domingo, 24 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Nogueira: unir os diferentes e desagregar o existente

O mais importante, porém, é a proposta abrangente da nova legenda, antes de tudo sua disposição de funcionar como uma rede que promova a articulação entre políticos de diferentes orientações partidárias e, ao mesmo tempo, impeça que o partido concentre todas as decisões políticas e fique engessado em torno de seus próprios interesses. A perspectiva tem potência, especialmente porque proclama que é mais importante privilegiar aquilo que une e é comum do que aquilo que distingue e opõe. Se a questão é agir "pelo bem do País" ou por uma causa magna que esteja acima de partidos e facções, a estruturação em rede faz total sentido. Foi mais ou menos assim que Joaquim Nabuco definiu a estratégia do abolicionismo nos anos 1880: ativar um movimento, uma opinião, uma agitação para "desagregar fortemente os partidos existentes, até certo ponto constituindo uma igreja à parte composta dos cismáticos de todas as outras".

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp. ‘Redes, partidos e política’, O Estado de S. Paulo 23/2/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Crack e cocaína afastam do trabalho mais que álcool
Uma luz de esperança na tribo invisível
Metade dos contribuintes já paga IR

FOLHA DE S. PAULO
Chuva causa outra morte e afeta 1.500 famílias no litoral
Eleição italiana vai definir o futuro da 'dolce vita' no país
Gaviões diz que autor de crime se entrega amanhã
Filme 'Argo' chega como favorito ao Oscar; veja candidatos e faça suas apostas

O ESTADO DE S. PAULO
FHC entra na campanha de Aécio para neutralizar Lula
O novo partido da Marina
Trabalho na indústria fecha 2012 com custo recorde

CORREIO BRAZILIENSE
A economia é salva pela soja e pelo milho
Copeiro do TCDF ganhará 10 vezes mais que a média dos brasilienses

ESTADO DE MINAS
Monumentos ao desperdício
Os gargalos e os abusos no entorno de BH

O TEMPO (MG)
Disputa presidencial começa mais de um ano antes da hora
Procurador do caso Lula já trabalhou para o PT e o PSDB
Campanha política aumenta pressão para crescimento

GAZETA DO POVO (PR)
Universidades aceleram inovação voltada ao mercado
Argo, o favorito
No hospital, Chávez se reúne com sua equipe
Paraguai de luxo atrai cada vez mais brasileiros
Só 6 projetos de paranaenses viraram lei
Justiça ordena quatro prisões no Evangélico

ZERO HORA (RS)
O cerco se fecha
Como a briga por alianças prejudica a gestão estadual

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
"Fora Renan"

FHC entra na campanha de Aécio para neutralizar Lula

Tucano será apresentado como "pai" da estabilidade econômica; petista atuará como facilitador de alianças.

Deixado de lado nas três últimas eleições, Fernando Henrique Cardoso foi escalado pelos tucanos para defender a campanha de Aécio Neves à Presidência. Do lado dos petistas, Lula, que nunca deixou o palanque, já saiu em defesa da reeleição de Dilma Rousseff. O embate entre os dois ex-presidentes, 20 anos depois da primeira disputa eleitoral, dará o tom da campanha de 2014, relatam Vera Rosa e Eugênia Lopes. FHC será apresentado como "pai do Plano Real" e da estabilidade econômica. Ele percorrerá o País, a partir de amanhã, para promover o nome do senador mineiro. Já Lula atuará como "facilitador" das alianças para o palanque da sucessora e porta-voz do PT no confronto com tucanos. Dilma ficará concentrada no crescimento econômico, principal preocupação do governo.

Resgate de FHC por tucanos cristaliza duelo com Lula e PT

Quase 20 anos após primeiro embate entre os hoje ex-presidentes, dupla volta a protagonizar disputa eleitoral pelo Palácio do Planalto ao assumir linha frente das campanhas de Aécio Neves e Dilma Rousseff

Vera Rosa e Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Após se enfrentarem nas eleições de 1994 e 1998, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso voltarão a protagonizar a disputa pelo comando do País. Serão os padrinhos dos candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, Aécio Neves. Nesse período de duas décadas, Lula não deixou o palanque. A novidade, agora, é o resgate de FHC pelos tucanos.

Aécio assumiu o discurso de defesa da gestão do fundador do PSDB, algo que os dois últimos candidatos do partido - José Serra e Geraldo Alckmin - não fizeram abertamente nas campanhas de 2002, 2006 e 2010, vencidas pelos petistas.

FHC, apresentado como "o pai do Plano Real" e da estabilização econômica brasileira, vai correr o País para promover o senador mineiro num momento delicado para o governo petista, de baixo crescimento do PIB - algo que pode se tornar um dos principais percalços da campanha à reeleição da presidente no ano que vem.

Já Lula será o principal articulador político da campanha de Dilma com um discurso de comparação com o governo tucano, inclusive no que se refere a desempenho econômico, apresentando números favoráveis à gestão petista no Planalto. Vai voltar a explorar, inclusive, a rejeição a medidas como as privatizações.

A atuação dos dois ex-presidentes reforça a polarização entre PT e PSDB, que marca as disputas pelo Palácio do Planalto desde 1994.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Cabo eleitoral assumido de Aécio Neves

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Escanteado pelo PSDB nas três últimas eleições presidenciais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai ganhar um lugar de destaque na campanha tucana à sucessão de Dilma Rousseff. A um ano e meio das eleições, o ex-presidente se transformou no principal cabo eleitoral do senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência da República, em 2014.

A estreia de FHC na nova função está marcada para amanhã, em Belo Horizonte, onde ele abre um ciclo de palestras encomendadas pelo PSDB mineiro para reafirmar a candidatura de Aécio ao Palácio do Planalto. Desde dezembro do ano passado Fernando Henrique defende, publicamente, a candidatura do mineiro ao Planalto.

O "road show" de FHC para "apresentar" o senador tucano como candidato continua em março, desta vez em São Paulo, também em evento do partido.

Efeito no PT. "Não tem uma programação a longo prazo. Mas têm alguns eventos marcados com a presença do Fernando Henrique", diz Aécio. "Afinal, o presidente Fernando Henrique é uma referência e é bem recebido aonde vai", completa o tucano. Questionado se FHC é um "bom cabo eleitoral", Aécio responde de bate pronto: "Acho que sim. Até pela irritação que provoca nos petistas".

Na condição de cabo eleitoral ilustre, Fernando Henrique verá o legado de seu governo reabilitado durante o giro da campanha tucana pelo País.

O PSDB passou a reconhecer publicamente o legado de FHC em junho de 2011, quando o ex-presidente completou 80 anos. Na ocasião, a presidente Dilma Rousseff enviou carta ao tucano em que reconhecia sua "contribuição decisiva" para o desenvolvimento do País, quebrando um paradigma de ataques imposto pelo PT ao tucano. Antes, candidatos tucanos à Presidência, José Serra, em 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006, nunca citaram o governo de FHC nas respectivas campanhas.

Privatizações. Em 2006, por exemplo, Alckmin, atual governador de São Paulo, não defendeu as privatizações da Era FHC. Na época, o PT carimbou o PSDB de "privativista". Passados sete anos, os tucanos reconhecem o erro e prometem recuperar o que chamar de "herança bendita" dos oito anos de governo de FHC (1995 a 2002).

Responsável pela organização do ciclo de palestras "Minas Pensa o Brasil", que terá FHC como protagonista, o deputado Marcus Pestana (MG), presidente do PSDB mineiro, observa que o ex-presidente não vai participar do dia a dia da campanha de Aécio. "Ele (FHC) é um bom cabo eleitoral e vai se envolver na medida certa na campanha", diz. "O Fernando Henrique é o melhor interprete do Brasil contemporâneo", argumenta o tucano.

Pelo cronograma em gestação, a campanha de Aécio vai ganhar fôlego a partir da convenção do PSDB, em maio, quando deverá ser eleito para presidir a legenda. O pontapé inicial da campanha ocorrerá entre os dias 23 de maio e 1.º de junho, quando serão exibidos 40 comerciais, de 30 segundos cada, com propaganda tucana. Aécio também será a estrela do programa de dez minutos que vai ao ar em maio.

Com essa estratégia, os tucanos querem tornar o senador mineiro nacionalmente conhecido. Governador por duas vezes de Minas Gerais, a avaliação é que Aécio tem uma ação restrita, regional. Uma situação semelhante à do governador de Pernambuco e presidente PSB, Eduardo Campos, possível candidato à Presidência. Neto de Miguel Arraes, ele tem uma atuação voltada para o Nordeste.

Na corrida presidencial, Aécio e Campos saem atrás da ex-ministra Marina Silva que, nas eleições de 2010, obteve quase 20 milhões de votos, ficando em terceiro lugar na disputa, e é conhecida nacionalmente. Isso sem contar a diária exposição da presidente Dilma Rousseff. "Não há espaço para amadorismo. É preciso preparar as bases operacionais da campanha", diz Marcus Pestana.

Apesar de ainda não ter admitido que é o candidato do PSDB, Aécio Neves passou a agir como tal, sobretudo na última semana, quando subiu à tribuna do Senado para enumerar os 13 fracassos do governo do PT. O discurso, planejado como um contraponto à festa petista em que o ex-presidente Lula acabou lançando Dilma Rousseff à reeleição, foi discutido com a cúpula partidária. Em Belo Horizonte, berço político do tucano, a ideia é novamente dar visibilidade a sua candidatura, mais uma vez turbinada por Fernando Henrique.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Formação de palanques será o desafio de Aécio

Senador do PSDB vai reestruturar partido em alguns estados para 2014

Cássio Bruno

Pré-candidato à Presidência em 2014 pelo PSDB, o senador Aécio Neves vai precisar se desdobrar para montar palanques fortes nos estados contra o PT da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição. Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Distrito Federal são as prioridades de Aécio. O partido passará por um processo de reestruturação nesses locais. Na avaliação dos tucanos, são colégios eleitorais importantes e onde a sigla apresentou resultado ruim nas eleições municipais em 2012.

O assunto foi discutido em reunião informal por deputados e senadores do PSDB na última quarta-feira, logo após o discurso de Aécio na tribuna do Senado horas antes do evento de comemoração aos dez anos de governo do PT.

Na caminhada em busca de alianças nos estados, Aécio terá, inicialmente, de convencer o DEM, principal aliado, a apoiar sua candidatura. Em recente encontro na Bahia, o Democratas demonstrou que pode se aproximar do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, caso ele decida disputar a Presidência pelo PSB.

No Rio, o DEM pode ser uma pedra no sapato de Aécio. O vereador Cesar Maia, ex-prefeito da capital, se encontrará com o senador nas próximas semanas. Cesar vai avisar a Aécio que o DEM terá candidato próprio ao governo do estado e quer o PSDB no bloco aliado.

- Não queremos excluir (o PSDB). Mas queremos ter um candidato (ao governo) com o número 25 na televisão e no rádio - afirma Cesar Maia.

O PSDB, no entanto, sonha em lançar um nome competitivo no Rio para disputar a sucessão do governador Sérgio Cabral, do PMDB.

- A ideia é escolher um candidato da sociedade, conhecido e que não seja, necessariamente, do meio político - diz um integrante da Executiva Nacional do PSDB.

No Rio Grande do Sul, a preocupação dos tucanos é em Porto Alegre. Sem representação significativa na capital gaúcha, dirigentes consideram a tarefa "complicada". A estratégia é tentar levar o PMDB, aliado de Dilma, ao palanque de Aécio Neves. A senadora Ana Amélia, do PP, é uma das apostas do PSDB para concorrer ao governo estadual.

Outro obstáculo de Aécio é o Nordeste. Dos nove estados da região, o PSDB só elegeu um governador (Alagoas), em 2010, contra quatro do PSB. Já das nove capitais nordestinas, apenas duas (Maceió e Teresina) são prefeituras tucanas. Na Bahia, a esperança é convencer o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, do DEM, a pedir votos para Aécio.

- A candidatura de Eduardo Campos vai dividir a base de Dilma no Nordeste. O Aécio é amigo do Neto. Teremos, sim, palanques fortes - ressalta o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG).

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, desconversa sobre o assunto:

- Ainda é cedo para falar de palanques. É precoce.

Fonte: O Globo

As armas de cada um para a disputa em 2014

Com o apoio dos maiores partidos no Congresso, o PT e o PMDB, a presidente Dilma sai na frente e tem, até agora, o maior tempo de propaganda na tevê. A oposição, com Aécio Neves, aparece em segundo. Eduardo Campos e Marina Silva precisam de alianças políticas

Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia, Ivan Iunes

A eleição presidencial de 2014 começou na semana que passou com eventos midiáticos, como a festa do PT em São Paulo; o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado; o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) com prefeitos; e o lançamento do novo partido de Marina Silva, o Rede Sustentabilidade, em Brasília. Mas disputas desse porte são decididas nos bastidores, com a definição das alianças políticas — que trarão tempo de tevê para os candidatos — e na montagem de palanques estaduais fortes para os presidenciáveis visitarem, fatores que só serão definidos no ano que vem.

No momento, a presidente Dilma Rousseff beneficia-se de uma ampla coligação governista, que inclui aproximadamente 14 partidos que apoiam o governo no Congresso. Mas a negociação terá que ser pontual. Até o momento, apenas o PMDB está na chapa de Dilma, indicando o vice-presidente Michel Temer. Reunidos, PT e PMDB somam 170 deputados, o que garante à presidente pouco mais de seis minutos e meio de tempo de tevê, de acordo com os critérios definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em segundo lugar, com quase três minutos e meio de tempo de televisão, surge o provável candidato do PSDB, Aécio Neves (MG), que tem confirmados em sua coligação o DEM e o PPS, totalizando 88 deputados. Os outros dois presidenciáveis enfrentam, no momento, cenários mais delicados. Eduardo Campos só conta com os deputados do próprio partido, o PSB: 26. Situação pior enfrenta Marina Silva que tem até outubro para criar o Rede Sustentabilidade, que tem a promessa da filiação de três deputados. Isso garante escassos sete segundos no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.

Para além das parcerias já conhecidas, existe uma massa de 17 partidos que ainda definirão seus rumos nas eleições do ano que vem. Juntos, eles têm a oferecer os nada desprezíveis oito minutos e 53 segundos “voando” diante dos olhos dos possíveis presidenciáveis. Boa parte deles já está com Dilma e deve continuar — é o caso, por exemplo, do PCdoB, que sempre esteve ao lado do PT desde as primeiras eleições presidenciais de 1989.

Flerte

Quatro partidos que atualmente flertam com o Palácio do Planalto podem desequilibrar essas forças: PSD, PR, PDT e PP. Coincidência ou não, as três primeiras legendas intensificaram, nas últimas semanas, conversas com a presidente Dilma e devem ser contempladas com ministérios ou um tratamento diferenciado na Esplanada. “O PSD, com certeza, marchará com Dilma em 2014. Mas o partido ainda está dividido sobre a vantagem de ter ou não um ministério neste momento”, afirmou o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.

Em conversas anteriores, Saulo já havia dito que a candidatura de Dilma unifica a legenda, diferentemente do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta forte resistência no setor do partido ligado ao agronegócio, que tem como principal expoente a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Em conversas internas com a legenda, a parlamentar — que tem uma ótima relação com a presidente Dilma — também tem dúvidas se é o momento de o PSD assumir ou não uma pasta na Esplanada.

O PR vive uma situação diferente. O partido sempre esteve ao lado do PT, desde 2003. Em 2011, o senador Alfredo Nascimento (AM) foi exonerado do Ministério dos Transportes sob acusações de superfaturamento em obras da pasta. Há duas semanas, Dilma chamou o próprio Nascimento e o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), para avisar que gostaria de contar com o partido em 2014. “Mas a senhora será candidata? Tem gente no PT que acha que o candidato será o Lula”, indagou Garotinho. “Vamos mudar de assunto, eu serei candidata”, respondeu ela. Na última quarta-feira, Lula confirmou que a tarefa do PT é reeleger Dilma Rousseff.

O PP não vê a própria situação no ministério ameaçada. O ministro Aguinaldo Ribeiro tem prestígio no governo. São as relações consanguíneas que jogam incertezas sobre o futuro rumo da legenda. O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), é tio do provável candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves. Em 2010, cogitou-se a possibilidade de ele ser vice do PSDB, caso Aécio fosse candidato. Os tucanos acabaram escolhendo o ex-governador de São Paulo José Serra. “A eleição de 2014 será devidamente tratada em 2014”, sintetizou o senador fluminense.

O secretário de organização do PT, Paulo Frateschi, lembra que quase todos os partidos aliados — inclusive o PSB de Eduardo Campos — estiveram presentes na festa do PT da última quarta-feira. “E acho que estarão juntos conosco no ano que vem, até o PSB. Eduardo é muito grande para contentar-se em participar para forçar a realização do segundo turno”, apostou Frateschi. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, faz mistério sobre os possíveis futuros aliados. “Queremos conversar para fechar parcerias. Mas não podemos adiantar nada para não atrapalhar a nossa estratégia.”

Mesma situação vive o PSDB. Eles não perdem a esperança de que o bom trânsito de Aécio Neves entre os diversos partidos possa atrair legendas com o PP, o PR e o PDT. “Mesmo assim, não temos a ilusão de chegar ao início do ano eleitoral disputando minuto a minuto o tempo de televisão com a presidente Dilma”, declarou o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro (MG).

588 dias

Tempo que falta até a realização do primeiro turno das eleições presidenciais de 2014, marcado para 5 de outubro do ano que vem

"O PSD, com certeza, marchará com Dilma em 2014. Mas o partido ainda está dividido sobre a vantagem de ter ou não um ministério neste momento" - Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD

Fonte: Correio Braziliense

Os palanques pelo Brasil

A montagem dos palanques estaduais fortes também servirá para dar um alento aos candidatos a presidente. Neste quesito, quem mais tem comemorado é a oposição, especialmente o PSDB. Reforçado pelo bom resultado das eleições municipais, o partido, segundo avaliam tucanos do Nordeste, como o presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, abriu boas perspectivas na região e também no Norte.

O PSDB parte para a reeleição do governador do Pará, Simão Jatene, e venceu a prefeitura de Belém; comanda Manaus, Maceió e Teresina; e pode se aliar com ACM Neto em Salvador. Além disso, tem grandes chances de reeleger o governador do Paraná, Beto Richa; Marconi Perillo em Goiás; e fazer o sucessor de Antonio Anastasia em Minas Gerais.

O PT aposta na reeleição de Tarso Genro no Rio Grande do Sul; Agnelo Queiroz no Distrito Federal; e Tião Viana no Acre. Além disso, confia nos êxitos de Gleisi Hoffmann no Paraná; de Lindbergh Farias no Rio de Janeiro; de Fernando Pimentel em Minas Gerais; do nome a ser escolhido em São Paulo; e de Delcídio Amaral no Mato Grosso do Sul.

Embalado pelo êxito nas urnas durante as eleições municipais de 2012, o PSB tem pela frente a reeleição de Renato Casagrande no Espírito Santo, e de Ricardo Coutinho na Paraíba. E a possibilidade de nomes fortes na sucessão do próprio Eduardo Campos em Pernambuco; de Cid Gomes no Ceará; e de Wilson Martins no Piauí.

Fonte: Correio Braziliense

Disputa presidencial começa mais de um ano antes da hora

.Dilma e Aécio deixam cordialidade de lado, partem para o ataque mútuo e antecipam campanha

Correligionários mineiros dos dois presidenciáveis apoiam iniciativa

Rodrigo Freitas

Ainda falta mais de um ano para as eleições presidenciais de 2014, porém, a corrida pelo Planalto já começou. Na última semana, a presidente Dilma Rousseff, que deverá tentar a reeleição pelo PT, e o senador mineiro Aécio Neves, presidenciável do PSDB, explicitaram e anteciparam a disputa que deveria começar, ao menos oficialmente, em julho do ano que vem.

E a briga começou ácida, com alfinetadas e acusações que partiram de ambos os lados. Neste primeiro momento de pré-campanha, os futuros postulantes ao governo apostaram suas fichas na desconstrução de seu respectivo rival.

Em evento de comemoração dos dez anos do PT no governo federal, Dilma relegou qualquer herança do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. "Nós não herdamos nada. Tivemos de construir tudo", afirmou Dilma na última quarta-feira. Do outro lado, buscando a antítese do discurso do PT, Aécio fez um pronunciamento no Senado e enumerou o que ele considera os 13 erros do PT ao longo das gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da Dilma.

As ideias e os projetos ficaram em segundo plano, e a disputa caminhou apenas para o tom plebiscitário que já dominou os últimos pleitos. Aécio acusou o PT de governar o Brasil "com a lógica da reeleição".

Mas essa situação não causa estranheza ao cientista político da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Leal. "Aonde quer que exista a reeleição, a partir do primeiro dia de governo já se pensa nela. Todos fazem assim e sempre fizeram", avalia.

A agressividade e a antecipação da campanha foram motivo de crítica de outro ator no cenário da disputa presidencial do próximo ano. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), candidato em potencial à Presidência - cujo apoio é também disputado por Dilma e Aécio - criticou o debate antecipado.

"A população está preocupada, o Brasil não cresceu no ano passado como se esperava. Precisamos ajudar a presidente Dilma, ajudar a levar o país ao seu reencontro com o crescimento, que gera oportunidade. Não é preciso ‘eleitoralizar’ tanto a política brasileira assim", disse na última sexta-feira.

Normalidade. A antecipação do calendário e o acirramento do discurso dos dois principais pré-candidatos ao governo federal parecem não incomodar seus apoiadores. Em Minas, o presidente do PT em Belo Horizonte, Roberto Carvalho, joga a responsabilidade para o outro lado. "Eles anteciparam a disputa porque não têm ainda um discurso de propostas", ataca.

Já o presidente estadual do PSDB, deputado federal Marcus Pestana, faz coro ao discurso de Aécio e reafirma o entendimento de que "o PT governa com a lógica da reeleição". Os tucanos mineiros defendem a antecipação para que o nome de Aécio Neves ganhe evidência pelo país.

Fonte: O Tempo (MG)

Marina pede apoio em ritmo de campanha

Ex-senadora começa a coletar assinaturas para a criação do Rede Sustentabilidade na Feira do Guará, com direito a discurso, foto com eleitores e críticas aos adversários

Adriana Caitano

A presidenciável Marina Silva participou ontem do primeiro ato público de coleta de assinaturas de seu novo partido, o Rede Sustentabilidade, na Feira do Guará. Em clima de campanha, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente abraçou eleitores, foi fotografada ao lado deles, fez discurso e criticou adversários. A expectativa do grupo é garantir o apoio de mais de 500 mil eleitores de todo o país até junho, três meses antes do prazo estabelecido pela lei eleitoral para que os integrantes da sigla se candidatem em 2014.

A ação de Marina ocorre na semana em que os outros pré-candidatos à Presidência — Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) — emitiram sinais de que já estão em campanha, antecipando o pleito. A ex-ministra, porém, evita falar sobre o período eleitoral. “Infelizmente na realidade do Brasil sempre foi assim, mas o eleitor está enfastiado de eleição, é preciso primeiro se discutir um projeto de país”, comentou Marina, que nega estar em campanha. “Isso que estamos fazendo faz parte da regra para criar o partido, não tem como ser de outro jeito a não ser pedir o apoio pessoalmente.”

De acordo com os organizadores do evento, o Guará foi escolhido por ter sido a região do Distrito Federal em que, proporcionalmente, Marina teve mais votos em 2010, quando se candidatou à Presidência pelo PV. Ele recebeu o apoio de 19,6 milhões eleitores no país inteiro e venceu na capital federal. A movimentação no local, no entanto, não chegou a empolgar. Com a camiseta da Rede, calça jeans e tênis, a ex-senadora falou para um público que não ultrapassou 50 pessoas. “Se os outros vêm de tubarão, nós viemos com a política das formigas, colhendo apoio de casa em casa”, comentou.

No discurso, Marina Silva demonstrou preocupação com os projetos que tramitam no Congresso que podem limitar e dificultar a criação de partidos, como o que pretende aumentar para 1 milhão o número de assinaturas mínimas para a fundação de uma legenda. Há também uma proposta que pode impedir parlamentares de migrarem para legendas criadas após as eleições, levando o fundo partidário e o tempo na propaganda de TV da sigla de origem. “Estão querendo mudar a regra no meio do jogo para evitar que tenhamos um partido com novas ideias, mas os políticos democratas deste país haverão de se contrapor a esse tiro no pé da democracia”, disse.

Fonte: Correio Braziliense

Financiamento expõe "Pirâmide Social" da Rede de Marina

Centenas de entusiastas fazem pequenas doações comprando produtos, como camisetas, mas grosso do dinheiro que financiará criação do partido sai do bolso de uma dezena

Julia Duailibi, Isadora Peron

O partido que a ex-senadora Marina Silva pretende criar neste ano, o Rede Sustentabilidade, deverá consumir pelo menos R$ 500 mil no processo de captação de assinaturas pelo País. O financiamento desses recursos reproduzirá a pirâmide social do "movimento", como os marineiros chamam a legenda. As menores doações vêm de centenas de entusiastas, que compram uma camisa de R$ 20, mas o grosso é concentrado em uma dezena de fundadores, alguns deles ligados às maiores empresas do País.

Os organizadores do partido esperam a obtenção do CNPJ da Rede, que deve sair na próxima semana, para começar a arrecadar as contribuições. Por enquanto, foram levantados pouco mais de R$ 150 mil, destinados a pagar os custos do evento de lançamento da legenda em Brasília há uma semana.

Os recursos foram obtidos com a venda de 500 camisetas e outros produtos, mas a maior parte veio de cerca de 80 dos 250 fundadores, entre os quais Neca Setúbal, socióloga e herdeira do Itaú, e Guilherme Leal, copresidente do Conselho de Administração da Natura, que foi candidato a vice na chapa de Marina, pelo PV, nas eleições de 2010.

Questionada sobre para onde vai o dinheiro arrecadado, já que ainda não há uma conta corrente do partido, Neca, responsável pela área financeira da Rede, brincou: "Embaixo do colchão do Marcelo Estraviz", numa referência ao especialista em captação de recursos que atua no "movimento".

De acordo com a legislação eleitoral, são necessárias quase 500 mil assinaturas em pelo menos nove Estados para fundar uma nova legenda. Para que o partido esteja apto a disputar a eleição em 2014, quando Marina deverá ser candidata a presidente, precisa obter o registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até um ano antes da eleição. Portanto, no começo de outubro - até agora, foram baixadas cerca de 20 mil fichas de apoio do site da Rede.

Adilson Barroso, presidente do PEN (Partido Ecológico Nacional), demorou quase seis anos para conseguir fundar sua legenda, que obteve o registro definitivo em 2012. "De cada dez pessoas que você chega para pedir a assinatura, apenas uma aceita. As pessoas estão com raiva da política. Depois, tem o cartório que não aceita a assinatura, fala que está diferente. Inclusive as assinaturas dos fundadores do partido", declarou Barroso.

Os maiores entraves apontados por quem procura criar um partido são a burocracia nos cartórios eleitorais e a demora dos Tribunais Regionais Eleitorais, a segunda instância no processo, para homologar as listas de apoio enviadas, depois, ao TSE. "O TRE de Roraima demorou 13 meses para homologar as listas. É muito difícil mesmo. Fiquei quatro meses longe de casa atrás de assinaturas. Avisei: estou indo para a guerra", contou Barroso.

Há hoje 30 partidos fundados no País - e, pelo menos, mais 30 na corrida para a formalização. A regra é demorar mais de ano para obter as assinaturas. O Partido Pátria Livre (PPL), por exemplo, foi fundado em 2009, mas conseguiu o registro apenas em 2011.

A exceção foi o PSD (Partido Social Democrático), do ex-prefeito Gilberto Kassab. Da aprovação da ata de fundação até o registro final, em setembro de 2011, foram apenas seis meses, um recorde. A legenda não divulgou o quanto foi gasto no processo, mas Barroso, conhecedor do processo, aposta que as questões políticas pesaram mais que o dinheiro gasto na empreitada. "Não acredito na questão do dinheiro. Teve grande interesse do governo de fundar o partido do Kassab para quebrar o DEM e o PSDB. O partido da Marina sai em menos de um ano se for do interesse do governo", avaliou.

Doações. A Rede começa a montar uma estrutura de arrecadação para tentar bancar o custo de R$ 500 mil para buscar os apoios. O dinheiro servirá para criar uma estrutura mínima de coleta em todos os Estados, além do pagamento de uma empresa de auditoria que fará a verificação da autenticidade das assinaturas recolhidas. Entre os modelos criados, está o que os fundadores do partido escolhem um entre os quatro tipos de doação: R$ 10, R$ 50, R$ 90 ou um valor acima das três opções. Para aumentar a captação de recursos, será criada a figura do "mantenedor", que fará contribuições mensais, mas que não necessariamente será filiado.

"Muita gente está doando. Estamos fazendo um esforço em busca de qualquer doação", declarou Neca. Além do gasto com a procura de assinaturas, há as despesas com a estrutura de comunicação, a manutenção do site e atendimento à imprensa. De acordo com a fundadora, esses valores só começarão a ser pagos à empresa que atende à Rede a partir de março. "Também estamos recolhendo doações para pagar o advogado que está cuidando de organizar o estatuto do partido", lembra André Lima, membro da Executiva da nova legenda.

Se, por um lado, o grosso do financiamento vem dos fundadores, há uma militância incipiente, que passou a fazer contribuições mais modestas, e artistas do eixo Rio-São Paulo que, atraídos pela figura de Marina, devem ajudar na arrecadação - o cantor e ex-ministro Gilberto Gil e os atores Wagner Moura e Marcos Palmeira vão gravar um vídeo para ensinar as pessoas a preencherem as fichas.

Professor de história da rede pública de Contagem, (MG), Otto Ramos ganha R$ 1.910 por mês. Foi a Brasília participar do lançamento da Rede por conta própria. Dividiu em 3 vezes a passagem aérea, de R$ 250, comprada numa promoção. Para economizar, optou inicialmente pela hospedagem oferecida por pessoas que moram em Brasília. Depois preferiu um hotel. Ramos contribuiu com R$ 50 para pagar as despesas do evento e comprou ainda duas camisetas para ajudar no rateio.

O empresário paulista João Ramirez, que trabalha com desenvolvimento de produtos digitais, também foi ao encontro em Brasília. "Estou fazendo tudo o que posso para ajudar. Imprimi as fichas em casa e já distribuí para a minha família assinar. Também vou ver o que posso fazer na área da comunicação, que é do que eu entendo", afirmou Ramirez.

Entusiasta da Rede, a estudante Michelle Portela, que faz doutorado na Unicamp, disse que vai trabalhar como voluntária. Ela pretende criar um circuito de debates nas universidades sobre o partido.

A Rede espera recolher também algum recurso com artistas em eventos sociais ou através do crowdfunding, por meio do qual artistas captam recursos para seus projetos na internet. Nesse caso, os valores arrecadados na rede serão doados à Rede de Marina.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Marina e Gabeira devem fazer duelo

Outra disputa que deve se acentuar com o afunilamento do processo eleitoral em 2014 será entre a ex-senadora Marina Silva, que tenta colher as assinaturas para seu partido – batizado de Rede Sustentabilidade – e o ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ). Embora ele negue a intenção de ser candidato, seu partido aposta as fichas nele.

Marina ainda busca uma capilaridade maior para seu partido. "Realmente, será um desafio para nós disputar de cara uma eleição presidencial. Mas vamos trabalhar muito em prol da Marina", afirma o deputado federal Alfredo Sirkis, um dos fundadores da legenda, ao lado da ex-senadora.


Do lado do PV, a aposta é que Gabeira possa entrar no eleitorado de Marina – mais consciente e preocupado com o meio ambiente. "Queremos lançar o Gabeira", diz o deputado federal Antônio Roberto (PV-MG).

Fonte: O Tempo (MG)

Eduardo: discurso pronto para 2014

Governador mostra que deve repetir plataforma testada por Geraldo Julio em 2012, do representante do "pós-petismo"

Gilvan Oliveira

O discurso adotado por Eduardo Campos (PSB) nessa largada antecipada à sucessão presidencial é exatamente o mesmo utilizado por Geraldo Julio (PSB) na campanha para prefeito do Recife, no ano passado. E, aqui, qualquer semelhança não é mera coincidência. Aquela campanha eleitoral serviu de grande laboratório para testar o discurso do projeto Eduardo 2014, de se apresentar como o representante da uma "política moderna", dissociada de brigas, de alguém capaz de dar um salto de qualidade à gestão no "pós-petismo", sem rupturas e sem colocar em risco avanços sociais construídas pelo aliado PT, ou até mesmo a estabilidade econômica do PSDB.

Segundo o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, Eduardo usou esse discurso já em 2010, quando disputou o governo contra Jarbas Vasconcelos (PMDB), estigmatizando o peemedebista como representante da "velha política", marcada mais por disputas ideológicas que por discussões administrativas. Na campanha de 2012, completa, essa estratégia foi reforçada e teve na candidatura de Geraldo seu teste de fogo.

O maior indicativo de que o governador colocará o mesmo discurso em prática, caso se confirme sua candidatura, foram as declarações dele durante o evento que reuniu prefeitos, parlamentares e lideranças de todo o Estado em Gravatá, no final da semana. A crítica à "velha rinha política", a ênfase em buscar uma administração "que entregue resultados concretos" e que construa um modelo de gestão focado em metas e desempenho pontuaram as afirmações do governador e de seus aliados. Foi a linha do discurso de Geraldo contra o PT, que deu certo no Recife.

A crítica à "rinha política" de Eduardo, ao se referir ao embate entre petistas e tucanos, na campanha de 2012 era utilizada em referência às "arengas" internas do PT pernambucano. A ênfase na qualidade da gestão, em formular metas e buscar resultados, na preocupação em "entregar o que prometeu", traz uma crítica velada à gestão Dilma Rousseff, cobrada por atrasos em obras, caso da transposição do Rio São Francisco. Ineficiência foi uma das principais censuras apresentada por Geraldo em relação ao governo petista de João da Costa.

Além do discurso, a campanha de 2012 dá outros indicativos de como seriam os movimentos de Eduardo. Ele não seria um opositor de Dilma Rousseff: se apresentaria como um aliado crítico, que converge com o PT nos valores "de esquerda", mas diverge no direcionamento administrativo, pregando não um rompimento, mas ajustes de rumos. Foi o que fez Geraldo em 2012. Em nenhum momento ele empunhou a bandeira de opositor do PT. Fez o discurso do meio termo: pregou o avanço com a preservação "do que deu certo".

"A mensagem é a seguinte: houve o momento do desafio da estabilidade econômica, vencido pelo PSDB, da adoção de políticas sociais, tocadas pelo PT, e que o próximo será de aliar essas conquistas com qualidade na gestão e crescimento econômico. E Eduardo se coloca como capaz de comandar essa nova etapa", avalia Túlio Velho Barreto.

O resultado das eleições no Recife mostrou que a oposição não conseguiu aderência no eleitorado capaz de convencê-lo a uma guinada. No plano nacional, a aposta do PSB é que o modo petista de governar está se desgastando, porém não o suficiente para levar o eleitorado a optar pela oposição, mas por alguém que faça ajustes, como no quadro recifense. E, por coincidência, a oposição local corresponde à nacional, com DEM, PSDB e PPS.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PSB se equilibra entre ficar com Dilma e ser alternativa de poder

Socialistas tentam se fortalecer para, só em 2014, decidir se tentarão Presidência

Junia Gama

BRASÍLIA - Apesar de caminhar em direção ao lançamento da candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República, o PSB não pretende adotar já no Congresso uma postura de embate direto com o governo Dilma Rousseff. Segundo a avaliação predominante no partido, é melhor ficar na base governista e se fortalecer, enquanto o PSB se organiza nos estados para ter palanques mais consistentes.

Se depender de setores importantes do PSB, a decisão sobre a permanência ou não na base aliada deverá ser tomada só em 2014, quando será possível saber se o partido está forte o bastante para tentar voo solo.

Os socialistas devem agir este ano num sistema de avanços e recuos, com seus parlamentares ora incitando a independência do PSB, ora ajudando Dilma a aprovar medidas para o crescimento econômico.

Nesse jogo de alternância, estão escalados dois líderes do PSB no Congresso com perfis antagônicos: o deputado Beto Albuquerque (RS), encarregado de "pisar no acelerador", e o senador Rodrigo Rollemberg (DF), que deverá conter as especulações sobre a candidatura de Campos. A ideia, dizem interlocutores de Campos, é não se tornar desde já um adversário do governo e, ao mesmo tempo, não desestimular os aliados do PSB.

Desde que assumiu a liderança da bancada na Câmara, este ano, Albuquerque adotou um discurso de embate ao governo e lançou a candidatura antecipada de Campos. Chegou a declarar que os socialistas não queriam o lugar de vice, mas sim a cabeça da chapa em 2014. Já Rollemberg, líder no Senado, diz que 2014 só deve ser discutido em 2014 e que a hora é de estar com Dilma.

Neste ano, Campos aposta num embate mais sutil, mantendo o apoio ao governo no Congresso quando considerar adequado, mas partindo para a divergência em casos específicos. O que ele não quer, ao menos já, é se somar à oposição. E o Palácio do Planalto deseja que Campos seja bem tratado para que não haja mágoas, de forma que um rompimento com o PSB não signifique apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG), o que seria um pesadelo para o PT. Os dois ministérios ocupados pelo PSB (Integração Nacional e Portos) devem permanecer intocados na reforma ministerial planejada para março.

Fonte: O Globo

Governistas brigam por mais espaço no ministério

"Conversam comigo para se valorizar do lado de lá. Eu finjo que sou bobo", diz Aécio, provável adversário de Dilma

Maria Lima, Fernanda Krakovics

BRASÍLIA Fidelidade canina à chapa governista, até agora, só mesmo do PCdoB. Com os principais atores da disputa presidencial de 2014 já entrando em campo, começou pesado o ataque especulativo de partidos da base governista, que procuram se cacifar melhor para levar alguma vantagem na reforma ministerial prometida para março.

Como dona da caneta das nomeações, a presidente Dilma Rousseff é quem mais está sendo atacada pelos partidos aliados periféricos, que foram "jogados fora" na época da chamada faxina ética, e agora veem a chance de dar o troco. Mas não são só PDT, PR, e PP que procuram se reposicionar conversando ora com o tucano Aécio Neves (MG) ora com o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ou com todo mundo junto.

Até mesmo setores do PMDB, partido teoricamente casado com o PT na aliança que garante Michel Temer como vice de Dilma, sinalizam que podem inviabilizar a repetição da aliança formal, se não forem bem atendidos e compensados após seu fortalecimento nas eleições municipais e nas presidências de Câmara e Senado. É o caso do PMDB mineiro, que briga por um ministério desde que o deputado Leonardo Quintão renunciou à candidatura a prefeito de Belo Horizonte em favor do petista Patrus Ananias, ano passado.

- Conversam comigo para se valorizar do lado de lá. Eu finjo que sou bobo. O PDT também conversa aqui. Na verdade, está todo mundo conversando com todo mundo - diz Aécio Neves, provável adversário de Dilma em 2014.

No PMDB, a expectativa é que se cumpra a promessa feita pelos então candidatos Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de que, após eleição das Mesas de Senado e Câmara, teriam mais força para cobrar mais espaço na Esplanada. O objetivo seria conseguir um ministério maior, para acalmar as bancadas.

- Estão todos conversando com todos, e o temor é que isso contamine também o PMDB. Alguns dos PMDB, como os mineiros, querem conversar com Eduardo Campos e Aécio. Esse negócio de casamento de 60 anos feliz já era. Para manter o casamento e a mulher feliz, de tempos em tempos tem que dar uma joiazinha para reacender a paixão. Se não, chega outro com um carrão mais bonito e descobre-se um novo amor - ilustra o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

A ofensiva dos mineiros já estaria surtindo resultado, depois que o ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, o petista mineiro Fernando Pimentel, fez chegar essa preocupação ao Planalto e ao PT. Na conversa entre Lula e Henrique Alves, sexta-feira, em São Paulo, um ministério começou a ser negociado para os mineiros .

Fonte: O Globo

Dilma oferece 3 pastas para saciar apetite de aliados

Partidos menores conversam também com Eduardo Campos e Aécio

BRASÍLIA - Para saciar o apetite dos aliados assediados por adversários, a presidente Dilma Rousseff tem à mão, para negociar, ministérios para os quais fez indicações pessoais: Transportes, que o PR deseja retomar para voltar à base governista; Trabalho e Emprego, que o PDT de Carlos Lupi quer voltar a comandar; e Agricultura. Leonardo Quintão (PMDB-MG), por exemplo, poderia ir para a Agricultura no lugar de seu colega gaúcho Mendes Ribeiro. A vocação agrícola de Minas ajudaria a justificar a mudança.

No PR, o ex-ministro dos Transportes e presidente do partido, senador Alfredo Nascimento (AM), e o líder na Câmara, deputado Anthony Garotinho (RJ), já estiveram no Planalto negociando seus retornos à base, desde que tenham de volta o Ministério dos Transportes, alvo de cobiça também do PMDB. Mas o PR já estaria disposto a voltar por menos: retomar o poder apenas no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e na Valec, responsáveis pelas obras em rodovias e ferrovias. Mas não será fácil a presidente aceitar essa proposta, pois os dois órgãos foram focos de denúncias de corrupção em 2011.

- O que vai acabar acontecendo é que Dilma não vai dar nada para o PR. Mas Eduardo Campos já tem feito tratativas e conversas com o PR. Ele está negociando com os partidos jogados fora por Dilma - avisa um dos caciques do PR.

Já o comando do PDT quer emplacar o secretário-geral do partido, Manoel Dias, ligado ao presidente da sigla, Carlos Lupi, no lugar de Brizola Neto, no Trabalho. Sem apoio partidário, por ser considerado uma escolha pessoal de Dilma, Brizola Neto também perdeu sustentação na Força Sindical.

Segundo pedetistas, na conversa entre Dilma e Lupi, há duas semanas, a presidente ofereceu a possibilidade de o PDT trocar Brizola Neto por quem o presidente do partido queira. Mas, em contrapartida, pretende amarrar desde já o apoio do partido à sua reeleição. Lupi não teria aceito essa condição.

- Lupi conversa todo dia com Aécio e Eduardo Campos. Eu, pessoalmente, sou contra Dilma e vou até com o capeta - diz um pedetista dissidente.

Lupi, que perdeu o posto de ministro, mas continua encastelado no conselho do BNDES, aproveita o assédio da oposição para recuperar poder junto a Dilma, enquanto outros pedetistas espalham que negociam com Campos ou Aécio.

O PTB, outro partido da base aliada, sempre esteve dividido, mas parece mais decidido agora.

- O PTB vai com Eduardo Campos e não tem nem conversa - afirma o deputado Sílvio Costa (PTB-PE).

Fonte: O Globo

De dramas e personagens - Luiz Sérgio Henriques

Num tempo de autoproclamado neodesenvolvimentismo, apesar da modéstia das taxas de crescimento, pode-se prever que viveremos não 50 anos em 5, como na situação original, mas pelo menos 2 anos em 1 só, com a superposição de 2013 e 2014 num período mais ou menos contínuo de diferenciação de candidaturas, apresentação de programas divergentes e, por fim, eleições presidenciais propriamente ditas.

Sendo a política, na concepção de falecido político mineiro, sagaz e conservador, uma atividade que guarda relação com o fugaz desenho das nuvens, adivinhar o que nos reserva esse tempo compacto de dois anos é tarefa que assustaria até um autor acostumado a dramatizar ambições, imaginar golpes da fortuna, coreografar danças e contradanças na alma de personagens que não são nunca autores isolados de si próprios. Afinal, como lembrava Ulysses, o patrono da moderna democracia brasileira, as circunstâncias desempenham sempre função crucial, delimitando, corrigindo, ampliando ou mesmo anulando o papel que cada personagem se atribui no correr do drama.

Houve época em que a primeira encarnação da social-democracia brasileira, chegada ao poder em 1995 na esteira de bem-sucedido plano de estabilização, requeria para si um poder que durasse 20 anos. Vinte anos, diziam, é o tempo que seria necessário para a reforma integral do capitalismo brasileiro num sentido que diminuísse drasticamente o poder do Estado - simbolicamente sintetizado na era Vargas, a qual se projetava, com a roupagem do autoritarismo militar, para o "Estado Novo da UDN" - e libertasse a sociedade capitalista de uma tutela tornada anacrônica. Prolongar a tutela seria tolher as energias e deformar a nova sociedade já plenamente burguesa, assim como antes sucedia ao corpo das crianças por causa do imemorial costume de enfaixá-las a pretexto de lhes garantir crescimento saudável.

A segunda encarnação da social-democracia, no poder há dez anos, não ambicionou nem ambiciona menos. Para realizar seu programa, nunca, jamais tentado na História do Brasil, de desenvolvimento e inclusão social acelerada, especialmente por meio do consumo popular, os mesmos 20 anos ou mais de poder continuado seriam o mínimo requerido. Até nisso esses irmãos siameses desavindos ferozmente, como não raro acontece nos enredos bombásticos, se parecem. Fratelli, coltelli - dizem expressivamente os italianos.

Um dos mais argutos observadores da vida brasileira (cf. Luiz Werneck Vianna, A Modernização sem o Moderno - Análises de Conjuntura na Era Lula, Editora Contraponto & Fundação Astrojildo Pereira, 2011) entendeu aquela ambição dos novos donos do poder como um "Estado Novo do PT", entidade omnívora capitaneada por um partido de esquerda que, uma vez assentado na Presidência da República, pretendeu assimilar tudo e o contrário de tudo, renunciando, no mesmo movimento, a ser fator de ativação da vida cívica e do "progresso intelectual de massas". Nada mais distante, por sinal, da elaboração refinada e complexa de uma nova hegemonia e de um equilíbrio social e econômico mais avançado, que exigem, acima de tudo, escrupuloso respeito às normas do Estado Democrático de Direito, o que exclui o "subversivismo elementar" evidenciado, por exemplo, não só na operação dos fatos rotulados como "mensalão", como na reação juvenil e intempestiva às decisões da Suprema Corte, pedra fundamental na defesa dos princípios da Carta de 1988.

Vitórias eleitorais sucessivas podem ser alicerçadas menos numa estratégia hegemônica de longo fôlego do que na criação de mitos extemporâneos - afinal, todo Estado Novo, seja da UDN, seja do PT, demanda alguma forma de DIP e o devido aparelho intelectual. A coalizão de poder produzida por tais vitórias, no entanto, costuma ter um déficit programático que se acentua dramaticamente em conjunturas críticas. Ainda em 2010, a dissidência aberta por Marina Silva sinalizava que a este neodesenvolvimentismo de perfil baixo falta, e talvez de modo insanável, a perspectiva da requalificação ambiental. E num contexto em que a palavra de ordem é "destravar" investimentos, o horizonte pode se restringir ainda mais, a ponto de o meio ambiente, definitivamente, passar a ser muito mais obstáculo a ser cancelado do que recurso para a renovação da economia e reformulação do modo de viver.

A dissidência de Pernambuco, ainda por ser medida e pesada, introduz um personagem saído do coração da mudança eleitoral induzida pelo petismo e seu sistema de bolsas. Pode-se argumentar que pouco se sabe deste PSB dos nossos dias, cuja relação com o venerável partido de Hermes Lima e João Mangabeira é, na prática, inexistente. Argumento forte, a exigir respostas sólidas dos seus líderes, assim como de Marina Silva se espera uma articulação partidária de tipo "orgânico", para que a ação política se descole da área ambiental em sentido estrito e se dirija, apropriadamente, ao conjunto da sociedade.

A aceleração de tempos que marca o final das tramas é sempre a ocasião propícia em que truques se esgotam, máscaras caem e destinos se redefinem. Daqui por diante, as duas social-democracias, com as unilateralidades que protagonizaram nos respectivos ciclos de poder, podem não estar mais sós no palco e, por conseguinte, se ver impedidas de reencenar o surrado duelo de privatistas e estatistas, usado de modo meramente instrumental por falta de discurso menos maniqueu.

Novos atores, no ponto de partida destes dois anos cruciais, ensaiam atropeladamente as suas falas, e o fato de ainda parecerem em busca de uma peça ou de um autor, dadas as circunstâncias, não é necessariamente mau sinal. Por ora, muito pelo contrário, são eles que afastam o pesadelo de um monólogo interminável a governar a nossa vida.

Luiz Sérgio Henriques, tradutor, ensaísta, um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. É vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira e editor do site Gramsci e o Brasil.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Avanços ilusórios - Merval Pereira

Durante os governos petistas, a estrutura econômica brasileira iniciou ou aprofundou tendências que comprometem a capacidade de desenvolvimento do país no longo prazo, afirma o professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves em análise da economia brasileira nos 10 anos de governos petistas em trabalho intitulado "Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT".

Estas tendências, entre outras, segundo ele, são desindustrialização; reprimarização das exportações; maior dependência tecnológica; desnacionalização; perda de competitividade internacional; crescente vulnerabilidade externa estrutural; maior concentração de capital e política econômica marcada pela dominação financeira.

Até mesmo no campo social o professor da UFRJ vê ilusão onde o governo vende "conquistas notáveis". Para ele, as políticas distributivas não atingem a estrutura de concentração de riqueza e não alteram a distribuição funcional da renda (salários versus juros, lucros e aluguéis). No que se refere ao desenvolvimento social, tomando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como referência, Gonçalves constata "a total ausência de ganhos do país relativamente ao resto do mundo".

O Brasil Negativado também aparece em outro importante indicador de desempenho econômico, a inflação. Durante os governos petistas a taxa média de inflação é 6,1% (preços ao consumidor). Segundo o estudo, a taxa de inflação no Brasil é maior do que média mundial em 6 anos e maior do que a mediana mundial em 9 anos.

A melhora na distribuição de renda, na visão de Gonçalves, não é vigorosa ou sustentável em decorrência da própria natureza do modelo de desenvolvimento, que envolve trajetória de desempenho fraco e instável. Ele alega que os indicadores capturam fundamentalmente os rendimentos do trabalho e os benefícios da política social, e a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), que serve de base para o cálculo dos indicadores de desigualdade, subestima os rendimentos do capital (juros, lucros e aluguéis).

Segundo o estudo, a distribuição da riqueza, muito provavelmente, não se alterou tendo em vista a vigência de elevadas taxas de juros reais no governo Lula, o reduzido crescimento do salário médio real, a concentração de capital e a ausência de medidas que inibam práticas comerciais restritivas (abuso do poder econômico) das grandes empresas.

Também como exemplo de concentração de capital e de riqueza, Gonçalves ressalta que no início do século XXI o valor dos ativos totais dos 50 maiores bancos era igual aos ativos totais das 500 maiores empresas; em 2011 os ativos dos 50 maiores bancos eram 78% mais elevados do que os ativos das 500 maiores empresas.

A base de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com coeficientes de Gini (que mede a desigualdade) num painel de 110 países mostra que, apesar de haver queda da desigualdade na América Latina na primeira década do século XXI, os países da região continuam com os mais elevados indicadores de desigualdade de renda no mundo.

Em meados desta década, lembra Reinaldo Gonçalves, 4 entre os 5 países com maior desigualdade estão na região (Colômbia, Bolívia, Honduras e Brasil). No conjunto dos 10 países mais desiguais, há 8 países latino-americanos. Segundo o levantamento, o Brasil experimentou melhora marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, saiu da 4ª posição no ranking mundial dos mais desiguais para a 5ª posição.

Gonçalves ressalta que os avanços que ocorrem no Brasil não implicam ganhos em relação ao resto do mundo durante os governos petistas. Ele toma como exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD. Embora ao longo do período 2000-11 o IDH do Brasil tenha aumentado de 0,665 em 2000 para 0,718 em 2011, este mesmo fenômeno ocorreu com a maioria dos países. Em consequência, destaca Gonçalves, não há mudanças nas diferenças entre o IDH do Brasil, que se manteve praticamente estável (70ª posição) durante os governos petistas, e a média dos IDHs dos outros países.

Fonte: O Globo

Tudo pelo eleitoral - Dora Kramer

Sob a direção da presidente Dilma Rousseff, efeitos especiais a cargo do ex-presidente Luiz Inácio da Silva e aplausos da arquibancada, o Brasil está assistindo à reprise de um filme cujo desfecho é conhecido: o prejuízo vence no final.

Economistas, empresários e especialistas no tema vêm alertando para os desacertos na condução da política econômica, para o excesso de intervencionismo estatal, para os efeitos nefastos da manipulação de dados, para o abandono, enfim, dos alicerces de uma estabilidade a duras penas construída desde o início da década dos 90.

O governo não lhes dá ouvidos. Ao contrário: menospreza os alertas, qualifica a todos como inimigos de um projeto de País "glorioso", inovador e progressista. Nas palavras da presidente Dilma Rousseff, as críticas decorrem da "falta de compreensão dos conservadores".

Na verdade, quem não parece compreender a distinção entre o que é bom para o País e o que é bom para o partido no poder é o governo, com sua clara opção por proporcionar satisfação imediata aos seus eleitores (reais e potenciais) em detrimento das bases sobre as quais foi construído o edifício da estabilidade.

Quais foram elas? Sistema de livre movimentação de preços, controle fiscal e foco firme e constante no combate à inflação.

Da segunda metade do segundo mandato de Lula para cá houve uma clara troca de prioridade. Deixou-se de lado o conceito de crescimento com estabilidade para privilegiar o agrado ao eleitor a qualquer custo, notadamente à chamada nova classe média que sustenta em alta a popularidade, obviamente rende votos e assegura a sobrevivência política não só do PT, mas de todo o espectro partidário de sua área de influência.

O preço congelado dos combustíveis agrada ao consumidor, ainda que ponha em risco o desempenho da Petrobrás; a redução das tarifas de energia agrada ao consumidor, ainda que leve a um aumento de consumo e comprometa as empresas de energia; a interferência no Banco Central para forçar a baixa de juros, mesmo quando seria necessária uma margem de autonomia para calibrar a demanda, agrada ao consumidor de bens a prestação, mas põe em risco a meta de inflação.

Preço baixo é bom e todo mundo gosta, mas tem um custo que não é visível (ainda) ao público. Uma hora aparece, e da pior maneira possível. Como para manter essa situação o governo tem que entrar com dinheiro, o resultado é o aumento do gasto público, o descontrole fiscal. Daí para a volta de um cenário de inflação alta, o perigo é concreto.

Trata-se de uma lógica populista que seduz o eleitor, rende vitória nas urnas. Em contrapartida, planta as sementes do desajuste que, mais dia menos dia, apresenta a conta.

Queira o bom senso que os atuais locatários do poder, a pretexto de "construir" um Brasil de faz de conta em nome de vitórias eleitorais, não levem o Brasil de volta aos tempos de desorganização interna, descrédito internacional e aos malefícios decorrentes das concessões ao imediatismo que provoca sensação de bem estar agora e adiante pode levar a pique o patrimônio de todos.

Adeus às ilusões. Os tucanos que ficaram encantados com as mesuras da presidente da República a Fernando Henrique Cardoso no início do governo acabaram de ver a vida como ela é.

No rugir do palanque, Dilma Rousseff não teve dúvida: "Não herdamos nada, construímos tudo", disse, compartilhando a versão criacionista sobre o surgimento do Brasil sob a ação divina do PT.

Esses tucanos, entre os quais se incluem diplomatas, alguns intelectuais e até gente inteligentíssima na economia (pais do real), mas ingênua na política, chegaram a considerar seriamente os gestos de Dilma como sinal de que ela logo se afastaria de Lula.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O melhor cabo eleitoral do PT é a oposição - Elio Gaspari

Anunciado como se pudesse vir a ser o discurso do então desconhecido companheiro Obama na convenção democrata de 2000, o grito de guerra do senador Aécio Neves foi um pronunciamento pedestre. Suas críticas à década petista têm alguma procedência, mas terminam caindo na armadilha de quem tem muitas opiniões sem que elas formem um ponto de vista. Viu o futuro no retrovisor. Se a exibição das contradições morais, políticas e econômicas do comissariado levasse a algum lugar, Lula não teria sido reeleito, muito menos colocado os postes Dilma Rousseff no Planalto e Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo.

O tucanato continua encantado pela crença segundo a qual se uma pessoa ficar com duas vezes mais raiva do PT, terá direito a dois votos nas próximas eleições. Só a falta de assunto explica o fato de os tucanos terem caído numa finta petista, aceitando uma antecipação precoce e descosturada da sucessão presidencial do ano que vem.

Tome-se o espaço que o senador dedicou à Educação. Exatamente 21 palavras: "O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi incapaz de elevar o nível da qualidade na sala de aula". Médio. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, em 2007 havia 7,1 milhões de crianças matriculadas na zona de mau ensino, com avaliações abaixo de 3,7 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Em 2011, esse número baixou para 1,9 milhões. Há tucanos que fazem melhor? Em Minas Gerais, com certeza. Em Alagoas, não.

Do outro lado da mesa estão as políticas sociais do governo. Se a oposição admitir que algumas delas funcionam, todo mundo lucra, sobretudo ela. Dois exemplos: o desempenho escolar das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família, e a discussão do estímulo à criação do turno único nas escolas.

A velha demofobia ensina que dar dinheiro a pobre é assistencialismo barato. No século XIX dizia-se que a abolição da escravatura estimularia o ócio e a embriaguez dos negros. Hoje há gente que acredita que o Bolsa Família remunera a preguiça da miséria e, como o ensino público é ruim, as crianças fogem das aulas ou, quando comparecem, não aprendem. É a ignorância a serviço da demofobia. Em 2011 a evasão escolar da meninada do programa no ensino básico da rede pública foi de 2,9%. Já a evasão no universo das escolas públicas, segundo o Censo Escolar, ficou em 3,2%. No desempenho, perderam de 86,3% a 83,9%. Indo-se para o ensino médio, a garotada do Bolsa Família fez melhor tanto no desempenho (79,9% x 75,2%) como na evasão (7,1x10,8%).

Enquanto a oposição mostra-se incapaz de erguer a bandeira do turno único, o governo correu atrás da expansão do tempo integral nas escolas onde a maioria dos alunos são beneficiados pelo Bolsa Família. Em 2010 havia 10 mil escolas públicas com esse regime. Nelas, só 2.869 (29%) tinham maioria de alunos cobertos pelo programa. Em 2012, as escolas com tempo integral triplicaram (32 mil) e 17.575 (54%) são frequentadas por crianças do Bolsa Família. Isso foi conseguido com recursos do Orçamento e parcerias com prefeitos. Nem um tostão federal foi gasto com tijolos, quadras de esporte ou salas para diretores. Muito menos com clipes publicitários ridículos.

E o mensalão? Pois é, pobre não sabe votar. Ou será que sabe, apesar do mensalão?

Subiu no telhado

A caciquia tucana deu-se conta de que a reeleição do governador paulista Geraldo Alckmin está subindo no telhado.

O único alívio do PSDB está na rivalidade dos comissários Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação) pela cadeira.

Pista

A Comissão da Verdade dispõe de um prato cheio para conferir a atuação do consulado americano em São Paulo durante a ditadura. Estão na internet dezenas de telegramas do vice-cônsul Francis Lambert e do cônsul-geral Frederick Chapin.

Um estava no posto em 1971, quando a ALN incendiou seu carro. Seus telegramas são um prodígio de mistificação, vendendo mentiras para encobrir a tortura. Chapin, que assumiu em 1972, virou o jogo, denunciando o porão. Ele foi mais longe: em 1976 procurou D. Paulo Evaristo Arns para informá-lo que se preparava algo contra o PCdoB. No dia seguinte deu-se o massacre da Lapa, numa operação em que foram assassinadas duas pessoas dentro de um aparelho.

Vaticanólogo

Os vaticanólogos são uma espécie que aparece às vésperas dos conclaves, acertam quando apostam no favorito (Bento XVI, Paulo VI ou Pio XII) e somem quando percebem que esqueceram de mencionar o cardeal escolhido (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII).

A sucessão de Bento XVI vitaminou em Pindorama um vaticanólogo que estava fora do noticiário desde 2003. É o empresário Giancarlo Nardi. Na sua primeira encarnação ele frequentou os autos da Operação Anaconda, que pegou o juiz Rocha Mattos e quitanda de venda de sentenças.

Pio XII e os negros que chegariam a Roma

Fala-se muito na remota possibilidade de um papa africano ao mesmo tempo em que se acusa a Igreja Católica de não mudar. Vai aí um exagero, tanto em relação aos avanços ocorridos como em relação ao atraso em que andou o Papado.

Em janeiro de 1944, quando as tropas aliadas estavam a caminho de Roma, o secretário de Estado, cardeal Luigi Maglione, chamou ao Vaticano o embaixador inglês para transmitir-lhe um pedido de Pio XII. Segundo o telegrama que o diplomata mandou para Londres, Sua Santidade "esperava que não houvesse negros na pequena guarnição que permaneceria em Roma durante a ocupação".

A propaganda fascista apresentava os soldados americanos como macacos que saqueavam museus. O Papa estaria mais preocupado com casos de estupros praticados por negros, não necessariamente americanos. Tropas de todas as cores e nações estupraram mulheres na Europa, inclusive a FEB. Dois pracinhas violentaram uma menina de 15 anos e um deles matou-lhe o tio. Foram condenados à morte, voltaram para o Brasil e acabaram indultados.

Quem viu "Duas Mulheres", de Vittorio De Sica, pode lembrar que Sophia Loren e sua filha foram violentadas por soldados marroquinos, africanos e negros.

Não há documento capaz de informar se o pedido de Pio XII tramitou no comando aliado. Os negros americanos entraram em Roma, inclusive uma jornalista.

Fonte: Folha de S. Paulo

Arte e análises velhas - Míriam Leitão

A arte da capa do folheto e dos cartazes comemorativos dos 10 anos do PT foi comparada à estética gráfica dos regimes totalitários de direita e de esquerda. Parece mesmo. Aquelas fotos enormes das duas cabeças em um corpo, e um povo miúdo em comemoração, evoca a idolatria personalista de regimes autoritários. O texto é ainda mais discutível.

A versão de que a virtude absoluta está de um lado, e toda a maldade se concentra nos adversários, é bizarra. Hoje, após quase três décadas de democracia, o país foi exposto ao contraditório, teve decepções, aprendeu nuances, vê com espírito crítico mesmo aqueles nos quais vota.

É fazer pouco da inteligência dos brasileiros. Eles não são adoradores infantilizados de líderes macrocéfalos, mas cidadãos capazes de pensar criticamente.

A história democrática recente não está dividida em dois períodos - os anos desastrosos e os anos gloriosos. É uma simplificação grosseira, só aceitável em regimes que controlam a opinião pública, o que é impossível na democracia. Há nuances, virtudes e defeitos nos dois períodos de governo. Há diferenças até dentro de um mesmo período presidencial. O período Palocci é diferente da gestão Mantega, por exemplo, com superioridade para o primeiro, que preservou a estabilidade da moeda, conquistada no governo anterior. O segundo tem tomado decisões perigosas na área fiscal e monetária.

No texto, há um trecho que diz: "A teoria do bolo, de que somente após a economia crescer seria possível distribuir, se tornou uma referência a não ser questionada." Tal teoria do bolo não foi invenção de nenhum adversário do PT, mas do seu neoamigo Delfim Netto.

Os redatores da cartilha não conseguem provar a tese de que um período concentrou renda e o outro distribuiu. Nos números que contrapõe, admite que houve redução da desigualdade, medida pelo Índice Gini, nos dois períodos. Houve mais redução no governo Lula, mas o processo virtuoso começou após a estabilização da moeda. Só é possível fazer políticas sociais eficientes quando há inflação sob controle.

O PT tem erros a omitir e virtudes a exibir. Fiquemos na segunda parte: a ampliação da rede de proteção social. Mas os dados do próprio governo mostram que o programa anterior estava transferindo R$ 4 bilhões no fim do governo Fernando Henrique. No governo Lula, R$ 15 bilhões, e agora, R$ 23 bilhões. O programa mudou de nome e foi ampliado e aperfeiçoado. Omite-se que a ideia original da campanha de 2002 era distribuir vales para trocar por alimentos. Felizmente, a ideia obsoleta foi abandonada.

O texto alega que nos anos petistas foi feita a organização das finanças públicas, o que na verdade foi um trabalhoso esforço que consumiu anos até se chegar à Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso tem sido ameaçado pela alquimia contábil. Em dado momento da cartilha, eles dizem que nos anos petistas o crescimento do PIB por habitante foi de 2,2%. No final desta semana, será confirmado que em 2012 o PIB per capita teve crescimento zero.

Peça de propaganda publicitária não é para dialogar com sinceridade, mas para construir uma versão a ser vendida ao eleitorado. O problema é que faltam 18 meses para o período oficial da campanha eleitoral e o governo precisa governar.

Explicações maniqueístas têm um defeito básico: elas anulam o espaço para a conversa inteligente. O início extemporâneo de campanha põe em risco a ação sóbria do governo para corrigir o rumo na direção do que o país quer, seja quem for que o governe: desenvolvimento com moeda estável.

Fonte: O Globo

Para a frente - Tereza Cruvinel

Nos rituais da largada eleitoral, na semana passada, PT e PSDB se agrediram muito, mas tinham um objetivo comum: manter a polarização recíproca, que marca a política brasileira desde 1994. Desta vez, terão menor controle sobre essa variável. Mas a corrida de 19 meses agora seguirá, com momentos de maior ou menor aceleração. Amanhã, o senador Aécio Neves volta ao palco recebendo o ex-presidente Fernando Henrique para o primeiro dos seminários mensais que o PSDB fará em Minas. Os seminários viraram biombos para a campanha antecipada. Na quinta-feira, o ex-presidente Lula e talvez a própria presidente Dilma participam, em Fortaleza, do primeiro dos 13 seminários organizados pelo PT, ainda celebrando os 10 anos no poder. No fim de março, começam os do PSB, denominados “diálogos para o desenvolvimento”. A Rede de Marina Silva também faz os seus.

Tratemos então de avaliar o que houve e tentar enxergar, até onde a vista alcança, o que está no horizonte, para uns e para outros.

Para o campo governista, a largada cumpriu alguns objetivos. Para começar, enterrou o “queremismo” de parte da militância que sonhava com a volta de Lula. Lançando Dilma, ele acabou com isso. Voltou com a performance de grande comunicador, embora a voz já não seja a mesma, e com fome de briga. O PT exibiu unidade e ânimo novo, depois do infortúnio com o mensalão. Dilma é que, apesar da roupa vermelha e do acento crescentemente eleitoral em seus discursos, precisará muito de seu treinador, Lula. Como diz um aliado, ela entrou na campanha, mas não levou, ainda, sua coalizão.

Aécio saiu no lucro, pois não precisou nem produzir uma festa. Com o discurso no Senado, ganhou um banho de luz da mídia, contentou os tucanos que lhe cobravam postura mais agressiva e inibiu os concorrentes internos. Com o seminário de amanhã e novas bênçãos de Fernando Henrique, vai tornando sua candidatura natural e inquestionável. Mostrou-se afiado para atacar o governo, mas, daqui para a frente, precisará também apresentar alternativas.

Por fim, numa evidência de que, desta vez, a polarização pode ser efetivamente quebrada, o governador Eduardo Campos, do PSB, embora ainda não assuma sua candidatura como os outros, entrou na festa largada a partir de um seminário (claro!) com prefeitos no agreste pernambucano. Condenou a antecipação e, é claro, a polarização, que chamou de “velha rinha”.

Questões que contam

Eleição não é aritmética, mas alguns elementos contam muito.

Máquina — Disputar a reeleição no cargo é uma vantagem avassaladora. Dilma é uma presidente popular, mas isso não basta. Seu governo é bem avaliado, no que pese o baixo crescimento da economia. Mesmo assim, a grande máquina federal conta muito, e o PT aprendeu a usá-la. Aécio contará com os governos estaduais tucanos, mas Dilma, sem dúvida, leva vantagem.

Coligações — A união de muitos partidos determina o tempo de televisão e passa a ideia de que o candidato é o mais forte, o preferido. Dilma teve o apoio de 10 partidos em 2010, batendo o próprio Lula. Deve perder o PSB, mas ganhará o PSD. Entretanto, ainda precisa acomodar todo mundo no governo, na reforma que vem adiando. Aécio deve reproduzir a aliança histórica do PSDB com o DEM e o PPS. Afora algumas pequenas siglas, a oferta de aliados será escassa, o que vale também para Campos.

Televisão — Isso é fundamental. Em 2010, Dilma teve 10 minutos em cada edição de 25 minutos do horário eleitoral, contra sete minutos de Serra e um minuto e pouco de Marina Silva. Deve ampliar esse tempo, mesmo perdendo o PSB, pois outros partidos cresceram sob o fermento do poder. Aécio e Campos devem ter menos tempo que Serra em 2010.

Palanques estaduais — Candidatos a presidente precisam de palanques estaduais. De bons candidatos a governador e a senador. A antecipação nacional está acelerando os arranjos locais. Como no Rio, onde a base dilmista já rachou: o PT lançou a candidatura de Lindbergh Farias d o governador Sérgio Cabral, do PMDB, lançou seu vice, Pezão. Disputando os outros aliados, os dois partidos anunciam que terão Francisco Dornelles, do PP, como candidato a senador. Ele finge que não ouve, mas dificilmente romperá com Cabral.

Agendas positivas

Chove lá for a, mas o presidente do Senado, Renan Calheiros, vai dando curso à sua agenda de recuperação política da Casa. Depois dos primeiros pontos da reforma administrativa, que economizará alguns milhões, e das medidas de transparência, anunciou providências legislativas que foram aplaudidas até por um falcão adversário — Randolfe Rodrigues. O regimento será reformado, permitindo sessões especiais mais longas para debates temáticos. Em breve, entra em pauta projeto do próprio Senado, exigindo a prestação de contas anual das agências reguladoras, estas caixas-pretas. E, ainda, a regulamentação do papel constitucional do Senado na formulação da política tributária.

Na Câmara, Henrique Eduardo Alves pensa colocar em votação o fim dos 14º e 15º salários dos deputados, que seriam compensados pela equiparação aos vencimentos dos ministros do STF. Teria sido desaconselhado pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha: esta equiparação agora só vai gerar agenda negativa. Na outra Casa, Renan teria avisado que ela não será votada, para conter o desgaste.

Fonte: Correio Braziliense

Encruzilhada - Amir Khair

Este ano começou mal para a equipe econômica. Está espremida entre combater a inflação em ascensão ou continuar estimulando a economia para escapar da semiestagnação nos dois últimos anos.

É uma nova encruzilhada. Há que decidir com firmeza e clareza a política a ser adotada. Não parece que isso esteja ocorrendo. A recente mudança no câmbio, procurando segurar o real para não ultrapassar R$ 2, sinalizou que o Banco Central (BC) não se encontra em condições de enfrentar a inflação com os instrumentos que já usou: Selic e medidas macroprudenciais.

Elevar a Selic não parece ser o caminho adequado em face dos reiterados comunicados do BC de que ela ficaria por longo tempo em 7,25%. Entrar novamente com medidas macroprudenciais para segurar o crédito, como feito em 2011, também não parece ser o caminho, uma vez que o governo reiteradas vezes vem apelando aos bancos para elevar suas operações de empréstimos.

Sobrou o câmbio para controlar a inflação. Isso contraria a política de defesa da indústria contra a penetração do produto importado. A perplexidade com essa mudança na política cambial foi geral, obrigando a novo contorcionismo de explicações do ministro da Fazenda e do presidente do BC. O primeiro, ao afirmar que a inflação se combate com a Selic (???), e o segundo a dizer que não está usando o câmbio para segurar a inflação e, se necessário, a Selic poderia ser elevada (???).

Isso desgasta o governo, aumenta o descrédito na equipe econômica e não resolve nada. É necessário ter clara e firme posição na condução da política econômica e, ante a ascensão natural da inflação no início de cada ano, o governo devia afirmar que:

a) a inflação será crescente neste início do ano;

b) ela está dentro das estimativas do governo e ficará dentro da meta;

c) o câmbio não será usado para combater a inflação, mas sim para não prejudicar mais ainda a competitividade das empresas;

d) a prioridade do governo é o crescimento econômico.

O desafio do governo não me parece ser o de combater a inflação. Já asfixiou o que pôde sua principal empresa, expondo-a a vexames e críticas de toda sorte e errou novamente ao não corrigir adequadamente os preços dos combustíveis, mantendo a Petrobrás como principal biombo da inflação.

É chegada a hora de o governo partir com decisão no seu principal objetivo, que é tirar a economia da estagnação em que se encontra. Para isso, não há outro caminho senão aproveitar o potencial de consumo inexplorado.

Sim, consumo é a mola mestra do crescimento e é sua expansão que mobiliza o empresário a investir caso sua empresa precise atender à demanda crescente sobre seu produto e a capacidade de produção se encontra no limite. É só aí que a empresa investe, pois, se não o fizer, perde mercado, deixa de faturar e vê o lucro cair.

Falar em investimento é falar em investimento no setor privado (responsável por 80% do investimento total) e não em investimento do governo federal (5% do investimento total). Além do mais, o investimento privado procura ser feito ao custo mais baixo e o público é, normalmente, feito com custos elevados, especialmente em grandes obras, circunscritas a meia dúzia de grandes empreiteiras.

Mas, para deslanchar o consumo, é necessário remover seu freio: as taxas de juros do crédito. Atenção, não se trata do juro da Selic, que algumas análises a confundem como sendo o juro da economia. Não é. O juro da economia é o da ponta do tomador. Vale sempre repetir isso. E esse juro se encontra elevado e, em elevação em várias modalidades, como demonstrei em artigo anterior.

Não dá para crescer 4% com essa trava de juro elevada. A taxa de juro ao consumidor só há poucos meses ficou abaixo de 100%, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Ao final de 2012, estava em 89%.

O governo parecia que iria dobrar o sistema bancário privado por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, ao fazer essas instituições baixarem suas taxas de juros.

Mas, após pequena redução de juros, os maiores bancos privados voltaram nos últimos meses a elevar suas taxas. Veja tabela indicando a taxa de juro média anual cobrada pelos quatro maiores bancos privados (Itaú, Bradesco, Santander e HSBC).

Se o governo quiser mesmo retomar o crescimento perdido, deve, sem hesitação, baixar as taxas de juros ao consumidor. Ao iniciar isso em abril de 2012, parece que ficou satisfeito com os resultados alcançados nos primeiros meses de campanha e, depois, se descuidou e as taxas voltaram a subir.

Insisto na via da remoção do freio ao consumo em vez do apelo ao investimento privado. O empresário, como afirmei, é pragmático na decisão de investir e, com capacidade ociosa, como muitos estão, não investem. Pode apelar o governo quanto quiser.

Os que acenam com o fantasma da inflação sabem que ela é sazonalmente maior no primeiro quadrimestre (cerca de 40% da inflação do ano) e, se o governo quiser combatê-la segurando a demanda, vai afundar ainda mais o parco crescimento da economia. Essa via da encruzilhada deve ser sumariamente descartada.

De outro lado, de pouco adiantará desonerar ainda mais as empresas na cota patronal com o chapéu da Previdência Social e não à custa, como deve, do Tesouro Nacional. Isso já está fazendo ressurgirem as análises apocalípticas sobre o futuro da Previdência Social.

Será que as empresas que foram desoneradas estão passando a economia de tributos ao consumidor? Não creio. Talvez a melhor forma seja desonerar os produtos da cesta básica, anunciado pela presidente. Além de contribuir para a redução da inflação, vai permitir melhor consumo das camadas de menor renda.

Para ir adiante ante a encruzilhada (inflação ou crescimento), o governo deve escolher a via do crescimento, onde pode atuar e obter resultados. Quanto à inflação, não se corre riscos de descontrole como atestam até as análises mais pessimistas.

Ademais, ao contrário de 2012, neste ano tudo indica que a boa safra agrícola pode contribuir para manter a inflação dentro da meta (2,5% a 6,5%). Vale acompanhar.

Fonte: O Estado de S. Paulo