sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA - José Serra: fracassos e sucessos

O PT inventa o que não houve para esconder o que houve. Em seus dez anos no poder, os fracassos do partido são um sucesso. Nunca antes na história deste país a incompetência foi tão orgulhosa, tagarela e influente. Nestes três mandatos, chega a ser comovente a constância com que desprezaram todas as qualidades dos seus adversários, sem deixar de invejar um só defeito."

José Serra, ex-governador de S. Paulo. O Estado de S. Paulo, 21/2/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Escândalo no Vaticano: Papa mandou investigar rede de sexo e corrupção
Após Dilma e Aécio, a vez de Campos
Bancos públicos avançam no país
Gol mudará seus voos amanhã
Entrevista: Medvedev:Rússia não é autocracia

FOLHA DE S. PAULO
Governo dará recursos para
banco privado financiar obra
Com juro baixo, Banco do Brasil ganha cliente e amplia lucro
Eduardo Campos critica campanha precoce e 'rinha' entre PSDB e PT
Ex-assessor de Agnelo é acusado de espionagem
Atentado no centro de Damasco deixa 53 mortos na Síria

O ESTADO DE S. PAULO
Brasil se omitiu sobre direitos humanos em Cuba, diz Yoani
Eduardo Campos busca palanques para 2014
Aécio pronto para o embate
Banco público amplia crédito e tem lucro recorde no ano

VALOR ECONÔMICO
Economia reaqueceu em janeiro
Ferrovia no NE tem contrato renegociado
Obras na terra dos pinguins
Pacote retoma política para abastecimento
Abilio Diniz é indicado para a BRF
Venda de ativos emperra na Petrobras

BRASIL ECONÔMICO
Gastos com a geração de energia térmica vão chegar a R$ 4 bilhões
Juro baixo garante lucro recorde de bancos públicos
Fundo de pensão do Legislativo sairá do papel em breve
Campanha na rua
Dinheiro é cultura

CORREIO BRAZILIENSE
Salário dos novos marajás do DF chegará a R$ 31 mil
Todo mundo já se movimenta de olho em 2014
UTI da morte será investigada
Aposentadoria adiada terá o valor reajustado

ESTADO DE MINAS
Deputado emprega vereadores
Proposta mineira: Fiscalização de boates terá lei mais clara
Laticínios: Vigor compra 50% da Itambé por R$ 410 mi

O TEMPO (MG)
Detentos da Nelson Hungria fazem dois reféns em rebelião
Justiça decreta bloqueio de bens de Valério
Meta de inflação `não é realista´

GAZETA DO POVO (PR)
Estoque recorde gera “liquidação de imóveis”
Jornalismo perde Mussa José de Assis
Uma menina no fim do mundo
Após escândalo, Evangélico muda a equipe da UTI
Câmara aprova crédito pedido por Fruet
Yoani critica ‘silêncio’ de Dilma sobre direitos humanos em Cuba

ZERO HORA (RS)
Ofensivas de PT e PSDB precipitam a campanha
Medo na UTI: Em bilhete, paciente diz que tentaram matá-la
Incêndio em Santa Maria: Polícia ouve bombeiro que deu alvará à boate

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Eduardo anuncia pacote de bondades em reunião com prefeitos

Ofensivas de PT e PSDB precipitam a campanha

A mais de um ano e meio das eleições, atos de petistas e tucanos antecipam disputa entre Dilma e Aécio Neves. Eduardo Campos e Marina Silva correm por fora.

Campanha de 2014 já começou

A quarta-feira que passou não estava no calendário eleitoral de 2014 – ao menos no oficial. Mas estava no dos principais partidos do país, PT e PSDB. As duas legendas escolheram esse dia para lançar as bases de suas candidaturas à corrida presidencial.

Embora falte mais de um ano e meio para a eleição, a estratégia de petistas e tucanos já é nítida: polarizar a disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, ainda que, para a oposição, rachas na base governista sejam importantes. Outros dois nomes correm por fora, mas, daqui para a frente, tendem também a disputar a atenção do eleitor. A campanha já está no ar.

De um lado, a sacada foi de Lula, da cúpula petista e dos estrategistas do partido: aproveitar o aniversário de 33 anos da legenda e dos 10 anos de poder para dar a largada da reeleição da presidente Dilma Rousseff.

De outro, a perspicácia foi de Aécio Neves (PSDB-MG), senador e principal nome da oposição para enfrentar a petista no ano que vem: não deixar o PT brilhar sozinho e marcar sua disposição de enfrentar o grupo político que ganhou os últimos três pleitos.

Tudo isso aconteceu na quarta-feira, dia que marcou o início da campanha de 2014.

O encontro petista ocorreu em São Paulo e, além de lançar Dilma, cumpriu outros dois objetivos: afastar a sombra de uma candidatura de Lula, hipótese que poderia enfraquecer a presidente, e sinalizar a plataforma dela à reeleição. Na mesma semana em que divulgou a ampliação do Bolsa Família para acabar com a pobreza extrema no país, beneficiando 2,5 milhões de pessoas, a presidente apresentou um slogan com potencial para vender a ideia de que precisa de mais quatro anos de poder: "O fim da miséria é apenas um começo".

O PT também está preocupado em forçar o contraste entre as gestões do partido e o governo Fernando Henrique Cardoso. Em uma cartilha de 15 páginas produzida para o evento, a legenda enaltece os resultados obtidos desde 2003 e sustenta a tese de que o país tem passado por uma reviravolta econômica e social histórica.

Por outro lado, o mensalão foi tratado como página virada. Não houve ato oficial de desagravo aos líderes condenados pela Justiça, nem convite para que eles ocupassem a mesa principal.

Quem estava ao lado de Dilma e de Lula eram os presidentes dos partidos aliados, em uma demonstração de unidade que reuniu até o vaiado Gilberto Kassab (PSD). A presidente tem hoje o apoio de 11 siglas.

"Heranças" são alvo dos debates

O evento de Dilma contrastou com o ato tucano. Aécio usou a tribuna do Senado para fazer o contraponto à festa petista e foi duro nos ataques. Ao listar os "13 fracassos" do governo dos adversários, sinalizou o tom de sua campanha: oito dos 13 itens tratavam de temas econômicos, como a falta de crescimento e o sucateamento da indústria. O restante tratou de temas do cotidiano, como a "insegurança" e o "descaso na saúde".

Ontem, a briga continuou no Senado, com troca de acusações sobre as "heranças" dos governos Lula e Dilma e da administração tucana. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que as palavras de Dilma ao afirmar que não "herdou nada" representam a "arrogância" dos governos do PT:

– É uma versão exagerada do nunca antes neste país, é uma hipérbole da arrogância, autossuficiência que em muitos casos resvala pela bazófia, que muitas vezes o presidente Lula ao seu tempo se expressou.

Já o senador senador Jorge Viana (PT-AC) acusou os tucanos de esconder FH nas últimas eleições:

– Sempre cobrei do PSDB: defendam seu líder. O PSDB vai fazer programa de TV, vai fazer campanha política e não toca no nome dele. Não é mais um grande eleitor.

Um dia depois, Campos faz anúncio

O governador Eduardo Campos (PSB) não nega nem confirma a candidatura à Presidência, mas deixou claro ontem que se mantém atento aos movimentos nacionais.

Um dia depois dos atos de PT e PSDB, anunciou que vai investir, neste ano, um extra de R$ 228 milhões nos 184 municípios pernambucanos. Foi aplaudido de pé pelos participantes de um seminário, sob alguns gritos de "é presidente". Campos foi chamado de "liderança emergente do nosso povo", mas preferiu não dar conotação eleitoral ao pacote:

– Tudo o que o Brasil não precisa é estar montando palanque.

Sobre a reedição da polarização PT-PSDB, disse que "ninguém tem capacidade de dizer como será 2014 nem que a polarização será assim ou assado".

Fonte: Zero Hora (RS)

Após Dilma e Aécio, a vez de Campos

Um dia após o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) com críticas ao PT e da festa em que Lula lançou Dilma à reeleição, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), criticou a "eleitorização" (sic) da política. Ele, no entanto, foi saudado por prefeitos que foram a Recife receber R$ 612 milhões do estado aos gritos de "presidente"

Eduardo entra em campo

Governador pede fim das "velhas rinhas" e é aclamado por prefeitos aos gritos de "presidente"

Letícia Lins

Recado. Campos: "Ninguém tem capacidade de dizer como vai ser a polarização em 2014. Ninguém se engane"

GRAVATÁ, PE - Um dia depois da antecipação do debate eleitoral - quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu a reeleição da presidente Dilma Rousseff, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) atacou a gestão petista -, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial candidato à sucessão presidencial em 2014, pediu ontem que não se "eleitorize" (sic) tanto a política brasileira e sugeriu que não se mantenham as "velhas rinhas", numa referência ao antagonismo PT x PSDB, que em nada contribuiriam para o futuro do povo brasileiro. Ele fez os comentários durante entrevista ao fim de cerimônia com 184 prefeitos pernambucanos, no seminário "Juntos por Pernambuco", no município de Gravatá, a 80 quilômetros da capital. E, apesar de seu discurso, acabou também em ritmo de pré-candidato: foi interrompido seis vezes por aplausos e aclamado aos gritos de "presidente", além de anunciar um pacote de bondades de R$ 612 milhões para as prefeituras.

Na quarta-feira, quando os petistas festejavam em São Paulo uma década no governo federal, Aécio Neves discursou em Brasília acusando o PT de ter paralisado o país, e os governos Lula e Dilma de terem acabado com a "herança bendita" deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eduardo Campos não quis comentar a polêmica entre petistas e tucanos, mas criticou a antecipação da campanha.

- Acho que este é um ano complexo para o Brasil. Tudo que o país não precisa é estar montando palanque, manter essa velha rinha, discutindo o passado, coisas que não dialogam com a pauta do povo - afirmou. - A população está preocupada. O Brasil não cresceu no ano passado como se esperava, a gente tem que ajudar a presidente Dilma, ajudar a levar o país ao seu reencontro com o crescimento, que gera felicidade, oportunidade. Não é preciso "eleitorizar" tanto a política brasileira assim. Sinceramente, não vejo como ajudar o Brasil começando uma campanha eleitoral agora - completou.

No entanto, em seu discurso, Campos mostrou conquistas de sua gestão e prometeu avançar mais do que o país, em áreas estratégicas, como educação e saúde:

- Vamos colocar Pernambuco na melhor situação no que diz respeito à redução da mortalidade infantil no Nordeste e no Brasil. E estamos nos preparando para na próxima década darmos aos pernambucanos a melhor educação pública do país - prometeu. O governador apresentou, ainda, os resultados do Pacto pela Vida, programa do governo para a redução da violência que diminuiu o índice de homicídios em 24% no estado e em 48% em Recife, no período de cinco anos.

- É o único estado que acusa essa redução no Nordeste - vangloriou-se.

Em seguida, Campos anunciou o pacote de R$ 612 milhões para beneficiar os municípios de Pernambuco, dos quais R$ 228 milhões virão da criação de um Fundo de Desenvolvimento Municipal, que deverá beneficiar, inclusive, as prefeituras com pendências financeiras ou jurídicas e que não teriam acesso a novos recursos públicos. O dinheiro será a fundo perdido.

- São recursos que conseguimos cortando a despesa ruim, o custeio, que nos proporcionou uma economia de R$ 400 milhões, que nos ajudará a fazer investimentos para enfrentar a crise - afirmou. - Quantos aos R$ 278 milhões, serão transferidos aos municípios, sem burocracia, sem papelada, mas com controle da qualidade dos gastos - acrescentou.

No encontro, o governador voltou a reclamar do modelo tributário que penaliza estados e municípios, e lembrou que, para driblar as distorções, Pernambuco conta com legislação estadual que permite acesso a maiores cotas do Fundo de Participação dos Municípios por parte de cidades pequenas, principalmente no agreste e no sertão.

Apesar de ter sido chamado de presidente várias vezes durante o evento, ele preferiu desconversar em matéria de sucessão presidencial, embora esteja planejando visitar até dezembro todos os estados brasileiros.

- Sinceramente, este é um ano para cuidar do trabalho, da pauta da sociedade. A pauta real do povo é esta aqui. E acho que ninguém tem essa capacidade de dizer como vai ser em 2014 ou definir como vai ser a polarização, se vai ser assim ou assado. Ninguém se engane - advertiu.

Fonte: O Globo

Eduardo Campos busca palanques para 2014

O governador Eduardo Campos (PSB) apressa a montagem de palanques estaduais para sustentar possível candidatura à Presidência. A ex-corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon foi convidada a ingressar no PSB e disputar o governo da Bahia. No RS, Albuquerque pode ser levado a concorrer ao Estado.

Com PT e PSDB já em campanha, Campos começa a montar palanques

João Domingos, Felipe Recondo

BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, apressou a montagem de palanques estaduais para dar sustentação a uma possível candidatura dele à Presidência da República em 2014. Um emissário de Campos procurou Eliana Calmon, ex-corregedora nacional de Justiça e ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e propôs o ingresso dela no PSB, com duas alternativas: disputar o governo da Bahia ou uma cadeira do Senado.

A Bahia é o quarto colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo, Minas e Rio, com 10,1 milhões de eleitores. Lá Dilma Rousseff obteve 70% dos votos na eleição de 2010. Eliana Calmon não deu ainda uma resposta, mas aliados da ministra admitem, nos bastidores, que ela está tentada a aceitar oferta. Quando corregedora, Calmon negou a intenção de concorrer a algum mandato. Caso obtenha êxito no eleitorado baiano, Campos poderá medir forças com o governador Jacques Wagner (PT), que saiu da eleição municipal chamuscado pela derrota para ACM Neto na Capital, Salvador. Wagner sonha em ser candidato à Presidência em 2018, ano em que Eduardo Campos certamente o será, independentemente dos passos que o pernambucano dê em 2014.

De acordo com a avaliação de Eduardo Campos, verbalizada por seu emissário, Eliana Calmon poderia ser uma alternativa pós-carlismo e pós-PT na Bahia. Ela chegou ao STJ apadrinhada pelo então senador Antonio Carlos Magalhães (DEM) e é amiga pessoal de Jaques Wagner. Mas alçou voo próprio e notoriedade com um discurso anticorrupção quando comandou o CNJ. Ela usou os termos "bandidos de to¬ga" e "vagabundos" ao referir-se a colegas magistrados suspeitos de corrupção.

O PSB nacional aposta no espaço para o surgimento de um novo nome na Bahia, uma espécie de surpresa capaz de agradar a uma gama distinta de eleitores baianos e dar força ao partido no Nordeste numa eventual disputa com o PT.

A ideia do PSB é lançar os seis governadores à reeleição e número igual ou maior de candidatos viáveis em outros Estados em 2014.

Força política. Ausente na festa de comemoração dos 33 anos do PT e dez à frente do governo federal, realizada anteontem, em São Paulo, Campos tem aproveitado todo o tempo de que dispõe para trabalhar o fortaleci¬mento do PSB, o partido que mais cresceu nas eleições para prefeito.

Na festa petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Co¬brado por Dilma há pouco mais de um mês sobre o apoio à sua reeleição, Campos respondeu que preferia não discutir ainda a sucessão de 2014. Mas prometeu fidelidade do PSB a Dilma ao longo deste ano.

Palanques. A movimentação do presidente do PSB é intensa. Por ora candidato ao Senado, o líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque, pode ser levado a concorrer ao governo do Rio Grande do Sul em nome do projeto nacional.

Campos já conversou também com o senador Pedro Taques (PDT) sobre uma possível candidatura ao governo de Mato Grosso no ano que vem, em dobradinha com o PSB. Há ainda a possibilidade de o PSB apoiar Jo¬sé Riva, do PSD de Gilberto Kassab, se Taques recusar o acordo.

Em Brasília, o partido do go¬vernador de Pernambuco já rompeu a aliança com o PT. Com isso, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) deverá ser candidato à sucessão do governador Agnelo Queiroz (PT). E, assim como acontece no Mato Grosso, o PSB quer atrair o PDT para a sua aliança. A ideia já discutida entre Rollemberg e Campos é oferecer a vaga de senador para José Antonio Reguffe, o deputado mais votado do Distrito Federal. A ex-ministra Marina Silva também já fez acenos a Reguffe, mas a tendência dele é ficar ao lado de Rollemberg e de Eduardo Campos.

Rio e São Paulo. Se em São Paulo o PSB ainda não tem uma clara noção das alianças que fará, no Rio Eduardo Campos se move, neste momento, em direção ao senador Lindbergh Farias, do PT. Mas esse apoio só ocorreria se Campos desistir de disputar a eleição em 2014, adiando suas pretensões para 2018. Aí, segundo os socialistas, ele poderia contar com a ajuda de Lindbergh para ser o cabeça de chapa no lugar de um petista, o que já vem sendo defendido por Lula, pelo governador de Sergipe, Marcelo Déda, e pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência).

Déda acha que o PT deve procurar Campos para saber dele o que de fato pretende e propor, francamente, que ele deixe de lado as pretensões relativas a 2014 e se dedique a 2018. Se a conversa com Campos não for favorável, o próprio Déda poderá disputar o governo de Sergipe com o senador Antonio Carlos Valadares (PSB). Próximo de Campos, Valadares será candidato se o presidente do PSB decidir concorrer à Presidência em 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos critica as "rinhas políticas"

Sem citar o PT ou o PSDB, que anteontem anteciparam o debate eleitoral, o governador, apontado como presidenciável do PSB, condenou a montagem de palanques

Débora Duque

GRAVATÁ - Um dia depois da antecipação do debate eleitoral - quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu a reeleição da presidente Dilma Rousseff, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) atacou a gestão petista -, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial candidato à sucessão presidencial em 2014, pediu ontem, durante o encontro com os prefeitos pernambucanos, em Gravatá (Agreste do Estado), que não se "eleitorize" (sic) tanto a política brasileira.

Apesar do clima político favorável, criado no evento com os prefeitos, Eduardo voltou a fugir dos questionamentos sobre sua possível candidatura a presidente, em 2014. Sem fazer menções diretas ao PT ou PSDB, afirmou, porém, que o País está cansado das "velhas rinhas políticas". "Estamos enfrentando um ano difícil e tudo que o Brasil não precisa é estar montando palanque nem dessa velha rinha, discutindo o passado, coisa que não é a pauta do povo", disse.

Em seguida, sinalizou que o cenário eleitoral de 2014 não ficará restrito à polarização PT-PSDB. "Ninguém tem essa capacidade de definir a polarização em 2014. Ninguém se engane que há uma mudança efetiva ocorrendo na vida pública brasileira", afirmou.

A declaração foi dada um dia depois a briga entre petistas e tucanos no noticiário político devido ao ato comemorativo dos 10 anos de governo do PT no País e o discurso contrário do senador Aécio Neves no Congresso Nacional.

"A sociedade necessita ver outro debate político. Eu vou fazer esse debate que eu acho que é o correto. Cada um faz o debate que pode e o que acha correto", acrescentou o governador.

Pacto federativo

Durante o evento de ontem, Eduardo aproveitou para defender, mais uma vez, a revisão do pacto federativo e tecer críticas ao modelo atual. Aos prefeitos, ele apresentou, em powerpoint, um resgate histórico sobre as mudanças ocorridas nos critérios de repartição de recursos.

Embora o tema incomode o Palácio do Planalto, Eduardo procurou enfatizar, em seu discurso, que as distorções não foram criadas por quem está no governo atualmente.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Crítica de Dilma à oposição em discurso foi para agradar ao PT

Segundo interlocutores, presidente não deve repetir o tom "nós x eles"

Júnia Gama

BRASÍLIA - Apesar de ter apostado no antagonismo PT X PSDB em seu discurso no evento de comemoração dos 33 anos do PT na última quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff não deve tornar esse tom de rivalidade recorrente em suas falas. Interlocutores de Dilma afirmam que o discurso na ocasião foi modulado para atender o público interno - a militância petista - e afastar o "queremismo" em torno da figura do ex-presidente Lula, reforçando que ela é a candidata em 2014. O tom não deverá ser repetido nos próximos meses nas aparições públicas da presidente.

Dilma Rousseff, que no início de seu governo fez gestos de aproximação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entoou o discurso "Nós x Eles", uma marca do marqueteiro João Santana. Ela foi convencida pela cúpula petista que era importante reforçar sua candidatura à reeleição para que Lula possa dar início a seus "road shows" pelo Brasil sem essa dúvida no ar.

Em uma de suas falas, Dilma afirmou que "ao lado do som alegre e comemorativo de milhões de pessoas", que estariam felizes com as políticas do governo, "escutamos alguns ecos dissonantes, com timbre do atraso", em referência à oposição, especialmente a tucana.

O ato foi proposto a Dilma pelo próprio Lula e pelo presidente do PT, Rui Falcão, em dezembro, durante o evento dos catadores em São Paulo. A presidente concordou e deu o sinal verde para os preparativos. Embora não tenha gostado do tom do encontro, a presidente concordou em fazer ontem essa fala mais enfática, mas já adiantou que não pretende manter essa linha nas próximas aparições públicas. E deverá até mesmo evitar comparecer a eventos do PT.

Embate direto será evitado

O modelo de seus discursos, que não deixarão de ter o componente eleitoral, claro, será mais parecido à fala dela na televisão sobre o corte de energia elétrica - com críticas sem exasperação ao governo tucano, e evitando um embate mais violento com o PSDB.

Até porque, segundo versão disseminada por pessoas próximas à presidente, a maior preocupação dela e do PT não são os tucanos e Aécio Neves, mas, sim, o PSB de Eduardo Campos. É o governador de Pernambuco quem tira o sono de Dilma com a possibilidade de enfrentar um segundo turno, já que os petistas consideram Eduardo Campos uma figura mais consistente que o senador mineiro.

O governador de Pernambuco, que acompanha com atenção os passos dos possíveis adversários em 2014, avaliou que os discursos tanto de Dilma, quanto de Aécio, pecaram pela falta de novidade. Segundo diziam ontem aliados do governador, Campos defendeu que o discurso "para trás", privilegiando a rivalidade entre os dois partidos, deveria ser superado e novas propostas apresentadas. E é justamente o que o governador pretende fazer até o final do ano, evitando o desgaste de embates diretos com seus potenciais concorrentes.

Fonte: O Globo

Petistas e tucanos festejam ofensivas rumo a 2014

Enquanto Aécio acha que levou Lula e Dilma ao ringue, PT considera que saiu do corner

Maria Lima, Fernanda Krakovics

BRASÍLIA - No PT, no governo e no Congresso não se faz mais segredo que a campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff já está na rua, tanto que ontem já incendiou as tribunas, com troca de farpas de dois lados envolvidos na disputa. Além de deixar claro que Dilma é candidata à reeleição, e não Lula, e de fazer um chamado aos aliados para manter a coalizão que a elegeu em 2010, o governo e o PT consideraram a festa de anteontem em São Paulo importante para criar agenda positiva diante do baixo crescimento da economia, da pressão inflacionária e dos resultados ruins da Petrobras. Entre os tucanos, o clima também era de comemoração por considerarem que o discurso do senador Aécio Neves (MG) levou Lula e Dilma para o ringue.

- O ato serviu para sairmos do córner. Sempre tivemos orgulho de nossas lideranças, ao contrário do PSDB. Não foi o PT que tentou esconder o presidente Fernando Henrique. A agenda que vivemos no ano passado ficou pra trás - disse o senador Jorge Viana (PT-AC), numa referência indireta ao julgamento do mensalão.

Ao avaliar a virulência dos discursos de Dilma e Lula na festa petista, respondendo diretamente aos "13 fracassos do PT" que ele citou em seu discurso, Aécio Neves disse ter ficado claro que incomodou:

- Eu soube que irritou muito a presidente Dilma o fato de eu dizer que hoje quem governa o Brasil é a lógica da reeleição. O fato é que morderam a isca. E nem acho que foi em função do meu discurso. O PT tem uma relação conflituosa com o PSDB. Lula tem muita dificuldade em reconhecer o passado. Agora Dilma se curvou ao palanquismo do PT - atacou o tucano.

Já o que mais incomodou os tucanos, foi Dilma dizer, no discurso, que os governos petistas não herdaram nada - respondendo à fala de Aécio sobre a herança bendita do governo FHC - e que tinham construído tudo.

- Do ponto de vista da economia, é uma inverdade Dilma dizer que não herdou nada, que construíram tudo. Onde está a presidente que quando assumiu reconheceu os avanços do passado? Assim como FHC herdou a concepção do Plano Real de Itamar, eles herdaram os pilares da estabilidade econômica, sim, os pilares dos programas sociais, sim. Contra fatos não há São João Santana que dê jeito - reagiu Aécio, estocando o marqueteiro do PT.

Durante toda a tarde, senadores tucanos, petistas e seus aliados se digladiaram no plenário: os primeiros rebatendo os discursos de Dilma e Lula, e os outros falando sobre os avanços do governo petista.

- É uma versão exagerada do nunca antes neste país, é uma hipérbole da arrogância, autossuficiência que em muitos casos resvala pela bazófia - discursou o líder tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP).

- Eu disse aqui: o Brasil não começou nem em 1980, quando se criou o Partido dos Trabalhadores, nem em 2003, quando começou o primeiro governo democrático e popular, mas são inegáveis as mudanças que tivemos - rebateu o líder petista Wellington Dias (PI).

A partir de agora, Lula entrará de cabeça na campanha eleitoral e na articulação dos apoios à reeleição de Dilma. Começará a rodar o país na próxima semana em seminários promovidos pelo PT.

- O presidente Lula está de volta, na plenitude da saúde, e com a maneira que lhe é peculiar de fazer política - disse Jorge Viana.

Fonte: O Globo

Campos atende a prefeitos preteridos pelo governo federal

Murillo Camarotto

GRAVATA (PE) - Campos: chamado de "presidente" por alguns prefeitos, governador disse não querer antecipar o debate eleitoral

"Vamos ficar sentados aqui na frente, assim a gente pega o dinheiro primeiro", disse ontem o prefeito de Paratanama (PE), José Teixeira Neto (PSB), antes de uma grande reunião com seu colega de partido, o governador Eduardo Campos (PSB). Desde que agendou a reunião com os 184 prefeitos de Pernambuco, Campos deixou correr solta a notícia de que os municípios não sairiam do encontro de mãos vazias, como teria acontecido após a reunião da presidente Dilma Rousseff com os prefeitos no mês passado, em Brasília.

A presidente - que Campos pretende enfrentar nas urnas - acenou com R$ 66,8 bilhões para os municípios investirem em creches, postos de saúde e saneamento, entre outras áreas. Os prefeitos, no entanto, se queixam da burocracia para acessar os recursos. Mais pragmático - porém com menos recursos -, Campos anunciou a criação de um fundo estadual de investimento que repassará R$ 229 milhões para os prefeitos investirem como bem entenderem.

O fundo funcionará, segundo auxiliares do governador, como uma espécie de "13º do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)". O valor recebido por cada prefeitura em 2012 será dividido por 12. A cifra resultante será repassada aos prefeitos em quatro parcelas. A periodicidade vai depender da necessidade de cada prefeitura. O dinheiro poderá ser investido em áreas como recursos hídricos, saúde, educação e infraestrutura urbana, entre outras.

O objetivo, além do contraponto ao governo federal, é dar fôlego financeiro aos municípios, sobretudo aqueles que, por pendências antigas com o governo estadual, não podem firmar convênios. Campos espera que o investimento desses recursos ajudem a engrossar o PIB pernambucano em 2013, já que eventuais comparações com a taxa nacional podem ser convenientes.

Após o evento, o governador de Pernambuco criticou a Medida Provisória 595, a "MP dos Portos", que visa reorganizar os terminais portuários do país. Contrariado com a edição da MP, Campos pretende se posicionar hoje sobre o tema, mas disse discordar de pontos como o que tira dos Estados a autonomia sobre as licitações de áreas portuárias.

Bibelô de sua administração, o Porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco, deixaria de realizar as licitações, como a do segundo terminal de contêineres, que foi protocolado em setembro na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). "Estou falando do porto mais eficiente do Brasil, e não das docas federais e seus vícios", disse Campos.

O governador afirmou, no entanto, que o governo federal se comprometeu a debater eventuais mudanças no texto. E sinalizou estar disposto a bater na mesa pela autonomia de Suape, podendo acionar a Justiça.

Chamado de "presidente" por prefeitos mais exaltados, Campos evitou falar de 2014. Disse que não vê como "ajudar o Brasil antecipando o debate eleitoral neste momento". Questionado sobre sua ausência na festa petista na quarta-feira, em São Paulo, alegou compromissos em Pernambuco. Campos também foi convidado para o encontro do PT em Fortaleza, mas não vai comparecer.

O PT deixou Pernambuco fora do roteiro preparado para exibir neste semestre a pré-candidatura de Dilma à reeleição, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem a definição de Campos sobre sua candidatura presidencial, o partido evitou montar palanque para Dilma no berço político do governador.

Segundo o secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi, Pernambuco só será incluído na programação se o presidente do PSB definir seu apoio a Dilma, o que é considerado improvável neste ano. "Precisamos ter clareza política das intenções de Campos antes de ir a Pernambuco. Não colocamos no roteiro de propósito", disse Frateschi.

O partido fará pelo menos 10 seminários pelo país para exibir a pré-candidatura de Dilma. O PT prepara eventos de grande porte para a presidente em Minas Gerais, Estado do pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves, e no Rio de Janeiro. O encontro em Belo Horizonte está previsto para abril e o do Rio para maio.

O comando petista tenta articular a participação de Dilma em pelo menos um seminário em março. Algumas reuniões foram marcadas aos sábados, para facilitar a participação da presidente. Lula estará na maioria dos encontros. A ideia é afinar o discurso para 2014 e articular alianças. O primeiro evento será o de Fortaleza, no dia 28.

(Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)

Fonte: Valor Econômico

Todo mundo já se movimenta de olho em 2014

Após a “ rede ” de Marina, o lançamento de Dilma à reeleição e o discurso de Aécio, ontem foi a vez de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), emitir sinais sutis de que está no páreo

Todos os movimentos para 2014

Com as últimas ações de Dilma, Aécio e Marina em direção à eleição presidencial do ano que vem, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dá sinais de que entrará na disputa

João Valadares, Ana Luiza Machado

BRASÍLIA e GRAVATÁ (PE) — A semana com cheiro de 2014 chega ao fim com o movimento sutil do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para colocar os pés dentro do projeto de candidatura à Presidência da República. Após o lançamento da Rede Sustentabilidade, o novo partido de Marina Silva, do discurso do senador Aécio Neves contra o governo federal e da comemoração dos 10 anos do PT à frente do Planalto, que contou com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, Eduardo reuniu 184 prefeitos, ontem, em Pernambuco, e ofereceu um pacote de bondades.

Eduardo Campos aproveitou a insatisfação dos líderes municipais com a redução dos repasses federais para nacionalizar o discurso em torno da necessidade de um novo pacto federativo e, ao mesmo tempo, unificar o estado para marchar com ele no próximo ano. Apresentou-se didaticamente como o homem que estava fazendo o que o governo federal não faz por eles. Anunciou R$ 612 milhões em investimentos, entregou ambulâncias simbolicamente, ofertou poços artesianos, assinou ordens de serviço para implantação de barragens e criou o Fundo Estadual de Desenvolvimento Municipal (FEM).

Com a criação do fundo, Campos fustiga sutilmente a presidente Dilma Rousseff. O FEM nada mais é do que uma versão estadual do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O mecanismo financeiro foi criado para apoiar planos de trabalho municipais de investimentos, sobretudo nas áreas de infraestrutura urbana, educação, saúde e sustentabilidade.

Na saída do evento, o governador de Pernambuco repetiu a cantilena de que não falaria sobre 2014. “Tudo o que o Brasil não precisa é estar montando palanque. Nem essa velha rinha, discutindo passado, discutindo coisas que não estão na pauta do povo. A população está preocupada. O Brasil não cresceu no ano passado como se esperava. Temos que ajudar a presidente a fazer o Brasil se reencontrar com o seu crescimento, que gere felicidade, oportunidade. Não é possível eleitoralizar tanto a política brasileira assim.”

Ao ser questionado se sentia uma redução gradual da polarização entre PT e PSDB, Eduardo disse que só em 2014 será possível avaliar. “Não sinto isso. Acho que esse é um ano para a gente cuidar do trabalho, da sociedade. A pauta real do povo é essa aqui. Ninguém tem essa capacidade de definir como vai ser em 14, se essa polarização vai se assim ou assado”, ressaltou.


Aliados

Durante o encontro, todos pareciam orientados por Campos. Ninguém tratou explicitamente de 2014. De São Paulo, coube ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), antigo desafeto e hoje aliado, explicitar o que o governador tenta esconder. Em entrevista ao site Brasil 247, o parlamentar declarou ontem que a candidatura é irreversível. “Eduardo acaba de entrar em definitivo no jogo de 2014. É irreversível. A única hipótese que existia para ele não concorrer seria a de ser candidato a vice do próprio Lula. Mas como o ex-presidente se colocou fora da disputa, quem vai entrar é ele. Só faltava essa definição para Eduardo fazer sua própria escolha. Lula, na prática, o está empurrando a concorrer contra Dilma”, disse Vasconcelos.

No evento de ontem, a presença do senador Humberto Costa (PT) chamou a atenção. Ele foi derrotado nas últimas eleições para Geraldo Julio (PSB), candidato tirado por Eduardo Campos da cartola para expulsar o PT da Prefeitura do Recife após 12 anos de gestão. “Temos a certeza de que 2014 será um ano bem melhor. A economia vai se comportar de uma forma melhor. Os efeitos das medidas duras que fomos obrigados a tomar no ano passado começam a se manifestar”, declarou o petista.

Mesmo que de forma sutil, Humberto beliscou o PSB ao se referir às obras de transposição do Rio São Francisco, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, comandado por Fernando Bezerra Coelho (PSB), e que sofre com o atraso no seu cronograma. “Sabemos que em 2013 vamos ter em atividade plena as obras da transposição, que é fundamental para a região, e a continuidade de investimento em outros órgãos de infraestrutura”, afirmou.

Dilma Rousseff

Após período de indefinição, a presidente Dilma Rousseff foi lançada candidata à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O anúncio ocorreu em São Paulo, na festa de comemoração dos 10 anos do PT à frente do Planalto. Nos últimos eventos públicos, Dilma vem adotando discurso eleitoral. Em clima de palanque, afirmou em evento no início da semana: “Por não termos abandonado o nosso povo, a miséria está nos abandonando”.

Aécio Neves

O senador mineiro aproveitou o aniversário de 33 anos do PT e a comemoração de 10 anos do Partido dos Trabalhadores à frente do governo para ganhar espaço na mídia e reforçar seu nome para 2014. Com um discurso escrito, subiu à tribuna do Senado para apontar, na opinião do tucano, os 13 maiores fracassos do PT. Ainda não assume publicamente a candidatura, mas já adota uma postura eleitoral, pisando no principal calo da presidente Dilma, a economia.

Marina Silva

Amparada nos 20 milhões de votos que recebeu na última eleição presidencial, em 2010, Marina Silva já colocou o bloco na rua. No último sábado, lançou a Rede Sustentabilidade, reforçando a possibilidade de lançar candidatura em 2014. Ainda adota o discurso de que a criação da legenda não tem vinculação com as próximas eleições presidenciais, mas os apoiadores da Rede não escondem que estão de olho no Planalto.

Eduardo Campos

O governador de Pernambuco evita se colocar como candidato a presidente da República, mantendo o discurso exaustivamente repetido de que ainda não chegou a hora de falar em 2014. As movimentações de Eduardo Campos e dos correligionários, no entanto, tornam a candidatura do presidente do PSB cada vez mais incontestável. Mesmo colocando-se como aliado de Dilma, o socialista costuma aproveitar as oportunidades de alfinetar a área econômica.

“Parece quase iminente”, diz The Economist

A edição impressa desta semana da revista The Economist traz uma reportagem sobre a largada antecipada da campanha presidencial de 2014 no Brasil. Segundo a publicação inglesa, ao mesmo tempo que outubro do ano que vem está tão longe, “na verdade, parece quase iminente”. Produzida pelo correspondente da revista em São Paulo, a reportagem diz que Marina Silva, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos ensaiam disputar a eleição presidencial daqui a um ano e meio e todos eles estão em articulações políticas para garantir a candidatura.

Fonte: Correio Braziliense

'Marina e Campos são costelas do projeto petista', diz Aécio

Pré-candidato à Presidência, senador diz que o PSDB tem visão oposta à do PT no combate à pobreza, pois o governo só quer 'administrá-la'

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Virtual candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, o senador Aécio Neves (MG) garante que o partido está pronto para o embate com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e com possíveis adversários, como a ex-ministra Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Para o tucano, as eventuais candidaturas de Marina e de Campos são "costelas" do projeto inicial do governo petista, o que beneficia a oposição. "Nós somos claramente oposição ao governo do PT", afirma Aécio. "Nós não estamos no divã." Em entrevista ao Estado, o tucano lamentou a antecipação do processo eleitoral e criticou o governo do PT que, em sua visão, "se contenta em administrar a pobreza". "Nós queremos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com políticas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em educação."

Quando será lançada sua candidatura à Presidência?

Estamos prontos para o embate. Mas nós faremos a nosso tempo. Não vamos navegar nas águas que nos impuserem. Estou muito tranquilo, mas não há porque antecipar a definição de uma candidatura. O mais importante agora para oposição é garantir efetivamente sua unidade, construir a nova agenda para o Brasil. O PSDB deve oficializar uma candidatura para obter apoios, no início de 2014. Este ano de 2013 é o ano de o PSDB estabelecer o contraponto. É o ano que PSDB tem que trabalhar para que as pessoas percebam que temos uma visão de País distinta dessa que está aí.

Qual é a visão do PSDB?

Temos uma visão conceitual oposta à do PT em relação à pobreza. O PT se contenta em administrar a pobreza. Nós queremos a superação da pobreza. E isso não se faz apenas com políticas de transferência de renda, que são importantes e devem continuar. Mas isso se faz com investimentos maciços em educação. É aí que vamos ter um país realmente livre da pobreza. Agora, anunciar numa grande jogada de marketing que o Brasil acabou com a miséria é um desrespeito a, pelo menos, 48% de brasileiros de até 14 anos de idade que vivem sem saneamento básico, e a mais da metade das famílias de brasileiros que vive sem tratamento de lixo.

O governador Eduardo Campos (PSB) e a ex-ministra Marina Silva também são possíveis candidatos em 2014. O senhor teme o confronto com eles?

Acho extremamente positivo que essas candidaturas possam vir. Elas têm gerado preocupação no campo do governo. Porque, na verdade, são costelas de um projeto inicial do governo do PT. A Marina traz um conteúdo importante ao debate. Ela é uma competidora importante e respeitável e tem um discurso, uma proposta moderna para o Brasil. E o Eduardo também traz oxigênio novo a essa disputa. Do ponto de vista do PSDB e do meu pessoal, são todos muito bem vindos. Se alguma preocupação existe, pode ter certeza de que não é no nosso campo. A preocupação hoje dessas candidaturas é muito maior do lado do governo. São forças que se distanciaram do governo.

Não há uma preocupação sua em perder votos para Eduardo Campos que, como o senhor, é um candidato jovem e apontado como um bom governador?

Independente da faixa do eleitorado que ele (Eduardo Campos) venha a atingir, ele é saudável na disputa. Temos hoje uma tranquilidade maior do ponto de vista de onde nós estamos nessa disputa. Porque nós não estamos no divã. Nós somos claramente oposição ao governo do PT do ponto de vista administrativo, de gestão econômica, de importância dos conceitos éticos. A nossa ação será de enfrentamento, independente de eu vir a ser ou não candidato. Caberá aos outros definir de que forma vão se posicionar nesse espectro. Para ao Brasil é melhor uma disputa não polarizada desde o início.

Existe alguma chance de o PSDB vir a se aliar ao PSB na eleição presidencial de 2014?

O PSB e o PSDB têm proximidades grandes em vários Estados. A começar por Minas. Mas tenho de reconhecer, e respeito, que hoje a aliança do PSB no plano nacional é com o PT. Agora, o PSB vai ter que decidir se é governo ou não. Ele vai ter o tempo dele. O Eduardo sabe conduzir essa questão adequadamente. Eu trabalhei e ajudei no crescimento do PSB. O partido tem não só governo de Pernambuco, que é a base eleitoral do Eduardo, e o governo do Ceará. Talvez seja a capital de Minas a maior vitrine do PSB. E me orgulho muito de ter contribuído para isso. Na prática quero o PSB fortalecido.

Na campanha de 2014, o PSDB pretende resgatar o legado dos oito anos de governo Fernando Henrique?

Nós erramos gravemente ao não valorizarmos o nosso legado nos últimos anos. É uma responsabilidade coletiva do partido. Temos feito enorme esforço de valorização desse legado. Temos de refrescar a memória dos brasileiros que, se nós temos o Brasil de hoje, nós tivemos o governo do presidente Fernando Henrique com o controle da inflação, a modernização da economia, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todas essas, por mais que a presidente Dilma não reconheça, são heranças benditas. Tão benditas que, do ponto de vista da macroeconomia, foram mantidas pelo atual governo. Temos muito orgulho do nosso legado. Mas não vamos ficar apenas nele. Estamos com olhos no futuro. O PT comemorou seus 10 anos de governo com olho no retrovisor, talvez preocupado em o PSDB poder chegar muito perto e acabar atropelando.

O senhor teme sofrer retaliações por parte de José Serra, uma vez que aliados do ex-governador de São Paulo o culpam por ele ter perdido as eleições em Minas, em 2010?

De forma alguma. Isso é uma lenda. Essa é uma visão antiga e atrasada de quem não acompanhou as eleições em Minas. O resultado foi muito positivo. O Serra ganhou a eleição em Belo Horizonte. Ganhou com uma candidatura do PT e com a Dilma que é de Belo Horizonte. Você acha que é pouca coisa? Acho extraordinário. Essa avaliação é equivocada. O Serra teve em Minas Gerais um desempenho compatível com a campanha que nós fizemos com todo o nosso esforço. As pessoas mistificam muito essa história de divisão Aécio/Serra. Ele teve sempre o nosso apoio.

Seu nome hoje é o que mais une o PSDB?

O PSDB sabe que o instrumento que ele tem para eventualmente disputar com chances é a sua unidade. E ela vai acontecer. Seja em torno do meu nome, seja em torno do nome do Serra, do Geraldo Alckmin. Não estamos colocando nomes neste momento. Nós temos um objetivo maior: apresentar ao Brasil uma alternativa de projeto. O PT abdicou de ter um projeto de País para se contentar em ter exclusivamente um projeto de poder. E nós queremos apresentar algo novo para o Brasil, ousado, correto. O candidato vai ser aquele que tiver as melhores condições de unir o PSDB.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Após discursos, Lula e Aécio vão correr o país

Ex-presidente planeja viajar pelo interior a partir de junho para elaborar o programa da campanha de Dilma à reeleição

Senador tucano prefere esperar programas de TV do PSDB para, em junho, iniciar viagens e firmar candidatura

Diógenes Campanha, Daniela lima

SÃO PAULO - Protagonistas dos discursos que anteciparam a eleição presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva planejam percorrer o país no segundo semestre.

Maior aposta da oposição, Aécio disse a aliados que aguarda o início da exibição das inserções do PSDB na TV em maio para começar o giro.

Já Lula, que anteontem lançou a candidatura de sua sucessora, Dilma Rousseff, à reeleição, discute com aliados uma andança pelo país, a partir de junho, para elaborar o programa do PT para a disputa do próximo ano.

Da próxima quinta até maio, irá a uma dezena de cidades na série de seminários em que o PT exaltará seus dez anos à frente do governo.

Do lado tucano, Aécio avalia que só após ser apresentado em veículos de comunicação de massa terá uma base para iniciar sua caminhada.

A propaganda do PSDB na TV começará a ser exibida no final de maio, nos dias 25 e 29, e terminará em 1º de junho, quando Aécio já deverá ter assumido a presidência nacional de seu partido.

Dizendo estar centrado nas articulações internas, Aécio irá a Belo Horizonte na próxima segunda para a abertura de seminário do PSDB com Fernando Henrique Cardoso. Em março, voltará a Minas para ciceronear uma palestra com o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB).

Os seminários servirão para manter o senador na mídia em grandes eventos até a convenção nacional do PSDB, na semana de 18 a 25 de maio.

Aécio, que anteontem iniciou uma ofensiva contra o governo Dilma, disse aos aliados que é cedo para lançar a candidatura. Ele teria afirmado que "não há campanha que resista por dois anos". Ontem, criticou o que chamou de "antecipação da campanha" à reeleição de Dilma. Anteontem, Lula havia dito que a resposta à oposição será a "reeleição de Dilma".

"O que a presidente faz ao antecipar essa discussão eleitoral? Caberá à oposição cobrar compromissos e que tenhamos pelo menos por algum tempo uma presidente da República e não apenas uma candidata", disse Aécio.

No PT, a avaliação é que Lula lançou Dilma mais para afastar as especulações de que seria ele, e não ela, o candidato do partido em 2014, do que para iniciar a campanha.

"Lula quer saber o impacto dos projetos do governo para atualizar a plataforma do PT", diz o senador Wellington Dias (PT-CE): "Uma coisa é elaborar programa com técnicos no escritório. Outra é ver o sentimento do povo percorrendo o país inteiro."

Fonte: Folha de S. Paulo

Antecipada, corrida para 2014 tem megacoalizão governista - Fernando Rodrigues

A democracia no Brasil é ainda jovem e há poucos ciclos eleitorais para que se possa traçar um padrão no comportamento dos candidatos a presidente. Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), só foram realizadas seis disputas com voto direto pelo Palácio do Planalto (89, 94, 98, 02, 06 e 10).

Ainda assim, a eleição presidencial de 2014 começa com algumas características que a diferenciam das anteriores. A mais visível é que os pré-candidatos principais estão -ainda que de maneira extraoficial- bem explícitos sobre suas intenções quando ainda faltam cerca de 20 meses para a disputa.

Não era o que ocorria em eleições passadas. É claro que em 1997 e em 2005, todos sabiam das intenções de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva de disputar a reeleição nos anos seguintes. Só que eles não tocavam no assunto em público com tanta antecedência.

Agora, Lula falou abertamente que Dilma Rousseff é candidata à reeleição em 2014 -e a presidente estava ao seu lado. No último sábado, Marina Silva foi lançada por seus aliados. E Aécio Neves (PSDB) já foi dado como candidato inevitável pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mas não houve apenas uma redução do grau de dissimulação dos políticos. Há uma antecipação também na montagem e na amplitude das alianças para 2014. O PT aperfeiçoou o modelo usado pelo PSDB. Pretende fazer a coalizão mais ampla na atual fase democrática do país.

Até 2010, todos os candidatos a presidente vencedores tinham de três a cinco partidos em suas coligações. Dilma teve dez legendas na sua aliança. Agora, quer manter ou ampliar esse grupo.

Há uma razão objetiva para essa nova conjuntura: com a chegada de Lula ao poder, em 2002, os partidos maiores encolheram. Muitos políticos foram procurar abrigo em siglas médias ou pequenas para ter mais liberdade na hora de trocar favores fisiológicos com o Planalto.

Um exemplo é 1998, quando os quatro principais partidos na aliança de FHC foram PSDB, PFL, PPB e PTB. Juntas, essas siglas elegeram 295 deputados federais naquele ano. Hoje, essas mesmas quatro siglas têm apenas 132 cadeiras.

O total de deputados é determinante para o cálculo do tempo de TV durante a eleição. No Brasil, sem grande exposição no horário eleitoral é muito difícil vencer.

No atual quadro fragmentado, Dilma tem uma vantagem em relação aos demais candidatos. Ela já comanda uma coalizão de dez partidos, criada em 2010. Deu cargos a todos na administração.

Há, é claro, risco de defecções na aliança dilmista. A ameaça mais séria é do PSB, pois o líder da sigla, Eduardo Campos, deseja ser candidato ao Planalto. Só que o PSB tem apenas 26 deputados. E Dilma tem à porta um outro partido, o PSD, de Gilberto Kassab, pronto para aderir ao governo -junto com uma bancada de 48 deputados.

Se mantiver sua aliança com dez legendas, com a substituição do PSB pelo PSD, Dilma contará com partidos políticos que, juntos, têm hoje 318 deputados.

No caso da oposição, o PSDB com Aécio Neves pode ter o apoio de DEM e PPS. As três siglas contam com apenas 88 cadeiras na Câmara. Marina Silva e o seu novo partido em formação, Rede Sustentabilidade, têm a promessa ainda incerta de receber a adesão de meros seis deputados.

A não ser que os partidos de oposição ao Planalto consigam reverter o quadro atual, a corrida presidencial de 2014 terá no horário eleitoral eletrônico a preponderância inaudita de apenas uma candidata: Dilma Rousseff.

Fonte: Folha de S. Paulo

Guerra retórica - Merval Pereira

No pronunciamento do senador petista Lindbergh Farias para rebater o discurso do senador Aécio Neves na quarta-feira, encontra-se uma pista muito nítida do que será a disputa retórica nas próximas campanhas eleitorais, nas estaduais e, sobretudo, na de presidente da República. O petista chegou ao plenário em meio ao discurso do tucano, mas tinha assessores designados para contar quantas vezes Aécio pronunciara palavras-símbolo como "povo", "gente", "miséria".

Não encontrando menção alguma, Lindbergh sentiu-se em condições de determinar, com um sorriso irônico, que o provável candidato oposicionista não estava montando "um discurso competitivo" contra o PT. Ontem, o rescaldo do debate por parte da ampla rede social que os petistas montaram tentou restringir a repercussão à suposta vitória de Lindbergh sobre Aécio.

Lembram-se do servidor da Secretaria Geral da Presidência Ricardo Augusto Poppi Martins, coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, que participou da reunião na embaixada de Cuba onde foram armadas as manifestações contra a blogueira cubana Yoani Sánchez e depois foi para Havana participar de um seminário sobre "ciberguerra"? Pois deve ser essa a sua função, coordenar as reações nas novas mídias, para tentar comandar o noticiário. Reclamar que a palavra "povo" não foi pronunciada no discurso oposicionista é tentar ressaltar uma característica supostamente elitista dos tucanos, o adversário que o PT identifica como aquele a ser batido desde já. Nesse episódio, a resposta foi relativamente fácil e não foi possível aos petistas alardear uma vitória política, a não ser nos blogs a serviço do governo.

Mesmo assim, trata-se de uma "vitória" inócua, pois esses blogs só alcançam mesmo os já convertidos, pela própria característica de serem chapas-brancas. Afinal, no plenário do Senado, ainda é possível tratar de temas importantes sem fazer proselitismo ou demagogia, e aquele plenário deveria ser usado para um amplo debate sobre os temas nacionais. Falar sobre o perigo da inflação, que corrói mais depressa a renda dos menos favorecidos, é falar de "povo", de "gente".

Mas a oposição, se quiser ter chance nos embates públicos na campanha presidencial, terá de usar uma linguagem mais popular para levar sua mensagem ao cidadão que decide a eleição. A democracia de massas exige do político comunicação mais direta, e nisso Lula sempre foi um craque, mesmo quando derrotado por Collor ou por Fernando Henrique.

Em 1989, ele foi vencido com suas próprias armas por um político populista, que usou e abusou da mistificação e de golpes baixos para superar aquele líder operário que começava a surgir na cena nacional. Mesmo assim, Lula ainda foi para o segundo turno e quase ganhou a eleição. Contra o PSDB, tanto em 1994 como em 1998, o PT foi amplamente derrotado no primeiro turno por FH, que trazia, para contrabalançar a demagogia lulista, uma realidade que fez bem ao país e, sobretudo, ao bolso dos mais necessitados: o Plano Real, que acabou com a hiperinflação.

Na eleição de 2002, Lula venceu porque a economia ia mal no segundo governo tucano, e o candidato petista vendeu ilusões ao eleitor que não teve condições de entregar. Eleito, manteve pelos primeiros anos não apenas a política econômica tucana, mas uma equipe toda comandada por economistas e burocratas ligados ao PSDB. Ironicamente, boa parte, portanto, destes dez anos petistas no poder teria por justiça que ser dividida com o PSDB e seus "neoliberais".

Cabe à oposição encontrar a melhor linguagem para se contrapor a um governo que tem uma ampla máquina de poder montada e uma tradição de luta política que não tem escrúpulos, nem políticos e muito menos retóricos, para manter o poder conquistado. A campanha contra as privatizações é apenas um exemplo óbvio de manipulação de sentimentos nacionalistas do cidadão comum, mesmo quando os benefícios são evidentes e o próprio PT privatiza quando precisa. A presidente Dilma Rousseff não tem o dom da palavra fácil, mas terá Lula em seu palanque. Os tucanos precisarão encontrar sua linguagem de aproximação com o dia a dia do eleitor.

Fonte: O Globo

Foi aberto o placar - Dora Kramer

Muito mais que apenas um ano e 10 meses separa o discurso de abril de 2011, em que o senador Aécio Neves em tese se apresentaria como o líder da oposição no País, do pronunciamento feito por ele nesta quarta-feira na tribuna do Senado supostamente para dividir a cena com a festa do PT em comemoração aos seus 10 anos de poder.

Antes fez um discurso tépido na forma e repetitivo no conteúdo. Tão fraco que recebeu apartes de diversos petistas com saudações ao líder da oposição "que todo governo gostaria de ter", conforme palavras do senador petista Jorge Viana.

Agora, com discurso bem mais incisivo com uma ideia síntese precisa - "O que preside o Brasil é a lógica da reeleição" -, propositadamente ignorado. Escalado para marcar a posição do PT no único aparte, o senador Lindbergh Farias acabou desperdiçando a oportunidade ao cobrar de Aécio Neves a pronúncia das palavras "povo, pessoas, gente, emprego miséria".

Abordagem, segundo o petista, "pouco competitiva para quem pleiteia a Presidência da República". O tucano agradeceu o "lançamento da candidatura" e, talvez por educação, evitou informar ao colega que a escolha do candidato e avaliação de competitividade cabe PSDB, não ao PT.

Os tucanos em geral têm-se notabilizado pelos passos em falso. Entre os inúmeros produtos de ambiguidades, hesitações e picuinhas em série, citemos apenas o último na eleição das Mesas da Câmara e do Senado. O PSDB fez que foi (contra), mas não foi.

Já na quarta-feira, o partido produziu dois acertos, abrindo um placar que até agora só registrava tentos para o adversário. O primeiro, a decisão de antecipar o pronunciamento de Aécio para fazê-lo coincidir com o dia da festa petista, usando um tom, senão de declaração de guerra, mas de chamada à disputa.

O segundo acerto, a defesa explícita do legado de estabilidade e organização do governo Fernando Henrique. Herança defendida com dez anos de atraso e depois de o PSDB deixar que o PT a carimbasse como "maldita". Ao menos dessa vez o tucano não tergiversou nem amenizou como em seu decepcionante discurso de abril de 2011: deu às coisas o nome que elas têm.

A medida da mudança de atitude foi o comportamento dos petistas em relação a ele. De tarde, no plenário, calaram para não acrescentar-lhe azeitona à empada e mais tarde, na festa do PT em São Paulo, desceram a lenha na oposição.

Trataram-na como existente. Na cartilha de comparação entre os governos petistas e tucanos, na fala agressiva de Lula, na tentativa da presidente da República de eliminar o passado - "não herdamos nada" - da História.

Isso de um lado vitamina os fragilizados oposicionistas e, de outro, sinaliza que o governo, de verdade, não compartilha da avaliação do presidente do PT, Rui Falcão, de que não haverá "pedras no caminho" da reeleição de Dilma. A ofensiva é coisa de quem acha que a vida não será assim tão fácil.

Tempos modernos. A Organização Não Governamental Avaaz conseguiu recolher 1,6 milhão de assinaturas de gente que discorda da presença de Renan Calheiros na presidência do Senado, mas na hora de levar o abaixo-assinado a Brasília havia menos de 30 pessoas no ato de protesto em frente ao Congresso.

Conversa fora. Todos os anos, seja qual for o governo, começam com a mesma história de reforma ministerial que acaba não se concretizando como tal.

No máximo uma mexida aqui e ali para fins de acomodação político-partidária, mas nada que se enquadre no conceito estrito do termo reforma: "Mudança em algo para fins de aprimoramento e obtenção de melhores resultados; nova forma; nova organização; renovação".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mudou a candidata, é outra a campanha - Maria Cristina Fernandes

É outra a candidata que se apresentou à reeleição nesta quarta-feira. Sai a ministra aplicada e tecnocrática e entra a presidente de vermelho, do-povo-pelo-povo-para-o-povo.

Ao disputar pela primeira vez a Presidência da República em 2010, Dilma foi talhada para se mostrar uma herdeira do lulismo com raia própria.

Precisava manter o eleitorado do seu antecessor e agregar setores da classe média com pitadas de meritocracia, apego à gestão e tolerância com a crítica.

Quando o ex-presidente subiu o tom contra adversários e imprensa no final da campanha, manteve seu discurso em outro termostato.

Ao assumir o governo fez acenos à oposição, elogiou o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cativou a classe média com desoneração de IPI de automóveis e ampliou a popularidade para além de sua votação.

A despeito de ter conquistado uma base maior, fez, nesses dois primeiros anos de governo, uma gestão mais petista que a de Lula. Empurrada pela crise econômica, baixou os juros e a tarifa de energia e, com idas e voltas com a presença do Estado na economia, aumentou a regulação.

O que se viu na quarta-feira foi uma presidente ciosa da necessidade de prestigiar seu antecessor, mas dedicada a lustrar o potencial eleitoral de seus próprios feitos.

Mudou a candidata porque é outra campanha. Por mais que continue na boca do povo e seja o principal articulador da reeleição da sucessora, o ex-presidente deixou de ser o principal avalista da disputa. Dilma agora é a candidata do que fez, fizer e deixar de fazer.

E é como candidata dela mesma, que tem que ser menos Dilma. É porque está menos dependente de Lula que precisa trocar a ênfase. Apela menos à tecnocracia e cede mais ao discurso nacional-popular da tradição petista.

Nada garante que chegue em primeiro, mas já não corre o risco de, nesta raia, ficar à sombra de Lula.
A presidente foi ao evento vestida de petista, do figurino ao discurso. O antecessor se vestiu de Brasil. Da gravata listrada de azul e amarelo a um discurso em que resgatou sua posse.

Dilma cuida de arrumar carisma porque a oferta desta mercadoria tende a aumentar em 2014.

Ainda não se sabe se vai vingar, mas, se a rede de Marina vier embalada como pretende, seu potencial de redentora tende a crescer.

Mesmo que faça muitas concessões para entrar no jogo, Marina tem verbo suficiente para vender um passaporte eleitoral como utopia.

Dilma agora é a candidata do que fez, fizer e deixar de fazer

No Roda Viva da última segunda-feira, esmerou-se na eloquência que tanto serve a púlpitos quanto a redes sociais: "Sábio é quem aprende com os erros dos outros e estúpido quem não aprende com os próprios erros", "o movimento tem ideias cujo tempo chegou", "a justiça que não se faz com amor é vingança", "não somos resultado do passado, mas daquilo que fizemos do passado".

É com esse discurso que quer ampliar a cesta dos 20 milhões dos eleitores religiosos, ambientalistas, cansados da polaridade e sonháticos em geral.

Marina pouco bate em Dilma. Parece mais à vontade ao falar da cláusula de autodissolução do partido do que do investimento em inovação como motor do crescimento econômico.

Com o verniz mais popular, a presidente parece querer reconquistar o eleitor lulista que, em 2010, viu em Marina a reencarnação da liderança popular representada pelo presidente que partia.

A movimentação de Dilma para evitar sangria de votos em direção à candidata da utopia se mostra mais clara do que a estratégia com a qual pretende enfrentar os postulantes do choque de gestão.

Nesse campo há dois, um mais candidato do que o outro, Aécio Neves e Eduardo Campos. Juntos ou separados têm mais carisma que José Serra mas, a exemplo deste, são bons candidatos em busca de um discurso.

O pronunciamento com que Aécio se contrapôs, no Senado, às celebrações petistas, pode ser um diagnóstico pertinente da conjuntura mas ainda está longe de se transformar num discurso político.

Quantos votos Aécio vai ganhar com o sucateamento da indústria, a crise da federação e a constatação de que o PT faz as privatizações que um dia criticou no PSDB?

Sim, os indicadores sociais e econômicos que bombaram na última década petista podem não se repetir nos próximos dez anos se o país não voltar a crescer.

Aécio tenta denunciar o que estaria por vir mas esbarra na economia de pleno emprego. O governador de Pernambuco tem encontrado o mesmo freio para não dar sua candidatura por consumada.

Ambos investem suas fichas nas bases partidárias e empresariais da candidatura Dilma. A inflação de emendas às medidas provisórias do setor elétrico e dos portos são a demonstração de como a base aliada busca ser sócia da tentativa da presidente em reaver o investimento.

É dos excluídos desse consórcio que podem surgir os parceiros do PSB e do PSDB em 2014. Por enquanto, não há sobras. Dirigentes de oito partidos, entre os quais o de Eduardo Campos, estavam na pajelança petista.

No meio empresarial, o PT já identificou claros acenos à oposição. O presidente do PT, Rui Falcão, inconformado com a infidelidade de setores empresariais que avalia serem amplamente beneficiados pelo governo, foi claro sobre os propósitos do partido na relação com o empresariado: "Temos que identificar quem está do nosso lado e quem não está" (Valor, 13/02/2013).

A cartilha preparada pelo PT para os 10 anos no poder mostra que é nos ganhos do presente que Dilma embala sua promessa de futuro. Contra adversários que planejam se contrapor com um discurso de economia sob ameaça, a dona da bola adota um figurino menos tecnocrata e se prepara para sua primeira campanha solo.

Fonte: Valor Econômico

Atacar Yoani Sánchez é golpear a liberdade - Roberto Freire

A vinda ao Brasil da blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez, lutadora pela abertura política em seu país, tinha tudo para se transformar em uma grande festa da democracia.

Depois de ter o visto de saída de Cuba negado 20 vezes nos últimos seis anos, Yoani finalmente conseguiu ultrapassar as fronteiras cubanas, mas desde o desembarque em território brasileiro vem sendo alvo de covardes manifestações que ultrapassaram o direito legítimo ao protesto e apelaram à violência.

Um fato insólito: quando Cuba, mesmo que timidamente, avança na abertura, o Brasil regride na intolerância. Tanto no Recife quanto em Salvador, por onde passou inicialmente, a blogueira foi hostilizada e teve notas falsas de dólar esfregadas em seu rosto por agressores que atuam como em verdadeiras hordas fascistas.

Em Feira de Santana, na Bahia, manifestantes ocuparam o auditório onde ocorreria a exibição de um documentário que contou com a participação de Yoani e não permitiram que a cubana falasse por mais de 15 minutos. O grupo obrigou os organizadores a cancelarem a exibição do filme, atentando contra a democracia e a liberdade de expressão.

Para quem, como eu, ingressou no Partido Comunista Brasileiro acreditando na construção de uma sociedade mais justa e inspirado pelos ideais da Revolução Cubana, que embalaramos sonhos de toda uma geração, é doloroso constatar que a esperança tenha sido derrotada pelo obscurantismo que tenta calar a liberdade.Naquele momento, lutávamos por um mundo igualitário.

Hoje, infelizmente, alguns jovens se unem para impedir a livre manifestação de uma blogueira. Para agravar a situação, a ação intolerante desses grupos contou com a conivência do governo brasileiro, na medida em que um de seus funcionários, Ricardo Augusto Poppi Martins, assessor direto do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, participou de reunião com o embaixador de Cuba no Brasil, conforme revelou a revista “Veja”.

No encontro, o embaixador informou que Yoani seria vigiada por agentes cubanos durante sua passagem pelo país e entregou ao subordinado do ministro um dossiê secreto com informações sobre a blogueira. O pior é que se trata de um comportamento recorrente do governo Dilma, que já havia ignorado solenemente a participação indevida do embaixador da Venezuela em um ato organizado pelo PT em defesa do ex-ministro José Dirceu, condenado pelo STF no mensalão.

Ambos os episódios ferem os princípios da não interferência em assuntos internos de outras nações e da autodeterminação dos povos, historicamente respeitados pelo Brasil em fóruns internacionais. Ao contrário daqueles que intimidaram a blogueira, a verdadeira esquerda democrática brasileira tem um compromisso histórico com a pluralidade, a tolerância e o respeito à divergência e aos direitos fundamentais. Os ataques não se limitam à cubana e dizem muito sobre o período histórico em que vivemos, sob o comando de forças políticas que representam o atraso, vilipendiam as instituições e afrontam a liberdade.Atacar Yoani é golpear a democracia que construímos com tanto sacrifício.

Roberto Freire, deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Para Cuba, com carinho - Eugênio Bucci *

A visita da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil, esta semana, mobilizou opiniões de todo tipo. Ainda ontem, em Brasília, parlamentares reagiram de modos antagônicos à presença dela no Congresso Nacional. Uns, como o senador petista Eduardo Suplicy, puseram-se de pé para aplaudi-la. Outros torceram o nariz. Representantes de autodenominados "movimentos sociais" esgoelavam-se para xingá-la de "agente da CIA", etc., como já tinham feito no Recife.

Eram reações esperadas, assim como era esperado que Yoani roubasse a cena em todos os noticiários. Simpatizantes do governo cubano, mesmo os de boa-fé, dizem que tudo não passa de propaganda da imprensa burguesa contra o socialismo dos irmãos Castro. Não é bem assim. Colunista deste jornal, autora do livro De Cuba, com Carinho (Editora Contexto), uma antologia de crônicas em que descreve com acidez e delicadeza o seu cotidiano em Havana, Yoani é uma dessas pessoas que se tornam símbolo de uma causa. Está para a ditadura cubana, hoje, mais ou menos como Nelson Mandela, guardadas as proporções, esteve para o apartheid na África do Sul, tempos atrás. Conquistou notoriedade internacional e foi apontada como uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.

Os militantes que aqui a hostilizam com ares de fúria deveriam parar para refletir e considerar, ao menos considerar a hipótese de que o interesse público em torno da figura frágil dessa mulher não venha de nenhuma estratégia de propaganda engendrada pelo imperialismo ianque. Não somos todos nós, aqui, cordeiros obedientes do Tio Sam, por mais que tenhamos um dedo de simpatia por Barack Obama (por sinal, é bem pouco provável que o Tio Sam, esteja ele onde estiver, esteja preocupado com uma blogueira de Havana). Yoani Sánchez é notícia não por obra de uma conspiração internacional. Em primeiro lugar, ela é notícia, em boa parte, graças à barulheira de seus detratores, que fazem com que sua passagem por aqui vire um incidente de parar o trânsito. Em segundo lugar, e no que mais importa, ela é notícia porque, em sua saga pessoal, se escancara a grande contradição da qual Cuba nunca soube se libertar. Em Yoani vemos o significado final de mais de meio século da tirania da opinião que tomou conta da ilha. Na história dessa blogueira podemos vislumbrar o que foi feito (e desfeito) das utopias coletivistas que ainda enrijecem a fisionomia da América Latina. Sob qualquer perspectiva, Yoani é notícia. Os seus movimentos interessam a qualquer cidadão que preze a liberdade.

É certo que autocracias existem em toda parte do globo terrestre, enclausurando dissidentes (como em Cuba) e perseguindo homossexuais (os de Cuba chegaram a ser confinados). Por que, então, falar tanto de Cuba e tanto de Yoani Sánchez? Porque essa mulher é a prova viva da promessa libertária não cumprida pelos Castros, uma promessa que seduziu e envolveu, em seu início, algumas das maiores inteligências do nosso continente. Falar de Cuba - e de Yoani - é entender a nossa História.

Aí vêm as acusações conhecidas. Ela recebe fortunas do exterior. Colabora com o imperialismo. Mente. Ora, e daí? Mesmo que isso seja absolutamente verdadeiro, não muda nada. Mesmo que ela não passe de uma embusteira, isso por acaso retira dela o direito de viajar para onde bem entender?

Agora Yoani conseguiu o seu passaporte, mas não foi simples. Foram 20 tentativas frustradas. Ela era uma prisioneira, como muitos de seus conterrâneos são até hoje. O regime castrista, acuado, teve de ceder, teve de outorgar-lhe o documento como se fosse um indulto. Mas até aqui vinha prevalecendo o argumento de que, sob suspeita de ser uma agente provocadora, uma cubana não poderia sair do país. Os militantes que a hostilizam deveriam refletir um pouco: desde quando isso é democracia? Mesmo que Yoani defendesse abertamente os Estados Unidos - o que ela não faz, pois, entre outras coisas, critica o bloqueio imposto por Washington contra Cuba -, por que isso deveria retirar dela o direito de ir e vir? Com base em que princípio dos direitos humanos?

O fato é que a simples existência de Yoani Sánchez desmascara o arbítrio que se fantasia de democracia participativa. A democracia não se resume ao respeito à vontade da maioria (se é que, em Cuba, a maioria apoia mesmo o regime); a democracia exige igual respeito aos direitos da minoria, mesmo que essa minoria não passe de uma só pessoa. O socialismo que cobra seu preço em liberdade não pode ser chamado de igualitário. O socialismo que faz a História girar para trás, que volta no tempo, que adota uma ordem mais repressiva e mais primitiva que a do liberalismo político, não constitui um avanço, como se diz, mas um retrocesso (quase sempre com traços de selvageria). Quando as massas, embriagadas pela crença de que exercem o poder das multidões, marcham para silenciar os desviantes, a serviço de um governo, o que se tem é o germe do totalitarismo, nunca a libertação.

Que agora, no Brasil, alguns jovens tenham tentado, aos berros, impedir Yoani de falar é compreensível. Talvez seja até aceitável. Apesar de deselegante, esse tipo de protesto faz parte do código gestual do embate político (este modesto escrevinhador, quando estudante, já participou de manifestações assim, tentando cassar a palavra das autoridades do governo em solenidades públicas). Mas agora a ilusão que move os manifestantes contra Yoani é mais problemática. Eles tentam suprimir a expressão de uma pessoa comum, para que nela ninguém veja o vazio insuportável do regime político que adotaram como religião.

No Jornal Nacional de terça-feira, o senador Suplicy, ao lado da visitante cubana, apareceu com o rosto transtornado, gritando, tentando acalmar os que a insultavam: "Tenham coragem de ouvir!".

Não adiantou. Eles estavam surdos. Inabaláveis em sua fé.

* Eugênio Bucci é jornalista e professor da Eca-USP e da ESPM.

Fonte: O Estado de S. Paulo