domingo, 30 de outubro de 2011

Opinião do dia – Roberto Freire: PPS manifesta solidariedade ao ex-presidente Lula

O PPS é solidário ao ex-presidente Lula e a sua família. Nós desejamos sucesso em seu tratamento e a sua pronta recuperação. Lula agiu corretamente ao não esconder a sua doença. Tal atitude é rara de ser vista em homens públicos.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS, ontem em nota. Portal do PPS

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil





O GLOBO
Com câncer, Lula inicia tratamento amanhã
Crescimento faz Brasil viver nova onda de imigração
Verba suspeita irrigou ONGs ligadas ao PCdoB
Vestibular como o de 'nossos pais'

FOLHA DE S. PAULO
Lula tem câncer na laringe e vai passar por quimioterapia
Crise na Europa eleva Brasil a sexta economia mundial
Esporte lidera nomeação de não servidores
África, Índia e EUA puxarão aumento da população

O ESTADO DE S. PAULO
Europa tem prejuízo de € 2 trilhões e já fala em década perdida
'Faxina' de Aldo esbarra em projetos do PCdoB
Lula está com câncer na laringe e fará quimioterapia
Casos de violência contra professores crescem no País

CORREIO BRAZILIENSE
Lula começa amanhã luta contra o câncer
Denúncia liga Agnelo a PM em escândalo
Títulos do Tesouro viram bom negócio

ESTADO DE MINAS
Com câncer, Lula começa quimioterapia

ZERO HORA (RS)
Exames detectam câncer em Lula

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Lula começa tratamento de câncer amanhã
Brasil vira paraíso da indústria automobilística

Lula está com câncer na laringe e fará quimioterapia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diagnosticado ontem com um tumor na laringe, após exames realizados no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele iniciará amanhã tratamento quimioterápico de caráter ambulatorial sem a necessidade de internação. Médicos da equipe que fez o diagnóstico informaram que o estado de saúde de Lula é bom, assim como o prognóstico para o tratamento. O câncer na laringe está associado ao tabagismo, maior fator de risco, e ao consumo de álcool

Lula descobre ter câncer na laringe

Depois de reclamar de dor de garganta, ex-presidente é diagnosticado com tumor e vai começar amanhã a passar por quimioterapia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diagnosticado ontem com um tumor na laringe, após passar por exames no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Lula teve alta por volta das 20h15 de ontem e vai começar amanhã o tratamento da doença. O ex-presidente deve passar por três sessões de quimioterapia, com intervalo de cerca de 20 dias - a medicação será aplicada por cateter. Ele vai passar o domingo em casa, em São Bernardo do Campo.

Médicos da equipe que fez o diagnóstico informaram que o estado de saúde do ex-presidente é bom, assim como o prognóstico para o tratamento, que tem duração estimada entre 60 e 90 dias. Ontem, Lula passou por uma biopsia - retirada de uma parte do tumor para avaliação - e, para isso, teve de ser sedado.

"Estamos sendo supertransparentes, a pedido do próprio ex-presidente Lula. O prognóstico para este tipo de câncer é muito bom", disse ao Estado o oncologista Paulo Hoff, integrante da equipe do Sírio-Libanês, hospital onde também foi tratado o linfoma da presidente Dilma Rousseff, em 2009.

Hoff disse que, para preservar a voz dos pacientes, geralmente opta-se pela quimioterapia à cirurgia. "Trata-se de uma conduta-padrão internacional nesses casos. Foi uma decisão da equipe médica, e não do paciente, a fim de se preservar a laringe", explicou o oncologista.

Dores. Lula vinha reclamando há algum tempo de um incômodo na garganta, mas até quinta-feira, quando comemorou 66 anos, não sabia que estava com um tumor na laringe. O cardiologista Roberto Kalil, que participou da celebração, chegou a brincar com o ex-presidente. "De amanhã você não me escapa", disse o médico.

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que a notícia da doença do ex-presidente deixou todos do governo "abatidos e preocupados". "Mas Lula tem uma energia e uma força muito grande e estamos confiantes que ele conseguirá superar essa fase e tocar a vida", disse Carvalho, que foi chefe de gabinete do ex-presidente e é amigo de Lula há mais de 30 anos. Segundo ele, o tumor não afetou as cordas vocais do ex-presidente.

Ontem à tarde, o assessor de imprensa do Instituto Cidadania, José Chrispiniano, disse que Lula e a mulher, Marisa, foram ao Sírio-Libanês na sexta-feira e retornaram ontem, por volta das 8h30. Segundo ele, o ex-presidente reclamava das dores na garganta há cerca de duas semanas e recebeu o diagnóstico do tumor com tranquilidade.

Visita. Amigos e companheiros do PT pretendiam ver Lula ontem no hospital, mas o próprio ex-presidente e seus auxiliares preferiram evitar as visitas. O único integrante do governo Lula a encontrá-lo no hospital foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Eles estiveram juntos por 20 minutos. "O presidente sempre foi um lutador e vai vencer essa doença", disse Mantega, ao sair do hospital. O ministro contou aos jornalistas que não houve metástase do câncer, isto é, nenhuma outra região ou órgão apresentou qualquer anomalia relacionada ao tumor. Também disse que Lula vinha sentindo desconforto na fala, mas acreditava que isso se devia ao ritmo intenso de viagens e palestras.

Dilma divulgou à tarde uma nota de solidariedade a Lula (leia abaixo). A presidente tem agenda oficial em São Paulo, amanhã, e deve aproveitar para ver o ex-presidente. Ela iria encontrá-lo em seu aniversário, mas cancelou a viagem por causa de uma gripe.

O ministro Fernando Haddad (Educação) esteve com Lula na quinta-feira e soube da notícia ontem de manhã. À tarde, em reunião com pré-candidatos do PT à Prefeitura, disse que o ex-presidente "estava muito bem" na quinta-feira. "Vamos estar todos na mesma frequência desta que é a nossa maior liderança".

Manifestações de apoio a Lula também surgiram nas redes sociais. No Twitter, a hashtag #ForçaLula esteve entre as mais citadas do dia no Brasil.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Políticos da oposição manifestam apoio ao ex-presidente Lula, diagnosticado com tumor na laringe

Carolina Brígido, Flavia Barbosa e Fabio Fabrini

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - Presidente do PSDB, principal partido de oposição ao governo, o deputado federal Sérgio Guerra (PE) divulgou nota na qual deseja, em nome da legenda, pronta recuperação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diagnosticado, neste sábado, com câncer de laringe.

Ele disse que, ao saberem que o petista recebeu diagnóstico de um câncer na laringe, os tucanos ficaram "preocupados como todos os brasileiros".

"Desejamos que a sua recuperação seja a mais rápida e bem sucedida. O presidente Lula ainda tem muito a contribuir para o debate político nacional", afirma o comunicado.

O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), desejou a pronta recuperação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Para ele, a doença não afetará a vida política do país.

- O câncer de laringe é um câncer com alto potencial de cura. O Lula faz parte da nossa vida política há muitos anos. Embora seja adversário, vou torcer para a cura dele. Torço para que ele se restabeleça plenamente. A Dilma passou por essa situação e hoje está tudo bem. Muita gente duvidava que ela pudesse exercer a Presidência da República. Desejo que aconteça com Lula o que aconteceu com Dilma, o restabelecimento pronto - disse Demóstenes Torres.

Para o senador Agripino Maia (DEM-RN), o diagnóstico de Lula não afetará a vida política do país. Ele acredita que o tratamento será rápido e não impossibilitará o ex-presidente de seguir com sua vida normal:

- Os fatos são tranquilizadores, trata-se de um tumor que não tem ao menos recomendação cirúrgica. Hoje, esses tumores cancerígenos não assustam mais. Pelo que vi, ele vai se tratar e, enquanto isso, continuar com a vida normal. Desejo que o presidente de recupere logo desse problema. Completado o tratamento, ele poderá cumprir a agenda dele. O Lula sempre foi uma figura estruturalmente forte. Ele está entregue a médicos de excelentes qualidades, vai cumprir disciplinadamente a prescrição e vai se recuperar rapidamente. O exemplo do que eu falo é o que aconteceu com a própria presidente Dilma.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), divulgou nota no fim da tarde desejando sucesso ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no tratamento do câncer na laringe diagnosticado neste sábado:

"O PPS é solidário ao ex-presidente Lula e a sua família. Nós desejamos sucesso em seu tratamento e a sua pronta recuperação. Lula agiu corretamente ao não esconder a sua doença. Tal atitude é rara de ser vista em homens públicos".

Mais cedo, pelo Twitter, Roberto Freire dissera que Lula "agiu com correção não escondendo a doença". "É raro tal atitude homens públicos.Solidariedade.Desejo pronta recuperação", escreveu Freire.

O presidente do PSD no Rio, o ex-deputado Indio da Costa, escreveu no microblog que "política e saúde não se misturam. Desejo ao ex-presidente Lula pronta recuperação".

FONTE: O GLOBO

Planalto vê tratamento diferenciado em ação de Gurgel

Pedido de investigação contra Orlando, em contraste com decisão de arquivar caso Palocci, incomodou o governo

Rui Nogueira, Felipe Recondo

BRASÍLIA - O tratamento diferenciado dispensado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a dois casos igualmente polêmicos envolvendo ministros do mesmo governo incomodou o Planalto. O pedido de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal contra Orlando Silva, até quarta-feira no comando do Esporte, foi classificado por observadores do governo e do Judiciário como tentativa de Gurgel dar satisfação para o público interno, os procuradores.

O procurador-geral recebeu críticas duras dos colegas por ter sumariamente arquivado denúncias contra o então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Gurgel disse ao Estado que não tinha opção no caso de Orlando senão abrir um inquérito no Supremo. "Existia a possibilidade de um problema legal", afirmou. O procurador argumentou que só poderia investigar alguém com foro privilegiado com autorização do STF. Palocci também tinha foro privilegiado. "Mas, no caso do Palocci, não havia indícios de crime. Nesse caso, os fatos narrados claramente constituíam crime."

Desde que anunciou que requisitaria a abertura de inquérito contra Orlando para apurar a denúncia de desvios no programa Segundo Tempo, Gurgel recebeu pedidos de emissários do governo para promover uma apuração prévia antes de ir ao STF. Ele recebeu o mesmo pedido do advogado de Orlando, Antônio Carlos de Almeida Castro. O ministro estaria inclusive disposto a prestar depoimento a Gurgel.

Nem o governo nem a defesa de Orlando queriam que o inquérito servisse de fato novo para a crise - até porque a presidente dispensava ajuda externa, pois já havia decidido tirar Orlando. Além do mais, o pedido não parecia absurdo para o governo. Os ex-procuradores Antonio Fernando de Souza e Cláudio Fonteles adotavam essa prática para não abrir inquéritos que depois se mostrariam inócuos. O próprio Gurgel já havia feito o mesmo. E por isso chamou atenção a negativa do procurador-geral.

Um dos emissários do governo nas conversas que envolveram até a ministra Carmem Lúcia, que autorizou a abertura de inquérito, foi o advogado-geral da União (AGU), Luís Adams. Assessores políticos de Dilma viram a decisão de Gurgel "como um jeito de empurrar o problema para o Supremo".

Palocci. Quando as denúncias contra Palocci chegaram ao Ministério Público, Gurgel estava em plena campanha para sua recondução. O petista era suspeito de multiplicar seu patrimônio por meio das atividades como consultor de empresas privadas. Em vez de pedir abertura de inquérito, Gurgel instaurou uma investigação preliminar: encaminhou ofício ao ministro, pedindo que se explicasse em 15 dias.

Ao receber a resposta, Gurgel avaliou as representações e a defesa e decidiu arquivar o caso sem acionar o STF. Foi criticado dentro do Ministério Público e pela oposição. Depois, foi reconduzido ao cargo pela presidente.

Essa cronologia fez a oposição desconfiar de um acerto envolvendo Palocci para a recondução do procurador-geral. Foi esse um dos motivos que levaram oposicionistas a retardarem a sabatina de Gurgel no Senado.

"Não há igualmente indício idôneo da prática do crime de tráfico de influência que, segundo os representantes, decorreria necessariamente do fato de clientes da empresa Projeto terem celebrado contratos com entidades que integram a administração indireta e fundos de pensão (...) Em suma, as conjecturas feitas pelos representantes, embora importantes, não encontram apoio em um único fato", diz trecho do parecer de Gurgel pelo arquivamento.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crise na Europa eleva Brasil a sexta economia mundial

Brasil deve ser neste ano a 6ª maior economia mundial

Consultorias e FMI estimam que país vai ultrapassar o PIB do Reino Unido

Economia brasileira pode superar todos os europeus até 2020; crise nos desenvolvidos justifica o novo ranking

Érica Fraga

SÃO PAULO - A crise dos países desenvolvidos ajudará o Brasil a ganhar posições com mais rapidez no ranking de maiores economias do mundo. Em 2011, o Produto Interno Bruto brasileiro medido em dólares deverá ultrapassar o do Reino Unido, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional e das consultorias EIU (Economist Intelligence Unit) e BMI (Business Monitor International).

A estimativa mais recente, da EIU, prevê que o PIB do Brasil alcance US$ 2,44 trilhões, ante US$ 2,41 trilhões do PIB britânico.

Com isso, o Brasil passará a ocupar a posição -inédita desde, pelo menos, 1980- de sexta maior economia do mundo. Em 2010, ao deixar a Itália para trás, o país já havia alcançado o sétimo lugar.

Como a economia brasileira cresce em ritmo menor que a de outros emergentes asiáticos, em 2013, o país deverá perder a sexta posição para a Índia. Mas voltará a recuperá-la em 2014, ano da Copa do Mundo, ao ultrapassar a França, segundo a EIU.

Até o fim da década, o PIB brasileiro se tornará maior do que o de qualquer país europeu, de acordo com projeções da EIU.

Depois de passar Reino Unido e França, a economia brasileira deverá deixar a alemã para trás em 2020.

"O fato de que a economia brasileira ultrapassa as de países desenvolvidos reflete os efeitos da entrada de grandes segmentos pobres da população na classe média", afirma Robert Wood, analista sênior da EIU. Segundo Wood, isso ajuda a impulsionar o consumo doméstico.

A tendência de ascensão dos emergentes já era esperada por especialistas há anos, mas tem ganhado velocidade devido à crise global. Quando o banco Goldman Sachs inventou o acrônimo Brics (que se refere a Brasil, Rússia, Índia e China) em 2003, previa que a economia brasileira ultrapassaria a italiana por volta de 2025 e deixaria os PIBs francês e britânico para trás a partir de 2035.

Desde então, não só a expansão da economia brasileira ganhou fôlego - em grande medida, a reboque do apetite chinês por commodities - como também o crescimento de nações desenvolvidas afundou desde 2008.

Embora a EIU tenha reduzido recentemente as projeções de crescimento do Brasil para 3% e 3,5%, respectivamente, em 2011 e 2012, sua expectativa de expansão do Reino Unido é de apenas 0,7% em ambos os anos.

Segundo especialistas, a principal consequência para o Brasil de galgar lugares no ranking das maiores economias é consolidar uma posição de maior relevância no cenário político mundial.

"O Brasil tende a ganhar maior voz em fóruns internacionais, e é importante que se prepare de forma adequada para assumir esse papel", afirma o economista Rogério Sobreira, da Ebape/FGV.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Maioria de ONGs sob suspeita é ligada ao PCdoB

Dos recursos desviados do Ministério do Esporte, 73% foram destinados a entidades ligadas ao partido

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Cerca de 73% do dinheiro comprovadamente desviado ou mal aplicado por organizações-não governamentais no Programa Segundo Tempo irrigaram entidades ligadas ao PCdoB, partido que continua à frente do Ministério do Esporte mesmo depois da saída de Orlando Silva. Levantamento feito pelo GLOBO nas 16 tomadas de contas especiais (TCEs), nas quais o próprio governo detectou irregularidades em convênios com as ONGs, mostra que, em oito delas, os alvos são grupos dirigidos por filiados à legenda ou pessoas que tiveram ligação estreita com os comunistas em quatro estados.

O governo busca recuperar - com o apoio da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) - de R$28,3 milhões, apenas de convênios fechados entre o Segundo Tempo e as ONGs. Deste montante, R$20,6 milhões abasteceram os cofres de entidades atreladas ao PCdoB em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Tocantins. Entidades ligadas ao partido também estão no topo da lista de todas as ONGs beneficiadas pelo Segundo Tempo. Das cinco entidades que mais receberam recursos, quatro têm ligação com o PCdoB e não foram alvo de investigação.

Em São Paulo, desvio de R$1,6 milhão

Braço direito do vereador Netinho de Paula (PCdoB) na Câmara Municipal de São Paulo, Veruska Ticiana Franklin de Carvalho, filiada em Campinas, comandava, em 2004, a Federação das Associações Comunitárias de São Paulo (Facesp), entidade que amealhou R$1,6 milhão do Segundo Tempo para criar 125 núcleos esportivos nas cidades paulistas de Americana, Campinas, Mauá e Osasco. O objetivo era beneficiar 12.500 crianças, jovens e adolescentes. Porém, nem o Ministério do Esporte conseguiu descobrir onde foi parar todo o dinheiro, e, agora, pede de volta R$3,5 milhões (valor corrigido) por falta de execução do projeto.

Além de contabilizar beneficiados em duplicidade, a TCE, auditada pela Controladoria Geral da União (CGU), aponta que a declaração de fiscalização do convênio foi assinada por um técnico da própria ONG, "responsável pelo projeto".

Veruska saiu da Facesp, mas o comando prossegue com o PCdoB. Hoje, com Maria José da Silva, a Lia, que, da mesma forma que a ex-dirigente, não respondeu aos pedidos de entrevista. Ao GLOBO, José Carlos Venâncio, diretor da entidade, contou que tentou obter junto à contadora, conhecida por Sônia, informações sobre o convênio irregular, mas diz que a empreitada foi infrutífera.

- Aí que tá. Eu tentei buscar informações junto à contadora, mas não consegui. Era ela que tinha acesso às informações, entendeu? Eu não sou do partido e a gente quer esclarecer isso também, mas está de mãos atadas. Essas informações estão com a Veruska e com a Sônia, que trabalha na regional do PCdoB - afirmou Venâncio, que reagiu com espanto ao saber que, em valor corrigido, a União pede de volta mais de R$3 milhões.

- Está brincando! Pelo amor de Deus!

Ainda em São Paulo, no município de Guarulhos, José Cláudio Neris compareceu na última segunda-feira à Polícia Federal para se explicar sobre o convênio irregular de R$912 mil, firmado há sete anos entre a Liga Regional de Futebol Amador de Guarulhos e o Ministério do Esporte para tocar o Programa Segundo Tempo. Convênio acertado um ano depois de assinar a ficha de filiação ao PCdoB - segundo ele, porque o partido daria uma boa chance para se eleger vereador. Hoje, a União cobra da Liga R$1,3 milhão, porém Neris sustenta que não se apropriou de nem um centavo, apesar da pressão que sofreu para desviar dinheiro público.

- Eu moro no mesmo barraco até hoje. A minha prestação de contas foi extraviada. Quem extraviou foi o Manuel Jesus de Lima, um rapaz que trabalha de secretário na Liga. Falavam que não era para tocar o projeto e dividir o dinheiro com eles, entendeu? E depois eu dava um jeito de prestar contas. Se eu fizesse isso, talvez fosse até melhor, entendeu? Muita gente queria esse dinheiro. Eu só levei na cabeça - afirmou Neris ao GLOBO.

Ongueiros também são candidatos

Figura misteriosa, investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, é Luis Carlos Coelho de Medeiros, irmão de Antônio Carlos Medeiros, responsável legal pela ONG Novo Horizonte. A entidade é acusada de desviar R$2,5 milhões do Segundo Tempo, em 2006. Medeiros era ligado ao ex-ministro do Esporte, hoje governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), à época no PCdoB. Para justificar gastos com o programa, forneceu notas frias no valor de R$397 mil da empresa Infinita Comércio e Serviços de Móveis e de R$216 mil da JC Comércio de Alimentos. Nenhum dos irmãos foi encontrado para comentar o caso.

Até em Arraias, Tocantins, os desvios prosperaram no Segundo Tempo. Lá, como em Guarulhos, o dono da ONG também foi um candidato do PCdoB que perdeu as eleições e que nega que tenha ficado com o dinheiro do programa. A diferença é que Antônio Aires da Costa, da Fundação Vó Ita, queria ser deputado estadual nas eleições de 2010. Agora, deve R$879 mil aos cofres públicos e alega que teve a documentação do convênio roubada por perseguição política.

- Eu não participo de malandragem. Eu apenas pequei na prestação de contas. Eu tive meus documentos, por perseguição política, roubados. Não tenho nenhuma falcatrua. Meu projeto já foi até premiado - sustentou o político.

FONTE: O GLOBO

PT reforça Estado na economia e cria 40 estatais

Total de empresas criadas desde 2003 já supera o de companhias que foram liquidadas ou vendidas na gestão FH

Danielle Nogueira e Henrique Gomes Batista

Com a chegada do PT ao poder em 2003, o programa de privatizações iniciado no governo de Fernando Collor de Mello sofre mudanças. Embora rodovias e hidrelétricas tenham sido concedidas à iniciativa privada desde então e os aeroportos sejam os próximos da fila, percebe-se uma forte retomada do papel do Estado na economia. A face mais visível dessa reviravolta é o crescimento no número de estatais. Hoje, elas somam 147, ou seja, há 40 a mais do que em janeiro daquele ano, segundo o Ministério do Planejamento.

As 40 novas empresas são o saldo entre a criação e a extinção de estatais desde 2003 e representam um movimento na direção contrária do que ocorreu no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando a lista de estatais foi reduzida em 38 empresas, para 107. É como se o enxugamento da máquina pública promovido nos dois mandatos tucanos tivesse sido apagado. Em 1990, quando Collor assumiu a Presidência, eram 186 estatais. O GLOBO publica hoje a última reportagem da série sobre os 20 anos de privatizações no Brasil.

Fundos de pensão de estatais ampliam atuação

Quem puxa o crescimento das estatais é a Petrobras, que criou 40 subsidiárias no governo Lula. Sua expansão resulta, em parte, da intenção do governo de ampliar a presença do Estado em áreas consideradas estratégicas, como a petroquímica. Se nos anos 90, a empresa se retirou do setor, na última década, ela voltou com força, induzindo o processo de consolidação. Hoje, a Braskem, na qual ela é sócia com a Odebrecht, domina os três polos petroquímicos no país.

Mas não foi apenas a petrolífera que ampliou seus tentáculos. Entre as estatais recentemente criadas estão a Hemobrás (que produzirá derivados de sangue) e a Ceitec (que atua no setor de semicondutores). Do lado das empresas liquidadas está, por exemplo, a Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

O economista Vladimir Maciel, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Mackenzie e autor de artigos sobre o tamanho do Estado, não vê a expansão das estatais em si como um problema. Lembra, no entanto, que num governo democrático mais estatais significa mais espaço para dividir com os partidos da coalizão, abrindo brechas para o aparelhamento das empresas.

- Dividir o poder é legítimo, a questão é qual será o critério de composição do governo. A ocupação de cargos do segundo escalão, por exemplo, é muito pouco transparente.

Completam o tripé que sustenta o atual modelo de desenvolvimento a expansão dos fundos de pensão patrocinados por estatais e sob forte influência da União, bem como o fortalecimento do BNDES, especialmente apoiando a formação de multinacionais brasileiras.

O avanço dos fundos foi mapeado pelo professor do Insper Sérgio Lazzarini. No seu livro "Capitalismo de Laços", ele mostra que o número de empresas em que a União tem participações, seja por meio da BNDESPar - braço de participações do BNDES - ou dos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef subiu de 72 em 1996, para 119 em 2009. Ele lembra que os laços do Estado com grupos privados se inserem num modelo de gestão criado na época de FH, já que muitas empresas privatizadas tinham fundos de pensão ou o BNDES nos consórcios, mas frisa que tal modelo foi replicado e expandido no governo Lula.

- O lado negativo disso é uma possível maior interferência do Estado nas empresas, como o recente caso da Vale - diz Lazzarini, referindo-se à pressão para troca de comando na empresa por parte do governo, que detém direta e indiretamente mais de 60% da holding que controla a mineradora.

Quanto ao fortalecimento do BNDES, uma das críticas recai sobre a estratégia de "construção de campeões nacionais", nas palavras de Lazzarini, por meio de apoio a fusões de empresas para formação de grandes grupos, como Oi/BrT e JBS/Friboi, aproximando-se do modelo de desenvolvimento dos anos 70. Para o economista Fábio Kanzuc, da USP, essa estratégia é maléfica para o país. Isso vai além da falta de debate sobre quais setores e empresas merecem ter os juros subsidiados do banco:

- O BNDES, ao escolher empresas e setores, em geral os grandes, prejudica médias empresas e faz com que a produtividade do país seja menor.

BNDES: 19,6% do crédito para setores privatizados

Outra crítica é a dependência em relação ao financiamento do banco. Os desembolsos passaram de R$48,3 bilhões em 2003 (em valores atualizados) a R$168,4 bilhões em 2010. O crédito para setores privatizados (energia elétrica, ferrovias, siderurgia, telecomunicações e química/petroquímica) somou R$32,4 bilhões nos últimos 12 meses, 19,6% do total liberado.

O BNDES nega direcionamento político. Diz que "é um instrumento da política de governo e, nesse sentido, seu papel atual não difere do passado. O BNDES, com sua capacidade técnica, dá suporte às demandas de governo". O banco diz que responde por 72,9% de financiamentos com prazo superior a três anos, abaixo dos 83% em 2010, mas acima dos 65,3% de 2008.

Para Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi) e ex-secretário do Ministério da Fazenda, o BNDES não "rouba" o espaço dos bancos, mas sim supre uma demanda por crédito de longo prazo.

- Falta o governo incentivar com vigor os bancos privados a atuarem neste segmento.

FONTE: O GLOBO

Gravações mostram relação de Agnelo com delator de esquema

Revista diz que governador intercedeu por policial; petista nega

BRASÍLIA - Depois da saída de Orlando Silva (PC do B) do Ministério do Esporte, novas acusações contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), ligam o petista ao esquema de desvios de verbas em convênios com ONGs. Agnelo foi o antecessor de Orlando na pasta.

Reportagens das revistas "Época" e "IstoÉ" desta semana citam processo que corre na 10ª Vara Federal, em Brasília, em que Agnelo é investigado por suspeita de envolvimento com fraudes no ministério.

Segundo a "Época", o processo tem gravações de telefonemas entre o governador e o policial militar João Dias Ferreira, que acusou Orlando de receber propina. O ex-ministro nega.

Nas conversas, o policial pede a ajuda de Agnelo para se defender em um processo em que o Ministério Público Federal pede a devolução de R$ 3,6 milhões em recursos que teriam sido desviados da pasta do Esporte.

Ele pede ao governador que interceda junto a um professor que, segundo o processo, teria ajudado a forjar documentos para a defesa de Dias. A transcrição de uma gravação mostra Agnelo dizendo ao professor Roldão Sales de Lima que precisa de sua ajuda e que ele é "peça-chave neste projeto".

A "IstoÉ" cita que o processo teria também um vídeo em que uma suposta testemunha faz acusações contra Agnelo.
Na gravação, segundo a publicação, o motorista Geraldo Nascimento de Andrade afirma que sacava recursos destinados às ONGs que eram distribuídos entre os integrantes do esquema.

Ele acusa Agnelo de ser o cabeça do esquema, responsável por liberar o dinheiro para abastecer as entidades.

Em nota, a assessoria do governador afirma que o Ministério Público decidiu não indiciar Agnelo.

Em relação ao vídeo citado por "IstoÉ", a assessoria disse que foi produzido durante a campanha de 2010, "que teve lances baixos como a tentativa de associar o nome de Agnelo a falsas condutas".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Turbulência global já afeta empregos no Brasil

Setores industriais sofrem com a queda da demanda e a invasão de importados. Empresas planejam demissões

Gabriela Valente, Geralda Doca e Martha Beck

BRASÍLIA. A turbulência financeira que assola o mundo este ano já se transformou em crise real na economia brasileira, atacando em cheio o lado mais fraco: os trabalhadores. Levantamento do GLOBO mostra que, só nos setores siderúrgico e têxtil de Minas Gerais, 1.890 vagas foram fechadas nos últimos meses. No ramo de autopeças de São Paulo, a parada de produção colocou pelo menos outros mil trabalhadores em férias coletivas e 500 poderão acabar na rua antes do Natal.

A situação, segundo associações e sindicalistas, tende a piorar ante a freada brusca no terceiro trimestre: 35 mil postos, só em fábricas de vestuário e autopeças, correm risco de desaparecer nos próximos três meses. E mais de 200 mil no setor têxtil deixarão de ser abertos.

O argumento é o mesmo para setores diferentes: a crise encolhe os mercados do mundo inteiro. Sem ter onde desaguar a produção, o Brasil virou refúgio pelo vigor do mercado interno que ainda está aquecido. O país recebe importações, como as da China, que invadem o comércio a um preço menor, enquanto a economia desacelera e a indústria perde fôlego. Só no Rio, as encomendas de papelão para embalagens caíram 6,7% em setembro. O setor é um dos primeiros a refletir o pessimismo.

Setor siderúrgico vive situação crítica

Em Minas Gerais, os setores mais afetados ainda ensaiavam sair da crise de 2008. Porém, segundo dados da Federação das Indústrias do estado (Fiemg), os segmentos siderúrgico, de fundição e de máquinas e equipamentos pesados voltaram a enfrentar sérios problemas. Fábricas são fechadas e há demissões.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas (MG), Ernane Dias, três siderúrgicas já fecharam e cortaram 710 trabalhadores e uma outra está prestes a parar e demitir mais 180:

- A situação do parque siderúrgico está muito crítica.

Forte no ramo de fundições, o Centro-Oeste mineiro, que faz do estado o segundo maior produtor do país, também enfrenta dificuldades e coloca em risco o emprego de 76 mil trabalhadores. Segundo Afonso Gonzaga, presidente do Sindicato da Fundição de Minas Gerais, se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estivesse a todo vapor, o setor estaria bem, pois forneceria peças para as obras.

Já o segmento de produção de equipamentos pesados se agarra à Petrobras, que tem índice de nacionalização obrigatória, para segurar os empregos. Segundo Marcelo Veneroso, diretor da associação dos fabricantes (Abimaq), as encomendas só são suficientes para 17 semanas, contra média histórica de 26.

- Há forte tendência de demissões nos próximos quatro meses, se nada mudar - diz.

No setor de vestuário, segundo a presidente do Sindicato das Costureiras em São Paulo, Eunice Cabral, 15 mil funcionários deverão perder o emprego até o fim do ano. No setor têxtil como um todo, 1,1 mil empregos foram extintos somente em setembro. E a previsão é que 200 mil postos de trabalho deixarão de ser criados, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), ante a invasão chinesa.

Segundo o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, algumas empresas dão sinais de que quebrarão antes do fim do ano. Ele cita uma fábrica paulista de tubos para cosméticos com 60 anos, que não deve conseguir se reerguer e deve dispensar os 700 trabalhadores.

Iedi: efeitos da crise aparecerão mês que vem

O pessimismo é ainda maior no setor de autopeças. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, se o ritmo se mantiver, 80% da indústria quebram nos próximos anos. O setor crescia a uma velocidade de 5,3% até agosto, mas deve encerrar o ano com 1% depois de um mergulho no último trimestre. Isso pode gerar 20 mil dispensas.

As montadoras botaram o pé no freio porque estão com menos capital após remeterem lucro para salvar as matrizes lá fora. A associação do setor (Anfavea) afirma que não há crise, mas a produção caiu 8,6% em setembro, de acordo com dados da própria entidade.

- As vendas cresciam a 10% no ano passado e devemos crescer 1% em 2011 por causa, aparentemente, das importações. As demissões devem ser entre 15 e 20 mil pessoas no setor - afirma o presidente do Sindipeças (produtores de autopeças), Paulo Butori.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) diz que o quadro pode ficar pior, porque o principal impacto até agora é o adiamento de investimentos.

- Os efeitos da crise chegaram este mês na economia real, mas as estatísticas só vão mostrar isso no mês que vem - diz o economista do Iedi, Júlio de Almeida.

Para Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o terceiro trimestre deste ano, ao contrário do ocorre tradicionalmente, foi fraco. Dados divulgados nesta semana pela entidade mostram ajustes nos estoques elevados e queda na produção. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defende que o governo tome medidas para evitar retração do consumo e uma contaminação geral.

FONTE: O GLOBO

Consertar é possível:: Dora Kramer

Reza a lenda entre políticos, analistas e especialistas em geral - que tratam de difundi-la ao ponto de contar hoje com aceitação mais ou menos geral -, que não há outra maneira de se fazer política em governos de coalizão partidária sem entregar a máquina pública ao manejo muitas vezes transgressor dos sócios do condomínio.

Por essa ótica, chega-se à conclusão de que a corrupção é um mal necessário à sobrevivência da democracia, pelo menos tal como ela se apresenta no Brasil com partidos de ideologia difusa e profusão de legendas, cujo apoio majoritário é imprescindível para o êxito de qualquer governo.

É uma linha de raciocínio. Torta, porque fundada no falso pressuposto de que um sistema institucionalmente saudável possa permanecer assim durante muito tempo quando a regra do jogo é a da ilegalidade consentida. Assim como a tese não corresponde aos fatos, não é verdade também que a maioria da população não liga para questões dessa natureza se a economia vai bem e provoca uma sensação de bem-estar.

Está aí a última pesquisa do instituto Latinobarómetro para confirmar: no Brasil, a corrupção aparece como a principal preocupação quando a pergunta é "o que falta à democracia?". Ou seja, as pessoas podem até se sentir bem, mas conectam a epidemia de transgressões à saúde democrática.

José Álvaro Moisés, diretor do núcleo de pesquisas de políticas públicas da Universidade de São Paulo, diz que todos os estudos recentes apontam para o aumento da desconfiança em relação aos partidos e ao Congresso e mostram uma rejeição acachapante (mais de 80%) às práticas que os "especialistas" consideram inerentes à política.

"Elas afetam a qualidade da democracia. Se houver um acúmulo de episódios de corrupção, de escândalos sem punição, de banalização de infrações durante um longo tempo, o resultado será o questionamento da legitimidade dessas instituições", diz. A perda de referência legal e moral, segundo José Álvaro Moisés, gera desconfiança, descrédito, cinismo e conformismo.

É justamente aonde se chega quando se parte do princípio de que o pragmatismo deve prevalecer sobre tudo o mais, inclusive se sobrepondo à Constituição.

Voltando à questão inicial: precisa ser assim?

A posição militante do então presidente Lula de defesa sistemática de transgressores ajudou a disseminar a impressão de que sim, é o único jeito de governar. Mas José Álvaro, para quem a posição de Lula teve um "efeito deletério" exatamente por ser um líder de excepcional identificação popular, atesta que não, há outras maneiras de se pactuar regras da coalizão.

Tudo depende da virtude e do empenho do governante. A primeira condição é que o País seja informado sobre as premissas em que é feito o pacto com os partidos. "É possível partilhar partidariamente o poder, desde que haja compromisso com um programa de políticas públicas e com o cumprimento das normas de conduta, de resto muito claras nas leis."

Hoje, aponta o cientista, não se tem nem uma coisa nem outra. "Onde está dito ou escrito qual o programa de governo que os partidos devem seguir, qual a contribuição de cada um deles, quais os critérios de comportamento a serem seguidos? Não há isso e, se há, o País não foi comunicado a respeito."

Claro que um compromisso sob normas estritas e definidas reduziria muito a adesão dos partidos à coalizão. Dilma Rousseff dificilmente poderia contar os 15 partidos na base congressual. Mas, aqui, se impõe a dúvida: a amplitude da aliança garante vitórias no Parlamento?

"Não garante. Lula e Dilma tiveram dificuldades ou mesmo derrotas no Congresso", responde o cientista.

A única serventia é transmitir a impressão de unanimidade, intimidar a oposição, impedir que o Congresso exerça sua função fiscalizadora, alimentar o gigantismo do Executivo e, com isso, produzir o pior dos malefícios à democracia: interditar a produção de massa crítica na Casa de representação popular que deveria exercer, mas não exerce devido à submissão ao Executivo, a função de vocalizar o debate sobre as grandes questões nacionais, como o avanço da corrupção sobre as instituições.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula e as ironias da vida:: Eliane Cantanhêde

A vida tem dessas ironias: Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice-presidente, José Alencar Gomes (também) da Silva, tiveram uma trajetória muito semelhante. Meninos pobres, de famílias numerosas, saíram do interior e se transformaram em tudo que se transformaram.

Um, operário, líder sindical, militante contra a ditadura militar, deputado, presidente da República, uma das figuras mais prestigiadas no mundo neste século. O outro, empresário, líder patronal, a favor da "revolução de 1964", senador, vice-presidente da República. Lula, o primeiro presidente de esquerda.

Alencar, o vice-presidente de direita de um presidente de esquerda.

Lula e José Alencar tinham uma alma não gêmea, mas muito parecida. Gostavam de um bom "golo", como dizia Alencar com um sorriso matreiro, gostavam de uma cigarrilha, de uma boa prosa sobre os velhos tempos e, claro, de falar de moças bonitas.

Tornaram-se, assim, não apenas presidente e vice, mas amigos, numa relação respeitosa e afetiva que transcendeu a política.
Lula foi um dos grandes amigos de Alencar na reta final, dolorosa, difícil e, sobretudo, longa.

Lula, agora, sofre da mesma doença de Alencar: o câncer. Mas com uma diferença: enquanto o tumor do seu vice já começou implacável no estômago e no rim, impondo-lhe sucessivas metástases, o seu próprio parece ser localizado na laringe, tratável por quimioterapia e curável. O mundo e o país torcem ou rezam para isso.

A outra ironia foi o local: a laringe! Uma das forças de Lula é a voz, a imensa, impressionante capacidade de comunicação desse político inato que saiu de um casebre no interior do Nordeste e cativou o mundo. A voracidade política e as eleições municipais de 2012 serão decisivas para salvá-lo. Lula virou o que virou pela inteligência, o carisma e a voz. Ela não irá lhe faltar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ecce-homo :: Alberto Dines

Eis o homem, teria dito Pôncio Pilatos ao indicar à turba o nazareno Jesus Cristo antes da sentença final. A mesma expressão foi usada pelo ateu Friedrich Nietzsche ao apresentar a sua autobiografia literária. Entre a última terça-feira (quando o STF aceitou a denúncia contra o ex-ministro Orlando Silva) e a quinta-feira (quando a presidente Dilma Roussef indicou o seu substituto), o país do futebol pôs-se à caça do homem (ou mulher) capaz de resgatar a sua credibilidade perante a plateia esportiva planetária.

O homem é Aldo Rabelo. Seus dados pessoais, políticos, psicológicos, patrimoniais, suas manias e devoções foram instantaneamente divulgadas. Faltaram nuances: nosso convívio com a arte biográfica é recente, nos contentamos com pouco, preferimos o anedótico. A pandemia da corrupção nos empurra para o estreito curso do pêndulo ficha-limpa/ficha-suja, o resto perde-se no mar das irrelevâncias.

Enquanto foi ministro das Relações Institucionais, Aldo Rabelo infernizou a vida do então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Eleito para a presidência da Câmara, manobrou intensamente para evitar que o mensalão respingasse no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não despendeu a menor dose de energia para salvar o mandato do adversário Dirceu. Em compensação salvou da degola todos os parlamentares envolvidos no escândalo, inclusive os acusados de flagrantes quebras de decoro. Exceto Roberto Jefferson, o denunciador.

O que menos conta é o sujeito, o que está sub-judice neste momento é o nosso sistema republicano feudalista, não apenas antidemocrático mas grosseiramente ineficaz e degradador. Entregar aos partidos aliados ministérios inteiros, de porteira-fechada, como acontece há nove anos com o PCdoB e a pasta do desporto é uma acintosa aberração funcional. Aldo Rabelo pode jurar que punirá todos os responsáveis pelos desvios de recursos, nepotismo, prevaricação e favorecimentos, porém por mais frio, implacável e pragmático que seja jamais irá além das mudanças cosméticas.

A administração do Estado moderno é técnica, um ministério relativamente novo, com um acervo de vivências restrito, rodeado e infiltrado por insaciáveis interesses econômicos e eleitorais, se deseja alcançar um mínimo de competência não pode ficar prisioneiro de um monólito doutrinário. Mesmo porque nem o PCdoB nem qualquer outra agremiação política brasileira – excetuado o PSOL – podem ostentar uma homogeneidade ideológica. Em nosso horizonte político só existem projetos de poder. E estes são a ruína de nossas instituições.

Aldo Rabelo pretende acabar com a ligação direta entre as ONG e o governo federal transferindo o relacionamento para a esfera estadual e municipal. Isso não impedirá que Estados e municípios da base aliada se beneficiem abusivamente. Mais distantes dos grandes centros ficarão imunes à fiscalização e livres para continuar operando no mesmo paradigma da Era Orlando Silva.

O sistema de ministérios-bunkers, autárquicos, sequestra poderes do Estado equitativo e isonômico, impede-o de pensar federativamente e barra a imperiosa e inadiável reestruturação administrativa. Os ministérios-currais jamais admitirão uma diminuição no seu número mesmo com o aumento das sinergias e das áreas de atuação.

O saneamento empreendido pela presidente Dilma corre o risco de tornar-se ilusório se não for devidamente amparado por avanços estruturais consistentes.

Retirado do seu nicho espiritual, messiânico, Ecce-Homo é uma busca de nomes e pessoas. Neste momento o mundo está sedento de ideias.

Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

República destroçada :: Marco Antonio Villa

Em 1899 um velho militante, desiludido com os rumos do regime, escreveu que a República não tinha sido proclamada naquele mesmo ano, mas somente anunciada. Dez anos depois continuava aguardando a materialização do seu sonho. Era um otimista. Mais de cem anos depois, o que temos é uma República em frangalhos, destroçada.

Constituições, códigos, leis, decretos, um emaranhado legal caótico. Mas nada consegue regular o bom funcionamento da democracia brasileira. Ética, moralidade, competência, eficiência, compromisso público simplesmente desapareceram. Temos um amontoado de políticos vorazes, saqueadores do erário. A impunidade acabou transformando alguns deles em referências morais, por mais estranho que pareça. Um conhecido político, símbolo da corrupção, do roubo de dinheiro público, do desvio de milhões e milhões de reais, chegou a comemorar recentemente, com muita pompa, o seu aniversário cercado pelas mais altas autoridades da República.

Vivemos uma época do vale-tudo. Desapareceram os homens públicos. Foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem enriquecer a qualquer preço. E rapidamente. Não importam os meios. Garantidos pela impunidade, sabem que se forem apanhados têm sempre uma banca de advogados, regiamente pagos, para livrá-los de alguma condenação.

São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disso. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e no qual nada é proibido. Pois os poderosos exercem o controle do Estado - controle no sentido mais amplo e autocrático possível. Feio não é violar a lei, mas perder uma eleição, estar distante do governo.

O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação, por mínima que seja. Não há mais distinção. O panorama político foi ficando cinzento, dificultando identificar as diferenças. Partidos, ações administrativas, programas partidários são meras fantasias, sem significados e facilmente substituíveis. O prazo de validade de uma aliança política, de um projeto de governo, é sempre muito curto. O aliado de hoje é facilmente transformado no adversário de amanhã, tudo porque o que os unia era meramente o espólio do poder.

Neste universo sombrio, somente os áulicos - e são tantos - é que podem estar satisfeitos. São os modernos bobos da corte. Devem sempre alegrar e divertir os poderosos, ser servis, educados e gentis. E não é de bom tom dizer que o rei está nu. Sobrevivem sempre elogiando e encontrando qualidades onde só há o vazio.

Mas a realidade acaba se impondo. Nenhum dos três Poderes consegue funcionar com um mínimo de eficiência. E republicanismo. Todos estão marcados pelo filhotismo, pela corrupção e incompetência. E nas três esferas: municipal, estadual e federal. O País conseguiu desmoralizar até novidades como as formas alternativas de trabalho social, as organizações não governamentais (ONGs). E mais: os Tribunais de Contas, que deveriam vigiar a aplicação do dinheiro público, são instrumentos de corrupção. E não faltam exemplos nos Estados, até mesmo nos mais importantes. A lista dos desmazelos é enorme e faltariam linhas e mais linhas para descrevê-los.

A política nacional tem a seriedade das chanchadas da Atlântida. Com a diferença de que ninguém tem o talento de um Oscarito ou de um Grande Otelo. Os nossos políticos, em sua maioria, são canastrões, representam mal, muito mal, o papel de estadistas. Seriam, no máximo, meros figurantes em Nem Sansão nem Dalila. Grande parte deles não tem ideias próprias. Porém se acham em alta conta.

Um deles anunciou, com muita antecedência, que faria um importante pronunciamento no Senado. Seria o seu primeiro discurso. Pelo apresentado, é bom que seja o último. Deu a entender que era uma espécie de Winston Churchill das montanhas. Não era, nunca foi. Estava mais para ator de comédia pastelão. Agora prometeu ficar em silêncio. Fez bem, é mais prudente. Como diziam os antigos, quem não tem nada a dizer deve ficar calado.

Resta rir. Quem acompanha pela televisão as sessões do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e as entrevistas dos membros do Poder Executivo sabe o que estou dizendo. O quadro é desolador. Alguns mal sabem falar. É difícil - muito difícil mesmo, sem exagero - entender do que estão tratando. Em certos momentos parecem fazer parte de alguma sociedade secreta, pois nós - pobres cidadãos - temos dificuldade de compreender algumas decisões. Mas não se esquecem do ritualismo. Se não há seriedade no trato dos assuntos públicos, eles tentam manter as aparências, mesmo que nada republicanas. O STF tem funcionários somente para colocar as capas nos ministros (são chamados de "capinhas") e outros para puxar a cadeira, nas sessões públicas, quando alguma excelência tem de se sentar para trabalhar.

Vivemos numa República bufa. A constatação não é feita com satisfação, muito pelo contrário. Basta ler o Estadão todo santo dia. As notícias são desesperadoras. A falta de compostura virou grife. Com o perdão da expressão, mas parece que quanto mais canalha, melhor. Os corruptos já não ficam envergonhados. Buscam até justificativa histórica para privilégios. O leitor deve se lembrar do símbolo maior da oligarquia nacional - e que exerce o domínio absoluto do seu Estado, uma verdadeira capitania familiar - proclamando aos quatro ventos seu "direito" de se deslocar em veículos aéreos mesmo em atividade privada.

Certa vez, Gregório de Matos Guerra iniciou um poema com o conhecido "Triste Bahia". Bem, como ninguém lê mais o Boca do Inferno, posso escrever (como se fosse meu): triste Brasil. Pouco depois, o grande poeta baiano continuou: "Pobre te vejo a ti". É a melhor síntese do nosso país.

Historiador, é professor da universidade federal de SÃO CARLOS(UFSCAR)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O efeito moderador de FHC:: João Bosco Rabello

A ida do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao jantar no Palácio da Alvorada, nove anos após deixar a Presidência, expôs mais uma vez o conflito interno no PSDB, polarizado entre o senador Aécio Neves e o ex-governador de São Paulo, José Serra.

Fernando Henrique foi a um jantar com líderes mundiais empenhados na promoção da paz global, entre os quais está o ex-presidente americano, Jimmy Carter. Um evento, portanto, apartidário que deveria ser registrado como uma pausa entre adversários pelo bem comum.

No entanto, em política não há gestos gratuitos e o novo encontro entre FHC e a presidente Dilma Rousseff reforçou a leitura de que o ex-presidente exerce um papel moderador na oposição ao governo desde que começaram a pipocar os escândalos ministeriais, confiante de que está em curso o desmonte de uma estrutura concebida pelo ex-presidente Lula.

Importaria mais, portanto, estimular a ação saneadora de Dilma, pela exposição automática do verdadeiro adversário nas campanhas municipal e presidencial: Lula. É, porém, uma estratégia sutil demais para tucanos preocupados com 2014 num contexto em que a percepção geral é a de que ao país falta oposição.

O tom moderador de FHC encontra sintonia com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que costura sua candidatura explorando a visibilidade do mandato que falta ao seu rival José Serra. Este, com seus espaços reduzidos no partido, que até da propaganda gratuita o andou excluindo.

É daí que vem o grito do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), cobrando uma agenda de oposição, como defende o ex-governador Serra.

Oposição no governo

No quadro de anemia dos partidos de oposição, esta é muito mais percebida dentro do próprio governo, onde o fogo amigo produz vítimas entre rivais da base aliada. Mesmo quando as denúncias são levantadas exclusivamente pela imprensa, parlamentares da situação as atribuem, em algum grau, a informações de adversários que disputam espaço na estrutura de poder. O caso mais recente é o do ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva, cuja queda ele próprio debitou a uma suposta ação do PT, através do ex-titular da Pasta, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. O que faz o governo agora temer uma vingança capaz de gerar novos estragos no PT. Nesse momento, a oposição está no governo.

No twitter

É no Twitter que Serra e Aloysio Nunes compensam a redução do espaço dentro do partido promovido gradualmente por Aécio Neves (MG) com apoio do presidente Sérgio Guerra (PE). O senador cobrou a posição do PSDB sobre a questão dos royalties, código florestal, reforma política e Copa do Mundo. "Qual é a nossa posição?" - pergunta. Já Serra condenou a MP 540 que prevê o uso do FGTS para obras da Copa. "O FGTS é um patrimônio do assalariado", disse.

Mais fiscalização

O governo vai precisar ir além do Ministério dos Esportes para pôr fim à festa das ONGs vinculadas à sua base de sustentação. Elas estão em toda a parte a serviço da apropriação do orçamento público pelos partidos, a exemplo do que se verificou no caso do PC do B. O governo espera que não haja novo terremoto nos ministérios das Cidades e do Trabalho, onde também há convênios na mira do ministério Público, antes da reforma ministerial. Mário Negromonte e Carlos Lupi, respectivos titulares dessas Pastas, são dados como fora do governo em 2012. Também não pode se esgotar na transferência de convênios para as prefeituras a solução para a corrupção. O Planalto quer mais acompanhamento e fiscalização dos próprios ministérios da execução de projetos com financiamento público.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Indignados e desanimados:: Vinicius Torres Freire

Maior tumulto econômico em décadas suscitou apenas mais conformismo e protesto ingênuo e menor

Os "indignados" e ocupantes de praças em Nova York, Madri e alhures dão o que pensar. A gente pensa no fracasso, na ruína e na evaporação das ideias inconformistas e críticas nos últimos 40 anos, assim como dos movimentos políticos que poderiam ter dado sentido a elas. Trata-se aqui de países ricos, do universo euro-americano.

Nos anos 1960 e 1970 parecia haver grande revolta no centro do mundo. Enterravam-se várias tradições culturais e comportamentais (1968 etc.), maneiras da classe dominante antiga eram vilipendiadas pela difusão de hábitos "pop", contestavam-se as relações sociais autoritárias mais cotidianas.

Os sindicatos operários davam seu último grande suspiro de protesto, o que afinal não foi pouco, pois firmaram e blindaram o contrato do Bem-Estar Social, que, mal ou bem, mas cada vez mais mal, civilizou a vida e dura até hoje.

Em seguida vieram a "grande (para eles) inflação", as recessões e, enfim, a grande liberalização financeira e maciça transnacionalização da grande empresa, coisas que ajudaram a moldar o mundo tal como ele é agora. Um molde trincado.

Isto é, um mundo de tumulto financeiro quase contínuo, de redução do poder dos governos nacionais, de despolitização desanimada diante de poderes imperiais e globais tão imensos que tornam derrisória a maioria dos movimentos políticos de protesto. A ironia da crise econômica do final dos anos 1970 e do começo dos 1980 é que ela redundou no fortalecimento das "forças da ordem", na ruína até da centro-esquerda, no mercadismo, no aumento do poder da finança, na indiferenciação cada vez maior dos partidos maiores, quase todos transformados em social-democratas conservadores.

Mas ainda naquele tempo havia a fantasia de revoluções, ideias críticas, esperanças de nova ordem, ingênuas ou selvagens que a maioria delas fosse, não importa. Havia espírito de dissenso e misérias bastantes para suscitar protesto. O que, porém, foi completamente irrelevante para a vitória fácil dos adversários desse tal espírito crítico.

A emergência do complexo asiático, da entrada no mercado mundial das massas de trabalhadores de China, Índia e cia. comprimiu ainda mais a margem de manobra política e econômica no mundo euro-americano. Tal movimento só começa -há uma outra China quase inteira para entrar no mercado.

Depois de 30 anos, um novo tumulto atinge o restante do centro econômico mundial. O nível de conforto material cresceu no mundo rico desde então. A desconfiança ou desalento com a irrelevância da política também.

Mesmo com a ruína teórica e moral de vários aspectos do mercadismo, recessões imensas, desemprego etc., a reação por ora é quase só cinismo ou a ingenuidade dos acampados e indignados de Nova York, Madri e alhures. Existiria um limiar de conforto a partir de qual a vontade de protestar se reduz a zero?

O mundo rico estaria apenas sujeito ao risco de uma lenta degradação, a fuga contínua de empregos para Ásia, emergentes e cia., o que, aos poucos, reduzirá o nível de conforto de seus habitantes, em particular na Europa do bem-estar? Um suspiro, nada de explosões, nenhuma ruptura mais?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Travas à corrupção :: Suely Caldas

É tudo ou nada. E com o tempo acaba restando nada. É assim, radical na aparência e inócuo na intenção, que tem agido o governo do PT sempre que surgem denúncias de desvios de dinheiro público.

Já no início de sua gestão, Lula determinou o fechamento de todos os bingos do País depois que Waldomiro Diniz, então assessor do ex-ministro José Dirceu, foi flagrado recebendo propina de um bicheiro. Hoje os bingos funcionam camuflados e sem nenhuma fiscalização. Agora a presidente Dilma ordenou o fim dos convênios do Ministério do Esporte com todas as ONGs, usadas para repassar dinheiro público ao PC do B. Quase todos os ministérios mantêm convênios com ONGs, e assim vai continuar. Com o tempo, também na pasta do Esporte.

Ou seja, o governo faz barulho, populismo, marketing, ataca momentaneamente os efeitos e deixa o caminho livre para as causas seguirem operando. Seria intencional? No caso do ex-presidente Lula pode ser. Afinal, ele não só brecou a apuração dos casos de corrupção em seu governo, como acariciou cabeças de corruptos e disseminou a prática de loteamento de cargos com o fim claro de tirar proveito para os partidos políticos, e não de servir ao País. Nada apurou, muito menos puniu e não tratou de criar barreiras para inibir fraudes.

Certamente não é o caso da presidente Dilma. Ela não só parece sincera ao assumir o compromisso de reprimir e punir o "malfeito", repetido desde o primeiro discurso na vitória eleitoral, como tem agido nessa direção. A demissão de cinco ministros, acusados de corrupção, em dez meses de governo, e o enfrentamento com os partidos que os representam são provas de cumprimento desse compromisso. É certo que ela tem tropeçado aqui e ali em declarações vacilantes e deixado as denúncias prosperarem e sangrarem seu governo. No caso da demissão de Orlando Silva, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal acabou agindo por ela. São tropeços decorrentes da inabilidade em lidar com o assunto, mas ela parece realmente disposta a não compactuar com corruptos.

Se assim é, Dilma precisa começar a trabalhar rápido na construção de um cinturão de proteção ao dinheiro público, criar regras preventivas de ação e conduta para quem ocupa cargos no governo capazes de impedir a fraude no nascedouro. Não será agindo sobre os efeitos, fechando bingos e proibindo convênios com ONGs, que conseguirá. Uma reforma política resolveria o principal foco de corrupção: o financiamento de campanhas eleitorais. Como sua aprovação depende mais do Congresso que do Executivo, resta a Dilma recorrer a um vasto cardápio ao seu alcance.

Na quinta-feira o controlador-geral da União, Jorge Hage, anunciou que o governo pensa em reproduzir a Lei da Ficha Limpa em nomeação de cargos no Executivo e obrigar ministros a assinarem convênios com ONGs, não mais delegar a subordinados. O que espanta é não ser assim há mais tempo. Afinal, o mínimo que o País exige de um ministro de Estado é não ter cometido crimes no passado. Mas vá lá, desde que não seja factoide de um momento de crise de demissão no Esporte.

Na sexta-feira, o Estado publicou um estudo de dois cientistas políticos da Unicamp que mapearam os riscos de corrupção em cada Estado do País. Em outro estudo, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) propõe ao governo Dilma uma série de medidas preventivas anticorrupção. Os dois trabalhos têm na prática da transparência - a obrigatoriedade de governos prestarem contas à população publicando em seus sites na internet atos, licitações, contratos, convênios, enfim, os números de seus gastos - o centro de uma ação preventiva para frear a corrupção. São contribuições que poderiam balizar medidas preventivas (muitas sem precisar passar pelo Congresso), se real é a disposição do governo Dilma de fechar os ralos de desvios de dinheiro. Fernando Henrique Cardoso fez a Lei de Responsabilidade Fiscal, criou a Comissão de Ética e parou por aí. Lula nada fez. Está nas mãos de Dilma dar um rumo ao seu governo neste campo, inverso ao do antecessor.

Jornalista, é professora da PUC-RIO

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

G20, entre sonho e realidade:: Clóvis Rossi

Sonho: mais empregos e a "moralização" do capitalismo. Realidade: a crise europeia na agenda

PARIS - Se tudo sair de acordo com os sonhos do anfitrião, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a cúpula do G20 terminará na sexta-feira com um plano de ação para o crescimento e a criação de empregos. Terminará também com o que Sarkozy -hábil criador de rótulos- define como "moralização do capitalismo".

Seria, de acordo com a diplomacia francesa, controlar os paraísos fiscais (meta que o G20 persegue desde a primeira cúpula, em 2008); impor algum limite aos obscenos bônus que os executivos do sistema financeiro continuam recebendo, apesar de alguns deles terem levado suas instituições à beira da quebra; e estabelecer uma taxa sobre as transações financeiras internacionais.

O mais provável, no entanto, é que o clube das maiores economias do planeta se limite à retórica nesses três capítulos, mas consiga, sim, um acordo para, enfim, deixar claro o que fazer com os bancos que são considerados grandes demais para quebrar. São 27 bancos, nenhum brasileiro, cujo tamanho e conexões globais os transformam em eventual "risco sistêmico": se quebrarem, o sistema todo quebra.

Já no capítulo "crescimento", haverá a ritual menção à necessidade de que ele seja "forte, sustentável e equilibrado", fórmula que aparece em todos os comunicados de todas as cúpulas.

A novidade para a reunião de 2011 é o emprego. A diplomacia francesa envolveu, pela primeira vez, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) nos preparativos, do que resultou um número impressionante: no mundo todo, há 200 milhões de desempregados.

Um plano de ação para crescimento e emprego é defendido tanto pelo presidente Barack Obama como por agentes líderes de mercado como Mohamed El-Erian, do fundo Pimco, um dos gurus das finanças. Escreveram ambos para o "Financial Times" para dizer, como Obama, que "precisamos permanecer focados em crescimento forte, sustentável e equilibrado, que estimule a demanda global e crie empregos e oportunidades para o povo".

Reforça El-Erian: "A Europa necessita desesperadamente de um plano eficaz para estimular o emprego e promover crescimento econômico inclusivo. Sem isso, é virtualmente impossível estabilizar o mercado de débito soberano da região e conter as fragilidades no seu sistema bancário".

Ao ligar crescimento/dívidas/fragilidade dos bancos, El-Erian sai do sonho para a realidade: a agenda do G20 acabou sequestrada pela crise europeia. Há 20 dias, os ministros de Economia do grupo deixaram claro que, antes de fechar a pauta para a cúpula, era preciso que a Europa decidisse como enfrentaria sua crise.

A partir de segunda-feira, quando os negociadores começarem a trabalhar no documento final para que seus chefes o assinem na sexta, vai ser possível avaliar se o pacote europeu emitido na madrugada de quinta-feira é o que os parceiros europeus esperavam. Para os mercados que Sarkozy pretende moralizar, não é: a Itália teve que pagar um recorde de 6% de juros para renovar seus títulos, apenas 24 horas depois de um pacote supostamente definitivo contra o risco de outras "Grécias".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Na crise, a indústria global se movimenta :: José Roberto Mendonça de Barros

A última reunião do Fundo Monetário Internacional, no fim de setembro em Washington, foi marcada por um extremo pessimismo quanto à evolução e perspectivas da crise mundial. Desde então o pessimismo recuou em alguma medida, com dados melhores nos EUA e na China. Na Europa, as decisões tomadas avançam no encaminhamento na questão do euro, embora estejamos longe da solução definitiva. Acho que os pessimistas terão de esperar um pouco mais para testar suas hipóteses.

Na crise, a indústria global está se movimentando. Podem-se observar pelo menos dois conjuntos de transformações: a aceleração de mudanças tecnológicas e certa revisão e realocação nas cadeias de produção.

Não será a primeira vez que uma crise induz e consolida inovações, ameaçando modelos estabelecidos de produção e de negócios, ao mesmo tempo em que se abrem inúmeras oportunidades. Não tenho a pretensão de realizar qualquer tipo de análise abrangente, mas diria que os avanços mais importantes estão ligados a área de energia e materiais, sustentabilidade, tecnologia da informação, mobilidade e redes, além da redobrada busca de eficiência produtiva.

Na área de energia, a grande novidade é a decisão de avançar em fontes renováveis, especialmente nos biocombustíveis de segunda geração (que estão muito próximos de se tornarem comerciais, como o diesel proveniente do caldo da cana), a energia solar e a energia eólica. A crise internacional vai atrasar um pouco a ampliação dos dois últimos programas porque subsídios ao investimento e a produção serão em partes reduzidos. Entretanto, em regiões como o Vale do Silício e outras, o número de empresas trabalhando nas melhorias de custos sugere que as novas fontes estão mais próximas de se tornarem competitivas. A segunda frente na questão da energia está na conservação, especialmente por meio das lâmpadas LEDs e de computadores e máquinas mais eficientes no consumo de energia. Finalmente, na área de combustíveis fósseis tradicionais a forte inovação tecnológica permite a produção de petróleo em águas ultra profundas e o gás natural de rocha ("shale gas"), que está produzindo uma revolução na oferta americana e uma queda no preço de mercado.

Os avanços na biotecnologia e na nanotecnologia são em parte responsáveis pela produção de novos materiais, como solventes, plásticos degradáveis e outros. Materiais compostos (plásticos reforçados com fibra de carbono) e cerâmicos serão utilizados crescentemente na indústria aeronáutica.

Na área da tecnologia de informação os enormes avanços na mobilidade (telefones, tablets e outros aparelhos pequenos, mas poderosos, bem como seus respectivos softwares), nas redes sociais e na computação em nuvem (definida com a possibilidade de colocar em um grande centro de computação programas e arquivos de qualquer porte, e acessá-los de qualquer lugar que se esteja) estão produzindo uma revolução ainda em sua fase inicial. Apenas imaginamos suas consequências, mas certamente a operação de empresas industriais está sendo afetada.

Nesta área a possibilidade de construção de redes inteligentes afetará a vida nas cidades e os modelos de produção e distribuição de diversos segmentos. Um exemplo que começa a se expandir são as redes inteligentes de distribuição de energia elétrica que permitem que unidades possuidoras de painéis solares possam ser não apenas consumidores de energia, mas também vendedores dela em certos momentos.

Ao lado da mudança tecnológica, existe certa revisão e realocação nas cadeias industriais. Nas cadeias de suprimentos ("procurement"), a busca frenética por redução de custos levou muitas companhias a operarem com estoques mínimos e a dependerem de uma única fonte de suprimento. Entretanto, dois grandes casos tiveram um forte impacto e estão levando a certa revisão nessa estratégia. Falo aqui das terras raras e dos impactos dos acidentes ocorridos no Japão em março.

Existe uma enorme dependência da exportação de terras raras da China. O que assustou a indústria foi o fato que o governo chinês suspendeu por vários meses as licenças de exportação, obrigando as indústrias consumidoras a se utilizar de seus estoques, que naturalmente se reduziram. As terras raras são um conjunto de minérios (lantânio, cério, praseodímio, gadolínio, térbio, promécio, etc) de baixo consumo em volume, mas absolutamente insubstituíveis na produção de super ímãs, fabricação de componentes de motores de avião, memórias de computador, CDs e TVs em cores. No limite, um bloqueio do comércio destes produtos pararia uma boa parte do parque industrial global mais moderno. Como consequência, muitos países e empresas passaram a estudar a possibilidade de produção de alguns destes minérios, como, por exemplo, a Vale.

O triplo desastre no Japão em março revelou uma enorme dependência da indústria, especialmente a automotiva, de certos pequenos chips (indispensáveis ao funcionamento dos veículos modernos) de plantas localizadas no Japão. Com isso, a cadeia internacional de suprimentos foi seriamente afetada, por um período. Apenas como exemplo a produção automotiva americana caiu pesadamente em maio, sendo um dos elementos contribuintes para a perda de crescimento do PIB daquele país no primeiro semestre deste ano. No Brasil, a falta de suprimentos levou a Honda a demitir metade do corpo funcional e reduzir a produção. Duas consequências ocorreram: 1) muitas indústrias revisaram seus procedimentos elevando estoques de certos insumos para pelo menos três meses de consumo na produção; 2) muitas empresas japonesas voltaram a investir em plantas em outros países como um seguro para evitar uma repetição destes eventos.

A incessante busca por eficiência produtiva está levando muitas indústrias a intensificar o uso de robôs, apesar do desemprego em elevação no mundo. O caso mais estonteante é o anúncio da Foxconn de que vai introduzir o uso de um milhão de robôs em suas fábricas nos próximos anos. No Brasil está se generalizando o uso de robôs em certas áreas das fábricas, especialmente na soldagem. Restrições de caráter ambiental e de proteção à saúde do trabalhador também estão na base desta mudança.

Finalmente, o fato mais notável é que a vantagem de custo da China está se reduzindo tendo em vista a brusca elevação dos custos de mão de obra, que continuarão a ocorrer. Em resposta a isso, vemos três movimentos ocorrendo: 1) a interiorização da produção, onde os menores custos de mão de obra são compensados pela pior infraestrutura; 2) crescimento da produção em países vizinhos, como o Vietnã, Camboja, Filipinas e outros; 3) a recuperação de competitividade em outros lugares, como o México.

Nessa área, o caso mais impressionante é a recuperação da indústria americana, que está se acelerando. Estudo recente do Boston Consulting Group (Made in America, Again- agosto de 2011) mostra que daqui a cinco anos será mais barato produzir certos itens (como autopeças) nos EUA do que importar da China. Além da elevação de salários no país asiático, o dólar fraco, a maior produtividade americana e outros fatores, vão eliminar quase toda a diferença de custos existente até aqui. Na verdade, já hoje é visível o renascimento da indústria americana. Muitas empresas, inclusive brasileiras, já investem lá em plantas industriais.

Acho desolador ver que, enquanto todos estes movimentos acontecem, a agenda industrial brasileira é dominada pelo foco no câmbio, no protecionismo e na extração de outras benesses governamentais, enquanto nossa produtividade não se move e a competitividade do País recua sem parar (é só olhar o Doing Business 2012, do Banco Mundial).

Economista

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO