sexta-feira, 31 de maio de 2013

OPINIÃO DO DIA – Rubens Bueno: a nota do governo

"Este novo Pibinho' de 0,6% representa exatamente a nota que o governo medíocre da presidente Dilma Rousseff merece receber."

Rubens Bueno, deputado federal e líder do PPS na Câmara, sobre o resultado do PIB, divulgado ontem, que aponta crescimento de 0,6% no primeiro trimestre, in Painel / Folha de S. Paulo, 30/5/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
Meta eleitoral - Resultado econômico fica para 2014
Crise com PMDB ameaça Dilma em seis estados
Liminar suspende jogo no Maracanã
Ciência: Floresta menor com menos aves

FOLHA DE S. PAULO
BC diz que manterá aperto até confiança se consolidar
Índio morre após entrar em confronto com polícia em MS
Manobra abre caminho para a criação de mais tribunais
SP proíbe som alto nos carros para acabar com 'pancadão'
PÉ SALVADOR

O ESTADO DE S. PAULO
Salário de 3,3 mil servidores está acima do teto, diz TCU
Trem-bala terá a maior taxa de retorno
Justiça veta Maracanã
Banco Panamericano

VALOR ECONÔMICO
Baixo crescimento força investimento 'defensivo'
Câmbio leva a descompasso da economia
Seguradoras miram novos estádios de futebol

BRASIL ECONÔMICO
O que será o amanhã?
Disputa política em Minas
Argentina aprova anistia fiscal

ESTADO DE MINAS
Minas conquista a China
Ficha Limpa: Juristas saem em defesa da lei que barra políticos
Competitividade: Brasil cai da 46ª para a 51ª posição no ranking

O TEMPO (MG)
Inflação afeta PIB brasileiro
Brasil é o segundo do mundo em dificuldade de contratação
Dilma se reúne com o vice-presidente norte-americano nesta sexta-feira
Galo empata com Tijuana em jogo dramático e vai à semifinal da Libertadores

CORREIO BRAZILIENSE
Um índio morto e 13 feridos em ação da PF
Caso suspeito de H1N1 no DF
Hotéis ficam mais caros com a Copa
Para não sujar a Ficha Limpa
País vive risco de estagflação

GAZETA DO POVO (PR)
Metade dos brasileiros não poupa para a aposentadoria
Universidades federais crescem no interior do PR
Assad descarta renúncia e cogita ataque a Israel
O passado e o presente lado a lado
Sobre o asfalto, as cores do Corpus Christi
Debate sobre criação de cotas raciais no serviço público ganha corpo

ZERO HORA (RS)
Tarso celebra fim de pedágios e concessionárias contestam
Santa Maria, 27/01/2013: Libertação de réus reabre feridas da Kiss
No Jacuí: Extração de areia segue proibida

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Índio morre em choque com a polícia
Redução da conta de luz por decreto
A toda-poderosa Graça Foster

Meta eleitoral - Resultado econômico fica para 2014

Objetivo é conter a inflação e turbinar o PIB no próximo ano

Com o resultado fraco da economia em 2013, Planalto quer acelerar investimentos e tirar do papel concessões, como de aeroportos e rodovias

Um dia após a divulgação do Pibinho de 0,6% no primeiro trimestre, o Palácio do Planalto, de olho nas eleições presidenciais, quer que a equipe econômica trabalhe agora com foco em 2014. O objetivo é que a presidente Dilma mostre no próximo ano um cenário cada vez mais difícil de ocorrer em 2013: crescimento alto e inflação baixa.

Segundo técnicos do governo, a inflação precisa desacelerar, recuando do teto da meta, de 6,5%. Por isso, o BC subiu juros em 0,5 ponto, para 8%. O Planalto quer tirar do papel programas de concessão, como de rodovias, ferrovias e aeroportos, além do leilão do pré-sal, e acelerar investimentos para turbinar o PIB em 2014

Governo agora mira 2014

Planalto quer atacar inflação e atrair investimentos para turbinar PIB em ano de eleição

Martha Beck, Danilo Fariello e Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA e RIO - De olho nas eleições presidenciais, o Palácio do Planalto quer que a equipe econômica trabalhe agora com foco em 2014. No dia seguinte à divulgação do Pibinho de 0,6% no primeiro trimestre e à alta dos juros anunciada pelo Banco Central para segurar a inflação, a ideia é que a presidente Dilma Rousseff consiga mostrar no próximo ano um cenário com cada vez menos chances de se concretizar neste: crescimento elevado e inflação baixa. Isso embora as últimas previsões da Fazenda tenham sido sempre mais otimistas que a realidade, o que amplia a desconfiança com a economia.

Segundo técnicos do governo, os índices de preços precisam não apenas desacelerar, mas deixar de ficar tão perto do teto da meta anual, que é de 6,5%. Isso porque, quando a inflação se acomoda num patamar elevado, o governo tem pouca margem para administrar eventuais choques externos. Foi por isso que o BC optou pelo remédio mais amargo e elevou a taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano.

Ontem, em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que a alta dos juros vai trazer a inflação para um patamar mais baixo neste ano e em 2014.

"Este remédio, os juros mais altos, vai trazer a inflação para baixo e reforça a confiança nos pilares da economia brasileira, nos fundamentos da economia brasileira. A confiança faz bem para o PIB. Então, estamos trabalhando e ajudando a consolidar esse processo de recuperação gradual da economia brasileira", afirmou Tombini .

O próprio BC admitiu em seu primeiro relatório de inflação de 2013 que o IPCA, índice oficial do país, ficará acima do centro da meta (4,5%) durante todo o mandato de Dima. A autoridade monetária afirmou que o índice deve fechar 2013 em 5,7% e 2014, em 5,3%. Mas a resistência da inflação vem preocupando cada vez mais, apesar da perspectiva positiva com a entrada da safra no mercado, o que desacelera os preços de alimentos.

Aposta agora é nas concessões

Já o crescimento de 2013 está praticamente dado e não deve superar 3%, especialmente após o fraco resultado do primeiro trimestre. Por isso, a ordem do Planalto é trabalhar para tirar logo do papel os programas de concessão e, com isso, acelerar investimentos que aparecerão no PIB a partir de 2014. A nova estratégia já apareceu na fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse que os investimentos devem ser o carro-chefe da economia.

Há confiança do Executivo de que, assim que os programas de concessões tiverem suas primeiras outorgas pagas e seus investimentos iniciados, a economia vai reagir. Além de rodovias e ferrovias, nos últimos dias, o governo prometeu leiloar em outubro a gigantesca área de Libra, no pré-sal, e elevou a exigência de outorgas para os aeroportos de Confins e Galeão, em comparação com os anteriores. Se o investimento, de fato, demorar a surgir, pelo menos as outorgas serviriam para aquecer a economia.

Outras medidas na mesma linha são o lançamento de um Plano Safra com volume recorde na próxima semana, com juro abaixo da inflação, e o envio do novo Código de Mineração ao Congresso nas próximas semanas, que também atrairá investimentos em outorgas com leilões de áreas. Há ainda a criação do Programa de Investimentos em Logística (PIL) para hidrovias até o fim do ano.

A equipe econômica também vai manter a agenda de desonerações, embora saiba que essas medidas têm poder limitado para reanimar o PIB. Nessa linha, será publicada hoje no Diário Oficial uma medida provisória (MP) retirando o PIS/Cofins que incide sobre tarifas de transporte coletivo urbano. A previsão é que a medida custe R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos este ano e deve ajudar a segurar os preços.

Previsões furadas

Técnicos do governo admitem que a estratégia de buscar crescimento via investimentos, na verdade, mostra uma preocupação em não pressionar os preços com novos estímulos ao consumo. Mesmo assim, a Fazenda já estuda prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis e artigos da linha branca, que também termina no fim de maio.

Os técnicos admitem que as desonerações para o consumo, que tanto ajudaram em 2008, já não servem mais hoje. Os brasileiros estão mais endividados e o crédito e os salários crescem menos. Por isso, o gasto das famílias avançou só 0,1% no primeiro trimestre de 2013.

O desempenho do primeiro trimestre desanimou o governo e pegou de surpresa a equipe econômica, novamente, e até grandes bancos e analistas. A frustração das metas do governo, porém, tem sido a regra no governo Dilma. Mantega e equipe projetam taxas de crescimento e investimentos muito maiores que a realidade e inflação menor que o IPCA. Especialistas alertam que o excesso de otimismo oficial atrapalha de fato os investimentos e torna a confiança do empresário mais arredia e insegura.

As previsões de Mantega a cada início de ano são muito discrepantes do que é registrado depois. Em janeiro de 2011, no início do governo, o ministro foi à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e apresentou suas projeções: PIB com alta de 5% no ano , 5,5% em 2012 e 6,5% em 2013 e 2014, com média do governo de expansão anual de 5,9%. O IBGE daquele ano registrou avanço de 2,7% da economia. Em março de 2012, Mantega indicava que o PIB subiria 4,5% no ano, 5,5% em 2013 e 6% em 2014. O resultado foi 0,9%. Para este ano, ele fala em alta de 3,5%, enquanto muitos analistas esperam PIB mais próximo de 2%. E a média oficial dos dois primeiros anos de Dilma está em 1,8%.

O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo afirmou que a equipe econômica contribui, com suas previsões, mais para descrédito do que para a criação de expectativas, o que atrapalha. Para ele, o governo deveria desvalorizar o real e reforçar a política fiscal para crescer a longo prazo, mas isso geraria inflação e desemprego a curto prazo.

- Para melhorar a situação, o governo deveria trocar a equipe econômica, por gente com mais credibilidade e voltar as medidas para ortodoxia, como aumentar o superávit primário. Mas não espero isso, até porque a popularidade da presidente está alta - disse Fábio Kanzuc, professor de economia da USP.

Fonte: O Globo

O que será o amanhã?

Os primeiros indicadores da atividade industrial do segundo trimestre contrariam a avaliação do ministro Guido Mantega de que há sinais de recuperação da economia, após o crescimento de apenas 0,6% do PIB entre janeiro e março. Consumo de energia e dados de atividade da construção civil e da indústria paulista confirmam estagnação também em abril

Indústria da incerteza

Primeiros indicadores de atividade do segundo trimestre sinalizam que o PIB industrial, que teve queda de 0,3% nos primeiros três meses de 2013, continuará em ritmo lento

Nicola Pamplona, Cassiano Viana

Embora o governo afirme que há sinais de recuperação econômica já no segundo trimestre, os primeiros indicadores de atividade industrial em abril reforçam as projeções de que o Produto Interno Bruto (PIB) do período repetirá o fraco desempenho dos três primeiros meses do ano, quando cresceu apenas 0,6%. Consumo de energia e dados de atividade da construção civil e da indústria paulista confirmam estagnação também em abril. Com peso de 29,7% na composição do PIB, a indústria teve queda de 0,3%no primeiro trimestre do ano. “Nossa previsão é que o próximo trimestre fique abaixo de 0,6%”, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, que, como a maioria dos analistas, reviu sua projeção para o ano. “O que temos de fatores positivos no primeiro trimestre não é sustentável”, completa.

“O desempenho da agropecuária (que obteve o melhor resultado no PIB) é pontual, fica no primeiro trimestre,pois foi impulsionado pela safra da soja, cuja colheita é realizada no início do ano”, concorda a a economista Mônica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/ CdG). Logo após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que alguns indicadores, como a venda de papelão ondulado, o transporte de carga e as consultas por crédito para investimento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão subindo, sinais de que a economia deverá se recuperar. Do lado da indústria, porém, as primeiras notícias a respeito da atividade neste trimestre indicam que não há muitos motivos para comemorar.

O consumo industrial de energia, por exemplo, ficou estagnado em abril, informou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Com relação ao mês anterior, houve alta de 2,6%, mas a própria EPE ressalta que é prematuro falar em recuperação, devido às incertezas com relação à conjuntura econômica. “Parece ainda cedo para confirmar a estabilização de um quadro que vem se caracterizando pela inconstância”, avaliam os economistas da entidade na “Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica”.

A indústria eletrointensiva, principalmente dos segmentos de ferro-ligas e alumínio, tem mostrado retração. A construção civil e a indústria da transformação, setores que tiveram peso negativo na economia no primeiro trimestre, também continuam em ritmo lento, conforme apontam indicadores da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Segundo a CNI, a Utilização da Capacidade de Operação da Construção Civil caiu de 70% em março para 66% em abril - o pior patamar desde o início da série, em janeiro de 2012.

Já o Índice do Nível de Atividade (INA) da Fiesp, registrou crescimento de apenas 0,2% no primeiro mês do segundo trimestre, seu pior desempenho do ano. “Eu diria que o ânimo como qual entramos em 2013, prevendo taxa de crescimento de 3%, diminuiu”, afirma o diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp,Paulo Francini, na divulgação dos dados do INA, na quarta-feira. A indústria da transformação, com grande presença em São Paulo, teve queda de 0,7% nos primeiros três meses de 2012.

Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também não vê sinais de melhora para o segundo trimestre. “Pelo contrário, o resultado do primeiro trimestre já contamina os outros trimestres, piorando muito a previsão de fechamento do ano”, observa o ex-coordenador- geral de Política Monetária e Financeira na Secretaria de Política Econômica no Ministério da Fazenda.

“As condições que limitam o crescimento do PIB parecem ser muito mais sérias do que pensávamos”, conclui o economista. “Não há muito o que o governo possa fazer no curto prazo.O principal é não descuidar da inflação”, avalia. Na quarta-feira, após a divulgação do PIB, o Conselho de Política Monetária (Copom) confirmou sua preocupação como controle da inflação ao elevar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), que ficou em 8%ao ano.

Fonte: Brasil Econômico

Para analistas, PIB fraco reflete modelo frágil

Flavia Lima e Tainara Machado

SÃO PAULO - O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, além da decepção causada pelo pífio resultado, estampou a fragilidade do modelo econômico adotado pelo governo da presidente Dilma Rousseff. No detalhe, o PIB cresceu 0,55% em relação ao quarto trimestre de 2012, um pouco abaixo da alta de 0,64% alcançada no quarto trimestre do ano passado. Para economistas consultados pelo Valor, contudo, o governo não vai alterar a política econômica pelo menos até o fim de 2014.

Para diferentes analistas, os principais indicadores de esgotamento do modelo adotado pelo governo foram a alta de apenas 0,1% no consumo das famílias, o percentual recorde de crescimento que "vazou" para o exterior (1,7 ponto percentual) e mais uma queda no PIB industrial, sempre na comparação com o quarto trimestre de 2012, com ajuste sazonal. Por outro lado, eles avaliam que ainda é cedo para interpretar o aumento do investimento como uma mudança permanente.

Os economistas reconhecem que o governo já saiu de um modelo apenas focado no consumo e passou a mirar também a oferta e o investimento, mas sugerem que é preciso acelerar o ritmo e ir além da gestão microeconômica para "girar a chave". Para dois economistas de tendências opostas - Luiz Gonzaga Belluzzo e José Márcio Camargo - um crescimento mais consistente passa por combinar aumento de juros e desvalorização do real.

O primeiro sugere um caminho paulatino de mudança; o segundo, algo mais ágil. Mas nada mudaria no curto prazo, ainda que o aumento de 5% na taxa de câmbio ao longo do mês de maio até quarta-feira - o que ocorreu sem intervenções do Banco Central -, já possa ser um sinal de novos tempos no governo.

Na avaliação de Belluzzo, professor da Unicamp e da Facamp, a receita de combinar depreciação cuidadosa do câmbio e elevação gradual dos juros é necessária, porém difícil. "Vamos ter que fazer as duas coisas ao mesmo tempo e esse é o problema. O que não dá é pensar que o mercado naturalmente se ajusta, pois isso significaria que não aprendemos nada com a crise", afirma, ressaltando que não vê solução de curto prazo para o quadro de baixo crescimento.

Interlocutor frequente do governo, Belluzzo diz que a armadilha de baixo crescimento é resultado de vinte anos de câmbio valorizado. "Demos sorte nos anos 2000 com o cenário externo favorável às exportações, mas esse efeito já está muito atenuado e a capacidade de multiplicar renda e emprego a partir daí caiu", afirma.

O economista avalia que os efeitos deletérios do câmbio apreciado podem ser sentidos de forma espalhada sobre os componentes do PIB, afetando desde a competitividade da indústria até os investimentos. "Como é que você vai atrair o investimento privado? O cara olha essa taxa de câmbio e compara com os nossos competidores e vai investir onde? É uma quebra de confiança", diz.

Camargo, economista da Opus Investimentos e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) diz que os incentivos à demanda concedidos pelo governo elevam ainda mais as pressões de custos em uma economia que já se vê diante de uma série de gargalos, o principal deles a baixa qualidade da infraestrutura. Ao mesmo tempo, o país convive com crescimento reduzido desde o fim de 2011, o que em sua avaliação pode ser atribuído à baixa expansão da oferta, especialmente da indústria, no período. Assim, é preciso elevar juros para conter a inflação e, ao mesmo tempo, criar incentivos para reanimar o setor manufatureiro.

Para Camargo, contudo, a alternativa possível neste momento - desvalorização cambial acompanhada de aumento de juros -, não parece estar na mesa do governo. O resultado, diz ele, pode ser a necessidade de um ajuste das condições macroeconômicas em 2015.

Camargo lembra que apenas a desvalorização nominal do câmbio tende a produzir mais inflação - a real, obtida com ganhos de competitividade e redução de custos, não. Se acompanhada de aumento de juros, contudo, a inflação tenderia a desacelerar. O economista lembra que o resultado seria aumento da taxa de desemprego, o que apesar de pouco popular, em sua avaliação é necessário para adequar os ganhos de salários ao aumento de produtividade. "Seria um ajuste com base em redução do salário real, mas faz parte dos limites que a economia impõe", afirma. Para Camargo, quanto mais tempo os desequilíbrios na economia brasileira persistirem, mais duro será o ajuste.

O real valorizado não foi a única causa, mas ajuda a explicar a forte queda das exportações, de 6,4% no primeiro trimestre deste ano, e a alta de 6,3% das importações no período. Os dois movimentos combinados resultaram em uma contribuição bastante negativa do setor externo para o PIB no período, afirma o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal. Pelos seus cálculos, 1,7 ponto porcentual do aumento da demanda "vazou" para o setor externo, o que significa dizer que sem essa influência negativa, a economia teria crescido 2,3% no primeiro trimestre do ano, em vez de alta de 0,55% em relação ao quarto trimestre, feitos os ajustes sazonais.

Para Leal, o desempenho do setor externo não é uma tendência e pode ter sido influenciado por questões pontuais, como a alta das importações de petróleo por causa do atraso do registro de desembarques de óleo e derivados. Já o crescimento da demanda das famílias, que deixou alta de 1% no quarto trimestre do ano passado para subir apenas 0,1% no primeiro trimestre de 2013, pode ser algo mais duradouro. "Aqueles níveis de crescimento trimestral superiores a 0,5% não devem mais ocorrer, é provável que a demanda passe a avançar a um ritmo mais próximo de 0,3% daqui para frente".

Ainda assim, com crescimento de no máximo 2,5% esperado para este ano, Leal acredita que o governo deveria se concentrar menos no resultado de 2013 e mais nas reformas microeconômicas que geram aumento de produtividade. Nesse campo, diz, o governo está no caminho certo, ao melhorar os termos para os leilões de infraestrutura e unir esforços para a aprovação da MP dos Portos, que moderniza o setor, por exemplo. Para ajudar, diz, ele deveria reduzir os gastos públicos em despesas correntes, o que ajudaria a conter a demanda que acelera inflação.

Guilherme Loureiro, economista e estrategista para o Brasil do Barclays, concorda que a surpresa negativa do lado do consumo das famílias pode se transformar em fonte permanente de preocupação. Segundo o economista, entre os dados que reforçam o quadro de que o consumo pode se manter enfraquecido nos próximos trimestres, impondo dúvidas com relação à sustentabilidade do processo de aceleração do próprio investimento, destacam-se os primeiros sinais de que o mercado de trabalho está perdendo o fôlego, a desaceleração do crédito privado e os indicadores menos robustos de confiança tanto do consumidor quando dos empresários.

(Colaborou Juliana Elias, de São Paulo)

Fonte: Valor Econômico

Crise com PMDB ameaça Dilma em seis estados

O abalo na aliança entre PT e PMDB pode ameaçar em 2014 a tranquilidade eleitoral que a presidente Dilma teve nas eleições passadas. A crise entre os dois partidos está mais acirrada em seis estados que deram a maior votação à presidente quando disputou com o tucano José Serra: Bahia, Ceará, Minas, Rio, Maranhão e Pernambuco.

Crise PT-PMDB nos estados ameaça Dilma

Falta de acordo já atinge alianças e pode se refletir no desempenho eleitoral da presidente

Paulo Celso Pereira

Acordo distante. Presidente mantém popularidade; mas crise PT-PMDB pode se refletir na votação de Dilma

Eleições antecipadas

BRASÍLIA - Em 2010, a presidente Dilma Rousseff foi eleita no segundo turno com 55,8 milhões de votos, 12 milhões a mais que o tucano José Serra. O mapa da eleição revelou que a presidente assegurou sua vitória a partir da ampla vantagem numérica que obteve em todos os estados do Nordeste, no Amazonas, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A um ano e meio da eleição de 2014, a presidente tem cerca de 60% de intenções de voto e continua sendo mais forte no Nordeste, mas crises estaduais na aliança com o PMDB ameaçam a tranquilidade nos estados que garantiram a maior "gordura eleitoral" para Dilma em 2010: Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Minas e Rio.

Os dois estados que mais contribuíram para a vitória de Dilma foram Bahia e Pernambuco. No primeiro, ela obteve 2,79 milhões de votos a mais que Serra, e no segundo, 2,34 milhões. Ironicamente, os dois são os únicos em que a própria direção nacional do PMDB já considera perdidas as chances de aliança. Pré-candidato ao governo, o peemedebista Geddel Vieira Lima trabalha junto com PSDB e DEM para definir os rumos da oposição ao PT no estado. Em Pernambuco, por sua vez, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que sempre esteve contra Dilma, uniu-se no ano passado ao governador Eduardo Campos (PSB) no projeto presidencial do socialista.

As crises mais recentes na relação PT-PMDB são nos dois outros estados nordestinos que deram maior vantagem à presidente: Ceará e Maranhão. As seguidas declarações de apoio do governador Cid Gomes (PSB) à presidente Dilma Rousseff e a aproximação dele com o líder do PT, José Guimarães (PT-CE), levou o senador Eunício Oliveira (PMDB) a abrir conversas com integrantes da oposição cearense, e chegou a sinalizar recentemente a possibilidade de unir-se ao tucano Tasso Jereissati.

Eunício pretende disputar o governo do estado, mas teme a recente aproximação do PSB com o PT no estado. Isso porque Cid pretende eleger um sucessor de seu partido e Guimarães quer chegar ao Senado, o entendimento dos dois deixaria Eunício sozinho. Em 2010, com PSB, PT e PMDB unidos no estado, Dilma saiu do Ceará com vantagem de 2,33 milhões de votos sobre José Serra. Para completar, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, deu o tom da crise que atinge a região no jantar dos governadores do PMDB com o vice Michel Temer, no Palácio do Jaburu, semana passada. Apesar das dificuldades iniciais para a aliança em 2010, PT e PMDB acabaram marchando juntos no Maranhão e hoje petistas ocupam secretarias no governo. Mas dirigentes do PT usaram a propaganda partidária deste semestre para criticar Roseana e as imagens só saíram do ar após uma intervenção da direção nacional petista.

- A diferença de votos que o Serra teve em São Paulo a gente praticamente zerou no Maranhão. Mas um parte deles (dos petistas) todo dia está batendo, criticando. Do mesmo jeito que o PMDB do Rio tem o direito de fazer seu sucessor, eu tenho - disse a governadora, que ajudou a garantir para Dilma uma vantagem de 1,69 milhão de votos.

Se é verdade que a crise entre os partidos atinge estados que deram ampla margem a Dilma, é igualmente verdade que dos quatro apenas no Maranhão o PMDB contava em 2010 com o candidato a governador, que naturalmente transforma-se no principal cabo eleitoral do candidato a presidente. Na Bahia, em Pernambuco e no Ceará esse papel foi exercido respectivamente pelos governadores Jaques Wagner (PT), Eduardo Campos (PSB) e Cid Gomes (PSB) - todos na época disputando reeleição e ao fim vitoriosos.

O risco da crise no Nordeste - além dos problemas com o PMDB, o PSB pode lançar Eduardo Campos à Presidência - é que Dilma chegue ao fim da eleição com vantagem menor do que a de três anos. A densidade eleitoral do PT no Nordeste, especialmente após o governo Lula, é reconhecida até mesmo pela oposição. O PSDB tem desde 2002 a meta de conquistar 40% dos votos na região e nunca conseguiu. Para os tucanos, é fundamental é reduzir a margem de votos de Dilma na região para tentar chegar à vitória com uma compensação no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

- É muito provável que ela vença no Nordeste, como é provável que vençamos no Sul. Mas não se repetirá o que ocorreu em 2010. O semiárido Nordestino está muito sofrido, a classe média rural que passou a votar no PT não votará mais. Sempre foi muito difícil fazer oposição ao Lula, mas isso não acontece com a Dilma - diz o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que deve cuidar da campanha tucana.

O PSDB aposta em conseguir mudar o panorama favorável à presidente nos dois outros estados que deram vantagens de mais de um milhão de votos para Dilma: Rio e Minas. Do Rio, ela saiu com 1,71 milhão à frente de Serra, e de Minas, com 1,80 milhão. No primeiro, o governador Sérgio Cabral avisou que não apoiará a presidente caso o PT efetivamente lance o senador Lindbergh Farias como candidato contra o vice Luiz Fernando Pezão.

Em Minas, os petistas apostam que Dilma terá dificuldade natural caso enfrente o ex-governador Aécio Neves (PSDB), que soma altos índices de popularidade no estado. Para completar, o PMDB-MG não tem comando único e há uma ala crítica à Presidência, comandada pelo deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG). Ele abriu mão da candidatura a prefeito de Belo Horizonte em 2010, em favor de Patrus Ananias (PT), e se diz traído por Dilma ao não ser nomeado a ministro da Agricultura. O cargo foi para Antônio Andrade, seu correligionário.

Crise nos estado ameaça aliança nacional

A crise entre PT e PMDB nesses estados pode vir a ameaçar a própria aliança nacional. O tema ainda é muito incipiente, a começar pelo fato de a presidente manter altos níveis de aprovação, mas até mesmo aliados do vice Michel Temer reconhecem que os problemas precisam ser contornados.

Rio, Ceará e Minas Gerais reúnem o maior número de convencionais que sacramentarão - ou não - a aliança nacional com o PT em 2014. Outros estados problemáticos, como Paraná, Pará e Bahia tem peso relevante na convenção. O vice-presidente costura pacientemente o apoio à aliança nos estados. Semanas atrás conseguiu que os prefeitos e parlamentares do PMDB se reunissem com Dilma e manifestassem seu apoio à reeleição. O vice também avançou em negociações no Paraná, em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul.

Temer, no entanto, tornou-se alvo de boa parte dos parlamentares do partido que reclamam de sua atuação junto a Dilma. No Congresso é comentado que Temer deixou de ser um representante do PMDB no governo para converter-se em um representante do governo no PMDB. A aproximação reduziu sua popularidade dentro do partido.

Fonte: O Globo

País vive risco de estagflação

Baixo crescimento do PIB e inflação elevada ameaçam levar a economia à situação já vivida no fim da década de 1980

Pressão cada vez maior

Risco de estagflação - fenômeno temido, caracterizado pela combinação de inflação alta e paralisia da atividade - torna mais difíceis os desafios da política econômica

Diego Amorim, Rosana Hessel e Sílvio Ribas

RIO DE JANEIRO e BRASÍLIA — A frustração com o desempenho pífio do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre (0,6%), em boa parte afetado pela perda de poder de compra do consumidor para a inflação, tornou 2013 um desafio ainda mais complexo para a presidente Dilma Rousseff, às vésperas de um ano eleitoral. O medo da volta da estagflação — o pior dos pesadelos econômicos, formado pela combinação de inflação persistente com baixo crescimento do PIB — ficou sugerido na avaliação de especialistas e na própria decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros (Selic) de 7,5% para 8% ao ano para puxar os índices de preços para abaixo da meta oficial de 6,5%.

Os fatos acabaram ajudando a autoridade monetária a dar uma resposta parcial ao dilema entre impedir um esfriamento maior da atividade e atiçar ainda mais o dragão inflacionário. “O bolso do brasileiro já está sentindo perdas acima dos índices oficiais de inflação, agravadas com sustos nos supermercados e o encarecimento dos serviços”, observou Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP). A carestia, acrescenta ele, se tornou o obstáculo politicamente mais complexo para Dilma, por mexer com a vida da maioria da população. “O grande inimigo da presidente é o descontrole inflacionário, porque ele é traiçoeiro”, resumiu.

Desorganização

Guardadas as devidas proporções entre os números astronômicos da hiperinflação dos anos 1980, a década perdida, e os índices mais civilizados desde a estabilização pelo Plano Real (1994), a possibilidade de uma convivência de PIB estagnado com uma alta generalizada de preços remete ao momento de maior desorganização da história econômica do país, no período final do governo José Sarney (1985-1990). Somente em março de 1990, último mês da gestão do derradeiro presidente da República eleito indiretamente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, bateu em 82%. No ano anterior, o indicador havia acumulado alta de 1.972,91%.

Naquela época, os brasileiros viveram o raro fenômeno da estagflação, mais perversa que inflação alta simplesmente, porque o capital produtivo preferia se refugiar na especulação financeira a ampliar a oferta de mercadorias. Eram dias em que consumidores corriam aos supermercados de manhã para evitar reajustes gerais de produtos à tarde. Desde a última década do século passado, a última vez em que o Brasil assistiu a uma inflação anual de dois dígitos foi em 2002 (12,5%), puxada pelas tensões em torno da eleição de Lula.

Desde ontem, quando foi anunciado o PIB do primeiro trimestre, consultorias nacionais e estrangeiras vêm tratando de reavaliar para baixo suas previsões para o país, com crescimento anual bem menor do que 3% (última projeção do Fundo Monetário Internacional) e inflação acima de 6%. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, teme que as respostas do Planalto ao drama de baixa expansão do PIB e IPCA estourando a meta continuem no rumo do intervencionismo. “O excesso de controles, verificado nos dois primeiros anos do governo Dilma, afastou investimentos e gerou incertezas para o futuro. Se essa tendência se prolongar, poderemos atingir uma rigidez na economia difícil de mudar, como as angústias encontradas nos anos 1980”, alertou.

Saídas

As dificuldades enfrentadas pelo país não se restringem ao cenário doméstico. Para as exportações brasileiras, o receio está no fim do ciclo de alta nos preços dos produtos básicos, sobretudo os carros-chefes, minérios e soja. “O ritmo acelerado das vendas para a China está diminuindo, e o Brasil não poderá fazer nada contra isso. É só assistir e rezar”, sublinhou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O economista Júlio Miragaya, presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal, também acredita que o PIB de 2013 “só chegará perto de 3% se a balança comercial apresentar números robustos e a retomada dos investimentos se consolidar”.

Newton Marques, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), observou que todos os incentivos do governo ao consumo foram insuficientes para impedir a decepção com o crescimento do país no primeiro trimestre. O “esvaziamento” da capacidade de consumo das famílias apontado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pode ter feito de 2013 um “ano perdido”, ameaçando colocar em risco a reeleição de Dilma.

Os sinais mais preocupantes para a atividade econômica estão vindo, contudo, da indústria. José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), teme que a crescente perda de competitividade do setor esteja colocando em xeque as iniciativas do governo para estimular a produção. No lugar das atuais políticas de incentivo — como desoneração da folha de pagamento —, o economista aposta na desvalorização do câmbio e em investimentos agressivos na infraestrutura para salvar o parque fabril. “De toda forma, pelo andar da carruagem, o PIB de 2013 será inferior a 2%, bem abaixo da meta estipulada pelo governo, de 3,5%”, sentenciou.

Fonte: Correio Braziliense

Aécio mira no eleitor do PT

Tucano protagoniza o programa do PSDB, no qual tenta aproximar a legenda das camadas menos favorecidas da população

Amanda Almeida, Juliana Colares

Pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2014 e presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) estreou, na noite de ontem, como protagonista do programa nacional do partido na tevê, com discurso voltado para as classes de renda mais baixa, tradicionalmente identificadas com o PT. Em 10 minutos no horário nobre da televisão, ele tentou tirar dos tucanos a pecha de que só governam para a elite, apontada em pesquisas internas da legenda, e fez ataques à gestão econômica do governo Dilma Rousseff. Em afago à ala paulista da legenda, abriu espaço para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra.

“Você vai conhecer o jeito do PSDB de cuidar das pessoas”, diz a narradora, no início do programa. O protagonista da peça, no entanto, não é o partido, mas o senador Aécio Neves. A forte exposição é uma tentativa de cruzar dois pontos diagnosticados em levantamentos da legenda: o tucano não é conhecido em todo o território nacional e o eleitor tende a se identificar com o candidato, e não com o partido que representa. Aécio aparece com trajes informais, com camisas para fora da calça, e sempre sem terno. Conversa com pessoas comuns e usa uma linguagem didática.

Nas inserções de 30 segundos, que estão sendo veiculadas na rede de rádio e de televisão há duas semanas, o publicitário Renato Pereira já mostrou que quer falar com as classes C e D, às quais, segundo pesquisas, o PSDB causa menos simpatia.

Em uma das cenas do programa, Aécio aparece sentado em uma roda, ao lado de pessoas comuns, explicando o que é inflação, enquanto o grupo reclama dos efeitos da alta de preços. “Perdeu-se o direito até a uma salada de tomate”, lamenta uma senhora, depois de constatar que o quilo do alimento chegou a R$ 10. O tucano responde: “A inflação penaliza quem? É quem não tem como se defender. O rico tem dinheiro quando ele aplica no título, aplica em algo que vai gerar a ele uma rentabilidade maior do que a inflação está comendo”.

Na mesma cena, Aécio diz que o Plano Real foi o maior programa de combate à inflação, enaltecendo a iniciativa do governo de FHC. O programa tem uma estética de cinema, o que lembra as produções do marqueteiro João Santana, responsável pelas campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff.

Bolsa Família

Em crítica ao governo federal, Aécio destaca a falta de investimento em maneiras de diminuir a dependência de beneficiários ao Bolsa Família. “Não acho que uma herança que um pai de família pode deixar para um filho é um cartão do Bolsa Família”, avalia o tucano. Na mesma linha de raciocínio, Aécio valoriza um dos pontos bem avaliados por eleitores nas pesquisas internas do partido: a qualidade da gestão dos governos do partido: “O PSDB governa hoje oito estados, governa praticamente metade da população. E, para nós, o lema fundamental é o seguinte: gastar menos com a infraestrutura do estado para gastar mais com as pessoas. Foi dessa forma que nós governamos Minas”.

O programa nacional do PSDB termina com cenas da convenção do PSDB, no último dia 18, que elegeu Aécio presidente do partido. “É o projeto de defender a democracia, a liberdade, a independência dos Poderes e a decência na vida pública”, diz José Serra. Já Fernando Henrique destaca o futuro: “Outra vez, é o momento de mudanças importantes e cabe ao PSDB olhar para a frente e ajudar essas mudanças”. Alckmin reforça a união do partido: “Estamos unidos para servir o Brasil”.

A aposta dos publicitários é que os telespectadores continuem a acompanhar o tucano no site www.conversacombrasileiros.com.br. “A eleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mostrou que é preciso ter interação. O eleitor não quer apenas receber notícia e propaganda unilateralmente, quer participar da construção do projeto político”, avalia o presidente do PSDB em Minas Gerais, Marcus Pestana.

Desculpas presidenciais

Aécio Neves lamentou ontem declaração do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de que a presidente Dilma Rousseff não deve pedir desculpas ao país pela corrida de beneficiários do Bolsa Família aos bancos, entre 18 e 19 de maio, que pode ter sido provocada por erro da Caixa Econômica Federal. Em nota, o senador diz que pedir desculpas não é humilhação, mas “um gesto de grandeza e responsabilidade”. “Como seria também repreender publicamente os membros do governo que, de forma leviana, atacaram a oposição e os que mentiram — e mantiveram a mentira — ao país sobre o episódio.”

Fonte: Correio Braziliense

Aécio usa inflação e gestão em Minas para criticar Dilma

O PSDB usou seu programa de TV que foi ao ar ontem à noite para apresentar ao eleitor de fora de Minas Gerais as realizações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à frente do governo do Estado e para tentar desgastar o governo de presidente Dilma Rousseff (PT) com a inflação.

Além disso, os tucanos apostaram no tema do fomento ao empreendedorismo como um contraponto aos programas de transferência de renda do governo petista, que tem neles seus "carros-chefe", como o Bolsa Família e o Brasil Carinhoso.

Atacado por petistas por não ter usado palavras como "povo" e "pessoas" em seu discurso crítico aos dez anos do PT no poder, feito na tribuna do Senado em fevereiro, o presidente nacional do PSDB apareceu no programa visitando a população do interior de Minas e também em uma roda de conversa com um grupo de eleitores.

Aécio também aparece dentro de uma van em movimento, no qual percorre seu Estado. De saída, em São João del-Rei fala do avô, Tancredo Neves, e diz ter sido um "espectador privilegiado" da luta pela democracia por ter estado ao lado dele e de Ulysses Guimarães. Em traje informal, o mineiro usa jeans e camisa para fora da calça.

Em deferência ao PSDB paulista, em parte resistente à candidatura de Aécio, o programa mostrou trechos dos discursos do ex-governador José Serra, do atual governador, Geraldo Alckmin, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na convenção do partido, há duas semanas.

Tomate. Na conversa com eleitores, o assunto foi a inflação. Uma mulher pergunta se os salários diminuíram ou se o custo de vida aumentou. Uma segunda reclama que o salário "não chega até a metade do mês, não dá nem para pagar as contas". Uma terceira sustenta, em referência ao fruto que encarnou a alta dos preços, que "a sensação é de abuso, porque o tomate chegou a R$ 10 o quilo".

Dizendo-se estar "muito preocupado" e tratar-se de "ama questão muito grave", porque penaliza mais os pobres, o senador afirma que "a inflação deve ser tratada com tolerância zero". "É preciso que o governo dê o exemplo."

"Um governo que gasta mais do que arrecada é o governo que vai estar ao final estimulando a inflação", diz Aécio aos eleitores. O tucano ainda recupera o Plano Real - "o mais exitoso plano de controle da inflação" - para defender a tese de que "tudo o que veio depois, veio com a estabilidade". "A gente não teria os investimentos que o Brasil teve se não tivesse estabilidade. Não ia ter os programas de transferência de renda."

Ele ainda critica a duração desses programas. "É preciso trabalhar para a superação real da pobreza, criando condições para que as pessoas possam trabalhar e crescer na vida. Não acho que a herança que um pai de família pode deixar pro seu filho é o cartão do Bolsa Família."

O programa mostra uma artesã e um produtor rural mineiros que sustentam ter se desenvolvido profissionalmente a partir de ações de Aécio como governador - a primeira, porque o governo estimulou um circuito de artes; o segundo, porque fez estradas para escoar a produção.

O mineiro também voltou a defender o setor privado, tema abandonado pelos tucanos desde a eleição presidencial de 2002. Segundo Aécio, esse setor "é essencial" e não pode "ser tratado como inimigo".

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB foca nos movimentos populares

Sob o comando de Sérgio Guerra, PSDB estadual investirá em segmentos históricos de outros partidos, como o PT

Carolina Albuquerque

De olho nas eleições de 2014, a nova Executiva estadual do PSDB, que tem à frente o deputado federal Sérgio Guerra, traça as principais diretrizes e estratégias partidárias hoje, na sua primeira reunião, às 10h, na sede tucana, no Derby. No cardápio oficial, o discurso é o de calibrar o partido, que tem pouca identidade com os movimentos populares e baixa capilaridade social, com o "sentido, o cheiro e os desejos do povo". Também, colocar o bloco na rua para fortalecer as chapas proporcionais a deputado estadual e federal, uma prioridade estadual do partido.

Como parte desse novo direcionamento, segmentos históricos de outros partidos, como o PT, começam a ser criados e reforçados dentro do PSDB, a exemplo do "tucanafro", voltado para o movimento negro, e o PSDB Sindical, ligado às lutas trabalhistas. A maior aproximação com os variados segmentos sociais que pretende imprimir o novo comando tem por objetivo fortalecer a candidatura a presidente do senador Aécio Neves, que, por ser um quadro eminentemente "sulista", tem pouca inserção no Nordeste.

O secretário-geral, deputado estadual Betinho Gomes, concorda que o PSDB está em busca de "refazer o caminho" ao encontro dos movimentos sociais. "O PSDB teve uma história forjada junto à sociedade civil, começou naquele movimento das Diretas Já e depois na Constituição de 1988. Chegamos à Presidência e agora estamos começando a refazer esse caminho, de aproximação da população", defendeu Betinho.

Os tucanos pretendem eleger ao menos três federais e seis a sete estaduais. Para a chapa à Câmara Federal, os nomes fortes são o do próprio Sérgio Guerra, de Bruno Araújo e de Daniel Coelho, que, apesar da derrota, saiu por cima, em segundo lugar, na eleição a prefeito do Recife. O vice-prefeito de Petrolina, Guilherme Coelho, e Ricardo Teobaldo, prefeito reeleito de Limoeiro, também colocaram os seus nomes à vaga federal. À Assembleia Legislativa, a novidade é o nome da vereadora Aline Mariano.

Mesmo negando que haja uma orientação nacional para pensar em um palanque para Aécio em 2014, Betinho admite que esta questão vai ser colocada à sua hora. A torcida, porém, é que o governador Eduardo Campos (PSB) decida-se pela candidatura presidencial, o que pulveriza os votos e as alianças nos planos nacional e estadual.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Eduardo Campos nega tensão

Andrea Pinheiro

RECIFE — O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, tenta afastar rumores sobre uma tensão no relacionamento com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB). Em entrevista na manhã de ontem, Eduardo afirmou que o diálogo com o aliado é “bom”, e que não há afastamento, apesar de o ministro defender a manutenção da aliança do PSB e PT para 2014. “Não tem isso (tensão). Não existe essa discussão. Conversamos ontem (quarta), inclusive. Conversamos todos os dias”, disse o governador, após a entrega de equipamentos e novas viaturas ao Corpo de Bombeiros da capital pernambucana.

A informação que circulou entre socialistas nos bastidores do partido, entretanto, é bem diferente. Houve quem garantisse que a última vez que Eduardo e Bezerra Coelho conversaram tinha sido durante agenda conjunta em Garanhuns, no agreste do estado, no último dia 3.

Integrantes do PSB se dividem em relação ao futuro de Bezerra Coelho na legenda. Há quem acredite que o ministro permanecerá na sigla, apesar das posições divergentes dos aliados — Eduardo Campos tenta construir uma candidatura presidencial e Bezerra Coelho defende a reeleição de Dilma. Outra ala dentro do partido socialista acredita que o titular da Integração Nacional trocará o PSB pelo PSD até setembro.

Bezerra Coelho não esconde a pretensão de concorrer ao governo do estado no próximo ano e trabalha para consolidar seu nome na disputa. Ao afirmar publicamente que defende a manutenção da aliança com o PT, o ministro estaria se tornando um dissidente no PSB. Dessa forma, afastaria a possibilidade de disputar o cargo com apoio do partido

Fonte: Correio Braziliense

Sonhar não ofende - Marina Silva

Na próxima semana serão plantadas muitas árvores e feitos muitos discursos. Faz tempo que a Semana do Meio Ambiente mostra o quanto o Brasil está preso a uma repetição retórica e prática. A mudança é para pior: se antes era "mais do mesmo", agora é menos do mesmo.

A governança ambiental construída a duras penas buscava superar o embate simplório entre destruidores e defensores de uma natureza sempre considerada externalidade, longe do centro econômico da vida social. Reforçando o controle e a participação social, fortalecendo as instituições, incentivando o desenvolvimento sustentável, buscávamos transitar para uma sociedade em que a "questão ambiental" estivesse integrada a todos os aspectos do desenvolvimento.

Dez anos depois, já seria tempo de dar um passo adiante. Mas nem a mais atrasada ideia de "progresso a qualquer preço" é capaz de explicar o retrocesso que o governo brasileiro e sua base parlamentar promoveram nos anos recentes.

Profundo a ponto de se constituir na grande marca do atual governo, o retrocesso acontece justo nos anos em que a humanidade mais necessita de liderança estratégica para evitar o aquecimento de dois a seis graus que a ciência projeta, agora que a concentração de gases estufa ultrapassou todos os limites.

E os limites do Brasil? O "novo" Código Florestal, celebrado como uma vitória dos ruralistas, um ano depois de aprovado, mostra que é uma simples "licença para desmatar". Mas também temos o drama indígena em Belo Monte, e a violência em tantas outras aldeias, a redução de unidades de conservação, a perda de controle sobre o desmatamento e uma interminável fila de agressões contra o futuro.

Alguns casos atingem as bases da economia. No próximo leilão de energia só se permitem propostas para contratar termelétricas. São proibidos projetos de energia eólica, uma fonte mais barata e menos poluente. Há projetos aprovados de energia eólica, mas a Chesf não consegue entregar as linhas de transmissão. Pagamos caro pela falta de planejamento e pela obsessão por combustíveis fósseis.

E haja espaço para elencar tanto retrocesso. Mas como a esperança não precisa morrer de véspera, que tal sonhar que nesta Semana do Meio Ambiente, o governo resolva iniciar um processo de redução de tantos danos? Destravando pelo menos a agenda de criação das unidades de conservação, que está paralisada, deixando prejudicadas as comunidades tradicionais, como as da Reserva Extrativista Rio Branco-Jauaperi, na divisa entre Roraima e Amazonas, e a biodiversidade da região do Boqueirão da Onça, no Vale do São Francisco. Sonhar não ofende.

Marina Silva, ex-senadora

Fonte: Folha de S. Paulo

Bolsa Família e a ‘central de mentiras’ do PT- Roberto Freire

Os boatos sobre o suposto fim do Bolsa Família, que levaram quase 1milhão de beneficiários do programa a realizar 920 mil saques em um único fim de semana, no valor total de R$ 152 milhões, comprovam que jamais se deve subestimar a capacidade do governo petista de mentir e criar factoides. Nos dias 18 e 19 de maio, filas intermináveis se formaram em várias agências da Caixa Econômica Federal espalhadas por 13 estados brasileiros, o que gerou tumulto e depredações

Horas depois do episódio, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário,da estrita confiança da presidente Dilma Rousseff, atribuiu os boatos a uma “central de notícias da oposição”,que naturalmente só existe em sua delirante e irresponsável imaginação. Também açodado,o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sugeriu que teria havido uma “orquestração”. A própria Dilma, por sua vez, falou em ação “criminosa e desumana”. A fraude da versão oficial começou a ser desmontada quando se soube que a Caixa alterou todo o calendário de pagamentos do Bolsa Família, sem aviso prévio aos beneficiários, um dia antes de eclodirem os boatos.

Ainda no dia 17, véspera do fatídico sábado em que uma multidão de brasileiros se aglomerou nas agências para sacar o dinheiro, R$ 2 bilhões foram liberados de uma só vez nas contas das 13,8 milhões de famílias atendidas. Até que o jornal “Folha de S.Paulo” noticiasse a súbita mudança nas regras de pagamento escalonado, a Caixa sustentava que havia liberado os recursos apenas depois do surgimento dos rumores, justamente para conter o pânico rapidamente disseminado. Nada mais falso.

Tratava-se, de fato, de uma mentira deslavada. Flagrado em escandalosa contradição, o presidente da Caixa, Jorge Hereda, se viu obrigado a pedir desculpas publicamente pelo suposto “erro operacional”, que covardemente atribuiu a funcionários de terceiro escalão. Talvez inspirado pelo ex-presidente Lula, aquele que jamais sabia de nada, Hereda afirmou que a decisão de liberar o montante não passou pela cúpula do banco, o que simplesmente não é crível. Para agravar a situação, suas estapafúrdias explicações não esclareceram, afinal, porque os beneficiários do programa não foram sequer avisados sobre o pagamento antecipado.

É evidente que ainda há perguntas demais e respostas de menos neste mais novo imbróglio em que se meteu a administração petista. Mas já não há dúvidas de que o governo Dilma, na melhor das hipóteses, foi omisso, irresponsável e leviano do início ao fim deste episódio, e de que o presidente da Caixa mentiu ao país, o que por si só deveria ensejar seu imediato afastamento do cargo.

Diante de mais uma série de lambanças que contam com a assinatura do governo petista e da Caixa Econômica Federal, há de se perguntar o que Maria do Rosário, José Eduardo Cardozo e Dilma Rousseff teriam a dizer neste momento. Ao que tudo indica, os boatos que assustaram os beneficiários do Bolsa Família, infelizmente cada vez mais dependentes das benesses do Estado e ludibriados pelo assistencialismo barato, partiram não de uma “central de notícias da oposição”,mas da inesgotável central de mentiras do próprio governo do PT.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional da Mobilização Democrática (MD)

Fonte: Brasil Econômico

A escolha de Dilma - Denise Rothenburg

A inflação, explorada no horário político do PSDB, afeta diretamente a fatia mais pobre da população, na qual está o grosso do eleitorado petista. Segurar o eleitorado e enfraquecer o discurso do adversário dão o tom político da alta de juros decidida tecnicamente para conter a elevação dos preços

Não tem nada que tire mais o sono da presidente Dilma do que perceber que as medidas adotadas para alavancar a economia ainda não apresentaram os resultados esperados. Esta semana, então, a situação foi preocupante até mesmo para os otimistas. O crescimento do primeiro trimestre fechou abaixo do esperado pelos analistas. E, para decorar o bolo, a cerejinha foi o aumento de meio ponto percentual nos juros. Do ponto de vista político, essas duas notícias juntas — baixo crescimento e aumento de juros — ajudam a piorar o clima.

Do ponto de vista do empresariado, faz crescer o receio de captar recursos para investimentos, ou seja, ninguém quer correr o risco de pagar mais pelo dinheiro e, ali na frente, não ter o retorno. Logo, uma coisa vai alimentando a outra. Mas, do ponto de vista político e do eleitor como um todo, nem tudo está perdido.

No que se refere aos juros, a parte boa dessa história é a demonstração de uma certa independência por parte do Banco Central, que deu um sinal claro de que não hesitará na hora de controlar a inflação, o que é um bom sinal. Desde o Plano Cruzado, o país é escaldado com a história de não fazer ajustes necessários à economia para não quebrar a onda eleitoral. Para quem não se lembra ou era muito jovem, a equipe econômica à época cobrou ajustes no plano, mas a política estava tão embalada em altos índices de popularidade que esperou passar a eleição de governadores para fazer os ajustes. Deu no que deu. O plano naufragou e só nos recuperamos quase uma década depois, com o Plano Real.

A história mostrou que, quando isso acontece, os problemas se agravam e o castigo que o eleitor dá a quem descuida dos aspectos econômicos é grande. O PMDB, por exemplo, nunca mais retornou à Presidência da República, salvo agregado ao PT de Lula e Dilma.

É fato que a economia brasileira está bem melhor, e com as bases mais fortes do que nos idos de duas décadas passadas. A inflação também não é aquele dragão todo que assustava a todos. Mas isso não significa que não enseje cuidados. Há 15 dias, a presidente já havia afirmado que não deixaria de adotar as medidas necessárias para manter a inflação sob controle e, assim, o BC entendeu o recado. Se fosse necessário subir os juros, que assim agisse, pois tudo o que o PT não quer agora é virar um PMDB, e passar a viver agregado a outras siglas. Esse comportamento, aliás, está longe do código genético petista. Portanto, a ordem é tomar as duras medidas necessárias para segurar a economia logo em 2013, de forma que qualquer alívio em 2014 possa soar como uma excelente notícia.

Dilma tem plena consciência de que é melhor tomar as iniciativas impopulares agora, ainda que atrapalhe um pouco o crescimento econômico neste período, do que deixar a coisa correr frouxa e ter que agir em pleno ano eleitoral. Para completar, se a opção do Banco Central em elevar os juros ajudar a conter a inflação, os maiores beneficiados serão justamente os mais pobres. Coincidentemente — para aqueles que acreditam em coincidências na área política —, é nessa camada que está o grosso do eleitorado que vota na presidente Dilma e tem nela a imagem de protetora. As atitudes indicam que ela fará tudo o que estiver ao seu alcance para não perdê-los. Afinal, se Dilma quiser a reeleição, terá que ser popular. E, para ser popular, as classes mais pobres precisam estar satisfeitas e alimentadas. Ainda que o crescimento ande lentamente, a escolha de Dilma está feita.

Enquanto isso, no PSDB…

Foi veiculado ontem o primeiro horário político dos tucanos sob o comando do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O programa tem objetivos múltiplos. O primeiro deles foi apresentar Aécio como alguém com mais jogo de cintura e história política do que a presidente Dilma. O segundo, reforçar os laços com os ícones do partido, daí, imagens de José Serra discursando na convenção deste mês.

Os tucanos destacaram ainda a inflação dos alimentos, que tanto preocupa o eleitor, e já havia sido tratada nas inserções do partido. Se a alta nos juros segurar a inflação, esse trecho do programa perderá o sentido em 2014. Não por acaso, Dilma e o BC lutam para conter essa elevação de preços e evitar que o eleitorado acabe concordando com o PSDB.

Fonte: Correio Braziliense

De onde não se espera - Miriam Leitão

Será um enredo bem inesperado se o senador Renan Calheiros se transformar no fiador da defesa institucional do Congresso. Pelo inusitado da articulação política do governo, coube ao senador o improvável papel de grande defensor das instituições. Foi ele quem disse à ministra-chefe da Casa Civil que ela não estava entendendo a dimensão do Legislativo.

Renan saiu de mandatos opacos na política ao embarcar no expresso que partiu de Alagoas rumo ao Palácio do Planalto pilotado por Fernando Collor. Dele se afastou em tempo hábil para salvar-se, quando o então presidente afundava no impeachment. No governo Fernando Henrique, chegou ao cargo de ministro da Justiça. Anos depois, envolveu-se numa rocambolesca história de contas íntimas pagas por empreiteira, mas também evadiu-se da presidência do Senado a tempo de evitar a Comissão de Ética. Renunciando ao posto, acabou absolvido por seus pares em uma votação secreta.

Quando iniciou sua caminhada de volta ao comando do Senado, a mídia social conseguiu, em poucos dias, coletar um milhão de assinaturas de protesto. Foram insuficientes para alterar a ordem antinatural das coisas, e ele voltou ao cargo.

Deste alto posto de comandante, ele conseguiu, na semana passada, ancorar o desgovernado navio da MP dos portos, com manobras regimentais de velocidade estonteante. Fez sete dias em uma tarde e aprovou a MP. Alertou que seria a última vez, porque daqui para diante exigiria que fosse respeitado maior prazo para que uma MP chegasse da Câmara.

Foi quando apareceu por lá, já com os dias contados, a MP 605, que dá novo destino aos recursos da Conta de Desenvolvimento Energético, para que ela pague parte da redução do preço da energia. Redução essa que ocorre quando o custo da energia para o sistema tem ficado mais caro. É mais uma MP na contramão dos fatos econômicos, mas ela morreu no Senado porque não respeitou a ordem dos dias.

Curioso, realmente, é tentar entender tanto atropelo. A presidente Dilma Rousseff tem uma vasta base parlamentar. Tão agigantada que precisou montar um governo-transatlântico, com 39 ministros.

"Algo não está muito bem", constatou o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves. O deputado, que tem tido o sol do Rio Grande do Norte por testemunha da longevidade dos Alves na política do estado, avisou que não era o caso de tapar o sol com a peneira. "Não é possível, com 420 deputados da base não conseguir colocar 257 em uma sessão decisiva." Como integrante desse grupo numeroso, ele deve dirigir essa dúvida, entre outros, a ele mesmo.

Na refrega que levou à derrota do governo na MP 605, deu-se então o esclarecedor diálogo narrado no GLOBO de ontem pelos repórteres Maria Lima, Paulo Celso Pereira e Júnia Gama. A ministra Gleisi Hoffmann teria dispensado as negociações do presidente do Senado para salvar a MP afirmando que já tinha acertado tudo com a Marta Lyra, que ocupa o cargo de assessora parlamentar do Ministério de Minas e Energia.

Ou seja, a ministra-chefe da Casa Civil estava dizendo ao presidente do Senado que dispensava sua atuação porque já havia acertado como aprovar a MP em conversa com uma assessora parlamentar. Gleisi desembarcou na chefia da Casa Civil com a experiência de ter sido assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná e de ter sido derrotada na campanha eleitoral para a prefeitura de Curitiba. Essa primeira derrota lhe rendeu um cargo precioso: o de diretora financeira de Itaipu. De lá, preparou sua segunda campanha, que a levou ao Senado. Em pouco tempo de mandato, chegou à Casa Civil. Com tal experiência em queimar etapas, ela quis fazer o mesmo, acertando como o Senado deveria votar numa conversa com a assessora parlamentar do Ministério de Minas e Energia.

Foi quando, em surpreendente lance da novela, o senador Renan, ele mesmo, diz: "Como assim, acertou com Marta Lyra? A senhora enlouqueceu? Está confundindo as coisas, não está entendendo a dimensão do que é o Legislativo."

Numa democracia, como aprendemos, o Congresso tem enorme dimensão. O atual Executivo e o próprio Legislativo têm feito esforços para apequená-lo. A ponto de o reforço para a defesa das suas prerrogativas institucionais vir agora até de onde menos se espera.

Fonte: O Globo

Terrorismos eleitorais – Eliane Cantanhêde

A semana do feriado está sendo de lascar para o governo, com pibinho, mais uma alta de juros e derrota da articulação política no Congresso. Nada, porém, pior que a lambança do Bolsa Família.

Na primeira versão, a Caixa mudou o calendário de liberações depois e por causa do corre-corre, dos saques e depredações. Confrontada com reportagem da Folha, a própria Caixa teve de voltar atrás e reconhecer que, primeiro, mudou o calendário e só depois (e por causa disso?) houve corre-corre, saques e depredações. Caso típico em que a ordem altera, sim, o produto.

O primeiro erro foi a mudança estapafúrdia do calendário. O segundo foi a dimensão do tumulto que Dilma Rousseff classificou de "desumano". O terceiro foi a mentira, a inversão do que ocorreu de fato. O quarto foi governo e PT tirando casquinha do episódio "desumano" para fazer política e acusar a oposição.

Ao dizer que houve "terrorismo eleitoral", o presidente nacional do PT, Rui Falcão, remeteu sem querer a um terrorismo eleitoral real, em 2006, quando a campanha de Lula difundiu a versão de que os tucanos, com quem disputavam o segundo turno, privatizariam a Petrobras.

A versão colou e até gente bem informada que oscilava entre uma e outra candidatura desceu do muro para Lula, diante da certeza de que o PSDB venderia a empresa-símbolo do Brasil -e a preços módicos.

Agora, se os repórteres Aguirre Talento e Daniel Carvalho não tivessem descoberto e publicado na Folha que a origem do tumulto tinha sido na própria Caixa, a versão de que havia uma conspiração oposicionista teria certamente se imposto, antes do resultado da PF. Até porque o PT, mais do que o governo, é excelente em massificar suas versões.

Ou seja: se não fossem repórteres atentos e um jornal independente, aí é que haveria "terrorismo eleitoral" de verdade. Deve ser por isso que se fala tanto em "controle social" e "regulamentação" da mídia.

Fonte: Folha de S. Paulo

Arquivo morto - Dora Kramer

Assim como anunciou no início do mandato que desistia de patrocinar reformas pendentes, a presidente Dilma Rousseff tende agora a abrir mão de enfrentar temas complexos no Congresso, a respeito dos quais existam divergências difíceis de serem contornadas pelo governo.

Nessa gaveta já dorme em berço esplêndido o novo marco regulatório da mídia. Devido a interesses divergentes dos meios de comunicação com os quais, o Planalto não quer entrar em conflito e à insistência de setores do PT em aproveitar o ensejo para tentar instituir o tal do controle social sobre sagrado direito dos cidadãos ao livre acesso a informações.

Na direção do mesmo escaninho do esquecimento - ainda que temporário - caminham o código de mineração, a proposta de mudanças na cobrança do ICMS e quaisquer outras que representem conflitos de interesses a serem acomodados e, no limite, arbitrados pelo Palácio do Planalto.

Algo que poderia ser visto como tática de sobrevivência em governo de maioria parlamentar apertada, no caso de uma base partidária que em tese domina mais de 80% do Congresso o recuo no enfrentamento de temas importantes traz outras informações: revela incapacidade de construir consensos em torno de assuntos de interesse nacional, impossibilidade de conciliar discordâncias e inaptidão para arbitrar soluções.

Governos, notadamente aqueles com altos índices de aprovação popular preferem navegar a bordo da segurança da convergência por gravidade. Mas nem sempre isso é possível.

A unanimidade é um conforto, quanto a isso estamos de acordo, não obstante o conhecido fundamento de Nelson Rodrigues a respeito da concordância geral e irrestrita.

Não deixa, entretanto, de render prejuízos: denota tibieza de propósitos, carência de convicções e, sobretudo, atravanca o progresso.

Conta e risco. Se confirmada a candidatura presidencial do senador Aécio Neves, em 2014 será a primeira vez em que o governador Geraldo Alckmin concorrerá (à reeleição) sem a presença de um candidato paulista na disputa para a Presidência. Fator importante - senão determinante - para "puxar" votos na eleição estadual.

Pedra no caminho. A recente explicitação das divergências entre o governador de São Paulo e Afif Domingos - dublê de vice do PSDB e ministro do PT - tem o aval, para não dizer o incentivo, do ex-prefeito Gilberto Kassab.

O pivô é um programa de desburocratização que Afif elaborou para o Estado e fracassou por falta de interesse do governador. O mesmo projeto foi apresentado na semana passada ao prefeito petista Fernando Haddad, que se disporia a tocar o plano.

A ideia é contrapor a ação de Haddad à omissão de Alckmin. Onde entra Kassab, comandante do PSD, partido de Afif? Na condição de sócio-atleta do clube dos inimigos do governador, empenhados em criar dificuldades à sua reeleição.

Direto ao ponto. Não há, como se sabe, consenso no Supremo Tribunal Federal sobre o cabimento dos embargos infringentes que visam a tentar alterar as penas dos condenados que receberam ao menos quatro votos pela absolvição.

Entre os que concordam que sejam aceitos, argumenta-se que não haverá na prática uma reabertura do julgamento, mas apenas a discussão sobre pontos específicos do dissenso. Ademais, não alterariam as condenações, mas o regime de cumprimento das penas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Um dia de cão na economia - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Hoje, os mercados financeiros vão reagir com força à decisão tomada pelo Copom sobre os juros

A última quarta-feira foi um verdadeiro dia de cão nos mercados financeiros no Brasil. Logo na abertura dos negócios, investidores e instituições financeiras sofreram um primeiro choque em suas expectativas com a divulgação, pelo IBGE, de um novo pibinho no primeiro trimestre deste ano.

O mercado esperava um crescimento da ordem de 0,9% --que corresponde a 3,6% no período de 12 meses--, sendo que alguns chegavam a prever taxas superiores a 1%. O número divulgado pelo IBGE foi de apenas 0,6%.

Para o leitor fazer uma avaliação da pobreza de nosso crescimento econômico, no mesmo dia as autoridades suíças divulgaram os números do PIB desse pequeno país dos Alpes, também no primeiro trimestre do ano: os mesmos 0,6% do Brasil.

O choque foi muito grande e o mercado de ações respondeu com uma queda de mais de 2,5% no índice Bovespa ao longo do dia.

No mercado de câmbio, os especuladores --que já vinham apostando há algum tempo em uma desvalorização do real-- aproveitaram o choque para empurrar as cotações de nossa moeda para nível recorde dos últimos meses.

O terceiro movimento especulativo dos mercados deu-se nas negociações com os juros Selic.

Respondendo às expectativas de que o BC iria responder ao PIB raquítico com moderação ainda maior no aperto da política monetária, os juros reduziram-se com força logo na abertura das negociações.

Por trás desse movimento pavloviano estava o raciocínio pelo qual a presidente Dilma não permitiria o uso dos juros no combate à inflação, como havia sido o teor de seu discurso recente na África do Sul.

Pois no início da noite, com os mercados já fechados, o Copom surpreendeu com uma aceleração na velocidade de elevação dos juros e com um comunicado ao mercado com termos duros sobre o combate à inflação neste e no próximo ano.

Reforçando esse compromisso, o BC informou a todos que a decisão havia sido unânime entre os diretores da instituição. Uma mensagem clara de que um novo Banco Central emergiu das cinzas da instituição que comandou com mão de ferro o sistema de metas de inflação nos oito anos do governo Lula.

Hoje, os mercados financeiros vão reagir com força a isso e mui- tos operadores que fizeram uma leitura errada do governo Dilma terão que voltar mais cedo de seu fim de semana alongado.

Certamente, a grande dúvida que comandará as reflexões de investidores e analistas econômicos estará centrada na extensão dessa inesperada mudança de atitude do BC.

Terá sido ela fruto de uma revolta interna --de uma instituição do Estado brasileiro com larga história e respeito de todos-- depois de um período de perda de credibilidade em função de movimentos confusos na gestão do sistema de metas de inflação, uma das âncoras importantes do equilíbrio macroeconômico dos últimos 16 anos no Brasil?

Ou as mudanças são mais profundas e chegam mesmo ao Palácio do Planalto, com a presidente entendendo, finalmente, que trazer a inflação para mais próximo do centro da meta é o instrumento mais importante para manter o crescimento brasileiro e a felicidade consumista da nova classe média que a suporta?

Ou, ainda, que aumentar os juros agora com mais vigor é o melhor caminho para que os eleitores/consumidores, em outubro do próximo ano, estejam felizes e confiantes e sufraguem nas urnas o nome de Dilma Rousseff?

Se a presidente fizer uma leitura correta dos números do PIB, verá que a frustração dos analistas --e certamente dela também-- veio principalmente da queda no consumo das famílias e que representam hoje 60% do PIB brasileiro.

Neste primeiro trimestre, a expansão dos gastos em consumo em relação ao trimestre anterior foi de apenas 0,1%, depois de ter-se expandido em média 0,9% nos três trimestres anteriores.

E o que diferencia principalmente esses quatro períodos sequenciais é a intensidade da inflação, que no início de 2013 chegou a quase 9% ao ano no comércio varejista e comeu boa parte da renda dos hoje endividados brasileiros de classe média.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 70, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Fonte: Folha de S. Paulo

E agora, ministro? - Celso Ming

Diante do PIB decepcionante do primeiro trimestre e da perspectiva de desilusões mais ou menos equivalentes nos próximos, o governo Dilma não vai ficar como está.

São duas opções: ou faz mais do mesmo ou muda tudo. Ambas incluem riscos e poucos resultados imediatos, pelo menos até as vésperas das eleições presidenciais de 2014.

Na entrevista que deu logo após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou que há mudanças em curso. Em vez de turbinar o consumo, como fez até recentemente, a ênfase da política econômica vai para o investimento.

É um reconhecimento, ainda que tardio, de que a política econômica partira do diagnóstico errado, de que o problema era o baixo consumo. A estratégia até então determinava que, uma vez estimulado o consumo, a produção (e o investimento) iria atrás, como cachorro de mendigo.

A conversão do governo ainda não convenceu. A ideia de que o investimento ficara em segundo plano até aqui não combina com a louvação oficial ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É bom lembrar que a então candidata Dilma Rousseff foi apresentada ao eleitorado como "mãe do PAC", num clima em que o investimento já fora escolhido como alavanca do desenvolvimento econômico. De todo modo, vai sendo reconhecido que o PAC é pouco.

Dos 18% da renda aplicados hoje em investimento, o governo detém fatia pouco superior a 1 ponto porcentual. O resto sai do setor privado. No entanto, o empresário não vem se deixando seduzir pelas convocações da presidente para liberar seu espírito animal. Ele não sente firmeza na condução da economia.

Uma opção do tipo mais do mesmo consistiria em aprofundar o regime de altas despesas públicas destinadas a transferências de renda para determinados segmentos da população, apresentada sempre como política anticíclica, embora na prática produza mais distorções do que soluções. Continuaria, também, a propiciar reajustes salariais acima da produtividade do trabalho e as tais desonerações que custam caro e não passam de paliativo. É a receita que, na atual conjuntura nacional e internacional, conduz à repetição de pibinhos, de inflação em alta e de aumento do rombo das contas externas. Em compensação, enquanto mantiver a ilusão populista, é a política que, em princípio, garante votos.

A opção por mudança de rumos consistiria em reduzir substancialmente as despesas públicas para que o governo pudesse garantir vigoroso superávit primário (sobra da arrecadação para pagamento da dívida). O fator abriria espaço para a redução dos juros, o que todos querem, e para o barateamento do crédito. De quebra, permitiria maior desvalorização do real (alta do dólar) para fortalecimento da indústria – sem produzir a inflação que alimenta a desconfiança e a retração do setor privado. É claro, esse conjunto de políticas exigiria adiamento da instalação do Estado do bem-estar social, com o qual a sociedade parece contar.

Embora em algumas ocasiões diga o contrário, o governo parece mais disposto a seguir a primeira opção, para só aplicar a terapia de choque em um possível segundo mandato de Dilma. O maior risco é de que as condições da economia se deteriorem muito rapidamente e a reputação política da presidente chegue às vésperas das eleições com sérias avarias.

Fonte: O Estado de S. Paulo