domingo, 5 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Juan Carlos Velasco Arroyo

A significação política da obra de Habermas

Habermas se mostra especialmente sensível às criticas provenientes da tradição hegeliana acerca das carências institucionais do formalismo moral kantiano que ele próprio adota parcialmente em sua ética discursiva. Afeta-lhe, em particular, a acusação de que sua proposição de uma teoria da sociedade essencialmente normativa não se adéqua aos ditados da realidade política e, por isso, como ele mesmo reconhece, preocupa-lhe “desmentir a objeção de que a teoria da ação comunicativa é cega ante a realidade das instituições”. Admite, sem reservas, que, dado o abismo que se abre entre o ideal e o possível, não é fatível uma transição coerente desde a esfera dos princípios gerais ao âmbito do agir político sem estabelecer ‘mediações’ que garantam uma fluida comunicação. Por sorte, ele crê encontrar nas instituições constitucionais vigentes (a divisão dos poderes dentro do aparelho estatal, a vinculação da atividade estatal ao direito e, particularmente, os procedimentos eleitorais e legislativos) um reflexo, ao menos parcial, das exigências normativas do seu modelo político. Tais realizações institucionais constituiriam então as mediações necessárias para poder transitar do nível de sua própria teoria à realidade sem cair em proposições de índole voluntarista.

Cf. Cf. Introdução (1998) de Juan Carlos Velasco Arroyo ao livro de Habermas La inclusión del otro. Estudos de teoria política. Paidós: Madri, 1996. O autor pertence ao Instituto de Filosofia do S. I. C. de Madri.

Populismo deixa fatura alta para 2015

Temor de repercussão negativa fez o governo adiar reformas, como a tributária, a trabalhista e a da Previdência, que há décadas travam o Brasil e inibem o crescimento. Quem estiver no comando do país em 2015 terá de acertar contas com o atraso.

Fatura do populismo

Todo ano eleitoral costuma ser associado a baixas expectativas quanto a realizações políticas. Há limite de data para o desembolso de verbas públicas, de modo a evitar que os gastos sejam usados, mesmo indiretamente, para turbinar os candidatos do governo. Além disso, com muitos detentores de mandatos no Executivo e no Legislativo buscando a reeleição, sobra menos tempo para votar projetos de lei que podem tornar o país mais competitivo e para cuidar de obras de infraestrutura e de programas que realmente interessam à população.

Quando 2015 chegar, porém, o próximo presidente da República não terá escapatória. Com o Brasil atolado em um quadro desanimador, de inflação alta e baixo crescimento, as reformas constitucionais que foram adiadas por mais de uma década, como a tributária, a trabalhista e a previdenciária, deverão sair das promessas, apesar do elevado custo político que elas carregam.

Um dos motivos de o Brasil estar hoje envolto em uma nuvem de pessimismo e desconfiança decorre justamente do abandono das reformas — em muitos momentos, por populismo. Enquanto a economia mundial crescia a passos largos e as nações emergentes, entre elas, o Brasil, despontavam como nova fronteira para se ganhar dinheiro fácil, boa parte dos problemas estruturais da economia brasileira acabaram sendo relegados a segundo plano pelos investidores. Agora, porém, que o planeta tenta se recuperar de uma crise que já dura cinco anos, os defeitos do país se agigantaram, sobretudo pela fragilidade fiscal combinada a uma infraestrutura deficiente.

"Portanto, é importante que, desde já, os candidatos à Presidência da República explicitem o quanto estão comprometidos com as reformas de que o Brasil precisa. A entrada das mudanças estruturais na agenda política é necessária para garantir, ao menos, um efeito preventivo. País que não discute questões de longo prazo abre espaço para que se crie uma agenda ruim", diz a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. "Precisamos fazer uma transição muito rápida do Brasil do atraso para um país moderno, com bases sólidas para crescer a um ritmo consistente sem pressionar a inflação", acrescenta.

Experimentalismos
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o Brasil já perdeu tempo demais. Enquanto, nos últimos três anos, o governo de Dilma Rousseff optou por experimentalismos, ao tentar adotar uma "nova matriz econômica", o mundo em crise, especialmente os Estados Unidos e a Europa, livrou-se de amarras importantes para reduzir custos da produção. Ou seja, estão mais bem preparados para aproveitar os tempos de bonança que estão por vir, ainda que demorem. "Aqui, tudo desandou e o ambiente de negócios ficou péssimo por causa do excesso de intervencionismo do Estado", assinala. "Em vez de avançar, andamos para trás."

Para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, já que concorrerá a reeleição, com grande chance de continuar no Palácio do Planalto a partir de 2015, a presidente Dilma deveria antecipar os ajustes de que tanto a economia brasileira precisa. Uma delas, bem simples, seria fixar um teto tanto para a dívida bruta do governo quanto para a líquida. Ele considera como razoável a chance de uma medida como essa ser anunciada em breve. "Sou otimista", diz ele, que integra o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A razão para Mansueto acreditar na boa vontade de Dilma é que não seria necessário determinar o cumprimento imediato da regra. Mesmo que a medida ficasse para 2015, o benefício em termos de reconquista de credibilidade viria rapidamente, pela coordenação de expectativas dos agentes econômicos. Ele ressalta que o governo reconhece que o sinal amarelo para o quadro fiscal já está ligado. "Assim, se nada for feito agora, haverá aumento da carga tributária, o que é desgastante do ponto de vista político, por mais popular que seja o chefe do Executivo. Mais impostos aumentam o custo Brasil. Não tem jeito", explica.

Credibilidade
A avaliação é praticamente unânime. "É na área fiscal que está a maior parte do trabalho a ser feito", aponta Zeina Latif. "Fala-se muito da importância da credibilidade do Banco Central, por meio de um projeto que dê autonomia formal à instituição. Mas isso também é importante na área fiscal. Há muitos ruídos na comunicação", alerta.

Graças ao que identifica como disposição de ouvir, a economista da XP Investimentos afirma que são grandes as chances de o governo começar a promover mudanças neste ano, sobretudo na política de incentivos que contempla alguns setores produtivos e outros não. "Elas são ruins porque criam distorções econômicas", explica. A eliminação de subsídios teria também o efeito de melhorar as contas públicas sem recorrer à impopular elevação da carga tributária, algo que, se fosse feito, teria o impacto de uma bomba em meio à campanha eleitoral.

Zeina tem ainda uma sugestão a ser aplicada neste ano ou em 2015: a redução do número de ministérios. "Ainda que não tenha grande impacto na redução de gastos, seria grande o efeito simbólico", afirma. Outras medidas ao alcance do governo ainda neste ano são as que se que podem facilitar o ambiente de negócios, com redução de entraves às empresas. "É preciso reduzir as dificuldades de licenciamento ambiental e das regras trabalhistas, entre outras coisas", exemplifica o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Fonte: Correio Braziliense

Eleição municipal e pequenas cidades induzem filiações partidárias no Brasil

Daniel Bramatti, José Roberto de Toledo, Lucas de Abreu Maia Rodrigo Burgaretti

A cada quatro anos, uma onda de filiações a partidos sacode o cenário político brasileiro. O surpreendente é que isso não ocorre durante as eleições nacionais ou estaduais. Das 13,8 milhões de pessoas que desde 1995 assinaram ficha de adesão a alguma legenda, 70% o fizeram no ano anterior a uma eleição municipal. Mais: é possível relacionar essas ondas periódicas ao resultado das urnas. Partidos com mais filiados têm maiores chances de conquistar prefeituras, principalmente nas cidades menores.

Para decifrar a periodicidade das ondas de filiações, o Estadão Dados analisou 18 milhões de registros que os partidos entregaram em outubro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com nome, data e local da adesão. Os dados revelam que são os pequenos municípios - aqueles com menos de 20 mil votos válidos nas eleições para prefeito - que determinam a lógica das filiações partidárias no Brasil.

O levantamento indica também como se dá a formação de um ciclo eleitoral que, em sucessivas votações, vai da esfera municipal ao plano federal. Partidos mais bem-sucedidos na cooptação de filiados conquistam mais prefeituras. Os prefeitos agem como cabos eleitorais de parlamentares e ajudam suas siglas a conquistar mais vagas nas Assembleias Legislativas e na Câmara. E partidos com mais deputados federais acabam com mais tempo de propaganda na TV para promover seus candidatos a governador e a presidente.

De todos os filiados a alguma sigla, 41% estão nas menores cidades, que, por outro lado, são responsáveis por apenas 31% dos votos nos pleitos municipais no País. Ou seja: há mais filiações por eleitor nas menores cidades que nas maiores. Nesses municípios menores, um crescimento de ponto porcentual no número de filiados a um partido em relação às legendas rivais aumenta em quase 50% as chances de aquele partido lançar candidato a prefeito.

O cientista político Ricardo Ceneviva, do Centro de Estudos da Metrópole da USP, acredita que as filiações são resultado de disputas internas: "Elas têm muito mais a ver com a briga pelo controle damáquina partidária que com mobilização popular. Quanto mais gente o sujeito consegue trazer para o diretório municipal, maiores são as chances de que ele consiga lançar seu candidato a prefeito".

Máquina. A maior organização da máquina partidária, diz Ceneviva, ajuda a determinar qual legenda da coligação encabeçará a chapa para a prefeitura.
O levantamento mostra que, nas cidades pequenas, para cada ponto porcentual a mais no número de filiados em relação ao total de eleitores do local, um partido aumenta em 24 pontos porcentuais sua votação. Mas é muito difícil aumentar a taxa de filiação nessa proporção - na maior parte dos casos, isso significaria mais do que dobrar o número de militantes registrados.

As vitórias nas prefeituras, por sua vez, criam novas bases para as eleições de deputados. Ceneviva diz que, embora a ciência política ainda não tenha provado a relação entre eleição de prefeitos e deputados, estudos indicam que o apoio dos prefeitos tem relevância estatística na distribuição de votos para os candidatos às Assembleias e à Câmara - ainda que o efeito seja relativamente pequeno.

O professor do Insper Humberto Dantas afirma que o número de cargos em disputa nos pleitos municipais - cerca de 60 mil para vereadores e 11 mil para prefeitos e vice-prefeitos - faz com que as cidades governem o ciclo político nacional "Muito da nossa atenção é voltada às campanhas para presidente e governador, mas a maior parte dós cargos é disputada nos municípios. Não é de estranhar que tantos partidos concentrem seus esforços nas eleições municipais."

Levantamento analisou 18 milhões de registros do TSE
O Estadão Dados baseou-se no registro de filiados a partidos do TSE. Após compilar 860 arquivos e mais de 18 milhões de registros, a primeira pergunta era: quando são feitas as filiações no Brasil? O passo seguinte era entender o porquê. A hipótese óbvia era de que as filiações influenciam os resultados dos pleitos para prefeitos. Para testar tal hipótese, foi usada uma ferramenta estatística chamada regressão, que ajudou a entender se as filiações influenciam o lançamento de candidaturas a prefeito e o porcentual de votos recebido. Foram considerados os 5 partidos com o maior número de prefeituras (PT, PMDB, PSDB, PSB e PP) e as eleições de 2012 e 2008. Para testar se as filiações afetam as chances de um partido ter candidatura própria, os municípios em que o partido lançou candidato nas eleições municipais anteriores não foram incluídos na análise, para evitar a distorção que candidatos à reeleição poderiam causar.

11% dos eleitores do País são filiados a legendas
Os 18 milhões de registros de filiações partidárias no TSE equivalem a cerca de 11% do eleitorado brasileiro. O porcentual é alto em comparação às democracias europeias, segundo o cientista político Bruno Speck, da Unicamp. "Na Europa, o porcentual de filiados varia de 5% a 15% do eleitorado, mas pouquíssimos países chegam a 15%", afirma ele, dizendo-se surpreso com a taxa do Brasil.

Há, porém, variações regionais nesse fenômeno. Entre os Estados com mais de um milhão de eleitores, são os do Sul que aparecem no topo do ranking das filiações. Em Santa Catarina, 16% dos eleitores são filiados a algum partido. Rio Grande do Sul vem logo atrás, com 15,8% de filiação. Na outra ponta da tabela, aparecem Ceará (8,1%) e Amazonas (8,2%).

Speck fez análise semelhante à do Estadão Dados - e os resultados foram parecidos: as novas adesões a partidos políticos ocorrem em peso nos anos pré-eleições municipais. Segundo o estudo, 70% das filiações são explicadas pelo lançamento de candidaturas a vereador. Quem pretende se lançar candidato busca uma legenda que possa abrigá-lo nos anos que antecedem eleições municipais - sobretudo em agosto e setembro, que antecedem o prazo de um ano determinado pela lei eleitoral.

O número de novas filiações também impacta a votação que cada sigla recebe para vereador, segundo ele. Mas, diferentemente do resultado obtido pelo Estadão Dados nas eleições para prefeito, esse efeito é maior nos municípios médios e grandes (mais de 200 mil habitantes).

Para Speck, a dinâmica das filiações no País é diferente da de democracias europeias. "Na Europa, as filiações são uma forma de mobilizar a população para as eleições. No Brasil, atendem à lógica intrapartidária: são uma maneira de conquistar apoio dentro do partido para o lançamento de candidaturas."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Siglas descumprem cota feminina em propaganda

Mateus Coutinho

O Brasil elegeu em 2010 uma mulher presidente da República, mas os partidos ainda deixam de cumprir as cotas obrigatórias de participação feminina. Só no Estado de São Paulo, 25% das legendas foram alvo de representação da Procuradoria Regional Eleitoral por não reservarem o espaço mínimo exigido pela lei para suas filiadas aparecerem na propaganda partidária. Dessas oito siglas, seis já foram condenadas pelo Tribunal Regional Eleitoral paulista (TRE-SP) à perda de tempo nas peças veiculadas em São Paulo.

PT, PMDB, PSC, PDT, PSB, PP, PSDB e PV foram acionados por não dedicarem, segundo o Ministério Público Federal, pelo menos 10% do tempo das propagandas partidárias no primeiro semestre de 2013 à promoção e participação política femininas. A cota para mulheres nas peças foi instituída em 2009.

Apenas PDT e PMDB tiveram suas representações julgadas improcedentes, mas o MPF já recorreu das decisões. Já os partido s condenados reclamam do critério adotado pela Justiça e afirmam que utilizam mulheres nas propagandas partidárias. Todos recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nas decisões, o TRE adotou o mesmo entendimento da Procuradoria de que só a presença de mulheres nas propagandas não configura promoção da participação feminina. A sanção para quem desrespeita a cota é a perda de cinco vezes o tempo que deixou de ser direcionado para promoção feminina. A pena é aplicada no semestre seguinte à condenação definitiva.

Os partidos condenados divergem da interpretação da lei dada pela Justiça. O diretório paulista do PSB, que usa em suas propagandas a deputada Luiza Erundina, ligada a causas feministas, é um deles. "Pedir para Erundina falar especificamente sobre a participação feminina é querer circunscrevê-la a um toma específico. É até machismo", afirmou o assessor do diretório, Clóvis Vasconcelos. O PSB alega dedicar mais de 10% do tempo da propaganda à participação feminina.

Já o PSC argumenta que a norma não é clara. "Destinamos mais de 20% do tempo para isso, com mulheres falando do PSC Mulher e outras iniciativas, mas dizem que não serve. Não nos falam o que querem que falemos (rias propagandas)", reclamou o secretário estadual da sigla, Emanuel Nascimento.

Entendimento análogo segue o PV, que defende uma interpretação mais abrangente da lei. "O Ministério Público quer que a propaganda fique em uma única temática, quando na verdade o objetivo da lei é maior, é dar espaço político para as mulheres", disse o advogado Ricardo Vita Porto, que defende a sigla.

Em nota, o diretório paulista do PSDB afirmou cumprir "rigorosamente a legislação vigente e ter um Secretariado de Mulheres organizado em praticamente todò o Estado com participação efetiva na atuação partidária". A sigla disse ter nomeado duas obras - Instituto Lucy Montoro e Rede Hebe Camargo - como forma de "prestigiar a participação política feminina".

Machismo. A postura dos partidos, contudo, é criticada pela professora de Direito Eleitoral da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e procuradora da República no Rio, Silvana Batini. "Por maior que seja a ambiguidade da lei, ela não é vaga a ponto de impedir sua aplicação", afirmou a professora, para quem as legendas ainda são ambientes preponderantemente masculinos. "Já ouvi muitos membros de partidos falando que não podem fabricar candidaturas; que mulheres se interessam menos pela política. Será que é ela que não se interessa, ou o partido que não abre espaço para essas lideranças?"

Os diretórios estaduais do PP e do PT afirmaram que recorreram ao TSE. O do PMDB disse cumprir as normas e que o núcleo feminino da sigla é o que mais cresce no Estado. O diretório do PDT não se pronunciou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSB já anuncia chapa de Campos e Marina

SÃO PAULO - O PSB espera para o final deste mês, ou no mais tardar para o início de fevereiro, a formalização do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como o candidato do partido à Presidência.

Campos avisou a correligionários que faria o anúncio nas próximas semanas. Espera-se que, com a decisão, a ex-senadora Marina Silva também formalize seu nome como vice na chapa do pernambucano.

O anúncio ocorrerá após o PSDB formalizar sua entrada no governo de Eduardo Campos e no meio das discussões em São Paulo sobre uma possível aliança do PSB com o governador tucano Geraldo Alckimin.

O diretório paulista do PSB é resistente à pressão feita por Marina para que o partido não se alie a Alckmin, que tentará a reeleição.

O presidente estadual do PSB, deputado federal Márcio França, articula há meses uma aliança com o tucano.

Conforme publicado na coluna Painel da Folha na última quarta, Eduardo Campos e Marina Silva estão prestes a selar um acordo para que o PSB se afaste da candidatura Alckimin em São Paulo.

Segundo interlocutores, o pernambucano foi convencido por Marina a buscar uma alternativa longe do PSDB paulista. Marina rechaça a possibilidade de subir no palanque tucano e quer uma candidatura própria do PSB-Rede no Estado. Em troca, ela anteciparia para os primeiros meses do ano o anúncio de que será vice na chapa presidencial de Eduardo Campos.

"Quando ela [Marina] optou ser vice do Eduardo, não foi apresentada nenhuma condicionante. Isso não é coisa dela, mas de gente do seu entorno", afirmou França.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Haddad frustra expectativas do PT e passa a ser criticado

Partido teme que prefeito prejudique eleição de Padilha ao governo de São Paulo

Sérgio Roxo

SÃO PAULO - Com a popularidade em baixa e desgastado por episódios como a tentativa de aumento do IPTU e a máfia dos auditores fiscais, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, frustrou, após um ano no cargo, a expectativa da direção do PT de transformar a sua gestão em vitrine para o partido acabar com a hegemonia de 20 anos do PSDB no governo do estado. Nos bastidores, é clara a crise entre a legenda e o ex-ministro.

O governo Haddad é visto hoje pelos petistas muito mais como um obstáculo do que como trunfo para as pretensões de eleger o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em outubro, e de ajudar no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mentor da candidatura do seu ex-ministro da Educação, tem demonstrado preocupação com os rumos da gestão de um de seus “postes”, apesar de os dois ainda conversarem diariamente ao telefone, de acordo com um assessor do prefeito.

Após desbancar na primeira disputa eleitoral de sua vida o ex-governador, ex-prefeito e duas vezes candidato a presidente José Serra (PSDB) na eleição do ano passado, Haddad enfrentou uma série de dificuldades nos primeiros 12 meses no cargo. Por causa de decisões da Justiça, não conseguiu acabar definitivamente com a inspeção veicular nem engrossar o caixa da cidade com reajuste de até 35% do IPTU. Também desistiu de obras que impulsionariam o projeto de Arco do Futuro (plano para decentralizar o foco de desenvolvimento da cidade), uma das principais bandeiras de sua campanha.

No meio do caminho, ainda foi atingido em cheio pela onda de manifestações de junho. Foi por causa do aumento de R$ 0,20 da passagem dos ônibus anunciado em maio por Haddad que os protestos começaram e ganharam todo o país. O petista inicialmente bateu o pé e afirmou que não voltaria atrás. Porém, depois de ver a sede da prefeitura ser atacada por vândalos, recuou e anunciou a redução da tarifa ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), na sede do governo estadual.

Para os petistas, a união ao tucano na hora de anunciar a “bondade” esperada pela população foi um erro estratégico, que contribuiu para o desgaste da gestão. O argumento de Haddad é que Alckmin havia aceitado junto com ele o pedido do governo federal para adiar o reajuste dos preço da tarifa do trem e do metrô do começo ano para não elevar a inflação. Assim, seria necessário também agir conjuntamente no momento da redução das passagens.

Estratégias políticas à parte, o fato é que o prefeito viu a sua popularidade despencar depois das manifestações. No começo de junho, antes dos protestos ganharem corpo, 34% dos paulistanos consideravam a gestão ótima ou boa e apenas 21% ruim ou péssima, segundo o Datafolha. No final do mesmo mês, os índices mudaram para 40% de ruim ou péssimo e apenas 18% de ótimo ou bom. Na última pesquisa, divulgada em dezembro, o índice de ótimo ou bom se manteve em 18% e o de ruim ou péssimo, oscilou para 39%.

Mesmo reconhecendo o impacto negativo das manifestações, internamente, a gestão atribui boa parte da má avaliação aos problemas na área da Saúde. A gestão do secretário José de Filippi Junior, homem de confiança de Lula e caixa das campanhas presidenciais petistas de 2006 e 2010, está na corda bamba.

Os aliados de Haddad também reconhecem problemas na comunicação. Dizem que o prefeito, pelo estilo discreto, não consegue se vincular a medidas, como a criação de 295 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, que são bem avaliadas em pesquisas internas da administração. Os dirigentes petistas cobram uma estratégia mais agressiva de comunicação para divulgar medidas positivas, como o bilhete único mensal, implantado em novembro.

Líderes do partido também se queixam que Haddad não escuta o partido. Já os aliados mais próximos, argumentam que o prefeito não embarca em factoides.

— É natural esse ataque do partido ao prefeito, que é um homem de convicção e está fazendo o que acha certo para a cidade sem se preocupar com indicadores de popularidade — afirma o secretário de Comunicação, Nunzio Briguglio.

Os integrantes do PT acreditam que o ex-ministro trocou a política por uma gestão técnica.

— Combate à corrupção não pode ser bandeira de um governo. Tem que combater, mas não pode transformar isso em marca de gestão porque a população entende como obrigação — afirma um dirigente petista, em referência às investigações internas da administração para desbaratar a atuação da máfia de fiscais que cobravam propina para sonegar ISS.
Sem poder atacar rivais

No episódio, Haddad viu o seu principal secretário, Antonio Donato (Governo), ser tragado pelo escândalo que inicialmente tinha como alvo a gestão do antecessor, Gilberto Kassab (PSD). Depois de seguidas revelações de ligação com o grupo investigado, Donato se viu obrigado a pedir demissão.

— Também surgiram denúncias contra secretários do Alckmin no caso das propinas das obras do metrô e ninguém saiu — se queixa um petista.
Os petistas veem o dedo de Kassab, cuja gestão havia sido atacada por Haddad dias antes, na divulgação das denúncias contra Donato.

Os aliados do prefeito se queixam das amarras políticas impostas pelas alianças partidárias petistas. Reclamam, por exemplo, da falta de apoio da legenda para confrontar o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), por ter veiculado propagandas na TV para criticar o aumento do IPTU na cidade.

A aliança com o PSD de Kassab no plano federal também impede confrontar as mudanças na cidade com o que era feito antes.

Para aproximar o partido da gestão paulistana, os presidentes estadual e municipal, Emídio de Souza e Paulo Fiorilo, farão reuniões mensais com Haddad.

Fonte: O Globo

Rio de Janeiro: Super bloco

• Caciques do PSD, PSB, PSDB, PV, PPS. Solidariedade e PROS tem mantido uma conversa animada

• Pensam em formar um bloco em torno de uma candidatura única ao governo do estado.

• Se a coisa vingar, teriam um terço do tempo de TV.

• Entre os cotados para cabeça de chapa estão Alfredo Sirkis (PSB), Miro Teixeira (PROS), e Rosa Fernandes (SDD)

Fonte: Jornal Extra / Coluna Berenice Seara

Mudar o rumo - Fernando Henrique Cardoso

Ano novo, esperanças de renovação. Mas como? Só se mudarmos o rumo. A começar pela visão sobre o inundo que ressurgirá da crise de 2007-2008. O governo petista, sem o dizer, colocou suas fichas no "declínio do Ocidente" Da crise surgiria uma nova situação de poder na qual os Brics, o mundo árabe e o que pudesse assemelhar-se ao ex-Terceiro Mundo teriam papel de destaque. A Europa, abatida, faria contraponto aos EUA minguantes.

Não é o que está acontecendo: os americanos saíram à frente, depois de umas quantas estripulias para salvar seu sistema financeiro e afogar o mundo em dólares, e deram uma arrancada forte na produção de energia barata. O mundo árabe, depois da Primavera, continua se estraçalhando entre xiitas, sunitas, militares, seculares, talibãs e o que mais seja. A Rússia passou a ser produtora de matérias-primas. Só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia. 

Provavelmente as próximas décadas serão de "coexistência competitiva" entre os dois gigantes, EUA e China, com partes da Europa integradas ao sistema produtivo americano e com as potências emergentes, inclusive nós, o México, a África do Sul e tantas outras, buscando espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância. 

Nessa ótica, é óbvio que a política externa brasileira precisará mudar de foco, abrir-se ao Pacífico, estreitar relações com os EUA e a Europa, fazer múltiplos acordos comerciais, não temer a concorrência e ajudar o País a se preparar para ela. O Brasil terá de voltar a assumir seu papel na América Latina, hoje diminuído pelo bolivarianismo prevalecente em alguns países e pelo Arco do Pacífico, com o qual nos devemos engajar, pois não deve nem pode ser visto como excludente do Mercosul. Não devemos ficar isolados em nossa região, hesitantes quanto ao bolivarianismo, abraçados às ir-racionalidades da política argentina, que tomara se reduzam, e pouco preparados em face da investida americana no Pacífico.

Para exportarmos mais e dinamizar nossa produção para o mercado interno a ênfase dada ao consumo precisará ser equilibrada por maior atenção ao aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais e das demais iniciativas de integração social. A promoção do aumento da produtividade, no caso, não se restringe ao interior das fábricas, abrange toda a economia e a sociedade. 

Na fábrica, depende das inovações e do entrosamento com as cadeias produtivas globais, fonte de renovação; na economia, depende de um ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura; e na sociedade, de maior atenção à qualificação das pessoas (educação) e às suas condições de saúde, segurança e transporte. Sem dizer que já é hora de baixar os impostos, sem selecionar setores beneficiários, e de abrir mais a economia, sem temer a competição.

Isso tudo num contexto de fortalecimento das instituições e práticas democráticas e de redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado. Será preciso despolitizar as agências reguladoras, robustecê-las, estabilizar os marcos regulatórios, revigorar e estimular as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais. 

Noutros termos, fazer com competência o que o governo petista paralisou nos últimos dez anos e o atual, de Dilma Rousseff, se vê obrigado a fazer, mas o faz atabalhoadamente, abusando do direito de aprender por ensaios e erros, deixando no ar a impressão de amadorismo e dúvida sobre a estabilidade das regras do jogo. Com isso não se mobilizam no setor privado os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o País dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade.

Mordido ainda pelo DNA anti-privatista e estatizante, persiste o governo atual nos erros cometidos na definição do modelo de exploração do pré-sal. A imposição de que a Petrobrás seja operadora única e responda por pelo menos 30% da participação acionária em cada consórcio, somada ao poder de veto dado à PPSA nas decisões dos comitês operacionais, afugenta número maior de interessados nos leilões do pré-sal, reduz o potencial de investimento em sua exploração e diminui os recursos que o Estado poderia obter com decantado regime de partilha. É ruim para a Petrobrás e péssimo para o País.

Além de insistir em erros palmares, o atual governo faz contorcionismo verbal para negar que concessões sejam modalidades de privatização. É patético. Também para negar a realidade se desdobra em explicações sobre a inflação, que só não está fora da meta porque os preços públicos estão artificialmente represados, e sobre a solidez das contas públicas, objeto de declarações e contabilidades oficiais às vezes criativas, não raro desencontradas, em geral divorciadas dos fatos.

Tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais (felizmente, nem todas cederam à sanha partidária) os nódulos de interesses privados e/ou partidários que dificultam a eficiência e facilitam a corrupção. Não menos necessário será restabelecer o sentido de serviço público nas áreas sociais, de educação, saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos. Só revalorizando a meritocracia e com obsessão pelo cumprimento de metas o Brasil dará o salto que precisa dar na qualidade dos serviços públicos. 

Com uma carga tributária de 36% do PIB, recursos não faltam. Falta uma cultura de planejamento, cobrança por desempenho e avaliação de resultados, sem "marquetismo". Ou alguém acredita que, mantido o sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo, enfrentaremos com sucesso o desafio?

É preciso redesenhar a rota do País. Dois terços dos entrevistados em recentes pesquisas eleitorais dizem desejar mudanças no governo. Há um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente. Cabe às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas.

É a esperança que tenho para 2014 e são os meus votos para que o ano seja bom.

*Sociólogo, foi presidente da República

Fonte: o Estado de S. Paulo / O Globo

A busca do novo - Merval Pereira

O chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira, formado pelos estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, reúne 42% do eleitorado nacional e, diante das mudanças na geografia política do Norte e do Nordeste, deve ser o centro das batalhas decisivas da eleição presidencial de 2014.

Minas e São Paulo têm forte predominância do PSDB estadual, mas o PT vem ganhando força em São Paulo, com a recente vitória para a prefeitura da capital que, paradoxalmente, pode mostrar-se uma fragilidade para a candidatura de Alexandre Padilha, com a administração criticada de Fernando Haddad até o momento.

No Rio e em São Paulo, a ex-senadora Marina Silva teve grandes votações em 2010, e pode atuar como ativa apoiadora de Eduardo Campos, no caso de vir a ser confirmada como sua candidata a vice.

Se em 2010 a presidente Dilma elegeu-se com uma votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirou mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no segundo turno, este ano há alterações importantes que indicam que a votação naquelas regiões pode ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que ela continue com vantagens.

Com a candidatura de Eduardo Campos pelo PSB, a oposição está mais forte no Nordeste, além de Pernambuco, enquanto o PSDB deve ter melhor desempenho na Bahia, devido à aliança com o DEM do prefeito de Salvador ACM Neto em aliança com o PMDB local, e no Amazonas, devido à liderança do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.

Nesses estados, Dilma teve quase seis milhões de votos de diferença a seu favor, o que não deve acontecer este ano. Em Minas e em Pernambuco, o PSB e o PSDB já acertaram alianças com palanques duplos nos dois estados, o que retira a força da candidatura Dilma.

O Rio, onde a presidente teve uma vitória com 3,7 milhões (43,8%) no 1º turno, e 4,9 milhões (60,5%) no 2º, a situação continua sendo amplamente favorável ao governo federal, mesmo que o governador Sérgio Cabral esteja enfraquecido politicamente.

A reeleição de Dilma tende a ter o apoio não apenas do PMDB local como dos possíveis candidatos Garotinho, do PR, Marcelo Crivella do PRB, e do PT com o senador Lindbergh Farias. PSB e PSDB estão à procura de um candidato que represente o novo na política, na tentativa de explorar a grande rejeição que atinge todos os favoritos. O ex-prefeito Cesar Maia deve ser, como candidato do DEM, o único oposicionista com algum peso.

O senador Aécio Neves articula a candidatura do treinador da seleção brasileira de vôlei Bernardinho, dentro dessa tentativa de apresentar ao eleitor carioca uma alternativa nova. Ao mesmo tempo, coloca em sua balança a possibilidade de que um racha entre o PT e o PMDB de Cabral possa provocar uma dissidência informal que leve parte da máquina partidária a trabalhar em favor de sua candidatura.

O PSB tem em Marina Silva seu principal trunfo no Rio, onde ela obteve uma grande votação em 2010. Por isso, a candidatura própria é a alternativa, podendo optar pelo deputado federal Alfredo Sirkis, ex-PV que se filiou ao PSB, ou o ex-ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil.

O deputado federal Miro Teixeira, que esteve com Marina na formação do Rede Sustentabilidade e se filiou ao PROS, é uma alternativa tanto para o PSB quanto para o PSDB, mas ambos os partidos temem que compromissos do PROS com o governo federal impeçam uma aliança oposicionista. Miro Teixeira tem conseguido autonomia no estado para fazer alianças e se mantém como uma peça importante no xadrez político do Rio, com a simpatia de Marina.

Uma eventual candidatura do ministro Joaquim Barbosa a uma vaga para o Senado pode ser fator novo na disputa, influenciando a corrida pelo governo do Rio. Há pequenos partidos oferecendo legenda para o presidente do Supremo disputar o governo estadual, mas nada indica que esteja inclinado a mais essa aventura, como classificou o ex-presidente Fernando Henrique a possibilidade de Barbosa vir a ser candidato à Presidência da República.

Fonte: O Globo

Pequenas lições para 2014 - Gaudêncio Torquato

O ano que se inicia será um dos mais competitivos das últimas décadas. Principalmente na esfera da política. As razões apontam para o esgotamento do nosso modelo de fazer política, a partir de velhas práticas de campanhas eleitorais.

O desenho é carcomido pela poeira do tempo: são raros os perfis identificados com mudanças; formas de cooptação eleitoral inspiram-se nos eixos históricos do fisiologismo e do corporativismo, sendo tênue o engajamento do eleitor pela via doutrinária; os eleitos, de forma geral, acabam se distanciando das bases, deixando de lado compromissos assumidos; a representação parlamentar, em razão do poder quase absoluto do presidencialismo, toma-se deste refém, obrigando-se a repartir com o Poder Executivo funções legislativas; em decorrência da ausência de programas doutrinários, imbricam-se interesses de lideranças e partidos, não se distinguindo diferenciais entre eles, condição essencial para qualificar o voto. A impressão final é de que o retrato desfigurado está a merecer urgente retoque, se não em todas as nuances da moldura, ao menos em partes que ofereçam aparência asséptica ao edifício político. Fichas-sujas, por exemplo, não podem continuar no mapa eleitoral.

Os ingredientes que entrarão na composição da nova tintura hão de absorver a química de setores e categorias mais participativas, exigentes e dispostas a enfrentar a resistência de defensores de obsoleta arquitetura política. É oportuno lembrar que o corte da pirâmide social não mais se assemelha a um triângulo estático. Os lados que o integram, a partir da base, mostram-se dispostos a sair da letargia, depois de décadas convivendo com a batelada de vírus políticos. Os movimentos sociais e a ocupação das ruas, no ano que findou, sinalizam a intenção de reencontrar o tempo perdido. A coletividade parece descer do céu da abstração para ser uma força na paisagem, fazendo valer sua determinação, princípios e valores voltados para qualificar a vida política.

O curto dicionário abaixo poderá servir de baliza para milhares de candidatos na tentativa de aprimorar suas relações com a comunidade nacional. Estado e Nação - O Estado, infelizmente, está bastante distante da Nação com que os cidadãos sonham. A Nação é a Pátria que acolhe os filhos, que se irmana na fé e na esperança de um futuro melhor, é o hábitat onde as pessoas constroem os pilares da existência, constituem o lár, prezam antepassados, cultivam tradições. O Estado é a entidade , técnico-jurídica, com seu arcabouço de Poderes, pressionada por interesses díspares e dividida por conflitos. Aproximar o Estado da Nação, formando o espírito nacional, constitui a missão basilar da política. Essa meta precisa ser o centro da agenda do homem público.

Representação - A representação política é missão, não profissão. É a lição de Aristóteles. Resgatar o verdadeiro papel da política - trabalhar pela polis - significa clarificar o papel do representante, as demandas das comunidades, as soluções para a melhoria dos padrões da vida social. A política não é um balcão de negócios. As angústias urbanas expandem-se na esteira do crescimento populacional. As
periferias não constituem massa de manobra para exploração por siglas, líderes popularescos e oportunistas. Carecem de ações de efeito duradouro, não de quinquilharias e coisas improvisadas. Migalhas poderão alimentar o povo por certo tempo, nunca por todo o tempo. Um representante do povo se preocupa com metas, programas permanentes, medidas estruturantes.

Identidade - A identidade é a coluna vertebral de um político. E a soma de sua história, de seu pensamento, de suas percepções e de seus feitos. Um erro, que o tempo corrigirá, é construir a imagem incongruente com a identidade. Camadas exageradas de verniz corroem perfis. Dizer a verdade dá credibilidade. Os novos tempos condenam a hipocrisia, a simulação. Corretos são conceitos como lealdade, fidelidade, coerência, sinceridade, honestidade pessoal e senso do dever.

Discurso - O discurso deve abrigar propostas concretas, viáveis, simples. E, sobretudo, factíveis. A população dispõe de entidades que a representam. Resta ao político procurar tal universo. O povo quer um discurso sincero. Promessas mirabolantes, planos fantásticos, obras faraônicas, de tão banalizadas, já não despertam interesse. Até as monumentais arenas esportivas entram na lista de suspeições.

Grito das mas - O grito das ruas faz-se ouvir nos espaços dos Poderes em todas as instâncias. Expressam a vontade de uma nova ordem social e política. Urge abrir os ouvidos e a mente para interpretar o significado de cada movimento. Quem não fizer esse exercício sairá do cenário. Uma linguagem comum se forma nos centros e nos fundões do País. O povo sabe distinguir oportunistas de idealistas.

Sabedoria - Sabedoria não significa vivacidade. Mescla aprendizagem, compromisso, equilíbrio, busca de conhecimentos, capacidade de convivência, racionalidade. Não é populismo. "Espertos" que procurarão vender gato por lebre poderão ser cozidos no caldeirão do voto.

Transparência - A era do esconderijo está agônica. Esconder (mal) feitos é um perigo. A corrupção, mesmo dando sinais de sobrevida, é atacada em muitas frentes. Grandes figuras foram (e continuarão a ser) punidas. Denúncias sobre negociatas agora são objeto da lupa dos sistemas de controle. O público e o privado começam a ter limites controlados.

Simplicidade - Despojamento, eis um apreciado conceito. Lembrem-se do papa Francisco. Ser simples não é pegar crianças no colo, comer cachorro-quente na esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. A simplicidade está no ato de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas nem maquiagens.

Lição final do filósofo e sociólogo José Ingenieros: "Cem políticos torpes, juntos, não valem um estadista genial".

*Jornalista, professor titular da USP

Fonte: O Estado de S. Paulo

O caldeirão dos 'nervosinhos' - Eliane Cantanhêde

O ano começou fervendo, com sensação de 50 graus no Rio, previsões tórridas na economia e borbulhas na política. Caldeirão perfeito para Copa e eleições.

Mantega tratou de jogar água na fervura anunciando na primeira semana do ano que, ufa!, o governo deve fechar 2013 superando a meta do superavit fiscal em R$ 2 bilhões.

Segundo ele, o anúncio, que costuma ser no final de janeiro, foi antecipado para "acalmar os nervosinhos". Cá para nós, também foi para contrabalançar outros resultados: o Brasil teve o menor saldo comercial em 13 anos; o melhor investimento de 2013 foi o dólar, que entrou 2014 em forte alta; e, segundo manchete do UOL na sexta, o valor da Petrobras encolheu pela metade desde 2010.

E vem aí o anúncio do pibinho, com agentes do governo, e de fora do governo, tremendo diante da perspectiva de rebaixamento do Brasil nas agências de risco. Sem falar nas críticas sobre os jeitinhos e as plataformas de petróleo para reduzir o estrago (inclusive político) do resultado da balança comercial.

Na política, o PMDB ataca o parceiro PT, repetindo um script manjado em ano eleitoral. Os ministérios do PT seguram as emendas peemedebistas, os do PMDB ameaçam retaliar com a mesma moeda, todos se xingam em público. Tudo isso no calor das disputas estaduais. Aliados em Brasília, os partidos de Dilma e do seu vice Temer estão em guerra em Estados como Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão e Amazonas.

E vem aí a reforma ministerial, ateando fogo à base aliada e com os palanques desmontando o tripé feminino do Palácio do Planalto: Gleisi Hoffmann concorre ao governo no Paraná, Ideli Salvatti vai para o Senado em Santa Catarina. Os substitutos deverão ser homens e do PT. Mas a guerra com o PMDB continua.

Dilma e Mantega vão precisar de bem mais que RS 2 bilhões a mais de superavit para acalmar tantos e tão esquentados "nervosinhos".

Fonte: Folha de S. Paulo

Aniversários redondos – Miriam Leitão

É muito aniversário redondo num ano só: 50 anos do golpe militar, 30 anos da campanha das Diretas, 20 anos do Plano Real. Pauta para os jornais, para os promotores de seminários e bom para a reflexão. Há ainda os aniversários de dores e alegrias no esporte: 20 anos da morte de Ayrton Senna, 20 anos da vitória na Copa de 94, o nosso Tetra. Oito anos depois, repetimos o feito.

No dia que mais choveu no Rio de Janeiro, em 2013, eu tinha um debate em São Paulo sobre resistência à ditadura. Ainda bem que desafiei o mau tempo e o abre e fecha do aeroporto porque foi um encontro que me permitiu uma conversa com jovens, bem jovens mesmo, que não viram nada do que lembramos em 2014. Nasceram depois de tudo.

A conversa no CCBB era sobre a ditadura militar. Um quis saber por que tanto esforço pela democracia, se ela era “apenas” isso. Falou-se em “política podre.” Outra me perguntou por que não soubera na escola nada daquilo que era mostrado na exposição. Era o “Resistir é Preciso”, do Instituto Vladimir Herzog, que, depois de ter passado por Brasília, foi para São Paulo e chega em fevereiro ao Rio. É impactante, principalmente a sala escura dos mortos e desaparecidos.

O passado passou tão depressa que nem vimos direito e mal tivemos tempo de contar aos mais jovens o que era viver no meio de uma ditadura e com a inflação fugindo ao controle. O presente é tão intenso, com prisão de mensaleiros, alguns deles ex-militantes contra a ditadura, que tudo fica embaralhado na cabeça do jovem.

A luta contra o regime militar não absolve os mensaleiros, os erros do presente não apagam o passado. A democracia não é garantia de governo perfeito, mas é a chance de votar regularmente para manter ou mudar o governo; conforme queira a maioria. É a possibilidade de debater, criticar o governo, influenciar nas decisões tomadas e exigir transparência.

É desafiador falar aos muito jovens. Eles não têm que acreditar em nós, os que vimos a ditadura. E o melhor é que apontem as falhas dos governos democráticos, duvidem dos mais velhos e queiram mais. Eram jovens da periferia de São Paulo, que têm muitas aspirações. Que bom que têm. Empilhei todos os avanços que a democracia conseguiu: estabilização da economia, redução da pobreza, universalização do ensino fundamental. E eles não acharam que é o bastante. Ótimo.

Quem estava na Praça da Sé no dia 25 de janeiro de 1984 teve muita sorte. Foi o mais bonito de todos os comícios porque pegou até os organizadores de surpresa. Quantos mil? Ninguém jamais soube, mas não dava para se mexer naquela multidão compacta. Parecia um corpo só, uma voz só. Nos outros, houve mais gente, mas aquele foi o mais inesquecível. A surpresa da Sé começou no amarelo onipresente dos vagões do metrô. Ali se soube que a ditadura estava derrotada, ainda que ela tenha derrubado a emenda das eleições diretas para presidente; direito que exerceremos este ano pela sétima vez consecutiva.

O governo militar foi todo ruim. Não houve a parte boa na economia, como dizem seus defensores. A inflação entregue pelos militares já tinha contratado a escalada que iria consumir a primeira década democrática. Os erros econômicos dos governos civis foram responsabilidade de quem os cometeu, principalmente o violento Plano Collor, mas foi a indexação generalizada e a leniência com a inflação que produziram a tragédia econômica que foi vencida pelo Real.

Há 20 anos o Brasil viveu um ano difícil, com várias emoções misturadas. O Plano Real foi diferente porque foi lançado depois de bem explicado e com direito a meses de treino da URV: de março a julho. Na meio desse trabalho de transição para a mudança do padrão monetário, o país viveu a dor da morte de Ayrton Senna e a vitória na Copa do Mundo. O fundo da tristeza e a alegria no campo dos esportes, enquanto o país se esforçava para entender a nova ordem econômica e monetária. Naquele ano houve ainda eleição presidencial.

Este ano também será intenso. De lembrar tudo isso, refletir sobre cada lição, de sediar uma Copa do Mundo e de votar novamente. Nos momentos mais tensos será bom lembrar o quanto o Brasil melhorou, quantas vezes ganhou, o legado de todas as pessoas que perdemos em muitas lutas. E dizer aos muito jovens que por maiores defeitos que tenha democracia, ela traz consigo os elementos para sua correção.

Fonte: O Globo

Brasília-DF – Denise Rothenburg

O dono da bola
Pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves definirá, logo após o carnaval — primeira quinzena de março —, qual será o concorrente tucano ao governo de Minas Gerais. Os dois postulantes ao cargo são o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga e o deputado federal Marcus Pestana.
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Ambos estão alinhadíssimos com a candidatura presidencial de Aécio. Para não melindrar um ou outro por conta da escolha, Aécio vai se basear em pesquisas qualitativas para saber qual o nome mais forte para manter a hegemonia do tucanato em Minas Gerais.
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Aécio quer abrir 2 milhões de votos de vantagem sobre a presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro para compensar uma possível liderança da petista na região Nordeste.

CURTIDAS
Acarajé com queijo minas/ Na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país, Aécio também está interessado em montar um palanque forte. Mas lá quem conduzirá as conversas será o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) (foto), muito interessado em retomar o prestígio do carlismo no estado.

Estamos juntos/ PMDB, PSDB e DEM estarão no mesmo palanque para tentar derrotar o candidato do PT, Rui Costa, chefe da Casa Civil do governador Jaques Wagner. Os postulantes são o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Geddel Vieira Lima (PMDB).

Painho!/ O cuidado de Aécio com o estado é tão grande que ele bancou, em novembro, a eleição de Antonio Imbassahy para a liderança da bancada na Câmara, pondo um fim na briga entre paulistas e mineiros. No mesmo dia, ele fez questão de agradecer ao senador mineiro. "Rapaz, você tá forte, hein?!", destacou o baiano.

Não está...
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, rezou para que 2013 terminasse logo. O petista acha que perdeu o primeiro ano de mandato, tantos foram os problemas enfrentados por ele. Mas a virada da folhinha no calendário não trouxe a paz que ele esperava.

...Sendo fácil
Desde que foi obrigado a exonerar Antonio Donato da secretaria de Governo, por suspeita de receber propina dos fiscais do ISS, Haddad mantém Roberto Garibi como interino. O prefeito quer nomear o secretário de Negócios Jurídicos, Luís Massoneto. O PT avalia como um bom nome, mas considera técnico demais. Para contrapor-se ao PSDB, os petistas querem um político no cargo.

Debaixo da asa
Os petistas reclamam que tiveram que rifar Donato, mas o governador Geraldo Alckmin manteve os três secretários suspeitos de envolvimento no cartel dos trens de São Paulo. E lembram que Robson Marinho, outro suposto beneficiário do pagamento de propinas pelas multinacionais, segue como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

Convers@ de domingo
O relator do marco civil da internet, Alexandre Molon (PT-RJ), fala à coluna da sua proposta e das negociações que fez até o momento para tentar aprovar o primeiro projeto polêmico em pauta este ano. Veja no site www.correiobraziliense.com.br.

Fonte: Correio Braziliense

Política - Cláudio Humberto

Cuba fatura com sangue
A sangria desatada do governo federal com a importação de médicos cubanos por R$ 511 milhões recebeu injeção de US$ 16,8 milhões de sangue humano de Cuba na balança comercial dos dois países. Com uma vertente macabra: os doadores cubanos ignoram a exportação do "produto" no mercado internacional, revela a ONG Cuba Archive, integrante do Free Society Project, em Washington, no primeiro relatório de 2014. Doar sangue é mais um "ato revolucionário" na ilha. Os números de Cuba e do Ministério do Desenvolvimento sobre o comércio de sangue humanos e produtos biológicos são de 2011. O regime dos Castro convoca a população à "ajuda humanitária internacional" e outros pretextos, em troca de um prato mais sortido. Diz ainda a ONG que a prática, iniciada nos primórdios sangrentos do regime, criou "doadores permanentes" e troca de favores por sangue. O relatório pede investigação da Organização Mundial de Saúde no comércio, exportação e condições sanitárias da doação de plasma.

Chegando a hora
Chefe da Casa Civil, a ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) já pediu ao suplente Sérgio de Souza (PMDB-PR) para esvaziar as gavetas do gabinete. A petista pretende voltar ao Senado entre 15 e 17 de janeiro.

Herói sem título
Convidado pela ONU para chefiar missão de paz na República Democrática do Congo, na África, o general de divisão Carlos Roberto Santos Cruz sequer conseguiu título de general de exército no Brasil. Ele foi reconhecido internacionalmente após operação para manter estabilidade no Haiti (Minustah), onde comandou as forças da ONU, com direito a prorrogação, entre 2007 e 2009.

Tem prestígio
O general Santos Cruz comanda tropa de mais de 23,7 mil homens no Congo e tem sido convidado para dar palestras nos EUA e na Europa.

Feito histórico
Santos Cruz é apontado pela mídia internacional como fator decisivo para derrotar junto ao exército congolês rebeldes do grupo armado M23

Desperdício
Ao chegar do Haiti, o general passou a atuar na Secretaria de Assuntos Estratégicos, quando foi convidado pela ONU para a missão no Congo.

Está bem assim
Filiado ao PSB a convite do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o ex-deputado Luiz Piauhylino não deseja mesmo retomar sua admirada carreira política. Dedica tempo integral à advocacia.

Passou do limite
Líder do PSD, Moreira Mendes (RO), critica a "omissão do governo" sobre os conflitos entre índios e a população. "Tem casos muito piores que esse de Humaitá, e ninguém faz nada. Índio pode tudo neste País."

Cotado
Possível candidato a prefeito de Goiânia em 2016, o deputado Sandro Mabel (GO) é cotado entre peemedebistas para assumir o lugar do colega Gastão Vieira (MA) no comando do Ministério do Turismo.

O piloto sumiu
O sistema de registro de voos de jatinhos no portal da FAB saiu do ar na sexta (3), com o recesso da freguesia política. Mas só o sistema.

Frase
"É assim mesmo: cada artista faz o seu preço"
Cantora Beth Carvalho, sobre seu cachê quatro vezes menor que o de Carlinhos Brown na virada carioca

Portas abertas
Presidente do Solidariedade no Maranhão, o deputado Simplício Araújo defende a filiação do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ao partido no Rio de Janeiro, onde poderia sair candidato ao Senado.

Agenda
O ano mal começou e a Central Única de Trabalhadores (CUT) já marcou o primeiro encontro da "cumpanhêrada" em pleno ano eleitoral para lançar "a agenda de lutas": será às 16h, de 15 de janeiro, na sede.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Direto de Brasília -João Bosco Rabello

Abstinência programada
O aumento do IOF em 1,5 mil por cento e a suspensão das desonerações de impostos marcam o fim da política econômica expansionista, iniciada em 2008, base da sustentação eleitoral dos governos Lula e Dilma.

O governo começa a ter de sacrificar posições, como a de preservar integralmente a aprovação da classe média, para não arriscar perdas na faixa do eleitorado mais importante numericamente.

Por isso, um IOF maior, que tira o humor do eleitor mais bem informado, e pouca ou nenhuma alteração em desonerações concedidas a setores como o de eletrodomésticos.

Garros mais caros, sem qualquer contrapartida na chamada mobilidade urbana, também danificam o patrimônio eleitoral da presidente Dilma Rousseff nos grandes centros urbanos, em que pese a distância que ainda separa os atos de seus efeitos.

O país entra no ciclo da abstinência, que o governo administra homeopatica-mente para graduar a retirada da anestesia consumista.

O endividamento das famílias e a inflação em viés de alta, fatores até aqui negligenciados pelo governo Dilma por conveniência eleitoral, impuseram a rendição antes do início formal da campanha.

Não são, certamente, o resultado e o timing esperados pelo governo, embora o primeiro fosse óbvio e o segundo uma arriscada aposta que empurra a conta de truques e maquiagens para 2015.

Jornais estrangeiros já registram esse momento, com o enfoque de uma vida mais cara para a ciasse média brasileira em 2014.

Lembram a insustentabilidade, este ano, da administração de preços feita pelo governo, em 2013, como no caso da energia elétrica e dos transportes públicos.

No exterior, a camisa de força imposta à Petrobrás é também contabilizada como uma bomba-relógio incontornável.

A empresa fez duas correções nos preços dos combustíveis em 2013, lembram especialistas, mas precisará ir além disso para viabilizar seu Plano de Investimentos.

O governo deveria se preocupar com um aspecto inerente aos processos de correção de rumos: a economia cobra maior velocidade na arrumação da casa do que se levou para desorganizá-la.
Como tudo é feito para que o mal ocorra em 2015, a conta lá será grande para quem vencer.

Como resume o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel, a conjuntura não pennite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias "são males cuja superação vão requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política".

Mal necessário
Não escapou aos mais atentos que o Refis, que deu R$ 20 bilhões para fechar a meta fiscal, foi vetado em janeiro por Dilma sob a justificativa da Fazenda de "estimular os maus pagadores".

Trunfo
Pesquisa que aponta Marina Silva como decisiva para a dianteira de Eduardo Campos sobre Aéçio Neves em São Paulo pode determinar o fim do apoio do PSB à reeleição de Geraldo Alckmin.

Horror
O senador José Sarney, em resposta a crítica desta coluna, pede que se registre sua repulsa à violência no presídio de Pedrinhas (MA), que considera "desumana".

NO PORTAL
Blog. Violência põe em xeque gestão penitenciária pelo Executivo

Fonte: O Estado de S. Paulo

Panorama Política – Ilimar Franco

Marcando em cima
A Polícia Federal prepara uma força-tarefa para atuar no combate ao turismo sexual e a venda de mulheres para prostituição durante a Copa do Mundo. Um grupo ficará de olho na movimentação de estrangeiros que virão ao Brasil para os jogos, mas com segundas intenções. O trabalho será feito em todas as cidades sede, mas há preocupação maior com o Rio e Natal.

Pedras no caminho
De boas intenções para este ano a Polícia Federal está cheia. Mas pesa sob a instituição ameaça de greve dos agentes, única categoria de servidores federais que não chegou a acordo salarial com o governo em 2013. Os agentes estão se articulando para fazer paralisações na Copa do Mundo. O maior temor do governo é que a pressão por reajuste contamine as policiais civis e militares num período em que a segurança não pode falhar. Com as eleições, o governo tem prazo até abril para resolver o impasse, já que não pode dar aumento a partir de 180 dias das eleições. Em contrapartida, os delegados da Polícia Federal fizeram pacto de não entrarem na greve.

Força-tarefa
Para garantir todo o seu contingente nas ruas durante a Copa do Mundo, a Direção Geral da Polícia Federal proibiu todos os servidores a entrar de férias ou pedir licença capacitação nos meses de junho e julho.

“Sei não! Acho que 2014 é para fritar bolinho no Congresso.”

Delcídio Amaral
Senador (PT-MS), criticando a pauta trancada de votações da Câmara e a previsão de que nada será apreciado a partir de junho por causa da Copa e, depois, pelas campanhas eleitorais.

Afinados
O presidente do Incra, Carlos de Guedes, é o preferido para assumir o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário, no lugar de Pepe Vargas (PT-RS), que deixará o cargo para concorrer a deputado. Guedes é da linha da presidente Dilma, de não se preocupar com o número de assentamentos, mas com a qualidade deles.

Lobby empresarial
Chegou ao STF torcida de empresários para que os ministros proíbam as doações de pessoas jurídicas nas campanhas. Esperam uma justificativa legal para se livrar do que chamaram de “achaque eleitoral.”

Relação no divã
Integrantes do PSB perderam a paciência com a Rede, de Marina Silva. “Parece que estão fazendo um favorzão em nos apoiar”, diz um socialista, que critica os debates impostos por militantes. “Uns querem proibir a pílula anticoncepcional porque é poluente. Outros discutem a temperatura ideal da comida”, critica.

O estrategista
O argentino Diego Brandy deverá ser o principal coordenador da área de marketing da campanha de Eduardo Campos à Presidência. O PSB pensou em contratar Renato Pereira, que deixou a campanha de Aécio Neves (PSDB), mas recuou.

Em família
A design gráfica Ana Dias foi responsável pela arte do livro “A Rua, a Nação e o Sonho”, do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Foi a primeira parceria profissional de pai e filha. O livro está com a segunda edição no forno.

O governo está preocupado com a questão indígena e radicalização dos protestos. Vai priorizar o assunto para não contaminar a eleição.

Fonte: O Globo

Memória Política: Em massa, regime demite comunistas

Após o golpe de 1964 e as exonerações de Celso Furtado e do adjunto Chico de Oliveira, ocorrem demissões em massa de técnicos e servidores da Sudene "subversivos", acusados ou suspeitos de serem comunistas ou de ligações com o "Partidão" ou ao governo João Goulart. O regime de 64 demite dezenas de servidores. Entre eles, técnicos que se tornaram expressões acadêmicas e em suas profissões: Abelardo Baltar (economista), Abelardo Caminha (economista, do PCB), Délio Mendes (sociólogo, do PCB) e Chico de Oliveira (sociólogo, economista, fundador do PT e hoje do PSOL).

No dia 7 de abril de 1964, uma semana depois do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, Chico de Oliveira foi preso ao sair da casa do ex-superintendente da Sudene Celso Furtado. Durante três meses ficou detido no Recife. Ao ser libertado, decidiu ir para Rio de Janeiro. Seria depois um dos mais importantes sociólogos brasileiros e professor titular de Sociologia (hoje, aposentado) da Universidade de São Paulo (USP).

Os técnicos e conselheiros da Sudene não demonstravam suspeitas, temor ou sinais de apreensão nas atividades e reuniões transcritas nas atas, nos três meses de 1964 que antecederam o 31 de março/1º de abril. Nas reuniões, todavia, ficava claro o interesse e o envolvimento cada vez maior de agências de fomento e programas norte-americanos.

No ano de 1963, a influência progressiva já é sentida nas atas com as ordens do dia e novos projetos apresentados das reuniões. Exemplo é a aprovação do reaparelhamento técnico e administrativo das Secretarias de Educação para adequarem-se ao Plano Trienal de Educação e aos acordos entre a Sudene, MEC e Usaid. Nesta reunião, o governador Miguel Arraes discorre sobre a Aliança para o Progresso, revelando satisfação pelos entendimentos para um programa de habitação no Nordeste.

Há o encaminhamento da proposta de financiamento para reequipar o DER-BA, através da Aliança, e de convênio com o programa norte-americano para pavimentar a BR-11. Na educação, convênios da Sudene com a Usaid para melhoria do ensino primário e de base no Ceará, Bahia e Maranhão.

Na 43º reunião, em 13 de dezembro, a última do ano, Gilberto Freyre lembra "a tragédia do assassinato de John Kennedy", que diz "afetar o Nordeste" e pede um minuto de silêncio em homenagem ao presidente norte-americano.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Invenção da alegria - Ferreira Gullar

O que distingue uma coisa da outra é a capacidade de nos deslumbrar que as formas tenham

Fui ao Paço Imperial, aqui no Rio, para ver a exposição de Wilma Martins. Fazia muito tempo que não via seus trabalhos, mas guardara deles a melhor das impressões. Agora, nesta visita que fiz, aquela impressão se confirmou e, devo admitir, mostrou-se mais rica e fascinante.

Uma das boas coisas que ganhei nessa visita foi conhecer trabalhos anteriores da artista, suas gravuras em madeira, onde já se revelava particularmente criativa e original. Diante daquelas composições, onde a linha gravada e as relações de treva e luz nos fascinaram, só confirmei tratar-se de uma artista de rara originalidade.

Mas essa gravadora, que explorava um universo noturno e delirante, tornou-se depois a desenhista diurna, de desenho limpo e lúcido, que parece constituir o ápice de sua aventura estética.

Essa fase de Wilma está entre as melhores coisas que a arte brasileira produziu nestas últimas décadas. Isso se deve, creio eu, de um lado, ao despojamento da linguagem figurativa e, de outro, à imaginação poética que a faz trazer para o espaço doméstico --povoado de objetos próprios a esse espaço-- seres selvagens como corças, ursos, elefantes e, com eles, a floresta mesma. Ela opera uma subversão poética da realidade banal da casa. E tem mais, ali não aparecem os moradores, os habitantes do espaço doméstico; não, só os objetos.

O mais surpreendente, porém, nessas obras de Wilma, é o fato de que os objetos da casa são meros contornos, sem consistência real, enquanto os animais que ali surgem inesperadamente são coloridos e tratados conforme a linguagem realista da pintura convencional. Ou seja: o que é real --os objetos da casa-- é representado abstratamente, enquanto o que é sonho --as aparições da selva-- é tratado com realismo.

E o mais curioso é que, não muito depois, Wilma Martins passa a pintar paisagens, isto é, a natureza que se insinuava em seu universos gráfico de desenhista torna-se o tema exclusivo do quadro.
No mesmo Paço, numa sala do andar térreo, há outra exposição. Trata-se de uma instalação, com máquinas que produzem vento e um tubo de plástico ora inflado pelo vento que a máquina produz, fazendo desagradável barulho. Não se percebe ali qualquer preocupação com beleza e acabamento; pelo contrário, a impressão é de algo improvisado, feito de qualquer modo. Mas, afinal, que nos diz aquilo? Que o vento infla o plástico? Mas quem não sabe disso?

Não é por não se valer da linguagem da pintura, do desenho ou da escultura, que não se faz arte, pois arte pode ser também a invenção de linguagens novas ou inovadoras, que nos fascinam e encantam.

Este é o caso de Yayoi Kusama, artista japonesa que expõe atualmente no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio. Nascida em 1929, ela começou a criar na época da pop art, inspirada nos trabalhos de Andy Warhol. No entanto, ao contrário dos artistas daquela tendência, que tomavam por tema objetos, figuras e fatos banais da vida moderna, Yayoi nos arrasta a um deslumbrante universo de cores, formas e luzes.

E essa capacidade de deslumbrar está em tudo o que ela faz, até mesmo nas telas que pinta fora do que estamos habituados a ver. Isso, sem falar nas salas em que penetramos como se passássemos a outra dimensão do real. Não por acaso, filas intermináveis de visitantes se formam no CCBB para experimentar esse encantamento. A sala de luzes, com centenas de lâmpadas que mudam de cor a cada momento, parece levar-nos a um passeio pelo espaço cósmico, fervilhante de estrelas.

Mas a criatividade de Yayoi é inesgotável, já que, no oposto dessa sala noturna, há outra, diurna, constituída de dezenas de volumes brancos com pintas vermelhas, que se multiplicam refletidos nas paredes de espelho. O que significa isso? Não se sabe, mas não importa, não é preciso saber, uma vez que a obra é seu próprio significado. É que tudo tem expressão, seja um tubo de plástico, seja uma sala de luzes ou formas coloridas. O que distingue uma coisa da outra é a capacidade de nos deslumbrar que as formas tenham. Mostrar a banalidade é mostrar o óbvio. A arte é a superação da banalidade.

Fonte: Ilustrada / Folha da Semana

M. de memória - Paulo Leminski

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.