terça-feira, 18 de março de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

A história maior é a história desse encontro, em que o Brasil está buscando o seu caminho. A disputa e o embate eleitoral, se continuar no cenário atual, é até tranquilizante para nós. Mas não sei se este cenário se mantém, por conta dos equívocos e do enxovalhamento que fizeram com a esquerda brasileira, envolvendo-a em corrupção e todo tipo de medidas antidemocráticas. A responsabilidade, agora, é de vocês, de construir um grande programa como alternativa ao que aí está. Contem conosco neste luta!

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, “O grande desafio da aliança PSB-REDE-PPS é unir os brasileiros para discutir o futuro” discurso no encontro do Rio de Janeiro, sábado, 15 de março de 2014.

Economistas elevam projeção de inflação a 6,11% em 2014, a mais alta desde janeiro de 2012

Previsão para aumento do PIB aumentou para 1,7%, segundo pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central

Gabriela Valente, Marcello Corrêa

BRASÍLIA e RIO - Pela segunda vez consecutiva, economistas de instituições financeiras elevaram a perspectiva de inflação neste ano, para 6,11%, ante 6,01% na semana anterior, segundo a pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira. É a projeção mais alta desde janeiro de 2012, quando o mercado esperava que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 fechasse em 6,55% (o índice acabou encerrado em 6,5%, teto da meta do governo). Há quatro semanas, analistas esperavam variação bem menor, de 5,93%.

O aumento da previsão para a alta de preços ocorre na semana em que o IBGE divulga o IPCA-15 de março, considerada a prévia da inflação oficial. Em fevereiro, o IPCA acelerou para 0,69%, puxado pelos reajustes das mensalidades escolares. Nesta segunda-feira, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV)acelerou para 1,29% em março, ante alta de 0,30% no mês passado, puxado pelo aumento dos preços no atacado.

As previsões para o comportamento do IPCA-15, que será divulgado nesta semana, não são animadoras. O Itaú, por exemplo, espera uma alta de 0,76%. Isso elevaria a inflação acumulada em 12 meses de 5,65% para 5,93%. A meta para o ano é de 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais.

Para os economistas do Itaú, os preços serão pressionados por aumentos de alimentos e bebidas frutos de condições climáticas adversas. Além disso, transporte também terá impacto negativo por causa de preços de passagens aéreas e combustíveis.A instituição ainda cita outros riscos num comunicado enviado para os clientes.

“Somando-se o efeito das condições climáticas adversas nos preços dos alimentos, o mercado de trabalho é mais apertado do que o esperado anteriormente e esperamos que a moeda local para depreciar daqui para frente. Ambos os fatores criam pressão sobre tendências da inflação. Temos a projeção de inflação para terminar este ano em 6,2 % e 6,0% em 2015”.

Já o Bradesco prevê aceleração para 0,80%, "refletindo as altas de produtos alimentícios in natura e de passagens aéreas", conforme informou o banco em comunicado.

Selic e PIB
Os indicadores de inflação devem ser observados de perto pelo mercado, já na expectativa da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando será decidido o destino da taxa básica de juros. A expectativa da pesquisa Focus é que o BC eleve a Selic em 0,25 ponto percentual, para 11% ao ano.

Já, o Top 5 de médio prazo, com as instituições que mais acertam as projeções nesse período, continua vendo maior aperto monetário. A mediana das projeções é de Selic a 11,75 por cento no final de 2014, inalterado ante a semana anterior. Para 2015, mantiveram a projeção de Selic a 12%.

O relatório também indicou uma melhoria na previsão para o crescimento da economia, que retornou para o patamar de 1,7%, após ter caído para 1,68% na semana passada.

Fonte: O Globo

Reunião termina sem acordo sobre o Marco Civil da Internet

'É discussão preliminar', disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do bloco dos descontentes na Câmara; participaram do encontro o vice Michel Temer e os ministros das Relações Institucionais e Justiça

Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Pivô da crise entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), disse na noite desta segunda-feira, 17, que não houve ainda "nenhuma possibilidade de acordo" quanto à votação do Marco Civil da internet. Cunha participou de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e os ministros da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Justiça, José Eduardo Cardozo.

"É discussão preliminar, não houve ainda nenhuma possibilidade de acordo porque tem uma posição de bancada já definida. Então qualquer coisa nova que for discutida tem que primeiro discutir com a bancada", afirmou Cunha, ao deixar o gabinete da vice-presidência.

"Não posso dizer nem que continua como está nem que avançou, porque não houve nenhuma colocação concreta de absolutamente nada. O que houve foi apenas conjecturas e sobre conjecturas eu não posso falar. O que eu vou fazer pelo meu lado é conversar com a bancada e pelo lado do governo, ver o que o governo vai fazer."

De acordo com Cunha, um dos pontos centrais da discussão desta segunda foi a "possibilidade de liberdade de internet". "Essa coisa de controlar por decreto, isso é uma coisa que tá incomodando muito. Esse ponto é um ponto muito duro, dificilmente haverá mudança da nossa parte se não houver mudança disso. Então é preciso evoluir", disse. "Eu não vejo nenhuma possibilidade de votar isso amanhã (terça-feira), mas vamos ver."

Emenda. Cunha afirmou que talvez tire a emenda aglutinativa que altera substancialmente o texto apresentado pelo relator do projeto, Alessandro Molon (PT-RJ), mas garantiu que haverá destaques. Um ponto do projeto do Marco Civil da internet é inegociável para o governo: a neutralidade da rede. Para a presidente Dilma Rousseff a neutralidade da rede é importante para garantir a inclusão digital, ampliando o acesso da população de baixa renda à internet.
"Eu fiz aquilo (apresentar a emenda) como estratégia de votação antes e como minha intenção é derrubar o projeto, minha intenção é votar contra o projeto, talvez eu tire (a emenda)", afirmou.

Questionado sobre a ausência notável de deputados do PMDB na cerimônia de posse de seis novos ministros, que ocorreu pela manhã no Planalto, Cunha respondeu: "Nós avisamos que não viríamos e vamos mostrar publicamente que não temos nada a ver com isso."

Sobre a estratégia de aproximação do Planalto, Cunha afirmou que "política é a arte de conversar". "Não dá para dizer que nada mudou (com essa reunião). A gente conversa horas e horas e a gente vai conversando. Não posso dizer nem que andou para um lado ou para outro", comentou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Medo de nova derrota no Congresso Nacional assombra o governo

Planalto adia, mais uma vez, a análise do Marco Civil da Internet na Câmara porque 80% do PMDB são contra a aprovação do texto

Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro

Inseguro quanto à possibilidade de vitória na Câmara, o governo resolveu adiar, mais uma vez, a votação do Marco Civil da Internet. É a segunda vez em menos de uma semana que transfere a análise da matéria para evitar uma derrota em plenário. O Planalto liberou emendas parlamentares, distribuiu cargos e até reabriu o diálogo com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Não adiantou nada.

Após reunião no início da noite com Cunha, o vice-presidente Michel Temer, a secretária de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, veio a decisão de adiar a votação. A justificativa, contudo, é que o Planalto já enfrentará outra batalha hoje: a análise de 12 vetos. “Então, muito provavelmente, nós não teremos, tempo, entre o horário da Câmara e do Congresso, para analisar uma matéria dessa complexidade”, afirmou Ideli.

A ministra reconheceu que o momento político ainda é tenso. “Tivemos, na semana passada, bastante conturbação política. Temos que ver como votam as bancadas, os líderes. Vamos deixar para amanhã o desenrolar das conversas com todas as bancadas”, completou a ministra.

Fonte: Correio Braziliense

FHC: 'Não vou ser candidato a mais nada'

Ex-presidente desfez rumores de uma possível candidatura a vice na chapa do senador mineiro Aécio Neves

Pedro Venceslau

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse na noite desta segunda-feira, 17, que não pretende ser candidato a nenhum cargo nas eleições deste ano. Nós últimos dias, dirigentes tucanos fizeram circular o rumor de que FHC teria sido convidado para ser candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves.

A tese ganhou força no partido depois que o PSDB nacional realizou pesquisas qualitativas que indicaram que o nome de FHC tinha boa aceitação entre eleitores de várias idades. O comando da pré-campanha de Aécio decidiu, com base nesses dados, que vai utilizar a imagem do Fernando Henrique com frequência nas propagandas de rádio e TV, na internet e nos materiais gráficos do partido.

Questionado pela reportagem durante um evento hoje em São Paulo sobre a possibilidade de ser candidato, FHC sorriu e respondeu: "Não vou ser candidato a mais nada. Vou apenas ajudar o partido na campanha."

Já sobre a possibilidade de que o partido busque um vice para a chapa de Aécio que seja de São Paulo, o ex-presidente respondeu apenas que "isso é possível". A eleição presidencial de 2014 será a primeira na qual o PSDB contará com candidato à Presidência que não é de São Paulo. O ex-governador paulista José Serra foi o candidato em 2002 e 2010 e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disputou à Presidência em 2006.

FHC participa na noite de hoje de solenidade de posse na nova diretoria da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que acontece no centro de São Paulo. Também estão presentes no evento os tucanos Alckmin e Serra, e os dois prováveis candidatos ao governo paulista, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dependência do PMDB explica crise na aliança

Cristian Klein

SÃO PAULO - O clima de beligerância entre o PT e o PMDB - que levou a derrotas do governo federal na Câmara na semana passada - tem como principal explicação as alianças eleitorais deste ano, em que ambos se acusam de cederem pouco nos apoios a seus candidatos a governador. Levantamento feito pelo Valor, com as coligações estaduais firmadas desde 1998 entre as duas legendas, e também com a terceira maior sigla, o PSDB, mostra o quão generosa tem sido a política de alianças dos três maiores partidos brasileiros.

O PT em 2010 foi o partido que mais concedeu apoio - a sete candidatos a governador do PMDB - no histórico de alianças realizadas entre as três agremiações, no período.

Em seguida, vem o apoio do PSDB ao PMDB, em 2002, quando os tucanos aderiram à candidatura majoritária do aliado em seis Estados.

Em comum nas duas eleições está a presença do PMDB como vice na chapa presidencial. Ou seja, o preço do apoio pemedebista - e portanto de seus minutos do horário eleitoral gratuito - ao projeto nacional de tucanos e petistas tem sido a maior satisfação das pretensões de seus caciques regionais.

É exatamente o que está por trás das cobranças e da tensão que tomaram conta da relação entre PT e PMDB.

Se o PT é o que mais ofereceu apoio nas coligações estaduais entre os três partidos - o que, na prática, significa quem deu ou recebeu mais apoio ao PMDB, pois só ocorreram duas alianças entre petistas e tucanos no período, ambas em 1998 - os pemedebistas foram os que menos cederam desde então.

O apetite do PMDB no plano regional - principal base de seu poder político - pode ser medido tanto na relação com o PT quanto na com o PSDB.

Em contraste com os petistas, que os apoiaram em sete candidaturas a governador (RJ, MA, MT, MG, GO, PB e TO), os pemedebistas em 2010 retribuíram em apenas duas unidades da Federação (DF e SE). Em termos proporcionais, enquanto o PMDB foi apoiado pelo PT em 54% de suas 13 candidaturas, o aliado cedeu a 20% dos dez petistas que concorriam aos governos estaduais.

No período que cobre quatro eleições, a média de apoio do PMDB ao PT é a mais baixa - à exceção das taxas quase nulas entre petistas e tucanos. Foram cinco em 68 candidaturas petistas (7,3%).


Uma das razões está na própria política de alianças do PT, que era distante do PMDB até o partido alcançar a Presidência da República, em 2003. E, em parte, é resultado da verticalização vigente em 2002 e 2006. Nestas eleições, partidos aliados na chapa presidencial foram proibidos de se coligar, nos Estados, com legendas adversárias no plano nacional.

Em 2002, o PMDB estava como vice na chapa tucana ao Planalto e não podia apoiar candidatos a governador do PT. Mas em 2006, quando já integrava o ministério do ex-presidente Lula, a legenda ficou solta e apoiou apenas três (16,7%) das 18 candidaturas petistas.

Em 2010, com Michel Temer na chapa presidencial de Dilma Rousseff, o PMDB aumentou numericamente o apoio para 20%, mas não qualitativamente. O percentual reflete o baixo lançamento de candidatos petistas a governador - apenas dez, o menor feito desde 1998 pelos três grandes partidos - e se deu em unidades da Federação de peso eleitoral menor (DF e SE). Quatro anos antes, o PMDB havia apoiado o PT no segundo (Minas Gerais) e no quarto (Bahia) maiores colégios eleitorais.

Isso mostra que a adesão dos pemedebistas aos petistas nas eleições estaduais ocorre em baixo patamar e é declinante. Um dos argumentos do presidente nacional do PT, Rui Falcão, para rebater as pressões por apoio a candidatos a governador do PMDB, neste ano, é que a sigla até agora dá pouca contrapartida e só se dispõe a se coligar com petistas no Distrito Federal e, provavelmente, em Minas Gerais - numericamente o mesmo que na última eleição.

O PT, por outro lado, não deve repetir o recorde de adesões de 2010 e, por enquanto, declarou apoio a candidatos do PMDB em apenas quatro Estados (SE, AL, PA, AM) que reúnem apenas 7% do eleitorado nacional. As sete unidades da Federação onde os petistas apoiaram o PMDB, há quatro anos, representavam quase 30% dos eleitores do país - isto é, mais de quatro vezes.

Está aí a origem da gritaria dos pemedebistas. O PT resiste em reeditar a coligação em três Estados que contam com quase metade (14,5%) do eleitorado abrangido pelos apoios que deu ao parceiro em 2010: Rio de Janeiro, Maranhão e Goiás. E prefere ajudar o governador do Ceará Cid Gomes (Pros) a eleger seu sucessor, em vez de embarcar na candidatura do senador Eunício Oliveira, a maior aposta dos pemedebistas e que lidera as pesquisas eleitorais.

Menos generoso em 2014, o PT assusta o PMDB porque avança como nunca sobre o plano regional. Os Estados são o território político por excelência dos pemedebistas, nem tanto pelo número de governadores ou proporção do eleitorado - bem menores que do PSDB - mas pela possibilidade de manter e ampliar suas bancadas de deputados e senadores no Congresso Nacional.

Os petistas, que sempre deixaram em segundo plano a eleição para governador, mudaram a estratégia. Terão entre 11 e 14 candidatos, número maior que em 2010 - quando precisou ceder mais aos aliados para eleger Dilma, então desconhecida nacionalmente - e, principalmente, o grupo mais competitivo já lançado pelo partido e voltado para a conquista dos maiores colégios eleitorais, sem descuidar dos menores. O PT terá candidatos nos seis maiores Estados, que representam 60% dos eleitores do país, e, em pelo menos mais cinco, com 7%, o que abrange dois terços do eleitorado nacional.

Como o PMDB resiste em ter um papel subalterno no plano regional - sob o risco de repetir a trajetória de desidratação do DEM (ex-PFL) ao tornar-se um satélite do PSDB - o conflito de interesses com o PT é inevitável. Os petistas querem avançar, mas precisam, ao mesmo tempo, ceder a outros aliados de porte médio (para, em troca, ter seu tempo no horário eleitoral) e encontram resistência de penetrar em territórios estratégicos dominados pelos tucanos, como os dois maiores Estados: São Paulo e Minas. No que resta, acabam trombando com os caciques regionais do PMDB.

E a disposição dos pemedebistas em ceder é a menor entre os três grandes partidos. Desconsiderando a relação quase inexistente entre PT-PSDB e os anos de 1998 (em virtude do distanciamento ideológico/estratégico) e 2002 (verticalização) nas alianças com o PT, o PMDB tem as mais baixas taxas de apoio. Aderiu em média a 18% das candidaturas do PT (em 2006 e 2010) e em 20,7% às do PSDB (nas quatro eleições).

Em contraste, os pemedebistas foram mais apoiados por petistas e tucanos. O PT aderiu a 31% dos candidatos lançados pelo PMDB, em 2006 e 2010 (mesmo considerando 1998 e 2002, quando não houve relação entre ambos, a taxa é de 14%, pouco abaixo dos 18% do PMDB quando levado em conta somente as disputas em que houve alianças).

Já o PSDB apoiou 26,6% das candidaturas pemedebistas (17 em 64) nas quatro eleições. O que chama a atenção na relação entre os dois partidos é a maior generosidade dos tucanos nos Estados com maior peso eleitoral. Em 2002, por exemplo, dos seis Estados em que o PSDB aderiu ao PMDB, um (BA) tem grande eleitorado e três (RS, PE e SC) são de densidade média. E entre os dois menores, um (DF) se destaca pela visibilidade e importância estratégica de ser a capital federal.

A ampla maioria das adesões do PMDB aos tucanos, por sua vez, ocorreu em Estados com pequeno eleitorado. Dos 12 apoios, dez foram nas menores unidades da Federação. E nos outros dois um foi em 2010, em São Paulo, onde os tucanos têm hegemonia, e outro foi em 1998, no Rio, para uma candidatura de terceira via tucana pouco competitiva, a de Luiz Paulo Corrêa da Rocha, que ficou em terceiro lugar com 15,5%.

O histórico de alianças também mostra a crescente dependência do PMDB em relação aos apoios dos partidos que polarizam a eleição nacional. Enquanto o PT registrou, em 2002, nenhuma adesão seja de pemedebistas ou tucanos a seus candidatos a governador, o PMDB, em 2010, elevou essa taxa ao recorde do período: 77% do total de suas candidaturas (54% do PT mais 23% do PSDB).

Fonte: Valor Econômico

Eduardo Campos ironiza reações às críticas que fez ao governo Dilma

O governador Eduardo Campos esteve, no final da manhã, em Itapissuma, para a festa de inauguração da fábrica da Ambev no município. O Blog de Jamildo questionou o governador sobre a repercussão de suas críticas à presidente Dilma, no interior do Estado, neste final de semana.

Eduardo Campos explicou ao repórter Paulo Veras, do Blog de Jamildo, que não fez críticas a pessoa de Dilma e até votou nela. No entanto, defendeu que tem o direito de discutir o Brasil.

“É normal o PIB cair, a inflação voltar a subir? Temos que discutir o Brasil. Isto não é ataque”, declarou.

Eduardo campos não perdeu a oportunidade de dar uma estocada nos petistas com uma fina ironia.

“É mais importante discutir o Brasil ou discutir quem entra no Ministério do Turismo, o PMDB do Senado ou o PMDB da Câmara dos Deputados?”, jogou de volta, ao repórter presente.

Fonte: Jornal do Commercio

Campos critica atual federalismo e anuncia recursos

Angela Lacerda

Em meio a críticas ao governo federal e a um discurso de defesa de um "federalismo de verdade", o governador provável candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), anunciou nesta segunda-feira a liberação de R$ 241 milhões para os 185 municípios pernambucanos por meio da reedição do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM).

O anúncio foi feito para uma plateia de prefeitos na abertura do Congresso Pernambucano de Municípios, no Centro de Convenções, no município metropolitano de Olinda, a menos de três semanas de sua desincompatibilização do cargo de governador para disputar o pleito deste ano. O FEM foi lançado há um ano como um socorro financeiro em um momento de grave dificuldade econômica com a estiagem no semiárido.

"O povo foi às ruas nas manifestações de junho porque quer um melhor serviço público e não se faz isso sem fortalecer o município", discursou Campos, que criticou o crescimento da carga tributária do governo federal ao mesmo tempo em que os municípios sofreram uma redução de recursos e aumento de responsabilidades. "O País anda desequilibrado do ponto de vista econômico e social", frisou.

Ele abordou a saúde e a educação para exemplificar a situação vivida pelos municípios, defendendo que os gastos nestas áreas precisam ser discutidos do ponto de vista do pacto federativo. Ele lembrou que em 1990 os municípios entravam com 11% do financiamento da saúde, quando à União cabiam 66% e aos Estados 13%. "Hoje (citando números de 2010) os municípios colocam 28,7%", afirmou. "Não se faz política de saúde sem municípios, não se organiza e fortalece o Sistema Único de Saúde se não se fortalecer a atenção básica nos municípios".

Campos disse que estará presente à marcha dos prefeitos de todo o País, em maio, em Brasília, quando pretende discutir "um novo federalismo, de verdade". Os R$ 241 milhões da segunda edição do FEM equivalem a uma cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em 2013. O repasse será fundo a fundo (repasse direto para os municípios), em quatro parcelas. Na primeira versão foram R$ 228 milhões, que contemplaram 442 projetos, a maioria deles na área de infraestrutura. Para Campos, o FEM é um caminho para "vencer a burocracia sem perder o controle", e fazer os recursos chegarem ao município.

O secretário estadual de Planejamento, Frederico Amâncio, irá recebera partir de amanhã (18) os projetos das prefeituras para que possam ser analisados e aprovados até 30 de abril. Mas coube ao secretário de Fazenda, Paulo Câmara, o candidato à sucessão do governador, dar entrevista à imprensa sobre o assunto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PMDB boicota transmissão de cargo aos novos ministros

Vinicius Nobre Lages diz que está aberto ao diálogo e quer fazer a ponte com o partido

Isabel Braga

BRASÍLIA – A cerimônia de transmissão de cargo ao novo ministro do Turismo, Vinicius Nobre Lages, nesta segunda-feira, foi esvaziada e não contou com a presença de políticos do PMDB. No evento, o ex-ministro Gastão Vieira destacou que a pasta tem capilaridade, rebatendo a críticas de peemedebistas. Vieira e Lages também aproveitaram a cerimônia para destacar que vão trabalhar para construir a ponte entre o PMDB e o governo.

O novo ministro disse não saber se sua indicação para o cargo partiu do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas disse que é possível que ele tenha levado o nome de Lage à presidente Dilma Rousseff.

- Eu recebi na quinta-feira o convite da presidente Dilma, que queria um perfil técnico para a pasta. As forças que me apoiaram nesse processo foram muitas, inclusive, evidentemente, imagino que o senador (Renan Calheiros) deva ter dado algum respaldo. Mas eu recebi da presidente o convite – disse o novo ministro.

Indagado se o boicote que o PMDB fez à sua posse pode prejudicar o ministério, Lage disse acreditar que não. Ele disse que resistências são normais em processos de mudanças e que está aberto ao diálogo.

- O ministro Gastão vai ser uma ponte importante. A presidente Dilma também será uma ponte importante. Na quinta-feira, quando ela me chamou, disse que está empenhada em construir essa ponte, e eu espero poder ajudá-la nesse sentido.

Gastão Vieira não quis comentar se houve falta de paciência da presidente em negociar com o PMDB. Segundo ele, tudo é uma questão de temperamento.

- Tudo é uma questão de temperamento, e a presidente tem seus interlocutores. E eu, como deputado, vou me colocar para criar um clima de entendimento, de reconstrução de pontes. O clima de beligerância não atende a ninguém. Nem ajuda o meu partido, o PMDB, nem ao governo. É preciso caminhar para o entendimento, ter paciência para ouvir, criar um momento novo, uma pauta nova entre o Congresso e o governo.

Gastão destacou, no discurso, que o Turismo não é um ministério “menor”. Citou o PAC do turismo, disse que o novo ministro terá R$ 680 milhões em obras para inaugurar, e que foram contratados durante sua gestão 16,6 mil obras, envolvendo R$ 8,4 bilhões.

Fonte: O Globo

Campos critica subsídio à energia

Murillo Camarotto

RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ironizou ontem a alegada prioridade dada pela gestão da presidente Dilma Rousseff à área da educação. A uma plateia repleta de prefeitos de Pernambuco, Campos criticou o gasto do governo federal com subsídios ao preço da energia elétrica.

"Se a educação é prioridade, como é que se arruma, mais do que de repente, R$ 63 bilhões para o setor de energia e se fica com R$ 10 bilhões para o Brasil inteiro para a educação?", indagou Campos, durante discurso de abertura do Congresso Pernambucano de Municípios.

Na ocasião o governador anunciou aos prefeitos a segunda versão do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), que vai destinar R$ 241 milhões para a realização de obras e desenvolvimento de projetos pelas prefeituras.

O montante, que será repassado diretamente aos cofres municipais em quatro parcelas mensais, equivale a uma cota-parte do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) referente a 2013. Os prefeitos têm o prazo de um ano para executar os projetos.

Durante a solenidade representantes de associações de prefeitos criticaram o governo federal, com destaque para a Lei de Licitações (8.666), que limitaria os gastos livres dos municípios.

O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco, José Patriota (PSB), disparou contra a administração federal, ao dizer que, quando há interesse o governo encontra uma forma de contornar a 8.666. "Para a Copa deram um jeito", disse o prefeito, que é um dos principais aliados de Campos no Estado.

Na mesma linha, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Antonio Fernando Rodrigues, disse que "era muito mais simples governar antes da instituição da Lei de Licitações", em 1993.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto, Campos disse que o modelo de repasse direto de recursos entre Estados e municípios, como é feito no FEM, deve ser ampliado no país. Ele também se comprometeu a participar da marcha dos prefeitos a Brasília, marcada para maio.

Na ocasião Campos não será mais governador de Pernambuco. Ele deixa o cargo no próximo dia 4 de abril para se dedicar integralmente à corrida presidencial. "Estarei presente no debate em Brasília para poder falar muita coisa que não posso falar aqui", prometeu o governador.

Fonte: Valor Econômico

Anastasia vai anunciar saída do governo mineiro nesta terça

Governador de Minas irá sair do comando da Cidade Administrativa Tancredo Neves para se dedicar à campanha presidencial do senador Aécio Neves

O governador Antonio Anastasia anuncia nesta terça-feira (18) o dia que irá deixar o cargo. Ele sairá do comando da Cidade Administrativa Tancredo Neves para se dedicar à campanha presidencial do senador Aécio Neves e à candidatura própria ao Senado.

A data limite para deixar o cargo e participar das eleições é 5 de abril. A expectativa é que Anastasia deixe o cargo perto desse período, entre 3 de abril e a data final.

Anastasia, junto com o economista Armínio Fraga, será o responsável pela coordenação do plano de governo do candidato tucano.

Em coletiva realizada no dia 9 de janeiro, Aécio Neves já afirmava 'entender' a possibilidade de Anastasia deixar o cargo de governador do Estado para focar nas disputas eleitorais de outubro.

Com a saída de Anastasia, o vice-governador Alberto Pinto Coelho, do PP, irá assumir o cargo de até o final do ano.

Fonte: O Tempo (MG)

Aécio tenta atrair PMDB mineiro para chapa tucana

Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - Para isolar o PT em Minas, o pré-candidato tucano ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), aproveitou as recentes tensões entre PMDB e a presidente Dilma Rousseff e ofereceu ao PMDB mineiro a vaga de senador na chapa que terá o tucano Pimenta da Veiga como candidato ao governo.

Nesse arranjo, o atual governador, Antonio Anastasia (PSDB), não disputaria nenhum cargo em outubro e atuaria como um dos coordenadores da campanha de Aécio. A composição da chapa é o principal argumento dos peemedebistas que defendem o acordo com os tucanos. A possibilidade preocupa a direção nacional do PMDB, que espera uma aliança com o PT.

A oferta de Aécio, relatada ao Estado por três peemedebistas, seria uma cartada final do tucano para "unir Minas contra o PT". O sonho do PSDB é ter Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar, como candidato ao Senado na chapa. Josué, porém, tem relações próximas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e se filiou ao PMDB a pedido dele.

O PMDB mineiro está fragmentado. O senador Clésio Andrade lançou seu nome ao governo, mas mesmo aliados dele acreditam em eventual apoio a Aécio. O deputado Leonardo Quintão é outro que teria simpatia pelo projeto tucano. O presidente regional do PMDB é o deputado Antonio Andrade, que deixou o Ministério da Agricultura ontem. Ele defende o apoio à chapa do ex-ministro Fernando Pimentel (PT). Presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana diz que não houve discussão de chapa nas conversas com o PMDB. "Não é assunto para agora. Isso é só em junho."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Alves cogita ter PSB e PSDB em palanque por governo potiguar

Presidente da Câmara é cotado para disputa no Rio Grande do Norte e PMDB lançaria Cunha para substituí-lo na Casa

Ricardo Della Coletta e Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - Enquanto a Câmara vive o ápice de uma crise entre a base aliada e o Palácio do Planalto, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), passou a articular nas últimas semanas sua candidatura ao governo do Rio Grande do Norte.

Ele já excluiu o PT da sua chapa majoritária no Estado e trabalha agora para consolidar um acordo com os partidos dos dois adversários de Dilma Rousseff em outubro: o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o PSDB do senador mineiro Aécio Neves.

"Ele (Alves) está fazendo pesquisas e já admite essa possibilidade. Mas não tem nada fechado ainda", afirma o senador Valdir Raupp (RO), presidente em exercício do PMDB.

O partido trabalhava, no Rio Grande do Norte, para lançar como candidato o atual ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, que já governou o Estado, mas não manifestou interesse em brigar pelo cargo. Com isso, o nome de Henrique Alves ganhou força dentro da sigla.

Para o PMDB, ter um candidato forte ao Executivo é fundamental para puxar votos aos candidatos a deputado federal e, assim, manter-se como uma das maiores bancadas da Casa.

Pressões. Questionado, Henrique Alves desconversa, mas diz receber pressões para entrar na disputa. "Há uma pressão muito forte das bases do partido e também de possíveis aliados, mas ainda estamos conversando."

Eleito em 2013 para comandar a Câmara, Henrique Alves era tido como candidato certo à reeleição, mas, diante das estimativas de que o PT ampliará a vantagem sobre o PMDB em número de deputados na próxima legislatura, os dois partidos duelam nos bastidores pelo cargo.

Com a eventual saída do atual presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder da sigla na Casa e desafeto do Planalto, é visto como o substituto com mais força para enfrentar o PT. "Ele se coloca como um deputado que tem coragem de fazer o enfrentamento e a defesa da Câmara", definiu um peemedebista.

Do lado petista, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), tenta se viabilizar como alternativa ao PMDB. Tradicionalmente, o partido que faz a maior bancada na Casa costuma indicar o presidente. Desde 2007, porém, PMDB e PT fizeram acordos para um rodízio no cargo, o que viabilizou a eleição de Henrique Alves. O acordo, porém, não se estende a 2015.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Merval Pereira: Alianças pragmáticas

A crise entre o PT e o PMDB está servindo de mote para o presidenciável Eduardo Campos assumir cada vez mais a postura de candidato de oposição, e não apenas ele. A sua provável vice, ex-senadora Marina Silva, segue na mesma batida, ela que, na eleição de 2010, não assumiu a condição de oposicionista nem no primeiro turno e talvez por isso não tenha ido mais longe do que foi. No segundo, recusou-se a apoiar qualquer dos candidatos, iniciando a pregação contra PT e PSDB, colocando-os no mesmo nível.

Eduardo Campos, para dar a ideia de como vê o governo de coalizão de que participou até recentemente, diz que a presidente Dilma distribui cargos e ministérios como quem distribui bananas e laranjas. Já Marina diz que a crise é exemplar da disfuncionabilidade do sistema.

Os dois têm razão: no Brasil, uma interpretação distorcida do que seja o papel dos partidos políticos no apoio a um governo levou a que a corrupção e o fisiologismo se tornassem elementos fundamentais da chamada “governabilidade”.

O problema será como a dupla PSB/Rede vai lidar com essa distorção que já está introjetada na vida pública brasileira. Agora mesmo estamos vendo as dificuldades enfrentadas pelos dois para definir os palanques estaduais. Os critérios de Campos são bem mais elásticos do que os da Rede de Marina, e ajustar esses pontos de vista para tirar da união o melhor efeito eleitoral é tarefa delicada.

Há na Rede a ideia de que é preciso dar limites a Campos, acostumado que estaria às práticas antigas da política. Já no PSB há a certeza de que é preciso adequar os anseios da Rede às realidades regionais para viabilizar eleitoralmente a chapa.

O caso de São Paulo é emblemático de como transformar limão em limonada. O veto de Marina ao apoio ao governador tucano Geraldo Alckmin a princípio trouxe problemas para Campos, pois a maioria esmagadora do PSB paulista queria apoiar o PSDB.

Estabelecida a impossibilidade, o PSB passou a dizer que Marina estava na verdade ajudando Campos a se livrar de uma coligação problemática, sem criar crise com o governo tucano, que estaria enfraquecido popularmente. O PSB poderá apresentar um candidato próprio e manter sua pregação de que representa o novo na política.

A rejeição a parceiros políticos impostos pelo pragmatismo eleitoral é comum nesse nosso presidencialismo de coalizão. A falecida Ruth Cardoso disse a famosa frase “o meu PFL não é o PFL do Antonio Carlos Magalhães”, que deixou o então presidente Fernando Henrique Cardoso em maus lençóis. Antes dele, Tancredo Neves já havia dito que o seu MDB não era o de Miguel Arraes.

As trapaças da sorte levaram a que Eduardo Campos, neto de Arraes, e Aécio Neves, neto de Tancredo, estejam unidos nesta campanha presidencial, armando pactos de não agressão e acordos regionais que prenunciam apoio de um ao outro no segundo turno da eleição presidencial.

O senador Aécio Neves, certo de que a estrutura do partido que preside o levará ao segundo turno, não se incomoda de dizer que apoiará Campos caso ele chegue ao segundo turno. O ex-presidente Fernando Henrique já chegou a dizer que qualquer dos dois seria bom, o mais importante seria derrotar o PT.

Já Campos não aceita nunca explicitar o apoio a Aécio no segundo turno, com receio de admitir que pode não chegar lá. Mas o caminho que está tomando, de duras críticas à presidente Dilma, dificulta a possibilidade de apoiá-la num segundo turno. Mesmo que fique em cima do muro, a exemplo do que fez Marina em 2010, a maioria dos seus eleitores irá naturalmente para a oposição, como aconteceu na última eleição.

Em caso contrário, a quase totalidade dos eleitores do tucano apoiará Eduardo Campos no segundo turno, e por isso já está sendo utilizada a lógica do “voto útil” pelos estrategistas do PSB/Rede. Por esse raciocínio, será mais fácil unir as oposições caso Campos passe para o segundo turno do que em favor de Aécio Neves.

A presidente Dilma já deu mostras de que, se pudesse, se livraria da aliança com o PMDB, mas por enquanto a abrangência da rede eleitoral que o PMDB montou pelo país ainda é atraente para uma eleição que promete ser disputada. Acima disso, porém, estão os quatro minutos de televisão que o partido detém por ter a segunda maior bancada de deputados federais eleita em 2010.

Fonte: O Globo

Dora Kramer: Toque de reunir

O senador Aécio Neves não tem a ilusão de que os atritos do governo possam levar o PMDB a mudar formalmente de lado na eleição, mas já se prepara para fazer um "chamamento forte" aos dissidentes do partido.

Na visão dele, o governo terá o que quer: os pouco mais de quatro minutos de tempo de televisão, que fazem a presidente Dilma Rousseff engolir sapos a mancheias.

A mesma certeza já não se aplica ao empenho das máquinas estaduais do PMDB País afora na reeleição de Dilma ou à fidelidade de deputados, senadores, dirigentes e candidatos pemedebistas à decisão da convenção.

Certo de que a direção do partido não terá como conter a insatisfação explícita da dissidência, o candidato do PSDB acha que poderá contar com pelo menos uma boa parte da mobilização do PMDB em sua campanha.

Antes de lançar o apelo, que obviamente terá referência às antigas lideranças pemedebistas como o avô Tancredo Neves, Aécio precisa ter consolidadas negociações em andamento sobre alianças com candidatos do partido nos Estados e um ambiente que seja reconhecido como um porto seguro (notadamente na economia) por vários setores da sociedade.

A segurança ele pretende transmitir exibindo cada vez mais seu "time". Gente que trabalha na linha de frente do programa de governo e na retaguarda da campanha. Vários desses nomes aos poucos vão aparecendo ou ao lado do candidato ou em eventos do partido.

Dois dos mais assíduos: Armínio Fraga e José Roberto Mendonça de Barros. A ideia de Aécio é que à medida que esse pessoal que participou da elaboração e execução do Plano Real e do governo Fernando Henrique for aparecendo, a candidatura vá conquistando a confiança do mercado.

Na comemoração recente dos 20 anos do Real, toda a equipe participou de um seminário onde se discutiu a política econômica com duras críticas ao atual governo. No próximo dia 1.º de julho, quando se comemoram duas décadas da entrada em circulação da moeda, haverá atos em todas as capitais.

Na política, seu maior ativo será justamente o ex-presidente, que em campanhas presidenciais anteriores foi "escondido" pelo partido devido aos baixos índices de popularidade.

FH terá papel, ainda não definido, mas de destaque. Há quem no PSDB defenda que ele integre a chapa como vice de Aécio, possibilidade considerada muito remota. Dependeria da vontade do ex-presidente.

Essas conversas surgiram depois que pesquisas qualitativas feitas pelo PSDB em 19 Estados indicaram uma recuperação expressiva da imagem de Fernando Henrique, principalmente entre os jovens e no eleitorado de São Paulo.

No meio político, teria a vantagem de ser um conciliador, ao contrário de Dilma Rousseff. Nessa seara, contudo, terá um adversário de peso na figura do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, também visto nesse mundo como dono de atributos opostos aos da sucessora.

A despeito das especulações, nenhum dos dois seria candidato a vice na chapa de seus candidatos. Isso contrariaria qualquer lógica. Eles foram presidentes. Não faria sentido concorrerem como linha auxiliar numa disputa em que um está necessariamente fadado à derrota e quem ganha, de fato não leva.

Não entra mosca. Calada (em público), a bancada do PT na Câmara observa os colegas do PMDB reclamarem de falta de prestígio e diálogo por parte do Palácio do Planalto.
O silêncio deve-se em parte ao reconhecimento de que há desapreço ao Congresso de maneira geral, mas deve-se também a um sentimento de injustiça que o partido por dever de ofício não pode vocalizar.

Um de seus destacados integrantes explica a razão do desconforto: "O único partido da base que não indica ministro é o PT. Quem indicava era o Lula e hoje é a Dilma, muitas vezes com o aval de Lula".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Luiz Carlos Azedo: A política como (bom) negócio

Deputados e senadores talvez tenham mais desenvoltura no trato de grandes e pequenos interesses privados do que no debate de políticas públicas

Uma das maneiras de traçar uma linha divisória entre os políticos é uma clássica definição de Max Weber, em notável conferência realizada em 1918, na Alemanha, intitulada “A política como vocação”. A definição weberiana de político é nua e crua: o homem que se entrega à política, aspira ao poder — seja porque o considere como instrumento a serviço da consecução de outro fim, ideais ou egoístas, seja porque deseje o poder “pelo poder” para gozar do sentimento de prestígio que ele confere. Sendo assim, haveria dois tipos de políticos: aqueles que “vivem para a política” e aqueles que “vivem da política”.

Para Weber, “todo homem sério, que vive para uma causa, vive também dela”, mas isso não impede que a diferenciação econômica dos que “vivem para” e dos que “vivem da” política seja relevante. Segundo ele, nem o operário, nem o empresário estão disponíveis suficientemente para a política. Por isso, para a sobrevivência dos partidos políticos — e da própria democracia — é preciso a existência de pessoas que “vivam da” política e a tenham como atividade principal. A consequência prática é uma camada numerosa de dirigentes políticos formada a partir de critérios plutocráticos: o partido que tem mais recursos econômicos para disponibilizar políticos profissionais elege mais e tem mais poder. Vem daí, por exemplo, a crise atual entre PT e PMDB.

Nas democracias ocidentais, capitalistas, a política como bem comum ou como negócio também seria um divisor de águas do que se convencionou chamar de esquerda e de direita, respectivamente. Não é isso, porém, que ocorre de fato no Congresso. No Brasil, todos os políticos se dizem defensores do bem comum e jamais aceitam publicamente a condição de que veem a política como negócio, além de raros serem aqueles que aceitam a condição de político de direita, conservador ou reacionário nem sequer neoliberal. E a esquerda já não é a mesma de outrora.

A negociação
A maioria dos nossos deputados e senadores talvez tenha mais desenvoltura no trato de grandes e pequenos interesses privados do que no debate de políticas públicas, que, aliás, estão hegemonizadas por grandes interesses privados. Não levam em conta os aspectos que envolvem a chamada vida banal, ou seja, a eficiência e a qualidade dos serviços públicos que são efetivamente prestados aos cidadãos comuns no seu dia a dia. O Palácio do Planalto estimula esse status quo porque isso facilita a dominação de Estado e interdita o debate sobre o acerto ou não de suas decisões pelo Parlamento e pela sociedade. E la nave vá, até que surja uma crise.

Foi o que ocorreu na semana passada entre a presidente Dilma Rousseff e sua própria base, com a formação de um “blocão” independente encabeçado pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Não há precedentes de uma derrota tão esmagadora do governo como a da semana passada, quando foi aprovada a criação de uma comissão externa para investigar denúncias contra funcionários da Petrobras e o governo contou somente com 28 votos em plenário. Também foi inédita a convocação de 10 ministros pelas comissões da Câmara num único dia.

O artífice da derrota de Dilma Rousseff foi Cunha, que o Palácio do Planalto tenta desmoralizar e isolar, porque seria um parlamentar que vê a “política como negócio”. Ora, essa é essência do sistema de forças governistas no Congresso e do aggiornamento do PT, cuja bancada hoje tem muita desenvoltura ao atuar junto ao mundo empresarial. Aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo vice-presidente Michel Temer, que conhecem os bastidores do Congresso e das negociações com a base, Dilma Rousseff recuou e abriu negociações com Cunha. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi encarregado de recebê-lo no Palácio do Planalto para tratar dos “pleitos” dos rebeldes. É preferível manter o monopólio dos grandes negócios no país no Executivo e confinar as negociações com os aliados da base governista à “pequena política”.

Mercadante foi autorizado a negociar a liberação de verbas, nomeações para cargos no governo e estatais, espaços eleitorais nos estados, concessões de emissoras de rádio, atendimento de demandas de evangélicos, toda sorte de reivindicações individuais da bancada rebelde. O problema é que Cunha sabe das coisas e meteu o pé na porta. Já provou que é capaz de barrar na Câmara dos Deputados grandes acertos feitos pelo governo no meio empresarial, como ocorreu, por exemplo, na MP dos Portos. Quer ser tratado como grande interlocutor no Congresso.

Fonte: Correio Braziliense

Eliane Cantanhêde: Engolindo em seco

A presidente Dilma Rousseff, franca favorita de outubro, deveria ser menos impetuosa, tanto ao se autoelogiar por algumas medidas controversas quanto ao testar forças com os seus próprios aliados, sem medir consequências.

Dilma usou pronunciamento em horário nobre da TV para comemorar a queda dos juros e ainda apontou o dedo contra o sistema financeiro, provocando uma queda de braço com os bancos privados.

E o que aconteceu? Os juros caíram, caíram, depois subiram, subiram e estão hoje nos mesmos níveis anteriores ao pronunciamento presidencial, que bem poderia ser apagado, senão da memória, dos arquivos.

Dilma também usou pronunciamento na TV para capitalizar a redução nas contas de luz de empresas e de casas particulares. Foi um sucesso mais de público do que propriamente de crítica especializada.

E o que aconteceu? As contas caíram um pouquinho, mas as concessionárias reagiram, as condições não ajudaram, os reservatórios ficaram baixos e acionaram-se as termelétricas, muito mais caras. E temos aí uma conta salgadíssima para pagar.

Desta vez, Dilma resguardou-se, enquanto uma meia dúzia de engravatados recorria a um contorcionismo verbal para tentar amenizar a crua realidade: vem aí aumento de imposto, depois da eleição, para pagar o resultado da brincadeira.

Dilma também espalhou aos quatro ventos que estava irritada com o PMDB, que até ameaçou intramuros romper com o partido e que iria mostrar sua força "isolando" o líder na Câmara, Eduardo Cunha.

E o que aconteceu? Horas depois que ela deu posse ontem aos ministros-tampão, o "isolado" Cunha foi recebido no anexo do Planalto pelo vice-presidente Michel Temer e dois ministros, Cardozo e Ideli. O poderoso Mercadante balançou, mas não foi. Seria demais, não é?

Agora, é só esperar: logo, logo, Cunha estará subindo a rampa do Planalto. Essa ilha é um continente.

Fonte: Folha Online

Raymundo Costa: Sem "onda vermelha" no horizonte

PT refaz avaliação de crescimento de suas bancadas

O PT fez as contas e concluiu que não tem como se tornar hegemônico no Senado e na Câmara, nas próximas eleições, conforme o temor manifesto da oposição e dos aliados. Só diz isso quem não se deu ao trabalho de fazer os cálculos ou quer tumultuar ainda mais a sucessão presidencial e as relações na base governista, segundo avaliam líderes petistas.

De acordo com levantamentos do PT, o partido no máximo mantém sua atual bancada na Câmara, que é de 87 deputados, e talvez tenha algum crescimento no Senado. A bancada tem 13 senadores, mas o número exato é de 14 - o suplente de Marta Suplicy (SP), que no momento ocupa o Ministério da Cultura, é do PMDB. Marta tem mais quatro anos de mandato e pode voltar em 2015, se não permanecer no novo governo.

Dos atuais senadores petistas, três devem disputar a reeleição. Contando com Marta, o PT já entra em 2015 com 11 senadores. Resumindo: para chegar a 20 senadores - que é o número do PMDB, atualmente a bancada majoritária -, o PT precisa eleger pelo menos nove de seus candidatos. Ocorre que o partido não deve disputar o Senado em cerca de 18 Estados (incluindo o Distrito Federal), número que pode aumentar - para privilegiar alianças regionais - ou diminuir. Nada significativo, para maior ou para menor. Ou seja, para se tornar hegemônico no Senado, o PT precisaria eleger algo em torno de 90% das vagas que disputará nesses Estados.

Hegemônico não é propriamente a palavra correta, porque se eleger nove ou dez senadores, o PT terá uma bancada majoritária, como atualmente é a do PMDB. O partido se tornaria menos vulnerável a barganhas com os pemedebistas e outros aliados, é bem verdade; mas ainda precisaria de uma generosa porção de votos dos aliados para aprovar projetos que têm a marca do PT. Por exemplo, a proposta de regulamentação social da mídia.

Na região Sul, o PT pode ter candidato ao Senado em Santa Catarina. Depende ainda dos acertos locais. Nos quatro Estados do Sudeste, só o senador Eduardo Suplicy, em São Paulo, um dos três senadores petistas que precisam renovar o mandato. O Norte deve ter um candidato, no Pará, em acordo com o PMDB do senador Jader Barbalho, apesar da forte oposição de facções petistas.

No Centro-Oeste om PT não terá candidato em Mato Grosso, nem em Mato Grosso do Sul. Falta uma definição para Goiás. No Distrito Federal, onde o candidato à reeleição é do PT, a vaga para o Senado deve ser usada para negociação.

Se a candidatura do senador Delcídio Amaral ao governo de Mato Grosso do Sul obtiver sucesso, o PT perderá uma cadeira no Senado: o suplente de Delcídio é do PMDB. A maior concentração de candidatos petistas deve ser no Nordeste. Dos nove Estados da região, está certo apenas que o PT não disputará na Bahia, Maranhão, Piauí e Alagoas. Há eventuais candidatos em todos os Estados, mas as decisões serão de cúpula.

Na Câmara o cálculo é mais difícil de ser feito, por se tratar de uma eleição proporcional. A nominata dos Estados, no entanto, leva os líderes da campanha petista a avalizar que a bancada do PT no máximo empata com a atual, e se crescer dificilmente chegará a 130 deputados. São Paulo, por exemplo, tem 14 deputados federais. E há dúvidas se o partido pode repetir o desempenho de 2010.

As dificuldades em São Paulo não são pequenas. De saída, o PT não contará na eleição para federal com nomes bons de votos, em 2010, como João Paulo Cunha, condenado no processo do mensalão, Jilmar Tatto e José de Filipi Júnior, secretários da Prefeitura de São Paulo, nem com nomes novos que certamente seriam bem votados, como Rui Falcão, presidente do PT. Até José Genoino, que terminou a última eleição como suplente mas sempre carrega uma boa expectativa de votos.

Algum dos candidatos em São Paulo pode surpreender, inclusive pelo fato de o PT considerar que entra na eleição para o governo do Estado com uma candidatura competitiva, a do ex-ministro Alexandre Padilha. Mas qualquer projeção, à esta altura, é chute. Até porque há outras variáveis.

O palhaço Tiririca, nas eleições de 2010, segundo o cálculo do PT tirou pelo menos dois deputados do partido. Ele repetirá a caudalosa votação de 2010? Ninguém sabe. Tem ainda o mensalão e a administração de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, por enquanto, mal avaliada pela opinião pública. A melhor projeção de crescimento da bancada do PT é Minas Gerais, onde o partido terá um candidato competitivo a governador: Fernando Pimental, ex-ministro do Desenvolvimento. Um ou dois deputados a mais.

O PT começou os preparativos para a eleição de 2014, de fato, pensando em eleger maioria tanto na Câmara quanto no Senado. O número mágico de 130 deputados frequentou as conversas de seus dirigentes. Com o tempo, o partido precisou adequar os planos à realidade da política de alianças, principalmente depois que a presidente Dilma Rousseff levou um tombo nas pesquisas de junho de 2013.

No início, prioridade era a indicação de candidatos ao Senado nas chapas estaduais. Hoje, o planejamento do PT é vencer a eleição em um ou dois Estados no chamado Triângulo das Bermudas, onde se localizam os maiores colégios eleitorais da República - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O PT é competitivo também na eleição do Paraná. Em seu longo inverno na oposição, esses (à exceção do Rio) foram os Estados que garantiram até agora a sobrevivência do PSDB.

Uma nova "onda vermelha" como a de 2002, evidentemente, será saudada efusivamente pelos dirigentes petistas. Mas nem na cúpula do partido nem no embrião de comitê de campanha de Dilma a previsão hoje é de hegemonia no Congresso ou de um partido com o tamanho e as ramificações do PRI, que reinou por mais de 70 anos na política mexicana. Isso, é claro, para não falar do bolivarismo venezuelano, que é o pano de fundo real das avaliações sobre a suposta hegemonia a ser conquistada pelo PT no Congresso.

Fonte: Valor Econômico

Xico Graziano* :Ninho de gato

Finalmente havia chegado uma boa arrumação no campo. Assim parecia quando da aprovação do novo Código Florestal. Após uma década de acalorados debates, todos acreditavam que da confusão se caminharia para a solução. Pouco, infelizmente, se fez. Continua desarrumado o processo da regularização ambiental das propriedades rurais. Pura incompetência do governo.

Chega a ser curioso, se não fosse trágico. Quando o ex-presidente Lula, em 2010, avalizou sua candidata para suceder-lhe no Planalto, vendeu-a como uma "gerentona" de primeira linha. Dilma Rousseff foi apresentada como uma mulher executiva, de poucas palavras, embora crua na política, experiente no mando. Era o que, cansada do proselitismo ideológico, a população demandava: alguém para pôr ordem na casa, organizar o time e aproveitar as oportunidades, internas e globais, para avançar rumo ao desenvolvimento. Triste decepção.

Está-se completando um ciclo de 12 anos com o PT no poder central da República. Nesse período, o Brasil não andou para trás. Mas poderia ter ido muito além. Colhe-se a impressão, mais recentemente, de que tomou o rumo errado. As famílias, superendividadas, reduzem o consumo, freando o comércio e o emprego; a indústria pouco agrega na produtividade, perdendo posições; a agropecuária esgota seu fôlego. Da porteira para dentro, as fazendas garantem um show de competência tecnológica; da porteira para fora, padecem na logística e sofrem com a insegurança jurídica. Todos temem pelo futuro.

Calcanhar de Aquiles - há unanimidade a respeito da fraqueza da infraestrutura produtiva do País: as ferrovias continuam no papel, as hidrovias permanecem em discussão, os portos ficam atrasados e as rodovias, esburacadas. Falar em transporte da safra atrai palavrão na roça. Na geração de energia, nos combustíveis, nas comunicações, existe a sensação de uma agenda atrasada. O Brasil, juntamente com sua agropecuária, segue em frente tropicando em deficiências básicas, que já poderiam ter sido resolvidas, mas continuam presentes, roubando a nossa competitividade.

Aos problemas de infraestrutura se somam lacunas institucionais. Anda em falta certa legislação básica, aquela que normatiza as atividades econômicas e regula o funcionamento da sociedade. Sem regras claras se estabelece a confusão, atrapalhando a vida do cidadão. Aqui se colocam, por exemplo, não apenas a legislação ambiental, como também o problema indígena, dois assuntos que há anos tiram o sono do agricultor nacional. Conflitos existem. O poder moderador do Estado, entretanto, somente ele, é capaz de arbitrar os legítimos interesses, amainar as disputas. Cadê o governo?

O tempo passa e nada se resolve. O governo federal não alcança estatura suficiente para definir os parâmetros da convivência possível entre os interesses distintos nessas duas questões essenciais.

Quanto aos índios, não se discute o princípio constitucional (artigo 231) de que a eles pertencem as terras tradicionalmente ocupadas. Isso é ponto pacífico. O palco da furiosa controvérsia se ergueu não sobre a selva tribal, mas, sim, na disputa por áreas agricultadas, ocupadas há tempos com lavouras ou pastagens. Ausentes por mais de meio século desses territórios, os indígenas agora os querem de volta. Tal situação crítica se arrola, especialmente, em certas regiões do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e de Mato Grosso do Sul, criando conflitos agrários sem perspectiva de solução. Falta autoridade pública para resolver o assunto.

Na regularização ambiental das propriedades rurais, então, nem se fala. Quando, finalmente, se aprovaram as modificações no velho Código Florestal, depois de grande celeuma entre ruralistas e ambientalistas, caberia ao Executivo pôr em prática, por decretos próprios, a nova lei. Mas o governo mostra-se tão titubeante, tão ineficaz, tão desarticulado que até hoje, passados quase dois anos, não conseguiu sequer regulamentar o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Tudo continua como dantes.

O dispositivo do CAR surgiu como a grande novidade do novo Código Florestal. Uma ousadia, no mundo, inédita. Por meio desse cadastro, semelhante a uma declaração de renda para o Leão, os produtores rurais se obrigam a informar ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) os dados sobre sua exploração, baseando o cálculo das áreas a serem preservadas ou regularizadas. Para quem faz a devida lição de casa a declaração do CAR servirá como um atestado de boa conduta. Para quem tiver passivo ele se transforma num programa de recuperação ambiental. Moderno, bem bolado.

O CAR, porém, não saiu da intenção. Emperrando-o, o governo abre brechas para variadas especulações e fofocas. Perde-se a correta informação, aumentam as incertezas. Ambientalistas notórios atacam os "setores atrasados" do ruralismo, que estariam boicotando a legislação, impondo-se ante os "modernos". Especulação.

Resistências de parte a parte são normais. Anormal é ver o governo paralisado, entregue aos seus dilemas intestinos, sem nada resolver, sem nunca decidir. Por três vezes a ministra do Meio Ambiente, coitada, anunciou a assinatura presidencial no decreto de regulamentação do CAR, todas proteladas. Enquanto permanece a lacuna jurídica, em cada comarca do País se segue uma orientação, a depender do humor do Ministério Público e da sabedoria dos senhores juízes.

Essa desorganização legal nas matérias agroambientais atormenta o agricultor. Virou um ninho de gato, um processo confuso, alimentado pela incompetência governamental.

Ninguém ganha nada com isso e quem mais perde, sempre, é o produtor rural. Mesmo querendo fazer a coisa certa, negam-lhe o instrumento para acertar as contas com a sociedade urbana.

*Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Yoshiaki Nakano: Juro alto não derruba inflação

A boa teoria de meta de inflação nos diz que devemos considerar a meta com preços livres e não controlados

A imprensa e alguns analistas estão perplexos porque a taxa de inflação tem ignorado solenemente a elevação da taxa de juros em 3,5 pontos percentuais, mesmo com expectativa de nova elevação. Um inteligente articulista chega a perguntar: "A questão é se, hoje, existe algo errado com a economia que impeça a plena transmissão do aperto monetário - que não é pequeno - para a inflação". Segundo o mesmo articulista: "Há na praça algumas teorias que tentam explicar por que a alta de juros não fez efeito até agora na inflação e, sobretudo nas expectativas". Ainda, "um dos mais importantes canais de transmissão da política monetária - exatamente das expectativas - está obstruído".

Não há nada de errado com a economia brasileira, isto é, do ponto de vista da explicação científica, a realidade nunca está errada, mas a teoria que não consegue explicá-la, sim. Único critério de verdade para qualquer teoria é a sua correspondência com a realidade. Além disso, é preciso muito cuidado com as teorias porque normalmente o que circula são versões enviesadas, quase sempre devido a interesses, valores políticos ou ideológicos. Cuidado também com as tautologias do tipo "taxa de juros de equilíbrio" é aquela que equilibra a economia. Por isso, a verdadeira teoria científica é sempre uma hipótese ou conjunto de hipóteses que permitem explicar, ex ante, a realidade ou fazer previsões, e que vem sempre acompanhada por alguma verificação empírica, num contexto bem definido.

Primeiro vamos à questão central: por que a inflação tem ignorado a alta na taxa de juros? O mesmo articulista afirma que na experiência "ultraconservadora" de 2004 a 2006, a inflação caiu. No entanto, o responsável pela queda foi um dos maiores processos de apreciação cambial na nossa história recente. Fato ignorado pelo articulista. Atualmente, a taxa de câmbio tem-se desvalorizado, por uma série de razões, no período recente, apesar da elevação da taxa de juros desde abril de 2013. Não há nenhuma expectativa de apreciação, mas de depreciação. Hoje, é preciso considerar que, a própria apreciação cambial mencionada provocou mudanças na estrutura produtiva com consequências que ainda persistirão no longo prazo, privilegiando a expansão inflacionária do setor de serviços em detrimento da indústria. Afinal, a taxa de câmbio é determinante do preço relativo fundamental da economia: tradables versus non-tradables.

Também é preciso levar em consideração os choques de oferta causados pela seca e outros fatores episódicos, na qual a elevação da taxa de juros em nada vai afetar. O canal de expectativas não está obstruído, ao contrário, o represamento de alguns preços pela atuação administrativa do governo, energia, gasolina etc é o que mantém as expectativas elevadas. Não há como a alta de juros neutralizar estas expectativas, pois se o fizesse, com queda na demanda e contenção de outros preços livres, com queda nas margens de lucro abaixo do considerado "normal", ou o empresário deixa de produzir este bem ou, em algum momento, haverá recomposição de preços. É por isso que a boa teoria de meta de inflação nos diz que devemos considerar a meta com preços livres e não controlados. A meta de inflação deve ser tratada, como não cansa de repetir Lars Svesson, um dos grandes teóricos com prática no Banco Central da Suécia, de "forecast target", já que existe uma defasagem entre elevação da taxa de juros e seus efeitos. Só no Brasil o Banco Central cria uma confusão considerando inflação efetiva (passada) calendário, quando sabemos que elevação de juros não atua sobre eventos ou choques passados, mas sobre os preços livremente determinados pelo mercado no futuro. Daí que "forecast target" é a expressão mais honesta.

Cabe um comentário sobre a expressão "transmissão do aperto monetário", pois afinal o que significa isto? Num modelo de meta de inflação, o banco central assume que pode controlar a inflação por meio do controle da taxa de juros, com seus canais de transmissão, da mesma forma que o modelo monetarista acredita que temos controle sobre a oferta de moeda, com canais próprios de transmissão. Canais de transmissão da elevação dos juros não coincidem necessariamente com canais de transmissão da redução da oferta de moeda, este sim entendido como um "aperto monetário" ou redução de liquidez. Sejamos lógicos: na política de meta de inflação, a taxa de juros é variável exógena e a oferta de moeda é endógena ou resultado da inflação.

Portanto, qual o sentido da expressão "transmissão do aperto monetário" numa política de metas de inflação? Podemos falar que não conhecemos bem os canais de transmissão da elevação da taxa de juros. No entanto, o da taxa de câmbio é amplamente conhecido e surge como um dos canais fundamentais num país como o Brasil, pois não estamos nos Estados Unidos, e a depreciação adquire relevância fundamental no momento. E não é preciso buscar grandes teorias, particularmente aquelas formuladas para outras realidades que não a brasileira. Temos que refletir, de forma mais aprofundada, por que insistimos em manter tantas particularidades que só existem no Brasil? Neste sentido, a "realidade" brasileira, suas instituições, regras operacionais e políticas, estão erradas.

Yoshiaki Nakano, com mestrado e doutorado na Cornell University, é professor e diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).

Fonte: Valor Econômico

Arnaldo Jabor: Fala, PMDB!

"Sem nós, a presidenta não faz nada! Não pensem vocês que estamos de brincadeira. Esses soviéticos não aprendem... Tentaram enrolar o PTB, logo com quem? - o 'cobra criada' Jefferson que os botou para correr. Sei que o plano da presidente (a) é combater nosso excesso de poder. Não adianta; em nosso 'blocão', além dos 'nanicos' nós temos os grandes mestres, os faixas pretas do País: Sarney, o eterno, a fênix Renan, e agora o implacável Eduardo Cunha, tantos... Estamos no Executivo sim, mas o comandante Temer não sacia nossa fome. E o Temer é o tipo de vice que 'não aporrinha', mas nós aporrinharemos, sim.

Esses comunas pensam que a gente é babaca. Temos séculos de aprendizado. O PMDB é uma das mais belas florações de nossa história. Temos interesses, claro. Queremos cargos e ministérios importantes porque sem nós não tem comuna que se dê bem. Não é assim que essa tigrada do PT fala: 'Os fins justificam os meios?'. Pois é, nós somos os meios.

No entanto, os fins são deformados pelos meios e de 'meios' acabaremos sendo 'fins'. Sentiram a profundidade do PMDB? Não há casamento sem interesse. É belo e progressista o interesse. O desprendimento, a honestidade alardeada são hipocrisia de teóricos. Já foi o tempo em que o PT nos dominava, debaixo de destemperos e esculachos da presidenta. Vocês acham que vamos sair em campanha para reeleger essa mulher antipática, brizolista? Vamos é defender a democracia com nossos métodos tradicionais, em que a vaselina e o 'toma lá dá cá' sempre levaram o País para a frente.

O Eduardo Cunha que era o 'coisa ruim' virou 'coisa linda', pois ele é um técnico, um expert tenaz em acochambramentos e perfídias brasilienses. Antes, nossas revoltas eram desorganizadas, sem rumo. Edu nos devolveu o orgulho e consolidou um projeto de militância.

E nossos fins são frutos de uma grande tradição brasileira que os maldosos chamam de 'corrupção', quando são hábitos incrustados em nossa vida como a cana, o forró, nossos bigodes que chamam de bregas, as ancas das amantes risonhas com ouro tilintando em pescoços e pulsos, diante da palidez infeliz de nossas esposas.

Vocês não entendem que isso é a cara do País? Vocês reclamam de nossa voracidade. E os milhares de glutões petistas - mais de 100 mil - que invadiram o batatal do poder para comer tudo?

O PMDB é um exército de amigos unidos - qual o mal? Admire a beleza superior deste patrimônio espiritual que nós possuímos, tanto em nosso partido como nas alas aliadas.
E tem mais: nós do PMDB temos um projeto sim para este país... Um projeto muito mais pragmático, mais progressista que esses dogmas de 1917 do Dirceu e outros - abstrações ridículas como 'igualdade', 'controle social', 'comitês centrais', 'palavras de ordem'.

Nosso projeto é mais Brasil. 'São coisas nossas, muito nossas...', como cantou o Noel. Nosso projeto é uma girândola de malandragens, de negociatas que deixam cair pelas brechas, pelas frestas, fecundas migalhas de progresso. É isso: tudo que houve de bom no País foi fruto de malandragens, do adultério entre o privado e o público.

Não, cara, não há corrupção no PMDB - trata-se apenas da continuação de um processo histórico. O dinheiro que arrecadamos em emendas do orçamento, em gorjetas justas de empresas e burocratas, esse dinheiro sempre foi a mola do crescimento do País. Haveria Brasília sem ela? Onde estaríamos nós? Na roça de um país agropastoril? Esta é a eterna verdade desde a Colônia, tão eterna quando a miséria que sempre haverá. Querem o quê? Que fiquemos magros também, que dividamos nossas conquistas com os que nada têm? Quando eu faço uma piscina azul em meio à seca, não é crueldade, porque é preciso que alguém tenha piscina na caatinga para que a dor dos miseráveis seja suportável. A vida do pobre ganha um sentido hierárquico: ele está embaixo, mas se consola porque alguém vive feliz em cima. Vamos olhar para a outra face da beleza: a alegria de ver a grande arte dos lucros fabulosos, as mandíbulas salivando a cada grande negócio fechado, o encanto dos shoppings de luxo, o eufórico alarido dos restaurantes, os roncos de jet skis à beira-mar, a euforia dos almoços de conchavos... Tudo isso doura o nosso progresso.

Portanto, não nos venham com papos de inclusão social. É tudo lero-lero para enrolar o povão. O PT não gosta do povo, não. O PT só gosta dele mesmo e de um poder imaginário no futuro que ninguém sabe qual é. Não fizeram uma mísera reforma estrutural, só houve shows de Lula na mídia e PACs irrelevantes. E nos chamam de 'reacionários'; eles é que são.

Bolivarianismo caboclo não admitimos. Jamais viraremos a Venezuela, como querem o Rui Falcão, que já está lá puxando o saco do Maduro, e o Marco Aurélio Garcia, o último dos bolcheviques, para quem 'tudo vai bem na Venezuela, apesar do exagero da 'mídia conservadora'. Nossa estratégia é mole, embuçada, insidiosa, mas muito eficaz.

A classe dominante deste país é uma grande família, unida por laços de amizade total, mesmo que definhe sob nossos pés a massa de escravos em seus escuros mundos.

Nós somos muito mais Brasil do que esse bando de comunas que chegaram aí, com um sarapatel de ideias feitas por um leninismo mal lido e um getulismo tardio. Querem nos colar a pecha de ladrões, mas, por exemplo, quem comprou uma refinaria para a Petrobrás no Texas por 1 bilhão e 200 milhões que não vale nem 100 milhões? Quem comprou? E o esquema da Holanda? Quem está jogando bilhões (quanta propina...) em estádios? Eles roubaram e roubam muito mais e a gente fica com a fama?

No entanto, sou otimista - acho sim que a aliança PT-PMDB poderá ser doce e linda. Mas, do nosso jeito, pois na infraestrutura de nosso passado de donatários ninguém toca.

O PMDB é a salvação da democracia; suja, mas muito nossa."

Fonte: O Globo/ Estado de S. Paulo

Carlos Drummond de Andrade: No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.