segunda-feira, 19 de maio de 2014

Opinião do dia: Marco Aurélio Nogueira

O discurso do medo é um expediente de baixa política. Um subterfúgio. Traz consigo a exacerbação dos espíritos, a caça a bruxas e fantasmas, algo estranho em partidos progressistas. Bloqueia entendimentos democráticos, como se só houvesse um caminho para o céu. Implica uma vitimização: nunca se teria “batido tanto” num presidente da República, pontificou Lula, acrescentando que isso se deve ao fato de Dilma ser mulher, ser “uma de nós” e, por isso desagradar as elites. Esqueceu-se de observar que parte considerável das elites está no mesmo barco do governo, o apóia e defende. Dizer que as “elites” conspiram (incentivadas pela “mídia golpista”) para acabar com as conquistas sociais do governo é fazer vistas grossas para o que há de insuficiência política e de frouxidão reformadora no governo. A culpa seria dos outros. A insatisfação social não passaria de ficção.

Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Publicas e Relações Internacionais de Unesp. O medo como subterfúgio. Alias / O Estado de S. Paulo, 18 de maio de 2014.

PT esquece que o passado são eles, diz FHC

• Ex-presidente critica propaganda do partido e relembra que a última década foi comandada por Lula e Dilma

• Tucano evitou falar sobre a vaga de vice na chapa do PSDB à Presidência; Serra diz que não é pré-candidato

Diogo Bercito – Folha de S. Paulo

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o PT erra ao apelar para uma estratégia que compara o atual momento com o passado, porque na última década o país foi governado justamente pelos petistas.

Na semana passada, o PT utilizou seu tempo na TV para transmitir a mensagem de que, com uma eventual vitória da oposição, haveria retrocessos no país do ponto de vista social e econômico.

Os adversários da presidente Dilma Rousseff classificaram a estratégia como "terrorismo eleitoral".

"Essa história de jogar a culpa no passado já passou. O passado são eles", afirmou Fernando Henrique à Folha, durante visita a Israel.

Além disso, ao dizer que o desenvolvimento do país é uma conquista das gestões de Lula e de Dilma, o governo precisa explicar, diz o ex-presidente, a situação atual. "Eles têm de explicar por que a economia está tão baixa."

"Ninguém vota no passado. Votamos no futuro. E o passado não foi horrível. As pessoas entendem que as transformações do Brasil passaram a ser fortes no meu período", disse FHC à reportagem. "Lula entrou na onda."

De acordo com o tucano, o governo Dilma errou ao considerar que o aumento de crédito sustentaria o crescimento. "O investimento não veio."

Na sua avaliação, as pesquisas eleitorais "só agora começam a ter significado", já que antes "vinham dando uma satisfação ingênua àqueles que estão no poder".

Assim, só a partir do início oficial da campanha que será possível avaliar as candidaturas. "O governo usa os meios de comunicação. Quando você pergunta à população em quem vão votar, repetem o que estão vendo."

Fernando Henrique não crê que a Copa seja, como afirmou Lula, "objeto de luta eleitoral". "A população, não os partidos, começou a se manifestar", disse.

Serra
Ele evitou falar sobre o nome de José Serra para a vaga de vice na chapa de Aécio Neves. "Não falei com ele sobre isso. O candidato terá de olhar a questão com muita objetividade. O vice não dá votos, pode é tirar."

Serra escreveu neste domingo (18) em uma rede social que será candidato a um cargo no Legislativo Federal.

"Fui literalmente atropelado pela suposta informação de que sou pré-candidato a vice-presidente na chapa presidencial do PSDB, que terá o senador Aécio Neves na cabeça. Nunca fui pré-candidato a vice", escreveu o tucano. "No mais, estarei junto com o meu partido no esforço para vencer esta estranha mistura de atraso e inércia que tomou conta do país."

Fernando Henrique viajou a Israel para receber a distinção de doutor honoris causa pela Universidade de Tel Aviv.

Serra afirma que será candidato ao Legislativo Federal

• Tucano negou que concorrerá como vice de Aécio Neves

- O Globo

SÃO PAULO - Candidato à Presidência da República em 2002 e 2010, José Serra (PSDB-SP) afirmou neste domingo que concorrerá a uma vaga para a Câmara ou para o Senado nas eleições de outubro. Através do Twitter, o político desmentiu os rumores que diziam que ele seria pré-candidato a vice na chapa de Aécio Neves (PSDB-MG) ao Palácio do Planalto.

“Há coisas que chegam a ter a sua graça, talvez involuntária. Fui literalmente atropelado pela suposta informação de que sou pré-candidato a vice-presidente na chapa presidencial do PSDB, que terá o senador Aécio Neves na cabeça. Nunca fui pré-candidato a vice”, afirmou.

Na noite de sexta-feira, Serra e Aécio participaram juntos de um encontro com lideranças tucanas em Cotia (SP). Durante a reunião, o senador mineiro elogiou o colega de partido e disse que ele terá ‘espaço de destaque’ em sua campanha ao Planalto e em uma futura administração. A declaração teria suscitado, então, boatos sobre a dobradinha tucana para o pleito de 2014.

Aécio busca nanicos por mais segundos no horário eleitoral

• Além de garantir esses acordos, pré-candidato tucano ainda sonha com um acerto com o PSD para barrar vantagem de Dilma na TV

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Na tentativa de reduzir a vantagem do tempo televisivo da propaganda partidária da campanha reeleitoral da presidente Dilma Rousseff, o pré-candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves, aposta na aproximação com seis partidos nanicos: PTN, PTC, PT do B, PMN, PSL e PEN.

A investida poderá render cerca de 20 segundos a mais para o tucano, que, no atual cenário, conta com 3 minutos e 42 segundos a partir do apoio do tradicional aliado DEM e do Solidariedade (SDD), legenda ligada à central Força Sindical.

Mesmo assim, a distância de Dilma é enorme. Confirmados os apoios de PMDB, PDT, PR, PTB, PC do B, PSD, PRB e PROS, a petista terá 10 minutos e 44 segundos de programa eleitoral gratuito. Se o PP também aderir ao projeto da presidente - e esta é a tendência no atual cenário -, Dilma ganhará ainda mais 1 minuto e 16 segundos.

O pré-candidato do PSB à Presidência, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, conta atualmente com 1 minuto e 55 segundos de tempo de TV, a partir dos apoios do PPS, do PHS e do PRP. Ou seja, poderá ter dificuldades quando o horário eleitoral começar no rádio e na TV, no dia 19 de agosto.

Ainda há espaço para um rearranjo das alianças. Um grupo do PMDB, por exemplo, defende a neutralidade do partido. Ou seja, a sigla não daria seus minutos de TV para ninguém. Aécio também busca o PSD do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, primeiro partido a anunciar apoio ao projeto reeleitoral petista. A aliança, porém, é vista como improvável no atual cenário - Kassab estará hoje no Palácio do Planalto para um encontro com Dilma. O xadrez dos acordos poderá ser jogado até o fim de junho, quando ocorrerão as convenções partidárias.

O PP do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional da legenda, foi alvo de Aécio na semana passada, por exemplo. "Dona" de pouco mais de 1 minuto de exibição partidária, a legenda será um dos últimos da base governista a definir em qual palanque subirá. Aécio tentou reverter a tendência de apoio a Dilma escalando a senadora gaúcha Ana Amélia, o presidente de honra do PP, Francisco Dornelles, e o governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, para pressionarem Ciro Nogueira a pelo menos manter a neutralidade do partido, o que reduziria o tempo de TV de Dilma. O trio pepista chegou a ir até para Brasília com essa missão, mas não conseguiu realizá-la. A legenda deve anunciar até o fim do mês a entrada na aliança da presidente da República.

Ajuda. Aécio ainda não desistiu dos grandes partidos, mas tenta, paralelamente, garantir os segundos dos nanicos. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), passou então a ajudar o pré-candidato tucano ao Planalto na empreitada. A negociação está sendo feita em "bloco" com seis siglas. Escalado para fazer a "ponte", o secretário da Casa Civil do Palácio dos Bandeirantes, o também tucano Edson Aparecido, reuniu-se na quinta-feira com Aécio em São Paulo, na sede estadual do PSDB, para falar sobre essa articulação.

Os presidentes desses partidos são próximos de Alckmin e o apoiam no Estado. Aécio ouviu que receberia "cerca de 20 segundos" ao agregar os nanicos e autorizou a aproximação.

O primeiro partido a anunciar oficialmente o apoio à candidatura presidencial tucana deve ser o PMN. A presidente nacional do partido, Telma Ribeiro, tinha uma reunião reservada com Aécio na sexta-feira, mas o encontro foi remarcado para esta semana. A ideia é que cada um dos apoios seja anunciado separadamente.

Eleição na Previ contesta 'feudo' do PT

A eleição no maior fundo de pensão da América Latina, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, coloca em questão as indicações políticas na instituição, que têm 198 mil associados e ativos superiores a R$ 170 bilhões. Dominada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Previ se transformou em meio para nomeações do PT. Levantamento do Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, identificou pelo menos 50 petistas e aliados como representantes do fundo nos conselhos de administração e fiscalização de 26 empresas nas quais a Previ é acionista. O número representa um terço dos 153 conselheiros espalhados por mais de 50 empreendimentos em setores que vão de mineração à indústria aeronáutica.

• Entre os conselheiros indicados pelo fundo de pensão, 27 têm carteira de filiação petista no TSE

• Subsídios por reunião variam de R$ 3 mil na Neoenergia até R$ 47 mil na Embraer

Raymundo Costa e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - Antes restrita à máquina publica estatal, o PT expande a ocupação de espaços em direção ao setor privado e já preocupa os segurados da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - a Previ, o maior fundo de pensão do país e da América Latina com seus 198 mil associados e ativos estimados em mais de R$ 170 bilhões.

Capturada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Previ se transformou num instrumento para indicações do PT - e alguns poucos aliados - aos conselhos das empresas nas quais o fundo tem participação. O processo se intensificou com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o aumento da influência do partido na cúpula do BB.

Levantamento do Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, identificou pelo menos 50 petistas e aliados que fizeram composições eleitorais com o partido, além de diretores indicados pelo Banco do Brasil na gestão do PT, como representantes do fundo nos conselhos de administração e fiscalização de 26 empresas nas quais a Previ é acionista.

O número representa um terço dos 153 conselheiros espalhados por mais de 50 empreendimentos em setores que vão desde a mineração a bebidas e alimentos, passando por petróleo e gás, energia elétrica, telefonia, indústria aeronáutica e vários outros. Ao menos 27 são filiados ao PT, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O levantamento ignorou nomes que pudessem sugerir a concorrência de homônimos.

Além de influência nas decisões de algumas das maiores empresas do país, os conselheiros ainda contam com remuneração por participação nas reuniões. O subsídio varia dos R$ 3 mil pagos pela Neoenergia até R$ 47 mil para quem aparecer nos encontros da Embraer. A Previ diz, em nota, que os funcionários da ativa têm uma regra de autolimitação da remuneração no valor de R$ 13,9 mil. Contudo, o ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão, disse a uma CPI em 2005 que a maioria desrespeitava essa regra.

O aparelhamento ficou exposto na disputa eleitoral iniciada na sexta-feira para eleger dois diretores e seis conselheiros para a Previ. Os candidatos de oposição à chapa da situação, formada principalmente por sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), criticam a nomeação de petistas e aliados e pedem mais transparência na escolha.

"O sistema foi flexibilizado para que a experiência como dirigente sindical conte tanto quanto a de ter sido executivo em uma empresa", diz Cecília Garcez, ex-aliada do PT que é candidata à diretoria da Previ por uma chapa que se declara independente de partidos políticos, mas que é apontada pelos adversários como ligada à União Geral dos Trabalhadores (UGT). "Se comparar as indicações de 10 anos atrás, hoje está muito mais concentrado, 70% [dos conselheiros] estariam ligados à CUT, alguns que não têm a menor preparação para sentar num conselho de grandes empresas privadas", afirma.


Já a chapa "Ética e Transparência", formada por grupos de aposentados, é mais branda na crítica. Para José Branisso, candidato ao conselho fiscal, os critérios as vezes deixam a desejar, mas não é porque a pessoa é um militante partidário que não tenha competência para representar o fundo. "Muitos participantes questionam [os critérios] porque a maioria é de uma corrente política. Defendemos que sejam clarificados para dissipar as dúvidas. Trabalhamos em um mercado em que a confiança de quem está fazendo a gestão é fundamental."

Na lista de conselheiros da Previ em empresas encontram-se filiados a partidos aliados do governo federal - PMDB, PR, PSD e PCdoB- e petistas clássicos, como Francisco Ferreira Alexandre, que foi secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), diretor do Sindicato dos Bancários de Alagoas e hoje tem assento no conselho de administração da Vale.

Há também funcionários que não são filiados ao PT, mas têm laços com o partido. Um deles é Roberto Luiz Ribeiro Berzoini, conselheiro da Usiminas e irmão do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT) - ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo que ainda mantém influência sobre a Previ.

Outro é o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e estrela de primeira grandeza na equipe do programa de governo da campanha à reeleição da presidente Dilma Roussef, Nelson Barbosa, que integra o conselho da Vale. Há também ex-candidatos a deputado federal pelo PT, como Odali Cardoso, conselheira da empresa que administra o resort Costa do Sauípe.

As nomeações são defendidas por José Ricardo Sasseron, ex-diretor da Contraf-CUT que concorre a uma vaga no conselho deliberativo da Previ pela chapa da situação. "Você duvida da competência do Nelson Barbosa para representar a Previ?", questiona. E diz que a seleção, feita pela diretoria de participações e avalizada pelo conselho deliberativo, é rígida. "Os critérios de escolha são claros e vem desde o Fernando Henrique Cardoso", afirma.

De fato, o uso político da Previ não é exclusividade do PT. No governo do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recorreu, sem parcimônia, ao fundo de pensão dos funcionários do BB para viabilizar os leilões de privatização realizados no fim dos anos 1990, por meio da constituição das Sociedades de Propósito Específico (SPE).

Com o caixa curto, o atual governo também vê a Previ como um parceiro fundamental para implementação de políticas de Estado, como a criação das chamadas empresas "campeãs nacionais", e para as concessões na área de infraestrutura, sobretudo no momento em que outros dois gigantes vinculados a estatais - Petros e Funcef - apresentam déficit em seus balanços.

Em nota dirigida ao Valor PRO, a Previ diz que o processo de seleção de conselheiros é "pautado por critérios técnicos e não considera a vinculação político partidária". Afirma também que "o processo é transparente, com pré-requisitos divulgados no site da entidade". O fundo nega a declaração de que houve flexibilização nos critérios de escolha para dar mais peso à experiência como dirigente sindical.

A Previ diz ainda que 93% dos conselheiros são ou foram funcionários de carreira do Banco do Brasil e que 85% possuem MBA ou pós-graduação em áreas como economia, administração, contabilidade, engenharia de produção, e 27% possuem mestrado ou doutorado.

Dilma dá última cartada para reduzir resistência do agronegócio à reeleição

• Presidente anuncia nesta segunda plano de safra com expectativa de financiamento recorde e marca reunião no Planalto com principais líderes do setor

Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff dá nesta semana sua última cartada a fim de tentar atrair o agronegócio para sua campanha à reeleição e evitar que o setor feche por completo seu apoio ao pré-candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves, e, em menor grau, ao pré-candidato do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

O primeiro passo será dado hoje, com o lançamento do Plano Safra 2014/15, que deve receber um aumento em relação ao orçamento de R$ 136 bilhões destinado ao financiamento do ciclo anterior. O passo seguinte, e talvez o mais importante, será um encontro de Dilma com lideranças do agronegócio ensaiado para ocorrer nos próximos dias no Palácio do Planalto.

A reaproximação de Dilma com o agronegócio está sendo conduzida com apoio da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A ideia é romper a resistência do setor, com quem Dilma manteve boa relação em 2010, quando foi eleita.

Kátia Abreu evita falar em crise entre a petista e os líderes ruralistas. "É bobagem querer fazer essa divisão de quem apoia ou não a presidente. Não existe uma classe desse tamanho unânime."

Pelo diagnóstico do Planalto, pecuaristas, produtores de cana-de-açúcar e parte do segmento da soja estão próximos da oposição. Mas ainda há quem possa estar com o governo, caso dos grandes produtores de soja.

Soja. Dilma tem boa relação com o senador Blairo Maggi (PR-MT), de uma família que é a maior produtora de soja do Brasil. A presidente colocou como titular da Agricultura na reforma ministerial do início deste ano o seu indicado, ministro Neri Geller, que também é produtor do grão no Mato Grosso. "Os grandes produtores estão com o governo, mas com os médios produtores não é bem assim", afirma o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, representante do setor no principal Estado produtor do grão.
Soja é o carro-chefe das exportações brasileiras. Segundo Prado, uma pesquisa ouvindo 50 lideranças ruralistas mato-grossenses constatou que a maioria está descontente com a lentidão de investimentos estatais em infraestrutura.

O gargalo da logística também é indicado pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Almir Dalpasquale. "Temos a observação de que o setor não é unânime. Se a Aprosoja apoiasse a presidente Dilma, talvez não tivesse apoio de 100% do setor, talvez nem de 50%", diz, ressaltando que a entidade ainda não tem posicionamento formal.

Pecuaristas. Entre os pecuaristas, o descontentamento é maior. O presidente da Associação Brasileira dos Criados de Zebu (ABCZ), Luiz Carlos Paranhos, será o porta-voz do setor na reunião com Dilma. A entidade, uma das principais representantes dos criadores de gado, avalia que o governo deixou de fortalecer o Ministério da Agricultura, colocou em risco a segurança fundiária em zonas de conflito com reserva indígenas e quilombolas no Mato Grosso do Sul e no Sul da Bahia, respectivamente, além de não ter reconhecido a importância do agronegócio para o Produto Interno Bruto (PIB) e na pauta de exportações. Dilma foi vaiada no evento anual da entidade realizado no início do mês em Uberaba.

"Temos de reconhecer que o governo fez coisas boas, como o crédito para máquinas agrícolas e o financiamento para a lavoura, políticas que têm de ser mantidas. Mas existe ainda um certo preconceito com as empresas do agronegócio (no Planalto). Falta o reconhecimento pelo governo da importância do setor e a garantia da segurança da propriedade privada, que é uma coisa básica para novos investimentos", diz.

Etanol. Os usineiros de etanol são hoje os mais descontentes com Dilma. A principal entidade do setor, a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), diz que 30% das empresas estão tendo de empenhar pelo menos 17% do faturamento para cobrir endividamentos e pode deixar de produzir cana-de-açúcar por causa da crise. Segundo o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, 30 empresas de etanol estão em processo de recuperação judicial e há um risco coletivo de calote que já dificulta o acesso a financiamento privado.

A Unica prepara um conjunto de propostas para apresentar aos pré-candidatos no 5.º Top Etanol, no início de junho. Embora a presidente da entidade, Elizabeth Farina, já tenha entrado em rota de colisão com a presidente Dilma e o ministro Guido Mantega (Fazenda), Rodrigues evita atacar o governo. "O País precisa definir o que quer de participação do etanol na matriz energética. O setor vive uma rota de redução de importância. Precisamos conhecer como e o que será feito para corrigir essa rota", afirma.

Milho e aves. O descontentamento com o governo também é grande entre os produtores de milho. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, diz que o setor vive há mais de duas décadas uma política de "empurração" de problemas e que não "confia mais em um governo que não cumpre o que prometeu". Ele evita posicionamento direto sobre o nome da corrida eleitoral que mais agradaria o setor de milho.

Aécio e Campos procuraram a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), presidida pelo ex-ministro da Agricultura do governo Fernando Henrique Cardoso, Francisco Turra, para pedir sugestões de pontos que não devem faltar nos seus planos de governo voltados para o agronegócio. A entidade é a principal representante dos criadores de aves e frangos. "Fui procurado diretamente pelo Eduardo Campos, com quem estive pessoalmente duas vezes, e a equipe do Aécio Neves nos procurou para pedir o estudo de competitividade que tínhamos apresentados à presidente Dilma."

Entre os pontos apresentados por Turra aos pré-candidatos, constou um estudo no qual a associação afirma que decisões equivocadas do governo e a lentidão no processo, entre 2006 e 2013, levou o País a reduzir o potencial anual de exportações de produtos agrícolas em US$ 1,5 bilhão. Como isso, teria ocorrido o embargo de 100 mil empregos que deixaram de ser criados no período. "Percebo que há mais interesse dos candidatos agora do que na época em fui ministro, quando não havia tanta proximidade deles com o agronegócio."

Turra ressalta que a associação não tem, no momento, compromisso com nenhum pré-candidato. O ex-ministro de FHC, contudo, é filiado ao PP do Rio Grande do Sul, que está fechado informalmente com Aécio.

Grupo aponta Marina como obstáculo para apoiar Campos

• Para líderes ruralistas, Aécio é o pré-candidato que mais tem apoio e proximidade com o setor por ser mais conhecido

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os três pré-candidatos à Presidência estiveram na 80.ª Expozebu, realizada no início do mês pela ABCZ, em Uberaba, no triângulo mineiro, mas apenas o pré-candidato tucano Aécio Neves e o pré-candidato do PSB Eduardo Campos aproveitaram o momento para fazer encontros com os pecuaristas. Ao discursar no evento, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada.

"O Aécio é mais próximo da gente, conhecemos bem o posicionamento dele. Precisamos conhecer melhor os outros candidatos (para decidir qual apoiar). Falta entender melhor as propostas do Eduardo Campos e as propostas da presidente Dilma para um segundo mandato", diz o presidente da Associação Brasileira dos Criados de Zebu (ABCZ), Luiz Carlos Paranhos.

Paranhos diz que o setor gostou do que ouviu de Campos, mas mantém desconfianças quanto sua companheira de chapa, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. "Campos começou a aparecer como uma pessoa competente, mas é muito questionado sobre a vice dele."

Marina, ligada a organizações ambientais que confrontam o agronegócio, é apontada também pela Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) como a pedra no sapato de Campos. O presidente da Acrimat, José João Bernardes, afirma que a ex-senadora tem "uma visão muito limitada" do agronegócio e teria criado "embaraços burocráticos que não estavam na lei" quando ministra do Meio Ambiente. "Temos a expectativa de que mude a política do governo para o agronegócio e isso significa que é preciso mudar de presidente."

Preferido. O pecuarista mato-grossense, Estado com o maior rebanho do País, com cerca de 28,5 milhões de cabeças de gado, coloca Aécio como potencial candidato da pecuária e avalia que Campos precisa se apresentar melhor para ganhar confiança. "Eu diria que o Aécio talvez seja o candidato da pecuária por ter mais sensibilidade para a produção", diz o presidente da Acrimat. "Não conheço o Eduardo Campos e acho que ainda falta tempo para ele se tornar conhecido."

O peso relativo dos prefeitos na campanha presidencial

• Para especialistas, gestores municipais colaboram, mas seus apoios não são decisivos na eleição para o Planalto

Patrycia Monteiro Rizzotto – Brasil Econômico

O PMDB é o partido brasileiro que concentra o maior número de prefeitos filiados em exercício, segundo Pesquisa de Informações Básicas Municipais realizada pelo IBGE. A legenda reúne cerca de 19% do total brasileiro, com 1024 representantes. Em seguida vem o PSDB, com 685 prefeitos, e o PT, com 642. Esse capital político, entretanto, não garante ao PMDB a hegemonia nas eleições para presidente — o partido tem o apenas candidato a vice na chapa do PT.

De acordo com o cientista político Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), pelo contato direto que têm com a população, os prefeitos podem se tornar excelentes cabos eleitorais. "Um gestor municipal popular, com credibilidade e respaldo, consegue transferir prestígio para seus candidatos", afirma, citando que o prefeito Gilmar Machado, de Uberlândia, pode ajudar eleitoralmente Dilma na eleição em Minas Gerais, e também contribuir com a campanha de Fernando Pimentel para o governo. "Mas, o mesmo não podemos dizer de Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, que tende a prejudicar Dilma e Padilha nas eleições na capital paulista. Como o próprio PSDB enfrenta desgastes políticos, vejo que o candidato ao governo do PMDB, Paulo Skaff, pode crescer muito na campanha", analisa.

Já na opinião de Cristiano Noronha, consultor político da Arko Advice, o peso político dos gestores municipais na eleição presidencial é relativo. "Os prefeitos são importantes numa campanha porque abrem a cidade para os candidatos. Nas cidades pequenas, eles os apresentam às pessoas influentes da região, ajudam na organização de comícios, e emprestam seu prestígio nesses eventos. Mas não é isso que determina a força de uma candidatura presidencial. O PMDB já é o maior partido há algum tempo e isso não favoreceu seu presidenciável Orestes Quércia, em 1994", conta, acrescentando que a influência eleitoral dos prefeitos é maior nas eleições para governador, senador, deputados estaduais e federais.

Para o especialista, fatores como tempo de exposição na TV, financiamento de campanha e as características pessoas são mais decisivos para os presidenciáveis.

Ainda segundo Noronha, a vitória ou não de um presidenciável pode influenciar no crescimento politico-territorial de seu partido. "A vitória de Dilma é também a vitória do PT. Desde que Lula chegou à Presidência, em 2003, o Partido dos Trabalhadores cresceu muito. Em contrapartida, o PSDB e o DEM vêm perdendo espaço na Câmara e no Senado. Isso ocorre porque quando um partido chega ao poder, ele naturalmente ocupa cargos importantes na administração direta e indireta. À frente de ministérios, seus representantes têm a possibilidade de transferir recursos públicos para os seus estados de origem, com potencial de gerar desdobramentos eleitorais positivos", reflete.

Em consonância, o cientista político Ricardo Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a mudança de perfil territorial dos partidos nos municípios é lenta e o PMDB deve manter sua capilaridade regional por algum tempo.

"Se Dilma Rousseff conseguir se reeleger, a tendência é o PT aumentar o número de prefeituras nas próximas eleições municipais, em 2016. Mas se o desempenho da oposição for positivo, tanto o PSDB quanto o PSB podem puxar votos para prefeitos", diz.

Para o especialista da UFPR, os prefeitos influenciam mais na composição da bancada federal dos estados: "São vasos comunicantes, tanto que o PMDB predomina nas prefeituras e detém a segunda maior bancada na Câmara, perdendo apenas para o PT. Além disso, o PMDB tem a maioria no Senado".

De acordo com Oliveira o PMDB é predominante no Brasil por razões históricas. "Ele tem inserção no cenário político brasileiro desde a época do MDB, no regime militar. Além disso, o PMDB é uma legenda de centro, com orientação sempre governista, o que facilita o trânsito entre governadores e presidentes".

Aécio Neves: O medo do PT

- Folha de S. Paulo

Enquanto o PT faz terrorismo na TV, com o intuito de amedrontar os brasileiros e levá-los a votar pela reeleição da candidata Dilma Rousseff, é importante colocar o debate político nos trilhos da sensatez.

O que terá acontecido para que o partido se lançasse no desespero, no tudo ou nada, antes mesmo da campanha eleitoral começar oficialmente? Resposta: há uma vigorosa exigência de mudança pulsando no coração e na mente dos brasileiros. Para se ter a dimensão daquilo que realmente assusta o PT, vale a pena conferir alguns números pouco conhecidos do último Datafolha.

O desejo de que as ações do próximo presidente sejam diferentes das ações da presidente Dilma já é compartilhado em todas as camadas sociais, incluindo-se os mais pobres e a classe média: 69% entre os que ganham até dois salários mínimos, 76% entre dois e cinco salários mínimos, e 81% entre cinco e dez salários mínimos. Nas regiões Norte e Nordeste, já são 67% favoráveis à mudança. Nas faixas etárias de 16 a 34 anos, pode-se chegar a 80%.

O PT, que sempre se julgou dono de parcelas importantes da população, surpreendeu-se com a grande virada país afora. Não percebeu o esgotamento do falso modelo maniqueísta, dos bons vs. os maus, do nós vs. eles, que permanentemente tentam nos impor.

Com uma trajetória marcada pela arrogância, de dono da verdade, detentor de todas as virtudes, o partido abandonou os ideais sob os quais foi fundado. Da defesa intransigente da ética, acabou sócio da corrupção. Nasceu se apresentando como partido dos trabalhadores; virou um partido financiado pela elite econômica do país. Propunha um novo modo de governar e vem destruindo o patrimônio público dos brasileiros, cujo mais eloquente exemplo é o que ocorre na Petrobras. Pregava o respeito à democracia e vem assumindo, sem constrangimento, a defesa da censura aos meios de comunicação.

Essas e outras contradições estão na base da rejeição enfrentada hoje pelo PT.

Com a nova propaganda, o partido passa a si mesmo um atestado de fracasso. Depois de quase 12 anos no poder, não festeja o que deveria ser o seu legado. Não tendo mais esperança ou confiança, oferece aos brasileiros o medo e a ameaça.

Os fantasmas que estão assustando o país não são os do passado. São os fantasmas do presente. O fantasma da inflação, que voltou a assombrar as famílias, do crescimento medíocre da economia, da corrupção desenfreada, das promessas não cumpridas e da falta de rumo do país.

E, ao final, ainda subestimam a inteligência dos brasileiros ao tentar nos convencer de que, para mudar, é preciso deixar tudo como está.

O novo talvez ainda não tenha nome. Mas o velho tem: chama-se arrogância e manipulação. Chama-se PT.

Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

José Roberto de Toledo: Partidos demais

- O Estado de S. Paulo

A preferência partidária declarada pelos eleitores a Ibope e Datafolha ao longo dos últimos 25 anos compõe um filme dos altos e baixos da política brasileira após a redemocratização. E a história contada pelos números aponta um final nada feliz. Quanto mais partidos há, menos gente se diz simpática a eles.

Se há uma tendência nessa narrativa é a desilusão da maioria dos brasileiros com os partidos. Ambos os institutos convergem para uma taxa próxima a 60% de eleitores sem preferência por nenhuma sigla. Já houve surtos de despartidarização - na investigação do mensalão em 2005/2006 -, mas os últimos anos constituem o mais longo período em que os sem-partido formam a maioria absoluta.

Ao mesmo tempo, nunca houve tantas agremiações políticas. São 32 partidos registrados junto à Justiça eleitoral, dos quais 22 têm representação no Congresso Nacional. Juntos, eles recebem mais de R$ 300 milhões por ano de recursos públicos. Sem contar os benefícios extras e nada desprezíveis, como horas de propaganda no rádio e na TV a cada semestre, que também custam ao Tesouro.

Além de não ser gratuita, a propaganda partidária tem efeito oposto ao esperado. Em vez de envolver mais pessoas no debate político, as afasta. São tantas siglas vazias, numa combinação aleatória de chavões e palavras de ordem, que é impossível a sopa de letrinhas formar poema concreto na cabeça do eleitor. Ao contrário. É como se o público, ao fim do palavrório, intuísse que o que é bom para os caciques não é bom para a tribo.

Por certo não foi apenas a abundância de siglas caça-níquel que contribuiu para a despartidarização do eleitorado. A novela sem fim da corrupção sobrepõe camadas de desilusão a fatias de descrédito. No fim, forma um bolo só, recheado de partidos e coberto de ceticismo, opinionismo oportunista e despolitização.

Os 25 anos ininterruptos de eleições livres para todos os cargos no Brasil são também a história da ascensão e queda dos partidos que simbolizaram a seu tempo a mudança e os avanços sociais. Primeiro foi o PMDB. De resistência à ditadura, virou uma nova confederação dos tamoios, tomado por caciques que, cada vez com menos índios, gerenciam suas lucrativas franquias estaduais.

No começo dessa história, o PMDB chegou a ter a simpatia de mais de 20% do eleitorado. Hoje, está resumido a 5% e caindo. Na sua decadência prosperaram PSDB e PT. Os tucanos, porém, nunca decolaram de fato. Nem mesmo os impulsos do Plano Real e, depois, da investigação do mensalão, foram suficientes para transformar o PSDB em um partido de massa. Mal chegou a 10% das preferências. Hoje, atrai tanta simpatia quanto o PMDB.

O PT foi a agremiação que mais corações e mentes conquistou enquanto PMDB e PSDB perdiam simpatizantes. No auge, beirou os 30% de preferência do eleitorado. Mas o histórico dos últimos anos mostra uma curva descendente. No melhor cenário, os petistas estabilizaram em pouco mais de 20% dos eleitores - e acumularam uma antipatia equivalente de outros tantos.

Entre a sua ascensão, apogeu e queda o PT mudou de cara e de público. Os simpatizantes petistas envelheceram e migraram do Sudeste para o Nordeste. Ao mesmo tempo, o partido perdeu quase metade da penetração que tinha no eleitorado com nível superior.

É uma incógnita que tipo de mudança o PT estará apto a propor e implementar com essa nova base social de apoiadores.

Caso o partido perca o poder, quem ocupará seu vácuo? Por enquanto, nenhum partido dá sinais de estar preparado. Nenhuma sigla desponta nas preferências do eleitor. O PSB, que há poucos anos começou a ser citado nas pesquisas, ainda tem só 1%. O PV chegou ao auge em 2010. Hoje, quando é lembrado, não passa de 2%. A novidade nas ruas é o discurso antipartidário.

Mesmo essa novidade tem sido, até agora, incapaz de aglutinar interesses comuns e propor um modelo com chance de se contrapor ao cada vez mais antipático sistema partidário brasileiro.

Ricardo Noblat: Mudança e medo

“Determinados setores parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas chances eleitorais”. Lula, no jornal “El País

- O Globo

Na última quinta-feira, ao receber para jantar no Palácio da Alvorada 10 jornalistas esportivos, Dilma pôs um ponto final na discussão sobre se será ela ou Lula o candidato a presidente na eleição de outubro próximo.
Disse em resposta a uma pergunta: “É a minha hora. E vou até o fim. Perdendo ou ganhando”. Lembrou que em 2006, por essa mesma época, Lula tinha índices piores do que ela nas pesquisas.

Menos, Dilma, menos. Em maio de 2006, Lula tinha 45% das intenções de voto, segundo o instituto Datafolha. Sua tendência era de alta.

Pesquisa Datafolha aplicada este mês conferiu a Dilma 37% com tendência de queda. Os mesmos 37% que ela alcançou em maio de 2010, ano em que se elegeu. Naquela ocasião estava crescendo.

O desejo de mudança em 2006 e 2010 não foi medido por pesquisas tornadas públicas. Deveria ser baixo, do contrário Lula não se reelegeria com tanta folga nem elegeria Dilma.

Este mês, o desejo de mudança atingiu 72% no Datafolha. Noutras palavras: pouco mais de sete em cada dez eleitores querem que o futuro presidente governe em parte ou de forma totalmente diferente de Dilma.
A de outubro será a sétima eleição presidencial pelo voto popular desde o fim da ditadura militar de 1964, que durou 21 anos.

A primeira eleição foi em dezembro de 1989. Apresentaram-se 22 candidatos. O brasileiro votou apenas para presidente.

Fernando Collor e Lula, que encarnaram a mudança em relação “a tudo”, disputaram o segundo turno. Collor ganhou apertado.

Fernando Henrique se elegeu em 1994 como o candidato da continuidade. Havia sido ministro da Fazenda de Itamar Franco, o vice que substituíra Collor, cassado pelo Congresso sob a suspeita de ser corrupto.

Deveu a eleição ao Plano Real que levou sua assinatura. O plano introduziu uma nova moeda, reduziu ao mínimo a inflação que chegara a mais de 80% ao mês, e estabilizou a economia.

A continuidade voltou a triunfar em 1998 quando o Real ainda teve fôlego para reeleger Fernando Henrique.

Em 2002, com o desemprego subindo, venceu a mudança: elegeu-se Lula.

Nas eleições seguintes de 2006 e 2010, sustentada pelos resultados dos programas sociais e de uma melhor distribuição de renda, a continuidade venceu com Lula e Dilma. “A mulher de Lula”, como Dilma se tornou conhecida, jamais disputara uma eleição.

Empenhado, agora, em interromper a queda de Dilma nas pesquisas, o PT sacou de uma velha arma comum às campanhas de todos os partidos e candidatos que se veem em clara desvantagem: o medo.

A arma foi usada em um comercial do PT na televisão. Atores representaram pessoas bem de vida confrontadas com o risco de se tornarem miseráveis. Dará certo?

Deu para Collor em 1989, que assustou eleitores dizendo que Lula ameaçava a democracia e à economia de mercado.

O medo ficou de fora da eleição de 1994, mas ajudou Fernando Henrique a bater Lula quatro anos mais tarde. Foi dito que o Plano Real naufragaria se Lula vencesse.

A “esperança venceu o medo” em 2002 e elegeu Lula. Que se valeu do medo para derrotar Geraldo Alckmin na eleição de 2006. Foi dito que as empresas estatais seriam privatizadas se Alckmin vencesse.

O medo perdeu o gás na eleição de 2010.

Dá-se como verdade que o distinto público detesta pancadaria em campanha. Prefere a exposição elegante de boas ideias de governo. Não é assim.

A pancadaria costuma funcionar. A arte está em saber calibrar o medo com promessas de felicidade.

Valdo Cruz: Babacas ingratos

- Folha de S. Paulo

Um dia, o PT relança o fantasma do medo da volta ao passado num comercial de TV. Noutro, seu líder maior diz que o brasileiro está acostumado a coisas do passado e que é uma babaquice preocupar-se com o conforto do futuro.

Explico: em defesa do governo de sua criatura, Lula chegou ao ponto de dizer que é uma babaquice a preocupação de ter metrô até a porta dos estádios. Para ele, brasileiro "vai a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa".

Podemos, então, traduzir assim. Estamos tão habituados a sofrer que não há problema em seguirmos do mesmo jeito. Afinal, metrô dentro de estádio é uma besteira, coisa de país desenvolvido, que dá conforto e segurança a seus cidadãos.

O comentário infeliz de Lula tem endereço certo. Movimento captado pelo comando da campanha de Dilma mostra que uma parcela do eleitorado cativo do PT ameaça debandar por insatisfação com promessas não cumpridas pelo governo.

Exemplo: a empregada de um integrante da cúpula do PT disse ao chefe que não iria votar em Dilma. Motivo: ganhou uma casinha do Minha Casa, Minha Vida sem piso. Passado um ano, até hoje não colocaram a cerâmica prometida.

De casos como esse surgiu a decisão de fazer o comercial para despertar no eleitorado o medo de volta ao passado. Uma busca de mostrar a esses eleitores que devem agradecer ao PT e não reclamar muito pelo que falta. A alternativa é o bicho tucano, que te pega, desemprega e devolve para pobreza.

Ou seja, a funcionária do petista está sendo, em sua avaliação, uma ingrata. Ganhou casa do governo e pode não votar na Dilma. É preciso dizer a ela que é um absurdo reclamar do piso de cimento grosso. Tal como o torcedor deve se contentar em andar a pé até o estádio.

Afinal, na visão petista, de ingratos bastam alguns empresários. Encheram os bolsos de dinheiro e tramam derrotar a presidente Dilma.

Renato Janine Ribeiro: As eleições menos importantes do país

• Que poderes têm os deputados estaduais?

- Valor Econômico

Nas eleições deste ano, um cargo chama, se posso assim dizer, nossa desatenção - porque é o menos importante em jogo: o de deputado estadual. Eles são mais de mil, incluindo os distritais de Brasília. Mas têm menos poder do que deputados federais, senadores ou mesmo vereadores. Todos os governadores, ou quase, controlam as Assembleias Legislativas sem dificuldades. A oposição, nessas Casas, é fraca; em alguns casos, nem existe. Fala-se que o legislativo federal é controlado pelo poder executivo; mas o controle é mais forte no nível estadual.

Uma razão para isso pode estar na menor competência dos Estados para legislar. Nossa Constituição confere à União competência legislativa sobre praticamente qualquer assunto, enquanto cabe aos municípios decidir assuntos de interesse local, como o zoneamento, que afetam diretamente a vida dos moradores. Já os Estados têm sobretudo uma competência concorrente à da União e dos municípios. Como aos legislativos cabe, é óbvio, votar leis, resulta disso que os estaduais produzam pouco. E como os governadores são personagens de destaque em nossa política, efetuando um poderoso meio de campo entre prefeitos e presidência, bem como influenciando bancadas no Congresso, cresce o fosso entre um Executivo estadual forte e um Legislativo fraco.

Só para comparar Estados e União: a Presidência da República tem muito poder, mas a cada votação relevante tem de renegociar sua maioria em duas Casas legislativas distintas, nas quais há mais partidos relevantes do que nos Estados. Porque, se em cada Estado há poucos partidos que contam, na escala nacional eles se tornam numerosos. O legislativo federal é mais complexo que os estaduais.

Pode haver razões históricas para o menor peso das assembleias. No Brasil colonial, o que importava, em termos sociais e políticos, eram os municípios. (Ulisses Guimarães, na época da Constituinte, certamente lembrava esta tradição, ao dizer que "as pessoas vivem nos municípios, não na União"). As capitanias, antecessoras das províncias do tempo imperial e dos Estados da era republicana, na prática contavam pouco. Nas cidades, estava o que tínhamos mais perto de uma política representativa. Não tivemos assembleias provinciais, como as colônias inglesas da América, mas câmaras municipais, atuantes, ainda que esses órgãos em que pobres e escravos não tinham vez não fossem, propriamente, democráticos.

Mas a autonomia local, numa época de comunicações difíceis e lentas, foi um traço importante de nossos primeiros séculos. Prova disso é que, quando Pedro I outorgou a Constituição de 1824, depois de dissolver a Constituinte, ordenou que fosse submetida à apreciação das Câmaras Municipais - que, sensata ainda que não democraticamente, a aprovaram. As assembleias provinciais só nasceram com o Ato Adicional de 1834, durante o que Paulo Pereira de Castro chamou nossa "experiência republicana", a Regência.

A República rompeu o modelo centralizador que vigia desde os tempos portugueses, conferindo autonomia aos Estados. Na República Velha, houve verdadeiras guerras civis no plano estadual, sem que a União interviesse. Érico Verissimo relata, no "Lenço encarnado", a revolução gaúcha de 1923, em que chimangos e maragatos se matavam ante a neutralidade das tropas federais. A Força Pública paulista dispôs até mesmo de uma aviação militar. Desde 1930, porém, essa autonomia recuou. Nunca nossos Estados, ao contrário dos norte-americanos ou mexicanos, puderam legislar sobre o crime. Mas tiveram, nos primeiros quarenta anos do regime republicano, códigos próprios de processo. A partir da Revolução de 30, reforçada pela ditadura militar, a centralização caminhou a largos passos. Reduziu, nesse processo, a competência de legislar dos Estados.

Isso é bom, é ruim? Não sei. Hoje o poder político reside, em larga medida, na orientação da atividade econômica. Essa é uma tarefa, em qualquer lugar do mundo, do poder soberano. Unidades subnacionais podem gastar o que arrecadam em impostos, mas não têm meios fortes para definir como se produz a riqueza - da qual vêm os tributos. Na própria Europa, a unificação em curso reduz o poder dos Estados nacionais, o que fica evidente na atual, longa e talvez insolúvel crise do euro. Era inevitável diminuir a competência legislativa de nossos Estados - até porque a enorme autonomia deles, vigente na República Velha, não resultava de demandas populares, mas de um acordo entre oligarquias.

Mas fica o problema. A competência de legislar dos Estados é limitada; suas assembleias não causam muito impacto; um vereador de capital pode ser mais influente do que um deputado estadual; salvo desconhecimento meu, a única assembleia do País a ser forte no imaginário dos cidadãos é a fluminense, para onde se voltam protestos de toda ordem. Não por acaso, dentre as assembleias só a ALERJ é popularmente reconhecida por sua sigla. Governadores são personagens políticos relevantes, deputados estaduais não. Queremos isso?

Essa situação é boa para nossa política, nossa sociedade? Há meios de mudá-la? O quadro me faz pensar na Assembleia de Representantes criada, em 1891, por Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul. Ele fez adotar uma constituição positivista, que deixava aos deputados gaúchos só o papel de votar o orçamento. Todas as outras leis eram baixadas pelo Executivo. É claro que tudo mudou, de lá para cá. Mas deveríamos discutir o que queremos de um órgão legislativo que, em que pesem as intenções dos seus membros e os votos que legitimam seus mandatos, é o menos significativo de nosso sistema político.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Paulo Brossard: 13 de Maio

- Zero Hora (RS)

O aniversário da abolição da escravatura faz lembrar a sua marcha, a começar pela proibição da importação de escravos, seguindo-se a lei do ventre livre, dos sexagenários e por fim a extinção da instituição sinistra.

Ao prefaciar o livro de Osório Duque Estrada sobre a abolição, Rui Barbosa assinalou que o abolicionismo foi a mais expressiva corrente de opinião entre nós formada. Saliente-se que à liberdade seguiu-se abandono dos alforriados e o grosso da antiga população escrava tomou o freio nos dentes e se esparramou; foram muitos os dizimados pela doença, vício da bebida, a vadiagem; contudo, boa parte permaneceu próximo a seus antigos senhores, exercendo ofícios particularmente manuais, padeiro, ferreiro, pintor, mecânico, da mesma forma que as mulheres passaram a cozinheiras, doceiras, bordadeiras, lavadeiras estas com enormes trouxas à cabeça, equilibradas e seguras, vencendo distâncias a passo lépido; de modo especial, tiveram a atração de regiões dedicadas à produção do açúcar, cacau, café, charque, ou extração de minérios.

Em pouco tempo formou-se camada de profissionais, inclusive de servidores públicos, que contribuiu para a formação de componente social distinto, importante para o país.

E o tempo se encarregou de aprimorar a convivência entre o antigo escravo e o seu senhor; cresceu o número de professores, negros ou pardos, inclusive os de nível superior e lentes de faculdades. Nota-se, por exemplo, que quando a música popular lançou “ó nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia…”, brancos e pretos cantaram e dançaram sem que a lei a isso os obrigasse ou distinguisse.

A meu juízo, o ciclo iniciado com a extinção do trabalho servil se processou de maneira progressiva, até chegar ao ponto atual, inacabado, mas definitivo. A mim chama a atenção o deliberado esquecimento do 13 de maio, que não ocorreu nem por acaso, nem sem esforços de mais de uma geração. Perdoem-me os que, silenciando, pretendem substituí-lo pelo dia da consciência negra, pois é uma enorme injustiça em relação aos que lutaram até conseguir a abolição da escravatura.

Jurista, ministro aposentado do STF

Terrorismo eleitoral no ar: IstoÉ - Editorial

O medo como arma de campanha sempre foi tido e havido como o último dos recursos a que se apela quando todos os demais não surtiram efeito, no objetivo de aliciar a preferência dos eleitores a favor de um candidato contra o seu adversário. Na semana passada, o Partido dos Trabalhadores decidiu reverter essa lógica e colocou no ar, de saída, um "teaser" onde a mensagem do medo é abertamente lançada para angariar votos de indecisos e incautos.

"Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem", brada o locutor, enquanto imagens de brasileiros empregados e desempregados, pedintes e estudantes são sobrepostas, com a ameaça subliminar de um retrocesso caso a presidenta Dilma não vença as próximas eleições. A oposição naturalmente reagiu taxando de tática do desespero. A presidenta, que segue em queda nas pesquisas de popularidade, parece acreditar no vale-tudo. E, nesse ambiente, o debate que deveria caminhar, a bem do País, para o campo das mudanças estruturais almejadas pela sociedade desce ao nível da baixaria pura e simples.

O recurso, mais que deplorável, é de eficácia duvidosa. Já foi tentado inúmeras vezes. E, ironia das ironias, contra o próprio PT. Em 2002, na campanha do candidato tucano José Serra, uma peça de sua propaganda eleitoral trazia o depoimento da atriz Regina Duarte dizendo ter medo de Lula e do risco que o Brasil corria de perder a estabilidade conquistada. O opositor Lula respondeu com o mantra "a esperança vai vencer o medo" e levou a vitória. Desta vez, na filosofia distorcida de seu partido, intensifica-se a guerra do "nós contra eles", como se o Brasil pudesse ser dividido em duas facções, a do "bem" e a do "mal", a de "ricos contra pobres". Certamente um equívoco.

Com essa visão distorcida do maquiavélico conceito de dividir para governar, o PT incita sem necessidade o apartheid de classes. E peca ao não perceber que a insatisfação do eleitorado aumenta independentemente da camada social. Os que hoje desaprovam o governo, como mostrou a pesquisa Istoé/Sensus, já estão percentualmente em maior número do que aqueles que aprovam (49% a 40% dos entrevistados).

Nas ruas, na semana passada, novos protestos e greves deram mais uma demonstração nesse sentido. Seria, portanto, prudente e aconselhável nesse cenário que partidos e candidatos deixassem de lado seus meros projetos de poder em prol das propostas que constituam um projeto de gestão mais eficiente – em sintonia com o que a Nação realmente necessita.

Carlos José Marques, diretor editorial

Painel - Vera Magalhães

- Folha de S. Paulo

Chuvas e trovoadas
Uma das principais preocupações na campanha de Dilma Rousseff é a dificuldade que o PT enfrenta em São Paulo. A aproximação de Geraldo Alckmin com partidos da base dilmista, como PSD e PR, e a demora na recuperação da popularidade do prefeito da capital, Fernando Haddad, são vistos como entraves não só para a decolagem do candidato a governador Alexandre Padilha, mas ao desempenho da candidatura da presidente à reeleição no principal colégio eleitoral do país.

Calendário O QG da reeleição avalia que cumpriu a tarefa de maio, que era estancar a queda de Dilma nas pesquisas. A missão de junho, definiu a coordenação, é reduzir ao máximo os danos com os protestos anti-Copa.

Sem piscar Lula e Gilberto Kassab conversaram no fim da semana passada. O ex-presidente saiu confiante de que o ex-prefeito manterá o acordo para apoiar Dilma, mas não descartou que ele se alie ao PSDB em São Paulo.

Não custa Pelo sim, pelo não, o ex-presidente deve chamar nos próximos dias Henrique Meirelles para garantir que seu ex-presidente do Banco Central não será vice na chapa de Aécio Neves.

Rebanho Políticos protagonizaram a festa de aniversário do pastor Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus, no sábado, em São Paulo. Subiram ao palco o vice-presidente Michel Temer (PMDB), o senador Aloysio Nunes (PSDB) e o presidenciável Pastor Everaldo (PSC).

Oremos Os quatro principais pré-candidatos ao governo paulista também estiveram lá. Kassab, cuja definição de apoio pode desequilibrar o tempo de TV, monopolizou as atenções de Alckmin, Padilha e Paulo Skaf (PMDB).

Linha direta O pastor agradeceu em público a Dilma por ter telefonado para cumprimentá-lo pelo aniversário e registrou o horário exato do telefonema: 19h05.

Emissário O tucano Aécio Neves (PSDB) pediu que o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, tentasse dissuadir seu partido, o PSB, de romper a aliança em Minas e lançar candidato próprio ao governo do Estado. Lacerda entrou em campo, mas ouviu que a decisão é irreversível.

Vai lá Provável candidato em Minas, o deputado federal Júlio Delgado recebeu do comando nacional do PSB pesquisas qualitativas que o encorajaram a disputar. A estratégia será mostrá-lo como o "novo" diante de dois candidatos bem conhecidos.

Pedra dura Definida a questão mineira, resta o impasse de São Paulo. No fim de semana, a Rede de Marina Silva reforçou a tese de candidatura própria ou apoio a Ricardo Young, cujo partido, o PPS, deve se aliar a Alckmin.

Água mole O núcleo duro do PSB, no entanto, deve enumerar cinco Estados em que os palanques foram definidos em comum acordo (RJ, MG, RS, DF e AM) para tentar minimizar o mal-estar com uma eventual decisão contrária à Rede em São Paulo.

Habitué As investigações da Polícia Federal na Operação Lava Jato captaram uma troca de mensagens em que o deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) combina um encontro na casa do doleiro Alberto Youssef, em São Paulo. "Tô aqui no escritório. Te espero aqui e vamos juntos para casa", escreveu Youssef.

Cara limpa Apesar de desistir do projeto de lei que pune "black blocs" em protestos, o governo federal entende que as polícias deverão coibir a participação de mascarados nos atos. O argumento é o inciso IV do artigo 5º da Constituição, que garante a livre manifestação "vedado o anonimato".

Tiroteio
"A esperança já venceu o medo em 2002. E agora de novo o desejo de mudança vai vencer os novos propagadores do medo."
DO DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE, líder do PSB na Câmara, sobre propaganda de TV do PT que aponta risco de retrocesso em caso de vitória da oposição.

Contraponto

Casa de ferreiro

Durante audiência da CPI dos Pedágios na Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris fez um apelo ao presidente, o também tucano Bruno Covas, para que todos os parlamentares da comissão passassem a receber em formato digital os documentos recebidos pela CPI.

--Serão muitas páginas. Quanto papel será gasto se cada deputado tiver cópia de tudo? --indagou Macris.

Para evitar qualquer tentativa de outros deputados de manter a cópia em papel, o tucano apelou:

--Não vamos esquecer que até bem pouco tempo nosso presidente era secretário estadual de Meio Ambiente!

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Estudo suíço nega influência da Copa em eleição
Pesquisa realizada pelo banco suíço UBS para avaliar macroeconomia e estratégia de investimento, mostra que não há relação direta entre o resultado em campo na Copa do Mundo e a avaliação de governantes no Brasil. Em 1994, quando o Brasil conquistou o tetra, a avaliação do governo era positiva, com o sucesso do Plano Real. Oito anos depois, em 2002, na conquista do penta, a avaliação do governo caiu 2 pontos.

• Data de validade
O estudo conclui que a Copa poderia influir se ocorresse até duas semanas antes das eleições. A Copa deste ano acaba 79 dias antes.

• Perde e cresce
Quando o Brasil foi derrotado pela França, na final da Copa do Mundo de 1998, a avaliação do governo brasileiro cresceu 7%.

• Sem certeza
A avaliação do governo cresceu 1% após a eliminação nas quartas de final, em 2006. Em 2010: derrota nas quartas e a avaliação caiu 1%.

• Fontes múltiplas
Estudo do UBS analisou pesquisas próprias e de diversos institutos de pesquisa como Datafolha, Ipea, Fifa, Bloomberg e Data.

• Empreiteiras se irritam, mas têm desconto em MP
Apesar de ter vetado o artigo da Medida Provisória 627, relatada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que excluía empreiteiras de nova tributação em lucros gerados no exterior, a presidenta Dilma aprovou ampliar o desconto no PIS e Cofins por mais quatro anos. Uma lei de 2003 permitia que as empreiteiras fossem beneficiadas pelo sistema tributário até 2015, mas a MP 627 estendeu o prazo para 2020.

• Na nossa conta
Além das empreiteiras – maiores doadoras de campanhas no Brasil – concessionárias também ganham extensão no desconto do Pis/Cofins.

• Olha o lobby
Mesmo com a extensão no desconto do Pis/Cofins, as empreiteiras não estão satisfeitas: querem isenção para obras realizadas no exterior.

• Marca registrada
Para a oposição, a MP 627 merecia veto integral só porque o esperto deputado Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB, foi o relator.

• Palavra proibida
O governador paulista Geraldo Alckmin proíbe os auxiliares de usar a palavra que mais teme. É mais fácil ele ressuscitar o tal “volume morto” do que citar a palavra “racionamento” em ano eleitoral.

• Fala o que eu digo…
Levantamento da ONG Artigo 19 aponta que o Judiciário é o poder que menos responde aos pedidos de acesso à informação. O Executivo vai bem: respondeu a todos os pedidos.

• Pernambucanos
Lula quer uma frente com o PTB, PDT, PT e PP para apoiar o senador Armando Monteiro ao governo de Pernambuco. Mas o deputado Eduardo da Fonte (PP) prefere se aliar ao PSB, de Eduardo Campos.

• Olha quem foi
Lula mantém obsequioso silêncio sobre as consequências de cada “ok” que autorizou na longa lista de exigências da Fifa, algumas absurdas, para que o Brasil ganhasse o direito de sediar a Copa de 2014.

• Racha interno
Coitada da Venezuela: María Gabriela, filha do finado semiditador Hugo Chávez, está sendo cevada para disputar a presidência da república. Até já cumpriu o script de visitar Fidel Castro, em Cuba.

• Rejeição no DF
Pesquisa do Instituto Dados (TSE nº 93/2014) mostra que, entre os candidatos ao Senado, no DF, Alberto Fraga (DEM) é o mais rejeitado (10,9%) e o atual senador Gim Argello (PTB), está em 4º (7,5%). O favorito, Antonio Reguffe (PDT), é também o menos rejeitado (1,5%).

• Separação litigiosa
A ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins atacou sexta-feira, na TV, os irmãos Cid e Ciro Gomes. E declarou que se o PT apoiar o candidato da dupla ao Governo do Ceará, ela votará em Eunício Oliveira (PMDB).

• Embromation
O ex-presidente Sérgio Gabrielli está convocado para depor na CPI chapa branca da Petrobras, nesta terça (20), no Senado. Graça Foster ficou para o dia 27 e o ex-diretor Nestor Cerveró para quinta (22).

• Pensando bem…
…pelo nível de baixa profundidade, a CPI da Petrobras entrará para a história como a CPI do Volume Morto.

Carlos Pena Filho: Memórias do Boi Serapião

A Aloísio Magalhães e José Meira

Este campo,
vasto e cinzento,
não tem começo nem fim,
nem de leve desconfia
das coisas que vão em mim.

Deve conhecer, apenas
(porque são pecados nossos)
o pó que cega meus olhos
e a sede que rói meus ossos.

No verão, quando não há
capim na terra
e milho no paiol
solenemente mastigo
areias, pedras e sol.

Às vezes, nas longas tardes
do quieto mês de dezembro
vou a uma serra que sei
e as coisas da infância lembro:

instante azul em meus olhos
vazios de luz e fé
contemplando a festa rude
que a infância dos bichos é ...

No lugar onde eu nasci
havia um rio ligeiro
e um campo verde e mais verde
de um janeiro a outro janeiro

havia um homem deitado ¬
na rede azul do terraço
e as filhas dentro do rio
diminuindo o mormaço.

Não tinha as coisas daqui:
homens secos e compridos
e estas mulheres que guardam
o sol na cor dos vestidos

nem estas crianças feitas
de farinha e jerimum
e a grande sede que mora
no abismo de cada um.

Havia este céu de sempre
e, além disto, pouco mais
que as ondas nas superfícies
dos verdes canaviais.

Mas, os homens que moravam
na língua do litoral
falavam se desmanchando
das terras gordas e grossas
daquele canavial

e raras vezes guardavam
suas lembranças mofinas
as fumaças que sujavam
os claros céus que cobriam
as chaminés das usinas.

Às vezes, entre iguarias,
um comentário isolado:
a crônica triste e curta
de um engenho assassinado.

Mas logo à mesa voltavam
que a fome bem pouco espera
e os seus olhos descansavam
em porcelanas da China
e cristais da Baviera.

Naquelas terras da mata
bem poucos amigos fiz,
ou porque não me quiseram
ou então porque eu não quis.

Lembro apenas um boi triste
num lençol de margaridas
que era o encanto do menino
que alegre o tangia para
as colinas coloridas.

Um dia, naquelas terras
foi encontrado um boi morto
e os outros logo disseram
que o seu dono era o homem torto

que em vez de contar as coisas
daqueles canaviais
vivia de mexericos
"entre estas índias de leste
e as Índias Ocidentais".

.A verde flora da mata
(que é azul por ser da infância)
habita: os meus olhos com
serenidade e constância.

Este campo,
vasto e cinzento,
é onde às vezes me escondo
e envolto nestas lembranças
durmo o meu sono redondo,

que o que há de bom por aqui
na terra do não chover
é que não se espera a morte
pois se está sempre a morrer:

Em cada poço que seca
em cada árvore morta
em cada sol que penetra
na frincha de cada porta

em cada passo avançado
no leito de cada rio
por todo tempo em que fica
despido, seco, vazio.

Quando o sol doer nas coisas
da terra e no céu azul
e os homens forem em busca
dos verdes mares do sul.

só eu ficarei aqui
para morrer por completo,
para dar a carne à terra
e ao sol meu branco esqueleto,

nem ao menos tentarei
voltar ao canavial,
pra depois me dividir
entre a fábrica de couro
e o terrível matadouro municipal.

E pensar que já houve um tempo
em que estes homens compridos
falavam de nós assim:
o meu boi morreu
que será de mim?

Este campo,
vasto e cinzento,
não tem entrar nem sair
e nem de longe imagina
as coisas que estão por vir,

e enquanto o tempo não vem
nem chega o milho ao paiol
solenemente mastigo
areia, pedras e sol.

De Livro Geral. Rio de Janeiro: Livraria São José, Rio, 1959