sábado, 17 de dezembro de 2011

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: a cultura, história e memória

Somos uma organização que valoriza a cultura, a história e a memória, afirma e respeita a ética política: os direitos, mas, também, os deveres da cidadania e as responsabilidades morais dos representantes democráticos. Por isso nosso congresso teve como tema: "Unir a esquerda democrática para mudar o Brasil". Conscientes de que tal processo necessitará incorporar outras forças reformistas e democráticas para alcançar tal fim.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS. Esquerda democrática. Brasil Econômico, 16/12/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma: caso de Pimentel não tem nada a ver com governo
"Não é hora de dar aumento"

FOLHA DE S. PAULO
Dilma rejeita interferência de partidos no governo
Aposta em loterias poderá ser pela internet em março
Mudança no ICMS deve elevar preço de genérico
Militar brasileiro é investigado pela ONU no Haiti

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma diz que "não é hora" de dar reajuste aos servidores
Mantega quer limite ao real valorizado
Parte da ilha de Sarney é colocada à venda

CORREIO BRAZILIENSE
Dilma descarta reajuste
O castigo das chuvas

ESTADO DE MINAS
Presentão de Natal para vereadores de BH
Dilma repele ingerência de partidos
Infância atrás das grades

ZERO HORA (RS)
Como será a segurança nos jogos da Copa
Popularidade em alta: Avaliação de Dilma sobe após faxina

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma desbanca Lula e FHC na estreia
Oposição segue no rastro de Pimentel
TST definirá reajuste de aeroviário

Serra ataca governo Dilma

SÃO PAULO – O ex-governador e ex-presidenciável José Serra afirmou ontem à noite que o governo Dilma Rousseff "ainda não começou". "Vamos torcer para começar no ano que vem", afirmou. Ele disse que não precisa fazer muito "frufru" e dizer que tem coisas boas e coisas ruins. "São só propostas malucas, como as do trem bala."

Serra afirmou que o PT "é bom de publicidade", o que justificaria, segundo ele, a boa avaliação do governo em pesquisas. "Nisso eles são imbatíveis." Disse que Dilma é bem avaliada por conta do marketing da faxina.

"Quando, na verdade, não houve faxina nenhuma. Os ministros foram saindo porque a opinião pública pressionou. E ela queria mantê-los. Ainda agora estamos nessa de ministro saindo", afirmou, numa referência ao caso Fernando Pimentel.

De acordo com Serra, o PSDB não sabe fazer propaganda de suas realizações. Citou as bolsas que existiam no governo Fernando Henrique Cardoso para dizer que Lula as unificou e ficou com os créditos.

AVAL
Na mesma linha, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse ontem, no Encontro da Juventude Tucana, em Goiânia, que o governo do PT "deu aval às administrações de Fernando Henrique Cardoso" ao manter a política econômica e o programa de privatizações.

Aécio também classificou de "literatura ruim" o livro Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que acusa lideranças do partido de terem se beneficiado de propinas angariadas durante a privatização das teles e do sistema elétrico. "A maior prova de que o processo foi correto é que o PT governa o país há nove anos e não reviu nenhuma privatização, não investigou nenhuma irregulariadade. Pelo contrário, agora o PT amplia as privatizações para os aeroportos", afirmou.

Ele fez críticas ao governo Dilma Rousseff. "Neste governo o malfeito só é malfeito quando vira escândalo."

Ele disse que Dilma apenas reage a denúncias da imprensa quando demite ministros acusados de irregularidades. "A faxina é apenas reativa", afirmou o senador tucano.

Questionado sobre os altos índices de aprovação de Dilma – que obteve 56% de aprovação em pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem –, o senador tucano disse que isso "é normal" no primeiro ano de mandato. "Respeito pessoalmente a presidente Dilma, mas isso não impede de apontar erros no seu governo", afirmou o mineiro, que ainda criticou o loteamento da máquina pública.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Aécio e Serra disputam juventude do PSDB

Os dois estiveram em evento em Goiânia promovido pelos jovens filiados; embate foi minimizado

AÉCIO: "Não existe PSDB do Aécio ou PSDB do Serra. Existe um só PSDB"

JOSÉ SERRA discursou depois de Aécio e o tempo foi cronometrado

Isonilda Souza, Silvia Amorim

GOIÂNIA e SÃO PAULO. No discurso, não há divisão interna no PSDB, nem grupos serristas e aecistas em pé de guerra. Foi o que disseram os dirigentes do partido presentes ontem no Encontro da Juventude Tucana, em Goiânia. Mas a agenda cuidadosamente cronometrada pelos organizadores do evento tentou garantir o mesmo espaço ao ex-governador José Serra (SP) e ao senador Aécio Neves (MG), e evitou o encontro dos dois - pré-candidatos do partido à sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2104. Aécio saiu do evento por volta das 20h e, minutos depois, Serra chegou. Os dois foram recebidos como candidatos pela juventude tucana.

Cada um teve seu momento exclusivo para discursar para cerca de 500 jovens filiados e alinhados ao PSDB, dentro da estratégia do partido de modernizar a legenda, atrair a juventude brasileira para suas causas e ampliar o poder tucano pelos estados com caras novas nas próximas eleições. Principalmente no pleito municipal do ano que vem.

Porém, essa estratégia tem ficado em segundo plano por conta da antecipação de um debate mais caloroso no partido sobre quem será o candidato do PSDB nas eleições presidenciais de 2014. Disputa negada por todos, mas evidenciada nos encontros tucanos.

Ao chegar ontem a Goiânia, no fim da tarde, Aécio minimizou a divisão interna, negando que haja divergências entre seus filiados mais ilustres. Segundo ele, o PSDB chegará unido para a eleição presidencial de 2014:

- Isso é muito mais uma pauta da imprensa. Não existe o PSDB do Aécio e o PSDB do Serra. Existe um só PSDB, que é do Aécio, do Serra, do Marconi Perillo, do Geraldo Alckmin, do Fernando Henrique Cardoso.

Admitindo que tem pretensão de ser o candidato do partido em 2014, mas ressaltando que isso não é um ato de vontade, Aécio voltou a defender a realização de prévias no PSDB para a escolha do candidato:

- Digo sempre que Presidência é muito mais destino do que projeto. No momento certo, acredito que no ano de 2013, através de prévias, que é o que eu defendo, o PSDB indicará quem é aquele que deverá empunhar essas nossas bandeiras. Mas antes de 2014, há 2012. E é preciso que essa juventude, principalmente, seja mobilizada para termos vitórias em todo o Brasil.

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), também minimizou a divisão partidária:

- Se essa divisão se dá em algum lugar, não é no partido. Não tem apoio do PSDB.

Guerra disse que os tucanos vão definir o presidenciável a partir do resultado das eleições municipais de 2012.

- Pelo menos é isso que eu defendo. Não vejo problemas em realizar prévias, mas vai depender das urnas no ano que vem. Vamos aguardar. Vai depender do resultado das urnas de 2012.

O senador mineiro foi aclamado pelos participantes aos gritos de "Aécio presidente". Ao longo do encontro, que pretendia reunir cerca de mil jovens, um dos gritos de guerra dos participantes era: "Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos um tucano presidente do Brasil".

A chegada de Serra estava prevista para as 19, mas ele só chegou depois das 20h, após a saída de Aécio do evento. O ex-governador não quis dar entrevista e foi direto fazer discurso.

Quando entrou no local do evento, Serra foi recebido aos gritos de "olé, olê, olá, Serra, Serra!!". No discurso, o ex-governador fez críticas à presidente Dilma Rousseff, dizendo que o governo dela ainda não começou. E, falando para a plateia jovem, um dos mais célebres ex-presidente da UNE atacou o PT, afirmando:

- O PT sufocou o movimento estudantil.

Além Serra, Aécio, Sérgio Guerra e do governador de Goiás, Marconi Perillo, participaram do encontro outros líderes regionais do PSDB, como o presidente nacional da Juventude Tucana e secretário de Esporte de Curitiba, Marcello Richa (filho do governador do Paraná, o também tucano Beto Richa). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cancelou sua ida.
Na busca por apoiadores dentro do partido para a eleição de 2014, o senador Aécio e Serra lançaram-se numa cruzada para buscar apoio da juventude do partido. O grupo é considerado estratégico pelo grau de organização - ele está estruturado nos 26 estados e no Distrito Federal - e pela força que tem demonstrado para a mobilização da militância.

- Temos dois nomes de grande visibilidade e com tranquilidade e diálogo vamos, sem dúvida, dar a nossa contribuição nesse processo - afirmou Richa.

FONTE: O GLOBO

'Bode' no PT do Rio por causa de apoio a Paes

Petistas fazem ato de repúdio à aliança com PMDB para 2012

Cássio Bruno

O clima no PT do Rio deu "bode". Foi assim que a economista e ex-deputada federal Maria da Conceição Tavares analisou ontem a atual situação do partido no estado. Ela participou, na sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado (Crea-RJ), no Centro, de um evento de repúdio à aliança dos petistas com o PMDB em apoio à candidatura do prefeito Eduardo Paes à reeleição. O encontro teve a participação de militantes contrários à dobradinha e de sindicatos, e foi organizado pelo deputado federal Alessandro Molon.

- O PT aqui do Rio tem sempre dado bode. Desde o tempo em que o partido apoiou Anthony Garotinho (em 1998, para governador). Não voto no Eduardo Paes em hipótese alguma, como não votei no Garotinho. Eles são conservadores e reacionários - discursou Maria da Conceição, completando: - Vejo tudo isso com muita tristeza. Cheguei a brigar com o Lula quando ele apoiou o Garotinho. Temos de levar o PT a sério. Estamos sendo massacrados.

Segundo Molon, o acordo firmado entre PT e PMDB não teria sido discutido com a militância petista.

- Chegou a hora de saber se vamos ter uma cara própria (nas eleições) ou ser subalternos do poder que domina o estado. A militância do PT não foi ouvida - afirmou o parlamentar.

Procurada pelo GLOBO, a assessoria de imprensa do prefeito Eduardo Paes não retornou as ligações.

FONTE: O GLOBO

PSDB pede explicação sobre viagem de Pimentel

Para tucanos, ministro pode ter ido a Genebra para ficar longe da imprensa; a agenda não foi toda cumprida

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O PSDB quer informações oficiais do governo federal sobre a viagem do ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, a Genebra, na Suíça, esta semana. O ministro obteve autorização, publicada no Diário Oficial da União do dia 14, para se afastar do Brasil e participar da 8ª Conferência Ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC), mas não compareceu à abertura oficial do evento. O líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), vai apresentar na Câmara, semana que vem, requerimentos de informação a Pimentel e ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, sobre a agenda de compromissos em Genebra.

Os requerimentos solicitaram que os dois ministros enviem à Câmara cópia de suas agendas no evento da OMC, informações sobre a composição da comitiva e sobre quem esteve presente nas conferências em Genebra. Também questionará o custo da viagem.

- É preciso ter informações a respeito para que seja afastada a hipótese de o ministro ter faltado a compromissos de interesse do país para não ser abordado por jornalistas a respeito das denúncias envolvendo sua atividade de consultor - afirmou o líder tucano.

Pimentel não participa de reunião ministerial da OMC

O Diário Oficial do dia 14 último trouxe despacho da presidente Dilma Rousseff autorizando o afastamento do país, com ônus para os cofres públicos, de Fernando Pimentel. No despacho, o afastamento foi autorizado entre os dias 13 e 16 deste mês, para participar da conferência da OMC.

Em Genebra, onde chegou no dia 14, Pimentel participou de encontro com países do Brics - grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No dia 15, Pimentel participou de encontro bilateral com uma ministra da Suécia, numa sala da OMC. O próprio ministro afirmou não ter tido "nada de específico" nessa reunião.

O ministro se ausentou ainda do principal evento realizado em Genebra: a reunião ministerial da OMC, realizada na tarde do dia 15.

Longe da imprensa no retorno ao Brasil

Após retornar de Genebra, Fernando Pimentel continuou fugindo dos jornalistas no primeiro compromisso oficial no Brasil. Ontem, ele conseguiu despistar os repórteres que o esperavam na garagem da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Fiesp), antes e depois de um encontro que ele manteve com o vice-presidente da Comissão Europeia, Antonio Tajani.

Pimentel conseguiu entrar despercebido por volta das 13h30m, mas não na saída, por volta das 15h10m. Mesmo assim, partiu de vidros abaixados, sem dar a mínima chance para microfones e máquinas fotográficas que esperavam um pouco da sua atenção.

FONTE: O GLOBO

Dilma: caso de Pimentel não tem nada a ver com governo

Ao fazer ontem um balanço do seu primeiro ano de governo em café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff disse ter "tolerância zero" com malfeitos. Ela defendeu a permanência do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, afirmando que as suspeitas de tráfico de influência que pesam contra ele referem-se ao período anterior à sua posse. "Não tem nada a ver com meu governo". Perguntada por que Antonio Palocci então deixou a Casa Civil também sob suspeita de tráfico de influência, respondeu que ele "quis sair". Pesquisa Ibope mostra que a popularidade de Dilma bateu recorde: é maior que a dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique no primeiro ano de governo

"Nada a ver com meu governo"

A ENTREVISTA DA PRESIDENTE

Dilma diz que Pimentel não era ministro quando fez consultoria e que Palocci saiu porque quis

DILMA: "Vocês vivem falando que vai haver reforma, mas ninguém me perguntou. Vão ficar surpresos: (a resposta) é não"

Luiza Damé, Chico de Gois

A presidente Dilma Rousseff fez ontem uma pregação contra a corrupção, afirmando que, no seu governo, há "tolerância zero" com desvios, malfeitos e práticas inadequadas. No entanto, defendeu o seu amigo e ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, argumentando que as denúncias contra ele não dizem respeito a seu governo. Questionada, então, por que o ex-ministro Antonio Palocci perdeu o cargo, já que viveu situação semelhante à de Pimentel - consultorias milionárias com suspeitas de tráfico de influência -, ela respondeu que o ex-chefe da Casa Civil "quis sair" do governo.

Dilma, que já dissera que as supostas irregularidades envolvendo a empresa de consultoria de Pimentel são problemas privados dele, voltou a bater na mesma tecla:

- Não tem nada a ver com o meu governo - disse, durante café da manhã com jornalistas credenciados no Palácio do Planalto, prática instituída pelo ex-presidente Lula.

Dilma disse ainda que os partidos têm o direito de indicar nomes, mas não o poder de ingerência no seu governo. E, contrariando especulações dos últimos meses alimentadas pelo próprio Palácio do Planalto, disse que não fará uma reforma ministerial em janeiro. Nem pretende extingir ou fundir ministérios para enxugar a máquina. A seguir, os principais trechos da conversa com os jornalistas:

PIMENTEL: "Não é (o caso de) dois pesos e duas medidas. (O caso) Pimentel não tem nada a ver com meu governo. Nada a ver o que estão acusando com o meu governo. Nada."

POR QUE PALOCCI SAIU: "O Palocci quis sair."

DEMISSÃO DE MINISTROS: "Foi um momento de dificuldades. Não de desgaste. É do ofício da presidente tomar medidas duras. Lamento, porque muitos dos ministros que saíram eram pessoas que eu considerava muito capazes."

TOLERÂNCIA ZERO: "O meu governo não tem nenhum compromisso com qualquer prática inadequada, de malfeito, de corrupção dentro do governo. Nenhum. É zero. Tolerância zero."

PARTIDOS ALIADOS: "Vou, cada vez mais, exigir que os critérios de governança internos do governo sejam critérios internos do governo: que nenhum partido político interfira nas relações internas do governo. Isso vale para todos os partidos políticos. Uma coisa é a governabilidade, e é importante que os partidos participem, possam indicar nomes, mas, a partir do momento em que o nome for indicado, ele presta contas ao governo e não presta contas a mais ninguém."

ALIADOS 2: "Não acho que os partidos tenham tido ingerência no meu governo. Em alguns momentos houve algumas tentativas, muito menos por causa do partido e muito mais por causa das pessoas indicadas."

ESCÂNDALOS: "Isso (denúncias contra ministros) tem um efeito para o qual vocês, de certa forma, contribuem. Cada vez que há um processo desses, estou lançando os melhores programas, e vocês estão falando de outra coisa. É como se houvesse dois Brasis. Obviamente, escândalo vende mais jornal."

CAÇA ÀS BRUXAS: "Tenho de preservar a integridade do governo, preservar um governo que não tenha irregularidades, mas não posso sair por aí apedrejando pessoas, acabando com a honra da pessoa e fazendo julgamentos sem direito de defesa. Por nenhuma pressão farei isso. Um país como o nosso tem de preservar duas coisas: não tolerar malfeitos, mas preservar sua capacidade de não criar caça às bruxas. Já se viu isso em outros países. Nunca dá certo, nunca leva a boa coisa. Não permitiria isso. Não é condizente com um país que deu tantos passos na direção à democracia."

REFORMA MINISTERIAL: "Vocês vivem falando que vai haver reforma, mas ninguém me perguntou. Vão ficar surpresos: (a resposta) é não. Não venham com essa conversa (de reforma). Não (vai haver enxugamento da máquina), não é isso que faz a diferença no governo. Cada ministério tem determinado tipo de responsabilidade. Tem ministério com responsabilidade imensa, como a Fazenda. Tem ministério com responsabilidade imensa, política, como o das Mulheres, o da Promoção da Igualdade Racial. São diferentes. Quem não enxerga isso é porque não está no dia a dia do governo."

PROFISSIONALIZAÇÃO DO ESTADO: "A eficácia de um governo vai se dar quando conseguirmos mudar muitas práticas de governança. Nenhum país do mundo, nem a China, conseguiu dar saltos substantivos no seu desenvolvimento sem que o Estado sofresse uma reforma e conseguisse uma base de grande eficiência. Temos de fazer um processo de profissionalização do Estado brasileiro. Temos áreas de alta profissionalização e competência: Itamaraty, Receita, Exército, Marinha e Aeronáutica. Estou falando em modificação no cerne, no funcionário do governo. Uma valorização, mas uma exigência de eficiência. Estou falando de profissionalismo. De meritocracia, também. Preciso de um Estado ágil."

OPOSIÇÃO: "É muito importante para o Brasil uma relação civilizada entre governo e oposição. O que temos visto nos países, este ano, foi uma relação oposição x situação extremamente incivilizada, deletéria. Não foi só nos Estados Unidos. Em vários países se verificou a perda da noção do bem comum. Isso não é adequado num processo democrático. Acredito em estender as mãos à oposição em todas as circunstâncias em que está em jogo o interesse do país."

FONTE: O GLOBO

"Não é hora de dar aumento"

Dilma descarta reajuste a servidor: "Não se coaduna com o momento"

A ENTREVISTA DA PRESIDENTE

Presidente diz que país crescerá 5% em 2012; inflação ficará próxima a 4,5%

DILMA ROUSSEFF: a presidente defendeu rigor fiscal no ano que vem

Chico de Gois, Luiza Damé

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff reafirmou ontem, no café da manhã com jornalistas, sua determinação de não conceder aumento salarial para o funcionalismo em 2012. Argumentando que reajuste não se coaduna com o momento econômico. Mesmo com as ponderações sobre o delicado momento da economia, disse estar otimista em relação ao enfrentamento da crise econômica internacional pelo Brasil. Afirmou crer que o país crescerá 5% em 2012, e que a inflação ficará próxima do centro da meta, de 4,5%; não prometeu cumprir o centro da meta.

Sobre o reajuste do servidor, disse que o assunto está em discussão no Congresso, mas reafirmou sua opinião:

- Achávamos que o país seria fragilizado se tivesse uma política de gastos sem controle. Não era hora de dar aumento salarial para categoria nenhuma.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

REAJUSTE:"É uma questão que está no Congresso. Este ano o governo foi muito explícito. Achávamos que o país seria fragilizado se tivesse uma política de gastos sem controle. Não era hora de dar aumento salarial para categoria nenhuma. Isso vale para todo mundo. Não acho ninguém melhor do que ninguém. Achamos isso para todos. Agora, não controlamos isso. A partir de determinado momento, tem variáveis legitimamente colocadas no Congresso, e tenho de respeitar."

REAJUSTE 2: "Tudo que eu tinha de fazer, fiz. Eu fui a público e disse. Tem um nível de desgaste nisso. Fui a público dizer que não dá. Não é porque não gosto daquele segmento e prefiro outro. O Brasil se fragilizaria se passássemos a gastar por conta. Se não tivesse isso, poderia ser que coubesse, porque não é crime pedir aumento salarial. É algo que as categorias têm todo o direito de pedir. O problema é que não se coaduna com o momento; 2012 vai continuar do jeito que a lei manda: se não apresentar até agosto, não pode compor Orçamento. Mudando isso, tem 2012. Não mudando, 2013".

ENFRENTAMENTO DA CRISE: "O Brasil enfrenta este momento de forma adequada porque nos antecipamos. O governo fez uma avaliação que a crise econômica europeia não era o que, no início do ano, supúnhamos. Isso permitiu que tivéssemos uma antecipação cautelosa, porque tínhamos de olhar a situação da inflação e da estabilidade orçamentária, e começássemos a reduzir impostos, a tomar providências".

MARGEM DE MANOBRA: "Tenho certeza que o Brasil está numa situação melhor porque temos recursos próprios para enfrentar este momento. Temos mais do que tínhamos antes e aprendemos muito com a crise de 2009. Ao contrário de outros países, que quando a coisa aperta têm de recorrer ao orçamento deles, não recorremos ao orçamento, temos os depósitos compulsórios. Temos margem de manobra na política monetária. Eles estão praticando juros de meio a zero ou até um. Nós ainda temos margem na política monetária, uma capacidade de investimento que temos de explorar às últimas consequências."

CRESCIMENTO DA ECONOMIA: "Minha visão é otimista. Meu cenário é entre 4,5% e 5% (crescimento do PIB). A minha meta é 5%. A meta do Guido (Mantega) é 5%. De toda a área econômica é 5%".

INFLAÇÃO: "Temos certeza de que a inflação fica sob controle. Fazendo aquela curva suave, porque, se ela estiver em 5%, e o centro da meta é 4,5%, não faz diferença nenhuma. Não faz diferença no sentido de que não está descontrolada".

INVESTIMENTO: "Não é à toa que as entradas de investimento direto no Brasil aumentaram. Evidenciam que há uma confiança no Brasil, não em termos especificamente deste momento, mas do papel que o Brasil ocupará no cenário internacional nos próximos anos. Aqui há oportunidade de investimento porque temos uma economia em expansão".

INDÚSTRIA: "Pode ter certeza que temos política industrial. Não somos mais daquela época em que era vergonhoso ter política industrial. Fazemos toda uma política industrial, mas não somos daquela fase que fecha o mercado brasileiro. Achamos que parte do mercado brasileiro tem de estar aberto para maior competitividade, acesso a melhor tecnologia e para que não crie feudos, sempre ineficazes, ineficientes e de preços altos".

UNIÃO EUROPEIA: "O Brasil tem de ter uma visão multipolar de política externa. Considero importante nossas relações com UE, tivemos sempre uma posição de ajuda, de solidariedade, não tivemos em nenhum momento a soberba, até porque sabemos perfeitamente o que é um ajuste fiscal sem luz no túnel, porque ficamos 20 anos assim e sabemos onde ele vai dar".

INTERNACIONAL: "Estamos cada vez mais reforçando as relações com toda a América do Sul. Acho que continuamos e devemos continuar (a se aproximar) cada vez mais (com) a África. No próximo ano, vou dar uma dedicação especial a isso. O Brasil tem de ter uma visão multipolar de política externa. Não significa que não mantenhamos bem próxima nossa relação com os Brics. Ela é estratégica."

FONTE: O GLOBO

Sueca desmente ministro e é cobrada por encontrá-lo

Jamil Chade

GENEBRA - Única autoridade a se encontrar oficialmente com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, na quinta-feira em Genebra, a ministra sueca Ewa Björling deu do encontro versões diferentes da dele. Além disso, ela foi questionada pela imprensa sueca por ter recebido um ministro suspeito de irregularidades.

A ausência de Pimentel, na quinta-feira, de todas as reuniões oficiais ainda é cercada de mistério. Diplomatas foram orientados a não abrir a boca sobre o caso.

Pimentel faltou a todas as reuniões da OMC naquele dia, durante a abertura da conferência ministerial da entidade. Sua cadeira ficou vazia e o único encontro divulgado por sua assessoria foi uma reunião com a delegação sueca, que durou apenas 30 minutos. Mas a versão sobre o tema do encontro varia dependendo do interlocutor.

Segundo o porta-voz de Pimentel, Ronald de Freitas, a venda de caças sueco ao Brasil não foi tratado no encontro. Horas depois, Pimentel dava outra versão, indicando que o assunto tinha sido levantado, mas apenas pela ministra. "Eu disse: vamos ver. As propostas estão sendo examinadas de novo, mas vai ser só no ano que vem", afirmou.

Ontem, Ewa desmentiu Pimentel. Em declarações ao jornal da Suécia, Svenska Dagbladet, a ministra explicou que foi o brasileiro quem tocou no assunto. "Eu não levantei o tema dos aviões", contou. "Ele (Pimentel) disse que estão olhando o padrão tecnológico, a questão financeira e as necessidades do Brasil."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Falta de Pimentel na OMC é questionada

Líder tucano quer informações do ministro sobre por que viajou até Genebra e foi embora sem aparecer em reunião internacional

Eduardo Bresciani, Fernando Gallo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse ontem que vai protocolar na próxima semana requerimento de informação pedindo detalhes da viagem do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) a Genebra, na Suíça. Reportagem do Estado mostrou que Pimentel faltou a reuniões da Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Os requerimentos serão direcionados a Pimentel e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Serão solicitadas cópias da agenda dos dois no evento da OMC e relatório das atividades realizadas, além de informações sobre a composição da comitiva e os custos da viagem.

O ministro tentou evitar a imprensa em Genebra para não responder a questionamentos sobre sua atividade como consultor nos anos de 2009 e 2010. "É preciso ter informações a respeito para que seja afastada a hipótese de o ministro ter faltado a compromissos de interesse do país para não ser abordado por jornalistas a respeito das denúncias", disse Duarte Nogueira.

O presidente do PPS, Roberto Freire (SP), também criticou Pimentel. Disse que o ministro não tem mais condição de permanecer no cargo. Para Freire, a fuga de Pimentel para evitar o contato com a imprensa só agrava a situação.

"Quando um ministro começa a se esconder da imprensa é porque não tem mais condições para permanecer no cargo. Ele está se escondendo por quê? Por vergonha ou por não ter como se explicar. Me parece que esse silêncio é para encobrir malfeitorias", disparou o presidente do PPS.

Drible. Assim como fizera na Suíça, ontem Pimentel também driblou a imprensa em um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na capital paulista. Ele participou de um almoço com representantes da Comissão Europeia no qual assinou um memorando de cooperação entre indústrias brasileiras e do bloco europeu.

Por meio de um comunidade, na quarta-feira, a assessoria da Comissão Europeia havia convidado a imprensa para participar do evento, mas depois voltou atrás e disse tratar-se de um almoço fechado.

Pimentel chegou e saiu do prédio da Fiesp em um carro preto de vidros escuros. Quando estava prestes a deixar o almoço, o veículo, que ficara estacionado no andar onde estavam os jornalistas, desceu até o segundo subsolo, onde Pimentel não poderia nem ser filmado ou fotografado. Ele saiu sem dizer qualquer palavra.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que não participou do almoço, e que somente recebeu rapidamente o ministro em sua chegada. "Ele estava bem", disse apenas.

No site do ministério, a assessoria destacou uma fala de Pimentel no evento: "Vamos vencer a crise (econômica) com trabalho e não com recessão".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio Neves defende 'refundação' do PSDB

Em evento da juventude tucana, presidenciável citou legado de FHC; Serra chegou após o senador deixar o local

Rubens Santos

GOIÂNIA - Ostentado bandeiras e um discurso afinado, cerca de 1,5 mil jovens se reuniram ontem no Congresso Nacional da Juventude da Social Democracia Brasileira, em Goiânia, para defender uma mudança de rumo no PSDB.

O senador tucano, Aécio Neves (MG), um dos candidatos do PSDB à sucessão presidencial em 2014, pregou ontem a busca de um novo ciclo de desenvolvimento do País. Para isso, disse que será preciso "refundar" a sigla, e "confrontar" o legado dos tucanos no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o que se faz hoje.

"Este congresso tem o sentido de mostrar que o PSDB tem todas as condições de refundar-se e de renovar o seu discurso", disse.

O senador afirmou que, nas disputas sucessórias, tanto municipais, em 2012, quanto em 2014, o PSDB terá de resgatar como partido. "Agora é hora de recuperar o legado, vamos olhar para o futuro", disse.

Os jovens tucanos pareceram alinhados ao discurso de Aécio. "Estamos nos mobilizando para defender a reestruturação do PSDB, e para fazer um contraponto ao governo que aí está e resgatar o nosso legado que tornou o Brasil um país melhor", disse Marcelo Richa, presidente nacional do PSDB jovem.

A conclusão tirada do evento é que "está na hora" do partido buscar a união interna. Sob aplausos e palavras de ordem os "tucaninhos", revelaram que, por meio da harmonia, o partido caminhará unido na disputa tanto pela sucessão municipal, do ano que vem, quanto nas eleições presidenciais, em 2014.

Estratégia. Para alcançar sucesso nas urnas, os "novos tucanos" disseram que será preciso percorrer todos Estados e municípios brasileiros para defender uma mudança de rumo. "As definições, como direita e esquerda, nunca pesaram tanto no Brasil como agora", discursou Wesley Borges, do PSDB do DF.

Apesar do tom afinado, em matéria de definição de nomes à presidência os jovens evitaram conflitos. Como uma caixa-preta inviolável, tornaram o anúncio de candidatos para a corrida presidencial de 2014 uma inconveniência. "Os nomes não estão em questão", ressaltou Marcelo Richa, filho do atual governador do Paraná e neto do ex-senador José Richa.

Serra. Outro presidenciável tucano, o ex-governador José Serra chegou ontem ao evento por volta das 20h, após Aécio já ter deixado o local, acompanhado do governador Marconi Perillo (GO). Perillo teve de voltar para recepcionar Serra, que discursou pata um congresso esvaziado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Segurança e falatório:: José Serra

Apesar de todo o falatório do Governo Federal sobre o tema, o índice nacional de violência homicida é extremamente alto e resiste a cair: o número de homicídios por 100 mil habitantes – acima de 26 por ano – manteve-se praticamente igual nos último decênio. Comentei isso ontem neste site, com números do Mapa da Violência – 2012.

De fato, o Brasil é o país com o maior número de assassinatos em todo o mundo, tendo atingido a marca de 43 mil mortes dessa natureza em 2009, de acordo com o relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Nos últimos oito anos, foram mais de 400 mil homicídios.

Onde houve queda acentuada, como em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, ela se deveu aos esforços dos governos estaduais. Nos estados onde seria mais necessário do que nunca o apoio federal, como é o caso da Bahia ou do Maranhão, onde os homicídios aumentaram vertiginosamente, nada foi feito. Brasília contempla de camarote essa realidade mórbida. Programas com nomes pomposos e metas fantasiosas são lançados na mídia, para depois caírem no esquecimento ou serem estrangulados por inépcia administrativa e/ou sucessivos cortes de recursos.

Tome-se como exemplo a ação mais badalada do Governo Lula na área da segurança, o Pronasci. Quando lançado, em 2007, foi fixada meta de redução da taxa de homicídios do conjunto do país superior a 50% – de 26 para 12 mortes por 100 mil habitantes! Obviamente, nada disso aconteceu – pelo contrário, o índice nacional permaneceu o mesmo, com um detalhe: em algumas regiões, como Norte e Nordeste, a violência aumentou brutalmente, como mencionei no texto de ontem (O mapa do crime).

Na trilha do seu antecessor e do talento publicitário petista, o atual governo lançou o Plano Estratégico de Fronteiras (tratei deste tema nos textos As fronteiras abertas da América Latina, Armas de destruição em massa, A prática desmente o discurso) que previa ações de impacto, como o aumento do efetivo da Polícia Federal nas fronteiras e a concessão de gratificações especiais aos policiais designados para essas áreas; criação de três dezenas de novos postos de policiamento de fronteira; entrada em operação de 14 veículos aéreos não tripulados para melhorar a vigilância da região (lembram-se daquele disco voador anunciado na campanha eleitoral do ano passado?), entre outras medidas.

Como é rotina na esfera federal, seis meses depois do seu lançamento praticamente nada do que se previa nesse Plano Estratégico foi feito. O efetivo não aumentou, as gratificações não saíram do papel, nenhum novo posto de vigilância foi entregue, e dos 14 veículos não tripulados previstos para fotografar as fronteiras, apenas um levantou vôo, em fase de testes. Provavelmente, o mesmo aparelho que já foi dado como voando e operando em meados do ano passado, em um dos debates dos candidatos a presidente. Quando também foi dito que as fronteiras brasileiras eram as mais seguras e defendidas do mundo.

Não foi por menos, aliás, que os policiais federais que atuam nas fronteiras, indignados com o escárnio, fizeram recentemente um protesto nacional. Suas queixas já são antigas: falta de equipamentos básicos, como coletes à prova de balas; armamentos defasados; meios de comunicação e transporte precários; efetivo altamente insuficiente, deixando os policiais em desvantagem nos enfrentamentos com bandidos fortemente armados.

No caso dos presídios, a situação é calamitosa. Nos oito anos do governo Lula, pouco mais de 800 vagas foram criadas em presídios federais em todo o Brasil. Só para comparar, no mesmo período, o Governo de São Paulo criou 26 mil novas vagas. O resultado é a transferência de encargos aos governos estaduais, e, naturalmente, mais superlotação de presídios.

A Força Nacional continua sendo um apanhado de policiais recrutados junto às PMs estaduais e em determinadas ocasiões. É, de fato, uma polícia heterogênea, pequena e tardia, pois sua mobilização demora semanas. Volto a insistir: o Brasil precisa de uma Guarda Nacional, ou uma Polícia Federal fardada, de caráter permanente, com sólida qualificação e capacidade de pronta atuação, na rotina e em situações críticas.

O Pronasci, além de nascer defeituoso e inepto, passou ao largo de questões difíceis de resolver sem o apoio federal. Não há programas efetivos de apoio ao treinamento e seleção para polícias de todo o país, com exceção de sugestões para os currículos das academias. Por exemplo, a formação dos soldados da PM durante um ano, com padrão de qualidade, tal como é feita em São Paulo, deveria ser estendida a todo o país. Já os investimentos federais para aumentar a capacidade de perícia e investigação das polícias estaduais, hoje razoavelmente elevada em São Paulo com recursos próprios, são insignificantes. E vejam bem: tudo o que se refere à formação de recursos humanos e tecnologia acaba sendo muito barato se confrontarmos seus custos com os resultados obtidos. Como diriam os economistas, uma elevadíssima relação produto-capital.

Por fim, um exemplo que surpreenderá o leitor: inexiste hoje um banco de dados nacional integrado, com informações sobre os principais delitos cometidos e cadastro dos criminosos. Nem números fidedignos sobre a população carcerária do país existem! Como na Saúde, na Segurança são necessários bons diagnósticos para saber-se como agir. Sem essas informações básicas, a realidade do crime no país fica envolta numa espessa nuvem de poeira. Como prever bons resultados se não consegue enxergar nem mesmo aquilo que se pretende enfrentar?

José Serra, ex-prefeito, ex-governador de S. Paulo

Pressão política:: Merval Pereira

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, fez bem de usar a prerrogativa do voto de Minerva para desempatar a decisão a favor da posse de Jader Barbalho no Senado, mesmo que a consequência seja ruim para o já baixo nível de qualidade política do Congresso.

Era preciso ser coerente com a decisão já tomada de que a Ficha Limpa não poderia ter sido aplicada na eleição passada, pelo princípio da anterioridade.

Mesmo que discorde dessa interpretação, não acredito que a lei deva valer mais para uns do que para outros.

O único, e grave problema, é que a decisão de Peluso aparentemente foi tomada sob pressão de políticos do PMDB, interessados em compensar, com a entrada de Jader, as perdas de dois senadores, Wilson Santiago e Gilvam Borges, substituídos por um tucano, Cássio Cunha Lima, e outro socialista, João Capiberibe, que ganharam as vagas devido ao mesmo fato de que a Ficha Limpa não valeu para a eleição passada.

Além do mais, havia outro senador petista ficha-suja tentando ficar com a vaga.

Como Jader foi o 2º mais votado no Pará, com mais de 4 milhões de votos, não seria justo que o critério não valesse para ele, mesmo sendo representante típico do atraso político.

O presidente do Supremo, por sinal, foi parte do problema que teve que resolver ao se negar a dar o "voto de qualidade" previsto no Artigo 13 do Regimento Interno na primeira vez em que a Ficha Limpa foi à votação no plenário do STF.

Como Peluso votara contra a entrada imediata em vigor da lei, seu desempate seria a favor do recurso ou de Joaquim Roriz ou de Jader, o que certamente provocaria reações da opinião pública, como provoca agora.

Peluso usou argumentação aparentemente democrática para não assumir a decisão final contra a Ficha Limpa, alegando não ter vocação para déspota.

Ora, se existe no regimento interno do Supremo essa definição para o desempate, usar o voto qualificado não torna ninguém déspota. É estranho também que caiba a cada presidente do STF decidir se usa ou não o critério de desempate; seria melhor que este fosse retirado do regimento interno ou que fosse tornado compulsório.

A pressão política sobre um tribunal superior já ficara explícita em junho de 2006, quando nada menos que seis juízes simplesmente admitiram publicamente que votaram sem saber o que votavam e sem medir as consequências do voto.

Contra o voto do relator, ministro Cesar Asfor Rocha, o plenário do TSE aderiu à proposta do ministro Marco Aurélio Mello de ampliar as restrições às alianças estaduais, numa leitura radicalizada da legislação sobre a verticalização eleitoral, que o Congresso estava flexibilizando.

Marco Aurélio Mello, vitorioso por 24 horas, anunciou que colocava ordem na bagunça partidária das coligações para as próximas eleições, e ainda encontrou tempo para fazer gracinhas metafóricas, chamando de "concubinato" as alianças fora das coligações nacionais.

Bastou que três pesos pesados da política nacional - os senadores José Sarney, Renan Calheiros e Antonio Carlos Magalhães - fossem pressionar o presidente do TSE para que subitamente suas excelências se dessem conta de que haviam votado de maneira errada na noite anterior, e convenceram-se de que tudo deveria voltar à estaca zero, prevalecendo a interpretação mais liberalizante sobre a verticalização.

Desta vez, foi a cúpula do PMDB que foi fazer uma "visita de cortesia" ao ministro Cezar Peluso no Supremo, e saiu de lá com instruções sobre a melhor maneira de conduzir a questão em termos técnicos.

E a "consultoria" informal mostrou-se bastante eficaz, e Peluso, afinal, convenceu-se de que dar o voto de Minerva não o transformava em "déspota".

Estive com o escritor Christopher Hitchens apenas uma vez, na Flip de 2006, quando fui o mediador de um debate entre ele e Fernando Gabeira.

Ele começou a mostrar a personalidade rebelde e polêmica nos bastidores, quando tentou combinar que o debate fosse em inglês, já que eu e Gabeira falávamos a sua língua.

Ponderei que não seria justo com a maioria do público, e também argumentei com Gabeira que seria desigual debater com um polemista como aquele no seu idioma.

E realmente foi bom, porque Hitchens estava com a corda toda naquela tarde, chamou Gabeira de terrorista sem o menor pudor, e ofereceu-se ironicamente para resolver a proibição de Gabeira entrar nos Estados Unidos por ter participado do sequestro do embaixador dos Estados Unidos em 1970.

Hitchens estava muito próximo do governo republicano, defendendo a invasão do Iraque, e disse ironicamente que conhecia "algumas pessoas" que poderiam ajudar o brasileiro.

Na hora das perguntas do público, ele se recusou a responder à maioria, classificando-as de "ingênuas".

Para desqualificar o debatedor, Hitchens me perguntou a certa altura se eu não colocaria em discussão questões "para elevar o nível debate", como por exemplo jornalismo como forma de arte.

Encerrei o assunto usando prerrogativas de mediador com um curto "no", para não ter que discutir com Hitchens.

À noite, encontrei-o nas ruas de Paraty, pelo jeito trôpego bebendo uma das muitas caipirinhas daquele dia. Agradeceu-me por não ter aceitado mudar o rumo do debate, aparentemente arrependido das "más-criações" da tarde, e quando perguntei se estava gostando de Paraty, me respondeu a sua maneira debochada:

"Como poderia não gostar de passear por autêntica favela, bebendo a bebida típica do lugar e ouvindo música nativa?"

Estava claro que não era nada daquilo que pensava, estava apenas exercitando provocações, e por isso achei graça. Meses depois, na Condé Nast Traveller, uma das mais importantes revistas de viagem do mundo, ele escreveu um artigo sobre Paraty, onde a classificava como "uma adorável cidade antiga bem no meio do litoral espetacular que se estende do Rio de Janeiro a São Paulo".

"(...) É um lugar de verdade, cujos habitantes pescam peixes, realizam coisas, tocam negócios e fazem música. O ambiente é democrático beirando o igualitarismo, com um arco-íris de cores humanas e uma grande variedade de música e comida.

À noite eu me juntei ao povo que dançava do lado de fora da igreja onde os escravos costumavam rezar e ouvi ritmos que aparentemente iam bem com o rum local. (referência à cachaça ou à caipirinha).

No meio da noite, a maré veio e gentilmente lavou as ruas de paralelepípedos antes de se retrair".

FONTE: O GLOBO

Um país à deriva:: Marco Antonio Villa

É bom o desempenho da presidente Dilma no primeiro ano de seu mandato?

Na centenária história da República não houve, no primeiro ano, uma administração com tantas acusações de corrupção que levaram a demissões de ministros, como a da presidente Dilma Rousseff.

Excetuando-se o primeiro trimestre, de lá para cá a rotina foi a gerência de crises e mais crises. Nenhuma delas por questão programática ou ideológica. Não. Todas devido às gravíssimas acusações de mau uso dos recursos públicos e de favorecimentos dos parceiros da base governamental.

Neste ano ficou provado, mais uma vez, que o presidencialismo de transação é um fracasso. A partilha irresponsável da máquina pública paralisou o governo.

A incapacidade de gestão -já tão presente no final da Presidência de Lula- se aprofundou. A piora do quadro internacional não trouxe qualquer tipo de preocupação para o conjunto do governo.

Algumas medidas adotadas ficaram restritas ao Ministério da Fazenda. Como se a grave crise internacional fosse simplesmente uma mera turbulência, e não o prenúncio de longo período de estagnação, especialmente da Europa, e com repercussões ainda difíceis de quantificar na economia Ásia-Pacífico.

O governo brasileiro mantém-se como um observador passivo, e demonstrando até certo prazer mórbido com os problemas europeus e com a dificuldade da recuperação dos Estados Unidos. Como se não pudesse ser atingido gravemente pelos efeitos de uma crise no centro do sistema capitalista.

Se é correto afirmar que o mundo está iniciando um processo de inversão das antigas relações econômicas centro-periferia, isso não significa que o Brasil possa suportar um lustro sem que ocorra uma reativação das economias americana e europeia.

A crise de 2008 -e a estagnação de 2009, com crescimento negativo de 0,3%- não foi suficiente para que o governo tomasse um rumo correto. Foi guiado exclusivamente pelo viés eleitoral de curto (2010) e médio prazos (2014). A inexistência de um projeto para o país é cada dia mais evidente. Nem simples promessas eleitorais foram cumpridas.

Nenhuma delas. Serviram utilitariamente para dar algum tipo de verniz programático a uma aliança com objetivos continuístas. Foram selecionadas algumas propostas, mas sem qualquer possibilidade de viabilização. Basta citar, entre tantos exemplos, o programa (fracassado) Minha Casa, Minha Vida.

O país está à deriva. Navega por inércia. A queda da projeção da taxa de crescimento é simplesmente uma mostra da incompetência. Mas o pior está por vir.

Não foi desenvolvido nenhum plano para enfrentar com êxito a nova situação internacional. Tempo não faltou. Assim como sinais preocupantes no conjunto da economia e nas contas públicas.

A bazófia e o discurso vazio não são a melhor forma de enfrentar as dificuldades. É fundamental ter iniciativa, originalidade, propostas exequíveis e quadros técnicos com capacidade administrativa, mas o essencial é mudar a lógica perversa deste arranjo de governo.

Dizendo o óbvio -que na nossa política nem sempre é evidente-, o objetivo do governo não é saciar a base de sustentação política com o saque do erário, como vem ocorrendo até hoje. Deve ter um mínimo de responsabilidade republicana, pensar no país, e não somente no projeto continuísta.

Contudo, tendo como pano de fundo o primeiro ano de governo, a perspectiva é de imobilismo. Algumas mudanças nos ministérios devem ocorrer, pois o desgaste é inevitável. Nada indica, porém, uma alteração de rumo ou uma melhora na qualidade de gestão. A irresponsabilidade vai se manter. E caminhamos para um 2012 cinzento.

Marco Antonio Villa é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Olhando além da vontade política:: Cláudio Gonçalves Couto

É bom o desempenho da presidente Dilma no primeiro ano de seu mandato?

Ao avaliar-se o primeiro ano de uma Presidência, duas dimensões podem ser consideradas: o desempenho do governo (obra coletiva) ou o do chefe de governo (obra individual, sobretudo).

Digo "sobretudo" porque o desempenho pessoal de um presidente sujeita-se à atuação de consultores de imagem, assessores próximos, conselheiros íntimos etc. Pesquisa CNI-Ibope divulgada ontem evidencia que a população faz a distinção: enquanto 56% aprovam o governo, 72% aprovam a presidenta -superando os antecessores em igual período, desde FHC.

Só analisarei a atuação da presidenta, considerando três aspectos: (1) o perfil da liderança, (2) o contexto institucional e (3) o contexto econômico. Tornou-se lugar-comum comparar o recato de Dilma à exuberância de Lula. Se o recato fosse a contraparte da falta de carisma, seria uma desvantagem.

Todavia, Dilma aproveitou-se da característica, aparentando maior austeridade e severidade no trato da coisa pública, algo útil no enfrentamento da série de crises envolvendo ministros, abatidos um a um. Obteve ganhos de reputação (sobretudo entre os setores de altas renda e escolaridade, cansados do espalhafato lulista), acumulando fôlego político para restringir práticas predatórias de aliados e correligionários.

Como o presidencialismo de coalizão impõe custos e riscos, não era operação simples. Ao contrário do que preconiza certo moralismo voluntarista e ingênuo (se não dissimulado), é impossível governar o Brasil sem o apoio estável de 46% do Congresso, composto pelo conjunto dos partidos de adesão -que tem no PMDB a expressão mais significativa, mas compõe-se também de PR, PP e congêneres.

Também não seria possível renunciar à sustentação de "parceiros ideológicos" do partido da presidenta, como PDT e PC do B, que, não obstante a maior afinidade programática, incorreram nas mesmas práticas predatórias dos fisiológicos de direita.

É cinismo sugerir ao governante que busque se entender com a oposição para fazer avançar sua agenda. Fosse possível, não apenas Dilma e Lula teriam se entendido com PSDB e DEM, mas o governo FHC, liderado por esses partidos, teria abdicado de sua aliança com o PMDB de Sarney e com o PTB de Roberto Jefferson -o que não fez.

Diante das restrições, Dilma saiu-se bem: iniciou um processo de redução do espaço para a predação partidária do Estado, sem comprar todas as brigas de uma vez, o que inviabilizaria politicamente o governo. A rede de combate à corrupção tem se aprimorado no Brasil: no Executivo, com o reforço institucional da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União; no sistema de Justiça, com a consolidação de um Ministério Público independente e ativo; na sociedade, com uma imprensa plural e diligente.

Em tal cenário, o melhor que faz um presidente hábil é -sem assumir a quixotesca condição de algoz- deixar que as instituições de controle produzam seus efeitos para, na sequência, restringir o campo de atuação dos corruptos no governo. Ao que se nota, é isso o que Dilma tem feito.

Por fim, houve o agravamento da crise econômica internacional; a "marolinha" de Lula foi se tornando um tsunami. Tal situação restringe o espaço de manobra política, pois exige medidas fiscais duras, que reduzem os recursos orçamentários disponíveis para a transação política com os congressistas.

A presidenta não só logrou impor limites satisfatórios à liberação de verbas como deu condições ao Banco Central para iniciar uma quebra de paradigmas na gestão da política monetária -algo que sofreu muitas críticas dos acólitos "do mercado" de início, mas que se mostra cada vez mais uma decisão acertada.

Cláudio Gonçalves Couto, cientista político, é professor do curso de administração pública da FGV-SP e pesquisador do CNPq.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Visão atual:: Míriam Leitão

Fernando Henrique defende ações afirmativas para negros, uma nova postura dos governos em relação às drogas, diretórios virtuais para partidos e a dedicação ao aprendizado na questão ambiental. Em palestras que tem feito no lançamento do seu novo livro, "A soma e o resto", e no próprio livro, o que se vê é um pensador atualizado e inquieto, capaz de surpreender.

O ex-presidente veio semana passada ao Rio para o Prosa na Livraria com este jornal, para falar sobre o livro que surgiu do depoimento a Miguel Darcy de Oliveira. A obra parece uma conversa sobre temas contemporâneos e atemporais.

Umas das ideias mais instigantes do livro é que o conceito de comunidade mudou completamente com a internet. Não mais prisioneira da proximidade física, as comunidades são por afinidades, em teias que se formam no espaço virtual. Fernando Henrique, de profissão, sociólogo, está atento ao fato de que um dos objetos de estudo de sua área, as comunidades, está em completa mutação:

- A comunicação eletrônica virou desafio para os políticos porque, com ela, a sociedade vai mais rápido do que os partidos e, se alguns políticos já usam a internet, os partidos ainda não sabem usá-la. Eu já defendi a ideia de diretórios virtuais, que a lei ainda não permite. Em alguns casos, as comunidades conectam-se com efeitos impressionantes, como aconteceu este ano a partir da Tunísia para o mundo árabe.

No livro, ele alerta para o fato de que a tecnologia criou uma ruptura. "É a emergência do novo que move a sociedade. Não estamos repetindo o passado. Algo de novo está sendo gerado aqui e agora." Registra com espanto o fato de que jovens nas redes sociais contam rigorosamente tudo o que fazem aos seus amigos, mudando o conceito de privacidade. "Não estou criticando. Estou tentando descrever e entender. É como se a fruição da vida passasse a ser, desse ponto de vista, mais coletiva." Ver o futuro é fundamental até do ponto de vista pessoal. "Quem não reconhece as mudanças se condena a viver angustiado, pois vai julgar o que está acontecendo hoje com os olhos do passado", diz no livro.

Na conversa no Rio, levantei um tema que me inquieta. Estou convencida de que o Brasil não lidou bem com o debate sobre a questão racial que emergiu após as ações afirmativas que surgiram no governo dele e se aprofundaram no governo Lula. Na minha opinião, em vez de se discutir as raízes de nossas desigualdades raciais, ou as marcas de tão longa escravidão, o país entrou numa espécie de Fla-Flu, entre defensores e adversários das cotas. E para esse reducionismo contribuíram inclusive intelectuais com seus manifestos. Falei do tema porque no livro ele defende duas ideias que parecem contraditórias: que o Brasil "tem uma cultura de aceitação da diversidade", mas ao mesmo tempo tem "preconceito e desigualdade, como sabemos".

Fernando Henrique disse que ambas as características estão presentes na sociedade brasileira. Uma profunda diversidade cultural e ao mesmo tempo o preconceito e a desigualdade racial, que faz com que a elite seja majoritariamente branca:

- Defendo as ações afirmativas, mas é preciso também manter o conceito de mérito. Uma vez na universidade, os estudantes devem ser estimulados a buscar o melhor desempenho.

Sobre a questão ambiental, Fernando Henrique também mostrou que está à frente do seu partido, sempre ambíguo e dividido sobre o tema:

- Os partidos estão com medo de tomar posição, de assumir. Perderam a capacidade de entender o que está acontecendo na área ambiental. O Brasil será suicida se não levar em consideração a questão ambiental. Queimar árvore é irracional.

Ele disse que essa é uma área de cooperação suprapartidária e lembrou das várias conversas que manteve com a então senadora Marina Silva, na época em que era presidente, apesar de ela estar na oposição.

Na inquietante questão das drogas, o que defende é o que está resumido no seu documentário: que se quebre tabus. Em uma entrevista que me concedeu em 1984, quanto tinha 53 anos, ele defendeu a mesmíssima posição: a descriminalização do uso para que a sociedade faça um controle mais racional, e não a simples repressão que pode custar muito caro:

- Ao fim do mandato do atual presidente mexicano, terão morrido 50 mil mexicanos na guerra do tráfico. O equivalente aos mortos no Vietnã. E o tráfico só aumentou. O país importa arma dos EUA para ficar se matando, enquanto o consumo continua.

Sobre a crise econômica internacional, Fernando Henrique acha que o euro vai se manter, mas que o mundo precisa urgentemente de uma nova regulação financeira:

- A esquerda errou quando negou todos os liberalismos porque o liberalismo político deve ser mantido, inclusive foi defendido por Marx que se disse herdeiro dele, mas o liberalismo econômico leva à desigualdade. Por isso é preciso regulação. Os governos precisam agir rapidamente para manter o euro, do contrário, a moeda não aguenta.

No livro e nos debates, FH tem falado de assuntos atuais ou existenciais. Sobre a existência de Deus, ele diz que faz parte dos mistérios da vida:

- Como posso dizer que Deus não existe? É preciso deixar espaço na vida para o mistério. Quem pensa que está sendo hiper-racionalista, pode estar sendo irracional.

FONTE: O GLOBO

Erro de diagnóstico?:: Celso Ming

Uma das mais fortes críticas ao tratamento dado à crise da União Europeia pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, é a de que o diagnóstico está errado.

Como entendida pela chamada dupla Mercozy, esta crise de endividamento insustentável foi gerada pela gastança incontida dos governos nos últimos dez anos e só pode ser revertida pela austeridade orçamentária.

Os críticos afirmam que a verdadeira causa da crise é o desequilíbrio de suas contas externas: esses países há anos estão importando mais bens e serviços do que exportam e, para fechar suas contas externas, têm de trazer capitais para dentro de suas economias, por meio do endividamento.

Em outras palavras, eles dizem que esta crise não foi criada por despesas excessivas dos governos dos países do bloco do euro, mas, sim, por rombos sucessivos no seu balanço de pagamentos. (A tabela dá uma ideia do problema.) Quem mais tem insistido nesse diagnóstico é o economista Martim Wolf - um dos analistas de macroeconomia mais respeitados do mundo, que escreve semanalmente no diário Financial Times, de Londres.

Se esse ponto de vista está correto, a política de austeridade e de sacrifícios imposta aos quase quebrados para reequilibrar as finanças públicas - e não os balanços de pagamento - não tem lógica, porque ataca a causa errada.

De fato, na área do euro existem dois blocos nítidos. Há o dos países superavitários, que são Alemanha, Finlândia, Holanda, Áustria, Bélgica e França, economias que registram superávits entre 6% (caso da Finlândia) e 1% do PIB (França). E há o conjunto dos deficitários, os demais que ostentam déficits que variam de 9% (como Portugal) a 1% do PIB (Itália).

Países que carregam superávits em conta corrente são os que exportam mais bens e serviços. E isso é assim porque seu sistema produtivo é mais competitivo do que o dos países que não obtêm os mesmos resultados. A falta de competitividade, por sua vez, é a consequência de custos mais elevados na economia: sistema produtivo tecnologicamente ultrapassado, salários e custos sociais mais altos, carga tributária maior, infraestrutura precária e cara, instituições rígidas demais, sistemas previdenciários sobrecarregados.

Como é que se corrigem desequilíbrios estruturais nas Contas Correntes? Se cada país tivesse sua própria moeda, as deficiências seriam mais facilmente compensadas por meio de valorização cambial nos países superavitários e/ou desvalorização cambial nos deficitários.
O problema é que na União Europeia a moeda é compartilhada e, nessas condições, não pode ser valorizada ou desvalorizada para uns e não para outros. Além disso, os mercados de trabalho são pouco integrados, por causa das diferenças de idioma.

Assim, soluções implicariam reformas estruturais para a unificação dos sistemas tributários e previdenciários e investimentos em infraestrutura. Afora isso, os salários nos países superavitários teriam de subir para favorecer elevação do consumo, que deveria cair nos países deficitários para empurrar as exportações.

Mas, afinal, quem está certo: a dupla Mercozy ou seus críticos? O que dá para dizer é que isso lembra a velha e não resolvida questão de quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha.

Não há muito como separar desequilíbrios fiscais de desequilíbrios em Conta Corrente. São faces da mesma moeda. Quando carregam déficits estruturais, os países estão consumindo mais do que podem e por isso importam demais e dependem de captação externa de capitais. Isso, por sua vez, quase sempre é reflexo de contas públicas desequilibradas, ou seja, de despesas de governo muito maiores do que as receitas.

A questão da natureza da crise e do melhor tratamento a adotar para debelá-la não é desprezível e vai ser objeto de grandes discussões. Os problemas mais graves não são diagnósticos e tratamentos eventualmente equivocados, mas, sim, os dirigentes do bloco do euro não atacarem adequadamente nem os seus desequilíbrios fiscais e tampouco os externos. E, assim, a crise vai se acirrando sem solução à vista, sabe-se lá com que desdobramentos funestos para a democracia.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Loucura monetária dos republicanos:: Paul Krugman

Estamos a caminho de nova Grande Depressão caso doutrina que predomina no partido for posta em ação

A busca desesperada dos republicanos por um candidato à Presidência que não se chame Willard M. Romney parece continuar. As apostas em Gingrich perderam força no Iowa, ao menos. O próximo nome na berlinda é o do deputado Ron Paul.

Isso faz sentido, de certo modo.

As pessoas não confiam em Romney porque ele é visto como alguém que, cinicamente, assume a posição que acha que mais vai beneficiá-lo -acusação que é verdadeira.

Ron Paul, ao contrário, vem sendo altamente coerente. Aposto que você não encontrará videoclipes de alguns anos atrás em que ele diz o contrário do que afirma agora.

Infelizmente, Ron Paul vem mantendo sua coerência por ignorar a realidade, aferrando-se à sua ideologia apesar dos fatos que comprovaram o equívoco dessa ideologia.

E, ainda mais infelizmente, a ideologia de Ron Paul hoje domina o Partido Republicano, que antigamente era mais bem informado.

Ron Paul se identifica como alguém que acredita na teoria econômica dita "austríaca" -teoria que rejeita John Maynard Keynes, mas é quase igualmente veemente na rejeição às ideias de Milton Friedman.

Pois os austríacos veem a "moeda fiduciária" (dinheiro que é apenas impresso, sem ser respaldado por ouro) como sendo a raiz de todos os males econômicos.

Eles se opõem terminantemente ao tipo de expansão monetária que Friedman dizia que poderia ter evitado a Grande Depressão -e que foi feita por Ben Bernanke desta vez.

E ocorreu, de fato, uma enorme expansão da base monetária depois da queda do Lehman Brothers. O Fed começou a emprestar grandes montantes a bancos, além de comprar uma grande gama de outros ativos, numa tentativa (bem-sucedida) de estabilizar os mercados.

Os austríacos e muitos economistas de viés direitista tinham certeza quanto ao resultado disso: inflação devastadora. Um comentarista austríaco que vem assessorando Ron Paul chegou a avisar da possibilidade de uma hiperinflação ao estilo do Zimbábue no futuro próximo.

Então aqui estamos, três anos mais tarde. Como vão as coisas? Os preços ao consumidor subiram apenas 4,5%, o que significa um índice de inflação anual média de 1,5%.

Quem poderia ter previsto que imprimir tanto dinheiro provocaria tão pouca inflação? Bem, eu poderia -e previ. E também o fizeram outros que entendem a teoria keynesiana.

Mas seus partidários continuam a dizer, não se sabe como, que ele tem tido razão em relação a tudo.

Assim, poderíamos imaginar que o fato de terem errado tão feio sobre algo que é tão crucial em seu sistema de crenças teria feito os austríacos perder popularidade.

O que aconteceu, porém, é que a doutrina da "moeda lastreada" e a paranoia quanto à inflação tomaram conta do partido, apesar de a inflação prevista não se concretizar.

Ainda é muito improvável que Ron Paul se torne presidente. Mas sua doutrina econômica já virou, concretamente, a oficial do Partido Republicano, não obstante os acontecimentos terem mostrado que está totalmente equivocada.

E o que vai acontecer se essa doutrina acabar realmente sendo posta em ação? Hello, Grande Depressão, estamos a caminho!

Tradução de Clara Allain

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PMDB apoia reajuste para pressionar por cargo na Caixa

Partido ameaça o Planalto para não perder posto-chave na Caixa para PT

Se pressão persistir, o governo diz que irá postergar a discussão do Orçamento de 2012 para o ano que vem

Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - O PMDB escolheu um novo instrumento no Congresso para pressionar o Palácio do Planalto a manter a influência do partido na Caixa Econômica Federal: apoiar um reajuste acima da inflação para os aposentados.

A tática visa garantir que o governo não irá ceder à vontade de petistas que querem tirar das mãos de peemedebistas o controle de um posto-chave na Caixa, que define a política de investimentos do FGTS.

A disputa entre os partidos pelo fundo se intensificou nas últimas semanas. O Planalto agiu para acalmar os ânimos de seu maior aliado no Congresso e disse que manterá o PMDB no posto.

Sem confiar cegamente no aceno do Planalto, o PMDB quer usar a ameaça de apoiar o aumento dos aposentados como "moeda de troca", nas palavras de um líder.

Hoje o plano do governo é, na discussão do Orçamento que se processa no Congresso, dar um aumento aos aposentados que ganham acima de um salário mínimo equivalente à inflação do período medida pelo INPC, 6,4%.

Mas a pressão para um índice maior, de 11,7%, é grande. E com o eventual apoio do PMDB há chances reais de esse valor ser aprovado na votação do Orçamento, marcada para a semana que vem.

Se a proposta for aprovada nesses termos, haveria um aumento substancial nos gastos públicos, cenário indesejado pelo Planalto.

Peemedebistas também calculam que o constrangimento público para a presidente Dilma Rousseff ao vetar um reajuste real para os aposentados seria maior do que vetar um eventual aumento para o Judiciário, outro fator usado pelo PMDB para pressionar o governo.

Se as ameaças persistirem, o Planalto já disse que irá postergar a discussão do Orçamento para o ano que vem, dando mais tempo a seus líderes para negociar.

PLANOS PESSOAIS

Por ora, um dos maiores interessados no reajuste para o Judiciário é o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Além da pressão contra o Planalto, o movimento do peemedebista tem o objetivo de conseguir a simpatia entre os colegas para consolidar a sua candidatura à presidência da Câmara em 2013.

A maioria dos deputados, principalmente líderes partidários, é favorável a aumento de pelo menos 5,3% para o Judiciário, o que causaria impacto de cerca de R$ 1 bilhão ao Orçamento de 2012.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fausto:: Goethe

Empresário

Amigos! (que ambos vós já bastas vezes
nas aflições e apertos me salvastes)
vingará na Alemanha a nossa empresa?
Quero agradar ao público, e preciso,
que o público é real, e eu vivo dele.
Dêmos que está já pronto o barracório,
o teatrinho armado, e cada ouvinte
no seu lugar, ansioso de festança.
Repimpam-se, arqueando as sobrancelhas;
vem todos com tenção de embasbacar-se.
Eu na arte de embair não sou dos pecos,
hoje porém, confesso, estou com susto.
Não anda o povo afeito a mãos de mestre,
mas lê, lê muito; um ler que mete medo.
Como hei-de eu conseguir que ele ache em tudo
novidade, substância, e graça às pilhas?
’Stou nas minhas três quintas quando vejo
acudir-me gentio às rebatinhas,
chegar inda com dia, antes das quatro;
atirar-se ao balcão do bilheteiro
como em tempo de fome à padaria,
e esmurrarem-se à pesca de um bilhete.
Milagre tal em tão mesclada gente,
só poetas de truz. Toca a tentá-lo!