sexta-feira, 1 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Dora Kramer: Desejo de calar.

Como de hábito, o ex-presidente Lula diz as coisas e desobriga-se de explicar o sentido preciso da declaração.

É o caso dessa última sobre a advertência feita ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de que deveria "no mínimo, ficar quieto". "No máximo", talvez se exilar outra vez.

Qual a razão mesmo de alguém, seja ex-presidente, senador, deputado, professor, médico, engenheiro ou carregador do cais do porto, ter a obrigação de "no mínimo" cassar o próprio direito de falar?

Uma delas é o desejo de calar a crítica, notadamente quando ela vai ao ponto, na carência de argumento de debate à altura.

A outra é a vocação de falar pelos cotovelos sem pensar, sem prestar atenção à coerência e ao bom senso, sem observar o respeito ao espaço alheio, almejando a unanimidade a respeito da qual Nelson Rodrigues disse há décadas o que deveria ser dito.

Dora Kramer é jornalista. Na pressão, O Estado de S. Paulo, 28/2/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Ligação fica até 18,7% mais barata
Congresso votará royalties na terça
Petrobras e o ‘item nacional’
Barbosa: prisões saem até julho

FOLHA DE S. PAULO
Bento 16 sai e promete obediência ao sucessor
Prisões do mensalão devem ocorrer até julho, diz Barbosa
Polícia erra ao transcrever fala de médica em pedido de prisão
Câmara engaveta investigação contra Aurélio Miguel
Militar dos EUA admite entrega de documentos ao WikiLeaks

O ESTADO DE S. PAULO
Mensaleiros devem ser presos até julho, prevê Barbosa
Governo vai antecipar 15% das receitas com ferrovias
Orçamento vai a voto após royalty
Tarifa de fixo para celular cairá 8,77%

VALOR ECONÔMICO
Projetos de Eike dependem cada vez mais do BNDES
Fundo do Tesouro para infraestrutura começa com R$ 7 bi
Ibovespa é o índice com maior queda

BRASIL ECONÔMICO
Governo decide adiantar R$ 13 bi aos concessionários de ferrovias
Próxima batalha pelos royalties
Prejuízo da OSX bate em R$39 mi
Petrobras quer parceiro chinês
Fevereiro foi o mês da velha poupança

CORREIO BRAZILIENSE
Efeito dominó derruba 14º, 15º e 16º pelo país
Mensaleiros serão presos até 1º de julho
Analistas preveem Pibinho de 0,95%

ESTADO DE MINAS
Declarações já podem ser entregues a partir de hoje
Voluntários da Copa a postos

O TEMPO (MG)
"Serei apenas um peregrino"
Quem tem doença grave terá prioridade na restituição do IR
Marcio Lacerda coloca tucanos derrotados no secretariado

GAZETA DO POVO (PR)
Incentivo leva 4,3 mil médicos para o interior
Sede vacante
É hora de encarar o Leão
Mortes eram rápidas na UTI do Evangélico
Mercado já trabalha com a alta de juros

ZERO HORA (RS)
Maior fraude no ICMS em 20 anos é revelada
Compensação no bolso: Conta de luz mais barata freia inflação
Barbosa fala: Condenados serão presos até julho
Batalha à vista: Divisão de royalties prevista para dia 5

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Racionamento d'água está de volta ao Recife
Aneel sugere aumento da luz de 6,02%
Cidade da Copa terá 10 mil vagas no pico das obras

Barbosa: prisões saem até julho

Joaquim Barbosa, presidente do STF, estimou que até julho serão expedidos os mandados de prisão dos 25 mensaleiros condenados.

Mensalão: cadeia em julho

Joaquim Barbosa diz que mandados de prisão serão expedidos antes das férias do STF

Carolina Brígido

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, disse ontem que as penas dos 25 condenados no processo do mensalão serão executadas até 1º de julho. A declaração foi dada em entrevista a agências internacionais de notícias. Perguntado sobre até quando os mandados de prisão seriam emitidos, Barbosa declarou:

- Eu espero que até julho (sejam expedidos os mandados de prisão). Julho é mês de férias aqui no tribunal. Mas a minha expectativa é que tudo se encerre antes de 1º de julho, antes das férias. Vai depender se eu conseguir a questão de prazo. Se não houver nenhum incidente, nenhuma chicana... Porque tudo isso é possível.

À tarde, à imprensa brasileira, o presidente do STF confirmou a informação.

- Por mim, eu encerraria ontem (o processo). Mas, infelizmente, eu tenho que obedecer aos prazos - disse, completando: - Em julho, espero encerrar tudo em relação a essa ação.

Para o processo ser encerrado, ainda é necessária a publicação do acórdão, uma espécie de resumo das decisões tomadas ao longo do julgamento. Depois, os réus poderão recorrer das decisões e, só depois de julgados os recursos, poderá haver prisão - isso se os pedidos de revisão forem todos negados em plenário.

Para publicar o acórdão, primeiro é necessário que os ministros do STF entreguem seus votos por escrito, revisados. Até agora, além de Barbosa, cinco ministros fizeram isso: Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso - os dois últimos, já aposentados. Faltam as manifestações de outros seis ministros: Ricardo Lewandowski, o revisor da ação, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Celso de Mello.

Perguntado pelos jornalistas brasileiros sobre se os colegas estariam demorando muito para liberar os votos, Barbosa evitou fazer críticas.

Entre os condenados no processo do mensalão estão o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o operador das ilegalidades, Marcos Valério. Segundo o processo, eles desviaram dinheiro público para abastecer um esquema de compra de apoio político ao governo Lula no Congresso Nacional. Houve no STF 22 condenações a prisão e três a penas alternativas.

Para Barbosa, penas "baixíssimas"

Na entrevista à imprensa internacional, Barbosa considerou "baixíssimas" as penas impostas aos réus, diante da magnitude do caso. Ele ponderou que benefícios previstos em lei vão propiciar aos réus a redução do tempo atrás das grades. Para o ministro, esses benefícios são sintomas de um sistema penal que ajuda os criminosos e reforça a sensação de impunidade.

Ele defendeu uma reforma no sistema, especialmente para mudar os prazos de prescrição dos crimes. Barbosa também defendeu "uma reforma das mentalidades da parte dos juristas".

- Nosso sistema penal é um sistema muito frouxo. É um sistema totalmente pró-réu, pró-criminalidade. Essas sentenças que o Supremo proferiu, de dez anos, 12 anos, no final se converterão em dois anos, dois anos e pouco de prisão, porque há vários mecanismos para ir reduzindo a pena. E, por outro lado, esse sistema frouxo tem vários mecanismos de contagem de prazo para prescrição que são uma vergonha. São quase um faz de conta. (No sistema brasileiro) tudo conspira para que os processos criminais não tenham qualquer consequência - criticou o presidente do STF.

Também à imprensa internacional, Barbosa afirmou que os juízes, de um modo geral, têm medo e pouco interesse em julgar causas simples - como, por exemplo, o caso Gil Rugai. Para ele, um processo com um só réu não deveria ter demorado tanto para ser concluído.

- (Falta) vontade mesmo de trabalhar e ignorar a qualidade das partes. Há uma falta de vontade em muitos casos. Há falta de vontade, há medo do juiz. Ele deixa aquilo ali, deixa correr em muitos casos - declarou.

Ele também falou da atuação política do STF e das brigas durante os julgamentos.

- Vocês se lembram de que na Ação Penal 470 houve momentos de muita tensão, muita tensão. E o que não falta aqui é tensão nos julgamentos. Costumo dizer aqui, em palestras, que isso aqui não é só um tribunal, né? Isso aqui é um órgão de equilíbrio, de ajustes da Federação, do sistema político, que decide muitas coisas de interesse imediato da sociedade. Então não é uma Corte de Justiça comum, é um órgão político no significado essencial da palavra, de igual para igual com o Congresso Nacional e a Presidência da República. É isso que muita gente não entende, sobretudo os europeus.

Crítica à condição das prisões

O ministro atacou o Poder Executivo, por manter as prisões brasileiras em estado tão precário, e os juízes de execução, por não fiscalizar os estabelecimentos.

- Em geral, o Poder Executivo não dá a mínima. Não dá a menor atenção. Os governantes brasileiros não dão importância a esse fenômeno tão nosso que é esse sistema prisional caótico. Mas o Poder Judiciário também tem uma parcela de culpa, porque há muitos juízes de execução penal que são puramente burocráticos. Eles têm a responsabilidade de supervisionar a execução da pena, mas ficam em seus gabinetes. Eles não vão lá saber, ver a situação concreta das prisões. Apenas tomam decisões puramente formais, ao passo que o mundo das prisões é aquele inferno que, muitas vezes, eles nem procuram saber de que se trata - disse.

Barbosa criticou o sistema penal brasileiro:

- Não há sistema penal em países com o mesmo nível de desenvolvimento do Brasil tão frouxo, que opere tanto pró-impunidade. Há um desequilíbrio do discurso aqui no Brasil. É preciso dar condições dignas às pessoas que cumprem penas de prisão.

Fonte: O Globo

Cúpula do PSB avalia resposta a "cerco" do PT

Eduardo mantém reuniões com governadores e dirigentes do partido para definir os próximos movimentos na crise com os petistas

Débora Duque

Divulgada a possibilidade de o PSB anunciar a saída da base do governo federal e selar o racha com o PT, o dia, ontem, foi de reclusão para os socialistas. Sem agenda pública, o governador Eduardo Campos (PSB) dedicou seu expediente a reuniões, a portas fechadas, com lideranças nacionais do partido em seu gabinete. Ele deu início a um processo de consulta interna que visa definir a estratégia a ser adotada diante do que considera ser uma ofensiva do PT para minar seu projeto presidencial.

Desde a noite de quarta-feira (27) até ontem, o governador recebeu o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, o líder da bancada socialista na Câmara Federal, Beto Albuquerque, além do secretário-geral da legenda, Carlos Siqueira. Também foram convocados os governadores Wilson Martins, do Piauí, e Renato Casagrande, do Espírito Santo. Este último chegou ao Recife na noite de ontem.

Oficialmente, a assessoria de imprensa do governo do Estado divulgou apenas os encontros com Wilson Martins e Beto Albuquerque, alegando que o objetivo teria sido discutir apenas a "agenda federativa" que os gestores estaduais irão apresentar ao presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na próxima semana. A finalidade do "chamado emergencial", porém, foi mais ampla: discutir como o PSB reagirá ao cerco montado pelo PT que, sob o comando do ex-presidente Lula, busca desfazer o "jogo duplo" do governador e pressioná-lo a declarar de uma vez o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) ou ao lançamento de sua candidatura presidencial. O estopim para crise foram as recentes provocações dos irmãos Ciro e Cid Gomes, ambos desafetos de Eduardo dentro do PSB, além da visita que Lula fez, ontem, a Fortaleza numa tentativa de prestigiar os irmãos. Dilma também agendou uma viagem ao Ceará para o dia 11 e ainda não marcou a data de sua vinda a Pernambuco. Some-se isso as articulações do PT nacional para atrair o ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB) para o partido.

Diante do conflito aberto, há duas correntes dentro do PSB. Uma ala defende que a legenda acelere o processo de rompimento com o governo federal e assuma a candidatura de Eduado, em 2014. Outro grupo, no entanto, aposta na cautela e sustenta que despedir-se, desde já, da base do governo seria fazer o "jogo" proposto pelo PT, que teriam os irmãos Gomes como "porta-vozes".

Dono de um perfil reconhecidamente calculista, segundo aliados, Eduardo está inclinado a aplicar esse segundo artifício até para não prejudicar, antecipadamente, as alianças nos Estados. O que é dado como certo, nos bastidores, é o prazo máximo para a quebra da unidade com o PT: julho deste ano.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos ameaça rebelião após perda de poder de afilhados

João Domingos e Vera Rosa

BRASÍLIA - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vai trabalhar contra a aprovação da Medida Provisória dos Portos caso ela não passe por mudanças. Possível candidato à Presidência, Campos quer que a presidente Dilma Rousseff devolva poder sobre os portos para os Estados. Ainda usará o discurso segundo o qual é preciso ficar claro que a medida não vai tirar direitos dos trabalhadores.

Campos, que preside o PSB, ficou contrariado porque o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, indicado por ele, não foi ouvido na elaboração da MP. "Do jeito que está nós não a votamos", disse o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS). "Não podemos nos esquecer de que o Porto de Suape, em Pernambuco, é uma espécie de cartão-postal do Estado e do PSB. Se a MP não for modificada, o governo de Pernambuco perderá todo poder em relação a esse porto", afirmou o deputado.

Por causa da MP dos Portos, Campos realizou uma mini-reunião da Executiva do PSB na quarta-feira à noite, entrando pela madrugada de ontem. Participaram do encontro, além do governador e de Albuquerque, o tesoureiro nacional do PSB, deputado Márcio França (SP), o secretário nacional do partido, Carlos Siqueira, e a integrante da Executiva Mari Elizabeth Machado. Estes dois últimos, de acordo com Albuquerque, foram ao Recife, originalmente, para tratar do programa nacional do partido, a ser veiculado neste mês. Campos se irrita, também, com o esvaziamento do poder do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, seu afilhado político. Apesar da insatisfação, o governador disse aos correligionários que pretende manter o PSB em cargos do governo.

Petistas tentam minar as pretensões de Campos de disputar o Planalto contra Dilma em 2014.

Apesar de o PMDB ser atualmente o aliado preferencial, não está descartada a possibilidade de o posto de candidato a vice-presidente na chapa petista ser oferecido a Campos. O governador da Bahia, Jaques Wagner, esteve no Recife na segunda-feira. "Defendo espaço para Campos na chapa presidencial de 2018. O time que ganhou em 2010 deve permanecer em 2014. Michel Temer tem toda a legitimidade para continuar na chapa", disse Wagner ao Estado.

Colaborou Daiene Cardoso.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos traça estratégias para minimizar ataques

Governador de PE se reúne com líderes do PSB para combater ação do PT e de Lula, contrários à sua candidatura

Maria Lima

BRASÍLIA - Em reuniões sucessivas esta semana em Recife com integrantes da Executiva Nacional, líderes e governadores do PSB, Eduardo Campos (PE) traça seus próximos passos diante da investida do PT e do ex-presidente Lula contra sua provável candidatura a presidente da República. Além da artilharia petista e do fogo amigo dos irmãos Ciro e Cid Gomes, do PSB do Ceará, há no grupo de Campos insatisfação também com a presidente Dilma Rousseff, que, sem conversar com os governadores, tirou dos governos estaduais a gestão dos portos (na MP que trata do tema), vitaminando, por outro lado, a Secretaria de Portos - comandada por Leônidas Cristino, homem dos Ferreira Gomes e provável candidato a governador do Ceará. Campos, governador de Pernambuco, perde a gestão do Porto de Suape, obra que é a menina dos olhos de sua gestão no estado.

Apesar da contrariedade, os deputados Beto Albuquerque (PSB-RS) e Márcio França (PSB-SP) voltaram de Recife com a orientação de que, não é para o partido atrapalhar a votação da MP, para não parecer retaliação aos irmãos Cid e Ciro. Ontem, Campos se reuniu com alguns governadores e, embora não esteja verbalizando essa irritação, seus interlocutores sim.

- Isso é inaceitável! Suape é um porto exemplar! Ela não pode arrancar esse poder dos estados. Tem que haver uma posição conjunta - protestou o líder Beto Albuquerque, voltando-se para a ação política do PT: -Apesar da pressão de uns e outros, continuamos nossa caminhada transparente e pública. Não estamos fazendo nada escondido. Estamos no governo porque ajudamos a elegê-lo. Não estamos no governo de favor.

Fonte: O Globo

Estratégia petista é fazer governador de PE desistir

Partido tenta também reduzir mal-estar com o PMDB de Temer

Fernanda Krakovics e Maria Lima

BRASÍLIA - No jogo político rumo a 2014, a estratégia do PT no momento é, de um lado, afagar Eduardo Campos para mantê-lo na base aliada do governo Dilma, e, de outro, tentar asfixiar suas pretensões eleitorais trabalhando para que partidos como PDT e PR não migrem para o lado do PSB. Esse último ponto passa pela reforma ministerial, que Dilma deve promover em março. O cálculo petista é que, sem uma rede de alianças e, consequentemente, sem um tempo razoável de horário eleitoral gratuito na TV, o socialista desistiria da candidatura à Presidência da República no ano que vem.

Sobre sondagens que mostrariam Eduardo Campos com 5% de intenções de votos, contra uma popularidade de 70% de Dilma, o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque ironiza:

- De que o PT tem tanto pavor? A não ser que eles saibam de alguma coisa que não sabemos - indaga.

Alguns petistas sustentam que a postura beligerante da família Ferreira Gomes - governador do Ceará, Cid Gomes, e seu irmão Ciro, ambos do PSB - não foi incentivada pelo PT, mas se trata de um troco pela implosão da candidatura de Ciro Gomes a presidente da República em 2010, patrocinada por Campos. O ex-presidente Lula só estaria surfando nessa crise, ao prestigiar os irmãos Ciro e Cid.

Está a cargo de Lula, no encontro que deverá ter com Campos nos próximos dias, tentar convencê-lo a desistir de concorrer ao Planalto, e apoiar a reeleição de Dilma. A conversa corrente no PT é que o partido poderia apoiá-lo em 2018, mas os socialistas não acreditam nessa possibilidade.

O governador da Bahia, o petista Jaques Wagner, esteve com Campos na terça-feira, em Recife, mas nega que no encontro tenha lhe sugerido aceitar o cargo de vice de Dilma.

Fonte: O Globo

PSB sugere que Campos lance candidatura

Governador alega que isso o deixaria vulnerável a ataques, mas cúpula do partido avalia que ele não pode recuar

Criticado por Ciro Gomes, Campos quer se reunir com outros governadores do PSB para preparar reação

Natuza Nery, Luiza Bandeira e Bruno Bastos

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RECIFE - Dirigentes do PSB sugeriram ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que antecipe o lançamento de sua candidatura presidencial para responder às pressões que sofre desde que o PT lançou a presidente Dilma Rousseff como candidata à reeleição, há uma semana.

Em conversas com seus aliados, Campos tem argumentado que antecipar o lançamento de sua candidatura agora seria imprudente, porque aumentaria sua exposição a ataques de adversários quase dois anos antes da eleição presidencial.

Mas dirigentes do partido disseram ao governador pernambucano, que ele deveria anunciar logo sua entrada na corrida presidencial, em vez de esperar até o ano que vem como ele prefere.

"Parece que eu lancei minha candidatura, tenho dez minutos de televisão, 102 pontos nas pesquisas e só cuido disso. É bom ter calma, ver as coisas como elas são e não como querem que seja", disse o governador à Folha.

Para os dirigentes do PSB, o movimento seria necessário para dar uma resposta ao lançamento da campanha à reeleição de Dilma, feito pelo ex-presidente Lula, em São Paulo, na comemoração dos dez anos do PT no Palácio do Planalto.

Os que querem que Campos lance sua candidatura avaliam que um movimento mais explícito mostraria que o PSB não está disposto a recuar se Dilma e Lula insistirem na antecipação do embate eleitoral.
A esses, o pernambucano tem apresentado razões práticas para manter-se afastado da disputa. Ele tem dito que, enquanto não se declarar candidato, será poupado pelo PT de ataques diretos, embora tenha identificado nas críticas feitas pelo ex-governador Ciro Gomes (PSB-CE) ao seu nome vestígios das digitais de petistas.

A posição dos irmãos Gomes na disputa política com o PT tem irritado Eduardo Campos. Ciro o criticou publicamente e Cid Gomes (PSB), atual governador do Ceará, sempre que questionado, reitera seu apoio à reeleição de Dilma. Campos vê nos atos dos dois uma tentativa de enfraquecê-lo.

Ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Ceará se reuniram em Fortaleza (CE). Hoje, eles viajarão pelo Estado. Campos reagiu à aproximação e convocou governadores da sigla para reuniões no Recife.

Fonte: Folha de S. Paulo

Convidado de honra, líder do PSB falta a evento com a presença de Lula

Roberto Amaral alega problema de última hora e partido é representado por Cid Gomes, opositor de Campos

André Pires

Dentro do projeto de consolidação da base aliada para a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, o PT abriu espaço, mais uma vez, como fez em sua festa de 33 anos, para os líderes que integram a coligação que governa o país. Em seminário realizado em Fortaleza, o partido abriu o microfone para Cid Gomes (PSB), governador do Ceará, e Roberto Amaral, vice-presidente do PSB. No entanto, o segundo avisou de última hora que não participaria. Atitude que mostra o abalo da aliança.

"O Roberto Amaral não vai mais participar do evento. Por questão de agenda, ele não poderá comparecer e não enviará nenhum representante", explicou o diretório nacional do PSB, poucas horas antes do evento.

Com os atritos entre Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco e possível candidato à presidência do partido, e Ciro Gomes (PSB), o partido estremeceu. Roberto Amaral se posicionou em defesa de Campos, enquanto os petistas se aproximaram de Gomes. A ausência de Amaral frustra o PT, que queria manter o PSB por perto e sufocar a candidatura própria.

Com a presença de Rui Falcão, presidente do partido, e, principalmente, do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, o encontro era uma forma de valorização dos aliados para evitar uma debandada em 2014.

"Na verdade, estes líderes fazem parte destes 10 anos de governo do PT. Foi um governo de vários partidos. Temos que reconhecer que esta transformação do país tem uma base partidária consolidada. Vamos ter a possibilidade de dar a voz para uma visão mais política nestes seminários", ressaltou Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo e organizador da série de seminários do PT.

Preparado para receber mil pessoas, entre prefeitos e vereadores da base aliada da região, o evento analisou as conquistas sociais dos dez últimos anos. O tema foi o combate à pobreza na gestão de Lula e Dilma. "Temos que compreender quais foram as razões de êxitos em determinadas áreas e problemas em outras. Depois, elas vão virar publicações. No segundo semestre vai ser a rodada de preparação do programa do partido para os próximos anos", ressaltou Pochmann.

A partir de hoje, as lideranças petistas iniciam reuniões do Diretório Nacional, em Fortaleza, para definir a agenda do PT.

Fonte: Brasil Econômico

Dilma afaga o PMDB e mina PSB

Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia e Guillermo Antonioli

BRASÍLIA e FORTALEZA — No dia mais agudo da disputa pelas candidaturas governistas à Presidência em 2014, o PT promoveu um seminário em Fortaleza para exaltar as realizações da legenda na área social, a presidente Dilma Rousseff recebeu em Brasília os novos líderes do PMDB no Congresso, e o governador Eduardo Campos prosseguiu com as reuniões em Recife para avaliar as declarações do ex-deputado Ciro Gomes (CE). A bolsa de especulações explodiu a dois dias da convenção nacional do PMDB, marcada para sábado, em Brasília.

Os petistas escolheram a capital cearense para a segunda rodada de seminários do partido — o tema de ontem foram as políticas de bem-estar social, direitos humanos e inclusão social — justamente para fincar uma bandeira na área de influência do PSB de Eduardo Campos. E contaram com a ajuda dos irmãos Ciro e Cid Gomes (governador do Ceará), que reafirmaram o apoio à reeleição de Dilma no ano que vem. Ciro disse, no domingo, que Eduardo “não tem estrada ou visão de país” para ser candidato a presidente. Cid, por sua vez, disse ontem à plateia petista em Fortaleza que, “ao longo dos 16 anos em que exerci cargos executivos, estive ao lado do PT e o PT esteve ao meu lado”.

Lula e o PT insuflam o discurso dos Gomes para tentar adiar ao máximo a decisão de Eduardo Campos de candidatar-se ao Planalto. Dilma recebeu Cid, na terça-feira. Lula visitará obras do governador em Redenção, no interior cearense, ao lado do governador. Na segunda-feira à noite, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), jantou com Campos. Na ocasião, reforçou a importância de o PSB permanecer na base aliada para reeleger Dilma.

O petista acha que o governador pernambucano pode ser um bom nome para 2018. Mas negou que tenha sido porta-voz de qualquer pedido do ex-presidente Lula para que o socialista seja vice de Dilma no lugar do peemedebista Michel Temer. “Apesar do rompimento entre o PT e o PMDB na Bahia, eu apoio a chapa Dilma-Temer”, reforçou ele.

Ontem, em uma conversa que durou aproximadamente 10 minutos, Wagner confirmou a Temer que sua função tem sido a de colocar panos quentes na relação entre o Palácio do Planalto e o governador pernambucano.

Campos assegurou a Wagner “que ainda não tomou nenhuma decisão em relação à candidatura presidencial”. Mas, no jogo de luz e sombra em que se transformou esse debate, Eduardo Campos convocou para a capital pernambucana toda a cúpula do PSB. Ele não gostou nada das palavras de Ciro. Embora, dentro do partido, os irmãos Gomes sejam considerados vozes isoladas — até mesmo setores do PSB cearense sentem-se incomodados com os arroubos verbais do ex-ministro Ciro Gomes —, o governador de Pernambuco não escondeu a irritação com a situação. Os aliados acham que Ciro foi “extremamente desrespeitoso nas palavras ditas sobre Eduardo”.

Em Brasília, Dilma deu ontem a segunda das três demonstrações de boa vontade com o PMDB nesta semana. Na noite de quarta-feira, foi a convidada especial do jantar que o vice-presidente Michel Temer promoveu em homenagem ao ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Não discursou, mas sua presença foi vista como um sinal de apreço a Sarney e os correligionários dele.

Ontem, recebeu, ciceroneada por Temer, os líderes do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Este último é visto com cautela pelo Planalto, mas o primeiro contato foi ameno. Mais uma vez, Dilma não mencionou a parceria no ano que vem. Terá mais uma chance na convenção nacional peemedebista, marcada para sábado. Nada que altere o ânimo do PMDB. “Ela foi nos três eventos, um gesto de apreço. Meu pai dizia que palavras podem mentir, movimentos não”, filosofou Eunício.

Fonte: Correio Braziliense

Lula age como presidente em discurso no Maracanã

Luciana Nunes Leal

RIO - O petista Luiz Inácio Lula da Silva teve uma recaída ontem e encarnou o papel de presidente da República apesar de ter deixado o Planalto há dois anos e dois meses. Ao visitar as obras do Maracanã, ao lado do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lula discursou para operários sobre os dez anos da gestão petista no governo federal e mencionou as baixas taxas de desemprego no País.

A programação secreta, não incluída nas agendas do governo do Estado, só se tornou pública após a divulgação de fotos pelo Instituto Lula. "Nós governantes, nós empresários temos que compreender que a democracia só será consolidada definitivamente quando trabalhadores tiverem um padrão de vida decente e digno. O presidente do sindicato sabe o que são as conquistas de hoje e as de dez anos atrás. A vida do povo pobre está melhorando a cada dia", discursou. O áudio do discurso também foi divulgado pelo Instituto Lula.

"Estamos vivendo a menor taxa de desemprego do País. Na medida em que cresce a taxa de emprego, crescem as reivindicações." O ex-presidente recordou episódios da vida de líder sindical e citou a intermediação de Cabral para acordo entre a concessionária responsável pelas obras do estádio e operários. Os trabalhadores ameaçavam fazer greve, mas desistiram após parte das reivindicações serem atendidas.

Lula visitou o estádio em meio a suspeitas de atraso no cronograma de obras para a Copa das Confederações (em junho), como informou reportagem do Estado em fevereiro. Desde dezembro passado as visitações públicas e o acesso da imprensa ao estádio estão proibidos. A informação mais recente do consórcio é de 87% da obra concluída.

O vice-governador disse que Lula "sempre teve vontade de visitar as obras". Segundo Pezão, o ex-presidente passeou pelo gramado, visitou os camarotes e o centro de comando e controle.

Cercado por operários, muitos deles registrando a presença ilustre com os celulares, Lula prometeu assistir ao jogo de reinauguração do estádio - Brasil e Inglaterra. Ele elogiou a iniciativa do governador Sérgio Cabral de oferecer ingressos para que os operários possam participar da reabertura do Maracanã. "Vocês vão entrar pela porta da frente, não estarão de penetra, estarão de cabeça erguida, dizendo "eu que fiz"", disse Lula.

O ex-presidente criticou análises pessimistas de que o Brasil não tem condições de sediar uma Copa. "Até há seis meses a gente ouvia dizer "a Copa do Mundo vai ser um fracasso, o Brasil não está preparado". Eu digo: "Nunca mais ousem duvidar da capacidade dos trabalhadores da construção civil desse País, que vão construir os melhores estádios"", discursou. A assessoria de Cabral alegou razões de segurança para vetar o acesso da imprensa à visita do ex-presidente, que aconteceu entre 7h15 e 8h30. Como não haveria cobertura jornalística, segundo a assessoria, a visita foi omitida da agenda do governador.

Na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que Lula virou o "presidente adjunto" do Brasil.

O tucano referiu-se às intensas articulações do petista para cimentar o projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Alternativas - Merval Pereira

Um comentário feito ontem pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), durante entrevista a correspondentes estrangeiros, escancara uma porta para ilações sobre uma eventual candidatura sua à Presidência da República, possibilidade que volta e meia surge como especulação nos meios políticos.

Seguindo a trilha aberta pela, esta, sim, provável candidata à sucessão de Dilma, a ex-senadora Marina Silva, o presidente do Supremo disse que "a sociedade está cansada dos políticos tradicionais, dos políticos profissionais. Nós temos parlamentares aí que estão há 30, 40 anos no Congresso, ininterruptamente. E aqui ninguém jamais pensou em estabelecer term limit (limite ao número de mandatos)".

Se pecou pela generalização da tese, pois existem parlamentares que estão no Congresso há 30, 40 anos prestando serviços relevantes ao país (dois exemplos seriam o deputado federal do PDT Miro Teixeira e o senador do PMDB Pedro Simon), mostrou-se afinado com uma tendência crescente na opinião pública, a que rejeita os "políticos profissionais" e quer pessoas na política que não estejam comprometidas com os hábitos e costumes criticáveis de nossa classe política.

No lançamento de meu livro "Mensalão" na terça-feira no Rio, não foram poucas as pessoas que me perguntaram se os condenados iriam para a cadeia e se Barbosa aceitaria ser candidato à Presidência da República. Ontem Barbosa respondeu à primeira pergunta, garantindo que as penas começarão a ser cumpridas ainda em julho deste ano, e deixou no ar a possibilidade de vir a ser uma opção aos "políticos tradicionais".

Um senhor me mostrou no seu iPad uma foto de Joaquim Barbosa em Trancoso, onde passou o fim de semana para um festival internacional de música clássica, dizendo que ele fora ovacionado pela plateia. E o escritor e teatrólogo Roberto Athayde me disse que esperava que Barbosa se apresentasse justamente por não ter nada a ver com os atuais políticos ou partidos. Caso contrário, mostrou-se disposto a apoiar a ex-senadora Marina Silva, por ver nela a tentativa de mudar o perfil de atuação política no país.

O presidente do Supremo, ao dizer que considera "baixíssimas" as penas dos condenados, fruto de um sistema penal "fraco", ecoa a maioria da opinião pública, ainda mais quando afirmou que o processo do mensalão "apontou um caminho correto para a Justiça brasileira e pode encorajar outros juízes a condenar políticos corruptos".

A ex-senadora Marina Silva também tem a ideia de limitar o número de mandatos dos futuros representantes de seu partido a ser criado, e por enquanto é quem encarna, com maior probabilidade de se tornar uma realidade política, a alternativa aos "políticos profissionais". Joaquim Barbosa, por ter sido o relator do processo do mensalão e, agora, da presidência do Supremo, liderar a tentativa de apressar a execução das penas, continua sendo a representação, para a opinião pública, da Justiça que cumpre o seu papel.

Por seu espírito aguerrido, Barbosa não deixa pergunta sem resposta e é incisivo, mesmo quando suas palavras podem provocar problemas políticos. Ontem mesmo, ao comentar a questão dos vetos presidenciais, disse que o Congresso, ao não votá-los, dá a impressão de que não tem capacidade de cumprir suas funções, o que, convenhamos, soa como uma intervenção indevida.

A confrontação entre o Judiciário e o Legislativo a respeito da cassação dos mandatos dos deputados condenados no processo do mensalão, que parecia superada, pode voltar à pauta do dia com essa declaração do presidente do Supremo, e essa é uma das razões por que dificilmente Joaquim Barbosa poderia vir a ser candidato à Presidência da República. As negociações partidárias seriam extremamente difíceis com um candidato tão irascível quanto ele.

Mas é também essa falta de traquejo político e sua fala sem papas na língua que o fazem um potencial candidato daqueles que já estão fartos da politicagem.

Fonte: O Globo

Ocupação de terreno - Dora Kramer

Quando antecipou o início da campanha eleitoral de 2010 para 2008, o então presidente Luiz Inácio da Silva precisava do tempo como aliado para "construir" Dilma Rousseff.

Para o projeto de reeleição da presidente isso não é mais necessário; oficialmente ela é a protagonista da cena política.

Tampouco Lula necessita de projeção, caso mais adiante decida se candidatar mais uma vez. Hipótese hoje negada - até para que não se antecipe junto com a campanha, na prática, o fim do mandato Dilma - mas sempre uma possibilidade se essa for a maneira mais segura de manter unida a tropa dos hoje aliados.

Ele cumpre, assim, um papel que a presidente da República não poderia desempenhar com a mesma desenvoltura.

Precavido, o ex-presidente iniciou ontem, com uma pré-estreia estratégica no Rio para falar aos operários das obras de reforma do Maracanã, um périplo pelo País ao molde das caravanas dos anos 90 para preparar o terreno para as eleições presidenciais.

Até 18 de maio vai percorrer pelo menos 10 Estados, o que significa exposição garantida no noticiário político, presença junto ao eleitorado de cada canto do Brasil e "amarração" das alianças regionais antes que o adversário lance mão de uma parte delas.

O roteiro prevê três paradas politicamente importantes: nesta semana no Ceará governado por Cid Gomes, do PSB, onde o irmão mais famoso dele, Ciro, acaba de criticar o presidente do partido, Eduardo Campos. Que, segundo ele, não tem "estrada" para governar o País e, além disso, precisa abrir mão dos cargos federais antes de pensar em se contrapor ao PT no plano nacional.

Assim como faz a oposição quando vê na possível candidatura de Campos uma chance de inserir uma cunha na base governista, Lula semeia a cizânia no PSB.

A outra parada, em 14 de abril, será em Minas Gerais, terra do pretendente do PSDB, Aécio Neves, e a terceira em 15 de maio, no Rio, onde PMDB e PT começam a se estranhar seriamente. Ambos - escolhidos não por acaso - são os maiores colégios eleitorais depois de São Paulo.

Em termos de alianças, nada é garantido por enquanto, mas Lula faz o que pode: trabalha para não precipitar brigas e rupturas entre os partidos aliados do governo, um dos efeitos colaterais negativos da antecipação da campanha eleitoral.

À margem. O Supremo Tribunal Federal derrubou a decisão liminar do ministro Luiz Fux que obriga o Congresso a examinar, em ordem cronológica, os vetos presidenciais acumulados há 13 anos.

Não quis intrometer-se em questões "interna corporis". Muito bem, mas em algum momento o STF, na condição de guardião da Constituição, vai ter de se manifestar sobre o fato de o Parlamento ignorar solenemente o preceito que manda os vetos serem votados em 30 dias, sob pena do trancamento da pauta.

Não adianta nada os congressistas cortarem um pouco da gordura que abunda naquele ambiente para fazer um carinho na opinião pública se é o primeiro a viver na ilegalidade. Continua em dívida com o País.

O processo legislativo, cumpre lembrar, não se encerra com a aprovação de projetos e emendas. Quando há vetos, só se completa com a derrubada ou manutenção da manifestação do chefe do Executivo.

Dinheiro na mão. Em qualquer País onde o Orçamento federal fosse para valer, a primeira e mais evidente consequência da não aprovação seria a suspensão do pagamento do funcionalismo.

Valesse a regra, o Congresso não se daria ao desfrute de encerrar o ano legislativo sem aprovar o Orçamento do ano seguinte. Sob pena de arriscar-se a ver o que é bom para tosse em matéria de protesto contra a inércia.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Um vai, outro racha - Eliane Cantanhêde

Dilma age para unir o PMDB e rachar o PSB. A diferença fundamental é que o PMDB, maior partido brasileiro, não tem alternativa senão se pendurar em Dilma, mas o PSB, de porte médio, tem um candidato potencial à Presidência.

Na mesma semana, Dilma recebeu o governador Cid Gomes (CE), adversário do pré-candidato Eduardo Campos no PSB, e prestigia duas vezes o PMDB: deu uma passadinha no jantar das estrelas peemedebistas, na quarta-feira, e vai até discursar na convenção nacional do partido, amanhã, ratificando que a vaga de vice é de Michel Temer e ninguém tasca.

Cid Gomes é aquele que leva a sogra para passar o Carnaval em Paris com dinheiro público, diz-se que está comprando um jatinho bilionário para o governo do Ceará (ou para chamar de seu) e acaba de pagar um cachê de R$ 650 mil para Ivete Sangalo na inauguração de um hospital que nem pronto para funcionar estava.

Apesar desses probleminhas, o governador e seu irmão, Ciro Gomes, são os artilheiros de Dilma para atacar a candidatura de Campos no PSB. Presidenciável de si mesmo, Ciro fez um "strike", ao acusar todos os adversários de Dilma -o tucano Aécio, a "sonhática" Marina e o próprio correligionário Campos- de não terem nenhuma proposta para o país.

Ato contínuo, Dilma -a única preservada no boliche descontrolado de Ciro- teve uma conversa promissora com Cid. Mais ou menos assim: Ciro joga álcool, Cid leva o fósforo e Dilma o acende. Eduardo Campos parece cada vez mais candidato, mas o PSB está em chamas.

Já no profissional PMDB, Temer, Sarney, Renan, Henrique Alves, ministros e governadores seguem o lema de que a união faz a força e sabem se defender.

Se Lula articulava substituir Temer por Campos na reeleição, não deve articular mais. Nem o PSB quis nem o PMDB cedeu. E Dilma precisa do PMDB, como o PMDB precisa de Dilma. Entre os dois, o menos perigoso é o PSB. Aliás, meio PSB.

Fonte: Folha de S. Paulo

Após o ‘pibinho’, desemprego já é realidade - Roberto Freire

Os números divulgados pelo Ministério do Trabalho e pelo IBGE, que atestam uma queda expressiva na criação de empregos formais, convocam a presidente Dilma Rousseff e os especialistas do governo a descerem imediatamente do palanque e firmarem os pés na dura realidade que se avizinha.

Ao contrário do que alardeiam os defensores incondicionais do petismo, o Brasil pode mergulhar em uma profunda crise se a economia não reagir rapidamente.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em janeiro deste ano foram criados apenas 28,9 mil novos postos de trabalho com carteira assinada, o que significa uma queda avassaladora de 84% em relação ao mesmo mês de 2012.

Trata-se do pior resultado desde 2009, quando vivíamos o auge da crise econômica global. Só o setor do comércio dispensou 67,5 mil funcionários mais do que contratou, o pior índice para janeiro das últimas duas décadas.

A taxa oficial de desemprego anunciada pelo IBGE subiu de 4,6% em dezembro para 5,4% em janeiro.

Ao invés de fazer uma necessária autocrítica sobre a falta de rumo da atual política econômica, representantes do governo do PT se apressaram a comemorar o menor nível de desocupação desde 2002. Nada mais ilusório.

Segundo cálculos da Tendências Consultoria Integrada, descontados os ajustes sazonais, a taxa real ficou estável em relação a dezembro, em 5,6%, dando um sinal claro de que o mercado de trabalho tem perdido fôlego.

Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o desemprego alcançou 6,4% em janeiro de 2013, quase um ponto percentual acima do índice registrado um ano antes (5,5%).

Para se ter uma ideia do impacto desses números em nossa economia, basta lembrar que essa região representa 42% da força de trabalho ocupada nas áreas pesquisadas pelo IBGE e 50% do total de desocupados.

Outro dado relevante menosprezado pelo governo é que pesquisas recentes da Fundação Seade e do Dieese, que se aproximam mais da realidade brasileira por somarem a taxa oficial de desemprego ao índice de pessoas que mantêm atividades informais enquanto procuram trabalho com carteira assinada, já haviam mostrado que a desocupação em 2012 passara de 10% nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza e Distrito Federal.

Por mais que Dilma e seus desnorteados ministros insistam em edulcorar as enormes dificuldades enfrentadas pelo Brasil na economia em geral e na questão do emprego em especial, os dados são cristalinos e infelizmente já eram esperados por quem jamais se deixou cair no engodo do discurso oficial.

O desempenho medíocre do PIB não é apenas um número que indica o baixo crescimento ou a estagnação de nossa economia, mas acabaria provocando, como já estamos vendo acontecer, o aumento do desemprego no país.

O Brasil fantasioso criado pela propaganda lulopetista não é capaz, assim como nenhum outro país seria, de proporcionar a façanha do pleno emprego sem que sua economia cresça.

Mais cedo ou mais tarde, essa ilusão seria desmentida pela realidade dos fatos. O que nos deixa em situação especialmente dramática é a constatação de que o atual governo é incompetente para destravar os nós que ele mesmo criou.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Novas harmonias - Marina Silva

Todo ano, as cenas se repetem: meu filho e minhas filhas se alvoroçam com a premiação do Oscar, defendem suas preferências e perguntam por quem estou torcendo.

Neste ano, começou agitado, cheio de reuniões e debates, e tive pouco tempo de ir ao cinema. Vi "Lincoln", claro, e também "Os Miseráveis", ambos excelentes. Para além da leitura de épocas, lugares e personagens históricos, são imagens significativas da condição humana e da trajetória sublime e sangrenta de nossa civilização.

O que mais me anima, além da admiração por essa arte que moldou a consciência de um século, é o envolvimento e o debate que ainda propicia aos jovens e que independe de competições ou prêmios. Sempre recebo deles sugestões de filmes que "não posso deixar de ver" e escuto ou leio seus comentários, que ampliam minha visão, aguçam minha escuta e renovam minhas ideias.

O que percebo neles é o interesse vivo pela melhor tradição humanista, mesmo percebendo insuficiências e atrasos diante da complexa realidade contemporânea. É comovente vê-los descobrindo valores como liberdade e solidariedade no interior de uma vivência estética, felizmente sem os limites da pobreza e do autoritarismo que as gerações anteriores enfrentaram. E como são veementes quando nos cobram a manutenção desses valores! Os filhos são, frequentemente, nossos mais severos juízes.

Insisto sempre num termo que, para muitos, parece sem importância: sustentabilidade estética. Não creio que possa haver evolução estável e consistente de nossa sociedade sem ampliação e aprofundamento da sensibilidade, educação da percepção, refinamento da linguagem.

Para mim, o autoritarismo e a devastação que caracterizam a economia e a política insustentáveis só predominam num ambiente em que se usa a vulgaridade e o mau gosto para obscurecer o senso crítico das pessoas.

Os jovens estão ávidos por um novo patamar ético e estético, exigem esse salto e já o antecipam produzindo signos, cores, sons, imagens. Na internet, seu domínio, são criados milhões de galerias para bilhões de novas e antigas obras.

Sonho com o dia em que esses recursos (incluindo o acervo de filmes fantásticos já produzidos) possam atravessar a vida das pessoas, ajudando a elevar o patamar de sustentabilidade estética de nossa sociedade. Começará pela educação, invadirá os ambientes de trabalho e influenciará os discursos políticos, ampliando o acervo das perguntas que organizam o caos de infinitas respostas. Assim nascerão novas harmonias.

E aguardo, ansiosa, os filmes ainda mais fantásticos, que os mantenedores de utopias de todos os tempos continuarão ajudando a produzir pelas mãos de nossos netos e bisnetos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Furacão sobre Cuba - Fernando Gabeira *

Grande parte dos neurônios da esquerda triunfante brasileira foi irremediavelmente perdida na guerra fria. Com seus aliados cubanos, ela nos jogou no século passado durante a visita da blogueira Yoani Sánchez.

Sartre pediria um dose de absinto para entender que outro furacão ameaça Cuba: a revolução digital. Marx precisaria de boas almofadas para acomodar seus furúnculos no bumbum ao contatar que uma ditadura comunista não resiste ao avanço tecnológico e científico da humanidade.

Cuba e Venezuela estão ligadas por fibra ótica. Do ponto de vista técnico, a ilha poderia estar toda conectada ao mundo e, pela criatividade e boa educação de seu povo, achar novos caminhos para superar seu atraso econômico. Mas o instrumento não pode ser usado em sua amplitude porque ameaça a estabilidade do governo. Para que o governo exista o atraso precisa sobreviver.

Yoani não é a primeira voz dissidente em Cuba. Mas foi a que melhor usou a conexão com o mundo não só para divulgar seus artigos, mas para garantir algum nível de proteção diante da burocracia. De longe, com seus cabelos longos, saias compridas, pode sugerir aquela personagem que sobe no fio e desanda a fazer milagre no filme Teorema, de Pasolini. Mas é articulada, responde a todas as perguntas, até às mais provocativas, e certamente também foi arrastada para o século passado com aquelas pessoas gritando palavras de ordem.

Digo isso porque no seu blog confessou que a experiência com os militantes brasileiros lhe lembrou coisas parecidas em Cuba, sobretudo os gritos de "traidora" contra uma vizinha que iria para o Porto de Mariel na grande debandada permitida pelo governo. Numa entrevista ressaltou que nem os jovens cubanos usam mais o termo ianque. Um forte cheiro de naftalina exalou não só dos cartazes e gritos, mas de toda a história da campanha organizada pela embaixada cubana, com apoio do batalhão digital do PT.

O curioso é que dentre aqueles cartazes havia um que Yoani empunharia com naturalidade: o que pede o fim do embargo econômico à ilha. O problema é o bloqueio mental, porque torna mais denso o cerco econômico. A manobra articulada pelos cubanos e seus aliados na esquerda é típica de estrategistas que perderam o contato com a realidade. Constantemente obtêm o oposto do que projetaram.

A campanha contra Yoani ampliou a repercussão de sua visita ao Brasil e estendeu o halo de simpatia em torno de uma pessoa que luta pela liberdade de expressão. Em todos os contatos espontâneos ela recebeu carinho no País. Isso talvez tenha mostrado rapidamente a uma estrangeira que nossa política externa expressa a vontade de um partido dominante, não a vontade nacional.

Os neurônios perdidos na guerra fria fazem enorme falta à esquerda no poder. Por que não contestar com argumentos a luta pela liberdade de expressão num regime ditatorial? Simplesmente porque a burocracia cubana e, agora, a brasileira já não se dispõem ao debate, apenas à desqualificação dos que delas divergem.

No livro de Reinaldo Arenas Antes que Anoiteça segui, emocionado, alguns lances do aniquilamento de uma geração de intelectuais e poetas pelas forças da repressão. Percebi que, tanto nele como em Raúl Rivero e mesmo em Juan Pedro Gutierrez, que vive em Havana, existe um grande vínculo com a vida, com os sentidos, e intuí que talvez venha daí a força para prosseguir adiante, apesar da aspereza do cotidiano numa ditadura.

No dossiê que os burocratas cubanos prepararam contra Yoani consta que ela gosta de comer bananas e, às vezes, tomar cerveja com os amigos. Seu último fim de semana foi passado no Rio. Deve ter percebido que o crime que lhe atribuem é uma delinquência de massa, com tanta gente tomando cerveja num domingo de muito calor. A burocracia investe contra isso não apenas pela cerveja ou mesmo pelas bananas. Ela investe contra o prazer, contra a vida, da mesma forma que investiu contra os antecessores de Yoani. Esse é o núcleo indestrutível que ela não consegue alcançar. Suas táticas puritanas no Brasil, então, não têm a mínima chance de prosperar.

Yes, nós temos bananas. O Brasil não é só um grupo de caras de barba vociferando nas ruas e nos blogs. A passagem de Yoani foi uma contribuição nacional para iluminar a realidade cubana e dissipar a aura de romantismo em torno da revolução. Os adversários ajudaram, é verdade. Fizeram a parte do leão, admito. Se continuo nesse tom, acabo me empolgando e escrevendo que os adversários são bons companheiros, ninguém pode negar...

Em alguns momentos você pode errar de século ou mesmo de alvo. Os sequestradores do embaixador americano, em setembro de 1969, quase o confundiram com o embaixador de Portugal. Quando houve um quebra-pau em Minas na passagem do Brizola por BH, um pouco antes do golpe de 64, José Maria Rabelo era protegido por um segurança que socava todo mundo aos gritos de "vamos acabar com esses comunistas!". José Maria agarrou-o pelos braços e disse: "Comunistas somos nós, comunistas somos nós". E ele respondeu: "Ah, bem".

A recepção que cubanos e petistas eletrônicos deram a Yoani não tem a graça do século passado. É um equívoco que envolve o destino de 11 milhões de cubanos e a reputação internacional do Brasil. No passado, pelo menos, havia alguma imaginação. Se um dia a esquerda encastelada no poder for obrigada a voltar a lutar nas ruas por uma causa justa, estará perdida. Imaginem quem será convencido por um grupo de pessoas, narizes de palhaço, gritando coisas do século passado... Ainda não perceberam que o século passou e levou consigo a Juventude Hitlerista, os Guardas Vermelhos, deixando-nos apenas com uns estridentes palhaços chamando de traidora uma jovem mulher cuja vida é o exercício de liberdade.

Eduardo Suplicy bem que tentou fazê-los discutir, mostrar que tudo aquilo era absurdo. O embaixador cubano chegou a perguntar se o senador não era da CIA. Suplicy da CIA? Só quem não o conhece poderia pensar nisso. E quem conhece um pouco a CIA sabe que, apesar de todas as suas loucuras, não seria ousada a esse ponto.

* Fernando Gabeira é jornalista.

Fonte:O Estado de S. Paulo 

A miséria da superação - Cristovam Buarque

Dilma corrompe o dicionário e cria a grave ilusão de que se pode erradicar a penúria sem garantir estruturas que impeçam o retrocesso

A presidenta Dilma Rousseff anunciou que, nos últimos anos, cerca de 22 milhões de brasileiros superaram a miséria. Os números podem estar certos, mas o conceito de superação está errado. Superar é saltar, uma conotação muito diferente do que suspender provisoriamente uma condição.

A realidade é que 22 milhões de brasileiros passaram a receber, a partir de 2011, o valor de R$ 70 mensais por transferência de renda. Essas transferências representam um raro gesto de generosidade da parcela rica para os pobres do Brasil.

É certo que essa generosidade já estava presente no gesto do governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, no regime militar, com a criação da Previdência Social Rural/Prorural, em 1971. Podemos citar também a criação da Bolsa-Escola no Distrito Federal e em Campinas, em 1995. A ampliação deste programa, em 2001, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, para 4 milhões de famílias beneficiadas, só fez crescer a generosidade.

Mas foi o presidente Lula quem deu o salto para 12 milhões de famílias, ao colocar o programa como centro de sua política social, reunindo no Bolsa Família todos os programas de assistência social do governo federal. A presidenta Dilma não apenas ampliou o número de beneficiados, como complementou a rede de proteção social com os programas Brasil sem Miséria (2011) e Brasil Carinhoso (2012).

Graças a isso, o número de famílias em condições de penúria extrema, de desnutrição crônica, diminuiu substancialmente nos últimos 20 anos.

Primeiro, cabe observar que os 22 milhões de brasileiros que são apresentados como tendo superado a miséria recebem R$ 70 por mês. Isso equivale a R$ 2,34 por dia para uma família de cinco pessoas ou 1,4 pão por dia para cada um dos membros. Não são mais os retirantes que a fome expulsava de suas terras por comida, mas ainda não é possível afirmar que saíram da miséria.
Bastaria uma inflação de 8% ao ano para que, em quatro anos, os atuais R$ 70, sem reajuste, passassem a valer R$ 51,45, o que não compraria nem mesmo um pão por dia para cada membro da família.

Segundo, é grave a ilusão de que a miséria pode ser superada sem se assegurar a estrutura que permita o salto sem volta. Mesmo com a renda do Bolsa Família, os beneficiados permanecerão na mesma situação social. Continuarão sendo cidadãos sem educação, sem esgoto, sem água potável e sem condições de empregabilidade. Isso não é superação.

Terceiro, apesar de mitigar o sofrimento, o programa Bolsa Família não abre a porta de saída da extrema pobreza, não abole a miséria nem provoca um salto social sem retrocesso. Embora o governo não informe, há grande possibilidade de que alguns dos atuais pais beneficiados pelo Bolsa Família tenham sido crianças de famílias com a bolsa.

Cria-se um círculo que nega totalmente o conceito de superação aplicado aos resultados obtidos. Prova disso é que o governo comemora o aumento do número dos que recebem o Bolsa Família. Não comemora, no entanto, a redução do número dos que necessitam da transferência de renda do governo para compensar o que a estrutura social e econômica não faz para superar a miséria de forma sustentável, com mudanças estruturais e escola de qualidade para todas as crianças.

Ao dizer que houve superação da miséria, a presidenta corrompe o dicionário. Cria a ilusão que pode acomodar o espírito de solidariedade transformadora de que o país precisa. Todos sonham com a superação da miséria, não com o conceito de superação empobrecido.
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Cristovam Buarque, 69, professor da Universidade de Brasília (UnB), é senador da República pelo PDT-DF

Fonte: Folha de S. Paulo

O vale-tudo que vem por aí - Rogério Furquim Werneck

Um ano antes do esperado, foi dada a largada da disputa pela sucessão presidencial. A mobilização prematura com a eleição de 2014 deverá aumentar em muito as dificuldades que já vêm marcando a condução da política econômica no País. Em vez de um ano de campanha presidencial a cada quatro, a política econômica vem tendo de lidar com um biênio eleitoral a cada dois.

No último governo, houve antecipação similar. Às voltas com a crise mundial e com o enorme desafio de eleger uma sucessora sem experiência eleitoral prévia, o presidente Lula decidiu começar cedo. Lançou sua candidata com muita antecedência. E atravessou 2009 já em frenético clima de campanha eleitoral.

Reeleger a presidente não parece um desafio tão grande como o de 2010. Mas, garantida, a reeleição ainda não está. O desempenho do governo vem deixando a desejar, a economia continua rateando e é bem provável que a base aliada chegue a 2014 seriamente desfalcada.

Tendo tudo isso em conta, Lula decidiu que o mais prudente seria deflagrar desde já a campanha da reeleição. A antecipação ajudaria a esvaziar os rumores de que o PT, preocupado com os riscos da reeleição, estaria considerando um Plano B para 2014. E, por outro lado, obrigaria as forças políticas mais propensas a abandonar o barco governista a decidir logo se vão ou se ficam, sem esperar para ver o que vai acontecer com a economia em 2013.

Na divisão de trabalho que se estabeleceu, o ex-presidente Lula se encarregará da complexa montagem da coalizão política que dará respaldo à reeleição. E a presidente ficará com as mãos livres para tentar melhorar o desempenho da economia e afastar de vez os temores que ainda mantêm vivo o espectro do Plano B.

Que efeitos terá a antecipação da disputa eleitoral sobre a condução da política econômica? É bom não ter ilusões. A política econômica está fadada a se tornar ainda menos sóbria, mais imediatista e mais improvisada do que já vem sendo há algum tempo. O principal desafio da presidente é mostrar ao PT e ao País uma expansão do PIB em 2013 que caracterize, de forma inequívoca, superação do regime de crescimento entravado dos últimos dois anos. E o Planalto parece disposto a apostar o que for necessário na consecução desse objetivo.

Isso significa que a economia deve atravessar 2013 sob as tensões de uma política de estímulo à demanda que deixará a inflação sob permanente pressão. No script eleitoral que passou a pautar a política econômica, é difícil ver como o Banco Central poderá receber luz verde do Planalto para atuar na contramão do estímulo à demanda, impondo novo ciclo de elevação da taxa de juros.

Tudo indica que a contenção de danos do lado da inflação será feita de forma bem mais primitiva. E que o governo não relutará em fazer uso cada vez mais intenso de intervenções diretas na formação de preços de mais peso no IPCA. Tanto nas medidas de estímulo à demanda agregada como na política de administração do índice de preços, o vale-tudo deverá ser o nome do jogo, como bem ilustram dois exemplos concretos.

Cético sobre sua capacidade de desentravar a tempo o investimento público na esfera federal, o governo está empenhado em relaxar de todas as formas as restrições orçamentárias de Estados e municípios, para que possam ampliar em grande medida seus dispêndios, sem maiores preocupações com a preservação de regras que vinham assegurando a sustentabilidade fiscal dos governos subnacionais.

Tendo em vista a precariedade da oferta de energia elétrica, as usinas térmicas deverão ser mantidas em operação por muitos meses. Em condições normais, isso deveria implicar repasse do aumento de custo de geração de energia aos consumidores. Para evitar que isso ocorra, o governo quer que o Tesouro arque com os custos das térmicas ou, pelo menos, financie as distribuidoras para que o repasse do aumento de custo aos consumidores seja suavemente diluído no tempo.

São duas iniciativas emblemáticas que dão bem ideia do que vem por aí.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Fonte: O Globo

Economia brasileira cresceu 0,9% no ano passado, pior desempenho desde 2009

No quarto trimestre, expansão do PIB foi de 0,6% frente ao trimestre anterior, segundo o IBGE

Clarice Spitz

RIO - A economia brasileira pisou no freio e cresceu apenas 0,9% em 2012. É o pior desempenho desde 2009, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. Em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) havia crescido 2,7%. No último trimestre do ano passado, o PIB avançou 0,6% frente ao terceiro e 1,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em valores, o PIB somou, em 2012, R$ 4,403 trilhões.

Juros nos menores patamares históricos, crédito abundante e desoneração de tributos não foram capazes de garantir um crescimento mais forte da economia. O PIB per capita (PIB dividido pela população residente no país) atingiu R$ 22.402,00, subiu 0,1% em relação a 2011, em valores correntes.

O crescimento da economia brasileira de 0,9% em 2012 ficou aquém do registrado por seus parceiros do Brics: China avançou 7,8%; Índia, 5,0%; Rússia, 3,4%; e África do Sul, 2,5%. A taxa é também inferior à da Coreia do Sul, 2,2%; dos EUA, 2,2%; do México, 3,9%; e do Japão, 1,9%. O patamar se compara com o registrado na Alemanha (0,9%) e superou o de países no centro da crise da zona do euro, como Espanha (1,4%), França (0,1%) e Reino Unido (-0,1%). Na região, o recuo foi de -0,5%.

Pela ótica da oferta, o maior destaque coube ao setor de serviços. O segmento apresentou expansão de 1,7% em relação ao ano anterior. Já indústria e agropecuária recuaram. A indústria encolheu 0,8%, enquanto a agropecuária teve retração de 2,3%.

Já pela ótica da demanda, o consumo das famílias subiu 3,1%. A Formação Bruta de Capital Fixo, que indica os investimentos, apresentou recuo de 4%.

A taxa de investimentos da economia brasileira atingiu 18,1% do Produto Interno Bruto em 2012, informou o IBGE. A taxa de poupança, por sua vez, correspondeu a 14,8% do PIB.

Indústria também teve piores resultados em três anos

No setor de serviços, o destaque coube a Serviços de Informação, que tiveram alta de 2,9%; e Administração, saúde e educação pública, com alta de 2,8%. Serviços imobiliários e aluguel apresentaram crescimento de 1,3%, seguidos pelo comércio, com avanço de 1%, transporte, armazenagem e correio, com alta de 0,5%, e intermediação financeira, que subiu 0,5%.

Por outro lado, no segmento industrial, a indústria de transformação registrou recuo de 2,5% frente ao ano anterior. Os setores com pior desempenho no ano passado foram Máquinas e Equipamentos, Metalurgia, Artigos de borracha e plástico, Produtos Químicos, Artigos de vestuário e acessórios, máquinas e aparelhos elétricos e caminhões e ônibus.

A indústria, que caiu 0,8% em 2012, teve o pior desempenho desde 2009, quando tinha apresentado recuo de 5,6%.

De acordo com o IBGE, o crescimento da massa salarial aliada à expansão do crédito sustentou o crescimento do comércio varejista, em ritmo superior ao da indústria, e o consumo das famílias que continuou a crescer pelo nono ano consecutivo. O consumo do governo avançou 3,2%.

O IBGE revisou a variação do PIB no terceiro trimestre ante o trimestre anterior, que passou de uma alta de 0,6% para 0,4%. No segundo trimestre, na mesma base de comparação, o avanço foi de 0,2% para 0,3%.

O gerente de Contas Nacionais, Roberto Olinto, afirmou que, na margem, há várias atividades que estão apresentando crescimento positivo. A FBCF deixou três trimestres de taxas negativas e cresceu 0,5% no quarto trimestre ante o anterior.

— É preciso ser cauteloso, mas na margem houve uma mudança e pode ser um sinal de que estamos tendo uma retomada. Isso pode ser uma oscilação ou uma reversão no sentido de que pode haver um movimento econômico — disse.

Mas assim, a indústria de transformação, construção civil registraram desempenhos negativos, com queda de 0,5% cada uma.

Analistas esperavam uma alta menor que 1%. A prévia do PIB, medida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central — Brasil (IBC-Br), havia apontado crescimento de 1,35%. No início do ano, o governo chegou a prever alta de 4% a 5%.

Fonte: O Globo

PPS venceu na Itália

De um sábio da política brasileira tentando explicar a eleição italiana:

- Este Pier Luigi Bersani, da coligação centro-esquerdista, é um ex-comunista, como Roberto Freire.

Beppe Grillo do movimento Cinco Estrelas, é o Tiririca. E o Berlusconi é o Maluf.

Faz sentido.

Coluna do Ancelmo Gois / O Globo

A esquerda democrática no tempo adverso da política

No decorrer dos seus 43 anos, transcrevemos trechos da Declaração de março de 1970 do Comitê Estadual do PCB do antigo Estado da Guanabara. São passagens nos quais o autor principal do seu texto, Armênio Guedes, analisa a conjuntura do governo Médici. Eram os anos de chumbo, de grande repressão, época em que poucas áreas da oposição acreditavam na ação política como meio eficaz para derrotar o regime de 1964.


Apresentação: Armênio Guedes

 Em 1970, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) vivia um momento de grandes dificuldades políticas. E não era diferente a situação dos comunistas da antiga Guanabara, cujo Comitê Estadual havia sido eleito em 1967, na conferência preparatória do VI Congresso do Partido.

A derrota do movimento de massas em 1968/69 e a promulgação do AI-5, que liquidou os últimos restos de liberdades existentes no país após o golpe de 1964, colocaram as correntes políticas e o movimento operário e popular perante uma situação nova e complexa. As formas de luta e de organização que as forças democráticas deviam adotar a partir de posições necessariamente defensivas, de resistência, impostas por derrotas sucessivas após 64 e principalmente no período que se seguiu ao insucesso político de 68, nem sempre foram assimiladas com a rapidez que a situação do país exigia. Faltaram para isso a todas essas organizações – e  entre elas o PCB – lucidez e agilidade políticas.

Muitos – pessoas e organizações –, levados pelo desespero e pela falta de perspectiva, se deixaram arrastar, com base numa análise falsa, para as posições da luta armada e do uso indiscriminado da violência, como formas únicas e exclusivas de ação política no combate para liquidar a ditadura. A um tal comportamento não estiveram alheios militantes e setores do PCB, que posteriormente dele se desligaram.Em 1970, apesar da condenação do VI Congresso ao "foco guerrilheiro" e a outras formas de luta que não apresentavam caráter de massa, ainda tinham influência nas fileiras do PCB muitas das idéias defendidas pelos "foquistas". Parcialmente influenciados por tais idéias, muitos membros do PCB vacilavam em realizar esforços para reconstruir o movimento de massas e, assim, colocar em prática a linha de resistência ao processo de fascistização do país, executado pelo regime mais abertamente após a adoção do AI-5. Essa não era certamente uma tarefa simples nas condições de repressão e terror então existentes; mas era o único caminho possível e viável para a resistência e o gradativo avanço das forças democráticas.

Foi para reagir a esse momento de dificuldades e confusões que a Comissão Política do CE da Guanabara decidiu lançar o documento de março de 1970. Tratava-se, de um lado, de um esforço para colocar em prática a linha aprovada pelo VI Congresso; e, de outro, para dar continuidade à tradição do Partido no Estado de ligação com as massas e de alianças com um amplo arco de forças democráticas e liberais.

Para a elaboração do presente documento, de minha autoria, foi decisiva a participação que pude ter nas discussões realizadas no interior da Comissão Política do CE, integrada também, entre outros, por Élcio Costa e João Massena de Mello, ambos eliminados pela ditadura durante os anos da repressão sangrenta de 1974/76. Depois de elaborado, o documento foi aprovado por unanimidade na Comissão Política e no Comitê Estadual, praticamente sem qualquer emenda.

Ao republicá-lo hoje, é relevante observar que algumas das teses nele defendidas só seriam levadas em consideração pela direção nacional do PCB alguns anos mais tarde, em 1973. Pode-se constatar, também, o acerto da análise e das previsões, o que é mais significativo quando se pensa que aquela era praticamente a primeira intervenção dos comunistas no novo quadro inaugurado com a edição do AI-5 e com o início do "milagre brasileiro", com todas as suas conseqüências e características. O texto resistiu ao tempo, dez anos após sua publicação.

Exatamente por isso, o documento não pode deixar de ser lido se se deseja conhecer um pouco da história da ação e das concepções do PCB durante os anos mais negros do regime criado pelo golpe de 64. Vem daí a idéia de republicá-lo.

Ao fazer isso, cumpre registrar, alto e bom som, que o documento não existiria sem a atividade do conjunto do Partido na Guanabara, em particular de seus organismos dirigentes e de base. Foi em nome dessa atividade, integralmente voltada para a organização da classe operária e das amplas massas do Brasil e para a conquista de uma democracia que se abrisse para o socialismo, que diversos companheiros foram presos, torturados e mortos, amargaram o exílio e tiveram suas vidas destroçadas. A eles, pois, e em particular a Élcio Costa e João Massena de Mello, deve ser sempre dedicado o documento que se segue.

São Paulo, março de 1981.

(...)

“As crises políticas que culminaram na indicação do Gal. Garrastazu Médici para a Presidência da República ganharam intensidade na segunda metade de 1969. Essas crises foram geradas por conflitos de naturezas diversas e se deram em diferentes planos da vida política.

As soluções encontradas, quer com as medidas tomadas pela Junta Militar, quer com a eleição do novo presidente militar, apenas atenuaram (ou adiaram) os seus efeitos.

E justamente porque persistem tais conflitos é que é importante examiná-los. Antes de tudo, assinalemos que as últimas crises, ao lado de suas especificidades, apresentaram pontos comuns com as demais crises sofridas pelo regime atual.

Entre os fatores causadores de desgastes da ditadura, opondo-se a seus esforços para fazer avançar o processo de fascistização, encontramos sempre dois tipos de resistência: a do movimento nacionalista e a do democrático. Certo, esses dois elementos do processo político brasileiro tendem, historicamente, à convergência: há entre eles um condicionamento mútuo muito estreito. Mas, em determinadas situações concretas, um deles pode assumir maior importância como acelerador do processo revolucionário brasileiro. De qualquer forma, direta ou indiretamente, eles sempre estiveram no centro das crises que vêm abalando o regime. Ou se originando de um choque direto entre o governo e a oposição (AI-2, novembro de 1965), ou de um conflito no seio do sistema de forças do governo (afastamento de Costa e Silva, constituição da Junta Militar e indicação de Médici), os golpes sucessivos, a partir de 64, foram sempre desencadeados para precaver o processo contra revolucionário contra o seu desgaste pela resistência nacionalista e/ou democrática.

A maior ou menor instabilidade dos governos da ditadura (razão das crises) tem sido em função de sua maior ou menor permeabilidade às pressões oriundas daqueles dois movimentos.

A contradição a que acabamos de nos referir dá origem a outras menores, secundárias e subordinadas, mas que nem por isso deixam de assumir importância decisiva em determinados momentos. É o caso, por exemplo, do conflito entre um Poder de fato, constituído por um núcleo de oficiais superiores das Forças Armadas (ideologicamente afinados com as doutrinas político-militares da ESG, mas de difícil identificação física), e o governo do momento. Cabe esclarecer que os diferentes governos do regime de abril (Castelo, Costa, Junta e Garrastazu) surgiram sempre como frutos de acordos entre aquele Poder militar de fato e as velhas forças políticas integradas nos quadros da ditadura. Produtos de tais acordos, sujeitos muitas vezes a pressões colidentes, vimos os vários governos de regime oscilar, pendularmente, entre as duas forças, até um momento em que o aumento das tensões desemboca em crises políticas, que geram novos pactos, já que as forças em choque não tiveram, até aqui, possibilidade de terminar com o impasse. Nesses pactos, os contendores disputam posições e vantagens que os coloquem em condições favoráveis para enfrentar a nova crise.

É esse, precisamente, o panorama do governo do Gal. Garrastazu Médici. Dele dizia recentemente o jornalista Carlos Castello Branco: "Chegamos aí a outra curiosidade da situação brasileira, que é o fato de não estar o Poder totalmente e, às vezes, substancialmente nas mãos dos seus titulares, que o representam, mas não o empolgam. A força invisível está por trás de tudo, definindo critérios, selecionando virtudes e impondo normas às quais devem obediência os que a representam ostensivamente".

Já se desenha nitidamente a formação de focos de atrito no novo governo.

Apesar das medidas que, em 1969, aumentaram ainda mais o autoritarismo e o arbítrio do regime, dos atos e leis que dificultaram em alto grau a atividade da oposição e a manifestação da vontade das massas, e talvez por tudo isso, a situação política do governo Garrastazu se apresenta instável. Ele se esforça para cobrir os claros deixados por certas forças afastadas do Poder, após a última crise, chamando técnicos para sua equipe, numa tentativa de dar ao seu governo uma imagem tecnocrática. Poderá, com isso, substituir uma parte da velha "classe política" alijada do poder, criando um novo elo de ligação com as classes dominantes, evitando o isolamento e prolongando o bonapartismo atual por mais tempo. O difícil é avaliar até onde irão as possibilidades desse bonapartismo sem um Bonaparte.

Ao lado das contradições já referidas, cabe, finalmente, assinalar mais uma. Em nível mais elevado que os seus antecessores, o governo de Garrastazu sofre as conseqüências da divisão do suporte militar da ditadura. À medida que passam os dias e que as Forças Armadas continuam como centro das decisões políticas importantes, maiores são os conflitos que as dilaceram. Grosso modo, a parte mais ativa da oficialidade, que participou do golpe de 1964, principalmente do Exército, divide-se hoje em dois grupos principais: um deles, englobando talvez a maioria, é formado pelos partidários de um nacionalismo autoritário, e o outro, que dispõe de maior parcela de poder, reúne os que se mantêm aferrados aos dogmas entreguistas e reacionários da ESG. O primeiro grupo tende a crescer e a romper, de dentro, a unidade do bloco militarista reacionário. Isto determinará, obviamente, uma convergência da ação dessa força com a do movimento nacionalista democrático da oposição. É necessário, no momento de uma apreciação mais concreta, não esquecer que, entre um grupo e outro, existem, nas Forças Armadas, correntes de várias nuances, além de uma enorme massa – possivelmente a maioria – de oficiais indecisos e indiferentes.

É dentro desse quadro que o Gal. Garrastazu terá de enfrentar as próximas eleições de governadores, para o Congresso Nacional, Assembléias Estaduais e Câmaras Municipais. "A disputa eleitoral – diz o JB – não será evidentemente capaz, por si mesma, de aplainar as contradições; muito pelo contrário. Pode-se esperar que as dificuldades se criem".

Em alguns dos Estados mais importantes – SP, GB, MG, BA – o partido oficial, a Arena, até agora não conseguiu unir suas forças, e o General-Presidente ameaça impor seus candidatos, vetando aqueles que não lhe agradam, numa ação que já se convencionou chamar de "cassação branca". O governo, que num arroubo demagógico prometeu fazer o "jogo da verdade", age com cautela nesse terreno, a fim de não provocar desarranjos no precário sistema de forças políticas em que se apóia.

As correntes de oposição – e, claro, entre elas, o nosso Partido – têm, com as eleições, um grande campo para potencializar a resistência à ditadura. Nada nos leva a crer que as próximas eleições, cercadas como estão pelas medidas coercitivas da ditadura, possam ser decisivas para a liquidação do regime – é uma advertência que não podemos deixar de fazer.

Mas não tenhamos dúvidas de que elas vão concorrer, e muito, para a nova crise em gestação. Daí a sua importância para a oposição.

Ninguém pode dizer, com segurança, o resultado de uma nova crise, se haverá alguma abertura (não entramos aqui na discussão sobre a extensão de tal abertura, mas consideramos apenas que o alargamento da faixa das liberdades, por menor que seja, ajuda a organizar a resistência ao avanço do fascismo), ou se serão ampliadas as medidas repressivas, com novas restrições às já quase inexistentes liberdades civis. O que não se pode é ficar à margem, acatar o desejo do General-Presidente. Isto é, participar das eleições sem contestar o regime. A oposição, particularmente as forças de esquerda e o nosso Partido, não pode, como quer o atual Presidente, permitir que a opinião pública, em hipótese alguma, seja confundida a ponto de admitir as medidas repressoras do regime como necessárias à defesa da democracia. O regime de abril, por sua essência de classe (serviçal das velhas classes dominantes, do imperialismo, etc.), por suas vinculações antinacionais e por sua ideologia reacionária, pode, tranqüilamente, ser classificado como de tipo fascista.

(...)

É esse o quadro da oposição. Quadro que explica porque a ditadura, apesar de suas fraturas e instabilidade, ainda encontra meios e formas para avançar no processo de fascistização. Quadro que se modificará, com maior ou menor ritmo, a partir do momento em que o processo político, permitindo uma reflexão mais profunda da oposição sobre sua experiência, indique-lhe a maneira de usar sua imensa potencialidade para organizar os combates e a batalha final contra a ditadura

(...)

O exame até aqui feito sobre as forças presentes e em conflito na sociedade brasileira induz a um otimismo realista em relação à formação de uma frente antiditatorial. ~

CF. Resolução Política do CE da Guanabara do PCB (Março de 1970). In: O marxismo político de Armênio Guedes, Contraponto / Fundação Astrojildo Pereira, dezembro de 2012