terça-feira, 6 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Anna Di Biagio: hegemonia e domínio

Num famoso ensaio de 1967, Noberto Bobbio lançou as bases de uma interpretação do pensamento gramsciano destinada mais do que qualquer outra a influenciar sua recepção, através de uma comparação entre Lenine Gramsci em que prevaleciam antes as diferenças do que as analogias. A assinalar a linha de demarcação entre os dois, estaria um conceito de hegemonia que, de significado mais restrito de direção política na acepção leniniana, assumiria com Gramsci um significado mais amplo, de direção também cultural. Com eixo na centralidade da ascendência cultural como ponto de partida do afastamento de Gramsci em relação ao leninismo, esta interpretação deixou como legado uma imagem do comunista italiano como aquele que teria elaborado uma concepção do poder baseado no consenso e não no puro exercício da força e da coerção.

Anna Di Biagio, professora do Departamento de Estudos Históricos e Geográficos da Universidade de Florença, Itália. “Hegemonia leninista, Hegemonia gramsciana” Gramsci no seu tempo, pág. 87. Fundação Astrojildo Pereira/Contraponto, Rio de Janeiro, 2010.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Contra ‘tsunami’ de Dilma, Merkel ataca protecionismo
PMDB rebelado ameaça o novo Código Florestal
Defesa vai reavaliar os arquivos da ditadura
Chute: Valcke pede desculpas ao governo
BC quer cobrar R$ 44 bilhões de bancos
Focos de infecção afetam os dois pulmões de Lula

FOLHA DE S. PAULO
China avisa que crescerá menos e preocupa Brasil
País prepara pacote para reaquecer a economia
Merkel rebate Dilma e critica Brasil por ação protecionista
Após dizer que país precisa de ‘chute no traseiro’, secretário da Fifa se desculpa

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma fala em defender real e Merkel ataca protecionismo
Campos manda PSB adiar decisão sobre apoio em SP
Planalto quer evitar pressão por Haddad
Sob Dilma, cai número de assentamentos
Dirigente da Fifa pede desculpas

VALOR ECONÔMICO
Fundos private têm muito caixa e poucos negócios
Petros planeja IPO de Invepar e Eldorado
Liquidez versus protecionismo no encontro das presidentas

CORREIO BRAZILIENSE
Receita vai investigar calote de senadores
“A barra” que Dilma encarou na Alemanha
Secretário da Fifa recua e pede desculpas
Sob pressão, Câmara tenta votar Lei da Copa

ESTADO DE MINAS
O peso da tentação
Damas de ferro
Secretário da Fifa recua

ZERO HORA (RS)
Piratini diz que pode pagar piso se mexer em plano de carreira
A construtora dá as caras
Visitas a Lula são barradas por médicos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Merkel e Dilma em disputa por espaço
Secretário da Fifa se retrata com brasileiros
Saúde de Lula

Decisão de aliança não sai antes de junho, diz presidente do PSB

Governador de Pernambuco Eduardo Campos negou que diretórios de São Paulo tenham definido apoio a Serra; intenção de Campos seria fechar com Haddad

Daiene Cardoso

SÃO PAULO - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, negou nesta segunda-feira, 5, que os diretórios estadual e municipal da legenda tenham fechado questão em torno da eventual aliança com o PSDB na cidade de São Paulo, para as eleições de outubro deste ano. E garantiu que esta definição não sairá antes de junho - mês em que serão realizadas as convenções partidárias, de acordo com o calendário eleitoral. "Este processo não se conclui antes de junho", garantiu, após participar de palestra na Associação Comercial de São Paulo. "Por que o PSB tem de tomar a decisão agora?", indagou.

De acordo com o líder do PSB, o partido está iniciando o processo de discussão sobre a política de alianças em São Paulo. Ele procurou minimizar a força de sua legenda na cidade, dizendo que o PSB não define o quadro sucessório na Capital. Apesar disso, é um partido que vem sendo disputado por PT e PSDB. Campos negou também que tenha feito acordo com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o partido apoie o pré-candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad. "Não tem nenhuma decisão preestabelecida em relação a nenhum município, nunca tratamos disso", argumentou.

O governador ressaltou que o PSB tem compromisso apenas com a própria sigla e não com outras legendas. "Quem decide o futuro do PSB é o próprio PSB", reforçou.

Eduardo Campos citou que a política de alianças de seu partido é debatida nas esferas municipal e estadual. E para os municípios com mais de 200 mil habitantes, a decisão precisa ser referendada pelo diretório nacional. Apesar dessa regra, ele negou que exista a intenção de uma intervenção futura em São Paulo, mesmo o partido sendo mais próximo dos tucanos no Estado, enquanto no âmbito nacional, estar mais próximo do PT da presidente Dilma Rousseff. "Ninguém vai impor a ninguém uma posição", frisou.

O governador de Pernambuco chegou nesse domingo, 4, a São Paulo e participou de um jantar com o prefeito da Capital, Gilberto Kassab (PSD). Nesta manhã, Campos deu palestra na Associação Comercial de São Paulo, acompanhado do secretário estadual de Turismo, Márcio França, também presidente do Diretório Estadual do PSB, do vereador Eliseu Gabriel, presidente do Diretório Municipal da legenda, além de lideranças do PSD, como Kassab, o vice-governador Guilherme Afif Domingos, e o ex-deputado federal Índio da Costa.

Juntos. O prefeito de São Paulo, que apoia a pré-candidatura do tucano José Serra, disse que torce para que o PSB e o PSD estejam juntos no mesmo palanque, mas que a decisão cabe aos pessebistas. "Eu não participo deste processo de alianças", explicou o prefeito. Kassab disse ainda que está focado na gestão da cidade e que o pré-candidato do PSDB à sua sucessão, José Serra, não pediu para que ele ajude nas negociações para o fechamento de alianças neste pleito. "Minha prioridade é administrar São Paulo. Não fiz essa articulação nem na minha campanha para a reeleição, se ele (Serra) pedir, eu posso ajudá-lo, mas ele não pediu", disse o prefeito, que deixou o prédio da Associação Comercial para almoçar com Eduardo Campos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Haddad diz que é preciso calma para aguardar decisão do PSB

Governador de Pernambuco e presidente do PSB está em SP e disse que decisãop não sai antes de junho

Fernando Gallo

O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feiura, 5, que é preciso ter calma para aguardar os desdobramentos das conversas com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sobre o apoio da legenda nas eleições municipais da Capital. "Obviamente eu sei qual é a opinião dele (Campos) a respeito da situação local, mas ele não me antecipou os movimentos que faria. Temos que ter calma para aguardar os desdobramentos das discussões internas e respeitar os nossos interlocutores", afirmou o petista.

A conversa entre Haddad e Eduardo Campos ocorreu no final de semana, por telefone. Hoje pela manhã, Campos disse, após palestra na Associação Comercial de São Paulo, que não prometeu nenhum apoio ao pré-candidato petista e que também não fechou apoio ao PSDB na Capital. "Este processo (apoio) não se conclui antes de junho", frisou o pessebista.

Tempo de TV. Haddad admitiu que o tempo de televisão que o PT teria no primeiro semestre deste ano e que foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fará falta em sua pré-campanha. "Isso está fazendo falta neste momento, sobretudo em função do meu perfil, o fato de eu estar estreando em uma eleição. Talvez eu seja o único estreante nas eleições municipais. Esse tempo vai nos faltar, mas isso já está dado, não há como contornar essa dificuldade", disse Haddad.

Ao mesmo tempo, o petista minimizou a importância "absoluta" do tempo de TV. "Não sou daqueles que veem o tempo de TV como algo absoluto. Há aquele tempo mínimo ao qual você tem dificuldade de apresentar toda a sua plataforma. Mas o nosso objetivo é apresentar toda a plataforma e o tempo de TV tem que ser visto à luz do alcance da sua proposta."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB está mais próximo dos tucanos em São Paulo, diz Márcio França

Presidente do Diretório Estadual da sigla ressalta que seguirá a orientação nacional do partido

Daiene Cardoso

SÃO PAULO - O presidente do Diretório Estadual do PSB e secretário estadual do Turismo, Márcio França, admitiu nesta segunda-feira, 5, que existe uma proximidade maior de seu partido com o PSDB em São Paulo, mas ressaltou que a política de alianças do partido passará pelo referendo do presidente nacional da sigla, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. "O que é certo, é que nossa posição nunca será contrária à do governador Eduardo", afirmou. E lembrou que nos últimos anos nunca houve um processo de intervenção do Diretório Nacional nas instâncias inferiores. "Não é tradicional no partido esse tipo de procedimento", complementou.

O líder do partido no Estado disse, por várias vezes, "que a opinião do governador evidentemente conta", mas que no quadro atual, a sigla caminha ao lado dos tucanos. "O certo é o seguinte: a convivência vai aproximando as pessoas e hoje a gente está convivendo com o PSDB, por conta do governo (Geraldo Alckmin)", afirmou França.

Segundo o secretário de Turismo do governo paulista, antes da entrada de José Serra na disputa, o partido já havia ponderado com Alckmin a possibilidade de não se aliar naturalmente com os tucanos na Capital. "Na época, foi dito ao governador Geraldo Alckmin de todas as nossas dificuldades, caso fosse o ex-governador José Serra o candidato. Que a eleição seria muito nacionalizada", recordou.

França ponderou que o PSB vem costurando alianças tanto com os tucanos quanto com os petistas em todo o Estado. "O quadro estadual hoje está numa engenharia com mais de 50 cidades importantes, a maioria com o PSDB. Mas, temos também relações duradouras com o PT em cidades da Grande São Paulo e do ABC", explicou.

O líder pessebista disse que cumpre uma função política no governo Alckmin e que não teria dificuldade em deixar a administração estadual, caso o seu partido venha a apoiar o pré-candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad.
"Naturalmente que eu criei com o governador (Alckmin) uma relação de proximidade política, pela convivência e não vou constrangê-lo e nem ficar constrangido", afirmou.

Na mesma linha do que havia afirmado mais cedo o governador Eduardo Campos, França destacou que os diretórios estadual e municipal da sigla não definiram, ainda, quem o partido pretende apoiar neste pleito, nas eleições pela Prefeitura da Capital. "O quadro estadual e municipal ainda está em processo de evolução", justificou. E revelou que tem simpatia pessoal por Haddad, mas que a situação do PSB hoje é de maior proximidade com os tucanos. "Se for por uma tendência local, o que posso mensurar hoje é uma posição pró-PSDB".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio defende apoio do PSB a Serra em São Paulo

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou nesta segunda-feira (5) que tem trabalhado pelo apoio do PSB à candidatura de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo.

No plano nacional, o PSB integra a base do governo Dilma Rousseff. Atualmente, comanda o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria Especial de Portos, com status de ministério.

Aécio disse que mantém conversas com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, a quem chamou de "amigo", para que o PSB paulistano seja liberado para apoiar a candidatura Serra.

"Eu tenho conversado com ele [Campos]. Deveria prevalecer o sentimento da base do partido [PSB] em São Paulo, tanto do ponto de vista municipal quanto no Estado. O PSB é nosso parceiro em São Paulo", disse.

O senador reconheceu que há "compromissos" do PSB com o governo federal, mas insistiu em uma "identidade muito maior" da sigla com o PSDB. "E uma decisão tomada de cima para baixo pode até garantir alguns minutos de TV para a candidatura do PT, mas pode não levar junto a militância do PSB", afirmou sobre eventual apoio socialista ao candidato petista na capital paulista, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

Aécio disse que a candidatura Haddad foi criada de forma "impositiva" e que o ex-ministro sofrerá questionamentos internos no PT caso não cresça nas pesquisas em até 90 dias.

Prévias tucanas

Na seara tucana, contudo, Aécio continua dizendo que a eventual eleição de Serra em São Paulo não altera a vida do PSDB nacional, que, segundo ele, só vai tratar da questão presidencial a partir de 2013.
O ex-governador de Minas Gerais (2003-2010) defende a realização de prévias para escolha do candidato a presidente no segundo semestre de 2013.

"Acho que as prévias, independentemente do resultado da eleição em São Paulo, deveriam estar incorporadas definitivamente na agenda do PSDB. O caminho é inverso ao que o PT vem fazendo. O PT a cada eleição, em todas as partes do Brasil, avança para ser um partido de decisões tomadas pela cúpula ou por uma liderança maior, que é o [ex] presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]", disse Aécio.

Por conta dessas "imposições", ele disse não ter dúvidas de que o PT de Belo Horizonte vai participar, mesmo com o PSDB na chapa, da aliança que tentará reeleger o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).

"É uma decisão da direção nacional do partido [PT]. Não acredito, sinceramente, que um conjunto de delegados municipais tenha autonomia para contrariar o que o supremo chefe do partido [Lula] determina", afirmou.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Serra faz a diferença::Tibério Canuto e Antonio Sérgio Martins

Se havia dúvidas nas hostes tucanas sobre a conveniência da candidatura José Serra, a pesquisa Datafolha fez questão de esclarecê-la. Serra de fato faz a diferença e só um partido com vocação a suicida pode se dar ao luxo de trocar um candidato com 30% de intenções de voto por pré-candidatos de baixa densidade eleitoral, pois mais valorosos que eles sejam.

O Datafolha veio em boa hora, pois reestabelece a verdade eleitoral às vésperas das prévias tucanas. Ajuda na costura da unidade interna, tão necessária à vitória do candidato das forças que se opõem ao projeto do lulopetismo. Mais do que isto: facilita também a atração de aliados. É muito difícil construir palanques competitivos com candidaturas raquíticas eleitoralmente. Partido nenhum gosta de se aliar com quem não tem perspectiva de vitória. A recíproca é verdadeira.

Ou seja, aqui a dificuldade mudou de lado. Agora é Lula que vai ter que fazer uma verdadeira mágica para convencer outras legendas a se coligarem com Haddad, mesmo ele só tendo 3% de intenções de voto. E mais: vai ter que convencer candidatos com intenção de voto bem maior a retirar sua candidatura em favor de Haddad, porque Lula, como um encantador de serpentes, fará uma mágica tão grande que garantirá a eleição do seu ungido! Em termos concretos, o PT vai ter que ser humilde e ceder bem mais a partidos do tipo PR, se quiser abocanhar o seu tempo televisivo. E se o fizer, estará criando ruídos com o PMDB de Temer e Chalita.

É bobagem atribuir o salto que Serra deu no Datafolha (nove pontos em relação à última pesquisa) ao seu recall eleitoral. A verdade, comprovada nas cinco últimas disputas eleitorais, indicam que em São Paulo os tucanos têm duas grandes lideranças eleitorais: Alckmin e José Serra. O que estamos assistindo é que ao saber que Serra é candidato, o grosso do eleitorado historicamente tucano fez a sua escolha, de forma clara e cristalina. Como em são Paulo os eleitores do PSDB passam dos 30%, Serra tem condições de dar novos saltos nas novas rodadas de pesquisa.

A esta altura do campeonato, as pesquisas têm uma dupla função: unir o partido em torno do candidato mais viável e conseguir o máximo e alianças possíveis. Se para Serra a pesquisa Datafolha foi uma boa, para o PT e Haddad foi uma ducha de água fria. Mostrou que o candidato, apesar de estar na estrada há mais de seis meses, continua patinando na casa dos 3%. O raquitismo eleitoral do petista pode reacender as disputas internas. É previsível que Marta e outros descontentes com o dedazo de Lula, vociferem mais alto contra a escolha imposta pelo caudilho.

Claro que Serra não está eleito e que ainda é muito cedo para dizer que ele continuará favorito. Historicamente, o PT é um partido competitivo em São Paulo e seria ingenuidade acreditar que seu candidato ficará neste patamar ou abaixo da casa de dois dígitos.

Mas vamos reconhecer: é muito mais difícil convencer uma legenda a apoiar o 7º colocado do que o líder das pesquisas. Serra sentiu isto, em maio de 2010, quando foi ultrapassado por Dilma. O Datafolha trouxe um novo problema para o “estrategista Lula”: deve ele insistir na desistência das candidaturas de Celso Russomano e de Chalita? O que lhe assegura que estes votos irão, na sua maioria, para a candidatura de seu ungido? As simulações do Datafolha mostram o contrário. No caso dos eleitores de Russomano, há uma indisposição prévia em voar para Haddad, inclusive em função do tristemente famoso “Kit Gay”, publicado sob o patrocínio de Haddad. Um parêntesis. O mérito da questão era e é progressista, mas o conteúdo do material, ao não priorizar o respeito às diferenças, e sim uma espécie de louvação às orientações homossexuais, criou um contencioso com camadas conservadoras e pouco informadas da população e terminou por resultar no efeito contrário.

Mas voltemos ao tema do momento.

Argumenta-se que Serra tem um problema insanável: 66% dos paulistanos desconfiam que ele não cumprirá os quatro anos de mandato e que será novamente candidato a presidente. Note-se aqui que não há o menor questionamento quanto ao fato de ele ser o melhor candidato. Se este for o mote que os adversários vão utilizar para inviabilizar sua vitória, podem dar com os burros n’água. É óbvio que Serra e os marqueteiros da campanha já estão trabalhando na vacina contra este tipo de ataque. Afinal, a credibilidade de Serra, de Alckmin, de Kassab, das lideranças tucanas e da coligação, são uma base sólida para reverter a percepção do eleitorado em relação ao cumprimento integral do mandato.

Muitos petistas desconfiam que, pelo andar da carruagem, podem ter feito a escolha errada e que o andor é pesado demais. Para complicar a vida do candidato, ele terá que atravessar um deserto enorme e esperar por agosto, quando começará o programa televisivo.

Lula disse, ao comentar as pesquisas, que o jogo ainda vai ser jogado. Essa é sempre uma conversa de quem está em nítida desvantagem, ao menos momentaneamente.

Indagado sobre a pesquisa, Serra comentou: “interessante”. O candidato não poderia ir mais longe.

Pitacos é livre para dizer que, mais do que interessante, é indicadora de que, finalmente, os tucanos assumem uma estratégia que tem tudo para ser vitoriosa na Batalha de São Paulo.

FONTE: BLOG PITACOS

Bancada federal do PSDB apoia Serra

Dos deputados tucanos, ex-governador só não tem apoio de um rival na disputa

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. O ex-governador José Serra recebeu ontem apoio de 11 dos 13 deputados federais da bancada paulista do PSDB para a prévia, marcada para o próximo dia 25, que escolherá o candidato do partido a prefeito de São Paulo. Na semana passada, logo depois de anunciar a sua entrada na disputa interna da legenda, Serra obteve a adesão de 21 dos 22 deputados estaduais à sua pré-candidatura.

Não participaram do ato apenas o deputado Emanoel Fernandes, que, segundo Machado, apoia Serra, mas não compareceu por problemas de saúde, e Ricardo Trípoli, que está inscrito para disputar a prévia do dia 25.

O outro pré-candidato inscrito na prévia, o secretário estadual de Energia, José Aníbal, deputado federal licenciado, causou constrangimento ao aparecer na sede do Diretório Estadual do PSDB, onde se realizava o ato da bancada tucana em favor de Serra. Ele se justificou dizendo que participaria de uma reunião da executiva da legenda, marcada para o final da tarde. Aníbal não cumprimentou Serra e menosprezou o apoio dos parlamentares.

- O ato é espuma. Quem vota na prévia é filiado. Eles que vão decidir o candidato.

Serra evitou entrar em polêmica.

- Sinceramente, (não vejo) nada de mais (na presença de Aníbal). Todo mundo tem direito a vir ao evento .

Trípoli seguiu na mesma linha de Aníbal ao comentar a adesão de seus colegas ao ex-governador.

- O voto dos militantes é igual ao dos deputados.

No discurso aos militantes, Serra voltou a falar que, se eleito, permanecerá no cargo, mas se confundiu com as datas ao dar a entender que o mandato de prefeito termina em 2014, ano da eleição presidencial, e não em 2016.

-Tenho 30 anos de vida pública com cargos. Desses 30 anos, 16 eu passei em Brasília e 14 em São Paulo. E nós vamos eliminar essa diferença e deixar São Paulo com dois anos de vantagem, porque, até 2014, eu vou ter 16 anos de Brasília e 18 anos de São Paulo.

O tucano, que não quis comentar a possibilidade de aliança com o PSB, começou a montar a estrutura de sua pré-campanha. Ele anunciou que o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o secretário Edson Aparecido (PSDB), o deputado federal Luiz Fernando Machado (PSDB-SP), o deputado estadual Orlando Morando (PSDB-SP) e o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD), vão integrar a coordenação. O nome do coordenador-geral só deve ser definido depois da prévia.

FONTE: O GLOBO

Em clima de comício, Serra recebe apoio de bancada federal

Gustavo Uribe, Bruno Boghossian

Embora o PSDB tenha mantido a realização de prévia para escolher quem vai disputar a Prefeitura de São Paulo, o diretório estadual da sigla foi transformado ontem em um pequeno comício do ex-governador José Serra. O pré-candidato recebeu no local o apoio de 11 dos 13 deputados federais da bancada paulista da sigla, com direito à apresentação de um boneco de Serra. E foi anunciado mais um reforço em sua equipe de campanha.

Trata-se do deputado estadual Orlando Morando, líder do PSDB na Assembleia Legislativa. Ele desistiu de tentar a indicação para concorrer à Prefeitura de São Bernardo do Campo e vai atuar na coordenação da campanha, que já conta com o secretário estadual de Desenvolvimento Metropolitano, Edson Aparecido.

Serra também indicou que o vice-governador Guilherme Afif Domingos deve integrar essa equipe e disse esperar a participação do senador Aloysio Nunes Ferreira, do ex-governador Alberto Goldman e dos secretários Bruno Covas e Andrea Matarazzo.

Dos 13 deputados tucanos eleitos por São Paulo, não estiveram presentes Ricardo Tripoli, que disputará a prévia do partido contra Serra, e Emanuel Fernandes, que está em licença médica. "Eu queria agradecer o apoio dessas figuras que tiveram expressivo voto na capital paulista", afirmou o ex-governador.

"Serrinha". Nos fundos do diretório estadual, onde foi montado um palco, os militantes tucanos foram apresentados a um boneco alusivo a Serra, nos moldes do que foi usado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), na campanha eleitoral de 2008, e ficou conhecido como Kassabinho. A militância seguiu a mesma linha e batizou o personagem de "Serrinha"

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO.

Líder do PMDB reclama da falta de autonomia dos ministros

Márcio Falcão

BRASÍLIA - Insatisfeito com a perda de espaço da legenda no governo, o PMDB também reclama do engessamento de ministros.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse nesta segunda-feira (5) à Folha que os ministros estão "sem autonomia" para resolver questões protocolares do cargo, como demandas de prefeitos.

"Hoje, os ministros estão limitados em suas ações. Ficam esperando demandas da Casa Civil, das Relações Institucionais. Os ministros não conseguem decidir as questões trazidas por prefeitos. Não são obras grandes, são coisas pequenas do cotidiano da prefeitura, por exemplo, que ficam sem respostas."

O PMDB ocupa hoje os Ministérios da Previdência, Turismo, Agricultura, Minas e Energia, além da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Outra avaliação é de que muitas tarefas estão concentradas nos secretários-executivos.

Alves disse não acreditar que as reclamações da legenda se reflitam nas votações da Câmara. "A gente sabe separar as coisas. É uma discussão para ajudar o governo. Se bobear, até o PT assina esse documento. O PT perdeu o Ministério da Pesca, perdeu a Petrobras, perdeu Ciência e Tecnologia."

Na semana passada, a bancada do PMDB divulgou manifesto dizendo que a relação entre o PT e PMDB com o governo é "desigual" e que o partido vive em uma "encruzilhada, onde o PT se prepara, com ampla estrutura governamental, para tirar do PMDB o protagonismo municipalista no país".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A primeira versão do manifesto dos deputados do PMDB

Ao presidente senador Valdir Raupp, com cópia para o vice-presidente da República Michel Temer, o líder deputado Henrique Eduardo Alves e o líder senador Renan Calheiros,

O PMDB é o maior partido do Brasil, partido com o maior de governadores e senadores. Tem a segunda maior bancada federal e conta com o maior número de deputados estaduais e prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.

É um partido construído na luta pela democracia, pela modernização do Estado brasileiro e tem como base essencial o municipalismo. A grande maioria dos seus quadros vem da mobilização municipal, com um histórico de grandes projetos realizados nos municípios e no Estados em que governa.

Esse PMDB - que hoje tem o vice-presidente da República - encontra dificuldades crescentes para o seu fortalecimento político e nas alianças que têm hoje com o Partido dos Trabalhadores, particularmente com o governo federal. E em todo o processo de decisão das políticas do governo federal, onde não passam pela discussão, o debate, com os partidos da base e com o próprio PMDB.

As dificuldades vão além. Hoje o partido não consegue promover avanços. Nós estamos vivendo numa encruzilhada, onde o Partido dos Trabalhadores se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como o maior partido de base municipal no País.

É uma relação desigual, injusta com a história e a parceria que o PMDB sempre tem prestado ao Partido dos Trabalhadores, desde que integra sua base do governo, a partir de 2007, no segundo mandato do governo Lula e, mais ainda, na postura serena e digna do vice-presidente da República Michel Temer.

No entanto, na sua pauta de decisão e decisões maiores, o PMDB não tem participado e é visível o esforço do governo para fortalecer o Partido dos Trabalhadores.

Diante disso, nos propormos no Encontro Nacional das Bases Peemedebistas, para o dia 25 de abril, em Brasília, onde os representantes dos municípios, vereadores, prefeitos, presidente de diretórios de todo o País possam vir a Brasília participar do debate, visando uma retomada na mobilização municipalista com vistas às eleições de 2012.

O deputado federal Marco Maia [PT-RS] diz que manifesto do PMDB é TPE: Tensão Pré-Eleitoral

Presidente da Câmara justifica que em ano de eleição os partidos tentam marcar opinião

Isabel Braga

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) classificou como TPE - Tensão Pré-eleitoral - as queixas feitas pelo PMDB em relação à falta de espaço e protagonismo do partido no governo Dilma Rousseff e à hegemonia do PT. As queixas estão contidas em manifesto que conta com a assinatura de 45 dos 77 deputados da bancada peemedebista e que será entregue na terça-feira ao vice-presidente da República, Michel Temer, que exerce interinamente a Presidência da República.

No documento, o PT é citado nominalmente. O temor dos peemedebistas é o de que o respaldo do governo da presidente Dilma seja usado apenas em benefícios dos candidatos do PT nas eleições municipais, desbancando o primeiro lugar do PMDB como o partido hoje com o maior número de prefeituras. A reclamação é que o PMDB vive no governo como uma "sublegenda do PT", segundo os deputados. Segundo Marco Maia, é natural esse tipo de problema porque 2012 é um ano eleitoral.

- Isso é TPE - Tensão Pré Eleição - é normal. PT e PMDB não estarão coligados em todos os municípios. No meu estado, por exemplo, o nível de disputa entre os dois partidos é forte e dificulta as alianças. O ano de eleição é um momento em que os partidos tentam marcar opiniões - disse Maia.

O presidente da Câmara, no entanto, disse que o PMDB tem todo o direito de externar sua opinião e eventual descontentamento:

- O PMDB tem todo o direito de se queixar e refletir sobre sua participação no governo. O PMDB tem o mesmo direito de participar do governo. Podemos talvez questionar o tom das queixas e ter direcionado as queixas ao PT. Não é verdade que o PT ocupa todos os cargos e, recentemente, perdemos vários como a presidência da Petrobras, o Ministério da Pesca e também Ciência e Tecnologia. É um problema de relacionamento do PMDB com o governo, mas não acredito que trará problemas para as votações - disse Maia.

FONTE: O GLOBO

'Cenário não é bom', avisa Temer sobre aliança PT-PMDB

Antes de receber, hoje, o manifesto dos rebelados de seu partido contra o "protagonismo" petista, o vice falou com Sarney e Renan

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O presidente em exercício da República, Michel Temer, recebe às 17h de hoje, em seu gabinete na Vice-Presidência, manifesto de deputados do PMDB reclamando do governo e do PT. "Como membro do governo, farei o possível para contornar qualquer espécie de insatisfação, mas o cenário não é bom", disse Temer ao Estado. Ele admitiu ter ouvido "as mais variadas queixas" dos partidos da base governista - até do PT.

Nas últimas 24 horas, Temer trocou telefonemas com toda a cúpula do PMDB, inclusive o presidente do Congresso, José Sarney (MA), e os líderes no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, Henrique Alves (RN). A um dos deputados que decidiram assinar o manifesto, o vice pediu calma, mas reconheceu que a insatisfação é generalizada.

A queixa maior do partido, expressa no manifesto, é contra "a ameaça do PT, que se prepara, com ampla estrutura governamental, para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como maior partido com base municipal". O PMDB tem hoje 1.177 prefeitos. Os mais alarmistas temem que esse número caia para a metade.

Para a cúpula do PMDB, o que está na berlinda é a relação do governo com o Congresso e não só com seu maior partido aliado. Nesse sentido, a direção partidária vê o manifesto como expressão de uma insatisfação que vai além dos limites peemedebistas.

Tutela. Nos bastidores, a reclamação mais recorrente é a da "tutela" exercida sobre os ministros peemedebistas por secretários executivos petistas. O líder Henrique Alves admite que ministros sem autonomia frustram a base e que ano eleitoral exige mais cuidado nos compromissos. Mas diz que seu partido não pede cargos e sim uma relação "mais transparente" com o governo. "Eu também defendo uma relação político-administrativa mais construtiva, mas não é correto culpar o PT, que também perdeu a Petrobrás e os Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Pesca", afirma Alves, para concluir: "Se bobear, até os petistas assinam o manifesto".

"O problema é que a direção partidária se acomodou e o movimento é para dar uma mexida nisso", critica o deputado Danilo Fortes (CE). "Do jeito que está não somos nem coadjuvantes. Somos figurantes de segunda linha".

"A presidente Dilma Rousseff deu a impressão de que comandaria um governo plural, mas ao longo de seu primeiro ano na presidência o PT acabou se tornando maior do que era no governo Lula", diz o senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), que já levou as queixas do partido às ministras de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Desentendimento entre aliados tem reflexos no Rio

Luciana Nunes Leal

Antes que a irritação do prefeito Eduardo Paes com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, se transformasse em mais um componente da crise entre o PMDB e o PT, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi escalado para serenar os ânimos. Na quinta-feira, o prefeito peemedebista fez duras críticas ao petista Padilha pela divulgação da pesquisa que apontava o Rio como a capital com pior avaliação no SUS.

Na sexta-feira, Carvalho conversou com Paes. "Tive reações gentis do Palácio do Planalto. O ministro Gilberto Carvalho me disse: "Prefeito, a gente sabe que a cidade que mais avança em saúde é o Rio. Ninguém gostou da maneira como os números foram divulgados"", contou Paes, ontem, em entrevista à Band News.

A reação exacerbada do prefeito e os ataques a Padilha, a quem acusou de não ter feito nada em favor do Rio desde que assumiu a Saúde, acontecem no momento em que PMDB e PT vivem mais uma queda de braço por espaço no governo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PMDB rebelado ameaça o novo Código Florestal

A rebelião da maioria da bancada do PMDB, que assinou um manifesto com críticas ao PT, e a ofensiva da bancada ruralista ameaçam o governo com nova derrota na votação do Código Florestal, inicialmente prevista para esta semana, na Câmara. Os ruralistas querem voltar a incluir a anistia aos desmatadores, aprovada ano passado pelos deputados e, depois, retirada no Senado. Com medo de perder novamente, o governo se prepara para adiar a votação

Revolta na base ameaça governo

Votação do Código Florestal deve ser adiada devido a rebelião no PMDB e ofensiva ruralista

André de Souza, Cristiane Jungblut, Gerson Camarotti e Isabel Braga

A rebelião na base aliada - com o PMDB de porta-voz - deverá dificultar ainda mais a votação do Código Florestal, prometida para esta semana. As insatisfações se unem à resistência da bancada ruralista ao teto do projeto aprovado no Senado. O Palácio do Planalto não quer alterações, mas já foi avisado que isso será impossível. Diante desse quadro, o governo deve tentar adiar a votação, dando mais tempo para negociação. O relator do projeto, Paulo Piau (PMDB-MG), já adiou a apresentação de seu parecer, que estava prevista para ontem.

A maior divergência continua em torno das áreas consolidadas, ou seja, áreas produtivas situadas em locais que deveriam ser de preservação ambiental. Muitos deputados querem a volta do texto baseado na Emenda 164, que daria uma espécie de anistia a desmatadores, ao reconhecer a legalidade de áreas agrícolas consolidadas até 22 de julho de 2008. Além disso, as negociações caminham para "desidratar" o texto, retirando pontos que tratam de questões urbanas e deixando o código com feitio mais rural.

No Palácio do Planalto, há forte preocupação com a possibilidade de o PMDB usar a votação do Código Florestal para dar uma demonstração de força e, com isso, derrotar o governo. O núcleo palaciano foi alertado que há intenção do PMDB de mudar o texto aprovado no Senado. O grande temor é que o código seja descaracterizado e, assim, passe a dar uma sinalização negativa para a conferência Rio + 20, reunião que acontece em junho.

Tanto, que, ontem à noite, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati, reuniu-se com a cúpula do PMDB e PT para dar o recado da presidente Dilma Rousseff de que é preciso ter responsabilidade na votação do Código Florestal. O recado foi repassado para os líderes peemedebistas.

O adiamento da votação foi pedido pelo próprio ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, que também é do PMDB. Ele vem conversando sobre o assunto desde a semana passada com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Hoje, Mendes Ribeiro deve se reunir com Piau e a bancada ruralista. Além disso, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que em dezembro marcara a votação para hoje e amanhã, analisará a questão com os líderes partidários.

- No caso do Código Florestal, são preocupações de parlamentares do PMDB, PR e PP. O ministro Mendes pediu mais uma semana. Temos que construir o entendimento, não pode haver vencedores e vencidos - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Governo quer votar código até abril

Ontem, Piau tinha programado para a noite uma reunião com deputados da bancada ruralista. Ele afastou a hipótese de o impasse impedir a aprovação do código até 11 de abril, quando vence o decreto que impede a aplicação de multas e sanções a desmatadores e a produtores que não aderirem a programas de regularização ambiental. Indagado se o clima de insatisfação na base afetaria a votação, ele foi evasivo.

Também ontem, alguns deputados ruralistas usaram a tribuna da Câmara para defender a votação ainda hoje do projeto que altera o Código Florestal, resgatando pontos aprovados pela Câmara, mas modificados pelo Senado. Segundo um dos principais líderes dos ruralistas, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), um estudo feito pela bancada mostra que 94% das alterações do Senado serão mantidas, resgatando 6% do texto da Câmara. Mas esse resgate mexe no essencial do projeto.

- Temos que resgatar a (emenda) 164, voltar o texto da Câmara, ou vamos tirar 33 milhões de hectares do processo produtivo? São 15% da produção brasileira - afirmou Colatto.

FONTE: O GLOBO

ENTREVISTA. Carlos Fico: 'Militares erraram, mas é preciso serenidade'

Para historiador, governo exagerou ao punir oficiais da reserva, pois assusta quem pensa ajudar Comissão da Verdade

Chico Otavio

O historiador Carlos Fico, ex-integrante do projeto Memórias Reveladas e um dos mais ativos defensores da abertura dos arquivos da ditadura, disse que o governo exagerou na dose ao determinar punição de militares da reserva. Para ele, a crise é um mau começo para a Comissão da Verdade, pois assusta e afugenta os que pensavam em contribuir com informações e documentos. Para ele, o ministro da Defesa, Celso Amorim, deveria ter entregado o problema aos comandantes militares. Fico não quer participar da comissão. Ele teme que o resultado leve a uma "verdade histórica" única, a exemplo do que ocorreu com outros países que tiveram o mesmo processo, enquanto "um historiador deve trabalhar com o conceito de que não existe uma verdade absoluta".

O GLOBO: A Comissão da Verdade conseguirá atingir o seu objetivo: a verdade?

CARLOS FICO: A expressão não pode ser entendida como estabelecimento da verdade oficial. O desafio da comissão é não cair em uma leitura unívoca. Comissões da Verdade em todo o mundo acabaram produzindo um relatório, associado a seus membros, que vira a narrativa oficial. Para os historiadores, o conceito de verdade não é absoluto.

O senhor, como historiador com extensa produção acadêmica sobre o regime, tem vontade de atuar na comissão?

FICO: A presença de um historiador na Comissão da Verdade é um problema. A Associação Nacional dos Historiadores acha que devemos participar, mas eu discordo. Não compete ao historiador entrar. Isso por conta da definição teórica do que é verdade para o historiador. Os historiadores podem, no máximo, colaborar com informações. Além do mais, na História do tempo presente, não podemos nos esquecer da dimensão ético-moral. A atrocidade cometida no período é indiscutível. Isso introduz um viés: não se pode ter uma atitude objetiva que desconheça os assassinatos e a tortura. Não se pode humanizar o algoz.

E quanto às críticas que minimizam a dimensão da ditadura no Brasil, sustentando que ela foi mais branda do que a dos países vizinhos que passaram pelo mesmo processo?

FICO: Muitos dizem que a ditadura brasileira não foi violenta. Eles não têm a menor ideia da quantidade de prejuízo que ela causou. São conhecidos os casos de mortes, desaparecimentos e tortura. Mas a ditadura militar atingiu a vida de muitas pessoas. Quando alguém estava para ser nomeado, por exemplo, o SNI mandava uma nota e dizia que aquele cidadão era isso e aquilo. Essa pessoa acabava rejeitada sem jamais conhecer as razões. Há casos em que os filhos de casais presos foram criados por outras pessoas por anos e anos. A questão é que, além da violência, houve uma interferência brutal da comunidade de informações no cotidiano das pessoas.

Qual seria o melhor começo para a comissão?

FICO: Se a Comissão da Verdade for bem conduzida, ficaria os seis primeiros meses trabalhando com a documentação. Ela é capaz de revelar o que não se sabe: essa ampla e violenta interferência na vida cotidiana, que é desconhecida e importante. Há muitos documentos. O grosso desse material é constituído do fundo do SNI, do fundo da CGI e das divisões de Segurança e Informação. A comissão tem possibilidade de requerer documentos.

Existe risco de crise institucional?

FICO: Existe, por um motivo: os militares erraram, mas o governo precisa ter serenidade. O manifesto interclubes foi uma espécie de provocação. Eles expressaram insatisfação num tom forte. O governo conseguiu uma vitória política: obrigar o Clube Militar a retirar o manifesto. Os militares da reserva têm direito a se manifestar. Mas a nota que saiu depois atinge a hierarquia e a disciplina. Diz que o Congresso pratica revanchismo explícito, é inconsequente. Isso, os militares da reserva não poderiam fazer. Contraria o estatuto militar. Mas, se o governo punir, um deles vai recorrer da decisão. Pode virar um imbróglio jurídico. O STM teria de se manifestar. O problema seria evitado se o governo, após a retirada do manifesto e a nota de ataque ao Congresso, pedisse aos comandantes militares que tomassem providências. Agora, ou pune e vira crise ou não pune, e desautoriza o ministro da Defesa (Celso Amorim). Transformar a questão em debate jurídico é receita certa para aumentar a crise.

Os clubes militares têm influência na tropa?

FICO: Até o Golpe de 64, os clubes militares tinham uma atuação politizada. Depois, entraram num longo período de recesso. Mas, na segunda metade dos anos 1990, voltaram a entrar com tudo nas questões políticas. Até então, porém, nunca houve reação do governo. A reação é novidade. É preciso conduzir esse assunto com serenidade na relação com os militares.

O senhor espera que a Comissão da Verdade abra caminho para punição de torturadores?

FICO: A Lei de 1979 também inclui a autoanistia. A ministra Rosário tem razão. Pode ser que o resultado do levantamento da comissão provoque uma mobilização capaz de levar o Congresso a rever a anistia. É uma hipótese bastante remota. Historicamente a sociedade tem preferido a conciliação. Não creio que haja uma mobilização capaz de levar o congresso a mudar a Lei da Anistia. Mas o debate em si já desencoraja os que pensavam em contribuir. Falar em punição agora não é a melhor estratégia para trazer o maior número de depoimentos à comissão. A crise não é boa para o trabalho. Há uma insatisfação grande entre os militares da reserva. Tem gente que atuou na repressão secundariamente, como datilógrafos, que poderia ser ouvida. Esses também foram perdoados.

FONTE: O GLOBO

Justiça de transição:: Míriam Leitão

No próximo dia 9, a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge vai ajuizar ação que envolve cinco casos que aconteceram na ditadura. A ação será assinada por procuradores de outras regiões do país e sustentará o entendimento de que desaparecimento forçado e ocultação de cadáver são crimes continuados. Há um terceiro: formação de quadrilha para esconder as informações sobre os eventos. Nada disso está coberto pela Anistia.

A subprocuradora afirma que, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a Lei de Anistia encerrou os casos ocorridos durante o governo militar, há esse mesmo entendimento de que os desaparecidos são vítimas de um crime que ainda não se encerrou. Ela diz que a 2 Vara do Ministério Público Federal vem trabalhando com essa interpretação há mais de um ano, no Grupo de Trabalho de Justiça de Transição. Essa expressão "Justiça de Transição" é usada para definir as dúvidas que ficam em países que saíram de um regime de exceção, uma ditadura, para um regime democrático de direito.

Ela conta que foi tomada a decisão de não autorizar o arquivamento de dois casos que correram no Ministério Público Militar. Aliás, a subprocuradora está convencida de que apesar de serem crimes cometidos por militares não é a Justiça Militar que tem que conduzir a ação, mas a Justiça Federal. Na entrevista que fiz com o promotor Otávio Bravo, da Justiça Militar do Rio e Espírito Santo, ele contou que - com esse entendimento de que o crime do desaparecimento forçado é permanente - tinha reaberto 39 casos de desaparecidos políticos ocorridos no Rio e no Espírito Santo.

Mesmo havendo duas visões sobre a competência, o que não há entre eles é divergência sobre se a Lei da Anistia se aplica a esses casos ou não. Tanto o promotor Otávio Bravo quanto a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge acham que os crimes não prescreveram nem podem ser apagados pela Lei da Anistia porque continuam em curso. Consideram também que a determinação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA - para que o Brasil investigue os crimes cometidos durante a ditadura militar - deve ser avaliada, dado que o Brasil ratificou a Carta de São José, que criou a corte.

O debate jurídico será intenso e interessante. Uma decisão da Corte Interamericana pode se sobrepor à decisão do STF? Crimes cometidos por militares devem ser julgados pela Justiça Federal? Leis do regime de exceção devem ser reconhecidas e seguidas pelo regime democrático?

O Grupo de Trabalho da Justiça de Transição fará agora nos dias 12 e 13, em Brasília, o segundo workshop sobre o assunto. Para ele virão procuradores regionais, subprocuradores-gerais e promotores de todo o Brasil. Serão apresentados dois estudos encomendados às universidades de Stanford e Harvard.

- Estudei em Harvard e tenho muito respeito pela capacidade de pesquisa da universidade. Eles apresentarão para nós estudos comparando as várias soluções nacionais dadas em países da América Latina, África e Europa que transitaram de uma ditadura para a democracia. Stanford apresentará um estudo sobre competência de crimes cometidos por militares em regime de exceção - disse Raquel Dodge.

A subprocuradora não informa que crimes serão objeto dessa ação que será ajuizada na Justiça Federal, no dia 9, nem mesmo em que região do país foram cometidos.

Em maio de 2010, o Supremo Tribunal Federal decidiu por 7 votos a 2 rejeitar a ação impetrada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que pedia a revisão da Lei de Anistia, de 1979. A maioria seguiu o voto do então ministro Eros Grau. A lei foi aprovada no começo do governo João Figueiredo, ainda na ditadura, após um movimento nacional de mobilização pela anistia "ampla, geral e irrestrita". Os membros do movimento pediam que fossem anistiados todos os condenados pelo regime ditatorial, inclusive os integrantes da esquerda armada. Os militares aceitaram após exigir que fossem considerados anistiados também os militares que tinham participado de crimes. A OAB argumenta que nem sequer foram identificados os agentes do Estado que cometeram crime, como é que eles podem ser anistiados? Mas perdeu a ação.

No entanto, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, criada com base na Carta de São José, que o Brasil subscreveu, condenou o país por não ter punido os responsáveis pelas 62 mortes e desaparecimentos ocorridos na Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974. O próprio Supremo Tribunal Federal equiparou o crime de desaparecimento forçado - quando uma pessoa é presa e nunca mais aparece - com o de sequestro. E nesses casos não se tem uma informação básica: quando o crime terminou? Se foi antes de 1979, está coberto pela lei, se foi depois, não está.

A questão permanece em debate jurídico cuja intensidade deve continuar este ano por dois motivos. A Comissão da Verdade começará a funcionar e ela vai levantar informações, vai requisitar documentos, convocar para depor agentes do Estado. Os militares da reserva estão rebelados contra isso com um número cada vez maior de signatários do documento de protesto contra a comissão da verdade e de críticas ao governo. Oficiais generais que até recentemente ocupavam postos de comando estão entre os signatários. O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, que foi secretário-geral do Exército até 2007, me disse, em entrevista à Globonews e a este jornal, que as críticas que fez representam o pensamento do pessoal da ativa.

FONTE: O GLOBO

Participação nos lucros:: Dora Kramer

Tanto faz se a presidente Dilma Rousseff entrará ou não pessoalmente na campanha para as eleições municipais, conforme avisara, ou se vai a campo como pareceu indicar a substituição de um deputado petista no Ministério da Pesca, por um senador representante da Igreja Universal sob a legenda do PRB.

A presença de Dilma nos "palanques" – propaganda de rádio e televisão, "vistorias" em obras, inaugurações ou visitas presidenciais às cidades com vista a produzir noticiário festivo-eleitoral – não pesa necessariamente a favor.

Dado o desengonçado gestual e a desarticulação verbal da presidente nesse quesito, há casos em que a presença dela – ainda mais se excessiva – pode representar um fardo.

É diferente com Lula, a estrela da companhia. Se estiver bem de saúde para entrar na campanha, será disputadíssimo por exímio no manejo das paixões. Verdadeiras ou falsas.

Isso não significa que os partidos aliados sejam indiferentes ao apoio e à presença federais em suas campanhas. Tanto são fatores considerados fundamentais que o PMDB providenciou um "alto lá" para tentar impedir que o PT capture com exclusividade os benefícios de ser governo.

Mas não é exatamente a presença de Dilma o que reclamam. É a sinalização de poder que possa representar a "presença" da máquina federal ao lado deles.

Notadamente nas médias e pequenas cidades – onde ocorrerá a disputa forte pela contabilização do maior número possível de prefeituras –, pesa e muito junto ao eleitor a percepção de que a parceria com o governo central pode levar benefícios aos municípios.

Esse é o capital em disputa. Por duas razões básicas: a contabilidade pós-eleitoral da quantidade de vitórias, que leva um partido a ser visto como "forte", e a influência dos prefeitos nas próximas eleições proporcionais, que determinam também força, mas no Congresso.

De onde é indiferente para os partidos que Dilma suba ou não nos "palanques", desde que compartilhe as vantagens substantivas de ser governo.

Leite derramado. O PT não tem motivo para lamentar a suspensão dos horários a que teria direito na televisão agora no primeiro semestre. Perdeu porque em 2010 desrespeitou a lei e usou o programa do partido como propaganda eleitoral para Dilma.

Errou e não errou inocente. E agora, quando lamenta a perda por causa da falta de espaço para divulgar a candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo, mostra que, se pudesse, repetiria a infração.

Calça curta. Mal foi divulgado o documento de protesto contra os termos da aliança com o PT, assinado por metade da bancada do PMDB na Câmara, a cúpula do partido tratou de se associar ao movimento.

Não tão incisivamente que desse a impressão de ter incentivado o levante, nem tão discreta¬¬¬mente que transparecesse ter sido pega de surpresa.

Mas a verdade é que foi. Na quinta-feira, quando começou a circular, nem o presidente do partido, Valdir Raupp, nem o vice-presidente da República, Michel Temer, nem o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, tinham cópia do abaixo-assinado.

Isso quer dizer que há insatisfação externa e contestação in¬¬terna.

Lacuna. O encaminhamento das queixas expressas por militares da reserva, na realidade servindo como eco também para os da ativa impedidos por lei de se manifestar, evidencia a falta que o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim faz como interlocutor na área.

As reclamações começaram com críticas a declarações de duas ministras sobre a ditadura, cresceram nos ataques à ainda não formada Comissão da Verdade e agora já permeiam o terreno da reivindicação salarial.

Urge, sem dúvida, uma intermediação antes que se explicite uma quebra de hierarquia sem porta de saída.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dificuldades:: Merval Pereira

A decisão do presidente do PSB, governador Eduardo Campos, de adiar "até junho" uma decisão oficial sobre quem seu partido apoiará na campanha para a Prefeitura de São Paulo mostra bem a dificuldade que o PT terá para montar uma coalizão partidária que dê suporte à por enquanto frágil candidatura do ex-ministro Fernando Haddad.

É sintomático que os governistas já estejam na defensiva, colocando vários de seus atores principais para defender Haddad das críticas quanto ao chamado "kit-gay" que o Ministério da Educação queria distribuir nas escolas, provocando grande rejeição na sociedade mais conservadora, especialmente entre os evangélicos.

O senador Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, que foi alçado ao Ministério da Pesca com o objetivo duplo de acalmar os evangélicos e retirar da corrida paulistana o candidato do PRB, Celso Russomanno, já disse que Haddad jurou a ele que não fora o responsável pelo "kit-gay", como se uma empresa terceirizada tivesse poderes de definir programas ministeriais.

Também o ex-ministro José Dirceu, para defender a candidatura de Fernando Haddad, saiu com ataques a "setores evangélicos" que quereriam provocar um retrocesso nas políticas sociais do governo, colocando lenha na fogueira da briga entre petistas e evangélicos.

A primeira pesquisa de opinião divulgada depois que o ex-governador José Serra decidiu entrar na disputa teve o duplo papel de reforçar sua posição internamente no PSDB, desidratando os pré-candidatos que ainda insistem em disputar as prévias, e ao mesmo tempo enfraquecer a candidatura de Fernando Haddad, que aparece com 3% de preferência.

A pesquisa do Instituto Datafolha mostra claramente que, por enquanto, a única expectativa de força do petista é a influência que Lula pode vir a ter na campanha paulistana.

O ex-presidente da República tornou-se o mais forte cabo eleitoral da eleição na capital paulista, com 44% de eleitores admitindo que podem vir a votar em quem ele apoiar.

O Datafolha fez um cálculo dessa influência com os índices de Haddad no momento e chegou à conclusão de que ele pode chegar a números próximos a 40%, o mesmo acontecendo com Serra, que tem no governador Geraldo Alckmin um valioso apoiador na capital e aparece nessa primeira pesquisa com 30% de preferência.

Haddad tem, no entanto, que conseguir um tempo de televisão grande o suficiente para ser apresentado ao eleitor paulistano, que praticamente o desconhece.

Serra, por sua vez, trabalha para que o PT tenha o menor tempo possível e simultaneamente tenta ampliar sua coligação com partidos que, a nível nacional, estão na aliança governista, mas têm interesses eleitorais distintos nas eleições municipais. Ele também precisa de um bom tempo de televisão para tentar reduzir seu índice de rejeição e reverter a má avaliação que hoje a prefeitura de Kassab tem.

É o caso do PSB, cujas bancadas estadual e municipal preferem apoiar José Serra e já estão integradas nas administrações de Kassab na prefeitura e de Alckmin no governo estadual.

É o caso também do PDT, que pode lançar Paulinho da Força como candidato, e do PMDB, que tem no deputado federal Gabriel Chalita sua melhor aposta, inclusive para tentar chegar ao segundo turno podendo contar ou com o apoio de Alckmin contra o PT se o PSDB não estiver disputando; ou com o do PT contra os tucanos se a situação inversa ocorrer.

É pouco provável, no entanto, que o PMDB abra mão dessa possibilidade para ajudar o PT paulistano, pois a disputa por espaços políticos está intimamente ligada aos resultados das eleições municipais deste ano.

O que o presidente da Câmara, o petista Marco Maia, chamou de "TPE" (tensão pré-eleitoral) na verdade é uma tensão política que se agrava a cada disputa de poder entre PT e PMDB, o que torna cada vez mais difícil uma convivência pacífica entre os dois principais partidos da coligação.

As dificuldades só aumentarão à medida que o ex-presidente Lula, o grande mentor dessa coalizão governamental tão esdrúxula, afaste-se das negociações para tratar de sua saúde.

Enquanto Lula não estiver em condições físicas de manter longas conversas políticas para amarrar as pontas de acordos, a candidatura de Haddad permanecerá congelada, à espera de uma definição.

Não é à toa que lideranças petistas, incomodadas com a imposição, mas sem condições políticas de criticar Lula, começam a falar até mesmo em abrir mão da cabeça de chapa para apoiar o candidato do PMDB.

Na verdade o que esses grupos querem é ressaltar a fragilidade política de Fernando Haddad para fortalecer a única candidata que é capaz de enfrentar José Serra em boas condições de largada, a senadora Marta Suplicy.

A pergunta que não quer calar nos meios petistas é se Lula terá condições físicas para entrar na disputa como estava disposto antes de o câncer na laringe surgir e todas as complicações provenientes do tratamento.

Essa incerteza tem provocado muitas reflexões dentro do PT, que sabe que o futuro do governo Dilma, da coligação governamental e de sua performance nas eleições municipais deste ano dependerá de Lula estar em condições de subir em palanques para pedir votos para os seus candidatos, ao mesmo tempo em que garante o futuro da coalizão com a expectativa de permanência no poder com a reeleição de Dilma, com sua bênção.

FONTE: O GLOBO

Tudo bem até a próxima crise:: Raymundo Costa

Dilma e Temer conversaram antes de a presidente viajar para a Alemanha. Entenderam-se, como se entenderam em outras ocasiões em que o vice-presidente da República e seu partido, o PMDB, sentiram-se diminuídos, após alguma decisão de governo: está tudo bem até a próxima crise. A situação, no entanto, desta vez chegou a um ponto que deixou preocupada a presidente.

O pior, para Michel Temer, não foi ficar sabendo da nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca por meio do despacho de alguma agência de notícias. O vice foi surpreendido em outras ocasiões e assimilou o golpe sem dificuldades. Agora ele recebeu a notícia, levada por um assessor, na frente do líder da bancada na Câmara, deputado Henrique Alves (RN), entre outras testemunhas.

Não é de hoje que Temer e Henrique são acusados, sobretudo pelos deputados, de só pensarem nos próprios interesses, em detrimento do partido e evidente vantagem para o PT: Temer quer ser candidato a reeleição na chapa de Dilma e Henrique, presidente da Câmara em 2013. A ameaça ao vice é o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. O deputado Henrique fia-se num acordo firmado entre PMDB e PT de rodízio no comando da Câmara.

O PT afirma que cumprirá esse acordo, mas é certo que hoje considera um erro o entendimento feito antes das eleições de 2010. À época, a expectativa era que o PMDB elegeria a maior bancada da Câmara, o que não se confirmou, pois o PT saiu das urnas com o maior número de deputados (86 a 78 foi o placar).

Atualmente o PT se dá conta de que teria sido melhor para o partido inverter os termos do acordo: o PMDB presidiria a Câmara no primeiro biênio e o PT, no segundo. Do jeito que está, o PMDB comandará a Câmara em 2014, ano da sucessão presidencial, ideia que causa desconforto tanto no governo como na cúpula petista. Na realidade, o PMDB estará no comando do Legislativo, de vez que o acordo entre os deputados não inclui reciprocidade do Senado, onde os pemedebistas já mandaram dizer que não abrem mão da presidência.

Embora pareça cristalino que a decisão de levar Crivella para o governo é ajudar o PT na eleição de São Paulo, o fato é que a intervenção do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) no Fórum Social Mundial deu urgência ao problema da relação do governo petista com as igrejas evangélicas. Por mais sofisticado que possa ter sido o raciocínio de Carvalho sobre a nova classe média, o que passou para a opinião pública é que o ex-chefe de gabinete de Lula e ministro de Dilma defendeu o "enfrentamento ideológico" do PT com as igrejas.

O problema é muito menos retirar da disputa pela prefeitura do candidato do PRB, Celso Russomano, e mais acalmar a "TV Record", a emissora de televisão controlada pelos evangélicos. O PT entende que a emissora adotava um comportamento visivelmente hostil a seu candidato a prefeito, Fernando Haddad. Em termos partidários, a candidatura do ex-ministro da Educação - que ainda patina nas pesquisa - precisa mais da ajuda do PR, que dispõe de mais tempo de televisão e rádio no horário eleitoral gratuito e já esteve aliado ao PT, do que do PRB. Além de tudo isso, avalia-se que a candidatura Russomano vai se desmilinguir, ao longo da campanha eleitoral.

Se não é inédito, é raro o fato de o Palácio do Planalto conduzir em sigilo uma operação como foi a nomeação de Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca. Não foi apenas Temer que ficou sabendo pelas agências noticiosas, mas todo o PMDB acusou o golpe ao anunciar a divulgação de um manifesto, provavelmente hoje, no qual acusa o governo Dilma de privilegiar o PT nas eleições municipais. Causa impacto que 45 dos 76 deputados tenham assinado o documento, segundo seus organizadores.

O que intriga o Palácio do Planalto é que, na véspera, mais de 90% dos pemedebistas tenham votado favoravelmente ao projeto que muda o regime previdenciário dos servidores públicos. É um jogo antigo de um partido que sabe como poucos criar dificuldades para vender facilidades. Há as divisões internas de sempre da "federação" pemedebista, mas também posições estratégicas em estatais que trocaram de mãos no atual governo.

Embora o diagnóstico do PMDB seja mais ou menos de domínio público, o governo nunca tem uma ideia clara da extensão do problema, cada vez que ele se apresenta. É certo que a presidente pensou em fazer um roque no ministério, devolvendo ao PMDB o maior objeto do desejo do partido na Esplanada dos Ministérios: os Transportes. A ideia era deslocar o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) e nomear o senador Blairo Maggi (PR-MT) para seu lugar.

Conta-se que o projeto parou no momento em que ficou claro para todos que o PMDB já estava indócil porque não manda no Ministério da Agricultura, pior seria quando o partido percebesse que também não mandaria no poderoso Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit, sucessor do antigo e mal afamado DNER, órgão que concentra o grosso das obras e das verbas do ministério.

A conversa entre Dilma e Temer não foi fácil, mas pelo menos da parte do PT existe a expectativa de uma trégua. É bom para a presidente baixar a temperatura no Congresso. Como mostrou a votação do projeto de lei da aposentadoria dos servidores, há insatisfação em todos os partidos da base aliada - praticamente todo o PDT votou contra o projeto que estabelece o novo regime previdenciário. É uma insatisfação represada pela popularidade da presidente e os bons números da economia. O que sempre pode mudar.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Pressão sobre pressão :: Eliane Cantanhêde

Dias depois de a Força Aérea dos EUA suspender um negócio formidável com a Embraer, o embaixador Thomas Shannon, sua antecessora Donna Hrinak, agora presidente da Boeing Brasil, e dois altos executivos da Boeing internacional disseram a jornalistas ontem em Brasília que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Uma é o feito e a desfeita da Força Aérea, que, segundo Shannon, "vai ser refeita". Outra é o que realmente interessa ao governo, ao Congresso, à Boeing e a dezenas de empresas dos EUA: a venda de caças para renovar a frota da FAB. Um negócio de ouro para eles.

Segundo Shannon e Hrinak, ambos em muito bom português, o mais importante é a parceria cada vez mais sólida e madura entre os EUA e o Brasil na área de defesa, o intercâmbio tecnológico, os investimentos da Boeing em pesquisa e tecnologia em universidades brasileiras. Saia ou não a venda dos caças F-18, tudo isso será mantido tal como está. Palavra de diplomatas.

A expectativa é a de que o anúncio do governo brasileiro seja ainda neste semestre, depois de mais de dez anos de indecisão. Além do escritório em São Paulo, a Boeing está abrindo outro em Brasília.

Bem-humorada, Hrinak afirmou que sua vinda para o Brasil, pela Boeing, não está atrelada à venda dos caças e que, independentemente do resultado, pretende ficar um bom tempo por aqui: "Meu marido me mataria se eu dissesse que iria voltar depois de poucos meses...".

Shannon, também sorridente, disse que a demora na escolha do vencedor (concorrem com o F-18 o Gripen NG sueco e o Rafale francês) não tem importância: "É melhor tomar o máximo de tempo e chegar à decisão mais adequada".

Além da turma da reserva, Dilma e Amorim que se preparem para a volta de outra pressão: EUA, França e Suécia também estão fechando o cerco. A pressão voltou com tudo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Contra ‘tsunami’ de Dilma, Merkel ataca protecionismo

Mesmo sem fazer referência direta ao Brasil, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deu ontem uma resposta às críticas da presidente Dilma Rousseff, que acusou os países ricos de estarem provocando um "tsunami monetário" ao injetar elevadas quantias no sistema financeiro. Num discurso diante de Dilma e de uma plateia de empresários, na abertura da maior feira de tecnologia do mundo, a CeBit, em Hannover, Angela Merkel disse: "Nós vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente (Dilma) falou que está preocupada com um tsunami de liquidez. Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais". Dilma teria anunciado para a chanceler que o Brasil será obrigado a tomar medidas (para evitar a entrada excessiva de dólares), porque não pode ficar com buraco nas contas

Troca de farpas

Depois do "tsunami monetário", chanceler alemã dá recado ao Brasil ao criticar a adoção de medidas protecionistas

Deborah Berlinck

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deu ontem uma resposta direta às críticas da presidente Dilma Rousseff, que acusou os países ricos, especialmente os europeus e os Estados Unidos, de estarem provocando um "tsunami monetário" com suas políticas expansionistas. Merkel colocou o dedo no ponto onde o Brasil tem sido mais criticado internacionalmente: o protecionismo. Num discurso diante de Dilma e de uma plateia de empresários na abertura da maior feira de tecnologia do mundo, a CeBit, onde o Brasil é o homenageado, Merkel disse, sem citar abertamente o país:

- Nós (ela e Dilma) vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente falou que está preocupada com um tsunami de liquidez. Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais.

Em seu discurso, Dilma limitou-se ao tema da feira. Mas, no jantar com Merkel, levantou o assunto das injeções de capital que o Banco Central Europeu (BCE) tem feito nos bancos da região, segundo seus assessores. Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, disse que Dilma teria anunciado à chanceler alemã que o Brasil terá que "tomar medidas porque não pode ficar com este buraco nas contas". Segundo ele, Dilma teria dito que o Brasil precisa "proteger a moeda e o mercado".

Merkel, segundo Paulo Bernando, teria respondido que a medida do Banco Central Europeu (BCE) de conceder mais de 1 trilhão em empréstimos a juros subsidiados para o sistema financeiro - que, em grande parte, acaba sendo investido no Brasil e em outros países com juros altos, derrubando a cotação do dólar frente ao real - "é transitória" e vai durar três anos. Paulo Bernando comentou:

- Mas três anos, para nós, é muito.

Já Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência, minimizou a crítica de Merkel ao protecionismo brasileiro. E disse que a chanceler alemã não prosseguiu com a queixa no jantar.

- Foi um pequeno comentário que não persistiu - reagiu Marco Aurélio.

Segundo Paulo Bernardo e Garcia, a conversa durante o jantar foi "tranquila", a ponto de o encontro entre as duas marcado para depois do jantar ter sido cancelado. Na descrição de Garcia, fora do tsunami, as duas só falaram de temas bilaterais e houve "entendimento forte", que ele não detalhou.

A chanceler não citou o Brasil quando falou de medidas protecionistas unilaterais no discurso. Mas quem estava na plateia, como Heitor José Müller, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), entendeu a mensagem:

- Isso não foi recado, não. Isso foi direto! - disse ele.

Dilma desautoriza Marco Aurélio Garcia

O Brasil vem sendo criticado desde o ano passado, sobretudo depois que aumentou em setembro impostos sobre veículos importados, mirando principalmente os da China e da Coreia do Sul. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", no fim do ano, o diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse que o país estava indo "além das regras" do comércio internacional. No Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro, os chineses - que têm sido alvo de barreiras - reclamaram do Brasil. E um relatório recente do Global Trade Alert (GTA) citou o Brasil entre os dez países mais protecionistas do G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo. O mesmo relatório também não poupou a União Europeia: o bloco adotou um total de 242 medidas protecionistas.

Merkel, antes de se queixar do protecionismo, falou que é preciso mais confiança entre os parceiros do G-20:

- Nós devemos confiar uns nos outros e manter uma relação de igualdade (nas trocas econômicas).

Mais cedo, Dilma disse que o Brasil vai tomar "todas as medidas" para proteger o real dos efeitos da enxurrada de capital. Mas descartou a hipótese de adotar quarentena, isto é, o instrumento que exige a permanência mínima de capital no país :

- Quarentena é você que quer fazer& Não estou defendendo quarentena, meu querido, isso é uma temeridade - reagiu, quando um jornalista perguntou sobre o instrumento.

- A senhora descarta? - insistiu o jornalista.

- Tem dó! - reagiu a presidente.

A expansão monetária nos países ricos, disse ela, "equivale a uma barreira tarifária". E provoca dois efeitos: torna os produtos daquelas nações mais competitivos artificialmente e cria bolhas de ativos. Segundo ela, os ricos não resolvem seus problemas com isso: só ganham tempo.

Dilma disse que o Brasil não está sozinho neste combate e que todos os emergentes têm a mesma queixa.

- Todos os emergentes. Mas nem precisa. O Brasil não está sozinho nisso. Isso é uma constatação técnica. Assim como é importante conter a inflação e todo mundo discute inflação, é importante discutir mecanismos incorretos de política cambial.

A presidente desautorizou Marco Aurélio Garcia a falar sobre juros. Ela reagiu à declaração de Garcia, feita anteontem, logo depois de a comitiva presidencial desembarcar na Alemanha, de que haverá redução das taxas:

- Quem fala sobre juros no meu governo é o Banco Central, Alexandre Tombini. Nem eu nem ninguém tem autorização para falar sobre juros.

Dilma sofreu um pequeno acidente quando saía para almoçar. A presidente dava entrevista aos jornalistas, na entrada do Kasten Hotel Luisenhoff, em Hannover, quando uma barra de ferro usada pela Presidência para separar os repórteres de Dilma caiu no seu pé esquerdo. Ela segurou o braço de uma jornalista, reagindo com dor. Mais tarde, ao voltar do jantar com Merkel, mostrou o pé e disse:

- Olha como estou andando rápido. Está tudo bem...

FONTE: O GLOBO