sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Opinião do dia – Roberto Freire: governo Dilma

"É um governo que envelheceu precocemente. Em um semestre, quatro ministros caíram; três deles por denúncias graves de corrupção e um quarto por incontinêcia verbal. Na economia, dá continuidade ao que seu antecessor vinha fazendo, ou seja, beneficiar fundamentalmente o setor financeiro, o grande capital como nunca antes se viu neste país. Por outro lado, inacreditavelmente, não deu aumento real ao salário mínimo, interrompendo uma prática que tinha 16 anos, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, passando pelo governo Lula. Vetou o reajuste das aposentadorias e pensões acima de cinco salários mínimos. Péssimo sinal de que o ajuste a ser feito para enfrentar a crise econômica que se avizinha-e não é marolinha-vai penalizar trabalhadores e continuar subalterno aos interesses da banca nacional e internacional.E no entanto, decidiu colocar mais R$ 10 bilhões para pagar juros da dívida pública, e o corte de despesas não são aonde deveria se dar,por exemplo, na diminuição dos 39 ministérios,redução dos desmesurados cargos em comissão que servem para aparelhamento do Estado e gastar menos com propaganda,além de outros cortes nos desperdícios que são muitos. Melhorar os serviços públicos como por exemplo na saúde que seria bom não ocorre, vide, a não aprovação da emenda 29( que regulamenta os gastos dos três níveis de governo com o setor da saúde) que como candidata havia se comprometido a aprovar e não o faz."

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS. Entrevista Panorama Mercantil

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Lula contratou três vezes mais servidores que FH
Corrupção nos Transportes já custou R$ 682 milhões
BC nega que dê prioridade ao crescimento
Voto secreto no Congresso é o novo alvo do movimento contra a corrupção

FOLHA DE S. PAULO
Valério questiona falta de Lula como réu do Mensalão
Câmara pede aumento de até 60% para os seus servidores
Governo limita acesso a remédio para tratar câncer
Obama propõe dar estímulos de US$ 447 bilhões

O ESTADO DE S. PAULO
'Estado' antecipou vencedor de licitação de R$ 433 milhões
Corrupção nos Transportes já consumiu R$ 682 milhões
Valério cobra Lula no caso do mensalão
BC prevê inflação menor e dá sinais de novas cortes de juros

VALOR ECONÔMICO
Real perde valor e tende a depreciação no curto prazo
Aumenta a importação de combustíveis
Tempo de pragmatismo
Geithner pede foco no crescimento

CORREIO BRAZILIENSE
Sumiu e ninguém viu: R$ 682 milhões
Acordo para aumento de 5,2% é só para juízes
Os acusados do mensalão se defendem

ESTADO DE MINAS
Fraudes dão prejuízo de R$ 682 mi
Fora do eixo
BC prevê queda da inflação e dos juros

ZERO HORA (RS)
RS propõe empréstimo para garantir o metrô
Drama em Santa Catarina
Censura à RBS chama atenção até no Exterior

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Pernambuco na lista suspeita do Dnit
Suape ganha moinho cearense

Valério questiona falta de Lula como réu do Mensalão

Em sua defesa final apresentada ao STF, o publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão, questiona a ausência do ex-presidente Lula entre os 38 réus da ação penal que deve ir a julgamento em 2012. Valério se diz inocente, mas alega que, se fosse procedente a acusação da Procuradoria-Geral da República, ela deveria incluir os mandantes do esquema de compra de apoio político, entre eles o ex-presidente.

Valério questiona a ausência de Lula na ação do mensalão

Defesa do publicitário diz que, se ele é operador, "mandantes" devem responder

Nas alegações finais, porém, réu alega que é inocente e que esquema de compra de apoio no Congresso não existiu

Felipe Seligman 

BRASÍLIA -Em sua defesa final apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal), o publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão, questiona a ausência do ex-presidente Lula entre os 38 réus da ação penal que deve ir a julgamento em 2012.

Valério se diz inocente, mas alega que, se fosse procedente a acusação da Procuradoria-Geral da República, ela deveria incluir também os mandantes do esquema de compra de apoio político, entre eles o ex-presidente.

Diz a defesa que a acusação é um "raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente LULA [em maiúsculo]".

Lula informou, via assessoria, que não se manifestará sobre a defesa de Valério.

O advogado do publicitário, Marcelo Leonardo, diz que a participação de Valério foi "exagerada" na denúncia da Procuradoria para deslocar o foco dos verdadeiros "protagonistas políticos", citando novamente Lula.

"A classe política (...) habilidosamente deslocou o foco das investigações dos protagonistas políticos (LULA, seus ministros, dirigentes do PT etc) para o empresário (...) dando-lhe uma dimensão que não tinha e não teve", diz trecho da defesa.

Marcos Valério foi apontado pelo Ministério Público como o operador do mensalão, revelado pela Folha em 2005.

Nas alegações finais do Ministério Público, enviadas ao STF em julho, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pede a condenação do publicitário pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.

Para a Procuradoria, Valério foi apontado como o "líder do núcleo operacional e financeiro". No mesmo documento, o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) foi definido como "chefe de quadrilha".

A defesa de Valério nega, ao longo de 148 páginas, a existência do esquema.

Diz que os pagamentos efetuados por ele, a pedido do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ocorreram para quitar dívidas da campanha eleitoral de 2002, quando Lula foi eleito presidente.

Valério alega que nunca ficou provado que os pagamentos foram feitos com dinheiro público.

Neste ponto, o publicitário ressalta que a Visanet, apontada como uma das fontes de recursos do mensalão e na qual o Banco do Brasil tem participação acionária, é uma empresa privada.

Ao final, a defesa de Valério diz que sempre contribuiu com as investigações, apontando aqueles que receberam dinheiro por seu intermédio.

PERDÃO JUDICIAL

Por esse motivo, o publicitário afirma que, caso seja condenado, deveria receber perdão judicial ou redução de pena, graças a sua colaboração com a Justiça.

"É relevante considerar, na injusta e absurda hipótese de condenação, que Marcos Valério Fernandes de Souza, desde o inicio das apurações dos fatos, teve decisiva atuação como "réu colaborador" (...) [quando por exemplo] forneceu a lista de todas as pessoas que receberam recursos financeiros, indicadas pelo PT", finaliza.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Corrupção nos Transportes já consumiu R$ 682 milhões

O esquema de corrupção dos Transportes deu prejuízo de ao menos R$ 682 milhões aos cofres públicos, segundo auditoria da Controladoria-Geral da União. O documento aponta 66 irregularidades em 17 contratos e licitações. Menciona indícios de conluio, precariedade dos projetos, preços excessivos, serviços não executados e adulteração em medições de obras

Corrupção nos Transportes desviou R$ 682 mi, aponta auditoria da CGU

Relatório divulgado nesta quinta pela Controladoria-Geral da União lista 66 irregularidades em 17 contratos do ministério que envolviam R$ 5,1 bilhões

Leandro Colon

BRASÍLIA - O esquema de corrupção nos Transportes provocou um prejuízo de pelo menos R$ 682 milhões aos cofres públicos, segundo relatório de auditoria divulgado ontem pela Controladoria-Geral da União (CGU). O documento só faz recomendações, mas aponta 66 irregularidades em 17 contratos e licitações, cujos valores chegam a R$ 5,1 bilhões.

A auditoria menciona indícios de conluio, precariedade dos projetos, preços excessivos, serviços não executados, adulteração em medições de obras, direcionamento em concorrência, entre outros problemas. A CGU cita comportamentos "permissivo", "omissivo" e "doloso". Houve prejuízos em obras de seis rodovias federais e irregularidades em outras duas.

A situação da BR-101, segundo a CGU, evidencia "o descaso", "a falência do modelo de supervisão de obras" e a "conivência da fiscalização". Na mesma rodovia, no Espírito Santo, foram usadas fotos idênticas da estrada em diferentes medições.

Já na BR-116/RS, o prejuízo foi de R$ 101 milhões em decorrência de "irregularidades graves" na duplicação. Dois casos revelados pelo Estado em julho, que somam cerca de R$ 50 milhões, foram auditados e as irregularidades, incluindo favorecimento nas licitações, confirmadas.

O relatório da controladoria é resultado de uma reação do governo tomada em julho para estancar a crise que derrubou o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e pelo menos 27 pessoas. Na época, acuada pela onda de denúncias, a presidente Dilma Rousseff determinou que a CGU entrasse no caso para dar uma resposta pública aos indícios de corrupção no ministério, nas mãos do PR desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Diante do resultado que confirma as irregularidades e o possível desvio de mais de meio bilhão de reais, a CGU tentou blindar Nascimento e o hoje titular da pasta, Paulo Passos. Em nota emitida ontem, o órgão disse que o ex-ministro deu "pleno apoio" à auditoria e o atual "deu orientação expressa aos órgãos do ministério para facilitar o pleno acesso dos auditores a toda a documentação, processos e arquivos necessários".

Ligações. A auditoria da CGU confirmou reportagem publicada pelo Estado que mostrou o favorecimento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em contratos que somam R$ 18 milhões, à Construtora Araújo. A empresa pertence à mulher de José Henrique Sadok de Sá, então secretário executivo do Dnit. Ele perdeu o cargo após a reportagem revelar o episódio.

A auditoria da CGU entrou no caso e confirmou as irregularidades. Em um dos contratos, "constatou-se a ausência de competitividade entre os concorrentes da licitação, tendo em vista que à exceção de cinco itens, ao se comparar as propostas de preços de cada um deles, todos os outros apresentaram preços unitários idênticos. Há nesta situação indício de conluio entre os participantes, de maneira a fraudar a licitação". Em uma das obras, na BR-174/RR, constatou-se a "execução precária dos serviços de conservação e manutenção realizados pela empresa".

Outra reportagem do Estado revelou um esquema entre Dnit e a estatal Valec Engenharia para contratar duas empresas terceirizadas de fachada, a Tech Mix e a Alvorada, por R$ 31 milhões.

Segundo a CGU, o contrato do Dnit com a Tech Mix "contém diversas impropriedades e irregularidades". "Há faturas atestadas sem comprovação da efetiva prestação laboral por funcionário constante da relação anexa à nota fiscal. Não foi localizado folha de registro de frequência, tampouco o nome na Relação de Empregados", diz a auditoria.

Em relação à Alvorada, a contratação pela Valec foi considerada "inadequada". A CGU pede maior investigação e que, se comprovada a fraude, as empresas sejam declaradas inidôneas.

PARA LEMBRAR

"Faxina" demitiu mais de 25

Denúncia
Em julho, a revista Veja revelou um esquema de cobrança de propina em órgãos vinculados aos Transportes, então comandado por Alfredo Nascimento (PR). No mesmo dia, 4 funcionários foram afastados, entre eles Luiz Antonio Pagot (foto), diretor do Dnit e José Francisco das Neves, presidente da Valec

Limpeza
Onda de demissões, apelidada de "faxina" de Dilma, terminou com mais de 25 funcionários afastados

Troca de comando
A "faxina" nos Transportes atingiu também o ministro Nascimento, que pediu demissão. O secretário executivo Paulo Sérgio Passos (foto) assumiu o cargo

Adeus
Descontente com o tratamento recebido pela presidente, o PR comunicou a saída da base aliada. O anúncio foi feito pelo presidente nacional da sigla, o ex-ministro Nascimento, em 16 de agosto. São 41 deputados e
sete senadores que deixam de votar, automaticamente, alinhados com o governo

Posse
No mês passado, sete novos diretores do Dnit tomaram posse, incluindo os diretores geral e executivo. Nenhum dos indicados pela presidente Dilma é funcionário de carreira do órgão. Os nomes foram aprovados pelo Senado

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pronto para a próxima manifestação

Estudante vira símbolo do movimento anticorrupção e promete voltar às ruas

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA - Um dia depois de participar da Marcha contra a Corrupção, o estudante Tiago Lira, de 22 anos, estava exultante com o inesperado sucesso do primeiro grande protesto do país surgido a partir de troca de mensagens nas redes sociais. Lira guardou recortes dos jornais com as fotos das manifestações, trocou e-mails com amigos e começou a se preparar para a próxima manifestação.

Ainda não há nada definido, o grupo continua sem centro de comando, mas o internauta espera deixar as telas do mundo virtual e voltar às ruas para mais um protesto real contra a corrupção, no feriado do 15 de Novembro.

- Provavelmente vamos fazer uma nova manifestação no feriado da Proclamação da República. Isso é o que eu acho. A gente não esperava essa repercussão toda - disse Lira.

O estudante de Ciências Políticas da UnB apareceu por acaso em fotos de vários jornais que fizeram a cobertura do Sete de Setembro em Brasília e, da noite para o dia, se viu transformado em celebridade do movimento contra a corrupção. Sem vínculos com partidos, sindicatos ou associações, Lira nunca tinha participado de nenhum protesto.

- Essa manifestação foi muito saborosa. Senti que as pessoas acreditam na política brasileira e que as coisas vão mudar - disse.

O estudante vive com uma tia num afastado condomínio de Sobradinho, cidade satélite de Brasília, e até o dia do protesto achava que a corrupção seria invencível porque políticos de todos os partidos estariam envolvidos com falcatruas. Para ele, ninguém tem credibilidade e coragem suficiente para levantar a bandeira anticorrupção.

Com a Marcha, um protesto "sem rosto, sem líder", como ele diz, as perspectivas mudaram:

- Ninguém levantou bandeira de partido. Todos levantaram a bandeira do Brasil. Foi isso que deu liga ao movimento. E isso vai continuar.

FONTE: O GLOBO

Voto secreto no Congresso é o novo alvo do movimento contra a corrupção

Fim do voto secreto, a próxima bandeira

Organizadores de marcha vão colher assinaturas para tentar implementar mudança

Juliana Castro

Depois de levar anteontem cerca de 25 mil pessoas às ruas de Brasília na Marcha contra a Corrupção, o grupo apartidário que organizou o protesto tem novo objetivo: recolher assinaturas para pressionar deputados e senadores a aprovar uma lei que acabe com o voto secreto no Congresso. A iniciativa ocorre após decisão da Câmara de manter o mandato da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) , em votação secreta, na semana passada. Jaqueline foi flagrada em vídeo recebendo dinheiro do esquema do mensalão do DEM.

Segundo o empresário Walter Magalhães, de 28 anos, um dos criadores da página no Facebook que chamou a população para a marcha, o primeiro passo foi dado. Agora, é preciso se mobilizar também para medidas práticas. Uma página na internet (www.movimentocontraacorrupcao.org.br) será colocada no ar até a próxima semana e deverá ajudar ainda mais na divulgação de mobilizações futuras.

- A gente deu início à guerra. Agora, tem que começar a lutar nas batalhas. Estamos discutindo a ideia para saber como vai ser o recolhimento das assinaturas. Vamos ver se coletamos tanto pessoalmente quanto pelo site que vamos colocar no ar - afirmou Walter.

Outra organizadora do Movimento contra a Corrupção, a corretora de imóveis Daniela Kalil, de 32 anos, frisou que o grupo não é ligado a partidos políticos. O movimento está sendo ajudado por dois advogados, que orientam sobre o que pode ou não ser feito pelo grupo e sobre o procedimento para recolher assinaturas. Outra marcha será organizada e também será divulgada pelas redes sociais. O objetivo é fazer com que grupos em outras cidades façam simultaneamente seus protestos contra a corrupção.

FONTE: O GLOBO

Mobilização por ética faz conta para novos atos

Líderes avaliam desafios para aumentar adesão em ato já programado para dia 12

Gabriel Manzano

SÃO PAULO - As manifestações do 7 de Setembro contra a corrupção foram "um primeiro passo" e têm razões de sobra para crescer, mas não será fácil fazê-las superar os desafios e ganhar peso na sociedade. É assim que ongueiros, entusiastas e estudiosos veem os protestos da terça-feira em Brasília, São Paulo e outras capitais, cujos organizadores já marcaram para 12 de outubro uma segunda etapa da cruzada.

"É um movimento positivo, só esperamos que não se torne um simples modismo", diz o presidente do Ministério Público Democrático (MPD), Claudionor Mendonça dos Santos. Além disso, atacar a corrupção é complicado, adverte. "No caso, seria preciso as pessoas pararem de ver a sociedade como vítima dos políticos, porque ela é, em grande parte, coautora das irregularidades."

Animada com o que viu, Silva Kosac, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), diz que as passeatas são " só um pedacinho" da luta. "No meu dia a dia, percebo que cada vez mais brasileiros estão dispostos a fazer algo prático contra a corrupção", afirma. Aos que ironizam a pequenez dos protestos, ela avisa: "Essa cruzada começou em 1999 e cresce aos poucos. Só o MCCE, que ajudou em parte a organizar as passeatas, reúne 52 ONGs e associações, como OAB, Movimento Nossa São Paulo, promotores, magistrados, grupos católicos e evangélicos, áreas de educação, agricultura, peritos criminais."

Tanto Kosac como Claudionor entusiasmam-se com a experiência de seus contatos na periferia. "Visito e faço palestras, vejo gente indignada, plateias jovens que têm consciência do que é preciso fazer", diz o promotor do MPD. "E muita gente por lá já sabe que a corrupção não é exclusiva dos políticos."

Desafios. O filósofo e professor de Ética Roberto Romano, da Unicamp, acha que tais protestos "têm tudo para vingar", mas não aposta em sua transformação num grande movimento nacional. "Esses grupos são novos, não têm a organização de uma UNE ou dos partidos. Terão ainda de enfrentar o ridículo fabricado por associações pelegas". Aos olhos do professor, falta aos grupos uma certa vivência e mais conteúdo. "Não vi ninguém falando contra o foro privilegiado, contra os superpoderes dos donos dos partidos políticos". Romano lembra que há uma enorme distância entre gritar contra a corrupção e acabar com ela.

Entusiasta da causa, Sonia Barboza, da ONG Voto Consciente, não aceita as comparações feitas com o movimento "Cansei", promovido em 2007 e que ficou caracterizado como de direita. "Esses ataques acontecem quando as pessoas se sentem cobradas. Os vereadores da Câmara, que fiscalizo há muito tempo, nos dizem coisas assim a toda hora."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Militantes do facebook descobrem a política

Escândalos levaram irmãs a desencadear Marcha Contra a Corrupção

Leandro Colon

BRASÍLIA - "A gente não entende nada de política", avisam as irmãs Lucianna, 30 anos, e Daniella Kalil, 32. Elas montaram uma página no Facebook no começo de agosto e "bombaram". Um mês depois, levaram 25 mil pessoas às ruas de Brasília para protestar contra a corrupção e ofuscaram a presidente Dilma Rousseff no desfile oficial do 7 de Setembro. Para elas, não é defeito o desconhecimento detalhado sobre política. "Não precisa entender de política para saber que falta transparência no Brasil. O povo precisa se mobilizar, ninguém faz nada", diz Lucianna.

As irmãs estão longe da elite de Brasília e dos partidos políticos. Lucianna é autônoma, vendedora comercial e mora de aluguel com o marido. O casal tem uma renda mensal de R$ 6 mil. Daniella não tem emprego fixo, vive de comissões como corretora e mora com a mãe em Sobradinho, periferia do Distrito Federal. Lucianna é mais contida. Daniella, não: "Eu sou da "night" (noite)".

As duas já votaram no ex-presidente Lula, em Marina Silva, no tucano José Serra e em deputados e senadores de PT, PSB, DEM e PSDB. O voto, para elas, é na pessoa. "Para federal, eu votei no Paulo Tadeu (PT) porque ele ajuda Sobradinho", diz Daniella. Feliz da vida com o sucesso da marcha, ela agora começa a sonhar com a política. "Estudei com o deputado (Antônio) Reguffe na faculdade e quero entrar no partido dele, nem sei qual é. Qual é?" Reguffe é do PDT.

Orgulhosa dos 3,7 mil seguidores na página pessoal do Facebook, Daniella alerta: "Quero me engajar. Já estou lendo muito mais. Pesquisei muito no Google sobre política. Estou aprendendo muito". Lucianna não gostou da ideia: "Nunca me envolvi e não vou me envolver. Prefiro ajudar na conscientização popular". Numa coisa as duas concordaram no protesto de quarta-feira: impedir o uso de adereços partidários. "Mandei abaixar as bandeiras. É um movimento apartidário", diz Lucianna.

A ideia das irmãs de criar a Marcha Contra a Corrupção surgiu dos recentes escândalos envolvendo os Ministérios da Agricultura e dos Transportes, logo após a queda de Antonio Palocci da Casa Civil. "As coisas precisam mudar. Não precisa entender de política para saber que a Dilma está fazendo manobras nessa faxina", afirma Lucianna. "Ela está tapando o sol com a peneira."

Para protestar, as duas montaram então o "evento" "Marcha da Corrupção" no Facebook. Em poucos dias, mais de 5 mil pessoas aderiram.

Na semana passada, chegou a 25 mil, mesmo público que, segundo estimativa da Polícia Militar do DF, tomou conta da Esplanada dos Ministérios na quarta-feira.

O estopim para a marcha foi absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) pelos colegas da Câmara depois de ser flagrada recebendo dinheiro vivo do mensalão do DEM. "Não temos conhecimento de política, mas sabemos que o importante é ter ficha limpa", diz Lucianna. "A Jaqueline roubou e ficou na Câmara porque não era deputada na época. E aí?"

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brasil em tom menor, parte 2 :: Roberto Freire

Há exatos quinze dias atrás, denunciamos o engodo do Programa Brasil Maior, auto proclamado projeto de desenvolvimento industrial do governo Dilma, mas na verdade um monumental e irresponsável improviso, como tudo na administração petista, aliás, movido apenas pelo brilho midiático de suas jogadas.

Não bastasse toda a embromação com a suposta desoneração da folha, agora é a própria indústria automobilista que, segundo matéria veiculada pelo Estado de São Paulo, descobriu que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) prometido para as montadoras deve dar lugar à elevação do imposto para automóveis que não se enquadrarem nas novas regras.

Ou seja, o governo deve desistir de reduzir o IPI para os carros conforme previsto na nova política industrial, Brasil Maior, por conta da resistência das montadoras que não querem se comprometer com contrapartidas efetivas de inovação, agregação de conteúdo local e eficiência energética.

Beneficiada com redução do IPI para estimular a demanda no rastro da crise iniciada em2008, a indústria de automóveis no país, composta basicamente de empresas multinacionais, não repassou na mesma proporção tal benefício na redução dos preços de seus produtos, para os consumidores. Hoje, argumentam seus chefes, a desoneração visa melhorar a competitividade frente aos produtos importados, sobretudo dos carros chineses, e não para aumentar o consumo interno.

A questão centra-se na divisão de empresas mais antigas no país, como a Volkswagen, General Motors, Fiat e Ford, que já trabalham com 90% de peças produzidos aqui, e as novas empresas, como Nissan, Toyota, Renault e Citröen, que usam maciçamente peças importadas na confecção de seus carros e por isso, aquelas, precisam de outro tipo de política de incentivo, para serem competitivas.

Enquanto esse imbróglio prospera, de outro lado, fruto da desaceleração da venda de carros, por conta de uma maior restrição ao crédito e da feroz concorrência dos importados, as montadoras diminuem o ritmo de sua produção, buscando primeiro se livrar dos estoques em seus pátios, utilizando-se para tanto, entre outros expedientes, de férias coletivas.

O resultado disso é que as empresas automotoras encontram dificuldade de vender seus carros para uma massa de consumidores crescentemente indisposta a se endividar em um ambiente de incertezas. Não se deve esquecer que o nível da inadimplência no setor tem aumentado de forma consistente.

Segundo a Associação Nacional de Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), como revela o Globo, o índice de inadimplência pessoa física, com mais de 90 dias, passou de 3,4%, em agosto do ano passado, para 4,0% em agosto deste ano, um aumento de 15%.

Assim, fica fácil compreender por que o Partido dos Trabalhadores em seu IV Congresso, ocorrido recentemente, escolheu a imprensa para culpar por suas inúmeras malfeitorias, alegando uma perseguição, um complô da “imprensa golpista”, que com seu trabalho tem desnudado as nebulosas sendas do PT e a incapacidade de seu governo de enfrentar a trágica desindustrialização do país.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

O PT e o controle da informação :: Rubens Bueno

A democratização da mídia está em deixá-la livre, e não em circundá-la; o Congresso deve atentar para projetos de regulamentação da imprensa

O historiador britânico Robert Conquest nos conta que, no período do Grande Terror (1936-1938), no qual Stálin mandava políticos e intelectuais para a Sibéria nos expurgos criados para eliminar adversários, o controle da informação era tão rígido que a única forma segura de transmitir alguma coisa era por debaixo de cobertores.

Entre 1966 e 1976, outro ditador, Mao Tsé-tung, instituiu a Revolução Cultural na China, um processo sistemático de julgamentos públicos de professores e opositores com o objetivo indisfarçável, mais uma vez, de controlar a informação circulante entre o povo chinês.

Em Cuba, deu-se o mesmo. Durante décadas, para se criticar Fidel Castro, foi preciso sair do país, como fez o escritor Guillermo Cabrera Infante. Mais uma vez, controlar a informação era e tem sido essencial para a manutenção do status quo refratário a manifestações críticas.

Há casos em que o desejo dos governantes de encurralar a informação se dá por meio da manipulação das massas. Há pouco, Hugo Chávez liderou odiosa campanha contra a imprensa livre. Partidários dele atacaram a TV Globovisión, e é notória a perseguição a jornalistas e empresários, como Guillermo Zuloaga, dono da rede agredida, e Alejandro Peña Esclusa, opositor recentemente libertado, depois de ter sido preso sob a falsa acusação de tramar a deposição de Chávez.

Na mesma toada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, move incansável campanha contra o jornal "Clarín", respeitado por fazer um jornalismo crítico e independente. Situação semelhante tem ocorrido na Bolívia e no Equador.

O que se vê com tudo isso é que o autoritarismo sempre encontra meios de limitar a manifestação independente de opinião. Seja à la Stálin, à la Mao, à la Fidel ou à la Chávez, algum mecanismo é encontrado para cumprir a tarefa de frear a livre circulação da notícia.

No Brasil, desde Lula, temos visto o ensaio do controle da mídia por meio de propostas como a criação de conselhos que garantiriam, segundo os que as concebem, a democratização da mídia. A história mostra que ações nessa direção servem mais para balizar fontes noticiosas do que para universalizar a produção da notícia.

Afinal, quem fará parte desses conselhos se não os afinados ideologicamente ou por conveniência ao governo federal? O próprio conceito de conselhos está vinculado à ação de restringir, regular e fiscalizar, ou seja, seu escopo não é o da liberdade, e sim o de controle de algo que se quer regulamentado.

A democratização da mídia está, portanto, em deixá-la livre, e não em circundá-la, como quer o PT. O Congresso Nacional precisa estar atento a projetos que tenham por objetivo a regulamentação da imprensa. Será preciso rechaçá-los como se rechaça toda ideia cujo fim intrínseco seja ferir a democracia.

Vamos dizer não a isso.

Rubens Bueno é deputado federal pelo Paraná e líder do PPS na Câmara dos Deputados

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O passado cobra:: Merval Pereira

O movimento contra a corrupção que parece estar tomando forma em todo o país trouxe à baila novamente o interesse da opinião pública sobre o julgamento do mensalão, que deverá ocorrer no Supremo Tribunal Federal (STF) no início do próximo ano. Nada pior para José Dirceu e os 36 outros réus do que revolver o assunto, pois não deu certo o ousado plano de tentar limpar a ficha dos mais importantes políticos envolvidos no processo.

Além do próprio Dirceu, que, reafirmado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, como o "chefe da quadrilha", aparece no meio de confusões políticas, o caso mais exemplar de tentativa de recuperação de imagem que deu errado é o do deputado federal João Paulo Cunha.

Nas suas alegações finais, o Gurgel chama a atenção para o fato de que Dirceu continua exercendo forte poder político no PT, e a exposição de seus encontros reservados com ministros e parlamentares, em um quarto de hotel de Brasília, explicita esse poder que torna factível a posição de "chefe da quadrilha".

Já a indicação de João Paulo Cunha para presidir a comissão especial do novo Código Civil escandalizou a opinião pública e provocou constrangimentos no ministro do Supremo Luiz Fux, um dos que vão julgá-lo. Ele e o deputado Eduardo Cunha, que seria o relator da comissão, tiveram que ser vetados pela reação negativa que suas indicações provocaram.

Também os escândalos em que está metido o cacique do PR Valdemar Costa Neto mostram que os envolvidos no caso do mensalão não perderam o vício.

As alegações finais de alguns envolvidos também trouxeram à tona momentos históricos que poderiam ter sido decisivos, como o depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios, reafirmado agora ao STF.

Naquela ocasião, o marqueteiro da campanha presidencial de Lula em 2002 admitiu que recebeu pagamento do tesoureiro Delúbio Soares em contas no exterior, o que caracterizava no mínimo o uso de caixa dois na campanha presidencial.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio, definiu a certa altura do depoimento do publicitário Duda Mendonça o núcleo do que estava em jogo: o fato de parte da campanha eleitoral de 2002 ter sido financiada por dinheiro ilegal colocaria em xeque a legalidade de várias eleições, inclusive a do próprio presidente Lula e, mais que isso, a higidez de nosso sistema democrático.

A revelação de que o pagamento do equivalente a cerca de R$10 milhões fora feito no exterior para uma empresa de Duda Mendonça, com dinheiro saído de contas de vários bancos pelo mundo, provocou choro e ranger de dentes entre os petistas, e muitos deles foram ao púlpito da Câmara e do Senado para pedir desculpas ao povo brasileiro.

Estava criado naquele momento um clima propício ao pedido de impeachment de Lula, que só não aconteceu porque houve muitas negociações nos bastidores.

Sabe-se hoje que dois dos principais ministros na ocasião, Antonio Palocci e Marcio Thomaz Bastos, foram ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propor um acordo: a oposição não pediria o impeachment de Lula, e este se comprometeria a não se candidatar à reeleição.

A decisão política da oposição não se deveu apenas a essa proposta, que não chegou a ser fechada num acordo político consequente, mas também pela avaliação equivocada de que Lula estava ferido de morte e não conseguiria se reeleger de qualquer forma.

Houve também quem temesse a reação dos chamados "movimentos sociais" em defesa do mandato de Lula. O resto é história, que deu a Lula a chance de se recuperar politicamente e nem mesmo aparecer entre os acusados do mensalão.

O principal acusador do esquema, o ex-deputado Roberto Jefferson, que também continua tendo poderes no PTB mesmo cassado, na ocasião sempre fez questão de afirmar que Lula não sabia de nada e chegou a recomendar que Dirceu pedisse demissão da chefia do Casa Civil "para não envolver um homem de bem", referindo-se ao presidente Lula.

Talvez arrependido de ter blindado Lula na ocasião, ou apenas para tumultuar o processo, Jefferson questiona nas alegações finais o fato de o procurador-geral da República ter deixado de denunciar o presidente da República. "Qual a razão de o ilustre acusador ter deixado de denunciar aquele que, por força de disposição constitucional, é o único que no âmbito do Poder Executivo tem iniciativa legislativa, o presidente da República, para somente acusar três de seus auxiliares, ministros de Estado, que iniciativa para propor projetos de lei não têm?"

Também o publicitário Marcos Valério, cérebro da operação financeira do mensalão, tenta colocar Lula no processo. Afirma a certa altura, seu advogado, nas alegações finais: "É raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio ex-presidente Lula."

Dificilmente o pedido será aceito, pois no processo original não existe qualquer referência a Lula, embora, na mesma situação, o ex-governador mineiro, hoje deputado federal, Eduardo Azeredo tenha sido incluído pelo próprio Supremo, e pelo mesmo relator, o ministro Joaquim Barbosa, como coautor do chamado "mensalão mineiro".

FONTE: O GLOBO

Quem grita "pega ladrão"? :: Fernando de Barros e Silva

"Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão." No carro de som, em Brasília, o refrão do samba "Reunião de Bacana" deu o tom das passeatas contra a corrupção, que pipocaram em várias capitais no Sete de Setembro.

É um erro achar que estamos diante de um repeteco do movimento "Cansei", aquele de 2007, quando a ala coxinha da elite branca decidiu se indignar contra o estado de coisas no país, capitaneada pela figura de João Dória Jr., dublê de empresário e socialite conhecido pelos concursos de bebês e cães de madame que promove durante os invernos em Campos do Jordão.

Convocados pelas redes sociais, os protestos de agora são mais espontâneos e menos identificados com a direita udenista. Mas não são de todo estranhos a esse ideário.

Em São Paulo, onde algumas centenas de pessoas se reuniram na Paulista, havia gente defendendo o fechamento do Legislativo, a favor da redução de impostos ou vociferando contra a pessoa de Lula.

Em Brasília, onde o ato pegou, um senador do PSDB foi hostilizado e militantes do PSOL foram obrigados a recolher suas bandeiras. O movimento contra a corrupção era, também, um protesto contra a política partidária, ou, simplesmente, contra os políticos e a política.

Numa sociedade em geral apática diante da desfaçatez de seus representantes, é ótimo que as pessoas se insurjam contra a absolvição de Jaqueline Roriz, a impunidade de Sarney ou a farra dos mensaleiros. É ótimo que uma figura como Ricardo Teixeira seja identificada publicamente como o que é.

Ainda não está claro, porém, se esse movimento terá consequências menos episódicas. Além de seu caráter difuso a favor da decência e da sua aversão à política, para onde, exatamente, ele aponta? De que lugar falam esses jovens que usam nariz de palhaço e vestem preto, como os caras-pintadas, e portam vassouras, mas não querem ser nem parecem ser apenas herdeiros tardios da pantomima do janismo?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O senador que apostou na queda dos juros:: Maria Cristina Fernandes

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) subiu à tribuna duas vezes em menos de uma semana para apostar na queda da taxa Selic. A última delas foi na noite da terça-feira, 30, véspera da decisão do Copom.

Depois de ter ascendido na política como o líder estudantil das manifestações que resultaram no impeachment de Fernando Collor, o senador, que cursou Medicina e Direito, sem concluí-los, direcionou seu mandato para temas econômicos. No ponto futuro de sua carreira - a mais meteórica do PT fluminense - está o Palácio da Guanabara.

Titular da Comissão de Assuntos Econômicos, Lindbergh assumiu a condição de principal interlocutor petista da área econômica no Senado desde que a senadora Gleisi Hoffmann assumiu a Casa Civil.

A afinidade se reflete no teor dos três projetos que apresentou em seu primeiro semestre de mandato: o que soma às competências do BC o estímulo à geração de empregos, e dois outros que promovem a desindexação de títulos e contratos públicos.

Casado há 17 anos com Maria Antônia Goulart, filha de uma companheira de guerrilha da presidente Dilma Rousseff, Linda Goulart, hoje assessora do ministro da Educação, Fernando Haddad, Lindbergh foi convidado pelo menos duas vezes a integrar a comitiva de viagens da presidente.

Mas o senador não atribui sua aposta na queda da Selic à proximidade adquirida com os ministros da área econômica nem à relação familiar com a presidente. "Os sinais foram públicos e sucessivos. O mercado não pode alegar que foi pego de surpresa", diz.

Lourdes Sola, por exemplo, professora aposentada da USP e organizadora de "Banco Central, Autoridade Política e Democratização" (FGV, 2002), sintetiza as preocupações surgidas desde a decisão do Copom: "Desde meados dos anos 1990 o BC tornou-se um coordenador das expectativas de mercado. Foi assim que suas decisões adquiriram mais transparência. A decisão da semana passada rompeu com a ritualística e quis pegar o mercado de surpresa como no passado. Por isso, foi autoritária". A professora contesta um mandato para o BC perseguir tanto a estabilidade monetária quanto a geração de emprego: "O Fed age assim porque é independente e presta contas ao Congresso. O Brasil tem um sistema hiperpresidencialista que tende a manipular a política monetária de olho nas eleições".

Lindbergh não apenas saúda como benéfica a convergência entre governo e BC como cita uma entrevista da presidente e outra do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, como dois sinais eloquentes da queda da Selic ignorados pelo mercado. Na entrevista da presidente (Carta Capital 16/08/2011), respondendo à pergunta do que faria para baixar os juros, respondeu: "Não vou dizer qual é a nossa receita, porque, se fizer essa antecipação, cometerei um equívoco político e econômico. Vamos olhar a partir de agora de uma forma diferente essa situação que vem pela frente, porque é algo distinto. Não estamos mais na mesma situação de antes, nem sabemos direito o que vem, mas estamos com abertura suficiente para perceber que pode ser exigido de nós um grande esforço para conter isso".

O presidente do Banco Central também não tergiversou em sua entrevista ("O Estado de S. Paulo", 18/6/2011): "A presidente dá o comando. E o comando dela tem sido muito claro para que as políticas do governo sejam adotadas visando assegurar a estabilidade monetária e a inflação na meta. É isso o que temos feito. O BC é uma autarquia. Sou ministro de Estado. Além de presidente do BC, faço parte do conjunto do ministério. Há um diálogo sobre avaliação econômica".

A essas duas entrevistas Lindbergh somou as declarações convergentes dos ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel no Senado, nas proximidades do Copom, de que o aumento do superávit abriria espaço para o corte de juros e concluiu que o jogo ia virar.

É com a mesma convicção que o senador agora atesta força redobrada de Dilma junto à sua base aliada no Congresso para cumprir o ajuste fiscal que a ata do Copom de ontem elege como condição à continuidade da política de redução dos juros.

Um sinal do fortalecimento político da presidente teria sido a resolução do PT em seu 4º Congresso. O partido dava sinais de que seu documento oficial teria um tom de calculada independência em relação a Dilma. Quando veio o Copom, o partido afinou, citou 35 vezes a presidente e fez uma resolução saudando a redução da Selic.

Na mesma resolução, no entanto, o partido reafirma como compromissos inadiáveis a emenda 29 para a saúde pública e o Plano Nacional da Educação. Se aprovados, representarão despesas adicionais na casa das dezenas de bilhões do Tesouro.

Some-se à resistência petista a crítica da maior central sindical do país, a CUT, à elevação do superávit primário em R$ 10 bilhões. É a essa central que está filiada a grande maioria dos funcionários públicos que, pela proposta orçamentária enviada ao Congresso, terá que se ver com uma redução, em termos reais, dos gastos da União com pessoal.

No tripé das pressões contrárias ao equilíbrio fiscal reclamado pelo Copom está a cúpula do Judiciário com sua demanda por reajuste que, replicado em cascata Brasil afora, resultaria em mais um passivo bilionário a ser coberto pela União.

Confrontado com essa equação política à época em que o déficit nominal zero lhe foi proposto em 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou com o apoio da então ministra da Casa Civil que viria a sucedê-lo.

Por que Dilma Rousseff, que também tem uma reeleição pela frente, agora estaria disposta a enfrentar o risco político embutido nessa equação menos juros/ menos gastos?

Lindbergh diz que a atual situação econômica do país exigirá um sacrifício menor dos brasileiros do que teria exigido naquele momento: "A presidente nunca admitirá que esses 40 milhões que ascenderam à classe média retroajam".

E avalia que a força política adquirida por Dilma favorece uma solução que desindexe a poupança da Selic. Reconhece que a solução politicamente mais viável pode vir a ser uma desindexação restrita a depósitos futuros, mas diz que se o governo quer aprofundar as mudanças necessárias à redução continuada dos juros o momento é este.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Pontos soltos:: Míriam Leitão

A ata do Copom diz que o cenário para a inflação futura "acumulou sinais favoráveis", quando ele piorou; diz que "eventualmente" a política monetária terá uma reversão, depois que ela já reverteu; aposta que o aumento do gás de bujão será zero, num ano em que o produto já subiu. Em suma, acabou-se a esperança de que a ata do Banco Central fosse eliminar as dúvidas sobre a queda dos juros.

Não é apenas uma questão de redação. Quando a comunicação do Banco Central não fica muito clara as previsões de inflação podem subir, e o país entra naquela armadilha da profecia que se autorrealiza: agentes econômicos estabelecem preços de seus produtos considerando que a inflação vai subir e, em consequência, ela sobe mesmo. Uma comunicação clara e previsível faz parte do regime de metas de inflação, e por isso os economistas se acostumaram a esquadrinhar as atas e relatórios do Banco Central tentando entender cada palavra.

Isso fez o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, estranhar uma palavra no parágrafo 30 da ata. O texto diz que os diretores acham que aumentou muito a incerteza na economia desde a última reunião e que isso justifica uma reavaliação "e eventualmente uma reversão do recente processo de elevação da taxa básica." Ora, a ata era para explicar por que reverteu e não dizer que "eventualmente" poderá reverter.

O texto assegura que já está encerrado o período de elevação da inflação em 12 meses, mas isso não está garantido. Haverá queda no acumulado em 12 meses até dezembro porque dificilmente o país repetirá este ano a mesma elevação do último trimestre do ano passado. Mas essa queda do acumulado - que já está em 7,23% - pode ser interrompida no começo de 2012 por pressão dos preços dos serviços, que certamente vão subir com o aumento de 14% do salário mínimo. A própria ata alerta que a inflação de serviços continua e vai continuar alta.

A explicação mais consistente da ata é que a situação internacional está em contínua deterioração. Piorou mesmo e ficou mais incerta. A questão é saber se a crise reduzirá a inflação no Brasil. Até agora, a queda das previsões para o PIB de uma série de países não está derrubando as cotações das commodities agrícolas. Os alimentos continuam em alta por outros fatores que não o crescimento mundial. E isso a própria ata reconhece.

O Banco Central acha que a crise agora é diferente: mais persistente, menos aguda, e com um impacto menor na economia brasileira. Calcula que será de um quarto do que foi o impacto em 2008/2009. O BC diz no parágrafo 11 que os "riscos para a estabilidade financeira global se ampliaram, entre outros, pela possível exposição de bancos internacionais a dívidas soberanas, principalmente da Zona do Euro." E acha que essa crise pode, num cenário alternativo, diminuir a pressão inflacionária, mesmo se o dólar subir e os juros continuarem caindo.

Em comparação com o resto do mundo, as taxas de juros brasileiras são tão altas que o desejável era reduzi-las mesmo. Mas a queda acontecendo no meio de ruídos e suspeitas pode fomentar a ideia de que o Banco Central se enfraqueceu. Hoje, as previsões são de juros em baixa, inflação em alta, desaceleração do PIB; um conjunto contraditório.

O Banco Central voltou a dizer que o mercado de trabalho está aquecido e que há "um risco importante" de "aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica de inflação." De novo, este trecho não conversa com o resto. Se o cenário é de recessão global então por que temer aumentos incompatíveis de salário? Por outro lado, se há esse risco, não é precipitado baixar as taxas de juros?

Segundo o BC, o crescimento da renda e a expansão do crédito mantêm a demanda doméstica "robusta", mas acha que isso será compensado porque "iniciativas recentes reforçam o cenário de contenção das despesas públicas." Que iniciativas? A decisão do governo de avisar que não gastará R$10 bilhões de uma receita extraordinária, que recebeu este ano, não reforça sinal algum de contenção de despesa. Se o setor público está no meio de uma campanha para criar um novo imposto é porque terá novas despesas. Além disso, o Orçamento de 2012 foi enviado com uma previsão de aumento de gastos maior do que o crescimento da receita. Os sinais mais consistentes são de ampliação de gastos.

Por enquanto, o que mais incomoda o governo é o que mais ajuda no controle da inflação: o câmbio valorizado. A guerra cambial, como foi definida pelo ministro Guido Mantega, está ajudando, mesmo que ninguém a queira. Contra seus efeitos o governo pensa numa série de medidas de fechamento do mercado brasileiro, mas o dólar baixo derrubou a inflação de bens duráveis nos últimos doze meses. Esses preços tiveram deflação de 0,95%. Mas isso produz efeitos colaterais indesejáveis. O cenário de referência, ou seja, o que tem maior probabilidade de acontecer, é de um dólar de R$1,60. Esta semana, bateu em R$1,66 e zerou a queda no ano. Assim, uma parte do governo torce para que o dólar suba, mas se ele subir pode haver impacto na inflação. Enfim, a ata deixou uma série de pontos soltos.

FONTE: O GLOBO

Diário de uma semana em Londres:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Se os líderes das nações europeias errarem, o mundo pode mergulhar em nova recessão econômica

Isolado do dia a dia dos mercados por um retiro voluntário na velha Londres, trago ao leitor da Folha algumas reflexões sobre o que tenho lido sobre a crise da Europa unida. Longe da internet e da sala de operações da Quest em São Paulo, o mundo parece outro.

Leio os principais jornais europeus sabendo que estou 24 horas atrás do fuso horário do mercado financeiro. Mas essa sensação de estar atrás dos acontecimentos me faz voltar a um mundo mais reflexivo de uma década atrás e no qual os acontecimentos estão sempre ligados pelo tempo mais lento da história. E ler nos jornais de papel as reflexões de analistas mais sóbrios do que os que frequentam os sites do mundo eletrônico me fez entender as causas mais profundas dos problemas que os líderes políticos da Europa terão de enfrentar nos próximos meses.

Para muitos desses analistas, os problemas de hoje derivam de uma leitura romântica e demasiadamente racional das sociedades que formam a comunidade europeia de hoje, reunidas pela utopia de um só espaço político e econômico.

A ideia dessa união surgiu quando as cinzas da destruição criada pela Segunda Guerra ainda estavam presentes e o desejo de não mais viver essas experiências dominavam os povos da Europa.

Foram os políticos marcados por essas duas guerras devastadoras que lideraram os primeiros movimentos na direção da integração econômica e que seria seguida mais adiante pela política.

Mas as primeiras décadas do sonho europeu de uma só sociedade foram marcadas, de forma pragmática, por movimentos contínuos, mas cuidadosos em relação à integração da economia.

A questão política ficou restrita, por muito tempo, apenas na criação de um governo europeu -Executivo e Legislativo- sem poder real e restrito à pequena Bruxelas.

Todos sabiam que as decisões mais importantes continuavam nas mãos de líderes nacionais, eleitos em seus respectivos países por franceses, alemães, italianos e outros.

Nos 40 anos que separaram a criação da chamada comunidade do aço da Europa -primeiro passo na integração econômica- da queda do Muro de Berlim, muitos políticos sentiram que a ideia de uma só Europa perdia força.

As guerras vividas no século anterior eram, cada vez mais, coisas dos velhos e do passado, com o dia a dia de cada país marcado pelo espírito nacional de cada nação e, principalmente, pelas dificuldades que os jovens encontravam para acessar o mercado de trabalho.

Como o mito da Europa unida pela economia prometia tempos melhores, a busca continuou a ser vista como desejável, e os passos nessa direção continuaram a ser tomados.

Marca viva dos anos de guerra, a força simbólica da unificação da Alemanha, com a queda do Muro de Berlim, levou ao passo definitivo da criação do euro e, segundo muitos analistas, ao início do fim do sonho de uma Europa única.

Na euforia da vitória sobre o comunismo, François Miterrand e Helmut Kohl, líderes políticos que conduziam de fato o processo de integração, deixaram de lado questões técnicas para aproveitar o momento de opinião pública favorável e forçaram a criação do euro.

Os problemas enfrentados hoje mostram de forma clara que a criação de uma moeda única naquele momento foi um erro. A questão da dívida pública em um grande número de países mostrou o vazio existente nas regras de integração fiscal de economias tão diferentes como a alemã e a grega.

Mas, o que fazer agora? Voltar atrás ou caminhar adiante na direção de uma verdadeira comunidade de países? Essa dúvida é que está por trás das especulações e do vaivém das cotações do euro, do dólar e das ações nos mercados financeiros do mundo todo.

Se os líderes das nações envolvidas nesse imbróglio escolherem o caminho errado, podem criar uma crise bancária ainda mais grave do que a que estamos vivendo. E, se isso ocorrer, dada a fragilidade da economia americana, que ainda digere os excessos financeiros dos anos Bush, o mundo pode mergulhar em nova recessão econômica.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, engenheiro e economista. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

BC nega que dê prioridade ao crescimento

Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que cortou 0,5 ponto nos juros, o BC nega que tenha abandonado o controle para estimular crescimento. Diz ainda que, no fim de 2012, a inflação deverá estar em 4,5%

Ainda de olho na inflação?

Banco Central diz que seu objetivo é cumprir meta de 4,5% ao explicar corte da taxa básica para 12%

Gabriela Valente e Bruno Villas Bôas

Numa tentativa velada de rebater as várias críticas recebidas na semana passada, quando surpreendeu até o menos conservador dos economistas ao cortar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia, a Selic, o Banco Central (BC) explicou ontem a decisão na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) num tom mais claro e didático do que o usual. Acusado de sucumbir às pressões políticas, passando a mirar em crescimento em vez da inflação, o BC quis mostrar que ainda está comprometido com o sistema de metas (o objetivo central é de 4,5% para este ano e para 2012) e que não o abandonou para dar prioridade ao crescimento. Segundo o texto, a crise internacional deve ser menos aguda que em 2008, mas vai durar mais que o esperado e isso abre espaço para quedas moderadas da Selic.

"Taxas de inflação elevadas não trazem qualquer resultado duradouro em termos de crescimento da economia e do emprego, mas, em contrapartida, trazem prejuízos permanentes para essas variáveis no médio e no longo prazos".

O Comitê alega que as principais economias do mundo crescerão menos e não têm tantos instrumentos disponíveis para estimular a atividade. E, mesmo com pressões inflacionárias, decidiram parar de subir os juros.

"As incertezas foram amplificadas, desde a última reunião do Copom, em parte devido à revisão da classificação de risco da dívida soberana dos Estados Unidos", diz a ata.

Não foi apenas o mercado que questionou o momento de começar a cortar os juros. Houve dúvida no próprio Copom: cinco dos sete diretores aprovaram a queda de 12,5% para 12% ao ano, enquanto o mercado esperava manutenção. Essa também foi a aposta de dois dos integrantes do Copom.

"Dois membros do Comitê avaliam que o momento atual ainda não oferece todas as condições necessárias a que esse movimento tenha início imediatamente", diz o documento.

Entretanto, a ata quis deixar claro que eles foram unânimes ao reconhecer que o mundo mudou bastante desde sua última reunião. E isso justificaria uma reavaliação. Para a maioria dos diretores, foi o momento certo e, mesmo com os futuros cortes, a inflação voltará para a meta de 4,5% em 2012. A ata garante que o pico de inflação é neste trimestre. A partir daí, cairá até chegar a 4,5% no fim do ano que vem, apesar do mercado de trabalho e do crédito, que seguem em alta mesmo que num ritmo menor.

BC desconsiderou fatores importantes

O BC assegura que olha a inflação futura e usa cenários alternativos. Afirma que a política fiscal contribui também para um cenário mais estável, onde o BC tem mais poder de fogo.

- O Banco Central não tem outra meta a não ser a meta de inflação - reforçou o presidente da instituição, Alexandre Tombini, em entrevista à "Globonews" ontem.

Segundo economistas, porém, a autoridade desconsiderou ou deu pouca importância a questões importantes e que podem ter forte pressão sobre a inflação. É o caso, por exemplo, do aumento do salário mínimo, das elevadas cotações das commodities agrícolas e da indexação dos preços de serviços, entre outros.

Para Luiz Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, a principal fonte de preocupação está no elevado nível de emprego e o aumento de renda da população. Ele acredita que o potencial inflacionário do aumento do salário mínimo em 13,6% a partir de janeiro do ano que vem, para R$619,21, pode estar sendo subestimado.

- Estamos entrando nessa crise com uma inflação de serviços de 8,93% em 12 meses, que é maior do que a registrada em 2008 e 2009. E, naqueles anos, esse grupo de preços recuou apenas um ponto percentual com a crise - lembra Leal. - A grosso modo, se essa crise atual terá o impacto de um quarto da crise anterior, como está na ata do Copom, a inflação de serviços recuaria agora apenas 0,25 ponto.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, a autoridade monetária pode também estar subestimando a inércia inflacionária, a chamada indexação. Ele explica que a inflação presente, que acumulou 7,23% em 12 meses pelo IPCA, será aplicada no reajuste de serviços como escolas, estacionamentos, passando para frente uma inflação passada:

- O BC tem gordura para queimar, que são os juros muito altos no Brasil. Mas ele pode ter queimado essa gordura antecipadamente, no escuro. Se acertou ou não, só o futuro vai dizer.

Afinidade com a Fazenda está maior

Além da pressão dos preços de serviços, economistas antecipam alta das commodities agrícolas por causa de eventos climáticos nos EUA, que afetaram a safra de trigo, milho e soja. No Brasil, a entressafra da cana vai pressionar os preços do açúcar e do álcool. Na ata, o BC evidenciou ainda sua aposta na política fiscal mais restritiva do governo, o que foi apontado como arriscado por economistas. Eles lembram que o aumento do superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida) em R$10 bilhões - anunciado na semana passada - ocorre por uma receita atípica de R$6 bilhões no orçamento, oriunda de uma multa que será paga pela Vale, após derrota judicial referente a CSLL.

Alguns economistas aprovaram a ata. Para o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, o BC conseguiu justificar o que vê neste momento. Segundo ele, o Copom mostrou que não será tão agressivo nos próximos cortes:

- Só não ficou clara a razão de fazer o corte tão rapidamente em agosto.

Para o professor da Unicamp Francisco Lopreato, essa mudança na combinação de políticas monetária e fiscal mostra uma nova forma de controlar a inflação no Brasil e evitará o "erro de 2008", quando o BC demorou demais para cortar os juros e estancou o crescimento do país.

- Existe uma afinidade melhor, hoje, entre a Fazenda e o BC, que vai evitar aquele erro, ao meu ver grosseiro, do (ex-presidente do BC Henrique) Meirelles - disse o professor. - Foi uma audácia, mas daria para esperar para ver o que vai acontecer?

Segundo o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Almeida, os economistas brasileiros estão muito otimistas, enquanto o mundo inteiro espera retração das economias. Ele acredita que o BC está em sintonia com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros organismos multilaterais.

- A questão de fundo é saber se o BC está certo ou errado na sua avaliação. E isso vamos saber daqui a pouco - afirmou Almeida.

FONTE: O GLOBO

Sindicato apoia IPI menor para carro e pressiona governo

Representantes dos trabalhadores querem contrapartida das montadoras, com 80% de peças locais

Raquel Landim

Os sindicatos estão apoiando o pleito das montadoras de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros, conforme anunciado na política industrial Brasil Maior. A posição dos representantes dos trabalhadores aumenta a pressão sobre o governo, que ameaça desistir do benefício.

O governo federal está preocupado porque as montadoras resistem a assumir contrapartidas como metas para utilização de peças locais, redução de emissões e um porcentual fixo de investimento em pesquisa e tecnologia. Por isso, ao invés de reduzir o imposto, o governo avalia elevar o IPI para quem ficar fora do novo regime automotivo.

"Se apenas elevarem o IPI dos importados, não teremos geração de emprego aqui", disse Quintino Severo, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Segundo os sindicalistas, o governo adiou uma reunião com montadoras e sindicatos, marcada para ontem, para fechar o decreto sobre o tema. O encontro foi postergado depois que montadoras e governo chegaram a um impasse na terça-feira. O Ministério da Fazenda não confirma que a reunião com os sindicalistas estava agendada.

O apoio dos sindicatos, no entanto, não sai de graça. Eles também querem que as montadoras assumam "contrapartidas sociais". A principal delas é o aumento do conteúdo de peças locais exigido no novo regime automotivo. Os sindicatos defendem 80%, estabelecido por modelo.

A proposta hoje na mesa é de 60%. As montadoras querem que o porcentual seja fixado por empresa, já que modelos novos tem menos valor agregado local.

A posição dos sindicatos favorece as quatro grandes montadoras - GM, Volks, Ford e Fiat - que estão há mais tempo no País e, por isso, têm condições de utilizar mais autopeças locais.

Severo reconhece que a proposta beneficia algumas empresas, mas reforça que "não queremos maquiladoras" no País. Montadoras como Citroën, Toyota, Honda ou Nissan têm mais dificuldade para cumprir um porcentual de peças locais tão alto.

A Força Sindical defende a redução do IPI, mas gostaria que o governo elevasse também o imposto de importação dos carros. "Queremos as duas coisas. Defender o mercado dos importados, mas também elevar a nacionalização de peças", disse Miguel Torres, vice-presidente da Força e presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo.

Outro ponto importante para os sindicatos é que a eventual redução de IPI seja repassada ao consumidor. O governo também é a favor do repasse. As montadoras resistem.

A Força Sindical defende como contrapartidas jornadas semanal de 40 horas, rotatividade de trabalhadores não superior a 3% ao ano e o estabelecimento de um piso salarial nacional para o setor.

Torres disse que não está preocupado com as recentes paralisações das montadoras para baixar estoques. "É até estranho que façam isso em meio à negociação com o governo pelo IPI", disse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O guerreiro do povo :: Nelson Motta

O grito de guerra dos militantes ainda ecoa no Planalto Central. "Dirceu guerreiro! Do povo brasileiro!", o refrão estremece o salão, como um canto de torcida organizada no estádio ou o coro de um funk carioca num bailão.

Mas Dirceu é guerreiro modesto e discreto, nunca falou sobre as suas ações revolucionárias, seus confrontos com as forças da repressão, suas batalhas de arma na mão pelo povo brasileiro. Talvez para não humilhar companheiros que não tiveram tanta bravura como ele na luta contra a ditadura, ou cometeram erros estratégicos que levaram à prisão e à morte de companheiros. Ou talvez porque nunca tenham acontecido. Quando lhe perguntam se matou alguém em combate, dá um sorrisinho maroto e faz cara de mistério.

O guerreiro chama a presidente Dilma de "companheira de armas", mas, embora ela tenha pago na própria carne pela sua coragem revolucionária, não há qualquer noticia, documento ou testemunha da presença de Dirceu, ou de "Daniel", seu nome de guerra, em nenhuma ação armada durante a ditadura. Talvez a Comissão da Verdade faça justiça à sua combatividade, ou desmascare o guerreiro que foi sem nunca ter sido. Talvez algum dia reapareçam os disquetes com a sua biografia escrita por Fernando Morais, em que ele dizia ter contado tudo sobre a sua vida guerreira, mas foram misteriosamente roubados da sua trincheira.

Na Câmara, ele foi um incansável guerreiro, se recusando a assinar a Constituição democrática de 88, batalhando pela rejeição da Lei de Responsabilidade Fiscal e denunciando o Plano Real como uma farsa eleitoreira da direita. Perdeu essas batalhas, mas não a sua guerra.

Notável estrategista, ele começou como um dos líderes estudantis que, em 1968, convocaram um congresso "secreto" da UNE em uma fazenda em Ibiúna, onde os 500 congressistas foram facilmente cercados pela polícia e o Exército e presos, aniquilando o movimento estudantil. Em entrevista recente, Dirceu disse que, mesmo cercado por centenas de policiais e soldados armados, "queria resistir", mas foi voto vencido. Com um guerreiro desses, o povo brasileiro não precisa de inimigos.

Jornalista.

FONTE: O GLOBO