sábado, 25 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA:Diretas Já!

Há 30 anos na Praça da Sé, São Paulo

"Há pouco me perguntaram quantas pessoas estão nesta praça. Trezentos mil? Quatrocentos mil? Aqui estão 130 milhões de brasileiros".

Franco Montoro (1916-1999), ex- governador de São Paulo, 25 de janeiro de 1984

Fala de Dilma se assemelha à de FH

Com investidores no foco, discurso é pragmático, sem aprofundar debates globais

Henrique Gomes Batista

RIO - O discurso de estreia da presidente Dilma Roussef em Davos se parece muito com o que de Fernando Henrique Cardoso em 1998: a presidente “vendeu” o Brasil, foi pragmática, falou para Wall Street, justo no momento em que os investidores começam a “enjoar” dos emergentes. Uma estratégia diferente da primeira vez que seu “mentor” esteve no Fórum Econômico Mundial. Luiz Inácio Lula da Silva preferiu, em 2003, debater temas globais e propôs algo mais ousado ao sisudo evento: a criação de um fundo global de combate à pobreza.

Dilma, como FH no fim da década de 1990, discursou em um ano que disputará a reeleição. A presidente tratou dos impactos da crise global de 2008 da mesma forma que o tucano tentou afastar os fantasmas da crise asiática que teimavam em rondar o país. A análise dos três discursos deixa isso nítido: no de Lula, entre as palavras destacadas (veja nas nuvens ao lado), estão “fome” e “esperança”. Nos de Dilma e de FH, aparecem com peso termos como “bilhões”, “investimento” e “dólares”.

Números e números
Martelando nos números, Dilma disse que o sucesso está associado à parceria com os investidores. Divulgou cifras que indicam que o Brasil está se tornando uma nação de classe média. Gastou um terço

do tempo elogiando as concessões públicas — as mesmas que aqui geram polêmica se apresentadas como privatizações. A presidente tentou afastar impressões negativas, afirmando que o Brasil ainda cresce, controla a inflação e é fiscalmente responsável, apesar de, cada vez mais, brotarem dados contrários.

FH, em 1998, fez algo semelhante. Tentou afastar a tese de “contaminação” das crises que assolavam o mundo em desenvolvimento. Com um discurso também recheado de números, o tucano expôs, por 20 minutos, dados positivos do país e apresentou os avanços da privatização. Em 1999, um ano após a fria tarde na Suíça, contudo, o Brasil vivia a maxidesvalorização cambial e avançava para o racionamento energético e o apagão.

Dilma utilizou poucos minutos para falar de temas globais, como a “força” dos emergentes e uma vaga “necessidade de pensar a médio e longo prazo" a recuperação global. Da parte social, apenas disse que o Brasil se aproxima de diversas nações com o futebol, onde luta pela paz e pelo fim dos preconceitos, em sua fala final — improvisada — de três minutos sobre a Copa do Mundo. Dificilmente o discurso da presidente sobre as manifestações de junho terá forte repercussão.

Já Lula, em 2003, ao propor mudanças mundiais, talhava sua imagem de líder global. Seu discurso — facilitado pela estreia do mandato, sem nada ainda para provar e sem a pressão das urnas — foi analisado e debatido por figurões como Bill Clinton. Klaus Schwab, o empresário que preside o fórum, procurou o petista para criar uma força tarefa com a ideia de aproximar Davos de sua antítese, o Fórum Social Mundial, que fazia barulho em Porto Alegre. A proposta não avançou, mas deu créditos a Lula na busca por um protagonismo verde-amarelo, com mais espaço na ONU, no FMI, e a criação do G-20. Ambições que, ao que parece, não fazem parte do discurso de Dilma.

Fonte: O Globo

“Dilma em Davos”, análise do ITV

Dilma Rousseff chega hoje a Davos em má hora. A presidente brasileira partiu em busca da credibilidade perdida, depois de anos esnobando um dos principais encontros de líderes globais. Mas ela passeia pela vila suíça em meio a nuvens de desconfiança, prognósticos negativos e maus resultados a mostrar em relação ao desempenho de seu governo no Brasil.

Nos últimos anos, o governo brasileiro fez-se representar por mirradas delegações nos encontros promovidos pelo Fórum Econômico Mundial. Em 2012, só nosso chanceler foi – e alegou que, convidados, nem Dilma nem o ministro da Fazenda se animaram a participar das reuniões porque elas só atrairiam “pessoas interessadas em ganhar projeção”, como lembrou ontem O Estado de S.Paulo.

A maré negativa, contudo, forçou a presidente brasileira a mudar suas atitudes. Nos últimos meses, o Brasil passou a ser visto cada vez mais como pária no concerto geral das nações. Uma economia potente, mas ora com baixo vigor; uma administração perdulária; uma gestão pouco transparente no trato das finanças públicas; um governo avesso à iniciativa privada. Em suma, um país que é hoje alvo de desconfiança ampla, geral e irrestrita do mundo.

Pelo que vêm antecipando porta-vozes do governo, a tentativa agora é de mudar esta percepção e indicar “um processo de gradual mudança rumo a uma aproximação do setor privado e dos mercados”, conforme escreveu Claudia Safatle ontem no Valor Econômico. Com a água pelo nariz, a presidente tenta demonstrar compromisso com a estabilidade e com a responsabilidade fiscal. Só se for para suíço ver…

Depois do leite derramado, com a enorme erosão da credibilidade do país promovida pelas medidas tomadas nos últimos três anos pelo seu governo, modificar a visão e as expectativas externas sobre o Brasil tornou-se tarefa muito mais difícil para Dilma. Pelo histórico de frustrações, o palavrório da presidente e de seus auxiliares não ajudará muito.

O que Dilma poderá falar de estabilidade? Nossa inflação é um das mais elevadas do mundo, há anos está alta e exibe resistência considerável à queda. Pior de tudo, por anos o tema foi tratado pelo governo como se fosse de menor importância – na linha de “uma inflaçãozinha a mais não dói” – e agora exigirá doses ainda mais cavalares de juros, como deixou claro a ata do Copom divulgada ontem.

O que a presidente poderá prometer em termos de responsabilidade fiscal? A despeito de toda a criatividade e das grossas camadas de maquiagem, o superávit das contas públicas caiu de 3,1% do PIB em 2011 para 2,4% em 2012 e deverá fechar o ciclo de Dilma na presidência em cerca de 1,5%. Quem entende do assunto, afiança que, dadas as condições atuais, o governo federal não tem espaço orçamentário para melhorar tal desempenho – a menos que paralise de vez os investimentos públicos.

Dilma fala hoje aos participantes do Fórum Econômico Mundial – às 11h15 pelo horário de Brasília em sessão aberta e novamente às 14h30 em encontro fechado com empresários – também precedida de previsões sombrias sobre o desempenho presente e futuro da nossa economia. Nos últimos dias, Banco Mundial e FMI fizeram prognósticos negativos para o país neste e no próximo ano.

No panorama traçado pelo FMI, estamos, literalmente, na contramão do mundo. Enquanto o órgão reviu para cima as previsões para o crescimento global, as estimativas para o Brasil foram revisadas para baixo: de 2,5% para 2,3% neste ano e de 3,2% para 2,8% em 2015. Foi nosso segundo rebaixamento consecutivo. Enquanto isso, o conjunto dos emergentes crescerá 5,1% em 2014 e 5,4% em 2015.

Quando Dilma estiver falando à plateia de líderes globais, muitos ali provavelmente também estarão pensando no que acontece em nossa vizinhança e se perguntando em que medida o Brasil também está metido em dificuldades como as que atravessam países como a Argentina, às voltas com desvalorização expressiva de sua moeda e uma inflação galopante.

A realidade é que, na gestão petista, fomos, cada vez mais, nos aproximando do que há de pior no mundo, ao invés de nos diferenciarmos. Um dos resultados é que, nos últimos 12 meses, a bolsa brasileira é a que mais se desvalorizou em todo o planeta, com queda de 32%, como mostra hoje o Valor. Quando se compara o período desde a crise de 2008, só não perde para a Grécia, mas aí já é covardia…

A prevalecer o histórico de más realizações, promessas não cumpridas e previsões furadas, a máquina de propaganda petista e o palavrório da presidente não serão suficientes para melhorar as expectativas globais em relação ao país, muito menos para reverter a onda de desconfiança. A – possivelmente – única passagem de Dilma Rousseff por Davos vai acabar se convertendo em pouco mais que um rolezinho na montanha mágica.

“Governo Dilma perdeu o controle da inflação”, afirma Aécio Neves

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em entrevista à rádio da legenda ressaltou que o governo da presidente Dilma Rousseff perdeu o controle da inflação.O senador reiterou sua preocupação com a má condução da economia e a ausência de transparência pública. Para o fortalecimento do Estado, o tucano ressaltou a necessidade de um “pacto federativo”.

Aécio lamentou ainda que as expectativas para a Copa de 2014 não atenderão às demandas dos brasileiros. Ele analisou as questões relativas ao desemprego e à violência, além da presença, pela primeira vez, da presidente no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

A seguir, a íntegra da entrevista:

Inflação
A grande verdade é que o governo da presidente Dilma perdeu, sim, o controle sobre a inflação e, infelizmente, a herança para o próximo governo será um crescimento extremamente baixo. Na América do Sul, cresceremos apenas mais do que a Venezuela, e uma inflação que já perturba atormenta a vida dos brasileiros.

Nós fizemos, agora, uma pesquisa nacional e vimos que a cesta básica, em 18 capitais pesquisadas, cresceu entre 10% e 17%, como aconteceu, por exemplo, em Salvador. Isso é extremamente grave. O controle da inflação foi a maior conquista do governo do PSDB, e a má condução da economia, a pouca transparência dos dados fiscais, a perda de credibilidade do Brasil junto a investidores, tudo isso vem contribuindo para que a inflação esteja fora de controle. Hoje, a inflação de alimentos já ultrapassou os dois dígitos. Portanto, é preciso que o governo tome medidas rapidamente, pois eu não acredito que esse governo tenha mais condições de fazer com que a inflação volte ao controle.

Desemprego
A questão do emprego já vinha sendo vista pelos jornalistas com enorme preocupação. Em primeiro lugar, o Brasil vem se tornando o país do pleno emprego de apenas dois salários mínimos. Se nós analisarmos os empregos de maior remuneração, empregos mais qualificados, apenas no período da presidente Dilma, foram fechados mais de um milhão de postos de trabalho, em razão do sucateamento do nosso parque industrial.

O Brasil vem perdendo competitividade na sua indústria e na exportação de manufaturados. Portanto, é preciso que, cada vez mais, nós possamos investir em qualificação. A qualificação de mão-de-obra é essencial para gerarmos empregos de melhor qualidade e também, obviamente, para garantirmos um crescimento mais robusto da nossa economia.

Hoje, o Brasil, infelizmente, na nossa opinião, na opinião do PSDB, vem se contentando com muito pouco. Vamos sempre comemorar a geração de empregos, mas nós queremos para o Brasil empregos de melhor qualidade.

Violência
Há muito tempo, eu tenho denunciado a irresponsável omissão do governo federal na questão de segurança pública. Todos nós, do Brasil, sabemos que é o governo federal que detém a maior parcela da arrecadação. Cerca de 60% de tudo que se arrecada no Brasil fica nas mãos do governo federal e ele participa com apenas 13% do conjunto dos investimentos em segurança pública. 87% estão nas mãos dos estados e municípios, que são aqueles que menos têm.

O governo federal, constitucionalmente, é o responsável pelo controle das nossas fronteiras, pelo tráfico de drogas e pelo tráfico de armas.

Portanto, a falta de parceria do governo federal com os estados, e eu denunciava isso desde os tempos em que era governador do estado de Minas Gerais, é uma das razões do agravamento, da insegurança, e, portanto, da criminalidade do Brasil. Por outro lado, o Fundo Penitenciário, que é um fundo existente hoje, aprovado no orçamento da União para apoiar os estados na construção de presídios.

O governo federal, ao longo dos últimos anos, executou apenas 10,5% do orçamento desse Fundo, mostrando que há realmente um despreparo do governo no enfrentamento dessa questão.

Repito: De tudo o que foi aprovado no orçamento, apenas cerca de 10% foram efetivamente implementados, o que mostra que o governo não trata com a seriedade e com a prioridade necessária na questão da segurança pública.

Eu apresentei um projeto no Senado Federal, que eu espero que agora possa ser aprovado, que garante que todos os recursos aprovados no Fundo Penitenciário e no Fundo Nacional de Segurança seriam transferidos, mensalmente, para os estados federais para que eles possam fazer o planejamento no enfrentamento da segurança pública. E, por outro lado, nós estamos fazendo um trabalho no Congresso Nacional de mudança, de alterações profundas no Código Penal para que nós possamos ter penas mais duras, mais rígidas, sobretudo para os delinquentes que são reincidentes.

Copa do Mundo
A grande verdade é que, se nós formos avaliar os números prometidos pelo governo e aqueles entregues até agora, nós vamos perceber que 75% de todas as obras de mobilidade urbana relacionadas à Copa do Mundo estão atrasadas e uma em cada quatro obras, simplesmente, não vai ficar pronta. 25% das obras não estarão prontas até a Copa do Mundo. Mais uma vez, a incapacidade gerencial do governo prevalecendo.

Portanto, aquilo que se esperava que pudesse ser o grande legado para as gerações futuras pós-Copa do Mundo infelizmente não acontecerá na dimensão que nós esperamos. Temos a expectativa de que o Brasil possa ir muito bem dentro de campo, mas o que nós estamos assistindo é que, infelizmente, em todas as regiões do Brasil há um conjunto enorme de atrasos em razão da inoperância do governo federal, da incapacidade que o governo federal tem de tocar essas obras, tanto em relação à Copa do Mundo como em relação a outras áreas.

O Brasil virou hoje um grande cemitério de obras inacabadas. Inacabadas e com sobrepreço, com preços muito além daqueles inicialmente previstos. Está aí a transposição do São Francisco, a Transnordestina, que é uma ferrovia muito importante para a integração também da região Nordeste, obras de infraestrutura no Centro Oeste, que poderiam estar melhorando o custo Brasil, facilitando o escoamento da produção daquela região. Tudo isso continua no papel e no conjunto de boas intenções. A grande verdade é que durante dez anos, o PT demonizou as privatizações e as concessões. Ele considerava isso quase que como um crime de lesa pátria. Depois de dez anos o PT se curva às concessões e faz isso de forma, infelizmente, açodada, despreparada, e o que eu tenho dito e repito, é que o aprendizado do PT no governo tem custado, infelizmente, muito caro ao Brasil.

Pacto federativo
Sem dúvida alguma, um novo repactuamento da Federação é essencial para o Brasil avançar. Eu tenho, desde que cheguei ao Congresso Nacional, debatido esse tema com prioridade. Nós estamos assistindo os municípios, os estados, cada vez mais sucateados, cada vez mais dependentes da União. E no momento em que o governo fez esse conjunto de desonerações, de alguma coisa em torno de R$ 80 bilhões no último ano, R$ 23 bilhões deixaram de ir para os cofres dos estados e dos municípios, que já viviam enormes dificuldades.

Eu apresentei uma proposta que, infelizmente, o governo federal não permitiu que avançasse no Senado, que impedia que essas desonerações pudessem atingir os cofres estaduais e municipais. Na nossa proposta, o governo poderia fazer desonerações, mas apenas nos tributos de sua responsabilidade e não em uma parcela que viesse a ser distribuída. Isso seria muito mais racional e muito mais justo. Infelizmente, nenhum dos temas do pacto federativo, como a renegociação da dívida dos estados, uma participação maior da União no Fundo de Participação dos Estados e Municípios, com um ou dois pontos percentuais a mais, aconteceu.

O governo prefere tutelar os estados e municípios, mantê-los sob o seu garrote, sob a sua influência, e isso tem sido extremamente perverso para com o Brasil e para com os brasileiros. Porque aqui todos nós sabemos: o brasileiro não mora nem na União, nem no estado. Mora no município, e os municípios são os que mais sofrem por essa ação centralizadora do governo central.

Dilma em Davos
Eu acredito que a presidente terá uma dificuldade muito grande de enfrentar a realidade. O sentimento, infelizmente, que se tem em relação ao Brasil hoje é de um país que não cumpre seus compromissos, que não respeita contratos, como aconteceu a partir de uma gravíssima intervenção no setor elétrico, que gere de forma inadequada as suas empresas, e a Petrobras é o mais triste exemplo de uma empresa que perdeu quase 50% do seu valor de mercado nos últimos anos e se transformou na empresa não financeira mais endividada do mundo, exatamente no momento em que ela precisava ter recursos para fazer face aos gigantescos investimentos e desafios que tem pela frente.

A presidente encontrará em Davos analistas do mercado financeiro, analistas em economia do mundo inteiro, que percebem que no Brasil não há confiabilidade em relação aos números, por isso tem havido crescentemente uma diminuição dos investimentos, em uma hora em que eles seriam extremamente necessários para que o Brasil voltasse a crescer de forma mais digna do que vem crescendo até aqui nesses últimos anos. O resultado, no período da presidente Dilma, é que o Brasil crescerá menos da metade da média dos nossos vizinhos somados, nossos vizinhos da América do Sul.

Portanto, infelizmente a presidente Dilma terá uma dificílima tarefa. Seria, a meu ver, muito mais adequado, muito mais produtivo, alguns sinais claros de transparência dos dados fiscais, de combate efetivo à inflação, de fortalecimento das agências reguladoras, sinalizando para o fim desse intervencionismo absurdo que ocorre em várias áreas. Essas ações em território nacional seriam muito mais efetivas, com resultados muito mais positivos para o Brasil do que uma simples visita e um simples discurso em Davos.

Ex-presidente do Banco do Nordeste é denunciado por desvio de R$ 1,2 bi

Ministério Público Federal ofereceu denúncia a outros 10 também pelo crime de gestão fraudulenta de instituição financeira

Ricardo Brito

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra o ex-presidente do Banco do Nordeste (BNB) Roberto Smith e mais 10 dirigentes pelo crime de gestão fraudulenta de instituição financeira. Na ação autuada na tarde desta sexta-feira, 24, pela Justiça Federal do Ceará, o procurador da República Edmac Trigueiro acusa os ex-gestores de terem praticado irregularidades na administração dos recursos do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste (FNE). A acusação criminal sustenta que o desfalque nas contas do banco superou a cifra do R$ 1,2 bilhão.

Na denúncia de 97 páginas, o MPF afirma que foram autorizadas cerca de 55 mil operações baixadas em prejuízo no BNB sem que a instituição tenha feito as cobranças judiciais para reaver os recursos. Dessas, 20,5 mil foram integralmente baixadas, gerando um prejuízo de R$ 832 milhões. Outras 34,5 mil transações foram parcialmente baixadas, e que causaram um rombo de R$ 442 milhões.

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), que embasa a denúncia do Ministério Público, constatou que das R$ 55 mil operações auditadas apenas 2.385 tinham autorização para serem cobradas judicialmente. Ou seja, o BNB eximiu-se em reaver os recursos em 95,6% das transações analisadas. Na denúncia, o procurador argumenta que os crimes contra o sistema financeiro cometidos pela cúpula do banco guardam "certa semelhança" com o caso do mensalão.

A revelação das operações do BNB culminou na queda de Roberto Smith e de outros dirigentes da instituição em meados de 2011, após revelação pela imprensa. Segundo o procurador, partiu do ex-presidente do BNB "todas as diretrizes para a adulteração dos resultados nos registros contábeis do banco".

Os advogados de defesa dos denunciados não quiseram falar nada e afirmaram que vão apresentar defesa na Justiça.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em Paris, Barbosa disse não se preocupar com mal-estar causado entre os colegas

Presidente do STF foi criticado por magistrados por ter saído de férias sem expedir mandado de prisão a mensaleiro

Mário Camera

PARIS - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, disse nesta sexta-feira, em Paris, não se preocuparcom o suposto mal-estar causado entre seus colegas de Corte. Barbosa foi criticado por ter saído de férias sem expedir o mandado de prisão contra o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no processo do mensalão. Ele ainda cobrou decência da imprensa e contenção dos juízes.

- Eu não estou preocupado com nada disso. O que eu tinha que falar eu já falei. Estou aqui seguindo a minha vida - disse Barbosa, na capital francesa, onde participou de um colóquio organizado pela Universidade Sorbonne.

Joaquim Barbosa evitou responder perguntas sobre o caso. Na última quarta-feira, o ministro já havia dito que não expediu o mandado contra João Paulo Cunha por “falta de tempo”. O magistrado também negou que as prisões dos condenados no julgamento do mensalão estejam sendo realizadas em conta-gotas.

- Não foram prisões conta-gotas. Foram feitas doze prisões. Cada caso é um caso. Nós estamos analisando a vida de pessoas e eu não cuido só disso - afirmou o magistrado.

Sobre a reação do advogado de João Paulo Cunha, Alberto Toron, que chegou a qualificar a viagem à França de Barbosa como um “rolezinho em Paris”, ele disse ser vítima de uma grosseria.
- Um advogado vir a público fazer grosserias preconceituosas contra um membro do judiciário que julgou seu cliente, é prova eloquente de um déficit civilizatório.

Barbosa não quis comentar a atitude de seu antecessor no cargo, o ex-ministro e ex-presidente do STF, Nelson Jobim, que doou 10 mil reais para ajudar a pagar a multa à qual foi condenado o ex-deputado José Genoino por seu envolvimento no mensalão. Perguntado a respeito, o magistrado respondeu com uma careta.

Durante o colóquio, Barbosa cobrou decência da imprensa e contenção dos juízes.

- O que aprendi em 11 anos é que essa jurisdição (STF) é, de certa maneira, vítima de seu sucesso. Pois, se a transparencia é, democraticamente, desejada, é indispensável, no entanto, conjugar decência e contenção: decência dos jornalistas em privilegiar as questões jurídicas em vez das questões pessoais que existem dentro da corte e a contenção dos juízes, para que triunfe a colegialidade sobre a individualidade - disse para em seguida concluir.

- Falei dos jornalistas pois, devido à mediatização, temos, no seio da corte, mais de duas dezenas de jornalistas trabalhando diariamente lá. O disse-me-disse, naturalmente, por causa da presença desses jornalistas, torna-se a regra - explicou.

- No que diz respeito ao conteúdo das decisões, infelizmente, eu diria que a imprensa não é mais a mesma - em contar o essencial das decisões. Ela se mantém no anedótico, tira algumas frases para as manchetes, mas o essencial não é discutido.

Fonte: O Globo

Governo considerou 'ingratidão' as manifestações de junho, diz Carvalho

Secretário geral da Presidência afirmou que houve o sentimento de 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'

Elder Ogliari

PORTO ALEGRE - O secretário geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, disse nesta sexta-feira, 24, que algumas esferas do governo consideraram 'ingratidão' a realização das manifestações populares de junho, quando milhares de pessoas foram às ruas por melhorias nos serviços públicos. Segundo ele, o sentimento era de que 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'".

As avaliações foram apresentadas à plateia de uma das atividades do Fórum Social Temático Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental, em Porto Alegre, durante a conferência "Contra o Capital, Democracia Real". Além de Carvalho, também participaram, como palestrantes, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) e representantes de organizações não governamentais do Brasil, França, Marrocos e África do Sul.

"Houve quase que um sentimento de ingratidão, de dizer 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'", recordou. O ministro destacou, no entanto, que o governo fez o esforço de compreender a realidade, de dialogar com a nova cultura que surgia, e respondeu com programas de melhorias da mobilidade urbana.

Na opinião do secretário, o governo e os movimentos sociais aliados ficaram "perplexos" com os protestos de junho. Segundo ele, a direita "inicialmente fez festa" por entender que as manifestações se configuravam como contrárias à administração federal.

As políticas de distribuição de renda e estímulo ao consumo do governo federal, segundo Carvalho, não foram acompanhadas na mesma velocidade por um debate sobre um modelo de desenvolvimento diferenciado.

Mas eram necessárias porque a população padecia sem acesso a produtos básicos, como geladeiras e equipamentos domésticos. "É evidente que, junto com melhor emprego e melhores salários vem a consciência de novos direitos", observou, para avaliar que, depois dessas conquistas, muitos brasileiros perceberam que têm direitos e passaram a reivindicá-los.

"Não podemos ter medo, temos de romper barreiras, nos aproximar e conversar", afirmou. "O problema, para infelicidade da direita, é que esse gosto do mais e do mais não cabe na cartilha do sistema; a explosão dessa demanda de direitos não cabe no sistema capitalista e nos marcos daquilo que é hoje o mundo globalizado em seus sistemas de produção, distribuição e consumo", comentou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Gilberto Carvalho admite que modelo que levou PT ao poder está desgastado

Declaração foi dada durante debate em Porto Alegre, no Fórum Social Temático

Flávio Ilha

PORTO ALEGRE – O secretário-geral da presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, admitiu nesta sexta-feira que o modelo responsável por levar o PT ao poder em 2002 já mostra sinais de desgaste e que é necessário debater as características de um novo projeto de governo, que permita “ir além” de temas como inclusão social e distribuição de renda.

As declarações foram dadas durante um debate sobre “crise do capitalismo e democracia”, dentro da programação do Fórum Social Temático. Para um público de esquerda, Carvalho disse que o governo foi pego de surpresa pelas manifestações de junho do ano passado e que falhou ao não garantir a qualidade dos serviços públicos a uma população cada vez mais exigente.

- Não há dúvida nenhuma de que os sinais (de desgaste) estão dados. Neste momento, nos damos conta que as conquistas importantes que nós tivemos estão dadas. Foram importantes, mas foram absolutamente insuficientes. Tivemos um processo de inclusão social inegável e temos que nos orgulhar disso. Mas temos que reconhecer que foi absolutamente insuficiente – disse.

O ministro admitiu também que a presidente Dilma Rousseff foi pega de surpresa pelas manifestações de junho do ano passado e disse que o “processo de estresse” que levou aos atos violentos foi gerado por um equívoco do governo, que não soube garantir serviços de qualidade a uma população cada vez mais exigente.

- Eu diria que a corrida veloz para o consumo não foi acompanhada pela nossa capacidade de fazer um grande debate em torno dos outros valores. Havia uma demanda reprimida por bens e, quando essa demanda começa a ser satisfeita, a exigência passa a ser também por serviços de qualidade. Nesse ponto nós falhamos. – avaliou.

Carvalho descreveu o sentimento do governo e do PT com as manifestações de junho como de perplexidade, de “certa dor, certa incompreensão, quase um sentimento de ingratidão”.

- Bom, fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós? É quase uma sensação, equivocada da nossa parte, de achar que essa manifestação não dava para entender – disse.

No ano passado, o tom do discurso do PT indicava que o partido era vítima do sistema político atual. A sigla chegou a reforçar a tese em seus debates internos e documentos. Parte da plateia que lotava o auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa, vaiou as declarações de Carvalho.

Na quinta-feira, um ato de protesto no centro de Porto Alegre contra o aumento das passagens de ônibus terminou em atos de vandalismo por parte dos manifestantes. O ministro disse que acompanhou os fatos e elogiou a atuação da Brigada Militar, que não reprimiu atos de violência contra prédios públicos e privados por parte de manifestantes:

- O pior caminho é o da repressão, da discriminação, do apartheid. Isso acabou no Brasil. Definitivamente acabou. Os aeroportos foram tomados pela população. É o momento de ter capacidade de dialogar. Mas o Estado tem que cuidar dos exageros, das radicalizações. Temos que defender o patrimônio, mas acima de tudo (defender) as pessoas. Essa é a nossa prioridade. Percebi a paciência com que a polícia se comportou.

Carvalho também voltou a acusar a oposição – incluindo setores do judiciário – pelo que chamou de reação “raivosa e radical” contra o processo de inclusão social promovido pelos governo do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff. Sem se referir em nenhum momento ao julgamento do mensalão, Carvalho disse que a Justiça participou do esforço de “criminalização” da conduta do PT nos mecanismos de financiamento de campanhas eleitorais.

Segundo Carvalho, o erro do PT foi acreditar, entre 2001 e 2002, que a implementação de programas de distribuição de renda e de inclusão social no país poderiam ser como “um passeio tranquilo”.

- Confundir governo com poder é um equívoco porque nós sabemos da relatividade (do conceito). O próprio fato de termos que fazer alianças para manter a hegemonia, o próprio fato de termos no legislativo este ano (2013) derrotas importantes, o próprio fato de (termos) um judiciário em que nós apostamos, em que nós demos autonomia, sobretudo pelos órgãos de controle, mas que trabalharam fortemente, e aí toda vem a ideologia dominante, pela criminalização, na medida em que não podiam nos vencer por maioria, na criminalização de toda a nossa conduta, nos transformando quase que em inventores da corrupção, quando nós sabemos que o problema nosso foi reeditar, infelizmente, em parte aquilo que eram os usos e costumes da política – declarou.

Fonte: O Globo.

PSB vai recorrer a pesquisas para convencer Marina a apoiar tucanos em SP

Consulta mostra que 46% dos eleitores da ex-senadora votam em Alckmin

Maria Lima

BRASÍLIA — No dia 4 de fevereiro, o governador de Pernambuco e presidenciável do PSB, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva estarão juntos em um ato em Brasília para a divulgação do esboço do programa conjunto de governo da chapa PSB-Rede. Estará sendo cumprida a primeira parte das exigências de Marina para a formalização de sua participação na aliança como vice, o que não tem ainda data para acontecer.

A segunda exigência, que é a definição de candidaturas próprias no Rio, em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, só será cumprida, ou não, depois de 25 de março, quando a Executiva do PSB vai analisar os acertos regionais, em especial as alianças com o PSDB. Até lá, dirigentes do PSB, munidos de pesquisas, vão tentar convencer Marina sobre as vantagens da aliança com os tucanos, em São Paulo principalmente.

Em 4 de abril, com ou sem Marina na chapa presidencial, o PSB vai fazer outro grande ato político para marcar a saída de Eduardo Campos do governo de Pernambuco e a inauguração de um comitê central de campanha em Brasília.

Embora a Rede defenda candidaturas próprias nesses estados, o PSB não abre mão da aliança com o PSDB em Minas e Pernambuco, e vai recorrer a pesquisas para tentar convencer Marina e seus companheiros da Rede de que será um risco não renovar a aliança com o governador Geraldo Alckmin em São Paulo.

O PSB já tem pronta uma pesquisa quantitativa mostrando que 46% dos eleitores de Marina — que tem cerca de 20% das intenções de voto em São Paulo — votam no governador tucano.

A mesma pesquisa mostra que 30% querem candidato próprio, mas do PSB e não da Rede. Ou seja, seria o deputado Márcio França (PSB-SP), e não Valter Feldman, ligado a Marina e considerado de baixa viabilidade eleitoral.

Mesmo assim, setores do PSB consideram que não será fácil convencer a ex-senadora sobre a parceria com os tucanos em São Paulo. Os números das pesquisas dão outro argumento para o PSB: indicam que, sem a aliança com Alckmin, metade dos votos de Campos em São Paulo vai para Aécio.

— Dificilmente, Marina será convencida com esse argumento de que Eduardo perde votos sem Alckmin. O problema deles é dar visibilidade à Rede em São Paulo — diz um amigo de Campos.

Também será feita uma pesquisa qualitativa
O PSB encomendou outra pesquisa, desta vez qualitativa, para entender o diagnóstico — nesse tipo de pesquisa, os entrevistados são instados a reagir a determinadas declarações e situações. Para ter dados mais consolidados em mãos, é que foi adiado para 25 de março o início das decisões da Executiva nacional do PSB sobre alianças nesses estados.

Os diretórios regionais vão encaminhar um diagnóstico local, e a Executiva vai decidir em cima do que as pesquisas apontarem como melhor para a eleição de Campos. Esse é o recado dos interlocutores de Campos: o PSB não vai se aventurar em candidaturas inviáveis nos estados só para fortalecer a Rede, em detrimento do projeto nacional.

— Miguel Arraes já dizia que, quando o gato olha para dois ratos, não pega nenhum. Nossa prioridade é eleger Eduardo Campos e é nisso que estaremos focados — disse o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).

Outra situação que o PSB considera resolvida é a manutenção da aliança com o PSDB em Minas. Para os líderes do PSB, a despeito da rebelião ensaiada por um grupo da Rede em Minas, Marina e integrantes do grupo nacional da Rede já sabem que essa parceria não será desfeita. Campos e o presidenciável tucano Aécio Neves fizeram o acordo prévio: o PSDB não lança candidato ao governo de Pernambuco, para não atrapalhar os planos de Campos; e o socialista não lança candidato ao governo de Minas.

Provável candidato em Minas pelo PSDB, em coligação com o PSB, o ex-ministro Pimenta da Veiga lembrou que o acordo é fruto do reconhecimento de que o PSB teve um crescimento extraordinário em Minas, sempre em aliança com o PSDB, como na eleição e na reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).

Fonte: O Globo

Roberto Freire: Aniversário de São Paulo e 30 anos do comício na Sé

Apesar de castigada por um ano de péssima administração do PT em São Paulo, a maior cidade do país continua sendo um orgulho para todos os brasileiros e um dos cartões postais da nação. 

Megalópole multicultural, a capital dos paulistas se caracteriza por receber muito bem gente dos quatro cantos do Brasil e de várias partes do mundo. Neste sábado (25), os paulistanos têm motivos de sobra para sair às ruas e celebrar o aniversário de 460 anos de uma metrópole pujante, rica e acolhedora.

Além da data comemorativa que, por si só, enseja uma série de eventos festivos pela cidade, inclusive no Ipiranga, São Paulo relembra um dos momentos mais marcantes de sua história nesta data especial. Há exatos 30 anos, no dia 25 de janeiro de 1984, a Praça da Sé se transformava em palco de um dos primeiros grandes comícios da campanha das Diretas Já, que simbolizou a luta pela retomada das eleições diretas para a escolha do presidente da República.

Segundo estimativas, compareceram ao evento cerca de 300 mil pessoas, o que surpreendeu até mesmo os organizadores. Os alto-falantes não eram suficientes para que a multidão que tomou a Praça da Sé, um dos símbolos de São Paulo, ouvisse os discursos inflamados e as palavras de ordem. Mas nem era preciso tanto esforço para se fazer entender, pois cada uma das pessoas que ali estavam sabia por que lutava e com qual país sonhava em deixar como legado a seus filhos.

Foi a partir do comício da Sé que os veículos de comunicação, ainda receosos por anos de censura durante a ditadura militar, começaram a acompanhar o movimento com mais atenção e a divulgar os comícios que se espalhavam por todos os estados brasileiros. No Rio de Janeiro, por exemplo, essas grandes manifestações populares aconteciam em frente à Igreja da Candelária. Três meses depois do ato histórico na Sé, São Paulo abrigou outro comício marcante, desta vez no Vale do Anhangabaú. Àquela altura, a plena redemocratização era mera questão de tempo.

A campanha das Diretas, lançada como forma de pressionar o Congresso Nacional a votar a Emenda Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para presidente da República, teve início já em 1983. O primeiro evento público foi realizado na cidade de Abreu e Lima, em Pernambuco, estado onde comecei minha trajetória política e pelo qual militei durante décadas antes de chegar a São Paulo. Logo depois, a Boca Maldita, em Curitiba, foi palco de mais um ato pelas Diretas Já. Ainda em 1983, no mês de novembro, mais de 10 mil pessoas se reuniram na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. Os eventos foram ganhando força e amplitude nacional, pavimentando o caminho para o restabelecimento definitivo da democracia no país.

Graças às manifestações que tomaram conta das ruas brasileiras, foram criadas as condições políticas necessárias para que a Câmara dos Deputados votasse, em 25 de abril de 1984, a Emenda Dante de Oliveira. Com a ausência de 113 deputados, todos do antigo PDS, o texto acabou rejeitado, mesmo contando com 298 votos favoráveis, ante 65 contrários e três abstenções. Faltaram apenas 22 votos para que a emenda fosse aprovada, o que gerou uma enorme frustração nacional.

Mas estava claro que o Brasil teria apenas mais uma eleição indireta para presidente. Indicado pelo PMDB, Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf, o candidato do PDS, no Colégio Eleitoral, mas não pôde assumir porque morreu em 21 de abril de 1985. José Sarney, o vice em sua chapa, assumiu a Presidência na ocasião. Em 1989, finalmente, o Brasil votou pela primeira vez para presidente após a ditadura.

Com todos os problemas enfrentados por nosso sistema político atualmente, apesar dos desmandos do PT tanto no governo federal quanto na Prefeitura de São Paulo, o fato é que vivemos hoje o mais longo período de estabilidade democrática da história brasileira. Isso se deve, sobretudo, à luta da sociedade pela redemocratização do país, simbolizada pela campanha das Diretas e nos grandes comícios como o da Praça da Sé, há 30 anos. São Paulo e o Brasil têm muito a comemorar neste 25 de janeiro.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Gazeta do Ipiranga & Portal do PPS

Marco Aurélio Nogueira* : Ausências, atritos e expectativas

O sistema presidencialista de governo caracteriza-se por centralizar a Presidência da República e depende extraordinariamente da conduta presidencial. Se o presidente desempenha bem suas funções, o sistema funciona. Se o faz com brilho pessoal, carisma e qualidade política, melhor ainda.

No Brasil, cujo presidencialismo é complicado por um federalismo imperfeito, isso é ainda mais verdadeiro. Por aqui, presidentes fracos tendem a ser desastrosos. Não podendo dispor de contrapartidas eficientes - um Legislativo de qualidade e uma sociedade civil ativa -, sobrecarregam o sistema e rebaixam o padrão da governança, arrastando-o para a mesmice e a rotina.

Tudo isso é conhecido, mas deve ser lembrado sempre que se constata alguma deficiência de desempenho no governo federal ou algum atrito inconveniente entre os entes federados. A responsabilidade, nesse caso, recai tanto sobre a conduta, o estilo, as escolhas e a personalidade do presidente quanto sobre os defeitos do federalismo. Alcança também os governos regionais, em que o mesmo raciocínio pode ser duplicado: quanto melhores os governadores em termos políticos e funcionais, menos possibilidades de o sistema fraquejar e mais chances de o federalismo se tornar "cooperativo", para usar a boa expressão empregada recentemente pelo governador mineiro, Antonio Anastasia.

Não é difícil constatar, por exemplo, que o Brasil estava melhor quando Lula era presidente, se compararmos as coisas no interior do ciclo petista de governo. Em suma, o País funcionava melhor do que sob Dilma Rousseff. Em certos aspectos, a atual presidente vem tentando "copiar" Lula, mas sem sucesso. É impossível fazer isso, dada a envergadura do ex-presidente, seu prestígio internacional incomparável, sua personalidade exuberante e carismática. Dilma é tecnicista, dura, não tem empatia popular nem brilho e, acima de tudo, não se sente à vontade para animar o presidencialismo com a vitamina mais importante, a política. Mostra-se desconfortável seja para fazer a política miúda, das conversas e negociações de bastidores, seja para fazer a grande política, dos gestos e propostas abrangentes para o País. Além do mais, tem uma biografia pobre em termos de imagem e impacto social.

É o oposto exato de Lula, que imprimia ritmo e alma ao governo, deitava e rolava na política e do alto de sua inigualável trajetória de vida manejava bem o presidencialismo federativo. Pode não ter melhorado seu funcionamento ou reformulado o molejo institucional da governança, mas valorizou a Presidência e coordenou o governo com bons assessores e auxiliares. Era o grande articulador, quase onipresente. Fernando Henrique Cardoso também foi assim. Mas Dilma, não.

É verdade que os tempos são outros, que a coalizão presidencial perdeu densidade, os partidos pioraram e a sociedade ficou muito mais "fora de controle". Dilma, porém, não teve um "mensalão" a ameaçar-lhe a jugular. A própria oposição tem sido dócil com ela, mais por incompetência do que por opção. Seu maior desafio foram as ruas de 2013, fenômeno que, para um partido de esquerda como o PT, deveria ter sido combustível, não problema. Mas Dilma não se saiu bem do confronto, independentemente do perde-e-ganha dos índices de aprovação. Não foi à luta, propôs pouca coisa de factível, não entabulou diálogos sustentáveis com os manifestantes e suas agendas. Foi atrapalhada pelo sistema e pela mediocridade da classe política, mas não mostrou habilidade para sair do cerco. Faltou-lhe virtù.

Pode-se argumentar que não há tantas diferenças entre o governo Lula e o governo Dilma, que seriam carne da mesma carne, e que Lula é o mais importante e ativo assessor de Dilma, dividindo com ela algumas atribuições da Presidência, como, por exemplo, a da comunicação e da articulação política, além de ser o principal agente da reprodução do que há de dimensão simbólica no ciclo petista. Isso, porém, só serve para reforçar a hipótese, agregando a ela um componente ameaçador: sem Lula o governo Dilma talvez já tivesse naufragado, por falta de quem o fizesse respirar nos espaços vitais da política.

É evidente que há coisas boas no governo Dilma. Só não o reconhece quem pensa com o fígado. Seu problema não está no varejo, mas no conjunto da obra. Lula deixou uma marca. Outros presidentes antes dele também o fizeram, a começar de José Sarney com o Plano Cruzado e a Constituinte. Com Dilma, não, ela terminará seu período governamental do mesmo modo que o começou.

Não se trata de engrossar as fileiras do "volta, Lula". O tempo de Lula talvez já tenha passado, não há como simplesmente voltar a ele. Também não há como apostar que o eventual retorno do ex-presidente traria consigo a imediata requalificação da Presidência e a elevação da qualidade da governança. É impossível falar algo a esse respeito, até porque política (e governo) é correlação de forças e circunstâncias, não somente brilho pessoal ou capacidade de liderança.

Seja como for, 2014 será uma excelente oportunidade para pôr à prova esse raciocínio. Se, nele, as ruas voltarem a se mobilizar, a pressionar e a incomodar, e fizerem isso com maior envergadura política e perspectiva estatal, se os interesses organizados tiverem força, criatividade e lucidez para rever suas formas de atuação e qualificar as lutas sociais, se o debate político for depurado da baixaria e da adjetivação, descortinar um futuro para o País e abrir espaços para a cooperação inteligente dos partidos, então se poderá delinear uma situação em que os cidadãos mandarão no País, não os governantes e os políticos. O presidencialismo e o federalismo poderão ser assim aperfeiçoados, recondicionando o conjunto do sistema político.

Afinal, é com os cidadãos e as forças vivas da sociedade que os políticos precisam pactuar, pois o Estado só faz sentido se tiver na base um pacto social consistente.

*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ruy Fabiano: Lula em cena

Um dos temas da semana foi a reaparição de Lula no centro do poder – do qual, diga-se, jamais se afastou. Mas o simples fato de se ter exibido sem qualquer discrição, participando de reunião no Palácio da Alvorada com a presidente Dilma e alguns ministros, mostra que fazia questão de ser visto, no papel que exerce desde que transmitiu a faixa presidencial: o de tutor da presidente.

Não foi uma reunião qualquer. Durou cinco horas e, ao final, anunciou-se a troca de guarda na Casa Civil: saiu a senadora Gleisi Hoffmann, entrou o senador Aloizio Mercadante.

A saída de Gleisi estava prevista, já que deve se candidatar ao governo do Paraná. Mas a nomeação de Mercadante, que jamais se incluiu entre os favoritos de Dilma, é sinal de que Lula quer dar cunho mais político que administrativo à Casa Civil e quer se fazer mais presente na antessala da presidente.

Mercadante, assim como Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, é de seu staff pessoal. Com eles, Lula está agora no Palácio. A presença no encontro de Franklin Martins, que dá expediente no Instituto Lula, é outro sinal de que o presidente prepara-se para assumir papel mais ativo no governo, nesse período. É o PT no efetivo comando.

As relações do partido com Dilma sempre foram meio esquizofrênicas. Dilma não é petista histórica. Sua carreira na administração pública começa no Rio Grande do Sul, pelas mãos de Leonel Brizola, que a filiou ao PDT. Seu ingresso no PT deu-se posteriormente, pelas mãos de Lula.

É uma história conhecida, no relato de Lula, que disse ter se impressionado quando a conheceu, admirando seu jeito afirmativo. Trouxe-a para seu governo, deu-lhe o importante cargo de ministra de Minas e Energia e, depois, na crise do Mensalão, que fulminou a carreira de José Dirceu, colocou-a na chefia da Casa Civil.

De lá, à revelia do partido, tornou-a candidata à sua sucessão. Dilma chegou ao Planalto pela vontade pessoal de Lula – e contra a do PT. No auge de sua popularidade, Lula dizia, nos palanques e no horário eleitoral, que, na cédula eleitoral, “onde se lê Dilma, leia-se Lula”. Deu certo, mas o PT não gostou.

Sentiu-se atropelado – e com razão. Em política, afinal, há fila – e Lula fez com que Dilma a furasse, caroneando alguns petistas históricos. Desde então, as relações entre a presidente e o partido jamais foram amenas. Idem com os aliados fisiológicos da base. Dilma teve que demitir, por denúncias de corrupção, nada menos que sete ministros nos seis meses iniciais de seu governo.

Ensaiou uma faxina, interrompida por Lula e pelo PT, em nome, claro, da governabilidade. Sempre que a barra pesa, Lula entra em cena. Agora, com a campanha eleitoral à vista, ele assume mais uma vez o papel de salvador da Pátria.

A economia vai mal, a insatisfação difusa que alimentou as manifestações de junho passado continua presente, o cenário internacional é nebuloso – enfim, Lula é necessário.

No PT, jamais extinguiu-se a esperança de que ele possa mesmo voltar a ser o candidato do PT. Ele próprio disse mais de uma vez que, quando chegassem as eleições, se Dilma não mostrasse competitividade, ele iria “pro sacrifício”.

Dilma, até aqui, tem liderado com folga as pesquisas. Mas isso pouco significa, na medida em que a população ainda não se deteve para pensar no assunto. Pesquisas precoces nada significam. Se significassem, José Serra teria sido eleito, pois liderou-as até uns quatro meses antes das eleições passadas.

Lula, portanto, continua peça-chave na política brasileira, goste-se ou não disso.

Ruy Fabiano é jornalista.

Fonte: Blog do Noblat

Luiz Carlos Azedo: Homofobia disfarçada

Kaique Batista dos Santos, 16 anos, foi encontrado com o rosto desfigurado, sem dentes e com uma barra transpassada na perna direita. Tinha acabado de sair de uma boate próxima à Avenida 9 de Julho, em São Paulo. O rapaz, assumidamente gay, sofreu traumatismo craniano por agente contundente, segundo um dos laudos. Ao ver o corpo machucado, familiares e amigos, emocionados pela violência da cena, relacionaram a morte à opção sexual de Kaique.

O caso ganhou espaço nas redes sociais e na imprensa, no rastro dos ataques homofóbicos promovidos pelos covardes de skinheads paulistanos. Não era nada disso, como se sabe — ou pelo menos como a própria família admitiu depois de a polícia apontar para suicídio. Kaique simplesmente teria decidido pular do viaduto. O rosto desfigurado, os dentes quebrados e a fratura — exposta — na perna foram resultado do impacto com o chão.

O relato acima foi publicado, com uma ou outra variação, ao longo da semana pelos jornais. O erro inicial, a partir de uma grave precipitação, parece mais do que claro. Tudo levava a um crime contra um homossexual. E todos ativistas — ou quase todos, principalmente nas redes — embarcaram na tese. Sim, uma tese que não se confirmou com as investigações e com o convencimento da família. A informação da internet e da imprensa se mostrou falsa. Mas nada justifica a reação homofóbica de gente que pareceu satisfeita com a comprovação de suicídio, apenas pelo fato de ridicularizar denúncias apressadas de assassinato contra um homossexual.

Os felicianos espalhados país afora se regozijaram com a denúncia falsa da família de Kaique. Uma denúncia compartilhada na rede e nas ruas, com as manifestações de grupos de direitos humanos e do movimento gay. Pareciam vingados por terem de aturar homossexuais na internet e nas praças clamando por uma falsa justiça, afinal Kaique morreu por conta própria, não foi culpa de quem é contra a diversidade sexual. Na cabeça dos nossos felicianos, toda aquela histeria finalmente teve um fim. Para eles, o lobby gay perdeu, pagou o mico.

Trabalhar, em qualquer nível, com uma informação falsa é imperdoável. Mas aqui é impossível culpar a família de Kaique pelas primeiras suspeitas de ataque homofóbico. Naquele momento, tudo estava misturado. A emoção acabou se transformando em revolta, afinal, seria quase impossível não considerar um ataque homofóbico contra Kaique naquelas circunstâncias. De outra forma, deve-se exigir cautela dos responsáveis por entidades de direitos humanos, por mais que se saiba o quanto esse pessoal está escaldado quando se trata da violência contra gays, principalmente em São Paulo.

Arrogância
Na cadeia de erros nas redes e na mídia, o mais gritante, entretanto, é o da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Ela parece se equivocar de propósito, tal o número de chutes ao longo da gestão à frente da pasta. No episódio envolvendo a morte de Kaique, antes mesmo do resultado da apuração e contra todos os argumentos da polícia, a petista cravou, em nota oficial, que o rapaz foi "brutalmente assassinado". Tratava-se, segundo ela, de um crime de ódio motivado por homofobia.

Num misto de arrogância e partidarismo tacanho, Maria do Rosário afirmou, na nota divulgada na sexta-feira, 17, que a secretaria estava "acompanhando o caso junto às autoridades estaduais (do PSDB, diga-se) para evitar impunidade". Naquele momento, seis dias depois da morte, os mais atentos ao noticiário já imaginavam o equívoco da tese de crime homofóbico. A ministra, entretanto, por conta e risco, decidiu esticar a corda. E errou. Não foi a primeira vez. E, ao que parece, não será a última.

Em maio do ano passado, Maria do Rosário ultrapassou a linha que separa o bom senso das ações inconsequentes. O episódio daquela vez foi o boato envolvendo o corte no programa Bolsa Família. Avançando de forma perigosa no jogo partidário — como fez no caso Kaique —, a petista usou a rede social para acusar adversários. "Boatos sobre o fim do bolsa família deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política." Um mês depois, a Polícia Federal concluiu o inquérito apontando para a inexistência de indícios que comprovassem uma divulgação orquestrada e deliberada dos boatos. Pronto. Maria do Rosário é a ministra do chute.

Fonte: Correio Braziliense

Cristovam Buarque: Depois dos rolezinhos

Shoppings terão papel positivo no conforto social

Os rolezinhos têm sido tratados como um tema cultural: o porquê de os jovens preferirem agitar shoppings, tirando a tranquilidade dos frequentadores e trabalhadores, em vez de praticarem outras atividades juvenis, tais como namoro, estudo, esporte, arte ou mesmo consumo. E as soluções propostas têm sido baseadas na esfera legal e policial. Não se viu um debate sobre as causas estruturais que permitiram estas mobilizações aflorarem: os shoppings e a internet.

Os shoppings ofereciam a natural busca de conforto nos trópicos e a necessária proteção em uma sociedade violenta nas ruas, mas também a disfarçada segregação social que caracteriza o Brasil. Independentemente das causas que levam os jovens aos rolezinhos, eles não ocorreriam sem estes dois fatos irreversíveis na realidade: a existência de shoppings e a disponibilidade da rede social. Sem os shoppings, não haveria como ocupá-los, sem as redes não haveria como fazê-lo.

A sociedade tem três alternativas: conviver com os rolezinhos como uma prática cultural, um carnaval fora de época e lugar; oferecer outras diversões aos jovens; ou buscar solução na explicitação da apartação, com leis que escolham os frequentadores. Esta medida será indecente moralmente e ineficiente socialmente. Ainda se consegue fazer isso nos clubes, condomínios, escolas de qualidade e hospitais caros, mas em shopping será impossível justificar moralmente tal medida. Além disso, as soluções policiais pela força, cercando shoppings, ou pela espionagem, bisbilhotando as redes sociais, serão impossíveis.

Até recentemente, a segregação se fazia com a conivência dócil dos excluídos, como se dizia então: os negros e os pobres sabem seus lugares. Não era necessário, como na África do Sul, explicitar em leis as calçadas e os banheiros só para brancos. No Brasil, a separação era automática, cada um sabia seu lugar.

Com o aumento da população urbana, foi preciso separar fisicamente as classes, nos shoppings e condomínios, com cercas e crachás, mas ainda sem necessidade da explicitação em leis. Antes houve propostas para proibir legalmente a entrada de imigrantes indesejados, mas bastava a apartação descrita no livro: “O que é apartação, o apartheid social brasileiro”, de 1994.

Graças à internet, os rolezinhos desnudam o sistema de apartação implícita, sem leis. Quem não quiser conviver com os shoppings ou com as redes sociais deverá mudar de planeta ou viajar para o passado.

Daqui para frente, os shoppings existirão e terão um papel positivo no conforto social, mas a “guerrilha cibernética” é uma realidade com a qual vamos conviver. Ou assume-se a segregação explícita, ou promove-se a miscigenação social.

E, para isso, o caminho é a escola. A segregação racial se fez nas alcovas, a segregação social se faz nas escolas. O único caminho decente e sustentável para o bom funcionamento dos espaços urbanos é a promoção da escola de qualidade em horário integral, com ofertas culturais para os jovens.

Cristovam Buarque, senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

• Empresa de Chioro tem e terá recursos do SUS
A empresa de consultoria de Arthur Chioro, substituto do ministro Alexandre Padilha (Saúde), recebe verbas diretas do Sistema Único de Saúde (SUS) porque trabalha para municípios destinatários desses recursos. E continuará recebendo, quando ele passar a comandar o SUS, como ministro. Aliados de Dilma temem que prefeituras “clientes” de Chioro, venham a ser privilegiadas nas relações com o ministério.

• MP investiga
O Ministério Público já estava de olho: secretário de Saúde de São Bernardo (SP), Chioro contratou a consultoria da própria empresa.

• Me engana, eu gosto
Ontem, Arthur Chioro deu uma de joão-sem-braço e passou sua empresa para… sua mulher. E as “consultorias” continuam.

• Inferno astral
Padilha criou programas relevantes, como o “Mais Médicos”, e retirou o Ministério das páginas policiais. Com Chioro, retoma-se o inferno astral.

• Um capricho
Mais que uma indicação, Arthur Chioro é um capricho imposto pelo ex-presidente Lula. Ele queria adiar para março a reforma ministerial.

• Agentes denunciam ‘monopólio de chefias’ na PF
Em meio à briga interna, a Federação Nacional dos Policiais Federais – que representa agentes, papiloscopistas e escrivães – acusa a PF de agir junto ao Ministério da Justiça para “forçar monopólio de chefia para delegados”. Os agentes defendem no Congresso a “PEC do FBI”, que assemelharia seus cargos ao dos agentes especiais norte-americanos, que podem ser promovidos em caso de especialização e experiência.

• ‘Burrocracia’
Segundo Fenapen, a maioria dos agentes federais tem curso superior, mas não pode ser gerente ou coordenador por questões burocráticas.

• Sair da sombra
Agentes dizem que PEC 361 não possibilita que se tornem delegados, o que seria inconstitucional: “só cansamos de não ter reconhecimento”.

• Junho em janeiro
A imprensa internacional destacou o protesto convocado pela internet “Não vai ter Copa”, em 36 cidades neste sábado (25). O clima é tenso.

• Ordens são ordens
O ex-governador José Serra disse a amigos que, apesar de negociar com a presidenta Dilma, o ex-prefeito Gilberto Kassab deverá apoiar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo.

• Vale a pena ver de novo
A Agência Nacional de Aviação Civil garante que o movimento dos aeroportos na Copa será quase o mesmo no Natal e Ano Novo. Ou seja, tomem desde já chá de camomila.

• Toma lá, dá cá
Geddel Vieira Lima (PMDB) quer disputar o governo da Bahia, mas disse a ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador, que disputará o Senado caso Paulo Souto (DEM) pretenda voltar ao Palácio de Ondina.

• Tá feia a coisa
A americana Armalite, através da Dimensão, em Brasília, venceu mais uma no governo federal: chegam nos próximos dias fuzis AR-10 com 1,5 km de alcance e poder de fogo de matar um batalhão. Americanos no Iraque e no Afeganistão usavam armas de guerra menos ofensivas.

• Gana dos outros
Com nota de crédito rebaixada pela agência Fitch, Gana, na África, vai pedir empréstimo de novo ao Brasil, diz a Bloomberg. Não bastaram o perdão da dívida e o crédito camarada de US$95 milhões do BNDES.

• Calote coletivo

O conhecido site de compras coletivas Groupon terá que indenizar a noiva Emanuella Torres, de Brasília. Ela tomou um calote de R$ 3.490 ao fechar com eles um serviço de buffet, que sumiu antes do casório.

• Brasil nada chique
A presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, lamentou a derrota na venda dos caças ao Brasil, e faz uma aposta que até parece rogar uma praga: “Eu dizia que era entusiasmada com o país antes de o Brasil ser chique. Agora digo que serei entusiasmada quando não for chique”.

• Vício de origem
Deputados federais e senadores destinam recursos, em suas emendas, para áreas em que não podem ser usadas, criando os chamados “vícios de elaboração”. Esse tipo de emenda jamais sai do papel.

• Vip
Delúbio Soares deveria incluir em seu staff mensaleiro um assessor de imagem: engordou e é o único que volta rindo à cadeia.

Fonte: Diário do Poder

Brasília-DF - Denise Rothenburg

No ritmo da eleição
Em ano eleitoral, as coisas andam em outro ritmo. Bem mais rápido. Tudo parece funcionar melhor. O futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro, mal apareceu como escolha certa para ocupar o cargo e já receberá um grupo de médicos cubanos. Na semana que vem, quando ele, a presidente Dilma Rousseff e o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estarão em Cuba, 2 mil profissionais da ilha desembarcarão no Brasil para compor o Mais Médicos.
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A preocupação do Planalto com o resultado do programa é tamanha que Chioro já foi orientado a convencer o secretário de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales, à frente do Mais Médicos, a permanecer na pasta. Com a indicação de Chioro, Mozart, que esperava ser ministro, estava decidido a tentar uma vaga na Câmara dos Deputados. A conversa entre os dois já está agendada.
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Com a chegada do novo grupo de cubanos, mais 891 participantes das inscrições individuais, faltarão 3.451participantes para que o governo atinja a meta de ter 13 mil profissionais no programa até o início de abril. Hoje, há 6.658 profissionais na iniciativa, sendo 5,4 mil cubanos. A medida é estratégica para as campanhas eleitorais, afinal, o programa será usado como principal vitrine na disputa de Dilma e Padilha na corrida ao Palácio do Planalto e ao governo de São Paulo, respectivamente.

Comitiva solidária
Na próxima semana, uma comitiva de senadores do PMDB, liderada por Renan Calheiros, desembarca em São Luís para prestar solidariedade à desgastada Roseana Sarney. O partido avalia que o pior já passou, mas é preciso fortalecer a governadora, que o PT teria jogado ao mar, apesar do socorro do governo por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Antena ligada
Setoristas do Planalto foram ao gabinete do ministro Gilberto Carvalho, no início da semana, parabenizá-lo pelo seu aniversário. Uma assessora da Presidência da República percebeu a movimentação e pegou "carona". Abriu a porta da sala e disse, com ar de surpresa, que também teria ido felicitar o ministro. Na verdade, o objetivo era outro: vigiar o que Carvalho falaria sobre reforma ministerial. O constrangimento foi geral.

No sacrifício
Subiu mesmo no telhado a escolha do empresário Josué Gomes como substituto do ministro Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele não gostou dos registros, oriundos do Planalto, sobre a falta de apoio do empresariado a seu nome. De fato, os industriais o apoiam, mas os banqueiros dizem não. Ainda que ele recuse a oferta de Dilma, estreará na política em 2014, seja como vice de Pimentel na chapa para governador de Minas Gerais, seja dando uma prova de aceitação do sacrifício ao disputar o Senado contra o governador Antonio Anastasia, considerado imbatível.

Língua afiada
O deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE) ironiza as análises políticas realizadas em ano eleitoral. "São duas coisas que não entendo: padre, que nunca casou, falar em problemas de casamento, e cientista político, que nunca disputou voto, falar sobre eleição", diz o parlamentar, defensor da Telexfree, acusada de aplicar golpes milionários.

Parece, mas não é/ Sabe aquele bicho estranho, com cara de pato, bico de pato, mas que não é pato? Assim é o ornitorrinco. O bichano poderia substituir o tucano em Pernambuco. Durante os dois mandatos de Eduardo Campos (PSB), o PSDB local se portou como oposição. Agora, o cacique pernambucano da sigla, Sérgio Guerra (foto), diz que "esse negócio de oposição é coisa de babaca". Vivendo e aprendendo.

Só em 2015/ A Abin, desgastada com a presidente Dilma por não ter detectado previamente os protestos que sacudiram o país em junho, teve o pedido de concurso negado para preenchimento de 230 vagas de agentes de inteligência. O "não" foi uma ordem direta da Presidência da República. Um novo pedido já foi encaminhado ao Ministério do Planejamento. Agora, se vingar, só em 2015.

Rombo/ O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) denunciou o ex-presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Roberto Smith, e mais 10 dirigentes da instituição financeira pela prática de gestão fraudulenta. Segundo a denúncia do procurador da República Edmac Trigueiro, os ex-gestores teriam praticado irregularidades na administração dos recursos do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste (FNE), provocando um desfalque superior a R$ 1,2 bilhão.

Na penumbra/ O rombo teria acontecido após os dirigentes do BNB autorizarem pelo menos 52 mil empréstimos, entre eles, repasses milionários a empresários. Depois que os empréstimos eram feitos, os gestores bancários ignoravam os procedimentos de cobrança, encobrindo a real situação patrimonial do FNE.

Fonte: Correio Braziliense

Panorama Político – Ilimar Franco

Padilha nos Portos
Assim como o ex-presidente Lula, o vice Michel Temer também tem seus nomes do peito na reforma ministerial da presidente Dilma. O deputado suplente Eliseu Padilha (PMDB-RS) é seu candidato para a pasta dos Portos. Padilha não vai concorrer em outubro e tem experiência. Foi ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique.

Ressentimento
Os tucanos sempre venceram num dos maiores colégios eleitorais do país: o Rio Grande do Sul. Mas, desta vez, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, pode ter dificuldades. Tradicional aliado, o PMDB gaúcho abandonou a candidatura de Aécio. Os “serristas” do partido estão na vanguarda deste movimento, pois não engolem, até hoje, as derrotas de José Serra em Minas Gerais, nas eleições de 2010. O PP, da senadora Ana Amélia (RS), também não garante apoio ao tucano, pois está negociando aliança com o PSB, de Eduardo Campos.

"Estamos em uma crise nas organizações sociais e partidárias. A população não acredita nessas representações, com maior destaque para os jovens"
João Felício
Secretário de Relações Internacionais da CUT

Contrapartida
Negociador do PPS junto ao PSB, o vereador Raul Jungman (Recife) recebeu a tarefa de obter o apoio dos socialistas a seus candidatos ao governo Eliziane Lins (MA), Hissa Abrahão (AM) e a deputada distrital Eliane Pedrosa (DF).

Fotógrafo oficial
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, produziu esta foto da estátua de Leonel Brizola, inaugurada na quinta-feira, em Porto Alegre, na Praça da Matriz, em frente à sede do governo gaúcho e à Assembleia Legislativa. Na terça-feira, Lupi fará homenagem a Brizola no programa do partido, em rede nacional de TV.

Para onde ir
Adversário do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e descartado por Marina Silva (PSB), o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado, foi a Salvador em busca de um “aecista”, o prefeito ACM Neto, para sua candidatura à Presidência.

Os tucanos no Rio
Os aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG) juram que o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), agiu por sua própria conta e risco ao manifestar apoio à candidatura do atual vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Rio.

O portador da Mensagem
O ministro Aloizio Mercadante ainda não sabe se tomará posse na Casa Civil antes de três de fevereiro. Neste dia, o Congresso retomará os trabalhos. O chefe da Casa Civil é quem entrega a mensagem presidencial ao Parlamento.

Os petistas do B
O professor Márcio Jardim, da direção nacional do PT, é o candidato ao governo do Maranhão daqueles petistas que não querem aliança com a governadora Roseana Sarney (PMDB).

Enquanto ocorre a reforma a ministerial, Marta Suplicy (Cultura) participa segunda-feira, em São Paulo, da Campus Party, sobre cultura digital.

Fonte: O Globo

Ascensão e queda da esquerda na Itália

Ex-dirigente do Partido Comunista Italiano, Lucio Magri reconstrói em livro a trajetória da organização, do pós-guerra à dissolução, em 1991, que deixou um vazio na política do país

Por Leonardo Cazes

Começou com uma morte anunciada, no dia 3 de fevereiro de 1991, o 20º congresso do Partido Comunista Italiano (PCI): a septuagenária organização encerrava ali a sua história e dava origem ao Partido Democrático de Esquerda (o Partito Democratico della Sinistra, PDS). A transformação, proposta no fim de 1989 pelo secretário-geral Achille Occhetto, ocorreu na esteira da queda do muro de Berlim, do colapso da União Soviética e do chamado “socialismo real”. A decisão não foi uma exceção naqueles anos, mas marcou o fim daquele que ainda era o maior partido de massas da Europa Ocidental e o terceiro maior partido comunista do mundo, atrás apenas da China e da própria URSS. E os reflexos daquela opção são sentidos até hoje na política italiana.

O PCI não era um partido revolucionário, que defendia a tomada do poder pela força. Pelo contrário, teve papel central na redemocratização italiana após a derrubada do fascismo e chegou a ser a segunda maior força eleitoral do país no século XX. O que levou essa experiência a terminar na autodissolução é uma das questões perseguidas por Lucio Magri, ex-dirigente comunista e fundador do jornal “Il Manifesto”, morto em 2011, no livro recém-lançado no Brasil “O alfaiate de Ulm — Uma possível história do Partido Comunista Italiano” (tradução de Silvia de Bernardinis, Boitempo).

A possível história de Magri começa na Resistência italiana à ocupação nazista, que marca a volta do então secretário-geral Palmiro Togliatti a Itália, em 1944, após anos de exílio imposto pelo fascismo, e vai até o derradeiro congresso de 1991, em uma narrativa minuciosa dos fatos. Ele procura reconstruir essa trajetória em um diálogo permanente com o contexto mundial e as mudanças do próprio capitalismo. A relação entre o PCI e a União Soviética, muito tensa e cheia de contradições, também recebe grande atenção e são apontados os seus avanços e limitações.

— O comunismo italiano foi um fenômeno único. O PCI foi de longe o maior partido comunista na Europa, com 2 milhões de filiados por muitas décadas, e esse partido foi dissolvido em 1991 sem nenhuma análise profunda do que ele significou. De lá para cá, muitas biografias foram escritas, mas não são uma reflexão do que ele foi. A razão pela qual Magri escreveu o livro foi para dizer que não era possível simplesmente achar que tudo foi um erro e que deveria ser esquecido — afirma Luciana Castellina, fundadora do “Il Manifesto” junto com Magri e organizadora da sua obra póstuma.

Logo no início do livro, o autor deixa claro que discorda das duas interpretações dominantes sobre a experiência italiana. De um lado, há a leitura de que o PCI sempre foi social-democrata na sua essência e que a sua transformação no PDS foi parte de um processo de reconhecimento dessa mesma essência; de outro, que o partido era uma espécie de quinta-coluna da União Soviética no país. Magri, por sua vez, acreditava que o PCI representava uma via democrática alternativa para o socialismo e acreditava que a Revolução Russa não podia ser simplesmente replicada na Itália.

“Quero mostrar, ao contrário, que o PCI foi, de modo intermitente e sem levá-la plenamente a cabo, a tentativa mais séria, em certa fase histórica, de abrir caminho para uma ‘terceira via’, ou seja, de conjugar reformas parciais, de buscar amplas alianças sociais e políticas, de empregar com firmeza a democracia parlamentar, com duras lutas sociais, com uma crítica explícita e compartilhada da sociedade capitalista”, escreve ele.

Magri entrou no partido em 1956, aos 24 anos, no mesmo ano em que Nikita Kruschev fez o famoso discurso em que denunciou as violências, as deportações e os expurgos promovidos por Josef Stálin. Como definiu o historiador marxista Perry Anderson, no obituário de Magri publicado na revista “New Left Review”, ele entrou no PCI “com os olhos mais abertos do que aqueles que se juntaram ao partido no entre-guerras ou ainda durante a Resistência ao fascismo”. Seu olhar crítico lhe rendeu, inclusive, a expulsão do partido junto com o grupo que lançou o “Il Manifesto”, em 1969. Ele só retornaria ao PCI 15 depois, em 1984, e foi, internamente, um dos grandes opositores da proposta de extinção feita por Occhetto.

Para Luciana Castellina, a principal consequência do fim do PCI foi o desencantamento com a política e o empobrecimento da democracia. O PDS virou, em 1998, apenas DS (Democratas de Esquerda, em italiano). Em 2007, juntou-se a outras forças de centro-esquerda para formar o Partido Democrático (PD), que hoje governa o país com o direitista Povo da Liberdade (PDL), de Silvio Berlusconi. A união das duas forças ocorreu após o Movimento 5 Estrelas, liderado pelo comediante Beppe Grillo, ser o mais votado nas eleições parlamentares de abril de 2013 e se recusar a fazer alianças com os partidos tradicionais. Grillo fez sucesso ao levantar a bandeira da antipolítica.

— O modo como o partido foi dissolvido quebrou a espinha do que milhares de militantes acreditavam. Quando o PCI acabou, uma pequena parte criou um novo partido, Refundação Comunista. O resto foi para o PDS. Contudo, dos 1,5 milhão de militantes na época, 800 mil simplesmente decidiram voltar para casa e abandonar a política. A política deixou de existir como uma atividade social. Restaram apenas as eleições e a presença nas instituições, no parlamento, nos conselhos municipais. O desaparecimento de um partido com impacto social deixou a democracia mais pobre.

Fonte Prosa &Verso