domingo, 25 de maio de 2014

Opinião do dia: Antonio Gramsci

Quando se analisam estes desenvolvimentos dos partidos, é necessário distinguir: o grupo social, a massa partidária, a burocracia e o Estado Maior do partido. A burocracia é a força consuetudinária e conservadora mais perigosa; se ela chega a se constituir como um corpo solidário, voltado para si mesmo e independente da massa, o partido termina por se tornar anacrônico e, nos momentos de crise aguda, é esvaziado de seu conteúdo social e resta como que solto no ar.

Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, v. 3 pp. 61-2. “Observações sobre alguns aspectos da estrutura dos partidos políticos nos períodos de crise orgânica”. Civilização Brasileira, 2007.

Mais políticos na rede de Youssef

• Fotos de cadastro no prédio de um escritório em São Paulo do doleiro preso pela PF mostram visitas de oito deputados federais. PSol se reúne amanhã para analisar se leva envolvimento de Collor à Corregedoria

Naira Trindade – Correio Braziliense

A paralisação na investigação das oito ações penais da Operação Lava-Jato, determinada na semana passada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, não impediu que outros nomes de políticos envolvidos com o doleiro Alberto Youssef viessem à tona. Oito deputados federais são suspeitos de frequentar um escritório de Youssef em São Paulo, além do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que é acusado de receber R$ 50 mil do doleiro. A denúncia contra o ex-presidente levará o senador Randolfe Rodrigues (PSol) a se reunir com o partido amanhã para analisar se cobra explicações dele à Corregedoria do Senado.

Além dos já citados deputados federais André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SDD-BA) — que mantinham relacionamento com o doleiro preso há dois meses —, reportagem da revista Veja aponta que seis congressistas entravam e saíam com frequência de um escritório dele que funcionava na Zona Oeste paulista. Imagens da identificação da entrada do prédio registraram a presença dos pepistas Mário Negromonte (BA), Aline Corrêa (SP), Arthur Lira (AL), João Pizzolati (SC), Pedro Corrêa (PE) e Nelson Meurer (PR), além de André Vargas e Luiz Argôlo.

A maioria das visitas ocorreram em 2011. Ao Correio, o deputado Nelson Meurer negou, primeiramente, que tenha visto o doleiro em São Paulo. "Eu fazia visitas ao meu médico cardiologista", comentou. Porém, ao ser questionado sobre a imagem da identificação trazida pela revista, Meurer disse que "pode ter ido ao escritório cinco ou seis vezes", mas que "não lembrava se realmente teria visitado Youssef", a quem alega ter conhecido em Brasília. O Correio procurou todos os deputados citados, mas eles não atenderam ou retornaram às ligações.

Infidelidade
Na sexta-feira, o PT entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a perda do mandato de André Vargas por infidelidade partidária. Vargas abandonou o partido após ter sido flagrado usando o jatinho de Alberto Youssef. Caso o pedido seja aceito, a vaga fica com o suplente. "O PT foi mais duro comigo que os demais partidos com seus filiados", criticou Vargas. Outro conhecido de Youssef, Luiz Argôlo está ameaçado de ser expulso do Solidariedade, caso não saia espontaneamente.

Ontem, os líderes do PSDB e do PPS, Antonio Imbassahy (BA) e Rubens Bueno (PR), respectivamente, defenderam as investigações da CPMI da Petrobras após denúncias publicadas pela revista Época de propinas de R$ 6,2 milhões recebidas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa da empresa dinamarquesa Maersk, que aluga navios para a petroleira. Imbassahy afirmou que serão incluídos três requerimentos nas ações que o partido apresentará na comissão: a quebra de sigilo da empresa Gandra Brokerage, a convocação de Wanderley Gandra e a requisição dos contratos de fretamento de navios entre a Petrobras e dinamarquesa Maersk.

Entenda a Operação Lava-Jato
O início
Deflagrada em 17 de março no Paraná, a Operação Lava-Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado cerca de R$ 10 bilhões no mercado clandestino de câmbio. Na ocasião, o juiz da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, Sérgio Moro, mandou prender 13 pessoas, entre elas, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

A competência
Em meio às investigações, a Polícia Federal identificou em interceptações telefônicas envolvimentos de políticos com o doleiro Alberto Youssef . Os nomes dos deputados federais André Vargas (sem partido-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP) apareceram no inquérito, mas a Constituição Federal estabelece que a competência para investigá-los é do Supremo Tribunal Federal.

A paralisação
Na semana passada, o ministro Teori Zavascki, do STF, determinou a suspensão das oito ações penais da Operação Lava-Jato e que elas fossem enviadas à Suprema Corte. Zavascki também mandou soltar os envolvidos na operação. Após a decisão, o juiz Sérgio Moro alertou sobre o risco de fuga de alguns acusados para o exterior. Diante do alerta, Zavascki reviu o caso e decidiu manter 12 envolvidos presos. Só o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa conquistou a liberdade.

O próximo passo
O caso está parado nas mãos do ministro Teori Zavascki, que deve remetê-lo para análise da Procuradoria-Geral da República antes de decidir o que será investigado pela Suprema Corte e o que será apurado na Primeira Instância. Os processos de envolvidos que não têm foro privilegiado podem voltar ao Paraná.

Eleições não podem priorizar troca de ataques, diz Aécio

Gabriela Lara - Agência Estado

O senador Aécio Neves (PSDB) disse, neste sábado, 24, esperar que a eleição presidencial não se caracterize em troca de ataques entre situação e oposição. "Não é o caminho que queremos. Se eles (PT) querem oferecer o medo, nós vamos oferecer esperança", disse, lembrando indiretamente o vídeo sobre "fantasmas do passado" divulgado pelo PT recentemente na internet. O candidato está em Porto Alegre para a cerimônia que oficializou a aliança do PSDB e do Solidariedade com o PP no Rio Grande do Sul e também lançou a pré-candidatura da senadora Ana Amélia Lemos, do PP, ao governo gaúcho.

Durante entrevista no evento, Aécio foi questionado sobre comentários de que seria usuário de drogas. Para ele, isso faz parte da "estratégia de guerrilha na internet" que pretende fazer o assunto repercutir na grande imprensa. É o "submundo da política nas redes (sociais)", afirmou. O senador mineiro disse que tem uma história de vida digna e honrada da qual se orgulha e que, mesmo sendo acusado pelo PT há muito tempo, se tornou "especialista" em derrotar o partido nas eleições. Nesta semana Aécio revelou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que fumou maconha quando era jovem, mas que agora não recomenda o consumo de drogas.

Aécio associa PT a guerrilha de boatos nas redes

  • Pré-candidato tucano afirma que campanha não pode ser levada o ‘submundo da política’
  • Há 15 anos eu ganho do PT no primeiro turno, em todas as eleições, no meu Estado

Flávio Ilha – O Globo

PORTO ALEGRE – O pré-candidato do PSDB à presidência da República, senador Aécio Neves, atacou neste sábado, em Porto Alegre, as campanhas de difamação contra ele que circulam na internet e classificou como “guerrilha” os boatos sobre ser usuário de drogas. Indiretamente, o candidato atribuiu a origem dos ataques ao PT.

— Eu fico muito feliz em ver que num momento destes o PT não consegue ir para um debate sobre o Brasil, um debate a sério. Temos é que tomar cuidado para não fazer desavisadamente o jogo daqueles que querem trazer a campanha para esse submundo. No que depender de mim, vamos fazer um debate político — afirmou durante entrevista coletiva.

Aécio esteve na capital gaúcha para o lançamento oficial da candidatura da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao governo do Rio Grande do Sul. O cargo de vice deverá ser ocupado pelo deputado estadual Cassiá Carpes (Solidariedade), ficando o PSDB com a vaga ao Senado com a candidatura do deputado federal Nélson Marchezan Jr.

O pré-candidato se referiu ao tema das drogas ao responder uma pergunta sobre as insinuações de que seria usuário de cocaína.

— A gente vive um submundo da política nas redes, onde se dissemina qualquer tipo de acusação contra os adversários esperando que alguém, talvez desavisadamente, leve o assunto para o dito jornalismo sério. Tenho uma história de vida, para quem não me conhece, absolutamente digna e honrada, reconhecida até pelos adversários — disse.

Na última quinta-feira, em uma entrevista à Folha de S. Paulo, Aécio admitiu ter experimentado maconha na adolescência, mas disse que se sua relação com as drogas “terminou aí”.

Aécio se mostrou incomodado com as insinuações. Comparou o caso ao juiz do futebol, que tem “uma mãe no estádio e outra na vida real”, e criticou a política federal de segurança pública que, segundo ele, tem um “olhar complacente e omisso” em relação ao tráfico.

— Como não têm sobre a minha vida absolutamente nada, dizem que eu sou despreparado, que eu sou incompetente. Me acusam (de usar drogas) há 15 anos, mas ao longo dos últimos 15 anos eu me especializei em uma coisa: em derrotar o PT. Há 15 anos eu ganho do PT no primeiro turno, em todas as eleições, no meu Estado — atacou.

Em São Paulo, Alberto Cantalice, um dos vice-presidentes do PT, rebateu os ataques de Aécio. Segundo ele, os tucanos é quem estaria fazendo “jogo sujo” em campanhas na internet desde 2010, na ocasião contra a candidatura de Dilma Rousseff.

— Quem é especialista em jogo sujo é o PSDB, e é com base nesse jogo que vão agir. Há tempos que os tucanos agem no subterrâneo — disse Cantalice.

No Rio Grande do Sul, presidenciável tucano se apoia no PP
O ato, realizado na Assembleia Legislativa do Estado, contou com a presença do governador de Minas, Alberto Pinto Coelho (PP) e do presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, além de lideranças locais dos três partidos que compõem a aliança.

O senador afirmou também que pretende fazer uma campanha “falando sobre o que nós acreditamos”.

— Vamos defender sim a propriedade, vamos defender sim avanços sociais, respeito às tradições, tudo isso. Eu não acredito e não espero que essa possa ser uma eleição do nós ou eles. Não tem nada mais perverso para o Brasil do que essa tentativa permanente do PT de se segurar de qualquer forma no poder, de tentar dividir o país entre nós ou eles — declarou.

Aécio respondeu a perguntas pra 40 minutos e se concentrou em atacar a gestão da presidente Dilma Rousseff. Ele reafirmou que vai enxugar a máquina pública se for eleito e anunciou a criação de uma secretaria extraordinária para, em seis meses, simplificar o sistema tributário do país.

Também atacou o legado da Copa do Mundo dizendo que menos de 40% das melhorias em infraestrutura prometidas pelo governo serão entregues no prazo.

— A grande oportunidade que o Brasil teve de garantir uma nova infraestrutura infelizmente não foi aproveitada. Não sou contra a Copa, mas a ineficiência e o improviso do governo nos deixarão muito pouco como legado — afirmou.

O palanque do PP para Aécio é importante porque os tucanos têm uma estrutura precária no Rio Grande do Sul. A sigla tem apenas um deputado federal, além de 21 prefeitos — o Estado tem 497 municípios — e 247 vereadores. Já o PP ostenta 136 prefeituras e 1.179 vereadores.

— A capilaridade do PP no Estado será fundamental para alavancar a candidatura de Aécio –— admitiu o presidente do PSDB no Rio Grande do Sul, Adilson Troca.

Nas eleições de 2010 o PP do Rio Grande do Sul já havia apoiado o candidato tucano José Serra à presidência, contrariando orientação do diretório nacional para apoiar a então candidata Dilma Rousseff.

Aécio promete inflação no centro da meta, caso eleito

Gabriela Lara - Agência Estado

Em evento na capital gaúcha na tarde deste sábado, 24, o senador mineiro Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, criticou a política econômica do governo Dilma Rousseff. Segundo ele, um de seus objetivos, como presidente, seria manter a inflação no centro da meta, e não no teto. "Para nós, do PSDB, a tolerância com a inflação é zero", disse.

Aécio também revelou a intenção de reduzir a banda da meta de inflação dos atuais dois pontos porcentuais (para cima e para baixo) para um ponto porcentual. Ele também defendeu transparência na política fiscal e mais investimentos em infraestrutura.

"O governo focou no consumo e se esqueceu de investir na oferta", disse. "O Brasil hoje tem muitas obras de infraestrutura paradas, e a intervenção (do Estado) criou muita insegurança jurídica que a segurança jurídica."

Sobre o Bolsa Família, Aécio voltou a dizer que não pretende encerrar o programa, criado pelo ex-presidente Lula. "O que faremos é qualificá-lo, porque entendemos as medidas de assistencialismo de uma maneira diferente. Para nós (do PSDB), o Bolsa Família é o ponto de partida, e para o PT é o ponto de chegada."

Copa do Mundo
Perguntado sobre as obras de preparação da Copa do Mundo, o senador afirmou que menos de 40% do que foi prometido aos brasileiros será entregue. "O legado será muito menor", avaliou. "Essa talvez seja a grande inquietação ainda", complementou, referindo-se às manifestações populares em várias cidades do Brasil contra a realização da Copa.

Acusações de uso de cocaína vêm do 'submundo da política', diz Aécio

Diógenes Campanha – Folha de S. Paulo

Em Porto Alegre (RS) para participar do lançamento da pré-candidatura ao governo gaúcho de Ana Amélia Lemos (PP), o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), disse ser alvo de "acusações" vindas do "submundo da política".

A declaração foi dada em resposta a uma jornalista que questionou o tucano acerca de acusações de que ele seria usuário de cocaína.

"Você sabe que existe hoje um submundo da política nas redes, em que anonimamente as pessoas fazem quaisquer tipo de acusações sobre seus adversários, esperando que alguém, talvez desavisadamente, possa trazer esse tema para o jornalismo sério", afirmou Aécio.

Segundo o senador, há hoje uma "guerrilha na internet". "Se nós fomos dar atenção à guerrilha na internet, ninguém pode enfrentar os nossos adversários. Eu tenho uma história de vida da qual me orgulho muito, absolutamente digna e honrada, talvez tenha sido isso que tenha me trazido até aqui."

Na sequência, o tucano sugeriu que a acusação seria motivada pelas sucessivas derrotas que ele impõe ao PT em Minas há 15 anos.

"Eu me especializei numa coisa, talvez você [jornalista] não saiba: em derrotar o PT. Todas as vezes, há 15 anos eu ganho do PT no primeiro turno em todas as eleições no meu Estado. E como não tem sobre a minha vida absolutamente nada [na atuação como governador], essas acusações vão ocorrer."

Aécio afirmou que organizou o Estado e é respeitado hoje pela grande maioria da população de Minas, "até pelos adversários".

"Os indicadores do Estado estão aí. Eu fico muito feliz de que, num momento desses, o PT não consegue ir pro debate sério sobre o Brasil. O que nós temos que tomar cuidado é não fazemos, até desavisadamente, o jogo daqueles que querem trazer a campanha para esse submundo. Se depender de mim, só haverá disputa sobre o debate político."

Maconha
Em entrevista à Folha publicada na quinta-feira (22), Aécio admitiu já ter experimentado maconha, mas se disse contrário à descriminalização da erva.

"Quando tinha 18 anos, experimentei maconha e ficou por aí. E não recomendo que ninguém faça", respondeu em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do "UOL".

Ele diz ser contra a experiência do Uruguai, país que legalizou o consumo de maconha. "Não gostaria de ver o Brasil como cobaia de uma experiência que não se sabe o resultado. Não acho que essa seja uma agenda para o Brasil. Não sou a favor da descriminalização."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal aliado de Aécio no PSDB, defende a legalização da maconha no país.

Prefeitura petista é apontada como fonte de ofensas a Aécio na internet

Daniela Lima, Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Dados repassados à Justiça de São Paulo mostram que equipamentos e funcionários da Prefeitura de Guarulhos, comandada há 14 anos pelo PT, foram usados para criar páginas com ofensas ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) em redes sociais.

Nome dos tucanos para o Planalto, Aécio é hoje o principal rival da presidente Dilma Rousseff (PT) na disputa.

As informações chegaram ao Judiciário depois que o senador abriu um processo contra 27 empresas que prestam serviços relacionados à internet e conseguiu uma decisão que as obrigou a quebrar o sigilo contratual de clientes.

A intenção do tucano era descobrir quem estava por trás de páginas com o nome "Aécio Boladasso". Criados em novembro passado no Twitter e no Facebook, os perfis falsos a princípio se mostravam favoráveis ao senador -uma versão tucana da "Dilma Bolada", que faz publicidade da presidente nas redes.

Logo, no entanto, passaram a criticar Aécio e relacioná-lo a hábitos como o consumo de álcool. Ainda em novembro, o tucano acionou o principal escritório de direito digital do país -27 advogados estão cadastrados para seguir sua cruzada judicial.

Primeiro, Aécio processou o Facebook e o Twitter. O juiz Nilson Wilfred Ivanhoe Pinheiro obrigou as duas empresas a repassar dados cadastrais e IPs (número que identifica o computador usado para o acesso) dos criadores dos perfis falsos.

A equipe de advogados, então, fez uma pesquisa particular e identificou e-mails e telefones celulares que tinham sido usados para fazer postagens e criar as páginas.

Com essas informações, pediram que mais 25 companhias fossem incluídas na ação e entregassem dados de pessoas ligadas ao caso.

Com nova decisão favorável do juiz, empresas como UOL, do Grupo Folha, Microsoft, TIM e Telefônica entregaram CPF, CNPJ, nome e endereço dos clientes listados.

A Folha acessou o processo na Justiça e fez cruzamentos com os dados fornecidos, chegando à localização dos imóveis e às profissões de alguns dos citados no caso.

Só a partir da sede da Secretaria de Comunicação Social de Guarulhos as páginas contra Aécio foram manipuladas 81 vezes em 20 dias. Há ainda entre os criadores do perfil uma funcionária da prefeitura, Nataly Diniz, que usou o celular para administrar as páginas.

A pasta confirmou que Nataly é servidora, mas não informou em que setor ela atua. A assessoria de imprensa disse que a funcionária não falaria sobre o caso, mas que sua conduta seria apurada.

Na Secretaria de Comunicação, os acessos aos perfis de Aécio ocorreram a partir de um IP vinculado a uma agência de propaganda, a PG Comunicação.

As páginas contra Aécio também foram administradas por pessoas de outros dois Estados. A Folha conseguiu contato com duas delas. Lucas Nunes Pereira, de Juiz de Fora (MG), diz não saber por que aparece na ação. "O que postei era a favor de Aécio."

A segunda, de Petrópolis (RJ), não quis se manifestar. Procurada, a advogada Juliana Abrusio, sócia do escritório que representa Aécio, disse que o tucano é vítima de uma "ação orquestrada em vários Estados".

Outro lado
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Guarulhos disse que, até ser procurada pela Folha, desconhecia o uso de suas instalações e o empenho de funcionários na criação de perfis contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em redes sociais.

O órgão afirmou ainda que vai "apurar o uso indevido de seus equipamentos e serviços por parte da referida funcionária [Nataly Galdino Diniz] e tomar as medidas cabíveis".

A assessoria disse que Nataly não falaria sobre o caso e não informou a área em que ela atua. A reportagem encontrou uma nomeação de Nataly no Diário Oficial para a Secretaria de Governo.

Em nota, a prefeitura ressaltou que "tem como política instalar, em todos os anos eleitorais, um grupo para orientar todos os seus servidores no sentido de não utilizarem os equipamentos públicos para fins eleitorais".

A assessoria da PG Comunicação, empresa de publicidade que era titular da assinatura de internet que foi usada na administração do "Aécio Boladasso" disse que que manteve contrato com administração municipal até dezembro de 2013.

Em nota, afirmou que a empresa "de fato emprestou seus equipamentos" para a Secretaria de Comunicação da prefeitura, mas que eles eram destinados a "trabalho exclusivo de publicidade".

A empresa afirmou que "toda a gestão de redes sociais da Prefeitura de Guarulhos era realizada pela própria administração". "Nenhum de nossos colaboradores jamais os usou para qualquer atividade que foge ao escopo dos contratos que tínhamos", disse, em nota.

"Caso se comprove que nossos equipamentos foram indevidamente utilizados, tomaremos todas as medidas necessárias para garantir a apuração do ilícito. E desde já defendemos, claro, a punição dos responsáveis", encerrou.

Articulação de Lula barra dissidências e Dilma retém maior parte dos aliados

Erich Decat, Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff conseguiram, às vésperas das convenções partidárias de junho, reverter a onda negativa no meio político e estancar dissidências na base aliada. O PT caminha agora para ter uma ampla coalizão de dez partidos, a maior desde a primeira candidatura presidencial, em 1989. O arranjo de forças deve dar a Dilma o triplo do tempo de TV do seu principal adversário, o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Isso foi possível após a combinação de alguns aspectos, como a recuperação de Dilma nas pesquisas, apontada pelo Ibope na quinta-feira, além da concessão de cargos aos aliados. Mas foi a articulação direta de Lula com os dirigentes partidários, nos últimos 15 dias, que possibilitou a reversão do cenário. Só na semana passada, Dilma assegurou a adesão do PTB e o "pré-apoio" anunciado pelo PP. Até o PROS, que apresentava problemas, indica entrada na aliança.

Situação bem diferente de um mês atrás. Até então, Dilma enfrentava queda nas pesquisas, denúncias de irregularidades na Petrobrás e abertura de CPIs no Congresso, além de dissidências no próprio PT, com setores a favor do "Volta, Lula".

Avalista da reeleição de Dilma, o ex-presidente tem conversado com a ala mais próxima a ele do PMDB, encabeçada pelos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), e dirigentes de outros partidos, como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP.

Nas conversas, Lula tem oferecido a garantia de seu apoio às pretensões regionais dessas siglas, além de traçar um cenário favorável à reeleição de Dilma. Delegou também missões ao presidente do PT, Rui Falcão. Ele esteve no Norte para acertar as alianças regionais com os peemedebistas Eduardo Braga (AM) e Romero Jucá (RR).

"Há uma ação muito forte do Lula e do Rui (Falcão) nesses partidos. O Lula tem credibilidade quando fala com os aliados e, nos últimos 15 dias, ele conversou com meio mundo", afirma o vice-presidente do PT, José Guimarães (CE).

No PROS, que até a semana passada se dividia em uma ala pró-Eduardo Campos (PSB) e outra ligada a Dilma, a situação se acalmou. "Hoje temos 98% da bancada a favor da candidatura de Dilma", diz o líder do partido na Câmara, Givaldo Carimbão (AL).

A estratégia do Planalto em abrir espaço no governo para legendas que já estiveram no campo dos adversários também surtiu efeito. No caso do PTB, os acertos, segundo o presidente da sigla, Benito Gama, ocorreram diretamente com Dilma e com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com aval de Lula. 

Duas semanas antes de aderir à campanha da petista, o PTB emplacou o tesoureiro da legenda em uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal. Segundo Benito, o que pesou na decisão, no entanto, foi a falta de expectativa em relação aos adversários da presidente. "Não tínhamos alternativa. As candidaturas de Aécio e Eduardo são um voo no escuro", diz.

Dissidências. O fato de terem diminuído as dissidências não significa que elas não mais existam. O maior problema para Dilma ainda é o PR. Uma das poucas vozes no partido a defender a aliança com o PT é a do presidente nacional da legenda, o senador e ex-ministro Alfredo Nascimento (AM). Entretanto, ele passou a ser alvo criticado pela maioria dos integrantes do partido, em especial da bancada na Câmara. Parte dos deputados defende um rompimento com o governo e adesão a Aécio. Outro setor, minoritário, quer apoiar Campos.

"Há uma insatisfação muito grande com o governo. O próprio Alfredo, que há um tempo disse que está tudo resolvido com o governo, recuou. Está tudo dividido", afirmou o líder do PR na Câmara, Bernardo Santana (MG).

O PP também convive com uma ala que defende o embarque na candidatura de Aécio ou a neutralidade, como em 2010. A maioria dos Estados deve fechar com o PT, mas uma solução para o impasse deverá ser deixar as lideranças estaduais livres para montarem palanques de acordo com seus interesses, inclusive para os adversários de Dilma. Um exemplo será a campanha da senadora Ana Amélia ao governo do Rio Grande do Sul, que pedirá votos para Aécio.

No PMDB, há especial tensão no Ceará, onde o senador Eunício Oliveira deve enfrentar nome dos irmãos Gomes (PROS), no Rio de Janeiro e na Bahia. Apesar disso, essa ala representaria 30% dos votos internos, segundo os líderes dos descontentes.

'O PT virou as costas para o PMDB', afirma deputado

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Integrante da ala rebelde da Câmara dos Deputados, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) é um dos que defendem o rompimento do PMDB com o projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Para o deputado, o PT "ignorou" o partido tanto nacionalmente quanto em seu Estado, onde o senador Eunício Oliveira deve disputar o governo contra um nome indicado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes (PROS), aliados do Palácio do Planalto.

O senhor defende o rompimento do PMDB com o PT nas eleições deste ano?
O sentimento da base partidária é de que o PT, a nível nacional, ignorou o PMDB, que não pode se reduzir apenas a um tempo de televisão. O PMDB tem que participar da política pública e tem que participar do gerenciamento e aplicação do governo. Mas o que aconteceu é que o governo virou as costas para o PMDB e a base partidária é muito ressentida em relação a isso, principalmente na Câmara dos Deputados.

Vocês buscam reverter o apoio do partido ao PT na convenção nacional do PMDB?
Claro que há um grupo organizado, dentro do partido, que quer construir alternativas. Como não dá tempo de fazer uma candidatura própria, queremos ao menos expandir a independência da bancada da Câmara para o conjunto partidário. Temos condições de contribuir para outras alternativas com a segurança de que o partido poderá ampliar sua base parlamentar. E o governo que será eleito deverá ter uma conversa mais livre com o PMDB.

Hoje há maioria para não aprovar a aliança nacional com o PT?
Não, a maioria é governista. Mas as informações que temos é que, com a indefinição das composições regionais, tem se fortalecido muito a posição pela busca da independência para um projeto partidário. Em 1998 e em 2006 o PMDB não participou da chapa presidencial, e nas duas eleições aumentou sua base parlamentar. Não é um fato novo na história do PMDB, fortalece as coligações regionais. Agora você não pode estar coligado num Estado com o PSDB e pedir voto nacionalmente para o PT.

Como o senhor avalia a relação com o PT no Ceará?
No Ceará o senador Eunício (Oliveira) é a maior liderança do partido e está numa posição muito confortável. E não percebemos nenhuma sinalização do grupo majoritário do PT ao PMDB. O grupo majoritário do PT esteve ao lado do governador Cid (Gomes).

A manutenção da aliança nacional beneficia só a cúpula do PMDB?
Existe um acomodamento por parte da cúpula partidária e pelo Senado. Estamos percebendo que o projeto, na forma como está sendo conduzido, não tem condições de fazer as mudanças necessárias para o Brasil. Não pode dar ouvidos apenas aos que estão acomodados no governo. O partido perde a identidade e a autonomia. Fica igual a comercial de televisão. / R.D.C.

'Neutralidade é opção mais sábia', diz governador do PP

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, principal voz do PP contrária ao apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff, diz que o partido irá para a convenção nacional de 25 de junho dividido.

Ele questiona a iniciativa do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que previu para a semana que vem o apoio formal do partido a Dilma. "Ele não pode antecipar essa declaração sem a anuência da convenção", disse Coelho, acrescentando que Nogueira não pode colocar em risco a unidade partidária.

Como avalia a decisão da direção nacional do PP de declarar apoio a Dilma?
O presidente (do PP, Ciro Nogueira) tem todo o direito de se manifestar. Mas a realidade do partido é que, além dos Estados que são citados como os vinculados ao projeto (nacional) do PSDB, temos também Goiás, com parlamentares engajados na linha do Aécio, temos Santa Catarina, onde a posição é estabelecer palanque para o Aécio. E até a nossa convenção outros quadros regionais vão se configurar.

Acredita que haverá maioria na convenção para barrar o apoio nacional à presidente Dilma?
Estou mostrando que estamos partindo de Estados como o Rio Grande do Sul, com a maior bancada (federal). A segunda maior é Minas, com cinco (deputados); em Goiás são dois. O que deve acontecer é termos um partido minimamente dividido na convenção. A sábia decisão do presidente de honra Francisco Dornelles foi de respeitar essas realidades e não apoiar nenhuma candidatura (em 2010).

O sr. defende a neutralidade do PP?
Lá atrás, por ocasião da eleição da presidente Dilma, o partido ficou neutro e o tempo de TV foi redistribuído para as candidaturas. Com isso ele (Dornelles) preservou a unidade partidária. Estamos advogando que, se o partido está dividido, que a sábia decisão seja repetida: a neutralidade.

Qual o objetivo de Ciro Nogueira em declarar apoio a Dilma?
Isso quebra a unidade partidária. Ele não pode antecipar uma decisão que não foi ao escrutínio (da convenção).

Qual a estratégia para buscar essa opção pela neutralidade?
A estratégia é o convencimento. Há uma exaustão do PT. As pesquisas estão apontando de maneira irrecorrível o desejo de mudança, que jamais se expressa no status quo.

Acredita que eventuais quedas da presidente nas próximas pesquisas de intenção de voto aumentem dissidências internas no PP?
As pesquisas têm influência porque mostram uma tendência. Temos um nível grande de indecisos. Neste momento, muito menos do que intenção de voto, deve recair sobre a análise das candidaturas o índice de rejeição. E quem tem próximo de 40% (de rejeição) começa a entrar no caminho crítico. A possibilidade de ir para o 2.º turno pode existir. E no 2.º turno vem à tona a rejeição. / R.D.C.

Sem PMDB, Dilma perderia pouco na TV

• Eventual decisão da sigla por neutralidade na disputa presidencial faria petista perder só 7% de seu tempo no chamado palanque eletrônico

Daniel Bramatti - O Estado de S. Paulo

A eventual neutralidade do PMDB na eleição presidencial, bandeira e ameaça da ala do partido insatisfeita com o governo, teria efeitos limitados sobre a distribuição do tempo de propaganda entre os candidatos. Sem seu principal aliado, a presidente Dilma Rousseff perderia apenas 7% de seu tempo de TV.

Com o PMDB em seu campo, Dilma deve ter 12 minutos de exposição em cada bloco de 25 minutos de propaganda - isso em um cenário com 12 candidatos, o mais provável até o momento. Sem os peemedebistas, ela ficaria com 11 minutos e 8 segundos - um tempo ainda superior ao que teve na campanha presidencial de 2010.

A pressão pela neutralidade do PMDB foi explicitada na última reunião da Executiva Nacional da legenda, no dia 14 deste mês. A chamada "ala dissidente" ameaça derrotar na convenção nacional do partido, em junho, a proposta de apoio à reeleição de Dilma - apesar de o peemedebista Michel Temer ser o vice-presidente da República e ter intenção de permanecer no cargo por mais quatro anos.

"O PMDB participa do governo com cinco ou seis minutos do tempo de televisão, mas não apita nada na construção de políticas públicas do País", declarou o deputado Eduardo Picciani (RJ), um dos líderes da ala dissidente, ao sair da reunião da Executiva. Picciani deixou claro que o tempo de propaganda é um dos principais trunfos do partido nas negociações com Dilma, mas exagerou no cacife da legenda.

Regras. O tempo de TV é distribuído com base em dois critérios: 1/3 igualmente entre todos os candidatos, e 2/3 proporcionalmente ao tamanho das bancadas eleitas no pleito anterior.

Como elegeu a segunda maior bancada em 2010, o PMDB é detentor do segundo maior tempo de propaganda eleitoral, atrás apenas do PT. Descontadas as defecções para legendas criadas recentemente, seus 71 deputados dão direito a 2 minutos e 18 segundos em cada bloco de propaganda, ou 4 minutos e 36 segundos por dia - menos, portanto, do que o citado pelo deputado Picciani.

Para de fato dispor desse tempo, porém, o PMDB precisará entrar em alguma coligação ou lançar candidato próprio. Se ficar neutro, sua bancada será desconsiderada na conta da distribuição, e o peso proporcional das outras legendas subirá.

Os 86 deputados do PT, por exemplo, equivalem a 16,4% dos 513 membros da Câmara. Excluídos os peemedebistas, a Câmara passa a ter 442 cadeiras, para efeito de cálculo do horário eleitoral - e a participação dos 86 petistas sobe para 19,5%.

Com o PMDB fora da conta, portanto, todos os demais partidos passariam a ter uma cota maior de TV - e a coligação de Dilma, que tem mais legendas, abocanharia a maior parcela do tempo redistribuído.

Não seria uma situação inédita. Em 2010, o PP, que integrava a base do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rachou e decidiu não apoiar ninguém na eleição presidencial. Seus 43 deputados foram descontados no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral calculou a distribuição da propaganda.

Efeito surpresa. Os mesmos critérios da distribuição do tempo dos blocos de propaganda no rádio e na televisão são adotados no rateio das chamadas inserções, as peças de 30 segundos exibidas ao longo da programação normal das emissoras.

As inserções são vistas pelos marqueteiros políticos como as armas mais poderosas de propaganda porque elas chegam de surpresa aos eleitores, misturadas à publicidade comercial e em horários diversos. Mesmo os espectadores desinteressados em política as assistem.

Nos 45 dias de propaganda no primeiro turno, os brasileiros serão submetidos a um bombardeio de 4 horas e meia de inserções em cada emissora de rádio ou televisão. Se mantiver o PMDB em sua coligação, Dilma terá 130 minutos de inserções. contra 40 minutos para Aécio e 21 minutos para Campos.

Pré-campanhas expõem poder de fogo dos partidos

• Legendas preparam estruturas operacionais da disputa; Dilma terá aparato menor e Aécio conta com staff bem superior ao de Campos

Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Faltando pouco mais de um mês para o começo oficial da campanha presidencial, os três principais pré-candidatos começam a finalizar o desenho das estruturas operacionais que servirão de base para a disputa. As movimentações de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) na montagem de suas equipes indicam quais serão as estratégias e o poder de fogo de cada um.

Líder nas pesquisas, a presidente Dilma Rousseff (PT), que disputará a reeleição, usou até agora na pré-campanha um aparato partidário bem menor do que o montado em 2010. E a previsão é que seja assim também na campanha propriamente dita, que começa em julho. Já o senador Aécio Neves, que também é presidente do PSDB, conta hoje com um aparato muito maior e mais sofisticado do que o utilizado pelo ex-governador e nome do PSB, Eduardo Campos, seu provável rival na disputa por uma vaga no segundo turno.

Enquanto o ex-governador de Pernambuco é acompanhado em seus deslocamentos por uma equipe formada geralmente por quatro pessoas, o tucano é seguido por ao menos 12 auxiliares, entre funcionários do partido, do gabinete e terceirizados. Os passos de Aécio são acompanhados por uma equipe de TV, fotógrafos, repórter e assessores. Enquanto isso, outro grupo fica em Brasília prestando suporte e um terceiro vai até o destino seguinte para preparar o terreno.

Aécio já conta com núcleos operacionais dedicados exclusivamente ao seu projeto presidencial em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Seus deslocamentos pelo Brasil são feitos sempre em um jatinho alugado pelo partido. Campos também tem esse privilégio, mas eventualmente se desloca em aviões de carreira.

As engrenagens permanentes de Aécio e de Campos serão reforçadas nas próximas semanas. A expectativa, segundo previsões dos dois lados, é de que o tucano conte com um staff muito maior do que o do pessebista durante o período oficial da campanha eleitoral.

Na atual fase da disputa presidencial, o investimento em internet e redes sociais é um bom exemplo do abismo que separa a dupla. Aécio conta com uma agência de notícias instalada em um prédio em São Paulo composta por cerca de 20 profissionais especializados em internet. O grupo, que é comandado pelo ex-ministro Xico Graziano, se dedica em tempo integral à tarefa de produzir conteúdo e monitorar Facebook, Twitter, YouTube e blogs. Também faz parte do time o ex-marineiro Maurício Brusadim, que responde pela estratégia nas redes sociais. Já a equipe de Campos que se dedica a essa tarefa é formada por apenas cinco pessoas, que ficam no Recife.

Um dirigente partidário lembra que neste momento da disputa de 2006, o então presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, ainda viajava de avião de carreira e usava táxi nas agendas. Essa estrutura é bancada com recursos do Fundo Partidário e de contribuições, que segundo um dirigente tucano bateram recordes. Em 2013, a sigla recebeu cerca de R$ 20 milhões de contribuições. Em 2009, quando o nome do candidato era incerto, o PSDB arrecadou R$ 3,9 milhões. O PSB recebeu doações de R$ 8,3 milhões em 2013. O PT, quase dez vezes mais: R$ 79,8 milhões.

Mobilidade. O motivo da redução da estrutura de Dilma na fase atual e na futura campanha, segundo seus estrategistas, é o fato de ela agora disputar a reeleição. Com a mobilidade limitada pela agenda do Palácio do Planalto - que, por outro lado, lhe dá grande visibilidade -, ela deve passar a maior parte da campanha em Brasília, onde serão instalados estúdio de TV e a equipe de seu marqueteiro, João Santana. "Certamente ela terá uma estrutura muito mais leve do que as dos outros dois candidatos e do que ela mesma teve há quatro anos", diz o ex-ministro Franklin Martins, integrante da coordenação da pré-campanha.

A presidente só participou até agora de dois eventos partidários, ambos em São Paulo. Até a convenção que oficializará seu nome, no dia 21 de junho, estão programadas mais três atividades com características abertamente eleitorais: em Belo Horizonte, em Porto Alegre e no Recife.

Os gastos serão reembolsados pelo PT, mas o Planalto não informou o valor dos reembolsos. Em contrapartida, ela intensificou a agenda de viagens oficiais pelo Brasil. Só nos primeiros cinco meses de 2014 a presidente visitou 34 cidades. Por enquanto, a pré-campanha de Dilma se apoia na estrutura de sua legenda. "O PT tem uma estrutura maior do que a dos outros partidos", explica o secretário nacional de Comunicação petista, José Américo. Além de arcar com os custos de deslocamento de Dilma, a sigla paga o aluguel do futuro comitê de campanha da presidente, em Brasília, e os gastos com comunicação.

A atuação eleitoral nas redes sociais está a cargo de uma agência especializada sediada em Brasília, a Pepper.

As estruturas fixas de cada sigla também dão dimensão do tamanho de cada um. O PSDB conta com 33 funcionários contratados em carteira, o PSB com 13. Já o PT, o único que possui duas sedes nacionais - uma em São Paulo e outra em Brasília - não informou quantos funcionários tem. Tucanos que estiveram na linha de frente das últimas três eleições presidenciais contam que nunca o partido contou com um aparato tão profissional.

Presidente terá prejuízo maior se PR apoiar Aécio

O Estado de S. Paulo

Entre os partidos listados no possível bloco de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o PR também faz ameaças de abandonar o barco - apesar de ocupar cargos no governo desde a época do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se isso acontecer, e o PR passar para o lado de Aécio Neves (PSDB), o impacto para Dilma será maior que o da eventual neutralidade do PMDB. O tempo da petista passaria de 12 minutos para 10 minutos e 57 segundos, enquanto o do tucano subiria de 3 minutos e 42 segundos para 4 minutos e 45 segundos. A convenção que definirá o rumo do PR está marcada para junho.

'Medo do passado' vai da TV ao palanque em ataque a adversários

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff incorporou ontem a temática do "medo do passado", mote criado pelo PT na propaganda eleitoral na TV, para rejeitar a volta de "espectros fantasmagóricos", atacar uma oposição "neoliberal" e convocar jovens militantes de esquerda para a campanha da reeleição.

"Estamos aqui para dizer que eles não voltarão", discursou Dilma durante o congresso da União da Juventude Socialista (UJS), na cidade de Cruzeiro (DF). "Para trás nós não vamos nem para ganhar impulso".

A presidente, que incluiu o evento em sua agenda oficial na última hora, levou ao palanque um discurso que até agora estava presente apenas nas peças publicitárias criadas pelo marqueteiro João Santana.

Há duas semanas, o PT começou a veicular propaganda no rádio e na TV citando a ameaça de retorno de "fantasmas do passado", entre os quais o desemprego. A pedido do PSDB, a Justiça Eleitoral determinou, na semana passada, a suspensão de trechos do programa entendidos como referências ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No discurso de ontem, Dilma afirmou que a oposição trará de volta um passado de "arrocho salarial, desemprego, recessão", uma referência direta à administração do PSDB, que já governou o País.

"Este olho no passado é para evitar que outros e certos espectros fantasmagóricos tentem voltar com as ameaças às conquistas dos brasileiros. E voltem com o que eles já chamam abertamente de medidas impopulares, que significam arrocho salarial, desemprego, recessão. Na redução dos direitos que o povo e a Nação conquistaram com muito esforço", disse a uma plateia de jovens que ocupou parte de um ginásio de esportes nos arredores de Brasília.

O tom beligerante adotado pela presidente permaneceu na sequência do discurso em que ela foi aplaudida algumas vezes. "Não fui eleita para colocar o País de novo de joelhos, para privatizar empresas públicas, para varrer a corrupção para debaixo do tapete", afirmou.

Na mesma linha, o presidente do PC do B, Renato Rabelo, também não poupou críticas aos adversários de Dilma. "Hoje a tática deles é tentar atingir a presidente da República porque não apresentam projetos, não apresentam saídas. Esse é o objetivo deles. Do quanto pior, melhor. Não podemos acreditar em gente desse tipo", afirmou Rabelo.

Jovens. Parte do discurso também foi direcionado à plateia jovem. Dilma lembrou que os governos do PT foram responsáveis pela criação de programas voltados para a juventude. Listou como conquistas programas educacionais do governo, assim como cotas raciais e sociais para ingresso no ensino superior.

"Quanto mais nos aproximamos da campanha eleitoral, mais vai se tornar charmoso falar do papel da juventude, mesmo aqueles que nada, ou quase nada, fizeram. Mesmo aqueles que já nasceram velhos", afirmou. Em seguida, subiu o tom novamente. "É sempre bom perguntar para alguns deles onde eles se encontravam por todos esses anos quando nós do PT e o PC do B trabalhávamos para mudar o País. 

Pergunto novamente onde estavam eles, quando democratizamos o acesso à educação abrindo portas que jamais tinham sido abertas?".

No início do evento, em mensagem exibida em um telão do ginásio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o recado aos jovens. "Tenho um enorme carinho por vocês. Vida longa à UJS", disse o petista.

'Vamos oferecer esperança', afirma Aécio

O Estado de S. Paulo

O senador Aécio Neves, que esteve em Porto Alegre para participar do lançamento da pré-candidatura da senadora Ana Amélia Lemos (PP) ao governo do Rio Grande do Sul, disse ontem esperar que a eleição presidencial não se caracterize em troca de ataques entre situação e oposição. "Não é o caminho que queremos. Se eles (do PT) querem oferecer o medo, nós vamos oferecer esperança", disse.

Foi uma referência indireta ao vídeo exibido recentemente na propaganda partidária do PT, que apontou ameaça da volta de "fantasmas do passado", entre eles o do desemprego.

O PP nacional deve apoiar Dilma, mas Ana Amélia ofereceu seu palanque ao tucano Aécio.

Cerco virtual. Perfis falsos de Aécio em redes sociais na internet foram criados e atualizados a partir de computadores instalados na prefeitura de Guarulhos, controlada pelo PT, segundo dados repassados à Justiça de São Paulo. A informação foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. A prefeitura de Guarulhos disse desconhecer o uso de suas instalações. "Esse é o maior caso de ataque virtual contra um político de que se tem notícia", afirmou a advogada Juliana Abruzio, que trabalha para o PSDB.

Dupla busca 'concretude' para projeto de Campos

• Ex-petista filiado ao PSB e socióloga próxima de Marina elaboram plano de governo da chapa que afirma querer 'mudar a forma de fazer política'

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Escalados pela dupla Eduardo Campos e Marina Silva para coordenar a elaboração do programa de governo do PSB, o ex-petista Maurício Rands e a socióloga Neca Setubal ainda vivem, sete meses após o anúncio da aliança, o desafio de colocar no papel as propostas que vão balizar o chamado "acordo programático".

A união do ex-governador de Pernambuco com a ex-ministra do Meio Ambiente propôs "mudar a forma de fazer política no Brasil". O resultado final desse processo dará pistas se a união entre sonháticos e pragmáticos tem condições de se tornar um projeto político concreto. A ideia é que o documento seja concluído até a convenção da sigla, marcada para 29 de junho.

Para Rands, a meta é "dar concretude àquilo que foi dito lá no início por Eduardo e Marina", de que a aliança serviria para "apresentar ideias e soluções aos problemas nacionais."

O grupo da ex-ministra entrou no PSB em outubro do ano passado, depois de a Justiça Eleitoral negar o registro partidário à Rede Sustentabilidade. Na época, Marina costumava repetir que ela e Campos haviam feito uma aliança programática, que poderia ou não se transformar em uma parceria eleitoral. Em abril, Campos anunciou a ex-ministra de Lula como vice na futura chapa que vai disputar a eleição presidencial.

Parceria. Rands foi convidado pessoalmente por Campos para assumir a tarefa de coordenar a elaboração do programa da sigla. Ex-petista, ele se filiou ao PSB em outubro do ano passado e chegou a ser cotado para disputar o governo de Pernambuco. Marina indicou Neca para o posto. A herdeira do Banco Itaú é hoje uma das pessoas mais próximas da ex-ministra.

Sentados lado a lado, Rands e Neca receberam o Estado na terça-feira passada. Em meio a troca de olhares e elogios, os coordenadores afirmam que o futuro programa de governo será fruto de um amplo debate com a sociedade. "O mais fácil seria contratar um ou dois especialistas, ou uma empresa de consultoria competente, para fazer o melhor programa do mundo. Mas o nosso objetivo não é ter o melhor programa do mundo, é tornar o processo de elaboração do programa um diferencial", afirma Neca.

Diferenças. À medida que a entrevista avança, porém, diferenças sutis no discurso de um e de outro e, consequentemente, do grupo que representam, começam a surgir. Enquanto Rands faz questão de afirmar que o programa vai trazer metas claras e, principalmente, demonstrar como tirá-las do papel, Neca pondera que o documento não será apenas um emaranhado de números sem sentido.

"Eu entendo a preocupação de ter metas palpáveis e concretas, e nós vamos apresentar isso no programa. Mas, ao mesmo tempo, se a gente descola o conceito e fala apenas em números, o programa fica uma colcha de retalhos, que você não entende para onde vai, nem a concepção que está por trás", afirma.

Os dois voltam a concordar quando afirmam que a aliança elegeu como prioridade melhorar a educação do País. Mas cada um diz isso de um jeito diferente. Rands fala novamente em anunciar "metas e comprometimento de verbas com a educação". Neca contextualiza a importância da decisão: "Nós queremos mostrar que a educação é realmente um eixo estratégico para o desenvolvimento sustentável".

*Sergio Fausto Dá para mudar o rumo da prosa eleitoral?

• Marketing oficial reduz a disputa a uma fábula infantil e os eleitores, à condição de crianças

- O Estado de S. Paulo

A qualidade da democracia depende tanto das características de suas instituições formais, tomadas em conjunto, quanto de práticas não codificadas que se expressam na ação e na palavra dos atores políticos. Esta segunda dimensão - mais próxima dos hábitos e costumes que das instituições formais (partidos, Congresso, Judiciário, etc.) - é essencial não só para o modo como o poder é exercido, mas também para fortalecer (ou debilitar) uma cultura cívica democrática sem a qual as instituições formais da democracia não fincam raízes na sociedade.

No Brasil, tão importante quanto aperfeiçoar as instituições formais (principalmente o sistema eleitoral) é pôr em discussão, na expectativa de alterá-las gradualmente, as práticas não codificadas que caracterizam a política brasileira atual. Neste artigo quero concentrar-me em práticas discursivas que rebaixam a qualidade do debate público e da democracia em nosso país. Estas podem mudar mais rápido se os líderes políticos assim o desejarem.

Embora não sejam os únicos, os principais responsáveis por esse rebaixamento são Lula e o PT. Desde de que chegaram ao poder, o ex-presidente e seu partido investiram em três componentes de uma mesma estratégia discursiva: a estigmatização do governo FHC e do principal partido da oposição, o PSDB; o autoengrandecimento da era Lula como o marco fundacional de um novo País, que deixava para trás 500 anos de atraso; e a construção da imagem do ex-presidente como grande responsável, por suas origens e por suas decisões, pelo resgate de milhões de brasileiros da pobreza e pela tão decantada ascensão de parte deles à "classe média".

Para o sucesso dessa estratégia, financiada com vultosos recursos públicos, recorreu-se seletivamente a toda sorte de inverdades e representações distorcidas a respeito do passado e dos adversários do governo. Tão grave quanto foi a recuperação de um velho arquétipo da política moderna: a personificação do Estado na figura de um líder benfeitor que distribui benefícios ao povo carente. A nova versão elaborada por Lula e pelo PT é mais sofisticada do que a que caracterizou o clientelismo tradicional ou o populismo dos anos 1950 no Brasil. Mas é uma enorme regressão quando comparada ao discurso do próprio PT e de outras forças políticas da frente democrática contra a ditadura, parte delas hoje no PSDB. A partir de ângulos e com ênfases diferentes se construiu ali a ideia-força de que a real democratização do País viria pela organização de sujeitos sociais coletivos com menor dependência do Estado e maior capacidade e autonomia para realizar projetos políticos abrangentes, num quadro de pluralismo democrático.

É incrível notar como esse discurso cedeu lugar à narrativa ufanista do líder-Estado-governo-partido "do povo" e, quando o ufanismo não mais funciona, à ladainha da "ingratidão" ao governo e ao PT. Ingrato, no atual vocabulário petista, é o pobre que virou "classe média" e vai às ruas protestar contra o governo, como disse em tom confessional Gilberto Carvalho, ou a elite, que "nunca ganhou tanto dinheiro porque eu consertei o País", mas não poupa críticas ao atual governo, como disse Lula com a modéstia que lhe é peculiar.

Como não poderia deixar de ser, para quem "em eleição faz o diabo", outra pérola recente, esta de Dilma Rousseff, o governo agora dobra a aposta na estratégica discursiva adotada desde 2003. No caldeirão do marqueteiro oficial já está pronta a poção mágica que pretende assegurar a reeleição da atual presidente. Ela consiste em fazer crer que as eleições deste ano são uma disputa entre a fada madrinha, Dilma, que recebeu seus dons do rei-pai, Lula, e a bruxa má, Aécio Neves. A Eduardo Campos reservou-se o papel de bruxa má disfarçada, aquela que não parece, mas é ruim que só.

Fica, assim, a disputa eleitoral reduzida a uma fábula infantil e os eleitores, à condição de crianças. Estas, se não convencidas da bondade da fada madrinha (ou "rainha dos pobres", como a chamou o governador Jaques Wagner), devem ser persuadias da maldade do seu principal adversário. Para outra coisa não serve a campanha de medo deflagrada pelo PT na TV e no rádio nas últimas semanas.

Num nível um pouco mais elaborado, o governo busca pintar o quadro eleitoral como a contenda entre dois "modelos socioeconômicos" radicalmente diferentes: um comprometido com as causas do povo e do Brasil; outro, antissocial e entreguista. Qualquer observador minimamente isento e informado sabe que esse quadro não retrata a realidade dos fatos. Nem um eventual futuro mandato de Dilma faria o País abraçar um "modelo bolivariano" nem uma vitória de Aécio nos levaria à adoção de um "modelo neoliberal". Claro que há diferenças entre os dois principais candidatos, tanto programáticas como, principalmente, no modo de organizar o Estado, exercer o governo e gerir as políticas públicas. Há também diferenças entre eles e Eduardo Campos, que se empenha legitimamente em marcar uma terceira via. Eleições devem pôr essas diferenças em contraste e em confronto.

Outra coisa é a dramatização artificial dessas diferenças. A estratégia pode até ser eficiente do ponto de vista eleitoral - resta saber para quem -, mas produz pelo menos dois efeitos negativos para o fortalecimento de uma cultura cívica democrática. De um lado, afasta ainda mais o cidadão comum da política, uma vez que nele reforça a suspeita de que as eleições têm muito de uma farsa teatral em que o objetivo dos protagonistas está longe de coincidir com as expectativas da plateia. De outro, alimenta, sobretudo na internet, um ambiente de intolerância e surdez aos argumentos do outro, que são a própria antítese do debate democrático.

Tomara a sociedade reaja a tempo de mudar o rumo da prosa eleitoral. Do jeito que a coisa vai, não é bom para o País.

* Superintendente executivo do IFHC, colaborador do Latin american program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, é membro do Gacint-USP

Merval Pereira: Caminhos da oposição

- O Globo

Obrigado por seu acordo político com o grupo da ex-senadora Marina Silva a rever a estratégia que havia montado no início da campanha, o ex-governador Eduardo Campos vem endurecendo seu discurso também contra o antigo parceiro Aécio Neves, na esperança de se tornar uma escolha palatável ao eleitor petista que está descrente com a atuação de Dilma ou insatisfeito com os rumos que o partido vem tomando.

Campos, com mais propriedade, pois fez parte do grupo lulista até pouco tempo, estaria repetindo a tentativa de Serra em 2010 de se apresentar como uma alternativa a Dilma contra a qual Lula nada teria. Corre menos risco de ser desautorizado por Lula de público, mas é possível que isso ocorra. Na tentativa de preservar um acordo para o segundo turno, é possível que Lula poupe Campos de sua língua ferina.

Embora não tenha uma performance boa nas pesquisas até o momento, Campos conta com o voto útil a seu favor dos petistas que temem mais a vitória do PSDB do que a derrota de Dilma para ele, aí incluído até mesmo Lula. Essa mudança na campanha de Campos tem, porém, diversos obstáculos para ser bem-sucedida, a começar pelo governo de São Paulo, uma das pedras-chave desta disputa.

Abandonando a coligação do governador Geraldo Alckmin, da qual fazia parte há muito, Campos deixará o palanque do PSDB livre para o senador Aécio Neves no maior colégio eleitoral do país, enquanto terá um palanque improvisado e fraco. Foi convencido por Marina de que o desgaste do PSDB depois de 20 anos no poder favorece uma candidatura alternativa.

Em Minas, acontecerá o contrário, pois, ao romper com Aécio em seu território, abrirá mão de compartilhar com ele a provável vitória no segundo maior colégio eleitoral do país. A contrapartida do rompimento em Pernambuco não será tão dolorosa para os tucanos, já que o eleitorado do estado não é dos maiores.

O senador Aécio Neves considera que a atitude de radicalizar a campanha também contra o PSDB é um sinal de desespero do PSB diante do fraco desempenho nas pesquisas. Mas, mesmo os do PSB e da Rede favoráveis a um acordo no segundo turno entre os dois acham que, no momento, é mais positivo para Campos se distanciar de Aécio e tentar uma marca própria para a campanha.

Sobre o assunto, gravei um vídeo para O Globo a Mais, semana passada, onde analisava a nova fase da campanha eleitoral, delicada para os candidatos de oposição, que, juntos, já mostram força para levar a eleição para o segundo turno, mas, separados, ainda não têm condições de vencer a presidente Dilma Rousseff.

Só destruirá as pontes construídas até o momento aquele candidato que se considerar em condições de aglutinar em torno de um projeto político próprio a maioria dos eleitores que querem mudanças; somente Marina Silva teria esse perfil, se fosse a candidata.

Mas ela está levando o ex-governador Eduardo Campos a experimentar esse caminho solitário que só se tornará eficaz caso ele se transforme em um fenômeno eleitoral, o que é difícil de imaginar. Ou na hipótese de vir a disputar um segundo turno com o candidato tucano Aécio Neves, o que a esta altura parece improvável.

Campos vai ter que equilibrar os próximos passos para não inviabilizar o apoio do PSDB em um eventual segundo turno. O que pode pesar a mão no PSB é a influência de uma esquerda próxima ao petismo, cujo representante mais influente é o vice-presidente, Roberto Amaral, ex-ministro de Lula, que nunca viu com bons olhos a aproximação com os tucanos.

O senador Aécio Neves vai exercitando um dos dons mais característicos da política mineira, a paciência. Não partirá dele qualquer gesto de rompimento com Campos, mesmo porque está convencido de que quem vai para o segundo turno é ele, e precisará do apoio do PSB para derrotar Dilma.

Dora Kramer: Alguma coisa acontece

- O Estado de S. Paulo

Em quatro meses e uma Copa cheia de complicações pela frente tudo pode acontecer. Ainda mais se levarmos em conta a velocidade e o inusitado dos acontecimentos deste quentíssimo ano de 2014.

A última pesquisa do Ibope conta novidades. Mudanças de cenário ocorridas em poucas semanas. Considerando o histórico de desinteresse nesse período em eleições anteriores, a queda acentuada no porcentual de pessoas indecisas, dispostas a anular o voto ou simplesmente deixá-lo em branco, é a notícia mais auspiciosa.

Em abril último, esse grupo somava 37% dos pesquisados. Hoje são 24%. Os especialistas no tema atribuem esse fato às propagandas partidárias na televisão. Curtas, esporádicas e ainda em tom eleitoral quase subliminar devido a restrições legais. Só em agosto os candidatos estarão liberados para pedir votos de maneira explícita.

Por esse critério, da exposição, é de se supor que, ao contrário do esperado, o índice de abstenção possa ser mais baixo do que indicaria o desapreço em relação à política e seus personagens. Trata-se de uma impressão ainda a ser conferida. Se confirmada, a explicação desse sinal de interesse pode estar no despertar da consciência de que quanto menos importância o cidadão dá à política melhor para aqueles que fazem dela uma atividade deletéria.

Outra razão talvez seja o clima de disputa que pouco a pouco vem se estabelecendo e motivando as pessoas a participar. A antecipação da campanha tem a ver com isso e o derretimento da situação de favoritismo inamovível da presidente Dilma Rousseff também.

Ela continua na frente, com 40% das intenções. Mas aqueles eleitores que, na feliz expressão do analista José Roberto de Toledo, "desceram do muro", não subiram na caravana de Dilma. Os beneficiados foram seus principais adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos.

A presidente voltou ao patamar de março. Ganhou três pontos em relação aos 37% registrados em abril. Isso representa um aumento de 8%. Aécio Neves tinha 14% e foi para 20%; cresceu, portanto, 43%. Eduardo Campos de 6% foi para 11%; não chegou a dobrar, mas aumentou seu capital em 83%.

Os números relativos à rejeição tampouco favorecem a presidente. Ficou estacionada em 33%, mas os dos oponentes caíram. Eram 25% os que diziam não votar em Aécio de jeito nenhum e agora somam 20%. Para Eduardo Campos, a queda da rejeição foi mais expressiva: de 21% para 13%.

Ou seja, vai ter competição. Será uma eleição disputada, de resultado imprevisível sem "cantatas" de vitória antes da hora, como aconteceu, por exemplo, com o PSDB em 2010, quando José Serra reinou olímpico no patamar acima de 40% por muitos meses enquanto Dilma lutava para alcançar os dois dígitos. Até que deslanchou.

Voltando às intenções de voto da presidente, há nela duas boas notícias: uma para o governo, outra para a oposição. Os eleitores de Dilma se mantêm firmes, não migraram para os adversários. Fosse isso, ela teria caído, e não subido. Sendo assim, sustentando o primeiro lugar, se arrefecem os ânimos do "volta, Lula" e ainda se contém a sanha de aliados cujo olfato é treinado para detectar aromas que determinam a hora de debandar.

Para a oposição, esses três pontos porcentuais são também preciosos nesse momento. Nem Aécio nem Campos querem que Dilma dispare nas pesquisas a ponto de consolidar uma decisão em primeiro turno. Mas nenhum dos dois gostaria de vê-la despencar para não correr o risco da troca de Dilma por Lula.

Para concluir, um dado inusitado da pesquisa: a presidente cresceu entre os mais ricos e Aécio, entre os mais pobres. Uma inversão de preferências nos públicos tradicionais de cada um, fenômeno que até agora não tem explicação convincente e só reforça a impressão de que alguma coisa acontece nessa peculiar eleição em que tudo pode acontecer.

Eliane Cantanhêde: Campo de batalha

- Folha de S. Paulo

As oposições parecem não perceber ou não dar bola, mas o governo e o PT estão ganhando a batalha mais importante a esta altura da eleição: são eles que determinam como vai ser a guerra.

As pesquisas têm um peso enorme no ânimo do eleitorado e na definição de apoios e coligações, mas, neste momento, o fundamental é definir as armas, arregimentar as tropas, delimitar o campo, atrair o inimigo para o terreno que você domina. Depois, não tem como sair.

Aécio e Eduardo Campos vinham bem quando o debate (ou o "terreno") era Petrobras, crise ética, crescimento baixo, inflação alta, o preço do tomate. Mas Dilma, que patinava, deu uma guinada e puxou tucanos e pessebistas para o campo social. Este é o forte do PT e de Lula e a única área que salva o discurso de Dilma.

Com a CPI da Petrobras no Senado enterrada e a CPI mista natimorta, lá se foram vários cartuchos da oposição. E os novos anúncios do governo --aumento do Bolsa Família, correção da tabela do IR, investimentos em saneamento básico-- reforçaram a munição de Dilma. O anúncio do medo e dos fantasmas fez a liga.

É verdade que as pessoas votam pensando em se dar bem, mas os interesses meramente pessoais não anulam o imaginário coletivo. Explico: as menores faixas de renda querem Bolsas; as classes médias querem emprego, renda e status; as mais remuneradas querem privilégios; as ricas querem ficar mais ricas. E todas querem segurança etc. Mas há mensagens que perpassam todas elas.

Exemplo? A fofoca de que os tucanos privatizariam a Petrobras. Isso não atingia diretamente o interesse de quase nenhum eleitor e de nenhuma faixa de renda e de escolaridade, mas fez um corte transversal por todas.

A campanha de Dilma planta agora o medo da "volta ao passado" e a "inclusão social versus medidas impopulares e elitistas", para colher depois nos programas, nos debates e, claro, nos votos.

João Bosco Rabello: O “padrão-jumento”

• “Vai a pé, vai de jumento” – Ex-presidente Lula

- O Estado de S. Paulo

A pesquisa mais recente do Ibope trouxe boas e más notícias aos candidatos, o que aumentou a sensação de imprevisibilidade, exceto quanto à realização do segundo turno, que tudo indica inevitável.

A presidente Dilma Rousseff estancou a queda, mas parece ter atingido o teto na recuperação lenta e instável dos índices de aprovação altos que exibia até as manifestações de junho do ano passado. Continua num patamar de risco para quem tenta a reeleição.

Os candidatos de oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos, cresceram na intenção de votos e desceram no índice de rejeição, quesito em que a presidente atingiu 33%. Ruim para ambos é que o favoritismo de Dilma mantém decisivo o desafio de catalisarem o desejo de mudança manifestado por 70% dos entrevistados.

A soma de votos de Aécio e Campos os situam, agora, a quatro pontos de distância da presidente, diferença que já foi de 13 pontos. Há um inegável potencial de crescimento da oposição com a inclusão da televisão na campanha, como mostra o crescimento do candidato do PSDB.

Por essa constatação, é lógico aplicar a Dilma a mesma expectativa, já que terá o triplo do tempo de televisão de Aécio e sete vezes o de Campos. Se a equação fosse estritamente matemática, sua reeleição estaria garantida.

O problema crucial de Dilma é que a natureza das demandas levadas às ruas em junho passado não permitem respostas imediatas, limitando a campanha do governo ao que já foi feito (pouco ou quase nada do que lhe é cobrado) e à renovação de compromissos.

É mais do mesmo em um cenário marcado pela intolerância da sociedade com explicações e promessas feitas para atenuar os péssimos serviços públicos, em contrapartida à carga de impostos que, de uma década para cá, é uma conta exclusiva do PT.

Um dado importante da pesquisa é o que registra a subida de Aécio no estrato de baixa renda, atendido pelo assistencialismo oficial, mais governista nas eleições e público-alvo da propaganda do medo.

Infraestrutura e economia impõem longo prazo, tempo recusado a um governo que teve sete anos para aproveitar a condição de país-sede da Copa do Mundo para encurtar o caminho na direção do padrão Fifa reclamado pela população para os setores de saúde, transportes e segurança.

Essa impotência para responder às demandas por melhores serviços está reconhecida na surpreendente reação do ex-presidente Lula, contrapondo ao desejo de mudança o "padrão jumento" - aquele que troca o metrô pelo pré-histórico lombo animal.

É a melhor síntese para desfazer a imagem de gestora da sua candidata.

Inflação corrói nova classe média

• Alta de preços reduz em R$ 73 bilhões consumo de brasileiros que subiram na pirâmide social

Gabriela Valente - O Globo

BRASÍLIA e RIO - A escalada da inflação atinge de forma perversa a parcela da população brasileira que ascendeu para a classe C e passou a consumir produtos e serviços antes inatingíveis. O dragão abocanhou R$ 73,4 bilhões desse grupo nos últimos 12 meses, segundo estudo do Instituto Data Popular, feito a pedido do GLOBO. A classe C movimenta cerca de R$ 1,17 trilhão por ano, calcula o instituto. Nos últimos 12 meses, a inflação acumula alta de 6,28%, pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A mordida no orçamento só não foi mais doída porque a renda da classe C continuou a subir. No entanto, ainda em fase de expansão, a nova classe média já está dividida. Boa parte se encontra em uma “zona de rebaixamento” e corre o risco de voltar à classe D por causa das condições da economia brasileira: combinação de inflação persistente e juros altos.

Segundo uma estimativa construída pela corretora Gradual, dos 108 milhões de pessoas da classe C, cerca de 10 milhões estariam na fronteira da classe D e seriam mais vulneráveis a um rebaixamento. Elas ascenderam à classe média (grupo que, segundo os critérios da Data Popular, tem renda familiar de R$ 1.216 a R$ 4.256) com o aumento dos ganhos salariais no passado, mas ainda têm renda errante que pode diminuir ao sabor do quadro econômico.

— O dilema na mesa do Banco Central é se deve controlar a inflação de serviços, que atualmente roda em 8,99%, por meio de uma elevação da taxa básica de juros a tal patamar que jogaria a nova classe C de volta ao subconsumo da classe D (com o aumento do juro, o crédito fica mais caro) — explica o economista-chefe da Gradual, André Perfeito.

Na visão de Perfeito, o governo tem gasto além da conta e isso coloca combustível na inflação, que prejudica não apenas a classe média, mas principalmente os mais pobres.

O presidente do Data Popular, Renato Meirelles, acrescenta que o debate tem de ser ainda mais amplo: a melhoria de vida da população passa necessariamente por aumento da produtividade e de investimentos.

— Não dá para ficar apenas na corda bamba de segurar a demanda num país que tem demandas tão reprimidas como o Brasil — afirma Meirelles.

A assistente social carioca Cátia Soares de Sant'Anna trabalha em Angra dos Reis de segunda a quarta. As filhas ficam sob o cuidado da mãe dela no Rio. Desde o ano passado, diz que sentiu os preços subirem e alterou hábitos de consumo.

— Antes eu fazia compras num mercado e só me preocupava com o produto. Hoje me preocupo com o valor. Compras, só no "dia da carne" ou no "dia da fruta". Vestuário também é preciso pesquisar. Não tem outra saída, tenho que planejar o que fazer com o salário — conta.

E esse planejamento incluiu o lazer das filhas: evitar ao máximo gastar fora de casa é uma regra. Se a família sai, o lanche vai preparado na bolsa. Cátia tem renda de R$ 1.335 — era de R$ 7 mil até 2012, quando se separou e perdeu o emprego.

Vaudiram Mendes Novais ganhava cerca de R$ 1.600 como garçom. Precisou sair do emprego e passar um tempo com a família na Bahia. Quando voltou para Brasília, não achou mais vaga em bares e restaurantes com o mesmo rendimento. Resolveu trabalhar como vendedor no quiosque de livros do cunhado e o salário caiu para R$ 1.200.

— No supermercado, já senti o aumento dos preços e com a queda do meu salário cortei o supérfluo, como doces e biscoitos, e fiquei com o necessário: arroz, feijão e carne. E consegui baixar a conta do mercado de R$ 300 para R$ 200.

70% acreditam que preços subirão
Vaudiram não é o único que teve de ajustar as compras ao limite do orçamento. De acordo com o levantamento do Data Popular, 85% dos brasileiros acham que não conseguem ter mais o que adquiriam no passado com os mesmos recursos. Além de comprar menos, a pesquisa de preço voltou a ser tendência para os consumidores.

— O brasileiro está mais criterioso e pesquisa mais preços na hora de comprar e isso não é só a classe C, é geral — diz Renato Meirelles.

Segundo o Instituto Data Popular, 70% dos brasileiros apostam que os preços aumentarão ainda mais em 2014. E duas em cada três pessoas acham que não está fácil pagar as contas.

Rochelle Matos é uma delas. Até melhorou de vida no último ano. Deixou de ser caixa de supermercado para vender artigos esportivos. O salário saltou de R$ 1.108 para cerca de R$ 1.500. O dinheiro, entretanto, parece estar mais curto. Na hora de listar o que deixou de comprar, ela dispara sem nenhuma dúvida:

— Roupa e sapato! — conta antes de dar uma boa risada. — Isso era uma coisa que eu comprava muito mais antes.

Já na família da recepcionista Kelly Lucy Pimenta, o corte no orçamento foi carnívoro. Ela, o irmão gari, a irmã manicure e a mãe podóloga tiraram a picanha do fim de semana da lista de compras. O contrafilé também desapareceu da geladeira. E sonhos de consumo foram adiados.

— Queria trocar de celular e comprar um tablet, mas só Deus sabe quando.

Kelly está entre os 54% da população do país que fazem parte da classe média, segundo os critérios do Instituto Data Popular. Mesmo com os brasileiros que estão na zona de rebaixamento, a projeção é que essa camada da população aumente e chegue a 58% em 2023, ou seja, 125 milhões de pessoas.

— Só que para caber mais gente no andar de cima da pirâmide social será preciso investir e estancar o processo inflacionário estrutural em curso— arremata o economista André Perfeito.

* Colaboraram Clarice Spitz e Luciano Abreu

*Gaudêncio Torquato: A classe C, do paraíso ao inferno

• A ignorância financeira estourou o bolso de quem achava ter encontrado o Eldorado

- O Estado de S. Paulo

Mais uma pista a indicar o andar da carruagem. Parcela da população brasileira é arrastada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova classe média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Quem propicia a subida é grana extra. A segunda empurra o contingente para as águas do fundo. Isso se dá quando a renda das famílias fica apenas no parco rendimento de aposentadoria, pensão ou bolsas, sem os ganhos com bicos e atividades paralelas. No sufoco do bolso apertado, quem foi induzido a consumir e se vê sem condição de ressarcir despesas passa a usar de maneira indiscriminada cartões de crédito e a resvalar pela inadimplência.

Tal radiografia, flagrada por pesquisa encomendada pelo Consultative Group to Assist the Poor, organismo ligado ao Banco Mundial, e exposta neste jornal (18/5), pode explicar fenômenos que estão a ocorrer no País a partir de manifestações de movimentos organizados e categorias profissionais.

Ponderável parcela da classe média que muda de condição, muitas vezes de um mês para outro, acaba ingressando no perigoso meio-fio da instabilidade, tornando-se ela própria um dos eixos a mover a engrenagem da insatisfação social. A expressão desolada de um microempreendedor sobre seus ganhos mensais arremata a situação que abriga milhões de brasileiros: "Ganho algo entre nada e R$ 5 mil; não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar".

A insegurança que grassa por classes, espaços, setores e profissões tem-se avolumado nos últimos meses, apesar de a taxa de desemprego se manter estável (em torno de 5% em março nas cinco maiores regiões metropolitanas). A questão é a baixa qualidade do emprego, que leva muitos a buscar outros meios de sobrevivência. Ademais, o cobertor social tem sido curto para cobrir novas demandas. A precária estrutura de serviços não tem recebido do Estado alavancagem para oferecer bom atendimento ao povo. Portanto, por causa do estranho fenômeno que aqui se forma - uma classe C mutante que tateia na escuridão entre as portas do céu e do inferno, passando pelo limbo - as pessoas decidiram abrir a locução sob propícia temperatura ambiental.

As políticas sociais do governo, é oportuno lembrar, abriram buracos. A decisão de implantar gigantesco programa de distribuição de renda - elogiável, porquanto se vive, hoje, o menor nível de desigualdade de nossa História - não tem sido acompanhada de uma política educacional estruturante, capaz de elevar o grau civilizatório de milhões de pessoas que ascenderam na vida.

Basta avaliar a estratégia de indução ao consumo, adotada pelo governo brasileiro para enfrentar a crise por que passaram as economias mundiais, a partir de 2008. Ouçam-se especialistas, dentre eles Celso Amâncio, ex-diretor da Casas Bahia (Estado, 18/5): "O governo incentivou o consumo, mas crédito é uma coisa e poder de compra é outro". Quer dizer, o banco até oferece crédito, mas os novos consumidores não dispõem de educação financeira. Acabam usando e abusando de cartões de crédito, um pagando o outro.

O governo forjou, de um lado, o populismo econômico para abrir as portas do consumo aos grupos emergentes, mas, por outro, deixou de lhes oferecer ferramentas (e valores) que balizam comportamentos da classe média tradicional. A cesta de compra dos emergentes inchou: TV por assinatura, internet, plano de saúde, escola privada para os filhos, moto ou carro novo. A ignorância em matéria financeira acabou estourando o bolso de tantos quantos achavam ter encontrado o Eldorado.

Sob essa engenharia se pode compreender o movimento das "placas tectônicas" que causam sismos nas camadas do centro da pirâmide. Como se recorda, o losango tem sido apresentado como o formato do novo Brasil: de topo mais espaçado, alargamento do meio e estreitamento da base. Acontece que o saracoteio da classe C - que ora dança na pista do meio, ora na de baixo - não permite apostar na substituição definitiva da pirâmide pelo losango. O que se vê na configuração é um redemoinho nas camadas centrais, a denotar insatisfação e impactos que afetam a vida de milhões, principalmente os habitantes de grandes cidades, cuja rotina sofre com congestionamentos, mobilizações, greves e paralisações de frentes de serviços públicos.

É verdade que parte considerável da tensão urbana se deve ao momento especial do País: vésperas de Copa do Mundo e de campanha eleitoral. A estratégia de sensibilização do poder e de atores políticos ganha fôlego. Mas é inegável que há uma força centrípeta em ação, aqui mais forte e organizada, ali mais tênue e dispersa, dando a impressão de que o gigante "deitado eternamente em berço esplêndido" faz parte da retórica do passado. A dissonância forma-se em nossa mente quando somos levados a cantar (sem interpretar os versos) nosso belo Hino Nacional.

Remanesce a questão: para onde as altas e baixas marés carregarão a classe C (que soma 64 milhões de pessoas) e, ainda, que consequências serão sentidas em outros conjuntos? A hipótese mais provável é que, a continuar o vaivém dos grupos emergentes, os sismos continuarão a balançar o losango e este voltará a dar lugar à velha pirâmide. As conquistas obtidas com os avanços dos programas de distribuição de renda estariam comprometidas. Reflexos (pressões, contrapressões, conflitos, demandas) aparecerão na malha de toda a classe média (cerca de 100 milhões de brasileiros). As marolas geradas por impactos no meio da lagoa acabarão chegando às margens.

Em suma, enquanto as famílias de classe média se mantiverem "enforcadas", o nó apertará o gogó de outros habitantes da pirâmide. O Brasil terá de voltar a crescer, de maneira forte e sadia, sem usar o esparadrapo de paliativos sociais.

* Jornalista, professor titular da USP