terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Bruno Covas: o bom combate

"A candidatura do Serra com o apoio do governador nos faz refletir. Ele estando ao lado do Serra, nós não podemos deixar de apoiá-lo nessa decisão.

Serra tem uma possibilidade de agregação de forças eleitorais dentro e fora do PSDB que a gente não pode negar. Não podemos tapar o sol com peneira.

José Serra representa uma possibilidade real de vitória do PSDB, para fazer frente a um projeto de poder que pretende dizimar as oposições, controlar a mídia e instaurar o chavismo no País. "

Bruno Covas, secretário de Meio Ambiente /SP, em O Estado de S. Paulo, 28/2/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Rio vai criar força-tarefa contra policiais do bicho
Dilma abre cofre para reconstruir estação
No twitter, Serra confirma candidatura

FOLHA DE S. PAULO
Depósito milionário para ex-vice do BB é investigado
Governo propõe indenizar família de oficiais mortos
Serra oficializa candidatura e leva PSDB a adiar prévias
Síria é acusada de matar grupo de civis em fuga

O ESTADO DE S. PAULO
Serra ainda pode disputar a Presidência, indica FHC
Planalto se mexe
Pane elétrica teria iniciado fogo em base na Antártida
Da prisão, Hildebrando faz ameaças a procuradora
Brasil critica pressão sobre Assad e ação fora da ONU
Uruguai pede que País abra arquivos

VALOR ECONÔMICO
Justiça processa cartéis mundiais de componentes
Cai venda de manufaturas para vizinhos
Brasil quer cota para carros do México
INSS sobre férias e licença pode cair
CUT pressiona por direito de greve em obras da Copa

CORREIO BRAZILIENSE
Recomeça a luta entre PT e Serra
Guerra pelo BB pode acabar nos tribunais
Militar alertou sobre falhas na Antártida
Meia-entrada para estudante na Copa

ESTADO DE MINAS
Tucanos veem trilha aberta para Aécio
CBF em xeque e seleção em campo
Terras de Reforma Agrária são vendidas no norte de MG

ZERO HORA (RS)
Estado faz mutirão para manter Copa na Capital
Tragédia na Antártica: Projeto de nova base provoca divergência

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Piso do professor sobe para R$ 1.451
Dilma chega e hoje inaugura conjuntos residenciais
Mortos na Antártida viram heróis

Serra ainda pode disputar a Presidência, indica FHC

A candidatura de José Serra à Prefeitura de São Paulo, confirmada ontem pelo ex-governador, permitirá a ele "voltar à cena política com força" e foi a mais adequada para o PSDB, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao correspondente em Nova York, Gustavo Chacra. Para FHC, a decisão de disputar a eleição para prefeito não significa que Serra tenha abandonado o projeto de tentar a Presidência no futuro: "Política é uma coisa muito dinâmica. Tem sempre a cláusula de prudência". Serra anunciou o apoio às prévias para escolher o candidato do PSDB - líderes tucanos articulam para adiá-las e, assim, permitir que o ex-governador participe de debates

Para FHC, disputa em SP "revitaliza" Serra e não o tira do páreo presidencial

Ex-presidente acha correta decisão do tucano de candidatar-se à Prefeitura de São Paulo e afirma acreditar que opção "não significa que ele não possa ser outra coisa" no futuro

Gustavo Chacra

NOVA YORK - A candidatura de José Serra à Prefeitura de São Paulo permitirá a ele "voltar à cena política com força" e foi a decisão mais adequada para o ex-governador e para o PSDB, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista exclusiva ao Estado. "Dá a chance para o partido ganhar e dá a ele uma revitalização política", analisou o ex-presidente.

Segundo FHC, a eleição para prefeito não significa que o ex-governador abandona o projeto de disputar a Presidência no futuro. "Política é uma coisa muito dinâmica. Tem sempre a cláusula de prudência. Política não é uma coisa em que os horizontes se fecham", disse, ao comentar sobre a possibilidade de o tucano, mais uma vez, deixar um cargo para se candidatar a outro, como aconteceu quando era prefeito e governador de São Paulo.

O ex-presidente falou com o Estado em Nova York, onde lidera uma comitiva de 12 CEOs de empresas brasileiras ligadas à Comunitas, entidade criada por Ruth Cardoso para incentivar o investimento social corporativo.

O anúncio da candidatura de José Serra à Prefeitura não esvazia as prévias do PSDB?

Não estou no Brasil e não acompanhei de perto esta evolução. Quem está coordenando é o governador Geraldo Alckmin. Agora, o peso eleitoral do Serra é de tal magnitude que eu acho que o partido vai se ajustar à realidade política.

Mas não faltam caras novas no PSDB? Afinal, há anos Serra e o Alckmin se revezam em candidaturas em São Paulo. O PT tenta essa renovação agora com Fernando Haddad.

As prévias foram uma tentativa nesta direção. Mas quando você tem alguém com a densidade política do Serra, que se disponha a ser candidato a prefeito, do ponto de vista do PSDB há uma importância estratégica porque existe realmente viabilidade de ganhar São Paulo.

O sr. mencionou que o senador Aécio Neves (MG) é o candidato óbvio do PSDB para 2014.

Foi uma pergunta feita pela revista The Economist: quem é o candidato óbvio? Eu respondi que o Serra vai sair candidato, não vai desistir. E eles perguntaram quem seria o outro. É o Aécio. É uma coisa que todo o mundo sabe. São os dois que estão despontando com mais força.

Mas com o Serra se candidatando a prefeito...

Abre espaço para uma outra candidatura para presidente. Agora, sempre tem que colocar aquela cláusula de prudência. A política é muito dinâmica. O Serra pode ganhar ou pode perder. Nos dois casos, o fato de ele ser candidato agora reforça a presença dele como um líder. Todo líder político, enquanto quiser se manter ativo na política, tem de ter a expectativa de poder. Tem que ser candidato. Eu, por exemplo, quando deixei a Presidência, disse que não seria mais candidato a nada e não fui. Disse que estava saindo de cena. No começo, as pessoas não acreditaram. Como não sou ingênuo, ao tomar esta decisão, estava mesmo saindo de cena. Para quem não tomou esta decisão ainda, a melhor coisa a fazer é se candidatar. Você pode se candidatar em vários níveis. O Serra, ao tomar a decisão de se candidatar (para a Prefeitura), volta à cena política com força. Onde ele é necessitado neste momento? Onde o partido o vê com bons olhos neste momento? É aí (na Prefeitura). Isso significa que amanhã ele não pode ser outra coisa? Não.

Mas não pega mal para o Serra, que já foi prefeito uma vez e saiu para se candidatar (o tucano deixou a Prefeitura em 2006, para disputar a Presidência, e o governo do Estado, em 2010, para mais uma vez entrar na disputa presidencial)?

Ele vai tomar as precauções devidas porque ele tem de ganhar a eleição. Provavelmente ele vai reafirmar a disposição dele (de permanecer na Prefeitura). Mas não vi, não falei com ele. Política não é uma coisa em que o horizonte se fecha. De repente, o que estava fechado se abre. Acho que a decisão do Serra foi a mais adequada neste momento para ele e para o partido. Dá a chance para o partido ganhar e dá a ele uma revitalização política.

Mas para a Presidência, o Serra e o Aécio continuam sendo os dois nomes fortes do PSDB?

Eu acho que sim.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT e Serra 'nacionalizam' eleição em SP – Editorial: O Globo

O que parecia inevitável aconteceu: o tucano José Serra se curvou à pressão da cúpula do PSDB e resolveu disputar a prefeitura de São Paulo. Arquivou o projeto de tentar, pela terceira vez, ganhar uma eleição presidencial. Derrotado por Lula em 2002 e por Dilma em 2010, o ex-deputado, ex-ministro, ex-senador e ex-prefeito paulistano se mostrava irredutível na ideia de mais uma vez buscar incluir neste extenso currículo o mais alto cargo da União. A estratégia de Lula para a cidade de São Paulo o impediu de seguir em frente.

A partir do momento em que Lula, numa estratégia correta do ponto de vista petista, decidiu se envolver na disputa, para fragilizar os tucanos no seu quartel-general, a sucessão de Gilberto Kassab ganhou outra dimensão, maior que o próprio cargo de prefeito paulistano, já uma ampla vitrine na política nacional. Na empreitada, Lula repete o "dedazo", bem ao estilo caudilhesco do PRI mexicano, que deu certo no plano nacional: ungiu a neófita Dilma Rousseff e manteve o PT em Brasília; agora, quer fazer o mesmo com o ex-ministro Fernando Haddad, outro que jamais disputou um voto.

Se a eleição municipal paulistana não é uma eleição qualquer, com a entrada de Lula no jogo eleitoral, ao nomear o candidato petista e disputar pessoalmente o apoio de Kassab e do seu PSD - em cuja criação o prefeito demonstrou grande competência no jogo político -, o pleito ganhou importância ainda maior: vitorioso, o PT constrói base firme para, afinal, conquistar o Palácio dos Bandeirantes em 2014, sólida trincheira tucana há vários anos. E a vitória ficará menos distante com o apoio de Kassab. A tomada da prefeitura reforça a possibilidade de o PT estar no Planalto em 2015.

O PSDB teria, então, de brigar pela cidade de São Paulo com os melhores quadros. A opção Serra tornou-se, portanto, a única possível para o PSDB, mais ainda diante do fato de que Kassab, vice de Serra na prefeitura, disse abertamente que a única possibilidade de não fechar um acordo com o PT seria o relutante ex-prefeito lançar-se.

Até ontem, as prévias tucanas estavam mantidas. Os pré-candidatos Bruno Covas, neto de Mário Covas, um dos fundadores do PSDB, e Andrea Matarazzo retiraram os nomes e deram apoio a Serra, mas Ricardo Trípoli e José Aníbal mantiveram os seus. Sejam quais forem os desdobramentos, é improvável o cenário de Serra fora da disputa. O curioso é que o partido que se fez com o discurso da "democracia interna" é administrado como um regime teocrático, em que um aiatolá dita as regras, enquanto o PSDB paulista, em que uma aristocracia política sempre deu as ordens, decidiu partir para prévias, quando Serra rejeitou se lançar novamente à prefeitura. Ironias da política.

Era tamanha a resistência do tucano que sua candidatura foi confirmada sábado por Kassab. Ao dar a notícia, o prefeito acrescentou, de forma sugestiva: "...e seu (de Serra) projeto de vida e político passará a ser, pelos próximos cinco anos, a cidade de São Paulo." Como Serra já renunciou à prefeitura para disputar o Bandeirantes, em 2006, embora tivesse garantido que não abandonaria o cargo, haverá pesada campanha para convencer o eleitorado de que o tucano repetirá o gesto. E a única defesa eficiente que Serra pode acionar é apoiar publicamente Aécio Neves para ser o candidato tucano às eleições presidenciais de 2014.

Planalto se mexe

Após a entrada de José Serra (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff sinaliza que fortalecerá o PR nos Transportes, para facilitar a aliança em torno de Fernando Haddad (PT) e ganhar tempo de TV. Parte do governo avalia ainda que a manutenção da candidatura de Grabriel Chalita (PMDB) pode ajudar Haddad

Planalto monta operação para unir PR a Haddad

Dilma avalia nomes do ex-senador Cesar Borges e do vereador Antonio Carlos Rodrigues para vaga de Paulo Passos no Ministério dos Transportes

Vera Rosa

BRASÍLIA - Preocupada com a entrada do ex-governador José Serra (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff dá sinais de que fortalecerá o PR no Ministério dos Transportes, com o objetivo de abrir caminho para a aliança em torno do petista Fernando Haddad. Sem o PSD do prefeito Gilberto Kassab, que apoia Serra, Haddad corre para obter o aval do PR e engordar o tempo de sua exposição na propaganda política.

O Palácio do Planalto avalia agora os nomes do vereador Antonio Carlos Rodrigues, presidente do PR paulistano, e do ex-senador César Borges para a cadeira hoje ocupada por Paulo Sérgio Passos nos Transportes. A ideia é contemplar o PR na pasta e levar o partido a compor a chapa como vice de Haddad.

Rodrigues é suplente da senadora Marta Suplicy (PT-SP), conta com a simpatia do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e de fatia expressiva do PT, que quer emplacá-lo de qualquer jeito no governo.

Embora petistas como o deputado Jilmar Tatto (SP), líder da bancada na Câmara, digam que o partido deve procurar o PMDB, uma parte do governo avalia que a manutenção da candidatura de Gabriel Chalita (PMDB) pode ser positiva para Haddad. O argumento para essa análise é o de que o eleitor de Chalita também vota em Serra, como indicam pesquisas de intenção de voto. Por esse raciocínio, sua permanência na disputa pode impedir o voto útil no PSDB.

Dilma foi orientada a não falar sobre a candidatura Serra, o apoio de Kassab a ele e também a desconversar sobre o desfecho da reforma ministerial. Na tarde de ontem, questionada sobre a entrada de Serra na corrida paulistana, a presidente adotou a estratégia acertada com seus assessores. "O governo é federal", respondeu Dilma, em Fortaleza, onde esteve para visitar obras. Um pouco antes, quando repórteres quiseram saber sobre a divisão da base aliada nas principais capitais, ela também usou a tática do despiste.

Trocas. O PR cobra a substituição do atual ministro dos Transportes para apoiar a candidatura de Haddad. Técnico, Passos assumiu a pasta em julho, quando Alfredo Nascimento, hoje senador, foi defenestrado da Esplanada no rastro de denúncias de corrupção. Embora filiado ao PR, ele não conta com o aval da sigla.

Apesar da pressão do PT para que Dilma também resolva logo o impasse com o PDT, que está com um interino no Ministério do Trabalho, o governo não vai agir antes do resultado da votação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp), marcada para hoje. Motivo: o PDT ameaça votar contra a proposta ou se abster no plenário.

O relacionamento do Planalto com o PDT tem enfrentando problemas desde a queda do ministro Carlos Lupi, também acusado de desvio de recursos. Agora, o PDT apresentou como pré-candidato à Prefeitura o deputado Paulinho da Força, mas os petistas desconfiam que o partido está negociando com Serra.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula e Eduardo Campos definirão aliança em SP, diz presidente do PT

Rui Falcão afirma que o governador, presidente do PSB, tratará a capital como um "compromisso pessoal" com o petista

Fernando Gallo

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, acertaram tratar pessoalmente de uma aliança entre PT e PSB na eleição municipal de São Paulo. Falcão disse "constar" que Campos tenha manifestado a Lula sua preferência pela candidatura de Fernando Haddad.

"O governador Eduardo Campos já se comprometeu a tratar São Paulo fora de qualquer outro tipo de tratativa, quase como um compromisso pessoal dele com o presidente Lula", sustentou. "Consta que ele teria dito que é importante eleger o Haddad e que, portanto, era importante que, aqui em São Paulo, (o PSB) estivesse nessa candidatura."

Falcão afirmou não ver "hipótese de aliança do PSB com o (ex-governador José) Serra na capital", tese defendida, nos bastidores, pelo presidente do PSB paulista, Márcio França, que é secretário do governo Geraldo Alckmin. Disse ainda acreditar que PR e PSB, "pra não falar de outros partidos", estarão na chapa petista.

Lula e Campos almoçaram juntos em 23 de janeiro em São Paulo, quando trataram do tema. Uma semana antes, Lula recebeu o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que, segundo interlocutores, avaliou que os socialistas deveriam caminhar junto com o PT em São Paulo.

O governador de Pernambuco tem priorizado alianças que contem com a participação do PSD, do prefeito Gilberto Kassab, com quem tem um projeto de alinhamento nacional. Kassab, como se sabe, apoiará Serra.

Críticas. Após o naufrágio das conversas do PT com Kassab, Rui Falcão criticou fortemente a administração municipal. Afirmou que a cidade está "devastada", que a Prefeitura leva a cabo "políticas higienistas", e afirmou ver uma "crise muito grande" na área da saúde.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ex-governador é o único capaz de derrotar 'chavismo', diz Bruno Covas

Ao abandonar sua pré-candidatura ontem, o secretário do Meio Ambiente paulista, Bruno Covas, apontou que o PSDB deve encarar a disputa pela Prefeitura de São Paulo como um embate nacional contra o PT. Para o tucano, o ex-governador José Serra é o único nome capaz de derrotar os petistas e impedir a instauração do "chavismo" no Brasil.

"José Serra representa uma possibilidade real de vitória do PSDB, para fazer frente a um projeto de poder que pretende dizimar as oposições, controlar a mídia e instaurar o chavismo no País", afirmou Covas.

Serra esteve na casa de Covas no último sábado para manifestar sua intenção de se candidatar à Prefeitura. O secretário afirmou que abandonaria as prévias do partido e que pediria a seus militantes que apoiassem o ex-governador na disputa interna.

Covas negou que tenha sido pressionado pelo governador Geraldo Alckmin a desistir de participar das prévias.

"A candidatura do Serra com o apoio do governador nos faz refletir. Ele estando ao lado do Serra, nós não podemos deixar de apoiá-lo nessa decisão", disse.

O secretário acredita que a entrada de Serra na disputa deve facilitar a formação de alianças em torno da candidatura tucana.

"Serra tem uma possibilidade de agregação de forças eleitorais dentro e fora do PSDB que a gente não pode negar. Não podemos tapar o sol com peneira."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra oficializa candidatura e leva PSDB a adiar prévias

O ex-governador José Serra anunciou no Twitter que disputará as prévias para escolha do candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo.

A cúpula do partido decidiu adiar a disputa interna marcada inicialmente para domingo, por uma semana. José Aníbal e Ricardo Trípoli, os pré-candidatos que ainda estão no páreo, são contra o adamento

Serra oficializa candidatura em SP, e PSDB decide adiar prévias

Cúpula da legenda quer ganhar tempo para construir a vitória na disputa interna

Aliados montarão, em parceria com o prefeito Kassab, força-tarefa para conversar com a militância tucana

Daniela Lima

SÃO PAULO - O ex-governador José Serra anunciou ontem em seu Twitter que disputará as prévias para escolha do candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Com a "oficialização" do desejo do tucano, a cúpula da sigla decidiu adiar a data da disputa interna.

Marcadas para domingo, as prévias deverão ser retardadas em pelo menos sete dias. Nesse tempo, os grupos políticos do governador Geraldo Alckmin, dos ex-pré-candidatos Andrea Matarazzo e Bruno Covas, e do próprio Serra farão uma força-tarefa para tentar construir a vitória dele nas prévias.

O grupo político do prefeito Gilberto Kassab reforçará o apoio a Serra. Vereadores que deixaram o PSDB no ano passado, quando Kassab criou seu partido, o PSD, vão acionar antigos contatos na militância tucana para pedir votos para o ex-governador.

A operação conta com o aval de Alckmin, que ontem, a aliados, defendeu a mudança da data.

O adiamento será aprovado hoje, em votação na Executiva Municipal. Aliados de Serra trabalham com dia 11 ou dia 25 de março.

Os dois pré-candidatos que ainda estão na disputa contra o ex-governador -o secretário estadual José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Trípoli- são contra a mudança. "Serra é muito conhecido e sua candidatura foi amplamente divulgada. O adiamento será um golpe na militância", diz Aníbal.

Ontem, ele foi procurado pelo presidente do partido, Julio Semeghini, e pelo secretário Edson Aparecido (Desenvolvimento Metropolitano), um dos principais articuladores de Alckmin. Ouviu de ambos um apelo de adiamento das prévias. O argumento foi que Serra precisa de tempo para se apresentar como pré-candidato.

Diante da recusa de Aníbal -Trípoli foi consultado e também disse não- a Executiva Municipal vai arbitrar a decisão, e a derrota dos dois é dada como certa.

Antes da reunião que selará o adiamento das prévias, Serra entregará carta oficializando sua pré-candidatura.

Agora imerso da disputa municipal, o ex-governador já começou a conduzir a costura de alianças. Ontem, por exemplo, esteve com dirigentes do DEM em seu escritório político. Tucanos dão como certo o apoio da sigla a Serra.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Novo fôlego:: Merval Pereira

A confirmação da candidatura do ex-governador José Serra à Prefeitura de São Paulo refaz a disputa paulistana, dando ao PSDB uma perspectiva de vitória que antes não tinha. O apoio do PSD à candidatura de Fernando Haddad poderia levar à vitória do candidato petista no primeiro turno.

O governo federal trabalhando politicamente junto com a prefeitura seria um apoio muito forte, ainda mais que o PSDB não tinha um candidato viável politicamente.

Os quatro pré-candidatos têm uma repercussão muito limitada regionalmente e não têm peso nacional para se contrapor ao trabalho da presidente Dilma e de Lula.

Serra, ao contrário, mesmo tendo sido derrotado em 2010 por Dilma para a Presidência, ganhou dela no estado e na cidade de São Paulo.

Revertida essa jogada política de Lula, agora a candidatura tucana tem a possibilidade de montar um grande arco de alianças que lhe dará tempo de televisão suficiente durante a campanha eleitoral para que Serra tente reduzir seu nível de rejeição - que se deve muito ao temor de que use a prefeitura mais uma vez como trampolim para cargos mais altos, como presidente da República em 2014.

Por isso, todos os seus correligionários, a começar pelo prefeito Gilberto Kassab, estão anunciando que ele desistiu de seus planos de concorrer pela terceira vez à Presidência.

Abrindo caminho para a candidatura de Aécio Neves pelo PSDB, Serra dará garantias ao eleitorado paulistano de que continuará até o fim de seu mandato se for eleito prefeito.

E continuará podendo sonhar com a Presidência da República em 2018, quando não haverá nem Dilma nem Lula para representar o PT, caso Aécio não seja vitorioso em 2014.

Não há muitas dúvidas sobre a vitória de Serra nas prévias do próximo domingo, mas ela terá que ser uma vitória maiúscula para dar uma partida forte na candidatura, e tudo indica que será.

O adiamento por uma semana, que está sendo tentado pelo governador Geraldo Alckmin, tem o objetivo de dar mais tempo para as costuras políticas necessárias a essa vitória.
Não há qualquer outro pré-candidato que restou na disputa que tenha a capacidade de unir o partido com a expectativa de vitória que Serra traz com sua presença na disputa.

O fato de o ex-governador aparecer nas pesquisas de opinião em primeiro lugar, embora com alto índice de rejeição, dá um novo ânimo ao PSDB paulista e, ao contrário, já coloca dúvidas nas hostes petistas.

O líder regional do PT Jilmar Tatto, do grupo da senadora Marta Suplicy, já aventou a possibilidade de trocar de candidato diante da realidade política que mudou.

Fernando Haddad tem pouca visibilidade para o eleitor e aparece com cerca de 4% de preferência nas primeiras pesquisas.

Isso é sinal de que pode crescer muito, mas também de que terá de se esforçar muito mais do que, por exemplo, a ex-prefeita Marta Suplicy, que pretendia se candidatar e tem um recall também alto para iniciar a disputa.

A presença de Serra, além de instalar novamente a dúvida no front adversário, mobiliza os partidos para a formação de um amplo leque de alianças partidárias, tão heterogêneo quanto qualquer aliança que se forme no país atualmente: PSD, DEM, PTB, PPS, PDT e até mesmo o PSB são partidos que podem compor essa aliança eleitoral, dando tempo de televisão suficiente para que a candidatura de Serra tenha uma boa base inicial.

Uma coisa é certa: a partir do momento em que Serra anunciar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, o candidato natural do PSDB a presidente da República em 2014 passa a ser o senador Aécio Neves.

A disputa mais provável em 2014 será entre a reeleição de Dilma e o candidato do PSDB, pois tudo indica que Lula não terá ânimo pessoal para enfrentar uma nova campanha depois do tratamento a que está sendo submetido para curar o câncer na laringe.

Ele será o grande eleitor, o grande apoio do PT, mas dificilmente será o candidato, ainda mais que a presidente Dilma está se revelando uma candidata bastante viável até o momento.

É provável que essa popularidade que ela ganhou no primeiro ano de governo, apesar de todos os pesares, seja reduzida com o decorrer do mandato, pois o desgaste é inerente à função, e a perspectiva da situação econômica do país não parece ser das melhores, sobretudo devido à crise internacional.

As previsões são de um crescimento médio nos próximos anos em torno de 3%, o que não é o suficiente para manter esse sentimento de bem-estar que o crescimento de 2010 provocou.

Ao anunciar a candidatura, Serra deve anunciar também que não disputará a indicação para candidato do PSDB à Presidência em 2014.

Pode até não declarar explicitamente seu apoio ao senador Aécio Neves, como muitos tucanos gostariam que fizesse, mas terá que deixar claro que se dedicará à Prefeitura de São Paulo nos quatro anos de um eventual mandato.

A derrota quase certa que se avizinhava para os tucanos seria um golpe de mestre do ex-presidente Lula, que montaria assim um esquema político na capital que pudesse alavancar uma candidatura petista forte contra a reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin em 2014 - o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, está sendo preparado para tal missão -, retirando dos tucanos a base política mais importante.

A entrada de Serra na disputa traz para o PSDB a perspectiva de vitória e, mais que isso, a possibilidade de vir a ter em 2014 uma candidatura à Presidência que conte efetivamente com o apoio dos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas, coisa que até hoje não aconteceu de fato.

FONTE: O GLOBO

Agora é que são elas:: Dora Kramer

A jornada foi dura e exitosa: quase três anos desde a apresentação da proposta de iniciativa popular ao Congresso, em 2009, até a confirmação da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal há poucos dias.

Noves fora as exceções - tanto as bem intencionadas que enxergam riscos ao Estado de direito e perigo de surgir um novo balcão de negócios no Judiciário e nos tribunais de contas, quanto as más que não ousam dizer seus nomes - o clima geral é de celebração.

Governos, prefeituras e assembleias legislativas se propõem a estender o pré-requisito País afora e surgiu até um projeto de lei federal sugerindo a exigência de ficha limpa para diretores de ONGs postulantes ao uso de verbas federais.

Isso tudo como se já não houvesse na Constituição (artigo 37) a exigência do cumprimento dos preceitos de moralidade, legalidade, impessoalidade e publicidade para a administração pública direta, indireta e fundações nos âmbitos federal, estadual e municipal.

O Brasil parece entoar em coro um animado "agora vai". Mais realista, porém, seria ponderar um agora é que são elas.

Sim, resta o mais difícil. O teste da realidade, fonte de dúvidas pertinentes.

Como vão se comportar os partidos? Terão de fato, conforme preveem os otimistas, mais cuidado no exame da vida pregressa de alguém antes de ceder-lhe a legenda para candidatura?

A Justiça Eleitoral terá estrutura, independência disposição e agilidade para decidir sobre a concessão ou eventualmente cassação de registros ou será lenta e leniente?

O Ministério Público atuará em nome da sociedade em defesa do cumprimento da nova legislação ou permanecerá impassível como aconteceu em outras ocasiões?

Para não ir longe, lembremos a desenvoltura com que o então presidente Lula cometeu abusos durante a campanha de 2010 sem ser importunado, a não ser com a aplicação de multas sem maiores consequências.

E o eleitor, o que fará com a posse da nova ferramenta, praticará o voto limpo? Analisará com acuidade condutas e biografias ou vai escolher ao léu só para cumprir a tabela exigia pela obrigatoriedade do voto?

Ainda há outro problema: no caso de eleições proporcionais (em 2012, para vereador) o cuidado não garante nada, pois a regra em vigor não cria relação direta entre o eleitor e seu candidato. Vota-se em alguém e, de repente, se elege outro, de partido diferente e a respeito de quem não se sabe coisa alguma.

A ideia aqui não é desdenhar da importância da Lei da Ficha Limpa. Qualquer passo dado na direção de alguma mudança na maneira como a política está funcionando é muito útil. No caso específico o exemplo melhor foi o de que, com pressão, as ações acabam se impondo.

A questão é que existem muitos outros quinhentos a serem resolvidos e que não podem ser perdidos de vista, sob pena de o esforço virar pó.

Um aspecto ainda não discutido, por exemplo, guarda relação com o "dia seguinte". Vamos que todos os candidatos às eleições dos próximos anos tenham fichas devidamente abonadas pelo novo critério.

Ótimo, assumem seus mandatos e cargos de contas zeradas com a Justiça. A providência, contudo, terá sido vã se no exercício das respectivas funções não se mantiverem "limpos" e devidamente esquadrinhados por todos os instrumentos disponíveis nos três Poderes e na opinião pública.

Disso nos deram notícia as demissões em série de ministros de ficha e conduta nebulosas no ano passado.

E a respeito disso também poderá nos dar notícias boas ou más o Supremo Tribunal Federal quando do julgamento dos 38 processados sob acusação de terem montando uma quadrilha para financiar a formação de uma base político-partidária com vista à sustentação de um projeto de poder.

De cocheira. Difícil distinguir se é torcida ou fruto de informação, mas no Palácio do Planalto trabalha-se com a hipótese de o processo do mensalão entrar na pauta do Supremo só mesmo em 2013.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fim de uma era::Eliane Cantanhêde:

A promessa das Farc de acabar com sequestro de civis é um reconhecimento de exaustão, a vitória do antigo e do atual governos da Colômbia e um alívio para toda a América do Sul, onde os principais problemas diplomáticos giram em torno da guerrilha colombiana.

Acaloradas votações na OEA, Colômbia versus Venezuela, Colômbia versus Equador, troca de farpas entre Bogotá e Brasília, tudo isso é gerado pela existência e incrível resistência das Farc. Com o declínio do grupo -que, frise-se, ainda tem estimados 9.000 guerrilheiros- e com Chávez ocupado em salvar a própria vida, o ambiente tende a desanuviar.

Surgidas como guerrilha comunista, as Farc sobreviveram à perestroika, ao Muro de Berlim, ao êxtase capitalista da China e ao fim de praticamente todos os grupos armados na América Latina. Mas, se não morreu, transformou-se. Ou desfigurou-se.

Ao longo das décadas, as Farc se transformaram num "Frankenstein": a utopia comunista cedeu ao pragmatismo do narcotráfico, os inimigos deixaram de ser os imperialistas para ser qualquer um -inclusive meros civis. Em nome do povo, as Farc viraram o pavor do povo.

O Brasil atravessou todos esses momentos recusando-se a reconhecer as Farc como "grupo terrorista", como pedia Álvaro Uribe e seguiu pedindo seu sucessor Juan Manuel Santos. Vá-se entender por que...

O fato é que as Farc estão cercadas, grampeadas, sem comunicação, sem abastecimento e não têm mais para onde correr, literalmente, depois que a Colômbia assumiu todos os riscos e ônus internacionais e invadiu território equatoriano para liquidar o líder Raúl Reyes.

Na sequência, o ícone Manuel Marulanda foi morto e o troféu Ingrid Betancourt foi libertado numa ação espetacular de inteligência.

Estamos vendo o início do fim das Farc e, com ele, o fim de uma era e de uma geração que sonhou e acordou entre os Andes e a Patagônia.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O retorno da política :: Vladimir Safatle

Em abril, a Europa será palco de duas importantes eleições: o primeiro turno da eleição presidencial francesa e a eleição legislativa na Grécia. Ambas ocorrerão sob o signo do agravamento da crise socioeconômica na zona do euro e do esgotamento de modelos liberais de governo.

A França, sob Nicolas Sar-kozy, iniciou um dos mais impressionantes processos, na sua história recente, de desmonte do serviço público, de restrição orçamentária e de redução de impostos para ricos.

Sarkozy havia prometido "aumentar o poder de compra das famílias", diminuir o desemprego por meio da flexibilização do trabalho e colocar a economia francesa em rota de crescimento. Nada disso foi feito. Em seu lugar, o governo francês divertia-se em expulsar ciganos e criar o Ministério da Imigração e Identidade Nacional, enquanto inúmeros estudos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) demonstravam a importância da imigração como motor de sustentação da economia europeia.

A situação política francesa parecia o pior dos mundos. Enquanto Sarkozy e François Hollande, candidato do PS (Partido Socialista), digladiam-se na conquista do primeiro lugar, cresce o inacreditável. O FN (Front National), um partido xenófobo, racista, representante da pior tradição da extrema-direita europeia, chegou à casa dos 20%. Não é difícil compreender que, quando o medo torna-se o afeto político central, a extrema-direita sempre capitaliza.

Mas não deixa de ser interessante um movimento político que muitos julgavam impossível. Uma coalizão de agrupamentos de esquerda conseguiu lançar um candidato com densidade eleitoral,

Jean-Luc Mélénchon, que chega a 10% das intenções de voto. Um partido à esquerda do PS com dois dígitos de intenção de voto é algo que não ocorre na França desde 1981.

Sem medo de chamar de gato a um gato e de estigmatizar as derivas racistas e isolacionistas da extrema-direita, Mélénchon conseguiu empurrar para a defensiva um partido que cresceu moldando impunemente a pauta do debate político e se colocando como defensor das classes baixas contra o "cosmopolitismo" dos burocratas de Bruxelas.

Em um impressionante debate na TV entre os dois representantes do extremo político, a candidata do FN, Marine Le Pen, preferiu ler ostensivamente jornais diante das câmeras a responder às acusações do candidato da esquerda.

Isso demonstra como vale a pena relembrar uma frase visionária de Jean Baudrillard: "Melhor morrer pelos extremos do que pelas extremidades". Em momentos de grave crise, deixar que o discurso da ruptura seja monopolizado pela extrema-direita é fazer prova de suicídio político.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Construindo o avião em pleno vôo:: Cláudio Gonçalves Couto

Tive a oportunidade, na semana que passou, de participar no Cairo de um seminário sobre a nova Constituição egípcia, promovido pelo Arab Forum for Alternatives e pela Arab Reform Initiative. Foram discutidos desafios e experiências constitucionais locais e de outros países (inclusive do Brasil). Especial atenção tiveram temas como a constitucionalização de direitos socioeconômicos, a convivência com a diversidade e o combate à discriminação, a questão da transparência e do direito à informação (com problemas similares aos da nossa recente discussão sobre a lei de acesso à informação), os direitos das mulheres, as relações civil-militares, a questão da descentralização e das formas participativas de democracia, assim como questões gerais de organização do sistema de governo.

Se, por um lado, a diversidade dos participantes e o arrojo de certas propostas indicam haver no Egito atual um debate plural e franco sobre os rumos a serem seguidos pelo país, por outro nota-se claramente que algumas questões correm o risco de conduzir a um diálogo de surdos. Exemplo disto foi a discussão travada em torno da condição feminina. Enquanto duas expositoras feministas (nenhuma das quais usando o véu islâmico) defendiam a necessidade de normas igualitárias para as relações de gênero e quotas para mulheres em diversos âmbitos, duas reações vindas de homens da audiência foram bastante eloquentes. Um deles, que também manifestaria posições de defesa do status quo em outros assuntos delicados (como as relações civil-militares), questionou virulentamente a pertinência das queixas das feministas, já que, segundo seu entendimento, tudo o que era reclamado por elas já se encontrava na legislação vigente.

O outro contendor, evidentemente um religioso ortodoxo (em vestes tradicionais, longas barbas e a testa marcada por uma cicatriz causada pelas repetidas preces junto ao chão), replicou-lhes calmamente com um típico e pragmático contra-argumento conservador: de que maneira convencer populações tradicionais, como os beduínos, a acatarem normas tão arrojadas para as relações de gênero? Afinal, segundo sua mansa ponderação, querer impor-lhes coercitivamente tal violação de seus costumes acabaria por gerar uma reação armada. As expositoras não tinham uma boa resposta para isto.

Embora tenha particularidades, a questão feminina e inseparável do problema religioso, outro que foi alvo dos debates. Questionou-se até que ponto deverá a Constituição refletir o caráter predominantemente islâmico da sociedade egípcia. A Constituição atual, a ser substituída, já indica que a sharia, a lei islâmica, é a principal fonte da legislação. É praticamente certo que isto não será revisto (pode até mesmo ser aprofundado), mas cabe então discutir como lidar com a liberdade religiosa. No Egito atual, embora haja liberdade religiosa individual, existem muitas restrições à construção de igrejas cristãs (uma condição indispensável à prática coletiva da fé) e não há indicações de que isto possa mudar facilmente.

Debates deste tipo irão continuar, não só em eventos acadêmicos e por meio da imprensa, mas - de forma decisiva - numa assembleia constituinte formada a partir da Assembleia do Povo e da Shura (correspondente ao Senado). Na primeira casa do parlamento, em eleições recentes, os partidos islâmicos obtiveram uma grande maioria de 70% das cadeiras, sendo 47% controladas pela Fraternidade Islâmica (mediante seu Partido da Liberdade e Justiça) e outros 23% pelo bem mais conservador Partido Salafita Al-Nour. Nas bem menos animadas eleições para a Shura, ocorridas na semana que passou, é bem provável que os resultados sejam parecidos - mas, um terço dos seus membros serão "biônicos", indicados pelo presidente.

O Egito se prepara para este processo (tão importante para a continuação da transição democrática iniciada com a Revolução de 25 de Janeiro) imerso num cenário de considerável instabilidade. Depois da queda do regime de Hosni Mubarak a desorganização da vida pública egípcia aumentou sensivelmente, reduzindo-se a efetividade da lei e decaindo o funcionamento da polícia. No cotidiano isto se evidencia em fatos como o aumento da violência urbana e a piora do caótico trânsito do Cairo - diante do que se experimenta em suas ruas, o tráfego de cidades como São Paulo, Rio ou Recife pode ser considerado um espetáculo de urbanidade.

Contudo, a situação é ainda mais complicada na esfera da competição política. Embora a data de 10 de março tenha sido definida para a apresentação das candidaturas presidenciais, não se sabe ainda quando as eleições propriamente ditas ocorrerão. Há também um imbróglio jurídico em torno das regras para as eleições parlamentares, pois a Suprema Corte considerou inconstitucionais as normas sob as quais foram escolhidos os membros das duas casas do legislativo. Como não se sabe se tal posicionamento da corte pode levar à invalidação judicial das eleições, cria-se um cenário de grande incerteza.

E há, ainda, o risco de uma deterioração do clima político, algo evidenciado por dois atos de violência cometidos na semana passada contra lideranças políticas proeminentes. Num deles, o pré-candidato presidencial Abdul Monein Abul Futuh (dissidente da Irmandade Islâmica) foi espancado junto com seu motorista por homens armados com rifles, num ataque preliminarmente apontado pela polícia como tentativa de roubo de carro - algo rechaçado por seus partidários. No outro episódio, um deputado da irmandade islâmica, Hassan el-Brins, teve o carro atingido numa rodovia por outro veículo, que o jogou contra um caminhão. El-Brins integra uma comissão do parlamento que recomendaria a transferência de Hosni Mubarak para um hospital penitenciário (hoje ele está num sofisticado centro médico do exército).

Só pelos controversos temas em disputa, o processo de reconstrução democrática do Egito já não seria nada simples. Considerando-se também a grande instabilidade política, será como construir um avião em pleno voo.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Depósito milionário para ex-vice do BB é investigado

O ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Toledo, que até dezembro dirigia uma das áreas mais importantes da instituição, é investigado por ter recebido quase R$ 1 milhão em sua conta bancária em 2011.

Toledo abriu a conta em janeiro do ano passado e recebeu cinco depósitos mensais no total de R$ 953 mil, informa Andreza Matais

Depósito de R$ 1 mi para ex-vice do BB é investigado

PF e Banco do Brasil examinam transferência de R$ 953 mil para Allan Toledo

Afastado em meio a crise na cúpula da instituição, ex-diretor afirma ter negociado imóvel com empresário

Andreza Matais

BRASÍLIA - O ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Toledo, que até dezembro dirigia uma das áreas mais importantes da instituição, está sendo investigado por ter recebido quase R$ 1 milhão numa conta bancária em 2011.

Toledo foi exonerado do banco depois de ser identificado pelo governo como participante de um movimento cujo objetivo seria desestabilizar o presidente do banco, Aldemir Bendine, e ficar com seu cargo, como revelou a coluna "Painel" da Folha.

O BB abriu sindicância para apurar o caso por suspeita de lavagem de dinheiro, notificou a Polícia Federal e trocou informações sobre o caso com ela. Toledo era vice-presidente da área de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do banco.

A investigação só teve início depois da demissão de Toledo pela instituição e teve como origem relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda, sobre a movimentação bancária de Toledo no ano passado.

O executivo abriu uma conta no Banco do Brasil em janeiro de 2011 e recebeu cinco depósitos mensais no valor total de R$ 953 mil. O dinheiro foi transferido para a conta dele pela aposentada Liu Mara Fosca Zerey, de 70 anos.

Antes de fazer as transferências para a conta de Toledo, Zerey recebeu um depósito de R$ 1 milhão numa conta que até então havia movimentado apenas para receber o dinheiro da aposentadoria.

Quem depositou o dinheiro na conta da aposentada foi o empresário Wanderley Mantovani, que atua em vários segmentos e é sócio do dono do frigorífico Marfrig, Marcos Molina, numa usina de biodiesel, a Biocamp.

Mantovani afirma que comprou uma casa da aposentada, mas não existe registro oficial da transação em cartório. Toledo diz que atuou no negócio como procurador da aposentada e por isso movimentou o dinheiro em sua conta bancária pessoal.

O Marfrig recebeu nos últimos anos vários empréstimos do BB. O irmão do ex-vice-presidente do BB, Alex Toledo, é gerente de comunicação e marketing do Marfrig.

Disputa política

A exoneração de Toledo ocorreu em meio a uma disputa política que envolve a cúpula do BB e a Previ, o poderoso fundo de pensão dos funcionários da instituição.

Como a Folha informou na semana passada, o presidente do Banco do Brasil, Bendine, homem de confiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega, acusa o presidente da Previ, Ricardo Flores, de conspirar para derrubá-lo.

O grupo de Flores diz que o presidente do BB quer um aliado na sua cadeira para ter influência no destino dos recursos do fundo de pensão.

Um dos indícios detectados pela cúpula do banco de que havia um movimento para derrubar Bendine no ano passado foi o vazamento para a imprensa de informações sobre a compra do Banco Postal pelo BB, um negócio bilionário concluído em 2011.

Uma reportagem da revista "Época" sugeriu que o negócio teria sido mal conduzido por Bendine e seus amigos enxergaram o dedo de Toledo no material publicado.

Poucos executivos do Banco do Brasil tinham informações sobre a transação. Toledo, que se aproximou de Flores nos últimos meses, era o vice-presidente mais bem informado sobre o assunto e por isso as suspeitas recaíram sobre ele. Toledo nega ter participado do vazamento.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma abre cofre para reconstruir estação

A presidente Dilma Rousseff determinou a abertura de crédito extra no orçamento para que haja toda a verba necessária à reconstrução da base brasileira na Antártica, destruída no úlitmo sábado por um incêndio, no qual morreram dois militares. Estima-se que isso custará ao menos R$20 milhões. Ontem, em meio a cansaço e dor pela morte dos colegas, voltaram ao país as 45 pessoas que estavam na base.

Dilma determina reconstrução

Investimento mínimo para limpeza e início da recuperação da estação é de R$ 20 milhões

TRAGÉGIA NO GELO

A presidente Dilma Rousseff determinou a abertura de crédito extraordinário no Orçamento de 2012 para reconstruir a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída após o incêndio da madrugada do último sábado. A contabilidade dos danos e a investigação das causas do acidente já começaram. A frente parlamentar do Programa Antártico (Proantar) calcula que, este ano, será necessário um investimento mínimo de R$ 20 milhões para limpar o local do acidente e começar o trabalho de reconstrução. Em 2012, o orçamento autorizado pelo Congresso para pesquisa e manutenção soma, porém, apenas R$ 11,8 milhões.

Ontem, a Marinha fez em Brasília a primeira reunião sobre avaliação de danos e de planejamento da estratégia de reconstrução, de acordo com a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), vice-presidente da frente parlamentar do Proantar. A presidente Dilma determinou ao Ministério do Planejamento que, nos próximos dias, as pastas da Defesa e de Ciência e Tecnologia apresentem a conta do prejuízo, que deverá ser integralmente atendida. No domingo, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, afirmou ao GLOBO que há urgência para fazer o inventário do que não foi destruído e contabilizar o montante necessário para a recuperar o estrago.

Esclarecimentos no Senado

A frente parlamentar do Proantar marcou reunião para amanhã, quando também deverá discutir os rumos do programa. Hoje, o Senado deve aprovar convite para que os ministros Celso Amorim (Defesa) e Raupp prestem esclarecimentos em audiência conjunta das comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle, de Ciência, Tecnologia, Inovação e de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Representantes dos pesquisadores que trabalham na Antártica também serão convidados.

- Sem dúvida, o governo, o Congresso e a sociedade deverão dar uma resposta à tragédia. Creio que, este ano, é preciso, no mínimo, de R$ 20 milhões para limpar o local, começar a reconstrução e resgatar a embarcação de combustível que afundou em dezembro de 2011. Sem isso, será uma vergonha nacional - afirmou Jô Moares.

Falha na praça de máquinas

A possibilidade de uma falha elétrica na praça de máquinas da base continua sendo a principal linha de investigação da Defesa sobre as causas do acidente. Ontem, a Marinha, em nota, afirmou que os gastos na Antártica cresceram substancialmente a partir de 2005, quando a média anual de investimento saiu de R$ 3 milhões até atingir R$ 15 milhões, em 2010. No ano seguinte, entretanto, o valor executado caiu para R$ 8,72 milhões. A Marinha rejeitou qualquer relação entre o acidente e a restrição orçamentária.

"É importante sublinhar que o incidente ocorrido na EACF não teve relação direta com os investimentos realizados no Proantar. As causas do incidente estão sendo apuradas por meio de inquérito policial militar", informou a Marinha, em nota ao GLOBO.

A Marinha não se pronunciou sobre os motivos da queda do orçamento. Porém, informou que, em anos anteriores, ocorreu uma série de investimentos, como ampliação do número de camarotes e dos laboratórios; e modernização dos sistemas de informática e de comunicações.

"A Marinha teve um aumento de recursos para atender às necessidades do programa que permitiram, entre outras ações, a revitalização, a ampliação da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) e a implementação, que ainda estava em curso, de um sistema de gestão ambiental (SGA), coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA)", explicou Marinha, em nota.

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante, hoje no comando do Ministério da Educação, não quis se pronunciar sobre a queda dos gastos em 2011.

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que integra a frente parlamentar, salientou que, além dos recursos destinados ao programa antártico, as pesquisas são subsidiadas com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (FNDT). O senador explicou que o espaço brasileiro no continente tem um aspecto estratégico, pois foi assegurado na sequência do Protocolo de Madri, mecanismo diplomático que levou ao fim da disputa territorial sobre a Antártica.

- Temos um compromisso muito grande e precisamos, agora, olhar para o futuro - disse o parlamentar.

FONTE: O GLOBO

Ciência congelada

O incêndio que destruiu a estação Comandante Ferraz na Antártida serviu para jogar luz sobre os programas de pesquisa desenvolvidos pelo Brasil no continente gelado. Nossos cientistas têm tido de conviver não só com a inospitalidade do clima polar, mas principalmente com a falta de apoio do governo petista.

O fogo destruiu 70% da estação, matou duas pessoas - o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos - e comprometeu 40% do programa antártico brasileiro. O acidente aconteceu no sábado, quando 60 pessoas estavam no local. Um ferido ainda está hospitalizado: o primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros.

O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) tem convivido com dificuldades nos últimos anos. As verbas orçamentárias vêm sendo cortadas, os pesquisadores enfrentam atrasos nos repasses e a estrutura instalada na região polar é inadequada: a concepção da Comandante Ferraz é antiga e os sistemas de energia e de hidráulica são ruins, atestam pesquisadores.

Tudo isso dá margem para acidentes - e não apenas para o que ocorreu neste fim de semana. Em dezembro, uma embarcação rebocada pela Marinha brasileira afundou no mar antártico. Carregava 10 mil litros de óleo combustível. Estacionada a 40 metros de profundidade e a 900 metros da praia onde fica a estação incendiada no sábado, até hoje não foi resgatada. O governo brasileiro tentou manter tudo em sigilo, mas o caso acabou vindo à tona justamente no dia do incêndio, revelado por O Estado de S.Paulo.

Mas não é só: outra embarcação brasileira, o navio de apoio oceanográfico Ary Rongel, está parada desde dezembro num estaleiro em Punta Arenas, no Chile, refazendo seu motor principal. O incêndio, o naufrágio e o estrago no navio dão ideia da penúria que assola o Proantar.

Os recursos destinados para as pesquisas na Antártida vêm caindo ano a ano. A previsão para este ano é a menor desde 2006, mostra a Folha de S.Paulo. "O valor para 2012 é 42% abaixo do orçamento do ano passado, caindo de R$ 18,3 milhões para R$ 10,7 milhões. O valor desse ano é praticamente o mesmo de 2005 corrigido."

A União não vinha investindo nem mesmo na manutenção da base de pesquisa. Segundo O Globo, apenas metade do orçamento da Comandante Ferraz foi efetivamente gasto na consecução de pesquisas e no funcionamento da estação polar em 2011. Dos R$ 18,3 milhões, apenas R$ 9,2 milhões foram pagos no ano passado, "o menor montante desde 2005".

Parece haver um problema estrutural mais agudo no programa antártico. O Proantar é mantido, principalmente, pelos ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia. Este tem de administrar um corte de R$ 1,5 bilhão em seu orçamento para este ano. Aquele convive com o sobrepeso de gastos com pessoal, em detrimento de investimentos em pesquisa.

Segundo o Valor Econômico, cerca de 80% dos recursos do orçamento da Defesa destinam-se ao pagamento da folha de pessoal, e 63% desse total vão para funcionários aposentados. Apenas 13,7% da verba é usada em custeio, e menos ainda - 6,7% de R$ 60 bilhões - é transformado em investimentos.

Os problemas na estação Comandante Ferraz estão longe de ser os únicos enfrentados pela comunidade científica brasileira. Hoje a Folha também revela que bolsistas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, estão com seus pagamentos atrasados desde janeiro. O problema tem sido recorrente.

É lamentável observar como a produção de saber e conhecimento tem sido maltratada no país. A tragédia na Antártida pode ajudar a mudar o rumo desta situação. Infelizmente, algumas vidas e muito trabalho terão sido perdidos.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Farc, paz ou mudança de ramo?:: Clóvis Rossi

Leitura predominante na Colômbia é de que a guerrilha está apenas trocando as fontes de renda

Na Colômbia, são duas as leituras a respeito do anúncio das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) de que vão abandonar os sequestros como fonte de financiamento.

A visão aparentemente minoritária acredita, ainda que cautelosamente, que se trata de um passo para a paz tão desejada em um país que vive praticamente meio século de guerra interna. É a leitura, por exemplo, de Iván Cepeda, histórico militante dos direitos humanos, hoje deputado pelo grupo esquerdista Polo Democrático e integrante da Comissão de Paz do Parlamento.

Cepeda qualifica de "gesto histórico" o anúncio das Farc, toma-o como um dos movimentos que o presidente Juan Manuel Santos vinha pedindo à narcoguerrilha para iniciar um diálogo de paz e cobra: "O governo agora deve registrar esses gestos e começar a abrir os cenários para usar a chave da paz".

Vale lembrar que o fim dos sequestros e a libertação dos reféns, iniciativas anunciadas pelas Farc, são apenas duas das condições que o presidente Juan Manuel Santos exige para iniciar negociações. Ele quer também o fim do tráfico de drogas, do recrutamento de menores e dos ataques terroristas.

Para reforçar a desconfiança com que foi recebido no governo o anúncio da narcoguerrilha, as Farc lançaram violenta ofensiva

nas montanhas do Departamento de Cauca, no Sudoeste, menos de 24 horas depois de prometer o fim dos sequestros.

Entra então a segunda leitura sobre o anúncio, a pessimista, de que se trata apenas de uma mudança de ramo nos negócios do grupo. Markus Schultze-Kraft, pesquisador do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Sussex, lembra, por exemplo, que "o número de sequestros na Colômbia declinou firmemente nos últimos anos devido à crescente capacidade do governo de proteger seus cidadãos".

Ou seja, as Farc estariam apenas prometendo não fazer o que já não conseguem fazer com a mesma intensidade.

Reforça editorial de ontem do jornal "El Tiempo": "Não faltará o cético que afirme que o sequestro havia deixado de ser uma fonte importante de dinheiro para esse grupo há algum tempo, pois não somente as ações das autoridades tiveram êxito na hora de reduzir o flagelo como o narcotráfico resultou ser uma opção criminosa mais atraente".

Antes mesmo do anúncio de domingo, Eduardo Pizarro, em livro de 2011 sobre as Farc, já dizia que o grupo estava procurando alternativas às suas duas fontes principais de recursos, o sequestro extorsivo e o tráfico de drogas, que Pizarro qualificava de "presentes envenenados". O sequestro porque podia colocar seus autores na mira da Corte Penal Internacional e, o tráfico, porque expõe quem o pratica à extradição para os EUA.

Pizarro diz que o grupo estava entrando na mineração clandestina, na apropriação de recursos públicos e aumentando o esquema de extorsões.

Esta segunda leitura parece mais pertinente: quem se acostumou a movimentar grandes somas de dinheiro não consegue adaptar-se a uma vida mais simples, inevitável se houver uma desmobilização.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A força das classes médias:: Celso Ming

Todos os dias autoridades políticas e econômicas do mundo advertem que a geografia econômica global passa por radical processo de metamorfose e que os emergentes de hoje estarão entre as potências hegemônicas dentro de mais alguns anos.

O fenômeno subjacente é a enorme redivisão do trabalho no mundo. Bilhões de pessoas, antes marginalizadas do mercado de consumo, obtêm emprego e renda, à proporção de mais de 40 milhões por ano, apenas na Ásia.

Mas esse não é fenômeno circunscrito só ao continente asiático, depois que a China e os tigres que a cercam (Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Taiwan, etc.) assumiram a corrida para o desenvolvimento econômico. O governo brasileiro se vangloria de que, em pouco mais de dez anos, nada menos que 30 milhões de brasileiros ascenderam de estrato social.

Definir o que é classe média é tarefa tão complicada quanto definir nível de pobreza. Mas, do mero ponto de vista do mercado de consumo, entende-se que fazem parte das camadas médias pessoas que gastam entre US$ 10 e US$ 100 por dia.

Sob esse critério, o Instituto Brookings, de Washington, avalia que nada menos que 2 bilhões de pessoas (29% da população mundial) constituem hoje as classes médias. E a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que, por volta de 2030, as camadas da classe média atingirão 4,9 bilhões ou entre 65% e 80% da população global. A maior parte dessa gente viverá em países hoje considerados emergentes.

Já não dá para dizer, como ainda se repetia nos anos 90, que o atual sistema econômico e político global seja excludente. Ao contrário, para o bem e para o mal, mostra-se essencialmente includente.

Pessoas mais bem nutridas, com mais saúde, mais informadas e politicamente mais integradas constituem grande avanço histórico que, no entanto, cobrará seu preço. O primeiro deles é a transferência dos empregos dos países ricos para os emergentes. Independentemente dessa realocação, é preciso perguntar se haverá, onde quer que seja, postos de trabalho para tanta gente.

Em segundo lugar, é necessário prever o impacto do brutal aumento de consumo mundial sobre suprimentos de alimentos, água doce, matérias-primas e energia. A referência para essa população são os atuais padrões de consumo das classes médias americanas, cujo símbolo é a existência de um carro em cada garagem. São crescentes as dúvidas sobre se o Planeta aguenta essa sobrecarga.

As classes médias não vivem somente da mão para a boca. Demandam cada vez mais serviços públicos de qualidade: educação, saúde, segurança, previdência, comunicações e transporte. E, com esses serviços, aumenta também a demanda por proteção social, como seguro-desemprego e auxílio-doença. A carga tributária, assim, crescerá em todo o mundo.

Do ponto de vista político, o fortalecimento das classes médias tende a favorecer a consolidação dos regimes democráticos – mas desde que suas aspirações não sejam frustradas. A História está farta de exemplos de como as classes médias descontentes podem também ser manipuladas por ditadores e regimes populistas. E esse é o maior risco. Se os Estados não derem conta da nova demanda, os regimes políticos abertos podem dançar.

Enfim, a geografia humana está mudando e essas mudanças impõem desafios às gerações que estão vindo aí.

CONFIRA

O gráfico mostra a evolução, em 12 meses, do IGP-M – um dos principais critérios de reajuste dos aluguéis e dos contratos financeiros.

Vai pra ata ou não vai? Agora é a própria presidente recém-empossada da Petrobrás, Graça Foster, que defende o reajuste imediato dos preços dos combustíveis. O Banco Central vem repetindo nas atas do Copom e nos relatórios trimestrais que, para efeito de avaliar o comportamento da inflação futura, conta com reajuste zero da gasolina, do óleo diesel e do gás de botijão. E, agora, dá para repetir essa aposta?

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pobre menina rica:: Míriam Leitão

A chanceler Angela Merkel foi ontem ao Parlamento pedir a aprovação do pacote de ajuda à Grécia. Seu governo é criticado por estar fazendo pouco para evitar o pior na crise, sua coalizão política acha que ela está fazendo mais do que deveria com o dinheiro do contribuinte, e uma pesquisa mostra que 62% dos alemães são contra a aprovação do novo pacote. Ontem, Merkel recebeu o apoio da oposição social-democrata.

A má sorte é tal que até o garçom errou o alvo e derrubou cerveja gelada sobre a governante alemã, em pleno inverno europeu. A situação de Merkel é um exemplo da dificuldade enfrentada pela própria Alemanha, que consegue desagradar a todos ao mesmo tempo. O mundo cobra dos países mais fortes da Zona do Euro que façam mais pelos países em dificuldade. O problema é que o único país que está realmente forte é a Alemanha.

A coalizão conservadora está dividida, e o ministro do interior pediu publicamente a saída da Grécia da Zona do Euro, um dia antes de a chanceler ir ao Parlamento pedir que aprovasse o pacote. Parece contraditório e é. No pronunciamento diante do Congresso ela fez um apelo, mas teve que admitir que não há 100% de chance de que o pacote funcione para tirar a Grécia da crise. O que ganhou mais destaque não foi seu veemente apoio do pacote, mas sim a frase de que não era garantido o sucesso do remédio.

Em Atenas, as manifestações acusam a Alemanha de intervir na economia doméstica e impor ao país o sofrimento de redução de salários, renda, economia. Nas reuniões como a deste fim de semana, no México, a dos ministros do G-20, a cobrança vem de todos os lados, como se ela tivesse a responsabilidade única e a varinha de condão. Merkel com sua hesitação crônica não ajuda a melhorar o ambiente para o país e para si própria.

A cada reunião internacional, a Alemanha fica na desagradável situação de ser cobrada por todos. A cobrança é injustamente concentrada nela, a incapacidade de decidir, mas a dificuldade é que Angela Merkel rejeita todas as ideias e apresenta poucas. Sua atitude é apenas de negação. E já está marcada a próxima temporada de saia-justa: no fim de março haverá uma reunião de cúpula da União Europeia e, certamente, todos os olhares de cobrança serão dirigidos a Angela Merkel. É um espanto que com tanta reunião, negociação, viagem, ainda reste tempo para ela governar a Alemanha, que no final das contas é a principal função do cargo que ocupa.

A proposta da reunião de fim de semana impressiona pelo volume de dinheiro envolvido. Os ministros de finanças do G-20 falaram em US$ 2 trilhões de recursos multilaterais para socorro de países em dificuldade. Isso envolveria uma coleta geral de recursos entre os países, mas aí sempre se esbarra no mesmo ponto: quanto a Alemanha está disposta a dar para o socorro dos aflitos?

Ninguém acredita que seja possível arrecadar tanto dinheiro. O economista Raphael Martello, da Tendências consultoria, lembra que a França está em época de aperto de cinto, em pleno ajuste fiscal. A Itália já esteve no ano passado no meio do furacão e continua com sua dívida acima de 100% do PIB. Aí, acaba sobrando para a Alemanha. O Japão está tentando se recuperar ainda do tombo do ano passado, após o terremoto. Os Estados Unidos lutam contra a dívida, cujo crescimento tentará conter com cortes em todo o orçamento nos próximos anos. Sobra para países emergentes, leia-se China. Mas a China espera que a Alemanha mostre mais empenho e disposição de abrir o cofre antes de dizer em quanto poderá capitalizar os fundos multilaterais de resgate.

O Reino Unido cobra da Alemanha como se não fizesse parte da mesma Europa. O fato de ela não ter entrado na Zona do Euro não a isenta de participar do esforço coletivo de evitar o desmonte da união monetária, por três motivos: a Inglaterra tem também uma frágil situação fiscal, ela também está exposta aos ricos cruzados dos bancos do continente, e a crise da região a afeta diretamente.

Se, de fora, Angela Merkel é acusada de só dizer não; dentro do país é criticada por estar dizendo sim demais e comprometendo dinheiro do contribuinte em socorro a países que recebem a ajuda como atos hostis e não como ajuda.

A ideia de que haja um fortalecimento dos fundos multilaterais, para sair deles e não de um cofre específico os recursos para o resgate, é boa. Protege os países que recebem o dinheiro, e os que concedem, das hostilidades que costumam cercar essas operações de resgate.

O mais importante nesta semana não será o resultado da reunião dos ministros das finanças do G-20. O que houve na Cidade do México foi mais do mesmo: uma nova reunião em que todos os países decidem que é preciso haver mais recursos disponíveis nos mecanismos de estabilização ou no Fundo Monetário Internacional (FMI) para momentos de instabilidade monetária. O que vai dar o tom do mercado esta semana será o novo leilão de injeção de liquidez do Banco Central Europeu (BCE). A autoridade monetária vai oferecer recursos por três anos a juros baixos para os bancos. A ideia é que com isso os bancos possam ter mais disposição de financiar os governos, principalmente os que enfrentam problemas. A primeira operação desse tipo foi feita em fim de dezembro e injetou 500 bilhões no sistema financeiro europeu. Isso reduziu a tensão. Nova injeção será feita esta semana. Isso ajuda a melhorar o humor dos investidores, mas, para a solução definitiva, o mundo continuará esperando que a Alemanha faça alguma mágica.

FONTE: O GLOBO

Recife entre as grandes preocupações do PT

João Paulo, que integra comissão de acompanhamento eleitoral do partido, diz que sigla analisa com atenção a situação de Recife, Fortaleza e Belo Horizonte

Paulo Augusto

O Recife, juntamente com Fortaleza (ver matéria nesta página) e Belo Horizonte são as três capitais que mais preocupam ao PT nacional em relação às eleições de outubro e, por conta disto, estão sendo monitoradas com cuidado pela cúpula da legenda. Tal fato foi observado e discutido ontem, durante reunião da comissão de acompanhamento eleitoral do Diretório Nacional petista, realizada em São Paulo, que teve como objetivo discutir a situação eleitoral do Partido dos Trabalhadores nas capitais e grandes centros urbanos.

Integrante da comissão, o deputado federal e ex-prefeito do Recife João Paulo não confirmou se pode haver uma intervenção da direção nacional do PT nesses municípios, mas disse que existe uma preocupação do partido em relação aos rumos que estão sendo tomados pela legenda. “Há uma situação delicada no Recife, Fortaleza e Belo Horizonte que vem sendo monitorada”, afirmou, saindo pela tangente quando questionado especificamente a respeito da capital pernambucana – cujo prefeito João da Costa, eleito com o apoio de João Paulo, hoje seu desafeto, não conta com a simpatia de boa parcela do partido. Com isso, enfrenta resistências ao seu nome para a disputa da reeleição.

Se em Pernambuco, Minas Gerais e no Ceará existem preocupação, no Rio Grande do Sul a expectativa de bons resultados é grande. Através de seu Twitter, João Paulo disse que é nesse Estado que o PT espera colher os melhores resultados nas eleições. “Expectativa de melhor desempenho do PT em 2012 é nos municípios gaúchos, devido ao gov (ernador) Tarso Genro e a pres. Dilma”, tuitou. O Rio Grande do Sul, aliás, será sede de uma grande reunião do PT, em maio, envolvendo candidatos a prefeito em todos os municípios com mais de 150 mil habitantes.


FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ex-adversários, Garotinho e Maia anunciam aliança contra o PMDB

RIO - O deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) anunciaram ontem uma aliança para as eleições municipais em todo o Estado e se esforçaram em relevar as críticas trocadas no passado.

A união, dizem, visa a enfraquecer o governador Sérgio Cabral (PMDB). No início do encontro dos dois partidos, Maia e seu filho, Rodrigo Maia, chegaram a ser vaiados por integrantes do PR num centro de convenções no centro do Rio.

"Tratamos da eleição municipal e da oposição ao PMDB. É mais importante do que as divergências do passado", disse Maia. Garotinho citou exemplo do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), para explicar a união dos antigos desafetos.

"Nossas diferenças nunca chegaram ao nível das do próprio prefeito Eduardo Paes com o Lula. Dona Marisa não queria nem vir ao Rio por causa das ofensas que Paes fez ao filho do Lula. Isso foi superado, faz parte do jogo da política."

No passado, o líder do PR disse que Maia tinha "imaginação descontrolada" e estava acostumado a "criar mentiras". O ex-prefeito, por sua vez, já ameaçou pedir a prisão de seu atual aliado do PR.

Os dois ontem se concentraram em criticar Cabral e Paes. Garotinho chamou o governador de "sanguinário, covarde e cruel", e o prefeito do Rio, de "subserviente" e "submisso".

O deputado federal Rodrigo Maia (DEM) e a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR), que devem formar a chapa para a capital, foram coadjuvantes na cerimônia que criou a Aliança Republicana, Democrática e Popular. Ela não confirmou se será vice na chapa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO