quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA - Armenio Guedes em 1985: O PT, um partido no qual depositamos muitas esperanças

Eu lamento a posição atual do PT, porque é um partido no qual depositamos muitas esperanças. Eu nunca fui daqueles que, pelo fato de ter sido do PC, apostavam no fracasso do PT. Agora, eu sinto uma tendência no PT de ser exclusivista, de se condenar ao gueto político, de querer se distanciar do universo das forças democráticas, de não ser uma parte ativa e um elemento propulsor destas forças. Mas acho que eles já começam a ver isso, também. Há uma contradição, hoje, no PT, muita discussão. Pelo que se nota, inclusive na imprensa, a questão da democracia também começa a preocupar o PT. O livro do professor Francisco Welffort, por exemplo, sobre democracia, tem muito dessas idéias que eu procurei defender aqui. Então, neste momento, muita gente do PT tem noção disso. No entanto, também há correntes que pensam o contrário, correntes radicais, dogmáticas, ortodoxas, que forçam muito o partido a essa posição excludente e exclusivista, a esta posição de querer ser sempre o diferente: uma posição que privilegia a democracia social em detrimento da democracia política, ou melhor, que ignora o nexo dialético entre uma e outra.

Entrevista de Armênio Guedes à Revista Socialismo e Democracia, nº6, ano 2, 1985. São Paulo: Editora Alfa Ômega.
Fonte: O marxismo político de Armênio Guedes, eds. Contraponto e Fundação Astrojildo Pereira, Rio de Janeiro/Brasilia, 2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Presidente da Câmara desiste de desafiar STF
PT tenta dominar Conselho de Ética
Novas regras agora nos portos

FOLHA DE S. PAULO
Agência reprova serviço de internet em celulares
Em obras e sem acostamento, Tamoios terá 'funil de carros'
Henrique Alves muda discurso sobre cassações 2 vezes no dia
Tunísia dissolve governo depois de morte de opositor

O ESTADO DE S. PAULO
Alves se reúne com Barbosa e muda tom sobre mensalão
Apuração sobre Lula vai para MG
Produção de carros é recorde, mas faltam peças
Governo diminui nível de inglês para bolsa de estudos

VALOR ECONÔMICO
Safras recorde agravam déficit de armazenagem
Desonerações para reavivar setor de etanol
Atuação da EBP chama a atenção
Superávit fiscal pode cair para 1,8% do PIB em 2013

BRASIL ECONÔMICO
Embrapa da indústria’ surgirá em 1º de março com R$ 800 milhões
Viracopos decola para ser maior do que Cumbica
Avessa a críticas, CNI surpreende e diz que 2012 foi um ano perdido
Na contramão, Rio Grande do Sul decide reestatizar suas rodovias

CORREIO BRAZILIENSE
Plano de saúde do servidor está sob intervenção
Fazenda vai ampliar desoneração em R$ 20 bi para aquecer economia
Ações da Petrobras desvalorizam 10% em 2013 e contaminam a Bolsa
Idade mínima “informal” na aposentadoria
Câmara cassará os condenados
Catarinenses terão ajuda federal contra a violência

ESTADO DE MINAS
Novos e velhos riscos no caminho até a folia
Depois das férias, mais uma boa folga
Cidades endividadas ainda tentam pôr ordem na casa
Petrobras tem outra queda na Bovespa

O TEMPO (MG)
Motorista esgota remédio na esperança de burlar Lei Seca
Na contramão do Brasil, indústria mineira avança
MPF de Minas vai decidir se investiga Lula por mensalão

GAZETA DO POVO (PR)
Indústria do Paraná tem o pior resultado em 15 anos
No limite de gastos, Richa cria mais cargos
Henrique Alves recua e diz que Câmara cassará deputados condenados
Câmara de Curitiba não cumpre norma contra incêndio


ZERO HORA (RS)
Megarreconstituição do incêndio: Perícia quer reunir os sobreviventes na boate
Polícia reforça efetivo para feriadão em SC

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Petrobras perde valor de mercado
Estado e União tentam conter violência em SC
Anatel admite falhas nas redes de celular 3G
Presidente da Câmara cumprirá decisão do STF

Presidente da Câmara desiste de desafiar STF

Após se reunir com o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), mudou de tom e afirmou que não vai se insurgir contra a decisão do tribunal sobre a cassação dos mandatos dos parlamentares condenados pelo mensalão. "Não há hipótese de não se cumprir a decisão do Supremo. Não há confronto", disse Alves. Até ontem, ele afirmava que a palavra final caberia à Câmara. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhou ao Ministério Público Federal em Minas as denúncias de Marcos Valério contra Lula

"Será um processo rápido"

Presidente da Câmara recua e diz que cumprirá decisão do STF para cassar mensaleiros

Carolina Brígido, Cristiane Jungblut e Isabel Braga

ECOS DO MENSALÃO

BRASÍLIA - Depois de afirmar que a palavra final sobre a cassação dos mandatos de quatro parlamentares condenados pelo mensalão caberia à Câmara dos Deputados, o novo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), recuou e declarou ontem que não vai descumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Henrique Alves, a Câmara tomará as providências necessárias para o cumprimento da sentença de forma rápida. Após encontro com o presidente do tribunal, ministro Joaquim Barbosa, o parlamentar garantiu ainda que não há a menor possibilidade de confronto entre o Legislativo e o Judiciário.

- Não há hipótese de não se cumprir a decisão do Supremo. O Supremo vai cumprir o seu papel, analisando, como está analisando, vai discutir os embargos, vai publicar os acórdãos, e nós só vamos fazer aquilo que o nosso regimento determina que façamos: finalizar o processo. Uma coisa complementa a outra. Não há confronto - afirmou Alves.

O deputado, porém, não explicou como seria o rito para finalizar o processo. Ele não esclareceu, por exemplo, se defenderá a abertura de novo processo de perda de mandato, como defendia seu antecessor, Marco Maia (PT-RS).

- Formalidades legais, apenas isso. Será um processo rápido. Formalidades legais não podem implicar muito tempo - disse. - Vamos aguardar finalizar o processo (no STF), ainda temos embargos, vai ter os acórdãos e, quando chegar à Câmara, ela vai cumprir o seu dever, sem nenhum conflito, sem nenhum confronto. E num processo rápido, porque isso interessa ao povo brasileiro, ao Judiciário e ao Legislativo. Portanto, será uma atitude que vai surpreender aqueles que pensam diferente, mas que vai mostrar o respeito entre os Poderes Judiciário e Legislativo.

Em seguida, Henrique Alves declarou que a Câmara não vai discutir o mérito da decisão tomada pelo STF:

- Não há nenhuma possibilidade de confrontarmos com o mérito, questionar a decisão do Supremo.

Para petistas, decisão de mérito é do plenário

Henrique Alves aproveitou para dizer que durante seu mandato não haverá crise entre o Legislativo e o Judiciário. No ano passado, os dois Poderes travaram consecutivas disputas. Primeiro, foi a questão dos mandatos. Depois, o ministro Luiz Fux deu liminar que impediu a votação do veto presidencial à Lei dos Royalties. A decisão do STF que determinou ao Congresso a elaboração de novas regras para a divisão do Fundo de Participação dos Estados (FPE) também gerou desconforto.

- Vou até rezar para que o que eu possa declarar aqui eu possa ouvir e ler: não há a menor possibilidade, é risco mínimo, de qualquer confronto do Legislativo com o Judiciário. Quem pensar diferente, é como diz o dito popular, pode tirar o cavalinho da chuva. É imenso o respeito do Legislativo com o Judiciário e vice-versa, pois somos sistemas basilares, fundamentais, da democracia brasileira. Cada um sabe sua responsabilidade, é definido na Constituição - declarou. - Não há a menor possibilidade, volto a dizer, de nenhum arranhão, nenhum conflito, nenhuma indisposição do Legislativo, e eu o faço como seu presidente, com o Judiciário.

Se o presidente da Câmara, do PMDB, afirma que não há discussão sobre o veredicto do STF, o PT afirma que a palavra final é do plenário da Casa. E os petistas pretendem defender essa tese. Marco Maia disse acreditar que o novo presidente irá defender as prerrogativas da Casa, mas descartou que a a atitude de Henrique Alves seja retaliação contra o PT. Na bancada do PMDB, parlamentares especulam que petistas aproveitaram o voto secreto e traíram Alves na eleição para presidir a Câmara.

- A Constituição é clara: quem cassa deputado é o plenário. Eu continuo acreditando que o Henrique vai defender as prerrogativas da Câmara, o preceito constitucional. Não há motivos para dizer que ele mudou a interpretação, como não há motivos para especular sobre a fidelidade do PT - disse Marco Maia.

O deputado André Vargas (PT-PR), primeiro vice-presidente da Câmara, afirma que a decisão sobre os mandatos será tomada pela Mesa Diretora. E defende que a palavra final sobre as cassações será dada pelo plenário da Casa:

- Eu, como Henrique, sabemos que quem decide é a Mesa. Por que discutir agora? Não teve traição, talvez uma ou outra exceção, mas o PT não namora com o perigo. Majoritariamente seguimos a determinação da liderança.

Pela decisão do STF, os deputados José Genoino (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) devem perder o mandato assim que todos os recursos de réus do mensalão forem julgados e o processo tiver transitado em julgado.

Fonte: O Globo

Rito deve seguir padrão adotado em julgamentos do TSE

Após defesa, corregedor da Câmara tem 45 dias para apresentar parecer

Isabel Braga e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA - Ao declarar que a Câmara cumprirá formalidades e não vai discutir o mérito da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o novo presidente da Câmara endossa a tese que é defendida pelo vice-presidente da República, Michel Temer: o rito de tramitação dos processos contra os quatro deputados condenados pelo mensalão será semelhante ao adotado nos casos de deputados cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nestes casos, a Câmara dá direito de defesa ao parlamentar, mas apenas homologa a decisão do TSE, sem entrar no mérito. A homologação caberá à Mesa Diretora.

O primeiro passo é citar o parlamentar. É aberto prazo de cinco dias úteis para apresentação de defesa. Após isso, o corregedor da Câmara tem no máximo 45 dias para apresentar parecer à Mesa. Esse prazo pode ser prorrogado pelo presidente. Em nova etapa, integrantes da Mesa podem pedir vista que, em tese, seria de apenas duas sessões.

Não é possível estabelecer com precisão o prazo entre a decisão tomada pela Justiça e a decretação da perda do mandato pela Câmara. As normas internas estabelecem prazos, mas os processos ficam submetidos a interesses dos parlamentares e à pressão da opinião pública sobre o caso. Em 2008, por exemplo, a decisão da Mesa Diretora de decretar a perda do mandato do deputado Walter Brito Neto (PRB-PB), cassado por infidelidade partidária, só foi tomada nove meses depois de o TSE cassar o mandato.

No caso dos deputados condenados no mensalão, o corregedor ainda não foi escolhido. Até a gestão de Marco Maia (PT-RS), o corregedor era o segundo vice-presidente. Porém, o PSD - partido que assumiu a segunda vice-presidência - não queria encarar o desgaste político de traçar o destino dos mensaleiros. Por isso, Henrique Alves articulou com líderes partidários a transferência da Corregedoria para a terceira secretaria.

A tendência, no entanto, é a de que a Mesa transforme a Corregedoria em órgão autônomo, com o titular indicado pelo presidente da Casa. O presidente já pediu a elaboração de um projeto de resolução neste sentido. O deputado Átila Lins (PSD-AM) teria o desejo pessoal de assumir o posto, apesar de seu partido não querer a titularidade da função. A mudança demanda votação no plenário.

Fonte: O Globo

PT tenta dominar Conselho de Ética

Dois meses após ter sua cúpula condenada no julgamento do mensalão, o PT agora se articula para assumir o comando do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Um dos objetivos é tentar salvar os mandatos de deputados petistas, como José Genoino, e aliados condenados. O partido continua apostando em um confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), que já decretou a perda automática do mandato desses deputados

PT quer presidir Conselho de Ética e salvar mandato de mensaleiros

Partido também deseja controle do colegiado se Azeredo sofrer processo

Evandro Éboli

ECOS DO MENSALÃO

BRASÍLIA - O PT está articulando para comandar o Conselho de Ética da Câmara a partir deste ano e duas razões o movem: tentar salvar os mandatos dos seus deputados e de aliados condenados no julgamento do mensalão e ter o controle do colegiado num eventual processo que possa levar à cassação do deputado e ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), principal personagem do chamado mensalão mineiro. O PT tem interesse em dirigir o colegiado, mesmo diante da possibilidade de os processos contra os deputados condenados nem passarem por lá.

Integrante do conselho, o deputado Sibá Machado (PT-AC) é um nome do partido para presidir o órgão, mas que pode ser substituído por outro parlamentar de maior densidade política em caso de risco de derrota contra outro candidato num confronto. O indicado, neste caso, seria Nelson Pellegrino (PT-BA), ex-líder da legenda.

Árduo defensor da tese de que cabe à Câmara a última palavra sobre o destino dos mandatos de José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT) - os quatro parlamentares condenados na ação penal 470, o mensalão -, Sibá Machado diz estar à disposição do seu partido. Neste caso, o Conselho poderia ter participação importante.

- Só aceito se for uma orientação do meu partido. Vamos ter muita polêmica entre a Câmara e o STF. Já é uma briga pública e notória. E todos sabem que comungo da posição do ex-presidente Marco Maia, de que a Câmara não pode abdicar de seu poder de decidir sobre o futuro dos seus. Se vai aliviar ou não é outra coisa. O que não pode é entregar essa prerrogativa para terceiros - disse Sibá Machado, ontem.

Dois não petistas postulam também o cargo de presidente do Conselho de Ética. Ricardo Izar Júnior (PSD-SP), filho do falecido deputado Ricardo Izar, que presidiu o colegiado no escândalo do mensalão. Izar Júnior conversou com o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), há duas semanas, antes da eleição. Não sentiu ter o apoio de Alves e entendeu que ele já reservou o cargo a outro partido, que se acredita ser o PT. Ainda contra o deputado paulista pesa o fato de ele ter feito campanha aberta para Júlio Delgado (PSB-MG) à presidência do Câmara. Com esse cartel, pode ser considerado um azarão.

- Conversei com o Henrique Alves antes da eleição e não senti vontade nele que fosse eu (o presidente do conselho). Me pareceu destinado a outro partido. Mas esta não é uma vontade da Mesa, mas dos integrantes do conselho, que elegerão o presidente - disse Izar Júnior, lembrando a atuação de seu pai no órgão: - Ele foi bastante imparcial e atuou com firmeza, como deve ser. Mas não acho que, no caso dos quatro deputados condenados pelo Supremo, o conselho se pronuncie novamente. Já se manifestou sobre o assunto.

Fernando Francischini (PEN-PR) é outro candidato a presidir o conselho. É opositor do governo, que deverá ter a maioria na composição do colegiado. Uma candidatura difícil. Francischini disse que irá conversar com os futuros integrantes do órgão para avaliar suas chances. Para ele, cabe à Câmara apenas confirmar a decisão do STF.

- À Câmara, seja no conselho ou no plenário, cabe tão somente o papel de confirmar a decisão dos ministros do Supremo. Não há condições de termos deputados condenados pelos crimes que foram e com seus mandatos parlamentares intactos. Impensável - disse Francischini.

O mandato no conselho dura dois anos. Ao PT também interessa presidir o colegiado se o STF condenar Eduardo Azeredo, réu no mensalão tucano.

- Não digo que será um momento de glória, mas um pequeno troco no PSDB. Ainda que o Azeredo seja um bom camarada na relação no Congresso - disse um petista, que pediu reserva de seu nome.

Fonte: o Globo

Gurgel manda MPF em Minas apurar denúncia de Valério contra Lula

Operador do mensalão disse que ex-presidente se beneficiou de esquema

Carolina Brígido

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ontem ao Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF) trechos do depoimento de Marcos Valério que acusam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de envolvimento com o mensalão. Gurgel quer que o caso seja investigado junto com outros processos sobre o assunto que tramitam na Justiça de Minas Gerais. Caberá aos procuradores no estado avaliar se há suspeita contra Lula que justifique transformá-lo em alvo de inquérito ou processo judicial.

- Nós constatamos que lá (em Minas) já existe um procedimento decorrente de um desmembramento determinado pelo ministro Joaquim Barbosa que trata de assunto relacionado ao mensalão, mas não foi compreendido na ação penal 470. Provavelmente será juntado a um procedimento relacionado ao esquema do mensalão - afirmou o procurador-geral depois da cerimônia de posse de Sérgio Kukina como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Na semana passada, Gurgel informara que o documento a ser enviado à primeira instância tinha "três ou quatro páginas". O caso não foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque Lula não tem direito a foro especial, por não ocupar mais o cargo público.

Valério prestou depoimento em setembro do ano passado à Procuradoria Geral da República (PGR). Como o julgamento do processo do mensalão já estava em curso, não foi possível inserir o novo fato à investigação.

No depoimento, divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Valério cita dois pagamentos que ele teria feito a Freud Godoy, então assessor da Presidência da República. A CPI dos Correios comprovou o depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério para a empresa Caso, de propriedade de Godoy. A CPI também detectou um pagamento feito pela SMP&B, uma das agências de publicidade de Valério, à empresa de Godoy.

Valério também teria dito em depoimento que Lula autorizou a operação na qual o PT se beneficiou de empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG às empresas do lobista. Para o Supremo, os empréstimos serviram de mecanismo fraudulento para permitir o funcionamento do esquema criminoso.

O operador do mensalão teria procurado a PGR após ser condenado pelo STF a 40 anos, dois meses e dez dias de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no processo do mensalão. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o esquema, Valério queria obter proteção e redução da pena. Ele ainda pode conseguir a condição de protegido, mas não obteve a redução da pena.

Por meio da assessoria, o Instituto Lula informou que não se pronunciaria sobre o assunto.

Fonte: O Globo

Oposição questiona ida de embaixador a ato pró-Dirceu

As direções do PSDB, DEM e PPS repudiaram a participação do embaixador da Venezuela, Maximilien Sánchez Averláiz, num ato organizado anteontem pelo PT de Brasília para manifestar apoio ao ex-ministro José Dirceu, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. Durante a manifestação foram feitas críticas ao STF por ter sentenciado Dirceu com 10 anos e 10 meses de prisão.

Os partidos de oposição afirmam que exigirão, no Congresso, "explicações do chanceler brasileiro Antônio Patriota sobre a omissão do governo da presidente Dilma Rousseff diante de um episódio de tamanha gravidade".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Embaixador vira a polêmica da vez

Participação de venezuelano em evento petista leva partidos a cobrar explicações de ministério

Era para ser apenas um evento partidário. Virou polêmica e embate entre a oposição e o PT. PSDB, PPS e DEM querem que o Ministério das Relações Exteriores dê explicações sobre a participação de Maximilien Sánchez Averláiz, embaixador da Venezuela no Brasil, em evento petista na noite de terça-feira no Distrito Federal.

Programado para ser um gesto em defesa do partido e das gestões de Lula e Dilma na Presidência, o ato foi conduzido, a partir do discurso do ex-ministro José Dirceu, a um debate sobre o julgamento do mensalão.

Com presença anunciada ao microfone pelo presidente do PT no Distrito Federal, deputado Roberto Policarpo, Averláiz não discursou. Mesmo assim, por meio de nota, a oposição cobrou explicações do chanceler brasileiro Antônio Patriota sobre “a omissão do governo da presidente Dilma diante de um episódio de tamanha gravidade”. Para os oposicionistas, a presença do embaixador venezuelano no evento seria uma “interferência indevida em assuntos internos do Brasil”.

Averláiz, em nota divulgada no final da tarde de ontem, disse que a postura da oposição tenta usar “um país irmão para disputas políticas internas”.

Ex-ministro diz que vai tentar todos os recursos

No evento, Dirceu estimulou a militância a defender os petistas condenados pelo esquema do mensalão da mesma forma que defendem o governo da presidente Dilma Rousseff. O ex-ministro ainda acusou o Supremo de ter agido politicamente ao colocar o julgamento em pauta em ano eleitoral. Segundo Dirceu, está em curso um projeto “da direita” para derrotar o PT.

O petista disse ainda que vai usar todos os recursos a que tem direito para tentar reverter sua condenção de 10 anos e 10 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Fonte: Zero Hora (RS)

Mensalão: Oposição repudia participação de embaixador da Venezuela em evento contra STF

Diógenes Botelho

Os presidentes do PPS, PSDB e DEM divulgaram nota (leia íntegra abaixo) na tarde desta quarta-feira (06/02) repudiando a participação do embaixador da Venezuela , Maximilien Sánchez Averláiz, em evento organizado pelo PT no Distrito Federal para manifestar apoio ao ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do mensalão. Durante o ato, que aconteceu na terça-feira, foram feitas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ter confirmado a culpa e penalizado o petista com 10 anos e 10 meses de prisão, concluindo que ele comandou o maior esquema de corrupção já registrado no Brasil.

Para o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), trata-se de clara ingerência do embaixador da Venezuela em assunto interno do Brasil. “Desde jovem, quando militante da juventude comunista, em inúmeras oportunidades protestei, na ditadura, contra a interferência da embaixada americana em assuntos internos brasileiros. Sempre, e em outros governos, me insurgi contra essas interferências. Na Assembleia Constituinte defendi a autodeterminação dos povos. Não mudei não! E essa minha posição independe de qual país interfere em nossos assuntos. Portanto, é um absurdo essa postura de um embaixador estrangeiro participar de um ato que tenta desqualificar uma sentença da suprema corte brasileira. Que o condenado (José Dirceu) patrocine atos desse tipo, já causa preocupação, mas a presença de um embaixador de país estrangeiro é inaceitável”, condenou Freire.

Na nota, assinada também pelos presidentes do PSDB, senador Sérgio Guerra (CE), e do DEM, senador José Agripino (RN), os partidos afirmam que exigirão, no âmbito do Congresso Nacional, “explicações do chanceler brasileiro Antônio Patriota sobre a omissão do governo da presidente Dilma Rousseff diante de um episódio de tamanha gravidade”.

Durante o evento, Dirceu convocou os militantes do partido a defender os petistas condenados pelo esquema do mensalão da mesma forma que defendem o governo da presidente Dilma Rousseff. Na presença do embaixador da Venezuela, o ex-ministro acusou ainda o Supremo de ter agido politicamente ao colocar o julgamento em pauta em ano eleitoral.

Leia a íntegra da nota:

NOTA DE REPÚDIO À INTERFERÊNCIA DO EMBAIXADOR DA VENEZUELA EM ASSUNTOS INTERNOS DO BRASIL

O PSDB, PPS e Democratas manifestam de forma conjunta seu protesto e indignação diante da interferência indevida do embaixador da Venezuela, senhor Maximilien Sánchez Averláiz, em assuntos internos do Brasil.

A presença do embaixador venezuelano em ato organizado ontem pelo petista José Dirceu, ex-ministro do governo Lula condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, para tentar desqualificar o resultado final do julgamento do mensalão, definido pelo Supremo Tribunal Federal, afronta à soberania do Brasil e mereceria o repúdio imediato das autoridades brasileiras, a começar pelo Ministério das Relações Exteriores.

Diante disso, exigiremos, no âmbito do Congresso Nacional, explicações do chanceler brasileiro Antônio Patriota sobre a omissão do governo da presidente Dilma Rousseff diante de um episódio de tamanha gravidade.

Brasília, 06 de fevereiro de 2012

Deputado Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB

Deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS

Senador José Agripino, presidente nacional do Democratas

Fonte: Portal do PPS

PSB desautoriza Lula a envolver partido na sucessão de 2014

Eduardo Campos diz que hora é de obras e não de montar palanque

Maria Lima

BRASÍLIA Do projeto político do PSB para 2014, cuida o PSB. O aviso foi dado ontem por interlocutores do governador pernambucano e presidente do PSB, Eduardo Campos. Enquanto o ex-presidente Lula, como articulador do PT, traça todo tipo de cenário com o intuito de tirá-lo da disputa com a presidente Dilma Rousseff, inclusive acenando com o escanteio de Michel Temer e do PMDB na chapa para acomodá-lo como vice em 2014, o governador madrugou ontem em Brasília para se reunir com a cúpula do partido e traçar sua própria estratégia e um plano de trabalho político para 2013.

Como Lula, que pretende retomar suas caravanas pelo país em maio, e Dilma, que já está na estrada, Eduardo Campos percorrerá estados brasileiros a partir de abril, para participar de seminários e debates com setores diversos da sociedade sobre o que pode ser o embrião de um programa de governo. Nas reuniões internas do partido, estes encontros já foram batizados de "Diálogos do Desenvolvimento". E os objetivos começam a ser traçados: além do novo federalismo, propor políticas de industrialização e geração de empregos que possam tirar mais rapidamente os pobres da dependência dos programas assistenciais, marca do governo petista.

Eduardo Campos não admite que esteja numa espécie de pré-campanha. Todo esforço, diz, é para consolidar o crescimento do partido. Mas nas reuniões de ontem com o comando do PSB ficou claro o desconforto dele e de outros dirigentes com o que classificam, reservadamente, como uma tentativa de Lula de atropelar e tumultuar o jogo.

O governador chegou a Brasília às 3h30m da madrugada e teve um café da manhã com colegas da Executiva. Nas conversas políticas, Eduardo Campos mostrou estranheza com as articulações de Lula sem que o ex-presidente tenha falado com ele. À tarde, após sair de uma audiência no Ministério do Planejamento, disse ao GLOBO:

- Não discuti 2014 com ninguém. Tudo que o Brasil não precisa agora é ficar montando palanque e chapa. Podemos ter em 2014 um ano melhor que 2013, mas primeiro precisamos ganhar 2013. O que precisamos montar agora é canteiro de obras, gerar empregos.

À provocação de que petistas tentam empurrar sua entrada na corrida presidencial para 2018, Eduardo Campos joga a cabeça para trás e responde com um sorriso silencioso de quem quer dizer: não posso esperar tanto tempo. Diplomático e cuidadoso, não diz que sim nem que não. Seus colegas de partido, no entanto, estão autorizados a falar.

- Respeitamos o presidente Lula e não temos como controlar o que ele fala. Mas nosso compromisso é o de fortalecer nosso partido. E o nosso propósito, claro, é fortalecer nosso principal líder: Eduardo Campos - afirmou Carlos Siqueira, integrante da Executiva Nacional do PSB, após a reunião com o governador.

A avaliação feita entre os integrantes da Executiva é que o PSB capitalizou politicamente as eleições para os presidentes do Congresso, saindo em vantagem em relação ao PT e ao PSDB, que se aliaram para eleger Renan Calheiros (PMDB-AL) presidente do Senado, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara. O PSB bancou a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) na Câmara, contra o favorito Henrique Alves - apoiado por 20 partidos governistas e de oposição -, que obteve surpreendentes 165 votos.

- A votação de Júlio Delgado só não foi melhor porque não ganhou - comentou Eduardo Campos, rindo muito.

Ele disse que não falaria sobre a participação do PSDB no processo, mas ressaltou que o PSB teve uma posição muito clara em defesa da renovação e do fim da velha maneira de fazer política:

- Na Câmara, disputamos com um candidato jovem, que representava a renovação. Tivemos uma votação muito bonita, que surpreendeu muita gente. Lá, expressamos uma posição muito clara em defesa da renovação do jeito de fazer política. Não foi possível vencer. Mas se plantaram ali ideias para o futuro.

Alfinetando o pré-candidato tucano em 2014, Aécio Neves (PSDB-MG) - que no Senado defendeu o voto em Pedro Taques (PDT-MT), mas não fez discurso no dia da eleição -, Campos lembrou que os quatro senadores do PSB subscreveram um documento público defendendo a renovação e foram à tribuna contra Renan Calheiros.

Fonte: O Globo

Para PMDB, 80% dos petistas traíram Alves

Raymundo Costa

BRASÍLIA - A cúpula do PMDB avaliou que pelo menos 70 dos 87 deputados federais do PT votaram na candidatura do deputado Júlio Delgado (PSB) a presidente da Câmara, traindo o acordo firmado entre as duas siglas para eleger o candidato pemedebista Henrique Eduardo Alves. Houve traição no próprio PMDB. Ainda assim Alves venceu no primeiro turno.

Delgado, cujo partido (PSB) tem uma bancada de 27 deputados federais, também teria contado com a maioria dos votos do PSD (50 deputados) de Gilberto Kassab - que jogou articulado com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos - e do PCdoB (13 deputados). Alves teve 271 votos (precisava de 257 para vencer no primeiro turno), quando esperava ter algo em torno dos 300.

Atribui-se, na cúpula pemedebista, ao senador Renan Calheiros, eleito presidente do Senado na última sexta-feira (a eleição da Câmara foi na segunda-feira), a articulação para atrair o PCdoB para a candidatura Delgado. Interessaria a Calheiros reduzir a influência do grupo do PMDB da Câmara, que se consolidou depois que ele e o ex-presidente José Sarney foram enredados em denúncias de práticas irregulares. Depois disso, os deputados ampliaram sua área de influência no Palácio do Planalto, inclusive com a indicação do vice na chapa da presidente da República.

O "Consenso do Jaburu" identificou também o dedo do deputado Sérgio Guerra, presidente do PSDB, na votação de Delgado. Guerra teria contribuído com alguns eleitores tucanos. A exemplo de Kassab, também em articulação com Eduardo Campos, que preside o PSB. Os dois são pernambucanos e amigos. Sérgio Guerra nega.

Só articulações desse porte, segundo avaliou a direção do PMDB, levariam o representante de um partido que tem apenas 27 deputados a conseguir 165 votos. Antes mesmo de o painel de votação ser aberto, um petista disse ao Valor que a hipótese de a eleição ir para o segundo turno não deveria ser descartada, pois não interessava ao PT que Henrique Alves saísse da eleição sentindo-se "muito poderoso".

O PMDB, depois de fazer suas contas e trocar informações com os deputados, chegou à conclusão que a intenção era mesmo levar a eleição para o segundo turno, não para dar um "susto" em Henrique Alves, mas para efetivamente derrotar o PMDB.

"O que houve foi uma traição em massa do PT", diz um dirigente do PMDB, que ainda não sabe avaliar a extensão das sequelas deixadas pelo episódio na relação PT-PMDB. O certo, segundo líderes partidários, é que há um sentimento entre muitos deputados de que é necessário se criar uma força concorrente ao PMDB na Câmara.

Na realidade, líderes pemedebistas acreditam que Henrique Alves só conseguiu evitar a realização de um segundo turno no domingo, quando fez um acordo com o deputado Inocêncio Oliveira (PSD), que ameaçava sair candidato a presidente. Havia dez anos que Inocêncio ocupava algum cargo na mesa da Câmara. Henrique prometeu-lhe a presidência de uma comissão especial a ser criada e o deputado pernambucano recuou da intenção de disputar a eleição.

Para o PMDB ficou evidente a intensa atuação do governador Eduardo Campos, eventual candidato a presidente, em 2014, ou até vice de Dilma, no lugar do atual vice-presidente Michel Temer, como gostaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sociedade PT-PMDB, que já era permeada pela desconfiança, trincou, mas ainda não está clara qual será a repercussão do incidente no futuro da relação do PMDB com o governo.

O PMDB também reagiu mal à noticia segundo a qual o ex-presidente Lula cogitava o nome do vice-presidente Michel Temer para disputar o governo de São Paulo, em 2014, em aliança com o PT. Michel falou a seus interlocutores que não é candidato ao governo do Estado. De acordo com os dirigentes da sigla, a presidente Dilma já assumiu com o vice que a chapa da reeleição será a mesma de 2010. "O PMDB é um partido com história", afirma um integrante da cúpula. "Por que iríamos nos deixar seduzir por uma candidatura ao governo de São Paulo, para nós, um Estado tão importante como os outros".

Valor Econômico

Ato em São Paulo reúne 4 condenados no mensalão

PT transforma homenagem a militante histórico em desgravo a dirigentes

João Paulo chama mensalão de 'mentirão' e diz que réus sofrem pressão igual à que levou Vargas ao suicídio

SÃO PAULO - Um ato do PT em homenagem a um militante histórico do partido reuniu ontem quatro integrantes da cúpula petista condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no processo do mensalão.

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, Delúbio Soares, ex-tesoureiro da sigla, e os deputados José Genoino, ex-presidente do PT, e João Paulo Cunha foram homenageados na festa de 78 anos de Ricardo Zarattini. No convite do evento, os quatro foram chamados de "dirigentes e líderes de sempre" do partido.

Eles foram assediados por militantes e tiraram fotos. Dirceu chegou a ensaiar passos na pista de dança ao som de música sertaneja.

Em sua fala, João Paulo, condenado por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, disse que o julgamento faz parte de uma "disputa política" para atingir o ex-presidente Lula.

"Dirceu, Genoino e Delúbio foram condenados sem provas. Eu fui condenado contra as provas. Isso não é mensalão, é 'mentirão'".

Ele afirmou que os condenados sofrem uma "campanha" conduzida pela imprensa semelhante à que levou o ex-presidente Getulio Vargas a "dar um tiro no peito e entrar para a história", em 1954.

Delúbio, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, afirmou que a vitória de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo foi um "exemplo" do partido. "Vencemos no Brasil, vencemos em São Paulo".

Dirceu recordou a trajetória de Zarattini. Eles estavam entre os quinze presos políticos trocados em 1969 pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick, na ditadura. Genoino disse ter "a consciência do dever cumprido".

Fonte: Folha de S. Paulo

Congresso com baixa legitimidade e governo mais dependente do PMDB – Jarbas de Holanda

O PMDB recebeu a quitação do restante da dívida assumida com ele em 2010 pelo ex-presidente Lula para o apoio à eleição de sua candidata Dilma Rousseff e para a sustentação do governo dela: além da vice-presidência da República, a continuidade do comando do Senado e a direção da mesa da Câmara nos anos decisivos da disputa da próxima sucessão (beneficiando-se do rodízio dessa direção entre as duas maiores legendas da Casa). Mas o pagamento da fatura foi completado num contexto muito negativo para o Congresso e também para o Palácio do Planalto. 

Para o primeiro, porque a eleição de presidentes das duas Casas processados pela prática de irregularidades – sobretudo o do Senado, Renan Calheiros, alvo de denúncia já formalizada do procurador-geral Roberto Gurgel – reduziu ainda mais a credibilidade do Legislativo na opinião pública. Ao desgaste da presença na Câmara de quatro parlamentares condenados no julgamento do mensalão somando-se agora os riscos de decisões judiciais restritivas do exercício dos cargos ganhos pelos dois (especialmente o de Renan). 

Credibilidade que poderá ser progressivamente recuperada pelos dois presidentes e pelas mesas diretivas que controlam – com base em entendimentos suprapartidários que promovam ou acolham – por uma troca da subordinação fisiológica do Congresso ao Executivo através de atos de afirmação de independência política e institucional e por meio da iniciativa do debate e da votação de matérias políticas, econômicas e sociais importantes. 

Perspectiva, porém, de todo improvável, se não impossível, que, se fosse encaminhada, constituiria também alternativa a um possível e lamentável cenário – configurado anteontem na solenidade de posse da nova mesa da Câmara – de confrontação com o STF em torno de sentenças do processo do mensalão. Cenário cuja confirmação (com a aquiescência do PMDB às pressões do PT nesse sentido) lesionará ainda mais a imagem do Poder Legislativo.

Para a presidente Dilma são duas as implicações do fortalecimento do PMDB com o exercício do co-mando das duas Casas, bem como com a eleição de Eduardo Cunha para líder do partido na Câmara, que ela tentou barrar. 

A primeira é o aumento da dependência do Executivo ao estado-maior peemedebista quanto à pauta e às decisões do Congresso. A segunda implicação, para ela e para o ex-presidente Lula, é o horizonte de maiores problemas na base governista quanto ao respaldo aos projetos e outros interesses do Executivo e, principalmente, à montagem de aliança para a campanha reeleitoral. Que corre o risco de restringir-se significativamente com a saída do PSB do governador de Pernambuco Eduardo Campos, cujo espaço na base governista diminuiu após o confronto com o PMDB no Congresso, o que alenta seu projeto alternativo de candidatura ao Planalto.

Reação de Lula – Objetivam, no essencial, o enfrentamento desse risco – em face sobretudo do potencial que ele tem de favorecimento da candidatura oposicionista do mineiro Aécio Neves – as articulações recentemente desencadeadas pelo ex-presidente envolvendo propostas de mudança na composição da chapa presidencial governista e o adiamento para 2018 do projeto do PT de conquista do Palácio dos Bandeirantes. 

Em nova composição, Eduardo Campos substituiria Michel Temer, e este ocuparia o lugar de um candidato do PT ao governo de São Paulo. Mas a viabilização de tais propostas, se teria força suficiente para ultrapassar e sufocar diversos postulantes do PT ao executivo paulista (garantida pelo incontrastável controle do ex-presidente sobre seu partido), dependeria, antes de tudo, de uma concordância da direção do PMDB, e do próprio Temer, com uma troca que certamente não lhes interessa do posto federal que já ocupam e querem preservar pela incerteza de uma disputa com o PSDB em uma de suas duas maiores trincheiras, e num contexto de ampla dependência ao lulopetismo.

Jarbas de Holanda é jornalista

Votos voando - Eliane Cantanhêde

O PIB de 2012 foi pífio, a inflação se assanha e a Petrobras derrete, mas as pessoas gastam e a popularidade de Dilma aumenta. Cadê a oposição? O gato comeu.

O grande ausente da abertura do ano legislativo foi justamente quem mais deveria aparecer: o senador Aécio Neves, tido e havido como pré-candidato tucano à Presidência.

Na eleição de Renan Calheiros à presidência do Senado, ele sumiu, resguardando-se do circo armado pelos tucanos: repudiaram Renan em público e liberaram o voto (secreto) nele por uma vaga na Mesa Diretora.

Está aí parte da explicação para a discrepância entre o resultado oficial e a enquete feita pela Folha no Senado: 56 votaram em Renan, mas só 35 admitem que sim. Já o seu opositor, Pedro Taques, teve 18 votos, mas 24 juram que votaram nele.

Pelo menos seis votos estão voando por aí e, de Aécio, não se ouviu um pio. Como também não se sabe onde ele se meteu durante a leitura da mensagem presidencial ao Congresso. Cabia ao governo enaltecer os feitos e abafar os malfeitos e, à oposição, aproveitar para criticar.

Aécio, porém, não foi visto ouvindo a mensagem nem foi achado para comentá-la. Mesmo na tribuna, coube ao novo líder tucano no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, fazer as vezes da oposição. Afinal, que oposição é essa? E que candidato é esse?

Enquanto isso, o governador Eduardo Campos (PSB) foi impecável. Como não tem mandato nem de deputado nem de senador, atuou decisivamente nos bastidores (sem explodir pontes com ninguém) para que o PSB votasse contra Renan no Senado e atraísse a boa marca de 165 votos para Júlio Delgado, seu candidato na Câmara.

As duas eleições colocaram mais tijolos na construção da imagem de Eduardo Campos. Quando os tucanos repetem como papagaios que ele "é governista e não tem condições de competir contra Dilma", leia-se: estão morrendo de medo de uma revoada para a candidatura do PSB.

Fonte: Folha de S. Paulo

A conta de cada um - Merval Pereira

Cada um faz a conta que quer. O PMDB contabiliza como vitória a candidatura do deputado federal Júlio Delgado, do PSB, não ter levado a disputa pela presidência da Câmara para o segundo turno, embora Henrique Alves tenha, por causa dela, recebido menos votos do que esperava. Um bom número de votos ao candidato do PSB teria sido dado pelo PT, para enfraquecer o PMDB. A eleição de Alves teria sido, sobretudo, a demonstração de que o PT na Câmara não tem força para se contrapor ao PMDB.

Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vê o contrário. Sem que ele se tivesse metido na disputa oficialmente, o PSB conseguiu reunir em torno de Júlio Delgado um grupo de deputados federais expressivo (165 votos), e, principalmente, diferenciou-se dos demais partidos diante da opinião pública.

Ao criticar PT, PMDB e PSDB, aos quais se oferece ao eleitorado como alternativa, o governador Eduardo Campos pode ter estressado sua relação dentro da aliança governista, mas está convencido de que, aumentando seu grau de independência, aumenta também sua capacidade de atrair o voto dos descontentes com a dicotomia PT-PSDB e, sobretudo, os que não aceitam o PMDB como parceiro necessário de qualquer tipo de governo.

O PSDB agiu com a cautela típica da maneira de fazer política do senador Aécio Neves, preservando compromissos internos no Congresso, e passou a ideia de que se opunha à candidatura do senador Renan Calheiros mais do que à de Henrique Alves na Câmara, e muito menos ao PMDB. E deu votos a ambos os candidatos peemedebistas.

No caso da Câmara, havia uma necessidade básica, a de não fortalecer o PSB, que pode vir a ser um adversário na campanha de 2014. Preservando seus laços suprapartidários no Congresso, o senador Aécio Neves pode ter avançado no caminho de futuras negociações políticas, mas o PSDB deixou mais uma vez de marcar posição como partido oposicionista.

De toda essa movimentação política de início de legislatura, tem-se com clareza que o PT está ficando isolado, o que justifica um nervosismo latente entre seus principais dirigentes, que se reflete em entrevistas, e no trabalho mais angustiado dos militantes partidários, sobretudo na blogosfera, com alguns querendo transformar a condenação de José Dirceu e outros pelo Supremo em um golpe contra o governo.

Ao mesmo tempo em que a situação da economia não dá sinais de melhora - a entrevista da presidente da Petrobras, Graça Foster, é um exemplo de como a politização da economia pode ter consequências graves -, o esgarçamento da base aliada é evidente na medida em que a expectativa de permanecer no poder vai ficando em risco.

O PMDB pretende usar o controle do Legislativo para fortalecê-lo diante do Executivo e do Judiciário, o que pode ser sinal de momentos mais atritados no relacionamento entre os três Poderes. O confronto com o Judiciário tem data marcada,e mais retórico do que prático pelo que disse ontem o novo presidente da Câmara, Henrique Alves, e pode ser superado pelo passar do tempo, pois somente a partir do segundo semestre deste ano estará encerrado o processo do mensalão. Saberemos então se a posição da Câmara é pura "especulação", como acha o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, ou se o confronto será um instrumento útil na ocasião para a afirmação do Legislativo.

Mas o relacionamento com o Executivo tende a ser mais conflitante no dia a dia, pois os novos presidentes da Câmara e do Senado pretendem superar o desgaste diante da opinião pública com medidas concretas que tirem os parlamentares da posição defensiva em que se encontram.

Além da tentativa de recuperar a iniciativa das ações políticas no âmbito congressual, porque sabe que os parlamentares só terão importância quando o Congresso for importante, o PMDB terá também que lidar com as manobras petistas com vistas à eleição presidencial de 2014. O partido está em posição de força para resistir à tentativa de tirá-lo da chapa presidencial, e está disposto a usá-la.

Fonte: O Globo

Berros n'água - Dora Kramer

Não faz jus à mediocridade do atual Congresso - notadamente da sessão legislativa que agora se inicia - a interpretação de que seus novos dirigentes desafiam o Supremo Tribunal Federal quando reivindicam para a Câmara a última palavra sobre a perda dos mandatos de quatro deputados condenados criminalmente.

Para que se configurasse um duelo seria preciso igualdade em estatura, autoridade e consistência de argumento.

"Queiram ou não queiram, a palavra final é da Câmara", asseverou o novo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, para gáudio de vários integrantes da Mesa Diretora que, no entusiasmo da vitória, aderiram à teoria de que uma sentença criminal da instância suprema da Justiça seja passível de revisão no Legislativo.

O presidente do STF e relator do processo que levou às condenações, ministro Joaquim Barbosa, foi de extrema delicadeza ao comentar o assunto, chamando de "especulações" as fanfarronices à deriva.

Barbosa disse o óbvio: o Supremo tem a palavra final sobre qualquer assunto constitucional sobre o qual a Justiça venha a ser instada a se manifestar. De onde não há confronto possível, pois não há duas partes dispostas a brigar.

Não obstante a evidência, o presidente da Câmara revidou: "Volto a dizer, para bom entendedor basta: vamos finalizar o processo, pois quem aprecia as formalidades legais é a Câmara, conforme pensaram quatro dos nove ministros na votação de cinco a quatro".

Pela lógica do deputado, no resultado de cinco a quatro prevaleceriam os quatro votos vencidos sobre os cinco vencedores. Não basta para nenhum tipo de entendedor, bons ou maus.

Acuado pela degradação da própria imagem, o Congresso faz pose de valente. Promete "crescer" para cima dos Poderes Judiciário e Executivo sob as asas dos quais se esconde. Vive agarrado nas barras da toga do tribunal por omissão, e na saia da presidente da República, por submissão.

Agora mesmo um deputado (Sandro Mabel) pede ao STF que anule o resultado da eleição do líder da bancada do PMDB porque ficou insatisfeito com a derrota para Eduardo Cunha.

Não é o único exemplo, embora seja o mais recente e estapafúrdio, de choramingo judicial no Parlamento que se diz usurpado.

Os berros que agora se ouvem têm a consequência dos tiros n'água. Primeiro porque o Legislativo não dispõe de instrumentos legais para descumprir decisão do STF; segundo, porque carece de condições morais para debater de igual para igual com o Judiciário devido aos débitos de suas excelências com a lei.

Diferenças. Na Espanha, o uso de caixa 2 no partido do governo (PP) rende escândalo que, a depender da evolução, pode resultar na renúncia do primeiro-ministro Mariano Rajoy.

No Brasil, o uso de caixa 2 é usado como argumento de defesa. Primeiro pelo então presidente da República, para justificar a distribuição de dinheiro a partidos aliados, e depois no julgamento do processo do mensalão pela banca de advogados que erroneamente embarcou na tese repudiada pelo Supremo.

Dilma real. Melhor seria se a Petrobrás não tivesse tido seu valor de mercado, sua produção e seus lucros drasticamente reduzidos em virtude do uso político, partidário e eleitoral da empresa.

Mas pior seria se não fosse agora presidida por alguém como Maria das Graças Foster, que prefere dizer as coisas como elas são a vender ilusões à toa.

Como subordinada do acionista majoritário da companhia não pode tudo, mas em muita coisa parece ser de fato a versão maquiada que o departamento de propaganda Planalto projeta para Dilma Rousseff.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Poeira alta - Tereza Cruvinel

Auxiliares de Dilma negam a troca do vice em sua chapa, invocando uma tradição: FH manteve Marco Maciel e Lula não trocou José Alencar

As eleições para as Mesas Diretoras do Congresso levantaram na base governista uma poeira que exigirá dos atores centrais muito uso do espanador. A disputa pelo cargo de líder rachou a bancada do PMDB, e, na cúpula, há suspeitas de que defecções no PT ajudaram a reduzir a votação de Henrique Eduardo Alves para presidente da Câmara. Os 271 votos recebidos lhe deram a vitória, mas a votação foi menor do que a esperada. Já os surpreendentes 165 votos recebidos pelo candidato do PSB, Júlio Delgado, são creditados ao empenho de uma dobradinha entre o governador de Pernambuco e presidente do partido, Eduardo Campos, e o senador e presidenciável tucano Aécio Neves (MG), o que aumentou a desconfiança petista. Por outro lado, as notícias de que o ex-presidente Lula teria sugerido a troca de Michel Temer por Campos, na chapa de Dilma à reeleição, deixaram a cúpula peemedebista em estado de alerta.

Começando pela bancada do PMDB, o racha opõe o grupo do líder eleito na Câmara, Eduardo Cunha, ao do candidato derrotado e segundo mais votado, Sandro Mabel. Cunha garante que o terceiro candidato, Osmar Terra, seus 16 eleitores e metade dos 32 deputados que votaram em Mabel já estão devidamente alinhados com sua liderança. Haveria agora só um choro de derrotado precisando de acalanto. “Pacificar a bancada é minha prioridade, mas isso está em curso e acontecerá naturalmente. A bancada sabe que agora será atuante e relevante”, diz ele, referindo-se à autonomia em relação ao Planalto. “Apoiamos o governo, mas prevalecerá sempre o pensamento da bancada”, diz ele.

Nos dois grupos, existe também algum ressentimento com o novo presidente da Câmara, que, sendo historicamente ligado a Cunha, preferiu corretamente a equidistância, não votando em nenhum dos três candidatos. Essa sequela no próprio partido aumenta a importância do apoio do PT à sua governança na Casa. Alves está propondo uma agenda ousada para a Câmara (objeto da próxima nota desta coluna), para a qual precisará da coalizão unida.

No PT, o líder José Nobre Guimarães assegura que a sua bancada votou maciçamente em Henrique, sem uma só defecção, honrando o acordo entre os partidos . “Primeiro, unificamos nossa bancada, distribuindo harmonicamente os postos que nos cabiam na Mesa e nas comissões. Se não tivéssemos dado 100% dos votos ao Henrique, poderia ter havido um incerto segundo turno. E lhe daremos todo apoio no esforço para restaurar o respeito e a relevância do Legislativo.” O PMDB quer mais um pouco: o prometido ministério para Gabriel Chalita e a certeza de que Temer não será rifado como companheiro de chapa de Dilma. Se Lula sugeriu mesmo a troca por Campos, auxiliares de Dilma dizem o oposto: se FH manteve o vice na reeleição, e Lula também, por que ela iria quebrar esta tradição, colocando em risco o apoio do aliado mais certo?

Já o governador de Pernambuco confirmou ontem sua ação a favor de Delgado, mesmo não mencionando a tal dobradinha com Aécio, que teria levado para o candidato socialista dois terços dos votos tucanos, embora o PSDB tenha declarado apoio a Henrique Alves, garantindo seu lugar na Mesa, segundo a regra da proporcionalidade. Fez jogo semelhante mas inverso no Senado: declarou apoio ao dissidente Taques, mas votou maioritariamente em Renan, garantindo o lugar na Mesa. Ontem em Brasília, Eduardo Campos afirmou que Delgado não venceu, mas que foram lançadas “boas sementes para o futuro”. Sementes que podem ser da concorrência com o bloco PT-PMDB, como da aliança PSB-PSDB. Ou as duas coisas. Como no ditado que os políticos apreciam tanto, tem vaca estranhando bezerro. No plural.

Henrique chama os governadores

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, telefonou ontem para cada um dos 27 governadores, convidando-os para uma reunião “muito rápida, objetiva e prática”, em 13 de março, em Brasília. A cada um, dizia: “Queremos enfrentar as pendências federativas que angustiam os estados e não encontram solução na área na área econômica do governo. Mas vamos ser práticos, enfrentando dois, três ou quatro problemas urgentes, no máximo, para votarmos o que for preciso até junho”. Ou seja, ele está puxando para a Câmara a solução das tensões federativas. Ele admite que o Congresso errou não aprovando em tempo a regra de partilha do FPE cobrada pelo STF, mas acha que isso só não basta. Quer começar ouvindo os governadores. A coluna de Denise Rothenburg, aqui no Correio, apresentou ontem suas duas outras agendas ousadas: tornar obrigatória a execução das emendas parlamentares ao Orçamento e estabelecer um rito e um fluxo para a apreciação dos vetos presidenciais, assegurando a palavra final do Congresso no processo legislativo. Uma boa agenda. Agora é implementá-la.

Líder do PT quer diálogo

O novo líder do PT, José Nobre Guimarães, quer a bancada brilhando no debate dos grandes temas nacionais. “Nós somos os principais intérpretes do projeto de mudança que o Brasil vive. Vamos praticar isso, contribuindo para a maior eficácia e produção do Legislativo”, diz o líder, que dividirá os deputados em grupos de estudo sobre os grandes temas da agenda atual: economia, políticas sociais, energia, infraestrutura, reforma política etc.

Outra prioridade dele é estabelecer um diálogo mais permanente e efetivo com a oposição. “Na democracia, a minoria deve ser ouvida, não suprimida. Temos diferenças, mas devemos buscar um ponto mínimo de convergência no interesse nacional. E há, na oposição, pessoas com abertura para isso”, diz ele, citando conversas preliminares que já teve com o líder tucano Carlos Sampaio e seu antecessor Bruno Araújo, e com os demistas Ronaldo Caiado e Mendonça Filho. Se isso prosperar, será uma brisa neste tempo de radicalização e intolerância.

Fonte: Correio Braziliense

Sobre o leviatã na linha do Equador - César Felício

Há pouco mais de 20 anos consolidou-se no debate político um lugar-comum: o bem estar econômico da população é a chave para se interpretar qualquer resultado eleitoral. A eleição presidencial dos Estados Unidos em 1992 consagrou o mantra do "é a economia, estúpido", obra do marqueteiro do ex-presidente Bill Clinton, James Carville.

A própria história eleitoral americana prova que a equação não é tão simples, como mostra a sucessão de Clinton em 2000. Houve naquele ano crescimento vigoroso da economia dos Estados Unidos, que se expandiu 4,1%, com uma taxa de desemprego de 3,9%, a menor nos últimos 32 anos. Não foi suficiente para a eleição do vice-presidente Al Gore.

Mais importante que a existência ou não de um panorama de bonança econômica, é o papel do governo como protagonista que garante sucesso nas urnas. O comando de turno se perpetua à medida que gerencia as oportunidades e coordena a distribuição de dinheiro no país.

Onde o gasto público disparou, o poder se eterniza

A dinâmica mostra mais do que a fotografia: em países latino-americanos em que a dimensão do Estado não se alterou durante a atual hegemonia partidária, limites constitucionais foram mantidos e movimentos continuístas não foram adiante.

Uma estatística do FMI ajuda a entender o fenômeno. A relação entre o aumento do gasto público sobre o PIB e o continuísmo parece quase automática na América Latina. A alternância é favorecida em países como Chile, Peru, México, Uruguai e mesmo Colômbia e Brasil e o continuísmo encontra campo fértil na Venezuela, Equador e Argentina.

Após a reeleição de Chávez em dezembro, o Equador caminha para garantir um novo mandato na próxima semana para o presidente Rafael Correa. Ainda há uma dúvida sobre se a aventura será ou não tentada pela argentina Cristina Kirchner. Mas já há um movimento " Cristina 2015" impulsionado por deputados, governadores, prefeitos e ministros.

Segundo o FMI, entre 2000 e 2012, o PIB do Equador apresentou variação positiva todos os anos, em um período em que o país teve cinco presidentes. Mas a curva do gasto público percentual sobre o PIB alavanca após 2006, quando Rafael Correa chega ao poder. Pulou de 23,5% para nada menos que 43,6% da economia equatoriana.

O mesmo fenômeno aconteceu na Venezuela, que apresentou quatro anos de recessão desde 1999. O gasto público se expandiu de 25,8% para 44,4% do PIB no período em que Chávez está no poder.

O aumento do protagonismo do governo também existe, de forma mais esmaecida, na Argentina do kirchnerismo. O peso do setor público central no PIB passou de 30,3% para 42,6% entre 2003 e 2012. A economia pode claudicar nestes países, mas o poder do governo central frente à economia como um todo é uma linha ascendente contínua.

No Chile, o crescimento econômico que tem marcado o país nos últimos 23 anos não deve fazer com que o presidente Sebastián Piñera faça seu sucessor na eleição presidencial de novembro deste ano. A reeleição no país nunca existiu e, pela segunda vez consecutiva, o favoritismo para se vencer uma eleição presidencial é da oposição.

A economia não guia os destinos políticos do país porque poucos chilenos relacionam sua evolução com o governo da ocasião. É um sentimento ancorado em fatos: o peso do setor público central chileno oscila entre 20% e 23% do PIB desde os anos 90.

Os gastos públicos em relação ao PIB também têm sido baixos no Peru (em torno de 20%) e no México (de 22% a 25%), outros dois países em que a continuidade não tem dado o tom no cenário político.

Nos países em que o gasto público é mais relevante, mas permanece relativamente estável nos últimos anos, a continuidade surge desacompanhada do personalismo. No Brasil, o gasto público sobre o PIB oscilou entre 40,7% e 39,5% no segundo governo de Fernando Henrique, e desde patamar a 38,1% em 2010, último ano de administração de Lula. De acordo com o FMI, em 2012 correspondeu a 37,3% do PIB. A discussão em torno de um terceiro mandato para Lula não foi para lugar nenhum e o então presidente elegeu sua sucessora.

É curioso observar que o mesmo padrão, em linhas gerais, se repetiu na Colômbia e no Uruguai. Na Colômbia, onde o gasto público sobre o PIB é da ordem de 28% desde os anos 90, Alvaro Uribe não conseguiu viabilizar um terceiro mandato e teve que ceder o lugar para Juan Manuel Santos em 2010, com quem rompeu logo em seguida.

No Uruguai, país em que a despesa do governo central é da ordem de um terço do PIB, sem grandes variações desde 1999, não existe a reeleição e o presidente José Mujica sucedeu o correligionário Tabaré Vasquez, seu provável sucessor na eleição presidencial de 2014.

A equação funciona na América Latina pela forma com que o gasto público se dá no continente. O papel do governo como protagonista é diferente do visto na Europa, onde há décadas governos como o da França gastam metade do PIB sem que a situação seja transposta para o ambiente político.

Entre os latino-americanos, até onde a precariedade das estatísticas permite enxergar, o avanço do setor público mais marcante não se deu nos países em que o gasto social predomina dentro das despesas do governo, como é o caso do Brasil em que 73,4% do orçamento do setor público era destinado à área social em 2009, de acordo com dados da Cepal, ou o Uruguai, país em que esta porcentagem chegava a 83,4% neste mesmo ano. No Equador, o gasto social cresce, mas representava apenas 26,3% das despesas públicas em 2010, segundo a Cepal.

É preciso se ressalvar, que, na maioria dos casos, decola-se de um patamar baixo. Os protagonistas latino-americanos do gasto público partem, em geral, de bases destruídas. Sequer a moeda sobreviveu a dez anos de caos político no Equador, no período anterior a Correa.

Fonte: Valor Econômico

Lá vem o Patto! – Urbano Patto

Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.

O lucro da Petrobras em 2012 não foi pequeno - R$ 21,182 bilhões - porém, comparado com o ano anterior, foi 36,3% menor.

Essa informação somada a diversas outras também não muito animadoras, tais como: a demora na implantação de novas refinarias; as incertezas tecnológicas e econômicas sobre a exploração do pré-sal, o represamento do preço dos combustíveis e a indefinição da legislação sobre os royalties levaram à queda acentuada do valor das ações da empresa.

Foram 8,29% num só dia, 5 de fevereiro, logo após a divulgação da imensa queda do lucro líquido. Nos últimos anos, após o entusiasmo da descoberta do pré-sal e a sua arrasadora utilização para o marketing eleitoral do governo, a empresa caiu em quase todos os rankings: das empresa petrolíferas, dos investimentos, do balanço entre as exportações e importações, do valor das ações, de credibilidade e de governança corporativa.

Fica cada vez mais claro a falta de seriedade no trato da sanidade econômica da empresa fazendo com que ela venha sendo utilizada como uma muleta para outras políticas do governo que necessariamente não tem ligação direta com sua vida empresarial.

Um exemplo muito claro é a sua proeminente presença no patrocínio do esporte de alto rendimento e eventos culturais de grande apelo considerando que disputa pouquíssimo mercado, nacional ou internacional, que pudesse ser incrementado por esse maciço investimento e pelo público para o qual é dirigido. Sem entrar nas possíveis maracutaias na concessão desses patrocínios e "apoios culturais". Não que não gostemos de esporte e cultura, mas porque financiá-los com petróleo?

Se a opção do Brasil foi consignar no setor petrolífero a liderança e operação do sistema para uma empresa, mesmo que estatal, foi para que seu trabalho fosse balizado pela lógica empresarial e de mercado, sendo o seu sucesso nessa empreitada o meio de reverter riqueza para o estado através de impostos, dividendos, melhoria da capacidade energética e de infraestrura do país, avanços tecnológicos nacionalizados, presença e competitividade no mercado internacional, etc.

O governo, ao ver a empresa fundamentalmente como um grande cofre de fácil acesso no qual vai buscar recursos que deveriam ser alcançados com a melhoria da gestão dos recursos próprios e na condução da política econômica, pode estar matando a galinha dos ovos de ouro negro.

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com

Inflação oficial sobe 0,86% em janeiro, maior alta em quase 8 anos

Em 12 meses até janeiro, o IPCA acumulou uma alta de 6,15%; problemas climáticos fizeram o grupo de alimentos subir 1,99%

Daniela Amorim

RIO - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,86% em janeiro, ante uma variação de 0,79% em dezembro, informou há pouco o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trata-se da maior variação mensal desde abril de 2005, quando o aumento foi de 0,87 por cento.

O resultado ficou dentro do intervalo das estimativas das instituições do mercado financeiro consultadas pelo AE Projeções, que iam de uma taxa de 0,77% a 0,90%, e acima da mediana, de 0,83%.

Em 12 meses até janeiro, o IPCA acumulou uma alta de 6,15%, acima do centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%.

Os preços dos alimentos não deram trégua neste início de ano e subiram 1,99%, puxando a alta de 0,86% na inflação medida pelo IPCA em janeiro.

A alta do grupo alimentação e bebidas ficou acima da taxa de 1,03% verificada em dezembro. O resultado foi um impacto de 0,48 ponto porcentual no IPCA, o equivalente a 56% da inflação do mês.

Segundo o IBGE, problemas climáticos reduziram a oferta de vários produtos, ocasionando fortes aumentos de preços. Os destaques foram o tomate (26,15%) batata-inglesa (20,58%), cebola (14,25%), hortaliças (10,86%) e cenoura (9,83%).

INPC

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,92% em janeiro, após ter registrado alta de 0,74% em dezembro.

Com o resultado, o índice acumulou uma alta de 6,63% em 12 meses, acima da taxa de 6,20% acumulada nos 12 meses anteriores. O INPC mede a variação dos preços para as famílias com renda de um a cinco salários mínimos e chefiadas por assalariados.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Índice de reajuste de aluguel sobe 0,41% na 1ª prévia de fevereiro

Alta do IGP-M ficou acima das expectativas das analistas; Até a primeira prévia de fevereiro, o índice acumula aumentos de 0,75% no ano e de 8,42% em 12 meses

Glauber Gonçalves

RIO - A primeira prévia do IGP-M de fevereiro mostra que a inflação subiu 0,41%, mesma variação registrada em igual prévia de janeiro. A informação foi divulgada, nesta quinta-feira, pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A taxa ficou acima do teto das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo AE-Projeções, que esperavam uma alta variando de 0,10% a 0,35%, com mediana das expectativas em 0,21%.

A FGV informou ainda os resultados dos três indicadores que compõem a primeira prévia do IGP-M de fevereiro. O IPA-M teve alta de 0,37% na primeira prévia do índice este mês, em comparação à alta de 0,46% na primeira prévia de janeiro. Por sua vez, o IPC-M apresentou alta de 0,20% na prévia anunciada nesta quinta-feira, após subir 0,40% na primeira prévia de janeiro. Já o INCC-M teve elevação de 1,15% na primeira prévia deste mês, após registrar aumento de 0,08% na primeira prévia de janeiro.

O IGP-M é muito usado para reajuste no preço do aluguel. Até a primeira prévia de fevereiro, o índice acumula aumentos de 0,75% no ano e de 8,42% em 12 meses. O período de coleta de preços para cálculo da primeira prévia do IGP-M de fevereiro foi de 21 a 31 de janeiro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ano não começa bem e pedidos de falência entre micro e pequenas empresas cresce 60%, segundo Serasa

Dados divulgados pela Serasa Experian mostram os reflexos da desaceleração da economia

O ano não começou nada bem para os donos de pequenos e médios empreendimentos. De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, dia 7 de fevereiro, o número de falências pedidas por micro e pequenas empresas em janeiro deste ano foi 60% maior em relação ao movimento observado no mesmo mês do ano passado. Foram 112 pedidos em 2013 contra 70 em 2012. No caso das médias empresas, a situação permaneceu estável - houve alta de apenas um caso - de 31 para 32 pedidos.

O problema das médias empresas diz respeito às falências decretadas. Em janeiro deste ano, foram 12 pedidos - em janeiro do ano passado foram apenas três. No caso das micro e pequenas empresas, também houve alta neste quesito - os números pularam de 29 para 34 falências decretadas.

A alta atinge até mesmo os pedidos de recuperação judicial entre micro e pequenos empreendimentos, que saltaram de 42 solicitações para 72 pedidos - também observando a mesma comparação entre janeiro deste ano e o mesmo mês de 2012.

Essa alta, de acordo com os técnicos da Serasa Experian, tem a ver, ainda, com o reflexo do cenário adverso enfrentado no ano passado - desaceleração do crescimento econômico e aumento da inadimplência do consumidor.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Preço da cesta básica sobe mais de 10% em cidades do Nordeste

Márcia De Chiara

Arroz, feijão e farinha, o prato típico do brasileiro pobre que vive no Nordeste, além do to-mate, foram os vilões do custo da cesta básica em janeiro. No mês passado, os preços da cesta básica, que engloba 13 alimentos, subiu em todas as 18 capitais pesquisadas pelo De-parlamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A cesta é calculada a partir do mesmo grupo de produtos, mas em cada capital é atribuído um peso diferente para cada item, de acordo com o hábito de consumo local.

A maior alta foi registrada na cesta básica de Salvador, de 17,85%, seguida por mais duas capitais do Nordeste, Aracaju (13,59%) e Natal (12,48%), além de Brasília (11,30%). A posição de destaque das capitais nordestinas, com variação mensal na casa de dois dígitos, foi provocada pela alta da farinha de mandioca, alimento básico da região, cuja produção foi afetada pela seca.

O preço da farinha de mandioca subiu 66,67% em Salvador; 36,50%, em Natal e 35,38% em João Pessoa em janeiro. "A seca afetou a produção de mandioca e houve aumento na demanda regional", afirma Fernando Adura Martins, economista do Dieese.

O feijão também foi outro vilão da cesta básica e subiu em 16 das 18 capitais pesquisadas. João Figueiredo Ruas, técnico de Planejamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), diz que problemas climáticos afetaram a produção da primeira safra que está sendo colhida, os estoques do governo são baixíssimos, cerca de 2 mil toneladas e o abastecimento está "da mão para a boca".

"Normalmente em janeiro os preços do feijão caem por causa da entrada da safra, mas, neste ano, esse movimento não está ocorrendo porque o produto é escasso", diz Ruas. Segundo ele, os preços do feijão devem continuar pressionados por algum tempo porque muitos produtores substituíram o feijão pelo milho no plantio da safrinha em janeiro.

No caso do arroz, o preço do cereal subiu em 12 de 18 capitais pesquisadas. Em Aracaju, por exemplo, aumentou 14,17% em janeiro, seguida por Florianópolis (13,68%).

Elcio Bento, analista sênior da consultoria Safras & Mercado, explica que essa pressão de preços ainda reflete a explosão da cotação dos grãos no mercado internacional no segundo semestre do ano passado. No rastro da soja e do milho, o preço do arroz que também é cotado na Bolsa de Chicago, acompanhou a alta das duas outras commodities e foi influenciado pela redução de produção nos países do Mercosul e pela alta do câmbio, já que parte do grão é importada de países vizinhos.

Além disso, como hoje a colhei¬ta de arroz está no início e os estoques de passagem no País estão muito baixos e somam 1,6 milhões de toneladas, a tendência é de que os preços se mantenham num patamar alto, mesmo com a entrada da safra, prevê Bento.

Tomate. Já o caso do tomate é diferente. O preço do produto subiu em todas as capitais pesquisadas e as altas foram expressivas.

Em Aracaju, por exemplo, o preço mais que dobrou (104%). Martins, do Dieese, destaca que o produto foi afetado pelos excesso de chuvas, que normalmente afeta a colheita de itens innatura em janeiro, Mas, ao contrário do arroz, do feijão e da mandioca, como o tomate tem um ciclo menor de produção, a oferta deve se regularizar em breve.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, acredita que o pico de preços dos alimentos in natura foi em janeiro. Para o arroz e o feijão, cujos preços ainda estão sendo afetados pela quebra da última safra, ele prevê um cenário de cotações pressiona¬das até o final de março, quando maior volume de produto entra no mercado e o preço cai.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Crítica interna - Míriam Leitão

A entrevista do ex-ministro Delfim Netto ajuda no debate sobre os erros da política econômica. Ele escolheu a delicada palavra "tropeços" para falar das várias trapalhadas sequenciais do governo, que vão das normas dos leilões de infraestrutura às estranhas operações fiscais, para dar a impressão de cumprimento de metas, até as ambiguidades da política cambial.

A entrevista foi concedida a Érica Fraga, da "Folha de S.Paulo". O ex-ministro, que sempre foi uma voz em defesa das empresas, critica até a política que foi inspirada no governo militar: a escolha de "campeões" pelo BNDES, ou seja, empresas escolhidas para receberem generosos empréstimos subsidiados. O banco acha que a concentração das empresas as farão mais fortes e capazes de competir no mercado internacional. Não é o que pensa Delfim Netto.

"Não é uma política das mais inteligentes, formar oligopsônios e oligopólios com recursos do Tesouro, porque é óbvio que não são instrumentos eficientes no processo competitivo. São contra a competição." (Oligopólios são poucas empresas fornecendo um produto, oligopsônio é a concentração de compradores).

O ex-ministro lembrou que essa política não começou no governo Dilma, vem do governo Lula. A crítica tem endereço certo: o presidente Luciano Coutinho, que assumiu em 2007 convicto de que é preciso induzir, financiar e virar sócio na concentração de setores.

Na política cambial, o ex-ministro criticou a mudança recente de tendência. O dólar tinha subido até R$ 2,13, o ministro da Fazenda ainda dizia que havia defasagem, mas o BC entrou derrubando a cotação para atenuar o impacto inflacionário. Esse mudança brusca de tendência espalhou prejuízos. Inúmeras empresas com dívidas em dólar, diante da alta da moeda americana, compraram proteção contra o risco de elevação ainda maior da moeda, ou seja, fizeram hedge. Como o BC deu o sinal oposto e derrubou a cotação, elas estão amargando enorme prejuízo. "Quando o governo faz uma intervenção intempestiva no câmbio, aquelas pessoas que tomaram risco de acreditar na política de desoneração e de câmbio entraram em estado de estresse". Acha que isso não só não ajudou a inflação, como "produziu uma dificuldade na credibilidade do governo". Segundo Delfim, "não se pode estressar mais o setor industrial".

Delfim sempre teve nos industriais paulistas seu apoio, quando ministro, e sua base política, quando conquistou mandato. O que se pode entender do que está falando é que não há convencimento, por enquanto, do setor empresarial para investir, o que torna mais difícil a volta do crescimento.

Em um dos pontos de crítica, o governo deu sinal de mudar. É a forma do leilão de investimento em infraestrutura. Delfim disse que o governo não pode fixar alta qualidade e um preço baixo, porque do contrário "o mercado vai responder com a porcaria que cabe dentro da taxa do retorno". Ontem, o governo elevou a taxa.

Durante algum tempo, o discurso oficial era que estava fazendo uma privatização - não se usa essa palavra - melhor do que outros governos porque os preços seriam baixos. Agora, o governo está numa situação em que as obras não saem, houve aumento de subsídio e de presença estatal. Mesmo assim, teve que rever a taxa de retorno para viabilizar algum investimento.

Delfim criticou a "operação quadrangular" entre Tesouro-BNDES-Caixa Econômica, para esconder o não cumprimento da meta fiscal. Disse que isso foi "exagerado", "diminui a credibilidade do governo" e "passou a ideia de que o governo não sabe o que está fazendo".

Depois de tudo isso, o que sobrou? Bom, a inflação está sob controle, o Brasil tem boas instituições, e o país reduz a desigualdade. Além do mais, foi correta a redução dos juros, a mudança na poupança e a queda do custo de energia. Delfim tem sido um interlocutor da presidente. É curioso que esteja fazendo públicas críticas tão ácidas - e certeiras - como tem feito.

Fonte: O Globo