domingo, 21 de abril de 2013

OPINIÃO DO DIA – Antonio Gramsci

O desafio da modernidade é viver sem ilusões , sem se tornar desiludido.

Meu estado de espírito sintetiza estes dois sentimentos [otimismo e pessimismo] e os supera: sou pessimista com a inteligência, mas otimista com a vontade. Em cada circunstância, penso na hipótese pior, para pôr em movimento todas as reservas de vontade e ser capaz de abater o obstáculo.

Antonio Gramsci, 22/ 01/1891 —27/ 04 / 1937) foi um filósofo, político, cientista político, comunista e antifascista italiano

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Caos logístico faz Brasil perder R$ 6,6 bi na soja
Espigões tomam Norte e Nordeste
Venezuela: Maduro terá que negociar
Paraguai vai às urnas
O medo de quem vive em áreas contaminadas

FOLHA DE S. PAULO
Plano para salvar grupo de
Eike tem Petrobras e russos
FBI investiga viagem feita por suspeito à Rússia em 2012
'Sou inocente', diz acusado de mortes em ônibus no Rio
Morte por doença cardíaca cai no Sul e sobe na região Nordeste

O ESTADO DE S. PAULO
Ataque amplia pressão para tratar acusado como terrorista
Endividada, classe B reduz participação no consumo
Dilma associa sua imagem à doação de ônibus escolar
Aparato federal de notícias custa R$ 900 mi
Paraguai resgata oligarquias

ESTADO DE MINAS
Onde a lei não alcança
Matança de índios e roubo de terras
Um mistério de mais de 200 anos

O TEMPO (MG)
Nova `onda conservadora´ põe revisão de direitos em debate
Inflação encolhe poder de compra e estica inadimplência
O 21 de Abril deve ganhar tom político em discursos
Rosemary ficou em embaixada

CORREIO BRAZILIENSE
Os 53 anos da capital que é pura música
Mordidos pelo dragão
Diplomacia à beira-mar

GAZETA DO POVO (PR)
5 Gargalos do trânsito de Curitiba
Mais pet shops que padarias
Com aumento da bancada, evangélicos levam cargos na Câmara
Paraguaios vão às urnas entre denúncias de compra de votos

ZERO HORA (RS)
Dez impactos da nova lei das domésticas
Torcida contra o preconceito

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Você sabe quem são?
Seca desemprega também na Zona da Mata

Aliados de Marina veem barreira para disputar 2014

Lei que esvazia novas siglas dificulta projeto presidencial de ex-senadora

Políticos que ajudam a organizar novo partido agora falam da Rede Sustentabilidade como aposta de longo prazo

Paulo Gama, Diógenes Campanha

SÃO PAULO - Abatidos depois da aprovação na Câmara dos Deputados do projeto de lei que esvazia novos partidos políticos, organizadores da sigla lançada pela ex-senadora Marina Silva neste ano já reconhecem que será difícil tirá-la do papel a tempo de participar das eleições de 2014 em condições competitivas.

Desde o início do ano, Marina, que deixou o PV em 2011, trabalha para criar um novo partido, a Rede Sustentabilidade, pelo qual disputaria novamente a Presidência nas próximas eleições.

Se confirmado no Senado, o projeto aprovado quarta-feira diminui o potencial imediato da sigla ao reduzir seu tempo de propaganda eleitoral e o acesso ao dinheiro do Fundo Partidário, essenciais para qualquer candidato.

Durante a semana, ganhou força o discurso de que a criação do partido não tem compromisso com as eleições.

"Há de se fazer uma avaliação se convém organizar o partido nas condições precárias em que concorrerá", afirma o deputado Domingos Dutra (PT-MA), membro da executiva provisória da sigla.

Para Walter Feldman (PSDB-SP), colega de Dutra na Câmara e na direção da nova legenda, "só dá para acreditar na proposta de criação a médio e longo prazos". "Se fosse só para a Marina concorrer em 2014, seria um esforço gigantesco, mas ela nem quer pensar em 2014."

Com as regras atuais, deputados federais que migrassem para a Rede aumentariam a participação da sigla na distribuição do tempo de propaganda eleitoral e do Fundo Partidário, que são divididos com base no tamanho das bancadas na Câmara.
A nova regra determina que a divisão da maior parte dos recursos se dará conforme o resultado das eleições de 2010, o que exclui a Rede, que não existia. A restrição poderá também inibir a adesão de parlamentares, receosos de não ter a estrutura necessária para se reeleger.

Durante a semana, outros partidos fizeram coro às reclamações de Marina de que o projeto é casuístico e tem motivação política para prejudicar eventuais opositores de Dilma Rousseff em 2014.

A ex-verde conseguiu unir em torno de si Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), outros dois potenciais adversários da petista.

Ganhou também apoio do deputado Roberto Freire (SP), presidente da recém-criada Mobilização Democrática, que ofereceu guarida à ex-senadora caso a Rede não se viabilize. "Se ela desejar vir, vai ser bem atendida."

Apesar de aliados concordarem que essa pode ser uma saída, Marina tem dito que sua prioridade por enquanto é a construção do partido. "Quem tem plano B não tem plano A", costuma repetir.

O grupo ainda aposta que a nova norma possa ser derrubada no Senado ou considerada irregular pelo Supremo Tribunal Federal.

"Senão, vamos ter que ver qual o caminho para 2014. Mas a construção da Rede continua", diz Feldman. Os envolvidos se dizem otimistas com a coleta de assinaturas para viabilizar o partido --são necessárias 500 mil adesões para o registro.

Segundo balanço preliminar da Rede, 130 mil assinaturas já foram recolhidas e a meta regional foi atingida em dez Estados. O partido, no entanto, reconhece que nem todas as assinaturas serão validadas pelos cartórios eleitorais --no PSD criado por Gilberto Kassab, por exemplo, apenas 30% das fichas foram homologadas.

Os marineiros temem ainda percalços nessa etapa. "Se são capazes de cassar nosso tempo de TV, podem também criar dificuldades na Justiça Eleitoral", diz o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ).

Fonte: Folha de S. Paulo.

Um novo partidão

Ex-comunista que se aliou ao DEM e aos tucanos contra Lula, Roberto Freire muda mais uma vez

Daniela Lima

SÃO PAULO - Na semana passada, quando assumiu a presidência da recém-criada Mobilização Democrática, o deputado federal Roberto Freire (SP) repetiu uma proeza que já realizara duas outras vezes nos últimos 23 anos: trocou de partido sem sair de onde estava.

A façanha levou o homem que comandou o antigo Partido Comunista Brasileiro e depois se aliou aos liberais do DEM em duas eleições presidenciais a promover agora uma fusão com o inexpressivo PMN. Tudo em nome da "esquerda democrática".

Freire entrou no velho Partidão, como o PCB era conhecido pelos militantes, em 1962, quando a organização agia na clandestinidade. Estudante de direito, dava sua contribuição à agenda política em Pernambuco advogando para trabalhadores rurais.

A situação ficou mais complicada após o golpe militar de 1964. Com o Ato Institucional número 5 e o endurecimento do regime em 1968, colegas foram presos e Freire mudou-se para o Chile.

Casou-se lá. Sua primeira mulher era filha de um funcionário da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), mesma organização na qual o ex-governador paulista José Serra trabalhou quando exilado na ditadura.

"Foi a festa dos exilados. O Serra esteve lá. Na época, só o conhecia de longe", lembra.

De volta ao Brasil, Freire entrou no MDB. Vários nomes do PCB fizeram o mesmo. Migraram com a esperança de operar de dentro da sigla a legalização do Partidão.

A legitimação só veio no governo de José Sarney, em 1985. "Nisso ele foi um democrata. Quando sondamos Tancredo, ele pediu para esperarmos a Constituinte. Sarney fez antes", afirma Freire.

Ele disputou a Presidência em 1989 e terminou em nono lugar. Começou a promover a primeira mudança no PCB um ano depois, quando derrotou o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2013) numa disputa pelo comando da sigla.

Na ocasião, Niemeyer sustentou a mesma posição que manteve até o fim da vida --morreu aos 104 anos defendendo o stalinismo. Freire achava que o partido deveria se modernizar. Ele saiu vitorioso e, dois anos depois, transformou o PCB no PPS.

Após o impeachment de Fernando Collor, tornou-se líder do governo Itamar Franco, uma administração de "centro-esquerda", avalia. "Na época, defendi que o PT integrasse o governo. Se tivessem aceitado, Lula teria sido candidato em 1994 com o apoio de Itamar e do PSDB. Era preciso que José Dirceu desistisse de disputar o governo de São Paulo para apoiar Mário Covas, mas o PT sempre foi isolacionista."

Após executar o Plano Real, o nome de Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, emplacou. Freire ficou com o PT, pela "identidade de esquerda", e fez campanha para Lula em 1994. Em 1998 e 2002, lançou Ciro Gomes candidato, mas apoiou Lula no segundo turno.

Lula eleito, em 2004 o PPS rompeu com o PT. "Saímos antes do mensalão. Discordamos da política econômica. Bolsa Família não é de esquerda. Política compensatória é um mecanismo neoliberal." Tornou-se crítico implacável do "lulopetismo".

Contra Lula, em 2006, o PPS subiu no palanque ao lado do PFL, hoje DEM, para apoiar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto.

Em 2010, a cena se repetiu, mas em nome das pretensões de José Serra. Freire o trata como amigo, embora em 2002, quando o tucano se candidatou pela primeira vez, tenha ficado com Lula --"não faço política por amizade".

Hoje, os dois estão em contato constante por conta da terceira mutação que Freire promove em seu partido: a fusão com o PMN, cujo produto é a Mobilização Democrática.

O PMN tem três deputados federais, entre eles a filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, Jaqueline, flagrada recebendo R$ 50 mil quando o chamado mensalão do DEM foi descoberto.

"Não circunscreva um processo tão amplo a esse aspecto. Se for para falar, o que dizer do PT, que tem condenados? É impossível fazer o que estamos fazendo sem passar por esse tipo de situação", diz.

Freire trata a fusão como parte importante de um processo de "reorganização das oposições". A nova sigla deve servir ao governador Eduardo Campos (PSB-PE), que se descola do governo Dilma Rousseff (PT) para despontar como opção em 2014.

Freire não esconde a predileção por Campos, mas diz que a MD é para todos: convidou Serra e oferece a sigla como plano B para a ex-senadora Marina Silva, caso não consiga tirar a Rede do papel.

Mas o futuro da MD como "nova oposição" não está garantido. O governo opera para limitar seu tempo de TV e recursos partidários. Freire chama o movimento de "golpe" e diz que brigará na Justiça.

"Dilma não vai decidir contra quem deseja concorrer em 2014 com sua maioria no Congresso. Há uma nova oposição surgindo e não vai parar."

Fonte: Folha de S. Paulo

O 21 de Abril deve ganhar tom político em discursos

Evento terá presença de Aécio, que não participou das últimas edições

Gustavo Prado

Aécio afirma que quer "diálogo mais próximo com a sociedade"

O evento para a entrega da Medalha da Inconfidência, hoje, em Ouro Preto, deverá ser marcado pelo tom político nos discursos. Além da presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, grande homenageado e orador oficial da cerimônia, o senador mineiro e pré-candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) também vai participar, ao lado do governador de Minas Antonio Anastasia (PSDB).

Aécio quer implementar, desde agora, o "diálogo mais próximo com a sociedade", pregado por ele como principal ação para este ano. "Assumirei o partido provavelmente agora, no dia 19, e vamos construir a nossa estratégia de conversar com a sociedade". Para o ex-governador, que não participava da solenidade em comemoração ao dia 21 de Abril há anos, as alianças serão consequência da apresentação do projeto do PSDB para o país.

"Acredito que há uma possibilidade grande de termos ao nosso lado várias forças políticas, inclusive algumas que hoje estão na base de sustentação do governo", afirmou o tucano. Aécio aproveita, também, para cumprir mais agendas no Estado. O senador é criticado constantemente por estar ausente em alguns compromissos em Minas. Esta semana, por exemplo, Aécio esteve presente na capital ao lado do ex-governador Fernando Henrique Cardoso.

Polêmicas. A presença do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, pode levantar assuntos polêmicos no evento. Entre eles, está a criação de quatro novas unidades do Tribunal Regional Federal (TRF), uma delas, inclusive, em Minas Gerais. Barbosa já se manifestou contrário à criação das novas Cortes, alegando um inchaço do Judiciário.

A chamada PEC da Impunidade também pode ser repercutida. O Ministério Público realiza uma grande campanha contrária à proposta, que tira do órgão o poder de investigação.

Fonte: O Tempo (MG)

Quem não se comunica...

Eduardo Campos recruta um time de pesos pesados em comunicação para dar suporte à sua candidatura presidencial

Bruna Serra

Maior arma de uma disputa eleitoral, responsável por vitórias marcantes e derrotas inesquecíveis, a comunicação é a alma de qualquer campanha. Experiente que é em disputas majoritárias, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), está se cercando de profissionais especialistas nas mais diversas áreas da comunicação para enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) nas urnas.

Ciente de que o jogo está começando antecipado em mais de um ano, o pernambucano articula a montagem de um quartel-general de comunicação. A ideia é monitorar as ações do governo petista, o que amplia a possibilidade de explorar as falhas cometidas pela presidente Dilma Rousseff (PT), bem como sua relação com os partidos da base, que o governador julga desgastada. Pescar os insatisfeitos é a meta do momento estabelecida pelo presidenciável socialista.

Do escritório também será possível avaliar quais são os momentos mais oportunos para que o governador desembarque em Brasília e apareça destacando sempre posições que gerem ainda mais alvoroço na coalizão comandada por Dilma Rousseff. No comando das estratégias de comunicação estão perfis diferenciados de profissionais que já trabalham com o governador e têm inserção no cenário nacional.

O queridinho é o argentino Diego Brandy, que conta com a total confiança do chefe e coordenou a campanha do prefeito Geraldo Julio (PSB) no Recife ano passado. A dupla Duda Mendonça - que foi o mentor do sucesso "é só você querer e o amanhã assim será. Bate o pé de diga Lula, eu quero Lu-lá" - e o sociólogo Antônio Lavareda, que ganhou fama nas campanhas do PSDB, também estão na equipe de Campos.

Recentemente, o sociólogo foi o responsável por uma pesquisa em que ouviu 8 mil pessoas em todo o Brasil. A sondagem, apesar de oferecido também um resultado quantitativo, teve como foco as escutas qualitativas, aquelas em que se quer saber os problemas que mais afetam a população, que lhe são caros.

A sondagem teve como objetivo ajudar a traçar a estratégia a ser adotada para sensibilizar os brasileiros nessa fase de pré-campanha, bem como sentir a receptividade do discurso adotado por Eduardo até aqui.

Outro antigo companheiro de comunicação do governador é o publicitário Edson Barbosa. Ele detém a conta de propaganda nacional do PSB. Foi sua equipe que desenvolveu os vídeos veiculados nas inserções da legenda no início deste mês, mostrando experiências bem sucedidas das administrações pessebistas. Barbosa tem excelente circulação em Brasília e está no time de profissionais com o respaldo de ter capitaneado a campanha que fez Eduardo Campos chegar ao poder em Pernambuco quando ainda amargava o terceiro lugar nas pesquisas com o slogan "É Eduardo, É!".

Os socialistas avaliam entre si, nos bastidores, que a campanha a ser travada pelo Palácio do Planalto em 2014 terá contornos semelhantes a de 2006. Ponderam que o governador sairá de percentuais modestos para a vitória, graças a sua capacidade de dialogar - num eventual segundo turno - com uma parcela do eleitorado que teria menos simpatia pelo PT e mais afinidades com Aécio Neves (PSDB) ou a ex-senador Marina Silva, caso ela consiga consolidar o Rede Sustentabilidade.

O trabalho político também está tendo como base a comunicação.Pesquisas vem sendo feitas por Estados, para identificar o perfil dos prefeitos, senadores, deputados estaduais e federais que mais se adequam ao palanque que Campos deseja montar. Dois pré-requisitos já estão definidos: pouca vulnerabilidade a cooptação por parte do governo federal e baixa capacidade de se intimidar com eventuais reações mais abruptas do Planalto.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Planalto cogita perder até dez ministros

Integrantes do primeiro escalão já se apresentam como potenciais candidatos nas eleições de 2014

Luiza Damé, Catarina Alencastro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff mal concluiu a reforma ministerial e já surgem as especulações no Congresso e no próprio governo sobre a próxima mexida geral que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios para tapar os buracos que serão deixados por conta das eleições de 2014. O Palácio do Planalto trabalha com uma lista de, no mínimo, dez ministros-candidatos, que sairão em abril do próximo ano para concorrer a governador, senador ou deputado federal. Esse número poderá chegar a 14, obrigando a presidente a uma grande reformulação no primeiro escalão.

Porém, políticos experientes avaliam que, a um ano do início da disputa para valer, o número de potenciais candidatos é inflado, o que também alimenta o clima de barganha, com a tentativa de negociação de outros cargos no governo.

- Quando está longe das eleições, sempre há mais candidatos. É claro que vários ministros vão se afastar para as eleições, mas não nesse número. Eu vejo sete ou oito com possibilidade de concorrer. Isso é natural. Quando eles foram nomeados, a presidente já sabia que eles iriam se afastar para, pelo menos, renovar o mandato de deputado ou senador - acredita o líder do PT no Senado, Wellington Dias, ex-governador do Piauí.

Nos bastidores do governo já se fala num arranjo semelhante ao adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: seriam indicados secretários-executivos e técnicos para concluir o mandato ao lado de Dilma, que estará, ela própria, em plena campanha à reeleição. Esse esquema enfrenta resistências, pois alguns ministros têm papel eminentemente político, caso por exemplo da Secretaria de Relações Institucionais, cuja missão é fazer a ponte entre o Planalto e o Congresso.

A titular da pasta, Ideli Salvatti, deve concorrer ao Senado, mas depende de uma composição com o PMDB, hoje aliado do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD). Nos cenários analisados, o PT pode lançar chapa pura no estado. Nas duas situações, Ideli tentaria voltar ao Senado.

- O natural, para não prejudicar o andamento do governo, é colocar alguém do ministério, que já tem conhecimento dos projetos. O secretário-executivo, que tem a obrigação de dominar os temas do ministério, é o substituto natural. Assim não há quebra nas coisas nem prejuízo para o interesse do povo. O ano eleitoral já não é fácil, há uma série de restrições; se há uma mudança radical na equipe, nos últimos meses do governo, certamente vai prejudicar o ritmo do plano de governo - defende o senador petista.

A intensa disputa por São Paulo

O governo de São Paulo é o cargo com maior número de postulantes na Esplanada: cinco. Esperam uma decisão do PT: Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde), Marta Suplicy (Cultura), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Guido Mantega (Fazenda). Bastante próximo da presidente, Mercadante é o curinga. Tanto pode ser candidato a governador de São Paulo como coordenador-geral da campanha da reeleição de Dilma, ou ir para a Casa Civil, na vaga de Gleisi Hoffmann, que deverá concorrer ao governo do Paraná.

Gleisi, aliás, tem ocupado todo o tempo do PT nas inserções partidárias no estado, mas seus aliados gostariam que ela fosse mais presente nos eventos políticos de lá. Nos programas de rádio e TV, ela sempre ressalta que, ao lado da presidente Dilma, tem ajudado a melhorar a vida dos brasileiros. A ministra enfrentará o tucano Beto Richa, que tentará se reeleger. A ministra se movimenta para evitar que o PMDB, que tem uma secretaria no governo tucano, feche com Richa na campanha de 2014.

- A Gleisi tem vindo pouco ao estado, não participa de muitas agendas públicas, mas sua presença na mídia é muito forte. Tudo o que ela faz no governo aparece com destaque. Ela tem sido também a protagonista das inserções do partido. Embora as pesquisas não sejam muito confiáveis, já há um indicativo de que ela esteja empatada nas intenções de voto com o Beto Richa - diz um aliado do Planalto.

O ministro Cardozo - que integrou o trio de coordenadores da campanha do PT em 2010, chamado por Dilma de "Três Porquinhos", ao lado de Antonio Palocci e Fernando Pimentel - dificilmente ficará na Esplanada durante o processo eleitoral. Além de ser um dos nomes do PT para o governo de São Paulo, é forte também para assumir a coordenação geral da campanha da reeleição de Dilma. O ministro Fernando Pimentel (do Desenvolvimento), que também poderia coordenar a campanha, quer mesmo é ser candidato a governador de Minas Gerais.

Parlamentares querem reeleição

A ideia de Mantega disputar o governo de São Paulo foi lançada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já teria sondado o ministro a respeito, mais como uma espécie de "balão de ensaio", para conhecer a reação. Segundo assessores do governo, Mantega teria descartado essa possibilidade no início, mas depois passou a considerá-la.

Sobre Marta Suplicy, interlocutores do governo afirmam que, embora tenha sido prestigiada pela presidente Dilma com um ministério, gostaria de tentar novamente o comando do Palácio dos Bandeirantes. Ministro que circula bem com Dilma e Lula, Padilha também aparece como um nome para o governo de São Paulo, mas teria de transferir seu domicílio eleitoral de Santarém (PA). Setores do PT do Pará gostariam que o ministro disputasse o governo daquele estado. Até sugeriram que Padilha seja a estrela do programa político do PT no Pará, em junho.

Deputados que deixaram a Câmara para virar um dos 38 mais importantes integrantes do governo também terão de escolher entre renovar o mandato ou permanecer na Esplanada. Aldo Rebelo (Esporte) já decidiu que será candidato, abandonando o posto no meio do projeto da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Ele tentará renovar seu mandato como deputado ou arriscará um voo mais alto, no Senado.

Deputados gaúchos, Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) também são cotados para o Senado. Gastão Vieira (Turismo), Antônio Andrade (Agricultura), Leônidas Cristino (Portos) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades) devem disputar as eleições da Câmara dos Deputados.

Fonte: O Globo

Rosemary Noronha: Que rainha sou eu?

Veja revela os detalhes da sindicância que foi mantida em segredo pelo governo porque poderia criar "instabilidade institucional". Ela mostra como a ex-secretária Rosemary Noronha se aproveitou da intimidade com o ex-presidente Lula para ganhar dinheiro, traficar poder e viver como uma soberana

Construído no centro da Piazza Navona, um dos endereços mais cobiçados de Roma. o Palazzo Pamphili é uma preciosidade arquitetônica entre os edifícios que abrigam a embaixada brasileira nas capitais do mundo. O prédio, erguido no século XVII, tem salões, quartos e pátios adornados com quadros, esculturas e afrescos barrocos de alta qualidade artística. São poucos os privilegiados que conhecem suas dependências mais íntimas. Estão nessa lista presidentes e ex-presidentes da República e personalidades estrangeiras convidadas, entre elas a princesa Diana da Inglaterra. Tão luxuoso quanto restrito, sabe-se agora, o palácio frequentado pela realeza e por chefes de estado também abriu seus a aposentos reservados para uma funcionária pública, Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, que protagonizou recentemente um dos mais rumorosos casos de promiscuidade entre os interesses públicos e privados. Veja teve acesso a documentos oficiais que registram esse e outros capítulos inéditos da história envolvendo a mulher que, por anos, conduziu uma repartição pública como se fosse um pequeno reino - o reino de Rose.

Durante dois meses, uma comissão especial do governo colheu depoimentos de funcionários, vasculhou mensagens eletrônicas, registros de agenda e listas de visitantes para tentar reconstituir, ao menos em parte, a rotina no gabinete da Presidência da República em São Paulo entre 2009 e 2012. No ano passado, a Polícia Federal descobriu que Rosemary Noronha usava a influência e a intimidade que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder. Ela patrocinou lobbies, agendou encontros com autoridades e ajudou uma quadrilha que vendia pareceres a empresários. Em troca, recebia vantagens e remuneração em dólar, euro, real e até em won, a moeda coreana. Exonerada do cargo e indiciada por formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva, Rosemary foi alvo de uma sindicância conduzida por técnicos da Presidência. O relatório final da investigação, mantido em segredo por determinação expressa do próprio governo, é a síntese do que para alguns é a norma fria do serviço público em Brasília, uma grande loja de facilidades.

O resultado da investigação é um manual de como proceder para fraudar e trapacear no comando de um cargo público quando seu ocupante priva da intimidade do presidente da República. Sob o comando da Casa Civil da Presidência, os técnicos rastrearam anormalidades na evolução patrimonial de Rosemary Noronha e recomendaram que ela seja investigada por suspeita de enriquecimento ilícito. Um processo administrativo já foi aberto na Controladoria-Geral da União. Ex-bancária, Rose, como é chamada pelos mais íntimos, foi uma destacada militante do movimento sindical no início da década de 90. Era admirada na categoria pelos belos cabelos longos e por outras peculiaridades do seu biotipo. Seus talentos foram logo notados pelos figurões do PT. O então deputado José Dirceu. de quem se tornou muito amiga, contratou-a como secretária de gabinete. Logo depois, promovida, Rose passou a organizar a agenda do candidato Lula, cuidar das suas contas, anotar seus recados, enfim, gerenciar o cotidiano do futuro presidente. E fazia isso com muita competência, segundo pessoas próximas. No governo petista, ela continuou cuidando do dia a dia do presidente, principalmente quando havia viagens internacionais. Por determinação do cerimonial do Palácio do Planalto, era autorizada a se engajar na comitiva sempre que Marisa, a esposa de Lula, não podia acompanhar o marido. Sem uma função definida, Rose ficava hospedada no mesmo hotel do presidente, de prontidão para ser acionada em caso de necessidade. A extrema proximidade com o presidente provocou ciúme e desentendimentos. Em 2007, ela deixou o cargo de assessora especial de Lula e assumiu a chefia do escritório da Presidência da República em São Paulo. Àquela época, a corte já sabia: falar com Rose era o atalho mais rápido para se comunicar com o presidente.

A sindicância destoa da tradição dos governos petistas de amenizar os pecados de companheiros pilhados em falcatruas. Dedicado exclusivamente aos feitos da poderosa chefe de gabinete, o calhamaço de 120 páginas produzido pela sindicância é severo com a ex-secretária. Mostra que Rosemary encontrou diferentes formas de desvirtuar as funções do cargo. Ela pedia favores ao "PR" - como costumava se referir a Lula em suas mensagens - com frequência. Era grosseira e arrogante com seus subalternos. Ao mesmo tempo, servia com presteza aos poderosos, sempre interessada em obter vantagens pessoais - um fim de semana em um resort ou um cruzeiro de navio, por exemplo. Rosemary adorava mordomias. Usava o carro oficial para ir ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos. O motorista era seu contínuo de luxo. Rodava São Paulo a bordo do sedã presidencial entregando cartas e pacotes, fazendo depósitos bancários e realizando compras. Como uma rainha impiedosa, ela espezinhava seus subordinados.

Depoimentos de motoristas, secretárias e copeiras que recebiam ordens da ex-secretária revelam uma rotina de humilhações públicas. Rosemary gritava e distribuía insultos na frente de visitantes do gabinete. Um simples cumprimento de boa tarde dirigido a ela na hora errada poderia resultar em tremenda grosseria. Certo dia, humilhou uma secretária a tal ponto que o caso foi parar no hospital. Depois de cair em prantos por ter sido ameaçada de demissão, a servidora passou mal e precisou ser socorrida pelos bombeiros do órgão. Ao constatar que a pressão dela estava muito alta, o bombeiro chamou Rosemary à sala e relatou a necessidade de levar a servidora imediatamente ao médico. Não havia ambulância disponível - mas alguém lembrou que o carro oficial estava na garagem. Rosemary ficou transtornada com a sugestão e proibiu o motorista de prestar socorro. A funcionária e o bombeiro acabaram indo de táxi para o hospital. Depois disso, a rainha Rose ainda proibiu a serva de lhe dirigir a palavra e, por fim, a demitiu.

Rosemary Noronha se comportava e era tratada como majestade, independentemente de onde estivesse. Os registros de uma viagem à Itália em 2010, por exemplo, comprovam que as regalias à sua disposição extrapolavam as fronteiras. Mensagens inéditas reunidas no relatório da investigação mostram que a ex-secretária foi recebida com honras de chefe de estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. Rose temia ter problemas com a imigração no desembarque em Roma. O embaixador José Viegas enviou-lhe uma carta oficial poderia ser apresentada em de algum imprevisto. Rose conhecia a Itália. O embaixador colocou o motorista oficial à sua disposição. Rose não tinha hotel. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili - e ela não ocuparia um quarto qualquer. Na mensagem, o embaixador brasileiro saudou a ida de Rose com um benvenuti!, em seguida desejou-lhe buon viaggio e avisou que ela ficaria hospedada com o marido no "quarto vermelho". Quarto vermelho?

Como o Itamaraty desconhece esse tipo de denominação, acredita-se que "quarto vermelho" fosse um código para identificar os aposentos relacionados ao chefe - assim como normalmente se diz "telefone vermelho", "botão vermelho", "sala vermelha"... Independentemente disso, com a ajuda da Controladoria-Geral da União, a investigação da Casa Civil confirmou que a ex-chefe de gabinete não estava a trabalho em Roma. Por isso, considerou que a estada nas dependências diplomáticas configurou mais um caso de apropriação particular do patrimônio público e recomendou que o Itamaraty apurasse o episódio. Indagado, o embaixador José Viegas, que deixou o posto em 2012, disse que não podia "discriminar quem chega com dinheiro público ou privado" à embaixada. Em tese. portanto, qualquer mortal de passagem por Roma está autorizado a pernoitar uns dias na embaixada. Sobre o tal "quarto vermelho", garantiu que se trata de um cômodo secundário.

Tanto nessa passagem pela embaixada brasileira em Roma quanto nos desmandos e abusos cometidos no gabinete de São Paulo, a fonte de poder de Rosemary sempre foi a mesma: a relação de intimidade com o ex-presidente Lula. Por força dessa proximidade, ela passava boa parte do tempo recebendo gente importante preocupada em bajulá-la. Um rosário de empresários que apostavam no prestígio dela para conseguir reuniões com servidores inacessíveis do governo, intermediar contratos milionários em órgãos públicos e abrir caminho para nomeações em cargos de alto escalão. Diariamente, por telefone ou e-mail, dirigentes da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e da Petrobras, para citar alguns exemplos, recebiam pleitos de Rosemary. Na maioria das vezes, os pedidos eram mequetrefes, como ingressos para shows e eventos culturais. Mas, em outras oportunidades, os contatos envolviam cifras milionárias. As mensagens interceptadas revelam a falta de cerimônia com que ela misturava interesses públicos com privados, chegando até a falsificar diplomas para ela e o marido. Por ser tão próxima de Lula - seu único fiador no cargo -, Rosemary articulava nomeações nas mais variadas áreas do governo. De vagas em agências reguladoras a tribunais superiores, os candidatos constantemente recorriam a sua influência. Uma troca de mensagens apreendidas mostra que Francis Bicca, então assessor de Dias Toffoli na Advocacia-Geral da União, procurou os serviços de Rose para tentar emplacar o irmão em uma cadeira do Superior Tribunal Militar. Rosemary pergunta: "Quem mais além do Toffoli falou com o PR?". Bicca responde que "só tem certeza mesmo" da recomendação direta do "ministro José Dirceu, do Gilberto Carvalho e do Chefe, além dos militares". Rose diz a Bicca que cumpriu sua missão: "Entreguei ao PR. conversei e falei dos apoios. Ele levou o currículo e acho que vai dar tudo certo". Nesse caso, alguma coisa deu errado. Depois de reconstituir esses episódios da corte de Rosemary, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, determinou a abertura de processo administrativo. Um detalhe curioso: o relatório final da sindicância era mantido em segredo porque a comissão avaliou que sua divulgação poderia causar "instabilidade institucional". A reação de Rosemary Noronha mostra que realmente há motivos mais do que concretos para tamanha preocupação.

A ameaça de Rose

Rosemary Noronha está magoada e ameaça um revide em grande estilo. Sentindo-se desamparada pelos velhos companheiros que deixaram correr solta a investigação que pode levá-la mais uma vez às barras da Justiça, agora por enriquecimento ilícito, a ex-chefe do gabinete presidencial em São Paulo ameaça contar seus segredos e implicar gente graúda do partido e do governo. Se não for apenas mais um jogo de chantagem típico dos escândalos do universo petista, Rose poderá enfim dar uma grande contribuição ao país. Pelo menos até aqui, a ameaça da amiga dileta de Lula faz-se acompanhar de lances concretos - tão concretos que têm preocupado enormemente a cúpula partidária. O mais emblemático deles é a troca da banca responsável por sua defesa. Rose, que vinha sendo defendida por advogados ligados ao PT, acaba de contratar um escritório que durante anos prestou serviços a tucanos. O Medina Osório Advogados, banca com sede em Porto Alegre e filial no Rio de Janeiro, trabalhou para o PSDB nacional e foi responsável pela defesa de tucanos em vários processos, como os enfrentados pela ex-governadora gaúcha Yeda Crusius.

Os novos advogados foram contratados para defendê-la no processo administrativo em que ela é acusada de usar e abusar da estrutura da Presidência da República em benefício próprio - justamente o motivo da mágoa que Rose guarda de seus antigos companheiros. Para ela, com esforço, até dá para compreender que a companheirada não tenha conseguido barrar a Operação Porto Seguro, investigação da Polícia Federal que apontou suas ligações com uma máfia especializada em vender pareceres oficiais. O que ela não engole é que o próprio Palácio do Planalto, numa apuração administrativa, esteja permitindo que seus podres venham à tona - e, mais do que isso, que ela possa ser responsabilizada e cobrada judicialmente por seus malfeitos. Dizendo-se abandonada, ela já confidenciou a pessoas próximas que está perto de explodir. O que isso quer dizer? Não se sabe. O fato é que seus advogados anunciaram que vão arrolar como testemunhas de defesa no processo figuras-chave da república petista. Na semana passada, ela decidiu pedir que quatro destacados companheiros sejam ouvidos na investigação administrativa tocada pelo governo. Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e ex-chefe de gabinete de Lula, e Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil e ex-braço-direito da presidente Dilma, encabeçam a lista. Completam o rol Beto Vasconcelos, atual número 2 da Casa Civil, e Ricardo Oliveira, ex-vice-presidente do Banco do Brasil e um assíduo visitante do gabinete que ela chefiava na Avenida Paulista. São apenas os primeiros nomes, segundo a estratégia montada pela ex-secretária.

Fonte: Revista Veja

Em campanha: Dilma associa sua imagem à doação de ônibus escolar

A presidente Dilma Rousseff quintuplicou a compra de ônibus escolares em 2012 e entregou um recorde - 9.283 coletivos ao custo de R$ 1,8 bilhão. Em campanha antecipada pela reeleição, Dilma passou a participar da entrega dos veículos, como fez em MG e PE

Dilma dá verba recorde a ônibus escolar e associa a própria imagem ao programa

Debora Bergamasco

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff quintuplicou a compra de ônibus escolares do Programa Caminho da Escola em 2012, em relação ao ano anterior, entregando um total recorde de 9.283 coletivos ao custo de R$ 1,8 bilhão-apenas fruto de investimentos federais. Pelo impacto imediato que gera na vida das famílias de estudantes, o programa tem forte apelo eleitoral. Em campanha antecipada pela reeleição, Dilma passou a participar pessoalmente da entrega desses transportes para a população e associar sua imagem a um programa que tem sido bem aceito.

Em menos de um mês, ela desembarcou em quatro cidades diferentes, escolhendo para ser generosa especialmente em regiões estratégicas para golpear os alicerces eleitorais de seus prováveis adversários no pleito presidencial de 2014. 0 interesse dos prefeitos em distribuir o benefício tem sido tão grande que as aquisições do primeiro trimestre deste ano seguem com velocímetro acelerado: 1.399 ônibus, que custaram R$ 282,36 milhões bancados pela União, por recursos próprios das cidades e Estados e por financiamento do BNDES.

A entrega dos ônibus pelo País passou a integrar o kit obrigatório que a presidente e seus ministros procuram distribuir nos recentes périplos pelo Brasil veículos escolares, imóveis do Minha Casa, Minha Vida, máquinas retroescavadeiras e motoniveladoras.

Campos e Aécio. No dia 25 de março deste ano, a presidente entregou ônibus em Serra Talhada, Pernambuco, Estado governado por Eduardo Campos, do PSB. Apesar de hoje compor a base aliada federal, não é segredo no Brasil que o governador já começou a articular, nos bastidores, embate com Dilma pelo comando do Planalto no ano que vem.

Mirando o mesmo futuro rival, no dia 2 deste mês, a presidente negou coletivos em Fortaleza (CE)cidade administrada pelo prefeito Roberto Cláudio, e capital do Estado pilotado por Cid Gomes, ambos pessebistas. O Partido dos Trabalhadores atua para agradar aos eleitores hoje comandados pelo PSB e ainda tenta conter o avanço de Campos pelo Nordeste, onde apesar de o PT ter popularidade, perdeu prefeituras importantes no ano passado.

Já na última terça-feira, o alvo foi o ninho do senador tucano Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à Presidência. Dilma esteve em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde fez o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), subir em seu palanque e ouvir críticas sobre gestões passadas, época em que, conforme ela discursou, "o País crescia, mas o povo não crescia junto".
Números. Em 2010, ano em que Dilma foi eleita, seu antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva desembolsou R$ 806,88 milhões para distribuir 4.363 ônibus pelo País, mais que o dobro do valor investido por ele mesmo no ano anterior.

Além das verbas federais, se forem somados as aquisições de ônibus utilizando recursos próprios de Estados e municípios e empréstimos concedidos pelo BNDES, os números também aumentam em progressão aritmética. Em 2009, foram entregues 3.475 ônibus. No ano seguinte, da disputa eleitoral, os municípios receberam 6.225 veículos escolares.

No primeiro ano de mandato da presidente Dilma, o Caminho da Escola concedeu 2.247 veículos- uma queda vertiginosa em relação ao turbinado ano eleitoral de 2010. Em 2012, ano de eleições municipais, o programa volta a ganhar fôlego: foram distribuídos 11.551 ônibus.

Sem viés político. O Ministério da Educação informou, por intermédio da assessoria de imprensa, que a aquisição dos veículos "não depende de partidos ou de questões eleitorais, até porque quem faz o pedido dos veículos são as próprias prefeituras, com base nos dados do censo escolar". O MEC acrescenta que o critério para definir a quantidade de meios de transporte a serem adquiridos no Programa Caminho da Escola é o número de alunos matriculados nas escolas de educação básica da zona rural que utilizam transporte escolar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Máquina estatal de notícias custa R$ 900 mi

João Domingos, Wilson Tosta e Isadora Peron

Os gastos crescentes com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e o uso cada vez mais comum de serviços terceirizados de assessoria de imprensa nos órgãos públicos criaram nos últimos anos uma máquina estatal de informações que emprega mais de 3.600 profissionais e cujos gastos anuais, giram em torno de R$ 900 milhões.

A estrutura de comunicação federal se divide em três eixos.

O primeiro se propõe a ser uma espécie de "BBC brasileira", com um serviço público de informações envolvendo a TV Brasil, a TV Brasil Internacional, oito emissoras de rádio e a Agência Brasil, que produz notícias com acesso livre.

O segundo envolve a NBR, que integra a estrutura da EBC. O canal institucional transmite ao vivo todas as cerimônias da Presidência e tem programas de rádio reproduzidos em todo o País; a Voz do Brasil - diário, obrigatório para todas as emissoras, de segunda a sexta-feira, das 19 h às 20 h -, Café com a Presidenta, Bom Dia Ministro e Brasil em Pauta.

Esses dois eixos sob o chapéu da EBC contam com orçamento de R$ 533 milhões este ano - 21% superior ao de 2012. A estrutura dispõe de 1.926 profissionais.

O terceiro eixo é o de assessorias de imprensa. Os gastos anuais do governo federal com esse serviço - incluindo Presidência e ministérios - são de R$ 97 milhões. Cerca de 500 profissionais cuidam da imagem da administração, repassando informações oficiais a jornais, TVs, rádios e canais de internet privados. Nas empresas estatais, como Petrobrás e Correios, a estimativa - elas não divulgam números - é a de que o gasto chegue a R$ 250 milhões ao ano, com 1.200 profissionais envolvidos.

Boa parte dos serviço é terceirizada. Duas empresas privadas dominam o mercado da informação pública na Esplanada dos Ministérios: a FSB Comunicações e a Companhia de Notícias (CDN).

A FSB tem, por exemplo, 84 profissionais à disposição do Ministério da Saúde e do Ministério do Turismo. Na pasta da Saúde, são atendidos 800 pedidos da imprensa por mês e produzidos 200 textos de divulgação. A empresa produz ainda 100 peças jornalísticas - com viés pró-governo - ao mês. Elas ficam à disposição de 2 mil rádios espalhadas pelo País. Há ainda a atuação nas redes sociais, que recebem cerca de 4 mil intervenções mensais da assessoria.

Audiência. O projeto mais ousado do governo refere-se ao primeiro eixo da estrutura de comunicação estatal a criação de uma rede pública de informações.

AEBC foi criada há seis anos, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a fusão das antigas Radiobrás e TVE-Brasil - esta com sede no Rio. Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) à época, Franklin Martins dizia que a rede serviria para se contrapor à "grande mídia".

Nessa meia década, o sinal da TV Brasil, que emprega 479 funcionários, chega a 61% da população, com 7 emissoras próprias e 45 afiliadas. A audiência, porém, é baixa. Em 2012, a preferência pelo canal na Grande São Paulo variou de 0,06 a 0,11 ponto no Ibope.

O SBT, por exemplo, tem uma estrutura que conta com 3.876 funcionários, 5 emissoras e 103 afiliadas, com abrangência de 97% do País. Sua audiência média na Grande São Paulo no ano passado foi de 5 pontos no Ibope. A Globo, maior rede de TV brasileira, tem uma estrutura de 9.600 funcionários, 5 emissoras e 117 afiliadas com abrangência de 98% do País. Sua audiência média na Grande São Paulo em 2012 foi de 12 pontos. As redes privadas não divulgam seus orçamentos anuais por considerar os dados estratégicos.

Contradição. Ex-presidente da extinta Radiobrás, estatal que deu origem à EBC, o jornalista e colunista do Estado Eugênio Bucci ressalta que a função central de uma TV pública não é dar audiência, e sim desenvolver programas educativos, culturais e jornalísticos com viés diferente da grande mídia. O fato de a audiência da TV Brasil não sair do traço, porém, preocupa. "Tem muita coisa muito ruim que dá audiência. Não podemos viver a tirania da audiência, mas alguma audiência precisa existir", afirma.

Bucci também questiona o fato de a EBC ser responsável tanto por coordenar uma TV pública aos moldes da BBC britânica, como prestar serviços de interesse governamental, com a produção de programas como o Café com a Presidenta. Para ele, essas são duas vocações contraditórias. "Eu não acho que seja o formato ideal uma emissora pública prestar serviços de comunicação ao governo. O ideal é que fossem duas estruturas separadas."

Outra característica contraditória da EBC, segundo o jornalista, é o fato de a presidente da República nomear o diretor da estatal, sem que o escolhido passe, nem sequer, por uma sabatina no Congresso, como acontece com os indicados a outros órgãos. Numa emissora pública, defende Bucci, o presidente deveria ser escolhido por um conselho de representantes da sociedade - isso garantiria menor nível de interferência dos interesses do governo na programação.

Professor de Ciência Política da Universidade Federal do ABC, Sérgio Praça afirma que a EBC teria mais autonomia se não fosse vinculada à Secom. "Isso é muito esquisito. O desejável é que a Secom fizesse esse papel mais institucional e uma outra empresa, no caso a EBC, faria a TV pública." Ele também questiona o fato de o presidente da EBC ser nomeado pela Presidência.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Só pensam naquilo - Merval Pereira

A ânsia do governo de tentar cortar pela raiz a ameaça que vê na candidatura da ex-senadora Marina Silva em 2014, impedindo que seu novo partido tenha direito a tempo de propaganda eleitoral na televisão, revela uma preocupação que não corresponde à larga vantagem que a presidente Dilma Rousseff tem atualmente nas pesquisas eleitorais, e, sobretudo, denota o receio de ter que enfrentar um segundo turno na disputa pela reeleição.

O que pode explicar essa incongruência é o temor de que a situação econômica se deteriore até lá, pois, a permanecerem as condições atuais, nada indica que Dilma tenha maiores dificuldades para se eleger ainda no primeiro turno. Situação semelhante ocorreu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua reeleição em 1998. O governo chegou à eleição com a economia debilitada pela necessidade de desvalorizar o real frente ao dólar, e temia-se que, se houvesse segundo turno, o PT pudesse vencer. No primeiro mês do segundo governo do PSDB houve a desvalorização, e a partir daí foram sendo criadas as condições para a chegada do PT ao governo.

A presidente Dilma chega a ter uma popularidade mais homogênea que a de Lula nos melhores momentos, pois conseguiu colocar um pé no eleitorado de classe média que ainda a tem como a "faxineira" ética que não compactua com a corrupção. Cabe à oposição conseguir explicar ao eleitorado que a "faxineira" abandonou a vassoura há muito tempo, trazendo de volta ao governo todos aqueles que havia enxotado em defesa do bem público.

O problema da oposição é que todos os candidatos estão procurando o apoio desses mesmos personagens da vida política brasileira, que pilotam partidos com robustos tempos de televisão e escassos compromissos com a ética.

Além da questão ética do PT, que aparentemente Dilma conseguiu superar com sua atuação isolada da cúpula partidária envolvida no mensalão, o governo tem a seu favor até o momento ações concretas que mexem no bolso do cidadão: redução das tarifas de energia, corte do IPI para automóveis e aparelhos domésticos, desoneração da cesta básica, tudo anunciado pela televisão num abuso eleitoral não impedido por nenhuma ação do TSE, mesmo porque ainda não estamos, em tese, em época eleitoral.

Apesar de todas essas vantagens, o governo não quer dar chance ao azar, e a manobra governista para impedir a criação de novos partidos, que até recentemente era negada, acabou chancelada pelo secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, que se declarou favorável à fidelidade partidária, como se esse dispositivo não houvesse sido questionado diversas vezes pelo próprio PT por ser um "entulho autoritário".

A ação desabrida do governo está provocando, porém, uma aproximação dos partidos de oposição, que pode levar a uma ação conjunta mais forte do que seria provável anteriormente. A ex-senadora Marina Silva, considerada a grande atingida pela ação do governo, voltou a ter a força eleitoral presumida com base em sua eleição de 2010, o que lhe dá uma expectativa de 20 milhões de votos que já não constava das avaliações mais recentes.

O PSDB, a quem ela recusou o apoio no segundo turno, hoje é o partido que mais está empenhado em ajudá-la na luta para barrar a investida da maioria governista no Senado, para onde vai o projeto após a aprovação da Câmara. O senador Aécio Neves atua nos bastidores, seu melhor ambiente político, para garantir que a lei só valha para depois de 2014.

E até o governador Eduardo Campos, cujos correligionários do PSB diziam meses atrás que não apoiariam Marina, caso ela fosse para o segundo turno, mostra-se empenhado em vê-la na disputa, já tendo elogiado a sua atuação política. Aos três interessa que todos estejam na disputa, para aumentar a chance de haver um segundo turno, no qual cada um espera o apoio dos demais, considerando-se o único capaz de vencer a presidente Dilma.

Fonte: O Globo

Sede ao pote - Dora Kramer

Não bastasse o PT usar o governo para fazer política, a | presidente Dilma Rousseff atrelou o governo à sorte na eleição, conforme apontam os fatos e é de conhecimento geral.

A questão em aberto é a seguinte: aonde isso vai dar? José Sarney e Fernando Henrique Cardoso podem relatar experiências ruins sobre quando, emi986ei998 respectivamente, decidiram engatar a condução da economia a seus projetos eleitorais.

Sarney jogou fora a popularidade obtida durante o Plano Cruzado, chegando à eleição de 1989 sem condições sequer de tentar influir na escolha de candidato para a sucessão.

Fernando Henrique contratou uma crise cambial em 1999, começou a perder o patrimônio político conquistado no Plano Real e, não obstante tenha se mantido no caminho da estabilidade não podendo ser comparado a quem levou o País aos píncaros da inflação, não fez o sucessor. Inclusive porque nem ele nem o candidato (José Serra) em 2002 pareciam muito interessados um pelo outro.

Pois agora a avidez eleitoral chegou ao grau da obsessão. Com isso, a superioridade do campo governista vem sendo usada de maneira temerosa. O Planalto e o PT podem fazer o diabo para alcançar o objetivo de consolidar a hegemonia e dizimar a concorrência. Mas, nesse trajeto, andam cultivando desacertos e desafetos que também podem lhes infernizar a vida no caminho da reeleição.

O PMDB percebeu o tamanho do apetite e tratou de arrancar o compromisso da Vice-Presidência em 2014. O governo fica, assim, amarrado ao partido, sem margem de manobra para negociar a vaga. O PSB teve plena noção da volúpia na eleição municipal do Recife quando o PT descumpriu um acordo com Eduardo Campos em tomo de uma candidatura petista, mas conveniente para os dois lados, e quis impor outro nome no intuito de avançar sobre a seara do governador.

Desse modo abriu para Campos uma janela de oportunidade de se apresentar ao País como alternativa de poder, quando o roteiro original previa que só fizesse esse movimento depois de ajudar Dilma Rousseff a obter o segundo mandato.

Outro dado a ser levado em conta: a força com que o governo se jogou na aprovação do projeto para vedar o acesso de novos partidos ao Fundo Partidário e ao horário de rádio e TV antes de terem passado pelo crivo de uma eleição. Se não foi um gesto contra a legenda que a ex-senadora Marina Silva tenta criar para concorrer em 2014, pareceu.

E o que vale para efeito de ação e reação é a interpretação dos prejudicados. Durante a sessão na Câmara (o projeto ainda precisa ser aprovado no Senado), o deputado Alfredo Sirkis ocupou inúmeras vezes o microfone para alertar o PT sobre as conseqüências do ato visto como de forte hostilidade.

Lembrou que, em 2010, a neutralidade de Marina no segundo turno pesou em favor da candidato do PT e aviso que em 2014 pode haver engajamento desse grupo representativo da "política nova" ao adversário de Dilma que, e se, disputar com ela a etapa final. Marina Silva teria força política para desequilibrar um jogo dessa magnitude?

Talvez sim, talvez não, mas o governo pagou para ver, assim como está pagando para conferir se a aposta de Eduardo Campos é para valer. Se fosse menos ávido e obsessivo por vitórias a qualquer preço, o PT não precisava criar arestas. Bastava cumprir acordos e reconhecer o direito ao espaço alheio. Teria pela frente caminho mais suave.

Variável Alckmin. O senador Aécio Neves atua com um olho no peixe (a candidatura presidencial) e outro no gato (Geraldo Alckmin). Há quem considere que se lançou a campo com antecedência para testar a posição do governador de São Paulo.

Quer ver se Alckmin lhe dará apoio consistente ou se o fará apenas no discurso. Aécio tem antenas treinadas e experiência própria para captar movimentos ambíguos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Serra e Ciro - Eliane Cantanhêde

Não precisa muita coisa para tirar José Serra e Ciro Gomes do sério, mas, se há algo em particular que irrita os dois, é dizer que eles têm muito em comum. E não é que têm mesmo?

Vejamos agora. Serra se recusa a apoiar o tucano Aécio Neves para a Presidência e até mesmo a comparecer em eventos para divulgar a candidatura. E Ciro se recusa a apoiar o correligionário Eduardo Campos, do PSB, e leva junto seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes.

As motivações são as mesmas: no plano político, disputa de poder; no pessoal, ressentimento. Aliás, façamos justiça: até com boas razões.

Quando Serra foi candidato pelo PSDB em 2002 e em 2010, Aécio fez o teatro do apoio em público, mas acusado por 10 entre 10 tucanos de não ser para valer, com vontade.

Pior: deixou prosperar a versão de que tinha acordos por baixo dos panos com Lula e a história das chapas "Lulécio" e "Dilmasia" (Dilma para presidente e o aecista Antonio Anastasia para o governo em Minas). Por que Serra o apoiaria agora?

E Ciro estava muito bem colocado nas pesquisas presidenciais de 2010, mas seu nome foi descartado sem piedade, justamente por Eduardo Campos, em favor da petista Dilma e da aliança PSB-PT. Por que Ciro o apoiaria agora, contra Dilma?

Há duas diferenças de comportamento. Serra tem remoído a sua, digamos, vingança, intramuros e com frio silêncio público, enquanto Ciro recorre à sua ferina língua solta. Ele critica Campos num dia, Cid Gomes bate no seguinte. E, enquanto Ciro e Cid têm uma candidata (Dilma), Serra ainda sonha, aparentemente, em ser ele próprio o candidato.

A dúvida é quanto aos efeitos práticos dos movimentos de Ciro e Serra. Os Gomes podem criar dificuldades para Campos no Nordeste, essencial para o nome dele deslanchar. Já Serra não tem força para criar dissidência no PSDB, onde FHC e os próprios serristas já fecharam com Aécio. O risco é ir sozinho para Campos

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília, lógica e lírica - Tereza Cruvinel

Foi o Supremo que armou a confusão ao permitir o tráfico do tempo de TV e recursos do fundo partidário para o nascente PSD

Hoje o leitor me dará licença para falar do aniversário de Brasília antes de abordar as questões correntes na política nacional. Depois dos 50 anos, a cidade parece estar se livrando da implicância nacional. Vai se dissipando a velha confusão entre a cidade real e a Esplanada do poder, fonte do bem e do mal. O mal, sempre mais lembrado, é cometido pelos que vêm aqui representando todos os Brasis. Mas, por décadas, serviu para a satanização de Brasília. Passados 50 anos, vai se impondo a compreensão de que aqui vivem pessoas que sonham e produzem (bens, cultura e conhecimento), que a cidade plantada no cerrado é uma vitória da ousadia sobre a inércia, que sua singularidade urbana, seus monumentos e sua qualidade de vida são frutos da civilização brasileira, sonho que vem da Independência.

Em dia de licença, que a literatura também prevaleça sobre outros discursos. Escolhi a poesia e a prosa de duas mulheres que escreveram sobre a cidade, ao conhecê-la nos primeiros tempos, com força e beleza. . . A primeira é Sophia Mello Breyner Andresen (1919-2004), hoje um dos maiores nomes da moderna poesia portuguesa. Amante do Brasil, onde teve muitos amigos na literatura, como João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Jorge Amado, José Sarney e Manuel Bandeira, entre outros, ela fez com Murilo uma viagem de carro, do Rio a Brasília, em 1966. Na volta, escreveu o poema que se segue:

“Brasília, desenhada por Lúcio Costa, Niemeyer e Pitágoras
Lógica e lírica, grega e brasileira, ecumênica,
Propondo aos homens de todas as raças a essência universal das formas justas.
Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem.
Nítida como Babilônia. Esguia como um fuste de palmeira.
Sobre a lisa página do planalto, a arquitectura escreveu a sua própria paisagem
O Brasil emergiu do barroco e encontrou o seu número.
No centro do reino de Ártemis — deusa da natureza inviolada —
No extremo da caminhada dos Candangos.
No extremo da nostalgia dos Candangos,
Athena ergueu sua cidade de cimento e vidro,
Athena ergueu sua cidade, ordenada e clara como um pensamento.
E há nos arranha-céus uma finura delicada de coqueiro”.

A outra é nossa Clarice Lispector (1920-1977), que também falou de Brasília com sua prosa insólita e inquietante. Depois da primeira visita à cidade, em 1964, ela escreveu “Nos primeiros começos de Brasília”, em que diz: “Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós fomos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados primeiro, e o mundo depois, deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília”.

Hoje, o homem (e a mulher) de Brasília talvez já existe. Clarice voltou em 1974, em plena ditadura. Sentiu-se “como se um gigantesco olho verde me olhasse implacável”. Depois de confessar espantos e encantos ela conclui: “Vou agora escrever uma coisa da maior importância: Brasília é o fracasso do mais espetacular sucesso do mundo. Brasília é uma estrela espatifada. Estou abismada. É linda e é nua. É um futuro que aconteceu no passado. Eterna como uma pedra. A luz de Brasília me cega. Fora isso, Viva Brasília”. Viva.

Distorções

Sob protestos e ranger de dentes, a Câmara concluirá a votação do projeto que põe ordem nas migrações partidárias. Haverá recursos ao Supremo. Mas foi o Supremo que armou a confusão ao permitir o tráfico de tempo de TV e recursos do fundo partidário para o nascente PSD. Agora, duas inverdades foram ditas à exaustão sobre o assunto, por cálculo e desinformação. Uma, a de que o projeto limita a criação de partidos. Ora, a porteira continua aberta para quem quiser ampliar ainda mais o quadro partidário. Ainda que na hora errada, o projeto corrige o STF, evitando a burla à vontade do eleitor. Pois é o que acontece quando o deputado migrante leva consigo o tempo e os recursos do fundo partidário obtidos por seu partido original nas urnas. Uma névoa também foi lançada pela legião de políticos solidários a Marina Silva, apontando-a como alvo. Ora, Marina e os que estão criando a Rede já disseram que não pretendem pescar adesões em partidos que desprezam, tanto que estão criando outro. O partido que tem um planos, de expansão via adesões é o Mobilização Democrática, surgido da fusão PPS-PMN, que apoiará Eduardo Campos. Nasceu com 17, mas pretende chegar aos 35 deputados.

Pendências

O Congresso precisa sair logo da política dos políticos para decidir sobre duas questões de interesse geral: a regulamentação dos novos direitos dos empregados domésticos, para sanar as incertezas vigentes no mercado, e a nova lei antidrogas. Milhões de famílias esperam que ela obrigue o Estado a tratar os dependentes e boa parte delas torce pela aprovação da internação compulsória.

Fonte: Correio Braziliense

Endividada, classe B reduz participação no consumo

Prejudicada pela inflação e pelo endividamento elevado, a classe B perderá participação no consumo neste ano. Com famílias egressas da classe C, esse estrato social também terá um crescimento menor do que a média da população na aquisição de produtos. O consumo total deve crescer neste ano 9,9% em relação a 2012. Já o da classe D deve subir 6,6%

Risco de inadimplência já ronda a nova classe B

Com oferta de crédito ampliada por bancos e financeiras, famílias que ascenderam socialmente enfrentam dificuldades para pagar suas dívidas

A maior oferta de crédito, direcionada nos últimos meses por bancos e financeiras àsfa-mílias de maior renda para fugir do risco de inadimplência, pode afetar a capacidade de pagamento de classes mais abastadas, especialmente aquelas que ascenderam socialmente empurradas pelo crédito. Isso é o que mostram duas pesquisas diferentes para traçar o perfil dos endividados.

Entre setembro de 2012 e março deste ano, a proporção de famílias endividadas com renda superior a dez salários mínimos (R$ 6.780) que acreditam que não vão conseguir quitar os compromissos em dia aumentou de 1,9% para 2,2%, segundo a Fecomércio-SP. Nesse período, a fatia das famílias com renda inferior a dez mínimos nessa mesma condição caiu de 6,4% para 4,3%.

O aperto das classes mais ricas fica claro também no resultado de uma pesquisa encomendada à Serasa e ao Ibope pelo Instituto Geoc, que reúne as empresas de cobrança de dívidas atrasadas. Uma entre quatro famílias das classes AeB, que pagam suas dívidas em dia, informou que falta dinheiro no fim do mês. O resultado mais que dobra, vai a 51%, entre as famílias inadimplentes nesse estrato de renda.

“Nos últimos meses, os bancos melhoraram suas carteiras de crédito e colocaram foco nas famílias mais ricas”, diz o assessor econômico da Fecomércio-SP, Fábio Pina. Por isso, na opinião dele, o endividamento e o risco de inadimplência aumentaram nesse estrato social, agravado agora com a inflação, que corrói renda de toda a população.

O avanço do crédito, misturado com a inadimplência ainda em níveis elevados, e agora com aumento da inflação, faz essa “nova classe B” adequar as dívidas ao orçamento mais apertado. Jair Lantaller, vice-presidente do Instituto Geoc e diretor da empresa Nova Que st, diz que 21% dás dívidas renegociadas pela sua companhia no setor automotivo são do segundo carro da família. São prestações entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, que correspondem a veículos cujo preço à vista supera R$ 50 mil.

Além de renegociar a dívida, outra alternativa da classe B para não ficar inadimplente é trocar o veículo mais caro, comprado a prazo, por outro mais barato. “Cerca de 3% da nossa clientela faz essa mudança. Esse nível é considerado normal”, conta o diretor da concessionária GM Pallazzo, Wilson Goes. Ele diz, no entanto, que não sentiu aumento nesse tipo de operação.

Internet» Outro indicador que mostra que o consumo das famílias de maior renda deve recuar aparece na intenção de compras na internet, onde quase a metade ganha mais de R$ 4 mil. Em pesquisa do Provar com a empresa de informações do comércio eletrônico e-bit, 76,5% dos consumidores planejam ir às compras em lojas virtuais neste 2.0 trimestre, 7,4 pontos porcentuais abaixo do primeiro trimestre e o menor resultado da série da pesquisa iniciada em 2007. Já no varejo tradicional, que abrange clientes de retida menor, o resultado licou estável no período.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Caos logístico faz Brasil perder R$ 6,6 bi na soja

Com estradas federais esburacadas, falta de armazéns e burocracia nos portos, o Brasil sofre prejuízo de R$ 6,6 bilhões por ano nas exportações de soja, segundo especialistas. A infraestrutura precária faz com que 15% do frete da soja sejam gastos com pneus e manutenção, muito acima da média mundial de 3%, informam Henrique Gomes Batista e Danielle Nogueira. Durante três dias, repórteres do GLOBO percorreram 2.450km, de Mato Grosso a Paranaguá (PR), e constataram o caos logístico. O mesmo ocorre com a safra de milho, que terá perdas de R$ 1,4 bilhão, totalizando R$ 8 bilhões em prejuízos paira o país

Caos do campo ao porto

péssimas condições Estradas esburacadas, falta de armazéns e burocracia nos portos fazem o Brasil perder R$ 6 bi por ano na exportação de soja

Henrique Gomes Batista, Danielle Nogueira

Sinop, Lucas do Rio Verde (MT), Campo Grande (MS), Ourinhos (SP), Paranaguá (PR) e Rio O Brasil parece não gostar de exportar soja. As dificuldades de levar o grão do campo ao porto vão muito além da afamada fila de caminhões nos terminais portuários. Acidentes e mortes em estradas federais esburacadas, propina, falta de armazéns e burocracia nos portos deixam um prejuízo de R$ 6,6 bilhões por ano ao país, segundo especialistas. Para mostrar esse caos logístico, O GLOBO fez a principal rota da soja, de Lucas do Rio Verde (MT) a Paranaguá (PR), e inicia hoje a série de reportagens "Celeiro em xeque". A bordo de um caminhão com 37 toneladas do grão, os obstáculos, até os mais triviais, ganham uma proporção do tamanho da safra recorde de 82 milhões de toneladas, prevista para este ano.

Para levar um dos produtos que mais recursos traz ao país - o complexo da soja briga com o minério de ferro pela liderança nas exportações - um exército de caminhoneiros vive a duras penas, com dificuldades de atender a necessidades básicas, como dormir e tomar banho. A infraestrutura precária faz com que 15% do frete da soja sejam gastos com pneus e manutenção, muito acima da média mundial de 3%.

No fim das contas, ao vender uma saca de 60 kg de soja, o produtor recebe o equivalente a apenas 35 kg. O resto do dinheiro fica no caminho, pois o Brasil optou pela pior, mais cara e poluente via de transporte para longas distâncias: as rodovias. Pelas estradas seguem 82% da safra de soja, percentual muito acima dos EUA, onde os caminhões levam 25% da produção.

Carentes de armazéns, os produtores liberam a produção ao mesmo tempo, entupindo as estradas e ficando à mercê das cotações do dia. Já o milho terá prejuízo estimado em R$ 1,4 bilhão com o caos logístico este ano, totalizando R$ 8 bilhões em perdas quando somado à soja.

Fonte: O Globo

Capitalismo de amigos - Socorro a Eike terá gigante da Rússia, malaios e Petrobras

Petroleira Lukoil negocia compra de cerca de 40% da OGX, cujas ações acumulam desvalorização de 90% em um ano

Empresário negocia venda de parte de campo com a Petronas por US$ 1 bi e parcerias com estatal brasileira

Renata Agostini

BRASÍLIA - O socorro ao combalido grupo X, como é conhecido o império de empresas de Eike Batista que levam por superstição a letra nos seus nomes, começará pela petroleira OGX. O plano envolve um sócio russo, a venda de ativos e parcerias com a Petrobras em novos campos de petróleo.

Segundo a Folha apurou, a empresa negocia de forma avançada com a petroleira russa Lukoil, que pretende atrair como parceira, e com a malaia Petronas, para quem deseja passar parte de campo de petróleo para fazer caixa.

Os executivos de Eike já iniciaram também conversas com a Petrobras para firmar parcerias em campos da estatal, nos quais assumiria o posto de operadora.

Iniciar o resgate do grupo pela OGX é estratégico para Eike, que está sendo assessorado pelo BTG. De suas seis empresas com ações negociadas na Bolsa, foi dela o maior tombo --queda de 90% no valor dos papéis em um ano.

A crise de confiança contaminou várias operações do grupo. Ainda assim, a OGX representa quase um terço do império X, avaliado em pouco mais de R$ 14 bilhões.

O centro da estratégia está na Lukoil. A ideia é atrair a companhia, quarta maior petroleira privada do mundo, como sócia da OGX, cedendo participação de cerca de 40% no capital total da brasileira.

A fatia, segundo executivos próximos à operação, é suficiente para que os russos possam consolidar os números da OGX em seu balanço sem que Eike perca o posto de controlador de sua petroleira, considerada a "joia da coroa" do seu grupo.

A Lukoil esquadrinha os números da OGX desde o início do ano. Para isso, foi montado um "data room" --banco de dados com informações estratégicas da companhia.

A avaliação inicial foi positiva e, há cerca de um mês, os russos contrataram o escritório brasileiro Pinheiro Guimarães para iniciar a chamada "due diligence", uma averiguação detalhada dos ativos e informações da companhia antes da aquisição.

No momento, os advogados estão debruçados sobre detalhes como obrigações trabalhistas e de conteúdo local.

Leilão à vista

A expectativa é que o negócio possa ser fechado no início de maio, a tempo da 11ª rodada de licitações para áreas de exploração de petróleo, programada para os dias 14 e 15 e que oferecerá 289 blocos.

Para a OGX, a sociedade traria musculatura --e capital-- para uma oferta mais agressiva na disputa. A empresa precisa de novas áreas após campanha exploratória com resultado abaixo do "vendido" aos investidores.

Já os russos ganhariam um valioso atalho ao mercado brasileiro, ao ter acesso a uma empresa com corpo técnico já formado e considerado de boa qualidade.

Paralelamente, os executivos de Eike negociam a venda de 40% do campo de petróleo Tubarão Martelo para a Petronas, por US$ 1 bilhão.

Segundo apurou a Folha, as negociações estão em ritmo acelerado. O diretor jurídico da OGX, José Roberto Faveret, foi a Kuala Lumpur, na sede da Petronas, negociar os termos finais da operação.

A venda do campo traria alívio imediato à OGX, dispensando Eike de capitalizar a empresa --em outubro, o empresário se comprometeu a injetar US$ 1 bilhão do próprio bolso na empresa caso o plano de negócios estivesse comprometido por falta de caixa.

Em outra frente, a OGX movimenta-se para fechar parcerias com a Petrobras em campos já em operação. As conversas já foram iniciadas, segundo executivos do grupo, que falam sob reserva.

A intenção da OGX é entrar como sócia da estatal em alguns campos, assumindo o papel de operadora.

Procurada, a petroleira de Eike se limitou a dizer, por meio de nota, que "as informações não procedem".

Colaborou Marianna Aragão, de São Paulo

Fonte: Folha de S. Paulo

Tutores de Maduro - Míriam Leitão

A pequena diferença de votos, os mortos nos protestos, as reações autoritárias deixarão cicatrizes no governo de Nicolás Maduro, na Venezuela. A recontagem dos votos é um alívio, mas não deve mudar o resultado. A trinca no chavismo foi vista na declaração do presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, de que é preciso fazer autocrítica diante da vitória por margem mínima.

O maior risco que o governo de Maduro corre, caso não consolide sua liderança política na Venezuela, vem dos militares, e não da oposição. Os militares governam mais de 20 estados. Numa forma de se garantir, Chávez colocou companheiros de farda como candidatos aos governos estaduais. Estão nas mãos de civis os poucos estados governados pela oposição.

Outra fatia do poder está nas mãos dos cubanos, que têm predominância sobre os setores de segurança e inteligência e controlam toda a área de saúde.

- A situação na Venezuela tem todas essas complexidades. Chávez entregou às Forças Armadas, especialmente ao Exército, grandes fatias do poder. Por outro lado, os militares venezuelanos não veem com bons olhos o controle de oficiais cubanos na área de segurança e inteligência. Além disso, quase 50 mil médicos dominam a área da saúde. Maduro também terá que consolidar o próprio chavismo, que tem várias facções - disse o embaixador Rubens Ricupero.

Maduro nunca será Chávez, por mais que tente encarnar o fantasma do líder, mas a oposição também não é mais aquela. Os métodos administrativos de Hugo Chávez eram discutíveis, mas ele alimentou demandas de participação dos mais pobres na vida do país, da qual eles não vão mais abrir mão. Por isso, a oposição liderada por Henrique Capriles não pode ser o rosto jovem da velha oligarquia bipartidária - Copei e AD - que governou a Venezuela antes de Chávez.

Também não pode ser a mesma oposição que tentou o golpe em 2002. Neste ponto, o curioso é que o governo acusa a oposição de golpista - e houve de fato o triste episódio de 2002 - mas a tentativa de golpe militar que Hugo Chávez liderou, em 1992, é tratado como um ato heroico e uma data cívica nacional. Não se fala que ele foi anistiado depois.

A novidade da eleição permanece intrigando os analistas. Maduro despencou 10 pontos em poucas semanas, desde as primeiras pesquisas de intenção de votos. O chavismo perdeu apoio. A aceitação da recontagem pelo Conselho Nacional Eleitoral dará mais legitimidade ao eleito. Por um tempo, o CNE não disfarçou sua parcialidade. A composição do órgão que comanda as eleições foi alterada nos últimos anos para ser favorável ao chavismo.

As reações autoritárias de maduro de impedir manifestações, censurar as televisões e ameaçar não repassar recursos da federação para Miranda, o estado governador por Henrique Capriles, só aprofundam a divisão da sociedade venezuelana.

Hugo Chávez governou pela divisão da sociedade. Ele extraia poder e seguidores demonizando uma parte dela. Esse é seu pior legado. O conflito do país não é fácil de sanar, principalmente por um líder sem carisma como Nicolás Maduro.

A crise econômica com inflação, desabastecimento, déficit público, dívida alta e baixo crescimento pode tornar mais difícil ainda a governabilidade do país. O excesso de militarização da política e da administração é outro complicador. A presença excessiva dos cubanos, outro. Não há bom tempo à frente.

O melhor seria se Maduro tentasse trabalhar pela conciliação da sociedade venezuelana, o que significa fazer o oposto da radicalização que está propondo neste primeiro momento.

Se a oposição quiser se preparar para governar a Venezuela - seja no meio do mandato, no caso de referendo revocatório -, ou se ganhar a próxima eleição daqui a seis anos, tem que começar a trabalhar para vencer os focos de resistência. O referendo é previsto na Constituição para o meio do mandato.

Mas, nos próximos meses e anos, o grande fiador de qualquer solução serão as Forças Armadas.

- Na hipótese de o governo Maduro não controlar as reações contrárias, ou não reverter a crise econômica, as Forças Armadas é que entrarão em ação. Ao contrário de outros países, em que os militares governaram e saíram desmoralizados, na Venezuela, o último governo militar acabou em 1957 - lembrou Ricupero.

Fonte: O Globo