quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIIA – Fernando Henrique Carsdoso : Corrupçao.

"The Economist: A corrupção está aumentando?

Cardoso: Sempre tivemos algum grau de corrupção, aqui e ali, mas o sistema não era corrupto. Agora o sistema permite a corrupção como um ingrediente normal. Todos sabem que quando você organiza um governo você tem que partilhar poder com os partidos. Mas você não está partilhando poder, você está partilhando oportunidades de ter bons contratos."

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. Entrevista ao The Economist, 19/01/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil



O GLOBO
Desabamento e morte
Brasil dá visto a Yoani após sinal de Cuba
Verba do Dnocs é para o RN, mas a seca é no RS

FOLHA DE S. PAULO
Três prédios desabam no Rio
Economia da União em 2011 supera meta em R$ 10 bi
Para manter aliado em cargo, líder do PMDB desafia Dilma
Kassab é alvo de pedras e ovos no aniversário de SP
Emergente deve ser ativo no G20, diz BC italiano

O ESTADO DE S. PAULO
STF lidera alta de gasto com diárias de viagem no Judiciário

VALOR ECONÔMICO
Receitas de concessões vão estimular aviação regional
Equipamento hospitalar atrai capital externo

CORREIO BRAZILIENSE
Prédios desabam e centro do Rio entra em pânico
Cenas de campanha
Blogueira cubana obtém visto brasileiro
PF investiga antraz em embaixada
Verba do Dnocs ajudou eleição do filho do diretor-geral

ZERO HORA (RS)
UFRGS reduz exigência para preencher cotas raciais
Dilma quita dívida de R$ 4 bilhões com a CEEE
A Febem que ainda assombra

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ligação fixo-celular vai ficar mais barata
Ciberativista cubana ganha visto brasileiro
Situação piora para jornalistas no Brasil

PPS: 20 anos. Há 20 anos atrás era fundado o PPS, sucessor do PCB

No X Congresso do Partido Comunista Brasileiro (PCB), realizado na capital paulista, no antigo Teatro Záccaro, entre os dias 24, 25 e 26 de janeiro de 1992, os delegados de todo Brasil, por ampla maioria, resolveram dissolver o PCB e entregar à sociedade brasileira um novo instrumento partidário. Houve um grande debate sobre qual o nome que substituiria o PCB. No final ocorreu uma disputa entre dois nomes: Partido Democrático de Esquerda (PDE) e Partido Popular Socialista (PPS). Na votação saiu vitorioso o nome PPS.

Olhe, abaixo, o manifesto de fundação do Partido.

Manifesto do PPS*

" Aos seres humanos que, por nascimento ou opção, habitam terras brasileiras, o PPS dedica seus 70 anos de lutas, e todas as lutas futuras "

Há uma crise, no mundo e no Brasil, e todos podemos senti-la. Uma crise que solapa a esperança, que chega ao fundo dos corações, gerando frustrações, descrença e cinismo. Frente aos desafios destes novos tempos, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana, o X Congresso do PCB oferece à sociedade brasileira um novo instrumento de luta, o Partido Popular Socialista - PPS.

Um Partido que, desde sua formação, é plural, aberto à participação de todos os que acreditam que é possível, a todos os seres humanos, viverem iguais e livres. Um Partido que, num mundo de mudanças, assume o compromisso central com a vida, entendendo-a como indissociável da natureza e da cultura. Um Partido, que quer contribuir para a construção de uma nova ética, em que o ser humano, sem nenhuma discriminação, seja protagonista e beneficiário das transformações sociais.

Um Partido novo, democrático, socialista, que se inspire na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores em nosso país e em todo o mundo, prolongando hoje a luta que travamos desde 1922. Um Partido que não use o povo, mas seja um instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história. Um Partido socialista, humanista e libertário, que tenha como prática a radicalidade democrática, que permita a cada ser humano exercer sua plena cidadania, na área em que reside e no planeta em que habita.

Um Partido que tem como metodologia de ação política, a não violência ativa, e que repudia toda e qualquer forma de violência (econômica, racial, religiosa, física, psicológica etc). Um Partido que faz da eliminação da miséria a questão primeira de sua política. Porque enquanto houver um ser humano sem comida, sem moradia, sem educação ou sem as mínimas condições de acesso à saúde, nossa luta tem e terá razão de continuar.

Um Partido que defende que a propriedade dos meios de produção e de comunicação deve ser social, com propostas autogestivas, cogestivas e cooperativistas, contrapondo-se aos modelos neoliberais.Um Partido que se empenhará para que o desenvolvimento científico e tecnológico seja considerado prioridade nacional, pois como não haverá progresso social sem o amplo desenvolvimento científico e tecnológico.

Um Partido que tem como objetivo a reforma democrática do Estado para que ele não tutele, mas que seja controlado pelos cidadãos e pela sociedade.

Um Partido que luta por um programa radical de desenvolvimento que tenha o ser humano como sujeito e que seja capaz de eliminar a injusta distribuição de renda, acabando com a brutal concentração hoje existente. A consolidação da democracia política e a retomada do desenvolvimento, pondo fim à recessão e ao desemprego, são claras prioridades para a construção da cidadania.

Um Partido que lutará pela implantação do parlamentarismo, pelas reformas estruturais de que o país necessita e pela preservação dos direitos consagrados constitucionalmente. Um Partido que se dispõe a repensar tudo, 'mas que não abre, de forma alguma, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana.

Um Partido que é e será um espaço aberto à participação de todos os que têm aspiração de construir essa sociedade. Um Partido que assume sem medo compromissos com o presente e o futuro, recusando a infalibilidade e o dogma, mas tendo em conta a experiência do passado.

Um Partido que não tem fórmulas prontas e acabadas, e que se propõe a discutir e formular um Projeto para a Nação Brasileira, com a colaboração de todas as forças do campo democrático. Esse é o desafio lançado a todos os militantes deste novo Partido e o convite a todos os que queiram nele se integrar.

* Manifesto de fundação do PPS. São Paulo/SP, 26 de janeiro de 1992.

Reprovado no Enem :: José Serra

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza, em 1998, como parte de um esforço para melhorar a qualidade das escolas desse ciclo educacional. Para isso precisava de um instrumento de avaliação do aproveitamento dos alunos ao fim do terceiro ano para subsidiar reformas no sistema. Iniciativas desse tipo também foram adotadas para o ensino fundamental e o universitário. Nada mais adequado que conhecer melhor o seu produto para adotar as terapias adequadas. O principal benefício para o estudante era avaliar o próprio conhecimento.

O Enem é uma prova voluntária e de caráter nacional. As questões são as mesmas em todo o Brasil. Sua expansão foi rápida: até 2002, cerca de 3,5 milhões de alunos já tinham sido avaliados. Note-se que Paulo Renato chegou a incentivar as universidades a levarem em conta o resultado do Enem em seus respectivos processos seletivos. Em 2002, 340 instituições já faziam isso.

Ainda que o PT e seus sindicatos tivessem combatido o Enem, o governo Lula manteve-o sem nenhuma modificação até 2008, quando o Ministério da Educação (MEC) anunciou, pomposamente, que ele seria usado como exame de seleção para as universidades federais, o que "acabaria com a angústia" de milhões de estudantes ao pôr fim aos vestibulares tradicionais. A partir dessa data, dados os erros metodológicos, a inépcia da gestão e o estilo publicitário (e só!) de governar, armou-se uma grande confusão: enganos, desperdício de recursos, injustiças e, finalmente, a desmoralização de um exame nacional.

O Enem, criado para avaliar o desempenho dos alunos e instruir a intervenção dos governos em favor da qualidade, transformou-se em porta de acesso - ou peneira - para selecionar estudantes universitários. Uma estupenda contradição! Lançaram-se numa empreitada para "extinguir os vestibulares" e acabaram criando o maior vestibular da Terra, dificílimo de administrar. A angústia de milhões de candidatos, ao contrário do que anunciou o então ministro Fernando Haddad, cresceu, em vez de diminuir. E por quê? Porque a um engano grave se juntou à inépcia.

Vamos ao engano. Em 2009 o Enem passou a usar a chamada Teoria da Resposta ao Item (TRI) para definir a pontuação dos alunos, tornados "vestibulandos". Mas se recorreu à boa ciência para fazer política pública ruim. A TRI mede a proficiência dos alunos e é empregada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Sabe) desde 1995, prova que não seleciona candidatos - pretende mostrar o nível em que se encontra a educação, comparar as escolas e acompanhar sua evolução, para orientar as políticas educacionais.

Como o Enem virou prova classificatória, o uso da TRI, que não confere pontos aos alunos segundo o número de acertos (Teoria Clássica dos Testes), renovou a "angústia". O "candidato" não tem ideia de que pontuação lhe vão atribuir porque desconhece os critérios do examinador. Uma coisa é empregar a TRI para avaliar o nível dos jovens; outra, diferente, é fazer dela um mistério que decide seu destino. Na verdade, o "novo" Enem passou a usar a TRI para, simultaneamente, selecionar alunos, avaliar o desempenho das escolas, criar rankings, certificar jovens e adultos que não completaram o ensino médio e orientar o currículo desse ciclo. Não há exame no mundo com tantas finalidade discrepantes.

A Teoria Clássica dos Testes não distingue o acerto derivado do "chute" do decorrente da sabedoria. A TRI pode ser mais apropriada como forma de avaliar o nível da educação, mas como critério de seleção vira um enigma para os candidatos. Os vestibulares "tradicionais", como a Fuvest, costumam fazer sua seleção em duas etapas: uma primeira rodada com testes e uma segunda com respostas dissertativas - que não comportam o chute.

O Enem-vestibular do PT concentrou, ainda, na prova de redação a demonstração da capacidade argumentativa do aluno. Além de as propostas virarem, muitas vezes, uma peneira ideológica, assistimos a um espetáculo de falta de método, incompetência e arbítrio. O País inteiro soube de um aluno, em São Paulo, que recorreu à Justiça e sua nota, de "anulada", passou para 880 pontos - o máximo é mil. Outro, ao receber uma explicação de seus pontos, constatou um erro de soma que lhe roubava 20 pontos. Outros 127 estudantes conseguiram ter suas notas corrigidas. Atentem para a barbeiragem técnica: nos testes, recorre-se à TRI para que o "chute" não tenha o mesmo peso do acerto consciente, mas o candidato fica à mercê de uma correção marcada pelo subjetivismo e pelo arbítrio.

É conhecida também a sucessão de outros problemas e trapalhadas: quebra do sigilo em 2009, provas defeituosas em 2010 e nova quebra de sigilo em 2011. Além disso, os estudantes que, via Justiça, cobram os critérios de correção das redações costumam receber mensagens com erros grotescos de português. Todos nós podemos escorregar aqui e ali no emprego da norma culta. Quando, porém, um candidato questiona a sua nota de redação e recebe do próprio examinador um texto cheio de erros, algo de muito errado está em curso.

Se o MEC queria acabar com os vestibulares, não poderia ter criado "o" vestibular. Se o Enem deve ser também uma prova de acesso à universidade, não pode ser realizado apenas uma vez por ano - prometem-se duas jornadas só a partir de 2013. A verdade é que o governo não criou as condições técnicas necessárias para que a prova tivesse esse caráter. A quebra de sigilo em 2011 se deu porque questões usadas como pré-testes foram parar na prova oficial. O banco de questões do Enem não suporta a demanda. O PT esqueceu-se de cuidar desse particular no afã de "mostrar serviço" - um péssimo serviço!

O ex-ministro Haddad, antes de deixar o cargo, fingiu confundir a crítica que fizeram a seu desempenho com críticas ao próprio Enem, o que é falso. Talvez seu papel fosse mesmo investir na confusão para tentar apagar as pegadas que deixou. O nosso papel é investir no esclarecimento.

Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

Desmotivados e motivados :: Eliane Cantanhêde

Dilma não suporta mais o ministro Mário Negromonte, mas ele está encastelado nas Cidades e dali não sai nem arrastado. Prefere empurrar os assessores pela janela. Ontem caiu o seu chefe de gabinete, Cássio Peixoto, baiano como Negromonte e indicado pelo PP como ele.

Vão-se os assessores, fica a cadeira, mas o vexame de Negromonte e o constrangimento do Planalto aumentam a cada dia, com lances de ridículo. O mais novo foi a explicação do ministério para a demissão de Peixoto: ele estava "desmotivado". Quanto às reuniões esquisitas para discutir licitações previamente com uma (pelo menos) empresa? Nenhuma palavra.

Enquanto parte do PP tenta livrar-se de Negromonte e fatiar novamente o Ministério das Cidades, o PMDB luta bravamente para tentar salvar o "insalvável" diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra as Secas), Elias Fernandes Neto. O que menos importa aí é que a seca está castigando boa parte do país, especialmente no Sul e no Nordeste, e cobrando mais eficiência. O que conta é que o motivado Neto é amigo do peito do líder pemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves, chefão do PMDB.

É curioso como esse confronto do Planalto com o PMDB lembra o da Europa com o Irã. Dilma aperta o cerco ao Dnocs (para dar uma satisfação à opinião pública), e a Europa impõe novo embargo ao petróleo iraniano (para evitar a bomba atômica).

Como reage o PMDB? Ameaça romper e retirar toda a sua gente do governo, inclusive da Petrobras. E o Irã? Desdenha das pressões e diz que quem perde com o embargo é a própria Europa, que fica sem petróleo.

Ninguém, porém, acredita que os pemedebistas vão mesmo sair da Petrobras, nem que quem perde mais com o isolamento do Irã é a Europa. O PMDB, como o Irã, está blefando.

A comparação para aí, porque tanto a história das Cidades quanto a do Dnocs são brasileiríssimas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Por trás do plebiscito:: Dora Kramer

À primeira vista, a ideia de transferir a decisão sobre a reforma política à população por meio de um plebiscito parece o melhor caminho para se começar a mexer num assunto sobre o qual o Congresso não consegue ou não quer se entender.

O deputado Miro Teixeira apresentou um projeto e o vice-presidente Michel Temer encampou a proposta, iniciando conversas a respeito no PMDB e no PT.

Seriam dois os pontos postos a voto em consulta popular a ser realizada junto com as eleições de 2014: sistema de votação - proporcional, distrital, distrital misto etc - e financiamento público de campanha.

Diante da resistência dos políticos em mudar as regras que os elegem embora distorçam a qualidade da representação, de fato o plebiscito soa como uma boa (talvez a única) solução.

Mas, há outra maneira de olhar a cena. Dois políticos, o senador Aloysio Nunes e o ex-deputado Arnaldo Madeira, ambos do PSDB, estudiosos do tema e defensores do voto distrital, discordam veementemente.

Acham que a tarefa do Congresso é intransferível e consideram, no caso da reforma política, o plebiscito não apenas desaconselhável como completamente inadequado, podendo até ser prejudicial.

O ponto-chave é a complexidade do assunto. "Como explicar à população de maneira correta todas as implicações decorrentes dos diversos sistemas de voto?", questiona Madeira.

Aloysio Nunes considera a missão impossível. Para ele, a tendência seria ocorrer uma simplificação por conta da campanha publicitária que, no lugar de esclarecer, resumiria tudo ao embate entre forças políticas. Como ocorreu no plebiscito sobre sistema de governo, em 1993, quando o debate sobre presidencialismo e parlamentarismo ficou reduzido a uma guerra de slogans.

Na visão de Aloysio e Madeira, no plebiscito sobre reforma política venceriam os interesses dos mais fortes, no caso PT e PSDB, que não conseguem fazer passar no Congresso suas propostas em prol do financiamento público e do voto em lista fechada, mas com campanha publicitária bem feita conseguiriam aprová-las no plebiscito.

Sem corrigir os defeitos reais do sistema, mas com a chancela da escolha popular.

Pia batismal. O diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, está para ser demitido porque, entre outras irregularidades, direcionou verbas da Defesa Civil para o Estado dele, o Rio Grande do Norte.

Acusação semelhante pesa sobre o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, chefe de Elias.

Se a questão é de padrinho, o de Bezerra (governador Eduardo Campos) é forte, mas o de Elias também: o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Talvez a diferença esteja no apreço que Dilma dedica ao PSB de Bezerra e o desapreço que não disfarça em relação ao PMDB de Alves, Michel Temer e José Sarney. Os dois últimos responsáveis pelas indicações de Wagner Rossi e Pedro Novais, demitidos dos ministérios da Agricultura e do Turismo sob acusação de tratar o dinheiro público como propriedade privada.

Ainda no ar. Anunciado como novo integrante do governo da Bahia e futuro candidato ao governo do Estado pelo PT, o ex-presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli não tem nada garantido.

Duas de três secretarias que poderia assumir (Fazenda, Indústria e Comércio ou Planejamento) estão ocupadas por homens da extrema confiança e estreita relação pessoal com o governador Jaques Wagner.

Quanto à legenda para concorrer ao governo, o senador Walter Pinheiro postula a vaga e o governador só vai se movimentar mais à frente, de acordo com o que decidir para seu futuro: candidatura ao Senado, à Câmara ou tornar-se uma das hipóteses do PT para a Presidência em 2018.

Gabrielli contava sair da Petrobrás só depois do carnaval quando poderia obter dividendos dos patrocínios que distribuiu para blocos e trios de Salvador, conforme levantamento da equipe da sucessora Graça Foster.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra e Marta:: Cláudio Gonçalves Couto

Num mesmo dia, nesta semana, dois episódios cheios de coincidências mobilizaram as atenções do noticiário político brasileiro. Ambos envolveram ex-presidentes da República, ex-prefeitos da capital paulista, candidaturas a prefeito em São Paulo e demonstrações claras de preferência por novos nomes na cena política. Também deixaram claro como pode ser custosa a insistência de lideranças políticas desgastadas em forçar seu próprio espaço, a despeito de projetos partidários mais amplos e da necessidade de renovação, pois, ao fazer isto, põem em xeque a continuidade de sua própria influência e do projeto que integram.

Os episódios aos quais me refiro foram a entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à revista "The Economist" e a presença do ex-presidente Lula na solenidade de transmissão dos cargos de ministro da Educação e Ciência e Tecnologia. No primeiro, Fernando Henrique novamente demonstrou o quanto lhe tem apetecido o papel de ex-presidente ativo (que cada vez mais vem assumindo, sobretudo dentro de seu partido) e desferiu uma crítica aberta à postura de José Serra no PSDB, a qual muito tem contribuído muito para a marcha lenta dos tucanos e, consequentemente, sua impotência oposicionista.

Candidato duas vezes derrotado à Presidência da República, Serra não digeriu nada bem a última derrota eleitoral. Como naqueles jogos de futebol em que os ânimos se exaltam durante a partida e, ao final, o time derrotado busca briga ou deixa o campo desferindo acusações, o candidato tucano saiu-se como mau perdedor. De início, não reconheceu publicamente a vitória de sua oponente antes que esta fizesse seu discurso de vitoriosa. Ao seu estilo de fazer o tempo passar, Serra ficou na moita, não deixando à presidenta eleita outra alternativa senão fazer o discurso da vitória sem o prévio reconhecimento protocolar da derrota pelo segundo colocado.

FHC e Lula são capazes de agir como árbitros

Com isto, Serra reservou para si a última palavra no dia da eleição, ocasião na qual cometeu uma segunda deselegância: apresentou-se como candidato presidencial pela terceira vez, mediante o célebre "até breve", desconsiderando a muito mais natural candidatura de Aécio Neves, que nem sequer foi mencionado. Na sua entrevista à "Economist", Fernando Henrique apontou o dedo para o problema, sobretudo ao observar que Serra tenta mimetizar Lula em sua atávica sede pela competição presidencial, apresentando-se insistentemente até que um dia a vitória chegue.

Há, contudo, uma colossal diferença entre as importâncias relativas de Serra para o PSDB e Lula para o PT, mesmo antes de este tornar-se presidente pela primeira vez. Lula, mesmo pertencendo a um partido organizacionalmente muito mais robusto e coletivista do que o de Serra, sempre logrou personificá-lo. Já o tucano é apenas uma liderança de primeira grandeza em sua agremiação, capaz de conduzi-la à letargia e à indecisão, tornando-a refém de seus movimentos. Foi assim na disputa presidencial de 2010; é assim novamente na disputa municipal de 2012. É por isto que no caso de Serra decidir ser candidato a prefeito, toda a energia despendida pelo partido e pelos pré-candidatos até agora terá sido puro desperdício.

Assim, se o primeiro episódio mostra o quanto os caprichos de Serra paralisam o PSDB, o segundo revela o quanto a ascendência de Lula faz o PT se mover. Isto ocorrera na invenção da candidatura Dilma para um partido órfão de nomes após o escândalo do mensalão e se repetiu na disputa paulistana, com o deslocamento de Marta Suplicy e a apresentação do nome de Fernando Haddad. Neste caso, o poder pessoal do ex-presidente contrapôs-se ao controle da máquina partidária, invertendo o equilíbrio da disputa de forma não só a promover uma renovação, mas evitar o risco de uma provável derrota camuflada pelo recall das pesquisas eleitorais e pelo sucesso recente numa eleição majoritária em que não há segundo turno e havia duas vagas em disputa (Marta ficou em segundo lugar).

No caso do PT, todavia, é Marta quem parece mimetizar Serra. Após o malogro de sua pré-candidatura a prefeita, faz-se de rogada no acordo interno que a bancada petista no Senado estabeleceu, de um rodízio na vice-presidência da Casa. É provável que Marta tenha aceitado esse acordo com base na convicção de que seria candidata em São Paulo, mas como sua expectativa frustrou-se, decidiu apegar-se ao cargo como uma compensação por aquilo que lhe foi virtualmente tirado. Ou, simplesmente, percebeu na preservação dessa posição a manutenção de um quinhão de poder que lhe seria útil em futuras disputas políticas. Ressalve-se, contudo, que Marta não é Serra e o PT não é o PSDB. Ou seja, não são negligenciáveis os custos intrapartidários de uma quebra de confiança como esta. A senadora corre o risco de isolar-se na bancada petista e no partido, e o isolamento pessoal numa organização partidária robusta como o PT tende a ser muito pernicioso para quem pretende preservar sua influência.

É bem conhecida a máxima política segundo a qual é necessário, frequentemente, dar um passo atrás para que seja possível dar dois à frente. Certas vezes, a realidade é ainda mais dura do que o provérbio: derrotas que por si mesmas representam um passo atrás obrigam um passo atrás adicional, sem que se possa ter a certeza de que esses serão compensados por passos adicionais à frente, mas essa é a condição para que se possa seguir caminhando. Há momentos em que as lideranças políticas devem decidir se aceitam o recuo para poder seguir em frente, ou se preferem não ceder e lançar-se ao precipício, com frequência levando consigo todo um projeto coletivo.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Reinventar o capitalismo:: Merval Pereira

O clima aqui em Davos no primeiro dia de Fórum Econômico Mundial, se não chega a ser de pessimismo, é muito marcado pela necessidade de rever atitudes e procedimentos para que o capitalismo continue sendo o melhor sistema econômico disponível.

Houve um consenso em diversos painéis de que o capitalismo precisa prestar melhores serviços à sociedade.

A tendência ao mea-culpa só foi alterada diante de um líder trabalhista sem papas na língua.
Ninguém foi tão contundente e radical quanto o australiano Sharan Burrow, secretáriogeral da União Internacional do Comércio em Bruxelas, que disse que "o capitalismo faliu a sociedade", citando como argumento o aumento da desigualdade e o alto desemprego, especialmente entre os jovens.

Para ele, a comunidade de negócios "perdeu o senso moral".

Se não fossem as palavras radicais, a receita de Burrow estaria no mesmo compasso das diversas manifestações que se ouve aqui em Davos este ano: "Precisamos redesenhar o modelo, reajustá-lo. Parar com a ganância".

David M. Rubenstein, cofundador e diretor-executivo do Carlyle Group, uma firma de investimentos globais, parafraseou Winston Churchill para rebater o líder trabalhista australiano, garantindo que o capitalismo é o pior sistema econômico à exceção de todos os outros.

Para garantir que o capitalismo seja justo, vamos focar em aperfeiçoar as leis e regulações, investir em educação, e promover inovação e criatividade, receitou Rubenstein.

Inovação, por sinal, foi uma palavra muito usada durante os debates, como sendo uma das saídas para a crise econômica internacional.

Ben J. Verwaayen, CEO da Alcatel-Lucent, foi cortante: "Precisamos falar sobre inovação, sustentabilidade e reformas, não sobre corporações e ganância. Temos que falar sobre criação de empregos, e não sobre segurança no emprego".

O professor da Business School da Universidade de Chicago Raghuram G. Rajan salientou que o aumento da desigualdade acontece não por má gestão corporativa, mas devido a forças mais profundas, como o desenvolvimento tecnológico, o surgimento de um mercado globalizado e a necessidade de inovação: "O debate correto é sobre como conseguimos a inovação e a criatividade de que necessitamos".

A necessidade de inovação também foi a parte mais importante de um painel sobre as necessidade das empresas atuais.

O consenso foi de que as empresas precisam mudar a maneira de fazer negócios se quiserem enfrentar com sucesso os desafios que se apresentam daqui por diante.
O presidente da Cisco, John T. Chambers ressaltou que nos anos 1990 sua empresa, líder em produtos de interconecção para empresas e pessoas, tinha cerca de cem competidores, e hoje apenas dois continuam no mercado.

Se uma empresa continua a fazer o que sempre fez, alertou, será passada para trás inevitavelmente. O tempo de vida útil de empresas incapazes de modificar seus procedimentos é de 15 anos, concordaram os painelistas, dando como exemplo a Kodak, que recentemente declarou concordata.

Duncan Niederauer, CEO da Nyse Euronext, expressou uma opinião otimista por um lado, mas desafiante por outro.

Para ele, a necessidade de uma reinvenção permanente para as empresas não existe apenas devido à crise econômica, que ele vê como um problema de curto prazo que será superado, mas à tecnologia e ao surgimento de centenas de milhões de novos consumidores nos mercados emergentes.

Foi ressaltado também que num mundo interconectado como o de hoje, em que as notícias estão em tempo real na casa dos cidadãos, uma empresa não pode apenas fingir que é uma corporação-cidadã, pois será denunciada. As empresas precisam fazer o bem mas necessitam ser percebidas como tal.

Ser socialmente responsável e sustentável do ponto de vista ecológico depende fundamentalmente de conseguir recrutar os melhores talentos, adequados às exigências dos novos tempos.

Esses talentos, especialmente os jovens, serão também atraídos por empresas modernas e preocupadas com essas questões.

O megainvestidor George Soros, que fez questão de garantir que não especulava mais no mercado financeiro, considera que o plano do Banco Central Europeu de refinanciamento de longo prazo, que dá aos bancos ilimitada liquidez, mas não aos Estados diretamente, vai fazer com que os países e seus bancos continuem no limite de uma potencial insolvência.

Ele é um crítico severo do que chama de imposição da Alemanha, e diz que os cortes de gastos vão levar a Europa a uma armadilha deflacionária.

E quando acontece tanto a inflação quanto a deflação é sinal de que as coisas estão erradas.

Mesmo afirmando que entende a preocupação da Alemanha com o trauma da hiperinflação, Soros disse que ela está levando os membros da União Europeia a uma perigosa dinâmica política, que em vez de integrá-los vai criar um clima de recriminações mútuas.

Para ele, há um perigo real de que o euro mine a coesão do grupo europeu. Deterioração econômica e política e desintegração social vão se reforçar mutuamente nesse caso, advertiu George Soros, que propugnou uma saída mais "democrática" para a crise europeia, numa clara crítica à hegemonia alemã.

Embora falasse sobre a situação da Europa, Soros, perguntado, declarou seu apoio ao plano do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de aumentar os impostos para os muito ricos, e lembrou que está entre os bilionários que se colocaram favoráveis a pagar mais impostos.

Ele também se disse convencido de que o governo da China já está preparando o povo para uma época de menor crescimento econômico, o que terá consequências para o resto do mundo.

FONTE: O GLOBO

PMDB desafia o Planalto

Integrantes do partido falam até em ajudar a convocar Pimentel se diretor do Dnocs for demitido

Gerson Camarotti

Mesmo com a decisão já anunciada do Palácio do Planalto de demitir o diretor- geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes Neto, o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), decidiu desafiar o governo para tentar manter no cargo o seu afilhado político.

Nos bastidores, aliados do líder peemedebista mandaram recados em tom de ameaça: a concretização da demissão será recebida como uma declaração de guerra. Nesse caso, haverá retaliação. Para dar uma demonstração de força no Congresso, integrantes do PMDB ameaçavam até convocar o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel (PT), para dar esclarecimentos numa comissão da Câmara sobre suas consultorias privadas.

Quando as consultorias que renderam mais de R$ 2 milhões a Pimentel foram reveladas pelo GLOBO, em dezembro passado, o Palácio do Planalto trabalhou ativamente para evitar sua ida ao Congresso. Nas palavras de um parlamentar do grupo de Henrique Alves, a ordem é dar ao Planalto o mesmo tratamento dispensado ao PMDB no episódio do Dnocs.

Henrique Alves, à noite, negou que estivesse ameaçando o governo, mas manteve o tom de desafio: — Quando Fernando Pimentel ficou na vidraça, a Dilma deu a ele direito de defesa.

Eu quero esse mesmo tratamento para o doutor Elias.

Não estou desafiando o Planalto. Eu me disponho a ir ao TCU pedir urgência para avaliação do caso do Dnocs. Não seria justo ter demitido Fernando Pimentel, Fernando Bezerra nem Paulo Bernardo por causa de suspeitas. Dilma fez certo nesses casos, pois é uma questão democrática dar direito ao contraditório. Tirar o doutor Elias neste momento, mesmo dentro do processo de reestruturação, vai parecer uma condenação por desvios de 300 milhões.
Isso é um absurdo.

Dilma já avisou que só aceita saída

A tentativa de uma solução negociada para a saída de Elias acabou em impasse na noite de terça-feira.

Segundo relatos, numa reunião no gabinete da Vice-Presidência, no Planalto, com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o vice Michel Temer, o líder Henrique Alves foi direto e, de forma exaltada, avisou: só aceita tirar Elias depois de uma posição oficial do TCU sobre o relatório da Controladoria Geral da União que aponta irregularidades que somam R$ 312 milhões na gestão do Dnocs.

— Admito a mudança de gestão do Dnocs. Mas não aceito que essa mudança seja feita sob suspeita — disse Henrique Alves, segundo relatos.

O Palácio do Planalto não aceitou a proposta. Pelo argumento de Henrique Alves, o TCU daria posição em até 90 dias. Para o governo, a análise das contas do Dnocs levaria pelo menos um ano. Depois da reunião, Temer ainda recebeu em seu gabinete a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

Na reunião, Ideli disse ao vice que não era possível manter Elias Fernandes.
Segundo interlocutores, a presidente Dilma Rousseff quer uma solução imediata e deu como prazo até o seu retorno ao Brasil na próxima quinta-feira, dia 2, depois de sua viagem a Cuba e ao Haiti.

A disposição de Henrique Alves de manter o afilhado no governo foi explicitada na manhã de ontem em mensagens postadas no Twitter logo cedo. Ele condicionou a saída de Elias Fernandes à comprovação de irregularidades no Dnocs, argumentando que é preciso a palavra final do TCU sobre o relatório da CGU, para não fazer um prejulgamento do diretor.

"Com respeito aos que me pediam explicações, dou essa palavra inicial.

Aguardo sereno o julgamento do TCU sobre atuação do Dnocs. Apenas isso", postou o líder no microblog. E, em seguida, negou que haja fogo amigo (do próprio PMDB) no caso: "Não há fogo amigo nenhum. A CGU é um órgão de assessoramento do governo, que respeito. Mas pode se equivocar também . Vamos às provas".

De acordo com relatos, no encontro com Temer e Bezerra, Henrique Alves negou-se a indicar um nome para substituir Elias Fernandes. Essa poderia ser a solução mais simples para o Planalto. Mas na conversa, Alves foi duro e teria feito um desabafo de que no caso das consultorias do ministro Fernando Pimentel, o tratamento do Palácio do Planalto foi diferente.

Hoje, o ministro Fernando Bezerra deve ter novo encontro com o vicepresidente Michel Temer para buscar uma saída negociada para o impasse.

Ele também deve reunir-se com com o diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto. A Henrique Alves, o ministro lembrou que as mudanças nos órgãos vinculados à pasta, como Sudene e Codvasf, tinham sido iniciadas no ano passado.

FONTE: O GLOBO

PT e PMDB brigam por postos na Funasa

Substituição de superintendente em Mato Grosso do Sul levou peemedebista a acusar governo de romper compromisso

Roberto Maltchik, Gerson Camarotti

l BRASÍLIA. A indicação do novo superintendente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa ) em Mato Grosso do Sul acirrou ainda mais os ânimos na já tumultuada relação entre PMDB e PT no governo Dilma Rousseff. A nova crise foi instalada depois que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, atendeu ao pedido do senador Delcídio Amaral (PT-MS) para nomear o petista Pedro Teruel, no lugar de Flávio Britto Neto (PMDB), conforme antecipou ontem a coluna Panorama Político, do GLOBO.


Britto era da cota do governador André Puccinelli (PMDB), e, segundo o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), havia um compromisso assumido pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para não retirá-lo do cargo. O peemedebista atendia a cota de parlamentares da legenda no Mato Grosso do Sul.

Relação difícil com o governo

Henrique Alves, em pé de guerra com o Planalto depois da revelação, feita pelo GLOBO, que auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) apontou prejuízo de R$ 312 milhões no Dnocs — comandado por seu apadrinhado Elias Fernandes — afirmou que, a cada dia, a relação com o governo fica mais difícil: — Não tem mais conversa com a Ideli. Ela assumiu o compromisso de mantê-lo no cargo e não honrou esse compromisso — disparou o peemedebista.

As superintendências da Funasa, alvo de disputas ferrenhas entre os partidos por causa do orçamento polpudo e da chamada capilaridade nos municípios, estão agora divididas entre PT e PMDB.

Desde que o Ministério da Saúde foi assumido pelo petista Alexandre Padilha, o PMDB perdeu logo em 2011 a presidência da Funasa, e os petistas vêm ampliando seus espaços também nos estados.

Atualmente, o PMDB detém seis superintendências, contra cinco do PT.

Senador nega acordo sobre manutenção

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) minimizou a queda de braço com o PMDB, e se mostrou surpreso com o impasse gerado pela substituição na Funasa. De acordo com ele, nunca existiu acordo com o PMDB para a manutenção de Britto.

— Desde o começo de 2011, a indicação de Turiel já era tratada. E ele está respaldado pela bancada do PT. É um homem qualificado. E nunca existiu acordo com o PMDB sobre isso — afirmou o senador petista.

A ministra Ideli Salvatti foi procurada para falar sobre o conflito entre os dois principais partidos da base, mas não retornou as ligações.

FONTE: O GLOBO

Para manter aliado em cargo, líder do PMDB desafia Dilma

O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) disse duvidar que Dilma demita Elias Fernandes do comando do Dnocs, órgão que atua no combate a seca e é alvo de acusações de desvios de R$ 192 milhões e de favorecimento a aliados.

"O governo vai brigar com metade da República?", questionou.

Deputado desafia Dilma e diz que PMDB não perderá cargo

Governo não vai comprar briga com "maior partido do Brasil", afirma Henrique Alves

Principal aliada do PT na coalizão governista, legenda demonstra irritação com ameaça de demissão de filiado

Andreza Matais e Catia Seabra

BRASÍLIA - Em um gesto público de insatisfação com o governo de Dilma Rousseff, o PMDB desafiou ontem o Planalto a demitir o apadrinhado da legenda que comanda órgão federal de combate à seca.

O recado foi dado pelo líder da bancada de deputados federais do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que é o candidato oficial da base governista a comandar a Câmara a partir de 2013.

"O governo vai brigar com metade da República, com o maior partido do Brasil? Que tem o vice-presidente da República, 80 deputados, 20 senadores? Vai brigar por causa disso? Por que faria isso?", questionou Alves, responsável pela indicação sob ameaça de exoneração.

O deputado também cobrou reciprocidade, defendendo que Dilma aja em relação a seu afilhado da mesma forma que agiu com ministros que, mesmo sob suspeita, foram mantidos nos cargos.

No centro da crise está o diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), Elias Fernandes, filiado ao PMDB.

O governo cogita tirá-lo depois que a CGU (Controladoria-Geral da União) apontou desvios de R$ 192 milhões na estatal. O Dnocs é vinculado ao ministro Fernando Bezerra (Integração), do PSB, que confirma a informação de que haverá mudanças no órgão.

"Se fosse assim, o Fernando Bezerra tinha sido demitido; o Fernando Pimentel [Desenvolvimento] tinha sido demitido; o Paulo Bernardo [Comunicações] tinha sido demitido. Mas não. Apresentaram suas explicações, convenceram, com nosso apoio inclusive, e ficaram", disse Alves.

Ele se referia a ministros contra os quais pesaram suspeitas de irregularidades. Bezerra, de favorecer parentes e seu Estado na liberação de verbas da pasta, entre outros pontos; Pimentel, por suspeitas em consultorias de sua empresa; Bernardo, por suposto uso de jato particular.

Alves acrescentou: "Eu quero o mesmo tratamento ao representante do meu partido no Dnocs. Por que com o PMDB o tratamento é diferente? Não pode se explicar."

O PMDB é o principal aliado do PT na coalizão de Dilma Rousseff e foi um dos fiadores do governo em votações polêmicas de 2011, como a do Código Florestal.

INTERVENÇÃO

Apesar da aliança, nos bastidores peemedebistas manifestam insatisfação. O partido avalia que não irá ganhar espaço na reforma ministerial e que o governo tenta enfraquecer Alves na disputa pelo comando da Câmara.

Apesar do acordo para a candidatura do peemedebista, setores do PT trabalham para que isso não aconteça.

A demissão de Fernandes já havia sido pedida à Casa Civil pelo ministro Fernando Bezerra em dezembro.

O vice-presidente Michel Temer (PMDB), porém, interferiu na última quinta ao convocar o ministro para uma conversa em seu gabinete.

A Folha apurou que Bezerra foi lembrado nesse encontro que também enfrenta suspeitas de irregularidades e que foi defendido pelo PMDB.

Nessa conversa, o ministro foi convencido em rever sua posição e encaminhar para o TCU (Tribunal de Contas da União) o relatório da CGU, inclusive avalizando a defesa do Dnocs.

As declarações ontem do ministro de que a faxina no Dnocs será feita, porém, surpreenderam o PMDB.

Por essa razão, Alves teria feito a citação explícita a Pimentel, ministro mais próximo de Dilma, e Paulo Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann (Casa Civil), a quem compete operar a demissão.

O próximo foco de conflito com o PMDB será a Petrobras. Segundo peemedebistas, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), já foi informado da exoneração do presidente da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado, indicado por Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado. "Isso seria acertar o coração de Renan", disse Alves.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PMDB promete retaliar governo no Congresso

Contrariados com ataque a aliado do líder Henrique Alves após denúncias de irregularidade na gestão do afilhado, peemedebistas armam estratégia para convocar para depor o ministro Pimentel

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Para tentar neutralizar o que considera "fogo amigo" contra o líder do partido na Câmara, o PMDB quer montar uma agenda de desgaste para o Planalto no Congresso. Atingidos por ricochete pelas denúncias de irregularidade na gestão do afilhado político Elias Fernandes à frente do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), aliados de Henrique Eduardo Alves (RN) vão dificultar a vida do governo no Congresso, que reabre os trabalhos na quarta-feira.

O grupo mais próximo ao líder reclama da condenação sem defesa de Fernandes, diferentemente do que ocorreu com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel (PT), e diz que isso "desequilibra" a base aliada. Por outro lado, a ala descontente com Henrique Alves e com o governo quer se aproveitar da situação, adotando a mesma estratégia, e "sinalizar" a insatisfação geral à presidente Dilma Rousseff, convocando Pimentel para esclarecer suspeitas de tráfico de influência em transações feitas pela P-21, a empresa de consultoria do ministro.

Um dirigente do PMDB explica que não se trata de rompimento com o governo, mas de problema à vista. Lembra que sua legenda "segurou" todas as provocações da oposição, evitando CPIs e convocações de ministro e avisa que a partir de agora a história será outra. Segundo ele, o PMDB certamente se reunirá para reavaliar a relação com o governo e ficará difícil segurar a insatisfação acumulada.

A lista dos queixumes passa pelos compromissos não cumpridos de empenho de emendas parlamentares no final de 2011, em troca da aprovação do Orçamento de 2012, e se estendem pela degola de aliados em cargos de segundo escalão Brasil afora.

Só na virada de ano, foram 3 trocas de peemedebistas por petistas em superintendências da Fundação Nacional de Saúde em Mato Grosso, Santa Catarina e Piauí, mas na contabilidade peemedebista os despejados pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já somam 11.

Ação. A avaliação predominante nas conversas de bastidores é que a legenda precisa agir rápido e tomar uma atitude para ser respeitada por Dilma, da mesma forma que o Planalto respeita o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho.

O entendimento geral no partido é a de que governo e aliados se movimentam para transferir ao PMDB os problemas do PSB na Integração. Peemedebistas lembram que também foi assim no episódio da troca de comando no Turismo e protestam contra o PT: "Empurraram para nós os malfeitos que fizeram no ministério antes de assumirmos".

Setores da sigla também criticam o líder Henrique Alves por "ajudar" os aliados a transferir responsabilidades ao PMDB, fazendo a "defesa paroquial" de seu apadrinhado no Dnocs. O raciocínio é o de que, ao rebater o favorecimento ao Rio Grande do Norte e articular a manutenção do diretor-geral, ele puxa o problema para si, tirando Bezerra e o PSB do foco das denúncias.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma autoriza mudança no comando do Dnocs e abre crise com líder do PMDB

Raymundo Costa

BRASÍLIA - O ministro Fernando Bezerra recebeu sinal verde da presidente Dilma Rousseff para mudar o comando dos três principais órgãos vinculados ao Ministério da Integração Nacional - Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Companhia Vale do São Francisco (Codevasf) e da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Bezerra resolveu mudar depois de ter o cargo ameaçado com a denúncia de que destinara 92% da verba de prevenção de enchentes para Pernambuco.

A decisão abriu uma crise com o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, responsável pela indicação do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto. Mas o vice-presidente da República, Michel Temer, foi avisado pelo Palácio do Planalto que a mudança no Dnocs será feita de comum acordo entre o ministro Fernando Bezerra, a presidente e o PMDB. O líder, no entanto, respondeu ao vice que não admite a saída de Elias Fernandes sob a acusação de corrupção e de ter beneficiado seu Estado, o Rio Grande do Norte.

A irritação de Alves é com o vazamento de um relatório da Controladoria-Geral da República (CGU) que afirma ter ocorrido desvios da ordem de R$ 312 milhões no Dnocs. Isso, depois de o ministro Fernando Bezerra, o vice-presidente e o diretor-geral do Dnocs terem feito um acordo pelo qual as denúncias seriam investigadas pelo Tribunal de Contas da União. O Dnocs divulgou ontem nota na qual contesta do relatório da CGU.

Do total de R$ 312 milhões citados pela CGU, R$ 160 milhões referem-se a obras de uma barragem que não foi construída (ou seja, o dinheiro nem foi gasto) e outros R$ 120 milhões referem-se a uma complementação salarial dos servidores autorizada pelo Ministério do Planejamento. Os convênios firmados com o Rio Grande do Norte envolvendo recursos no valor de R$ 12 milhões e representam, segundo o Dnocs, "apenas 5,05% dos valores repassados pela Defesa Civil aos Estados".

Henrique Alves suspeita que o relatório da CPI foi vazado com a intenção deliberada de derrubar Elias Fernandes Neto. O líder pemedebista disse que conversaria com o ministro Bezerra sobre a demissão de seu afilhado político. Agora, com a divulgação do relatório da CGU, ele acha que ficaria "muito mal para o líder do PMDB" a saída do diretor. "Para mim, a nota do Dnocs esgotou o assunto. Agora está com o TCU", disse Henrique Eduardo Alves ontem ao Valor. Alves também achou absurda a acusação de que o Dnocs privilegiou seu Estado, o Rio Grande Norte, com R$ 12 milhões, uma quantia até pequena considerando-se que é o líder da segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Na realidade, Fernando Bezerra, que é do PSB e foi indicado para o cargo pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sempre quis demitir o diretor-geral indicado pelo PMDB. Em meados do ano passado, quando o ex-ministro Antonio Palocci ainda estava na Casa Civil, o Palácio do Planalto também entrou na fila dos que queriam a cabeça de Elias Fernandes. Quando foi acusado de beneficiar Pernambuco com verbas da Defesa Civil e esteve para perder o cargo, o ministro percebeu que precisava fazer mudanças urgentes na Integração Nacional, se quisesse permanecer no governo.

Essa percepção ganhou corpo no governo entre alguns ministros depois da queda do ex-ministro Orlando Silva (Esportes). À época, ficou claro que a presidente Dilma estava disposta a bancar a permanência do ministro, mas que ele precisava fazer mudanças no ministério. Silva fez exatamente o contrário. A casa só foi arrumada, como a presidente queria, depois da nomeação de Aldo Rebelo para o cargo, sem que houvesse nenhum problema com o PCdoB, o partido do ministro demitido. Bezerra agora foi agiu rápido e ganhou o aval do Palácio do Planalto.

No governo, avalia-se que Henrique Alves esteja querendo ganhar tempo para que a demissão ocorra depois do Carnaval, sem maior repercussão. A mudança deve ocorrer antes. Se depender da presidente, ocorrerá com os órgãos do Ministério da Integração Nacional o que aconteceu na Petrobras: um técnico vai comandar o Dnocs.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Disputa gera motim no PT do Senado

Parlamentares petistas rompem acordos e se digladiam pelos cargos em comissões e na Mesa

Karla Correia

A intenção declarada da senadora Marta Suplicy (PT-SP) de descumprir o acordo de deixar a Vice-Presidência do Senado para José Pimentel (PT-CE) no mês que vem parece ter contaminado outros parlamentares do partido na Casa. Os titulares petistas na comissões de Direitos Humanos, Paulo Paim (RS), e de Assuntos Econômicos, Delcídio Amaral (MS), ameaçam repetir o gesto da senadora paulista e ignorar o rodízio acertado com colegas de legenda em fevereiro do ano passado.

Atual presidente da Comissão de Direitos Humanos, Paim deveria ceder o cargo para a senadora Ana Rita (PT-ES), segundo a combinação firmada em 2011 para reduzir disputas entre os senadores da legenda. Com a decisão de Marta, o petista se sentiu livre para romper o acerto. "Não dá para todo ano ficar fazendo acordo e mudando os quadros, já que o mandato previsto para os cargos é de dois anos", diz Paim, que só pretende entregar a presidência da comissão em 2013. O senador Delcídio Amaral é outro a roer a corda no acerto de revezamento. Ele pretende se manter por mais um ano no comando da Comissão de Assuntos Econômicos da Casa. No acordo anterior, Delcídio daria lugar a Eduardo Suplicy (SP) na presidência da CAE em 2012.

De olho no clima de motim entre os petistas, a oposição decidiu inflar a crise provocada pelo rompimento de acordo e anunciou contestar na Justiça o rodízio. O argumento de que os oposicionistas poderiam contestar os mandatos de quem deixasse os postos antes da hora foi apresentado por Marta para permanecer na Vice-Presidência do Senado — e seguido pelos demais "amotinados". O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a manobra petista, que visava fazer com que os 13 integrantes da bancada da legenda no Senado ocupassem um dos cargos do partido em algum momento durante os oito anos de mandato.

Planos políticos

Diante da possibilidade, Marta, que tinha aceitado o rodízio confiada em sair candidata à prefeitura de São Paulo, recuou. Durante o recesso, a senadora ligou para cada um dos membros da bancada para comunicar que permaneceria na Vice-Presidência até 2013 e apresentar seus motivos. Convenceu apenas Paim e Delcídio, justamente os beneficiados pela decisão. Irritou os demais.

"Esse argumento que ela está usando não existe", critica o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). "Ela fica usando o regimento para justificar uma atitude que se baseia puramente no interesse político dela", diz o líder. O posicionamento do Senado corrobora a avaliação de Humberto Costa. De acordo com a assessoria de imprensa da Casa, o regimento apenas define a duração do mandato dos cargos, que é de dois anos. "A renúncia do ocupante de um cargo é uma decisão que pertence à seara política partidária", afirma a assessoria.

É em meio a esse clima que a bancada escolherá seu novo líder, em reunião marcada para 1º de fevereiro. Disputam o cargo os senadores Wellington Dias (PI) e Walter Pinheiro (BA). "Além de tensionada, a bancada está bastante dividida", diz um senador petista.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

A mobilidade eleitoral de Jungmann

Pré-candidato do PPS à Prefeitura do Recife, o ex-deputado federal Raul Jungmann iniciou ontem, em Curitiba, um “périplo” que realizará por diversas cidades “do Brasil e do mundo”, com o intuito de “observar o que os municípios têm de melhor e trazer como proposta para a capital pernambucana”.

Jungmann se reuniu com o prefeito da capital paranaense, Luciano Ducci (PSB), e discutiu questões relacionadas especialmente à mobilidade urbana. Curitiba é considerada uma referência internacional em soluções urbanas para o trânsito e o transporte público de passageiros.

“Não dá para inventar a roda. É preciso ver onde as coisas estão dando certo e tomar como exemplo para nós. Curitiba tem 80 quilômetros de vias expressas, 130 quilômetros de ciclovias, além de uma tarifa única para o transporte público”, disse o pós-comunista, destacando pontos que ele considerou importante.

Jungmann permanece em Curitiba ainda hoje pela manhã, mas em seguida segue para São Paulo, onde terá encontros com o ex-governador José Serra e com a pré-candidata do PPS à Prefeitura da capital, Soninha Francine. “Com Serra vou ter uma conversar especificamente sobre a área da saúde”, avisa. O tucano foi ministro da Saúde no governo FHC.

O périplo do pré-candidato a prefeito do Recife passará ainda pelo Rio de Janeiro, onde se reunirá com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), e até mesmo pelo interior de Pernambuco. “Irei a Afogados da Ingazeira, que tem uma escola que teve a melhor nota do Ideb de ensino fundamental do Brasil”. Após o Carnaval, Jungmann também pretende visitar cidades referência fora do País. “Vou a Barcelona, a Londres. O que tiver de melhor no mundo vou tentar trazer para o Recife, que não tem nem governo, nem prefeito”, criticou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Força da mudança:: Míriam Leitão

Há um ano, numa hora dessas, o mundo estava ainda de boca aberta com a Praça Tahrir. Cinquenta mil egípcios tinham atendido à convocação de protestar contra a ditadura de Hosni Mubarak. O espanto aumentaria nos 18 dias seguintes. O protesto chegou a reunir um milhão de pessoas e, nele, o país mostrou ao mundo a dimensão da sua persistência.

Mubarak foi deposto, preso, eleições foram convocadas e já há um parlamento eleito. No aniversário comemorado ontem os egípcios continuavam protestando. O que mais eles querem? Ora, o que pediram: democracia. O governo mudou um pouco para não mudar muita coisa. Mubarak sempre teve seu poder assentado sobre a força dos militares, que agora governam eles mesmos o país.

Leis de exceção continuam em vigor; os militares que não aceitaram a ordem de Mubarak de atirar na população permanecem presos, acusados de incitação à revolta e deserção; há muitas dúvidas sobre a possibilidade de haver uma eleição democrática para presidente. Pelo menos foi isso o que disse o prêmio Nobel Mohamad El-Baradei quando desistiu recentemente de disputar a presidência.

O mundo é que não é o mesmo depois daquele 25 de janeiro. O movimento que havia começado na Tunísia explodiu na Praça Tahrir e de lá contaminou uma série de outros países, derrubando governos e arrastando convicções.

A maioria dos analistas não tinha a menor ideia de que eventos dessa natureza poderiam mudar tão rapidamente o mapa político do Norte da África. Em um artigo na "Foreign Affairs", um desses especialistas no tema, F. Gregory Gause III, faz autocrítica. O título do artigo é bem sugestivo: "Por que os estudos de Oriente Médio perderam a Primavera Árabe. O mito da Estabilidade Autoritária". Nele, o cientista político admite que estava "totalmente errado" quando defendia que os Estados Unidos não deveriam incentivar a democracia no mundo árabe, porque as ditaduras eram aliados mais estáveis. Gregory Gause é há 20 anos professor de Oriente Médio em grandes universidades americanas.

Toda correção de rota foi feita depois dos eventos. Só então se descobriu que uma juventude mais educada que seus pais, mas desempregada, em redes de relacionamento de mídia social tem um alto poder de mobilização. Os especialistas haviam se dedicado a explicar a permanência dos ditadores, e subestimaram as forças da mudança.

Na Líbia, ninguém se surpreendeu com a ferocidade com que Muamar Kadhafi reagiu aos protestos, mas foi surpresa que seu porta-voz tenha sido o filho que foi mandado estudar em Londres, e que era supostamente a face suave do regime. Não há face suave em ditaduras sanguinárias. É a lição que Saif al Islam deu aos mais ingênuos. Hoje, o filho favorito está preso, e Kadhafi, morto.

A revolução que derrubou governos de três décadas, ou mais, na Tunísia, Iêmen, Egito e Líbia, continua inquieta. Novas mudanças virão. É um movimento em curso. A guerra civil permanece na Síria e há dúvidas em cada país sobre se a dinâmica dos acontecimentos levará a governos democráticos ou a novas formas de tiranias. O Egito sequer conseguiu se livrar completamente da velha tirania militar, ainda que seja difícil negar que o país já fez uma grande jornada.

A economia não tem ajudado. O Egito teve um crescimento do PIB de apenas 1%, para uma inflação de 11%, no ano passado, e que deve ficar, segundo previsão do FMI, no mesmo nível em 2012. O diretor de Oriente Médio do Fundo, Masood Ahmed, visitou o país recentemente atendendo a um pedido do governo para que apoiasse um plano de estabilização que incentive o crescimento econômico e a criação de empregos. A missão do FMI falou também com os grupos políticos diversos e com representantes da sociedade civil para ter uma visão dos vários lados da atual realidade política do país.

O Egito está fazendo uma transição histórica. A sociedade ganhou força. Mas construir democracia não é fácil, como nós bem sabemos. Aqui também temos trabalhado há 27 anos na longa tarefa de aperfeiçoar o regime democrático.

O Egito terá agora que lidar com suas diferenças. O movimento era por um governo civil e leigo. A eleição consagrou a Fraternidade Islâmica que, com o Partido Salafista, mais radical, conseguiu a maioria no novo parlamento. O Partido Salafista chegou defendendo a Sharia, o código religioso, que, se adotado, começa por tolher a liberdade das mulheres.

O que é fascinante na Praça Tahrir é tentar entender uma vez mais que mistério é esse que detona os processos de mudanças. Aquele protesto não era o primeiro a ser convocado. Pelo contrário, vários outros foram, com pouco sucesso. O dia foi escolhido porque era um feriado, o Dia da Polícia, quando os policiais estavam de folga. Tendo o protesto da Tunísia como inspiração - que 11 dias antes tinha derrubado Zine El Abidine Ben Ali - e a enorme insatisfação como motivo, os egípcios rumaram para a Praça Tahrir. E de lá não saíram nos 18 dias seguintes, mesmo quando a polícia de Mubarak chegou com seus cavalos. Eles voltaram ontem e querem mais mudanças.

FONTE: O GLOBO

Davos põe capitalismo no divã:: Clóvis Rossi

Debate lança mais dúvidas do que conclusões reais; maioria dos brasileiros aprova o livre mercado

DAVOS - A quintessência do capitalismo global, o Fórum de Davos, começa a desconfiar de seu ente querido. Tanto que, em debate sobre o tema, o moderador lançou uma pergunta impensável até o ano passado nesta concentração da nata do empresariado: "O capitalismo do século 21 está defraudando a sociedade do século 21?".

A maior parte do público levantou a mão para responder "sim, está defraudando".

Como se fosse pouco, George Soros, o capitalista que mais sabe ganhar dinheiro com as falhas do capitalismo, soou, em outro ambiente, as trombetas do apocalipse: previu que o "derretimento" do euro, ao qual se seguiria uma crise global que levaria à "revoltas nas ruas da América", um cenário mais para Hollywood que para Davos.

Calma, leitor, não corte os pulsos: em 1994, na esteira da crise mexicana, Soros, aqui em Davos, previra a repetição da grande crise dos anos 30, o que só ocorreu 14 anos depois.

Voltemos ao debate: o incômodo com o capitalismo ficou ainda mais claro pelo fato de que quem dominou a discussão foi a única dos cinco debatedores a responder "sim" sobre o fracasso do capitalismo.

Foi a australiana Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Internacional de Sindicatos.

Disparou, sucessivamente: "o capitalismo perdeu o compasso moral"; "parem com a ganância"; "o setor financeiro está matando a economia real".

Coube a Ben Verwaayen, executivo-chefe do grupo Alcantel-Lucent, fazer o papel de defensor do capitalismo. Primeiro, ao lembrar que há muita gente louca para entrar no capitalismo. É verdade, ao menos a julgar por pesquisa projetada no telão antes do debate: o Brasil, por exemplo, é um dos três países, ao lado de China e Alemanha, a dar aprovação majoritária ao livre mercado.

O impiedoso Verwaayen condenou o que considerou "nostalgia". Para ele "não há volta ao mundo que já foi. Não se trata de um incidente, mas de uma transformação".

De todo modo, houve um ponto de encontro entre os extremos: tanto Burrow como Verwaayen dizem que o problema não é do sistema, mas "da maneira de implementá-lo".

A discussão cai em um ponto enfatizado, em outra sala, por Guillermo Ortiz, ex-presidente do banco central mexicano: "A crítica ao capitalismo está centrada no sistema financeiro e seus excessos. Ninguém está questionando o capitalismo".

Aqui também o Brasil fica fora do foco, pelo menos na visão de Ricardo Villela Marinho (Banco Itaú): "A banca brasileira não tem a consciência pesada. Não demos prejuízo aos cofres públicos" (cutucada sutil à Europa e aos Estados Unidos, que, sim, puseram dinheiro público para resgatar a banca).

Depois dessa sessão no divã, algumas (poucas) conclusões básicas, na palavra de outro capitalista convicto, David Rubenstein, diretor-gerente do Grupo Carlyle (EUA):

1- "Ninguém diz que o capitalismo é perfeito. Não resolveu, por exemplo, o problema da desigualdade."

2- "Há dois tipos de capitalismo, o que conhecemos no Ocidente e o que está sendo chamado de "capitalismo de Estado", modelo da China, por exemplo. Não se sabe qual vai prevalecer."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O rombo e o marisco:: Celso Ming

O resultado das contas do Brasil com o exterior (exceto fluxos de capital) é negativo desde 2008. Mais do que isso, esse déficit vem crescendo e tende a aumentar.

Por enquanto, a cobertura desse rombo é feita, com folga, por meio da entrada de capitais de longo prazo – como se presume serem os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Como são capitais de boa qualidade, digamos assim, não sujeitos a retiradas súbitas, caso dos capitais especulativos, não há, até onde a vista alcança, nenhum perigo de hemorragia de moeda estrangeira, o que deixaria a economia a descoberto.

Além disso, as reservas externas são de US$ 353 bilhões, altas suficiente de modo a desencorajar movimentos de fuga de capitais – risco que pode correr uma economia que gasta mais do que fatura com o resto do mundo.

Em princípio, um país em desenvolvimento como o Brasil tende a ter déficits em Conta Corrente – conjunto de transações com o exterior que englobam o fluxo de mercadorias (comércio), de serviços (transportes, turismo, seguros, juros, royalties, etc.) e de transferências de dinheiro entre parentes.

Déficits crônicos em Conta Corrente refletem, em princípio, consumo interno de bens e serviços além do conveniente. O governo Dilma não trabalha com a hipótese de que essa forte elevação do consumo prejudique o equilíbrio das contas externas, por estar mais interessado em impedir a valorização excessiva do real (alta do dólar) – fator que pode tirar competitividade do produto nacional. Mais despesas pagas ao fornecedor externo impulsionam a demanda de moeda estrangeira no câmbio interno e, pela lei da oferta e da procura, atuam contra a alta do real – consequentemente, a favor do pretendido.

Mas, a longo prazo, a perspectiva de ampliação do rombo nas Contas Correntes com o exterior não é a maior tensão que prevalece sobre as contas externas. Dentro de alguns anos, o País expandirá substancialmente receitas no exterior com exportações de matérias-primas (sobretudo minério de ferro e celulose); alimentos (soja, café, milho, açúcar e carnes); e petróleo. A médio prazo, a tendência à alta dessas commodities deverá multiplicar receitas em moeda estrangeira e reforçar a valorização do real.

O marisco, que ficará entre o rochedo e as ondas, será a indústria, com cada vez mais dificuldades para competir não só lá fora, mas também aqui dentro.

O problema de fundo não é, como tantos pensam ingenuamente, o câmbio adverso, que encarece o produto nacional e barateia o importado. É, sim, a falta de competitividade do setor produtivo brasileiro (não só o da indústria, como mostra o caso do etanol). E, por trás dessa baixa competitividade, está o alto custo Brasil: imposto demais; infraestrutura cara e ruim; juro escorchante; a quarta mais onerosa eletricidade do mundo; Justiça ineficiente; excesso de encargos sociais sobre a folha de pagamentos; burocracia; etc.

E, decididamente, o governo Dilma não está fazendo o suficiente para enfrentar essa enorme debilidade da indústria.

CONFIRA

Esta foi a distribuição por segmento do IED em 2011.

De que valeram os testes? Entre razões do FMI para reforçar suas linhas de emergência com US$ 600 bilhões está "a necessidade de fortalecer bancos europeus contra riscos de default (calote)". Ou seja, o Fundo concorre para desmoralizar testes de estresse de autoridades europeias.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pessimismo sobre Rio + 20 marca Fórum Social

Cristiane Agostine

PORTO ALEGRE - O clima de pessimismo sobre os rumos da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, marcou o segundo dia de debates no Fórum Social Mundial Temático, em Porto Alegre. Ativistas criticaram o texto base das discussões da conferência, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro, e demonstraram temor sobre o possível fracasso do encontro.

A aposta dos movimentos sociais é que, no caso de esvaziamento da reunião da ONU, as propostas apresentadas pela sociedade civil deverão ganhar força. Militantes ambientais, comunidades indígenas, sindicalistas, agricultores, grupos de mulheres, jovens e negros farão a Cúpula dos Povos, também no Rio, em paralelo à Rio +20, patrocinada pelos governos.

O encontro sobre sustentabilidade que será promovido pelas Nações Unidas no Rio é um dos principais temas dos debates desta edição do Fórum Social Mundial Temático, além da crise do capitalismo e da justiça social. O evento de Porto Alegre, iniciado na terça-feira, será preparatório para a conferência do Rio.

O empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, disse que o texto base das discussões da Rio + 20 está "muito abaixo das expectativas": "O documento não fala da desigualdade. Hoje, no mundo, 50% dos mais pobres detêm 1% da riqueza; 1% dos mais ricos detém 5% das riquezas e 10% dos mais ricos detêm 84% das riquezas. Fazer um documento como esse [sobre sustentabilidade] sem estar centrado no combate da desigualdade é enfiar a cabeça na areia."

O consultor ambiental Tasso Azevedo mostrou-se desestimulado. "Não há mais tempo de pensar em grandes objetivos: temos que focar no que pode ser feito e como. Não conseguimos cravar onde queremos chegar. Assim ficará difícil cobrar as responsabilidades depois", disse Azevedo, ligado à ex-ministra Marina Silva. "A pobreza entra na discussão quase como uma condicionante: primeiro resolve a pobreza para depois falar de sustentabilidade. É uma falácia, quase igual àquela de deixar o bolo crescer para depois dividi-lo."

O texto criticado por ambientalistas e ativistas foi divulgado pelas Nações Unidas no início deste mês e é a primeira versão a ser acordada e firmada pelos países na conferência do Rio. O documento de 19 páginas e 128 parágrafos recebeu contribuições de uma centena de países, que totalizaram mais de 6 mil páginas de propostas.

Estrela do debate, o teólogo Leonardo Boff foi aplaudido ao reclamar das limitações da Rio +20 e do texto que serve de base para a conferência. "O documento como está não leva a nenhum lugar. Não enfrenta as questões, não assume nenhuma crítica ao sistema do capital. É um documento que já nasceu velho, no século XIX, atendendo aos interesses das grandes corporações. Será fácil aprová-lo, mas não terá nenhuma significância", comentou.

O teólogo e filósofo Frei Betto lançou dúvidas sobre a "capacidade" da ONU e do G-8 em defender o tema do desenvolvimento sustentável. "Pelo que vimos em Copenhague, o G-8 não está interessado na questão ambiental", comentou. "Mas a Rio +20 pode ser um grande evento da sociedade civil. Agora que os países desenvolvidos estão em crise, o meio ambiente será a arma deles para aumentar a pressão sobre os países em desenvolvimento."

Para a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a Cúpula dos Povos, articulada pela sociedade civil, deve ser reforçada na Rio +20. "Infelizmente há uma posição dos governos de que se deva ter baixas expectativas em relação a esses fóruns internacionais. Fizeram isso na COP 16, no México, agora em Dubai, na COP 17, e não vai ser diferente na Rio +20", comentou.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, presente em outro debate sobre desenvolvimento sustentável, disse que a reunião que o Brasil sediará em junho é diferente de outras cúpulas de discussões ambientais. "É a primeira vez que nós colocaremos a sociedade civil na reunião da ONU, dentro do espaço da conferência, dialogando diretamente com o alto nível e com o secretário-geral das Nações Unidas. Esse modelo é único", disse Izabella.

FONTE: VALOR ECONÔMICO