"É preciso que Dilma ganhe 2013"
Entrevista - Eduardo Campos
"Ajudar a presidente Dilma Rousseff (PT) a ganhar o ano de 2013". Essa será a missão do PSB no próximo ano, segundo o presidente nacional da sigla, governador Eduardo Campos. Embora não canse de pregar a condição de aliado, o socialista não economiza nos alertas ao governo Federal sobre a necessidade de vencer a crise econômica. Cotado para disputar a Presidência da República já em 2014 ou em 2018, ele admite que poderá deixar o governo ao final do mandato.
"Eu tenho que fazer, em 2014, um diálogo com meus companheiros para saber qual será o papel que eu vou cumprir", diz. Nesta entrevista aos repórteres Gabriela López, Manoel Guimarães, Sérgio Montenegro Filho e Sheila Borges, Eduardo faz um balanço positivo da sua gestão em 2012, sem perder a oportunidade de alfinetar o governo Dilma. "Vamos (Pernambuco) crescer 4%, enquanto a expectativa do Brasil é de 1%", destacou.
JC - Embora o senhor não assuma, seu nome é cotado como presidenciável para 2014. Como vai se dividir na agenda de governante e de líder político nacional?
EDUARDO CAMPOS - Acho que a gente precisa fazer a leitura correta da conjuntura econômica e política que estamos vivendo. É preciso a gente ter um diálogo, que é um ingrediente fundamental para ganharmos 2013. Fazer um amplo diálogo nacional em torno dos mais elevados interesses da nação. Garantir o que nós construímos nos últimos 20 anos nesse país, o aprofundamento da democracia e o funcionamento das suas instituições, a estabilidade econômica e fundamentos macroeconômicos, a inclusão dos mais pobres à condição da cidadania. Tudo isso foi construção de gerações. É um vasto legado, e não podemos deixar tudo isso de lado, fulanizar o debate e pensar de maneira estreita.Tem que ter muito cuidado com o que é a disputa política que nega a realidade e os interesses do povo. Eu não vou entrar nessa discussão. Vou ajudar a presidente Dilma Rousseff (PT) e vou dialogar com gente do governo e da oposição para que em 2013 a gente tenha um pacto. Deixa a eleição para 2014 e vamos cuidar do país, retomar o crescimento econômico, discutir o pacto federativo, fazer o dever de casa. Não fará bem ao Brasil jogar o país numa luta insana numa conjuntura como essa. Hoje está se fazendo consenso entre as nações no conserto europeu, um diálogo entre republicanos e democratas para salvar os Estados Unidos. Nós acabamos uma eleição ontem e vamos montar quatro ou cinco palanques hipotéticos e começar uma briga sobre assuntos nada relevantes e deixar a quinta nação do Mundo submetida à essa lógica? Não tem nenhuma nação do tamanho do Brasil que esteja neste momento precarizando o debate como muitas lideranças no Brasil querem precarizar. Eu não vou fazer isso.
JC - O senhor disse que o PSB saiu da adolescência para a fase adulta nesta eleição. Seu partido tem estatura para disputar a Presidência da República em 2014?
EDUARDO - Não vamos discutir o Brasil nesses termos. Discutiremos pensando no Brasil, conversando seriamente, encontrando caminhos. A velha política e o velho debate não respondem mais ao Brasil do futuro. Precisamos ajudar a presidente Dilma a ganhar o ano de 2013. Se ela fizer isso, ganha o Brasil, ganha a própria Dilma e todos nós que temos um papel político vamos ganhar. Esse é o caminho.
JC - Esse seu discurso, apesar de justo, não deixa de aparentar ser também um discurso de candidato. O discurso do consenso, do pacto federativo, de ganhar 2013...
EDUARDO - Aí é interpretação de cada um, já não é comigo. Não posso fazer a fala e a interpretação dela (risos). Muita gente pode interpretar. Eu sei porque estou fazendo essa fala.
JC - O senhor passou um ano alertando que a unidade do PT era necessária para unir a Frente Popular no Recife. Isso não ocorreu, o PSB teve candidato e ganhou a eleição. E o senhor tem dado alertas a Dilma, ao PT nacional. São muitas coincidências...
EDUARDO - Mas lancei um candidato faltando três meses da eleição. Não fiquei discutindo eleição o tempo todo. E não se trata de alerta ao governo. O governo federal está alerta, está sabendo do que estou falando, até porque muitas dessas coisas que estou dizendo aqui eu já falei para a própria Dilma. Nós do PSB estamos efetivamente empenhados em ajudar a presidente a ganhar o ano de 2013. Isso é que é ser amigo. Amigo não é só aquele que fica dizendo só o que agrada ou puxando assunto de eleição. Tem gente que se diz amigo e só faz discutir eleição, o que encurta o mandato e atrapalha o debate sobre a pauta real. A pauta real é que leva às vitórias eleitorais. Eu aprendi a não me afastar da pauta real. Por mais que queiram me levar para a pauta artificial do microclima de quem está ali circulando em torno do factoide criado no online, isso pode animar a quem vive disso. Eu vivo da pauta real e com o pé no chão.
JC - O senhor defende o governo de Dilma. Mas, em Pernambuco, o PT tem batido no seu governo, apesar de ter secretários...
EDUARDO - Essa não é a pauta. A pauta é que estamos terminando um ano em que fizemos um maior nível de investimento, a educação levou a tecnologia para a realidade do ensino médio. Temos centenas de jovens fazendo intercâmbio no exterior, mais de 150 alunos em tempo integral, estamos tendo vitórias na segurança, consolidando transformações na economia, crescendo quatro vezes mais que o País. Essa é que é a pauta.
JC - Então existem duas pautas paralelas.
EDUARDO - A pauta que interessa ao povo é a pauta real. Eu nunca alimentei o debate político fora de hora e no ambiente errado. Respeito quem faz, quem acha que é certo fazer dessa forma. Agora, eu não tenho que fazer o debate na hora errada, no lugar errado e que as pessoas que estão equivocadas querem fazer. Tenho o direito de me reservar a fazer o trabalho que a população quer que eu faça.
JC - Tem um prazo para o senhor escolher quem seu candidato à sucessão em 2014?
EDUARDO - Não vamos tratar de 2014 antes de 2014 chegar. Não há a menor possibilidade. Fizemos dessa forma em 2008, 2010 e 2012 e ganhamos as três. Por que vou mudar a fórmula?
JC - Cumprirá o seu mandato até o fim?
EDUARDO - Essa é uma possibilidade real. Eu tenho que fazer, num determinado momento, em 2014, um diálogo com meus companheiros para saber qual será o papel que vou cumprir. Eu posso, em primeiro lugar, ficar, e não tem drama nenhum nisso. E posso sair. Saindo, deverei ter uma missão para justificar essa saída. E vocês acham que é possível decidir essa missão agora? Acaba de ocorrer a eleição de 2012, e absolutamente nada do que se discutiu nos partidos em 2011 aconteceu. Tem palpite para todo lado, só não tem o que foi o resultado da eleição. As coisas ganharam outra lógica.
JC - A deputada Terezinha Nunes (PSDB) foi seu grande calo no sapato no primeiro mandato. Ela retorna agora à Assembleia e promete a mesma oposição combativa. Espera ter muito trabalho com ela? Reza a lenda que o senhor teria vibrado quando ela não se reelegeu, em 2010...
EDUARDO - Não tem nada disso, isso não existiu. Eu já fui oposição e já fui governo. Temos que ter a capacidade de dialogar quando estamos na oposição e quando estamos no governo, e também respeitar as posições políticas das pessoas. Não tem que fulanizar. Sempre tivemos uma relação de respeito com a oposição. Tanto que muitas pessoas que nos fizeram oposição num determinado momento se sentiram completamente à vontade, e nós também, de estarmos juntos em outro.
JC - A vitória de Geraldo Julio no Recife o torna uma vitrine para o PSB?
EDUARDO - Nós tivemos um papel, dentro de uma circunstância política, de encontrar uma saída para a Frente Popular poder preservar os avanços que conseguimos fazer no Recife e fazer outros que estão sendo impostos pela vontade da sociedade. Essa foi nossa tarefa. Consertar uma saída. O conjunto desses partidos encontrou em um companheiro do governo entre os que a gente tinha tirado para oferecer à Frente essa capacidade, que foi Geraldo. E ele fez isso com muita dedicação e capacidade política e de reflexão. A tarefa agora é ajudá-lo a ajudar o Recife, a fazer as coisas que ele se comprometeu a fazer. Teremos um prefeito extremamente dedicado ao trabalho, aberto ao diálogo, focado no que tem que fazer. Todos nós vamos ajudar ele a fazer um trabalho à altura do que o Recife merece.
JC - O sucesso dele será o seu sucesso?
EDUARDO - Claro que para todos nós, moradores do Recife, o sucesso de Geraldo é o sucesso da vida das pessoas que querem melhoria no trânsito, na saúde, nas escolas. É óbvio. Eu vou continuar ao lado de Geraldo, ajudando ele a ser um grande prefeito do Recife. Eu sei o que eu disse à população do Recife durante a campanha, e vou fazer exatamente o que me comprometi. Ele me ajudou a ser governador, e vou ajudá-lo a ser um grande prefeito do Recife.
JC - O senhor sempre cita uma frase de seu avô, Miguel Arraes, que dizia que as pessoas querem as coisas, mas não sabem porque querem ser. Na sua visão, independente do seu caso, o que seria necessário para se ser ou se disputar a Presidência da República?
EDUARDO - Não vou cair em pegadinhas (risos). Vou citar o mesmo Miguel Arraes. Isso é algo de uma sabedoria, de um acúmulo de vida mais presente. E as pessoas que marcam com sua vida um coletivo são exatamente as pessoas que conseguem dizer coisas e dar exemplos que valem a qualquer tempo. A vida muda, as circunstâncias também, mas tem coisas que são fundamentais e valem como lição em qualquer momento. Essa palavra de doutor Arraes é muito presente hoje. Um gestor público que, com todas essas variáveis que temos hoje, imaginar chegar a um cargo público sem ter a estratégia, o pensamento, quando sentar, montar a equipe, olhar o orçamento, ver e responder os papeis que chegam todos os dias, a vida passou. Primeiro, você faz um debate empobrecido no processo eleitoral, porque o debate tende às futricas e você não ganha aliados na sociedade para o ato da governança. Para chegar o governo, é importante ter o apoio do povo, mas para governar também é fundamental o apoio do povo. Você precisa manter a liga, a relação, o apoio que são fundamentais para o êxito de uma gestão. É isso o que eu posso dizer.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)