nunca se confirmava.

Foi assim, também, em setembro de 1993. Recebi um telefonema dizendo que o presidente me convidava para tomar um café com ele no gabinete. Ele me recebeu na sala ao lado do gabinete, um pequeno escritório. Num dos cantos havia uma mesinha com copinhos e uma garrafa térmica dessas de apertar. Ele mesmo servia o café. Não era uma entrevista, disse ele. Era só uma conversa. No meio dela, sugeriu:

- O que você acha se eu antecipar as eleições previstas para o ano que vem?

Engasguei com o café e perguntei:

- Como assim? Para que antecipar as eleições? Falta um ano ainda...

Tranquilamente, ele continuou:

- Seria melhor. Fazemos uma consulta aos partidos e marcamos uma data. Qual data você acha melhor?

- Sinceramente, nenhuma - respondi.

Ele insistiu, e chegamos a uma data qualquer em dezembro de 1993. A conversa terminou, e ele me disse que, se eu quisesse, poderia publicar sua sugestão em off.

Meus chefes no jornal acharam melhor abrir mão do furo jornalístico. Até porque o tempo já nos havia ensinado a conhecer Itamar, uma pessoa, como ele mesmo gostava de se definir, "mercurial". E duas horas depois vimos que estávamos certos: ele mudara de opinião.

Nos dois anos em que ocupou o cargo mais importante do país, descobrimos um homem severo no trato das questões públicas. Não admitia a possibilidade de envolvimento com corrupção nem dele nem daqueles que o cercavam.

Mas era um presidente muito simples. Não gostava das viagens, da pompa, do glamour do cargo, e reivindicava que o tratássemos como um cidadão comum. Detestava o aparato de segurança que o cercava e reclamava muito da imprensa, que não lhe dava trégua. Apesar das queixas, buscava ser gentil com os profissionais que o acompanhavam. Dava-nos carona no avião presidencial, para que voltássemos mais rapidamente para casa, argumentando que passávamos muito tempo longe de nossas famílias.

Certa vez, convidou-me para viajar com ele a Buenos Aires. Eu havia contado a ele que minha avó morava lá. Era uma visita bilateral, e eu imaginava que o convite incluía uma entrevista exclusiva. O tempo de voo passava e nada de entrevista. Até que ele me explicou que não havia me convidado para trabalhar, e sim para que visitasse minha avó. Em pânico, com a vergonha que iria passar, depois de viajar com o presidente da República e não conseguir nenhuma informação, tentei convencê-lo de todas as maneiras a falar alguma coisa. Acabou respondendo a tudo que perguntei. Mas, antes, tive que jurar que no dia seguinte a primeira coisa que faria seria ver a minha avó.

Mônica Gugliano foi repórter do GLOBO durante o governo Itamar Franco e cobria o Palácio do Planalto

O verdadeiro segredo do sucesso do governo Itamar Franco::Jorge Bastos Moreno

Itamar Franco: dificuldades com PMDB e PT foram superadas pelo então presidente através da habilidade política

Pouco antes de assumir a Presidência da República, o então vice-presidente do PMDB, Itamar Franco, durante o processo de impeachment do presidente Collor, teve uma longa conversa com o deputado Ulysses Guimarães em Manaus, onde os dois, coincidentemente, passavam o fim de semana.

Eles estavam hospedados no hotel Tropical, onde estávamos eu e os jornalistas Luís Erlanger e Antônio Martins . Discreto e, nessas ocasiões, tímido, Itamar pediu a minha ajuda para marcar uma conversa com Ulysses.

- Eu tenho uma coisa muito grave para tratar com o dr. Ulysses. O Mino Carta (jornalista) me mandou um fax da entrevista do ACM à sua revista, dizendo que eu não assumo.

Respondi que ele, Itamar, com a autoridade de vice-presidente da República, não precisava de intermediário para falar com Ulysses Guimarães.

- Mas, quando precisei uma vez, você me ajudou -- insistiu.

- Sim, mas naquele momento eu era assessor de imprensa do candidato Ulysses Guimarães. Estou aqui na condição de repórter. Meu papel é o de registrar e não promover o encontro - respondi-lhe.

Na verdade, o encontro a que Itamar se referia, ainda na campanha, não chegou a acontecer. Ele me procurara para dizer que estava com sérios problemas como candidato a vice de Collor e que iria renunciar para apoiar Ulysses Guimarães. Corri ao então coordenador da campanha do PMDB, o falecido Renato Archer, para que ele articulasse o encontro. Foram dias de expectativas. Itamar sumiu e acabou não desistindo da candidatura.

Mas, em Manaus, a coisa era diferente, e, por causa disso, o próprio Itamar resolveu procurar pessoalmente Ulysses Guimarães. Com a colaboração do meu então editor Luís Erlanger, registrei o encontro para O GLOBO.

Itamar mostrou a entrevista de ACM a Ulysses e manifestou preocupação de o então governador da Bahia conseguir adeptos para a sua tese dentro do PSDB e do próprio PMDB. Ulysses o tranquilizou, dizendo que iria conversar com o senador Pedro Simon, que já tinha assumido informalmente as articulações pró-Itamar no Congresso Nacional.

Aprovado o impeachment de Collor, ao assumir a Presidência em seu lugar, Itamar teve outra conversa com Ulysses. O ex-presidente do PMDB defendeu a manutenção de Celso Lafer no Ministério das Relações Exteriores, à revelia deste. É que Ulysses era grande admirador de Lafer. Foi aí que Itamar revelou já ter escolhido Fernando Henrique Cardoso para a função.

E contou a Ulysses ter convidado Severo Gomes para o ministério, mas este recusou, alegando que sua condição de empresário, em litígio com o irmão que negociava empréstimos com bancos oficiais, impedia-o eticamente de integrar o governo.

- Dr. Ulysses, se todo político agisse como Severo, este país seria outro - disse.

Mas, na véspera de embarcar para Angra dos Reis e desaparecer no mar, Ulysses, por causa da formação do governo Itamar, teve uma discussão com o senador Pedro Simon.

- Ulysses, neste governo você não vai mandar, não! Itamar não é Sarney. Você está ultrapassado. Acho até que Collor tem razão - disse-lhe Simon.

Com o PT, Itamar também enfrentou sérios problemas, que mais tarde seriam reconhecidos por Lula, em depoimento a mim:

- Uma das coisas de que me arrependo muito foi o de não ter participado do governo Itamar. Poderíamos tê-lo ajudado a fazer um governo muito melhor do que fez. Nós o ajudamos a chegar lá e depois o abandonamos. Na verdade, eu me afastei do Itamar porque, a cada nome que eu sugeria, ele já tinha um amigo para a vaga. Sugeri Raymundo Faoro, e ele já tinha o Maurício Corrêa. Pedi para manter o Jatene, e ele me coloca o Jamil Haddad. E a nomeação da Erundina foi mal encaminhada também.

Tudo isso mostra também que, mesmo representando uma coalizão, Itamar Franco não deixou ninguém interferir na formação do seu curto governo. Esse foi o segredo do seu sucesso como presidente da República.

FONTE:O GLOBO

Itamar, o acidental:: Fernando de Barros e Silva

Fernando Collor foi um presidente viril, de temperamento esportivo e gestual afascistado. Afetava uma modernidade caricata -a gravata Hermès, o uísque Logan, a brilhantina no cabelo. Itamar Franco tinha o seu topetinho. Démodé, mas autêntico. Até nisso, foi uma espécie de anti-Collor.

Collor decretou que os carros nacionais não passavam de carroças. Itamar tratou de reabilitar o Fusca -a carroça-símbolo da nacionalidade, de um país popular.

Para o registro histórico, o presidente do Fusca, do pão de queijo e... do Plano Real figura ao mesmo tempo como interregno e elo entre os governos dos dois Fernandos. A despeito da delinquência e do gangsterismo que marcaram a gestão Collor, há uma continuidade entre a liberalização da economia que ele patrocinou e a modernização capitalista com a reforma do Estado que o professor FHC iria promover em termos mais consequentes e duradouros.

Vice de um outsider pelo PRN, um partido fantasma, Itamar, a seu modo também aventureiro, teve a sorte de chegar ao comando do país com o impeachment de Collor. E teve o mérito de não interferir no laboratório do plano de estabilização que FHC levou a cabo com seus meninos-prodígio a partir de maio de 1993, até parir o real em 1994.

Recorde-se: antes de Fernando Henrique, Itamar teve três ministros da Fazenda (Gustavo Krause, Paulo Haddad e Eliseu Resende) em apenas cinco meses.

O presidente acidental conseguiu fazer de seu breve mandato um período de entendimento político e de reconstrução da terra arrasada deixada pelo estilo atlético-imperial do antecessor.

Apesar disso, Itamar nunca deixou de ser um político provinciano, movido por pequenas mágoas. Também não parece absurdo ver esse nacionalista extemporâneo como um Forrest Gump, imerso numa inconsciência virtuosa, ou bem-sucedida, protagonista involuntário de algo que não compreendia.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dos ex-presidentes e de sua sabedoria:: Renato Janine Ribeiro

Geralmente, não é bom ser ex. Quem perde a pessoa amada sofre. Quem deixa um cargo no governo, sobretudo o de presidente, perde. Quero falar hoje dos ex-presidentes. Chequei os norte-americanos. Desde 1900, vinte homens ocuparam a Casa Branca. Deles, apenas dois continuaram fazendo política depois de deixar o cargo, um deles rumando para a esquerda, Theodore Roosevelt, outro se conservando na direita, Herbert Hoover. Hoje, aquele país tem quatro ex-presidentes vivos (no Brasil, agora também são quatro). Mas, deles, apenas um é um excelente ex-presidente, Jimmy Carter, que não foi tão bem sucedido na presidência porém, depois, se revelou uma das lideranças éticas mundiais. Provavelmente, é o melhor ex-presidente daquele país em duzentos anos.

O que quero sustentar é que ser ex-presidente é um estilo, uma vocação. Dizer que alguém foi presidente (no passado) não é o mesmo que dizer que é ex-presidente (no tempo presente). Quem foi presidente pode se aposentar, ir para o Senado (como Sarney, Collor e até agora Itamar), continuar fazendo política - ou tornar-se "ex-presidente", que defino como a pessoa que aprendeu muito na chefia do Estado e utiliza essa sabedoria, sem fins sectários, para ajudar o país, a sociedade ou a humanidade. Vejam que, fora Carter, o melhor ex-presidente dos Estados Unidos é alguém que foi eleito, mas não empossado: Al Gore. Esbulhado de sua vitória eleitoral em 2000 pela fraude na Flórida e por uma Corte Suprema pouco digna, Gore se dedicou à defesa do meio ambiente contra o aquecimento global. Exerce atuação social bem superior à do presidente de quem foi vice, Bill Clinton, que tem uma fundação, sim, mas não é uma liderança moral. E não esqueçamos o maior ex-presidente dos Estados Unidos no século XIX, que foi John Quincy Adams, nosso conhecido porque aparece no filme Amistad como defensor dos escravos, e que - como Carter - foi um presidente não reeleito. O fracasso partidário se converteu em vitória ética.

Temos ex-presidentes que correspondam a esse perfil? Tivemos? Questão interessante e polêmica. Obviamente, não é o caso de Lula, que continua ativíssimo na política, como aliás é seu direito. Já Fernando Henrique Cardoso talvez esteja efetuando a passagem do político para o sábio, o que é o tema desta coluna. Até pouco atrás, ele era um dos líderes do PSDB e, como Lula, fazia política. Parece, porém, estar em transição para o papel de ex-presidente. Curiosamente, o ponto de inflexão pode ter sido seu artigo "O papel da oposição", publicado na revista "Interesse Nacional", em que propunha uma agenda para o PSDB. Continuava, pois, centrando suas ideias no partido que ajudou a fundar e que levou ao Planalto. Mas o "paper", que gerou a esperada torrente de críticas do PT, produziu silêncio quase ensurdecedor no PSDB. Contudo, FHC continuou na linha do artigo. Já defendera a descriminalização da maconha, e hoje a defende no cinema.

Parar de prender quem fuma maconha é consistente com seu artigo, porque nos dois casos FHC está interessado nos jovens. O ponto principal do "paper" é que jovens, com as redes sociais, seriam o destinatário por excelência de um partido, como o PSDB, que não tem como competir com o PT pelo voto dos pobres. Defender a liberação de uma droga leve, de escassos danos à saúde, muito usada pelos mais moços, vai nessa direção. Enquanto isso, porém, as lideranças de seu partido - que na eleição passada fizeram um triste carnaval em torno do aborto, absurdo esse que Ruth Cardoso e seu marido jamais endossariam - mantêm um discurso vetusto e moralista sobre a maconha. Permito-me exagerar: não dá para defender as redes sociais e ao mesmo tempo ser contra o uso da droga leve. Não estou dizendo que os frequentadores do Facebook, entre os quais me incluo, sejam maconheiros - mas apenas que a liberação de uma droga aparentemente pouco danosa para a saúde, e cuja proibição favorece a organização do crime e a corrupção da polícia, vai na lógica mais ou menos libertária das redes sociais. Em suma, se queremos os jovens, não podemos ser moralistas. Ser moralista parece estar sendo o erro ou o destino do PSDB. Sucede, pois, que, querendo ou não, FHC está sendo levado a ser maior que seu partido. Nada disso ainda está definido, mas é uma forte hipótese.

Tanto é uma hipótese que não apenas presidentes podem perder a popularidade, mas ex-presidentes também podem perder a reputação. Acreditei, por vários anos, que José Sarney exercia bem a ex-presidência (até afirmei: pena que, para ser tão bom ex-presidente, antes teve de ser presidente, cargo no qual foi apenas mediano). Usou sua experiência para acalmar as paixões e ajudar a buscar soluções. Presidente do Senado em 1995, limpou sua pauta - e deixou saudades, até porque foi sucedido por Antonio Carlos Magalhães. Contudo, em 2009, talvez para conseguir que sua família voltasse a governar o Maranhão, desafiou e derrotou pela presidência da Casa Alta o senador Tião Viana, nome apresentado em conjunto pelo PT e PSDB - e a partir daí a imagem de Sarney decaiu muito, junto à opinião pública. Sucessivas denúncias reduziram o patrimônio simbólico que ele construíra depois da presidência da República. O caso é interessante, porque Sarney, que dificilmente seria considerado um dos melhores presidentes do Brasil, perdeu a chance de ser lembrado como um notável ex-presidente. Isso confirma que a ex-presidência não é um fato dado e acabado mas, como a própria presidência, requer um cuidado constante. Não é apenas o presidente que precisa constantemente preservar sua imagem - também, o ex-presidente.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Os riscos da lipo:: Melchiades Filho

As suspeitas de corrupção no Ministério dos Transportes expõem as dificuldades de uma Presidência amparada numa base política grande e heterogênea demais, de cujos efeitos Dilma se ressente não só no jogo pesado do Congresso, mas no ritmo indesejado das realizações de seu governo.

Até as pedras desconfiavam de que servidores da pasta cobravam propina para contratar as obras. Mas tudo que o Planalto não precisava agora era de outro escândalo.

O "Paloccigate" mal cicatrizou. O clima na coalizão está conflagrado. Quem se animou diante da chance de lucrar com a troca na Casa Civil saiu frustrado: a reacomodação, para variar, privilegiou o PT.

Com a decisão de rifar imediatamente quatro funcionários da cúpula dos Transportes, o governo tenta não sangrar no noticiário -erro cometido no caso Palocci.

Mas a solução é definitiva para Dilma? Isso são outros quinhentos.

Primeiro, é improvável que o desenrolar do escândalo poupe o ministro Alfredo Nascimento, há pouco chamado de "inepto" e "desonesto" por um governador da base.

Segundo, o PR, partido que controla hoje o ministério, pode não ter o tamanho nem a capilaridade do PMDB, mas está, faz tempo, ao lado do PT. Foi parceiro de largada no mensalão. É a única sigla que hoje os petistas dão como certa na chapa à Prefeitura de São Paulo.

Desalojar o PR significará contrariar um aliado orgânico, abrir uma guerra fratricida pelo "arsenal" dos Transportes e aumentar a legião de descontentes em um Congresso que já coleciona ameaças suficientes -royalties do petróleo, piso salarial para policiais, metas de gasto público com saúde etc.

Eis o dilema de Dilma: ou aproveita o escândalo para lipoaspirar a coalizão, limpar de vez o ministério e assumir a microgerência das estradas federais e outras obras, ou recua, contemporiza com o PR e empurra o jogo com a barriga.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Nas asas de Eike:: Ricardo Noblat

— Sempre procurei separar minha vida privada da minha vida pública — Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro

Dono de um patrimônio avaliado em 30 bilhões de dólares, apontado pela Revista Forbes como a 8a- pessoa mais rica do mundo, o empresário Eike Batista pode emprestar a quem quiser seu jato Legacy de 26 milhões de dólares.Mas nem todo mundo pode aceitar o empréstimo. Como homem público, o governador Sérgio Cabral, por exemplo, não poderia.

Sabia-se que em outubro de2009,Cabral voou no jato de Eike para assistir em Copenhague ao anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. Soube-se que ele voou no mesmo jato para passar recente fim de semana em PortoSeguro, que culminou com a queda de um helicóptero e a morte de sete pessoas.

Agora se ficará sabendo que pelo menos uma outra vez Cabral voou à custa de Eike. No mesmo Legacy. E que não foi um voo de ida e volta a algum lugar.Foi um voo cheio de idas e voltas. Um voo excepcional. Que mobilizou o jato de Eike durante uma semana. E que provocou uma canseira braba nos pilotos.

Dia 3 de dezembro do ano passado. Estava de malas prontas para voar em avião comercial com destino a Nassau, nas Bahamas, paradisíaco arquipélago do Caribe, uma parte da família do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções e de contratos com o governo do Rio no valor de R$ 1 bilhão.

Jordana, mulher de Fernando, um filho de três anos de idade e ababá dele acabaram convidados a acompanhar Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, seus dois filhos Thiago e Mateus, e duas outras babás que também viajariam a Nassau. No jato de Eike, o grupo decolou do aeroporto Santos Dumont por volta das 20h.

O voo de Cavendish correu sem incidentes. Com ele seguiram sua mãe, a filha mais velha, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, e mais asogra de Côrtes, a mulher,duas filhas e

duas babás.O voo de Adriana Ancelmo e de Jordana pousou em Manaus para que os passageiros apresentassem os documentos de saída do Brasil. E aí...

Aí deu rolo. O filho de Jordana, do primeiro casamento dela, estava sem o documento assinado pelo pai autorizando-o a deixar o país. Agentes da Polícia Federal foram inflexíveis no cumprimento da norma.Não cederam nem diante de um pedido feito por Cabral, que telefonou para eles. Como o impasse foir esolvido? Simples.

Adriana Ancelmo, os dois filhos e suas babás retomaram o voo para Nassau. Jordana, o filho e a babá ficaram em Manaus à espera do documento que lhes permitiria continuar a viagem. O documento chegou dois dias depois. O jato de Eike, que esperava o desfecho do caso em Nassau, voltou a Manaus.

Dali, com os passageiros remanescentes, novamente voou para Nassau. Faltava alguém para completar a lista dos que haviam combinado passar uma semana de férias no luxuoso hotel

Atlantis, de seis estrelas. Quem? Cabral! E lá se foi o jato de Eike buscá-lo no Rio, juntamente com três agentes de segurança.

E outra vez o jato decolou para Nassau. Os Cabral e Cavendish ocuparam duas espaçosas suítes, uma em frente da outra. A diária? Cerca de 800 dólares. Desfrutaram de dias de sol fraco e de algum frio ao entardecer. Depois de sete dias, a contar da chegada a Nassau pela primeira vez do jato de Eike, teve início a viagem de volta.

Os que haviam ido para Nassau em voo comercial desembarcaram no Rio em voo comercial. Os que voaram nas asas de Eike retornaram em suas asas. O quilômetro voado no Legacy custa R$ 25. Quase seis mil quilômetros separam o Rio de Nassau.Cabral economizou uns R$ 600 mil. Sem contar o trecho Nassau-Manaus-Nassau.

É difícil crer que Cabral tenha encomendado a seus assessores um código de conduta capaz de orientá-lo nas suas relações com empresários. Um código que deverá distinguir entre
o público e o privado. Com efeito, seria preciso um código para vetar por imoral a alegre vilegiatura de Cabral nas Bahamas? Por suposto, não!

Cabral, o Pedro, descobriu o Brasil. Que agora descobre Cabral, o Sérgio.

FONTE: O GLOBO

Rio: Rescaldo da crise:: Berenice Seara

O governador Sérgio Cabral lançou um bom jato d’água no incêndio que tomava conta da Assembléia Legislativa ao concordar em sancionar a anistia para os bombeiros e em conversar com os professores em greve.

No dia seguinte jogou mais uns baldinhos ao dar entrevista à rádio CBN em tom mais conciliador.

Mas ainda há muitas brasas sob as cinzas. Os bombeiros consideram que as reivindicações que os levaram à greve ainda não foram atendidas.

A oposição não se comoveu com as juras do governador e ainda acha que ele mistura o público ao privado. O código de ética e conduta vai continuar na ordem do dia.

A base aliada também saiu chamuscada do episódio – e muitos creditam as queimaduras à má condução dos últimos acontecimentos pelo líder do governo, André Corrêa (sem partido). Há uma surda rebelião para destituí-lo do cargo – só não se sabe quem pôr no lugar.

E o baixo clero, que desempenhou o papel de tropa de choque de Cabral nos momentos mais agudos da crise, vai querer, sem dúvida, cobrar a fatura pelos serviços prestados. Alguns já sugerem o nome de Domingos Brasão (PMDB) para a cadeira de André Corrêa.

Para a sorte do governador, porém, chegou o recesso. O melhor aliado de Cabral, hoje, é o calendário.

ESCOLA

Aliás, o PMDB do Rio deve ter montado um cursinho para ensinar os parlamentares do baixo (e do baixíssimo) clero a defenderem os governos.

Os argumentos usados na Assembléia Legislativa e na Câmara do Rio – a favor de Sergio Cabral e Eduardo Paes – andam tão parecidos...

FONTE: EXTRA (RIO)

Itamar : Intuitivo, determinado e honesto :: Paulo R. Haddad

Quando assumiu a Presidência sua preocupação central era recuperar o poder de compra dos trabalhadores. Foi sua determinação que fez dele um protagonista de nossa História

Quando assumiu a Presidência da República após o impeachment de Collor, Itamar Franco estava determinado a sair do governo, dois anos depois, com o País tendo debelado a superinflação que assolava a economia brasileira durante quase duas décadas.

A sua preocupação central, ao herdar uma inflação mensal de 26%, era recuperar o poder de compra dos trabalhadores. A inflação crônica tinha impactos diferenciados entre os diferentes grupos da sociedade. A classe média alta e a classe de renda alta dispunham de mecanismos para proteger o valor real de sua renda e de seu patrimônio. Quanto aos assalariados e aos trabalhadores informais somente restava pagar o imposto inflacionário no final de cada mês. Este imposto equivalia à mazela de uma super alíquota de imposto de renda na fonte.

Itamar Franco, apoiado na equipe técnica organizada pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, saiu vitorioso desta batalha. Deixou o Brasil com uma moeda estável que seria o fundamento indispensável para os ciclos de prosperidade de nossa economia até o dia de hoje.

Intuitivo, percebeu claramente o que mais importava para o povo brasileiro no momento histórico de seu mandato presidencial. Poderia ter trilhado os caminhos das soluções populistas não-sustentáveis dos congelamentos de preços, dos confiscos das aplicações financeiras ou das quebras de contratos. Mas preferiu assumir os riscos de uma solução duradoura, definitiva, dentro das normas legais prevalecentes, a qual envolvia criatividade, engenho e arte. Foi, pois, sua determinação política que fez dele um protagonista de nossa História a quem as gerações futuras poderão denominar do "pai do Plano Real".

Nos dias de hoje em que o cidadão brasileiro tem a sensação de que a corrupção virou uma epidemia que contamina os gestores nos três níveis de governo, não há como deixar de registrar que Itamar Franco presidiu o País num período em que não se registrou nenhuma situação de corrupção como as que se observam a cada semana no registro da mídia nacional e internacional. Neste sentido, há muito que se aprender com aquele período da administração pública federal.

Ex-Ministro do Planejamento e da Fazenda do governo Itamar Franco.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO