segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

O problema é que entregaram a Petrobras para um grupo de bandidos. E quem fez isso foi o governo Lula/Dilma. Infelizmente, o PT enxovalhou o seu nome e o nome da esquerda com a corrupção. Não podemos conviver com isso, inclusive com o fato de haver na Papuda alguém que é considerado pelo partido um herói do povo brasileiro.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em S. Paulo, 13 de setembro de 2014.

Petrobras confirma que IP da estatal foi usado para mudar perfil

• Alteração na Wikipédia dizia que Paulo Roberto costa era "cria" de FH

- O Globo

A Petrobras confirmou, ontem à tarde, que era da empresa o IP utilizado para alterar o perfil do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa na enciclopédia virtual Wikipédia. As modificações afirmavam que Costa, denunciado na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, é "cria" do governo de Fernando Henrique, e que foi demitido porque estava "muito soltinho". As alterações, denunciadas pelo GLOBO, destacavam também que a demissão do ex-diretor ocorreu após a posse da atual presidente da Petrobras, Graça Foster, e com a aprovação da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. A publicação ocorreu às 16h16min de sábado e foi retirada do ar seis minutos depois.

De acordo com a nota da estatal, a área de Tecnologia da Informação da empresta "está procedendo pesquisas nos acessos à internet para identificar o computador que fez o acesso".

O rastreamento que identificou a origem da alteração foi feito pelo serviço de monitoramento @BRwikiedit. Há pouco mais de um mês, a página, que, originalmente, monitorava somente a rede do Congresso, passou também a fiscalizar as modificações produzidas para a enciclopédia on-line em outras 40 entidades, como Procuradoria Geral da República, Dataprev, Banco Central, Caixa e Petrobras.

Uma parte do texto, intitulada "Ex-diretor começou no governo de FH", afirma que não é verdade que Paulo Roberto Costa começou sua carreira em 2004, durante o governo Lula, e que suas primeiras indicações políticas ocorreram em 1995, durante o mandato de FH. O IP utilizado já realizou 29 contribuições à enciclopédia virtual somente em 2014. Entre os verbetes alterados estão assuntos como o voo VASP 168 e o Campeonato Brasileiro de 2014.

A mudança foi realizada dois dias após o Planalto exonerar o responsável pela alteração das páginas dos jornalistas Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia. A investigação da comissão de sindicância da Casa Civil da Presidência da República identificou o servidor Luiz Alberto Marques Vieira Filho um mês após o início da apuração. Funcionário de carreira do Ministério da Fazenda, mas na época lotado na Secretaria de Relações Institucionais (SRI), o servidor vai responder a processo administrativo disciplinar (PAD).

Bispos devem utilizar debate para cobrar os presidenciáveis

• CNBB promove debate com oito presidenciáveis nesta terça em Aparecida

• Discurso sobre temas polêmicos como aborto e homossexualidade mudou com a eleição do papa Francisco

Flávia Marreiro e Fabiano Maisonnave – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A cúpula da Igreja Católica promove debate com oito presidenciáveis nesta terça-feira (16) em Aparecida (SP), tentando se equilibrar entre a orientação do papa Francisco, mais tolerante em assuntos polêmicos como a homossexualidade, e a oportunidade de cobrar dos candidatos posições sobre esses temas.

Será a segunda vez que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebe candidatos a presidente. Nas eleições de 2010, ainda no papado de Bento 16, o encontro ocorreu em meio a mal-estar entre a entidade e o Planalto.

Na época, a CNBB liberou os bispos para pregar contra candidatos favoráveis ao aborto e causou particular desconforto ao publicar em seu site uma carta do bispo Luiz Gonzaga Bergonzini (1936-2012) pedindo boicote contra Dilma Rousseff (PT).

O aborto continua na pauta, mas há sinais de que a igreja tenta se ajustar à retórica mais suave e tolerante de Francisco, especialmente quanto à homossexualidade.

Dom Raymundo Damasceno, 77, presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida, abrirá o debate com uma pergunta geral para os candidatos.

"Temos preocupação com a questão da justiça social, a distribuição melhor das riquezas, grande preocupação com a família. A questão da vida desde o início até o fim", disse Damasceno à Folha.

Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, diz que, "mesmo sem polarizar o debate", o tema do aborto deve fazer parte da campanha, e os candidatos devem se manifestar claramente: "Os eleitores têm o direito de saber a posição deles e qual é seu compromisso com essas questões de princípio", disse.

Quanto a um tema que já provocou controvérsia na campanha, o casamento gay, Damasceno se mostrou alinhado a declarações recentes do Vaticano, que prega atitude "mais respeitosa e menos severa" no julgamento das uniões homossexuais.

O Supremo Tribunal Federal decidiu em 2011 que os cartórios brasileiros devem reconhecer as uniões civis de pessoas do mesmo sexo para todos os efeitos, embora não e- xista lei específica sobre isso.

"É uma decisão do Supremo. Claro que, para a igreja, não se pode equiparar a um casamento, isso é diferente. Mas respeitar a união estável entre essas pessoas, não há dúvida de que a igreja sempre tem procurado fazer dessa maneira", disse Damasceno.

Reforma política e a questão indígena e ambiental são dois outros temas caros à igreja que devem estar no debate --oito bispos farão perguntas no segundo bloco do evento, exibido pela TV Aparecida, emissoras católicas, 230 rádios e portais católicos.

O presidente da CNBB frisou o veto, nem sempre seguido, de que sacerdotes não podem fazer campanha. Alfinetou a estratégia de denominações evangélicas para eleger parlamentares. "Não queremos ter uma bancada católica, queremos orientar aqueles que votam e que querem ouvir nossa voz", disse.

Para dom Odilo, a possibilidade de o Brasil ter uma presidente evangélica, no caso de vitória de Marina Silva (PSB), não é um problema: "O Brasil já teve governantes de religiões diversas. Sendo laico o Estado, espero que qualquer governante garanta a liberdade religiosa e não a cerceie nem reprima."

Candidatos intensificam ataques

• No Rio, Aécio também critica adversárias E diz que não tapa "o sol com a peneira"

Chico de Gois, Luiza Damé e Letícia Fernandes – O Globo

BRASÍLIA e RIO - A pouco mais de 20 dias das eleições, as duas principais candidatas na disputa presidencial voltaram a trocar acusações no último fim de semana. Enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) avisou que "coitadinho" não pode ocupar o mais alto cargo do país, Marina Silva (PSB) acusou os adversários de espalhar mentiras contra ela, mas prometeu que não vai "agredir uma mulher".

Ontem, as duas estavam em Brasília. Marina visitou a periferia da cidade, e Dilma ficou no Palácio da Alvorada. Em discurso em Ceilândia, região pobre da capital, a candidata do PSB à Presidência recorreu à sua história pessoal, de superação da pobreza, para dizer que, ao contrário dos boatos espalhados por petistas, não vai acabar com o Bolsa Família ou outros programas sociais implantados pelo governo do PT.

- Presidente Dilma, a senhora fique tranquila que não vai receber de mim o mesmo tratamento que está fazendo comigo. Não vou agredir uma mulher. Não vou mentir a seu respeito. E acrescentou:

- Podem agredir, podem mentir, que vamos oferecer a outra face. Mas não é para levar um bofetão, que meu pescocinho é tão fino que não aguenta. Ao ódio, vamos oferecer o amor, à preguiça, o trabalho, à corrupção, a honestidade e competência. É disso que eles têm medo. Podem provocar, que nós não vamos nos transformar neles. Eles têm mentido, agredido, espalhando boatos de que vou acabar com o Bolsa Família e o Mais Médicos. É mentira. Olhem nos meus olhos. É mentira, e eles sabem que estão mentindo. Quem tem essa história, não na teoria, mas no sangue, no corpo magro, não acaba com o Bolsa Família - discursou.

Marina também afirmou que pretende manter a meta de inflação em 4,5%.

- Estamos mantendo o que está em nosso programa. Qualquer opinião que seja dita fora daquilo que está no programa é uma opinião isolada de uma pessoa - afirmou, referindo-se à entrevista ao GLOBO de Alexandre Rands, um dos colaboradores da área econômica da campanha, que disse que seria possível chegar à meta de 3%.

A candidata do PSB afirmou que o atual governo fez uma contabilidade criativa e manipulação de preços para controlar artificialmente a inflação:

- A presidente Dilma disse que está revendo tudo isso e até se comprometeu a demitir seu atual ministro da Fazenda. Só que obviamente agora é tarde, porque ambos serão demitidos pelo povo brasileiro.

Já Dilma afirmou que "coitadinho" não pode chegar à Presidência da República e voltou a criticar a independência do Banco Central, defendida por Marina. Para Dilma, os candidatos não podem "se vitimizar". Para ela, o debate é válido enquanto girar em torno das propostas e não apelar para "a honra e as características pessoais" dos adversários.

- A vida como presidente da República é aguentar crítica sistematicamente e aguentar pressão. Quem levar para campo pessoal não vai ser uma boa presidente, porque não segura uma crítica. Tem de segurar a crítica, sim. O Twitter é o de menos (referindo-se a críticas nas redes sociais). O problema são pressões de outra envergadura que aparecem e que, se você não tem coluna vertebral, você não segura. Não tem coitadinho na Presidência. Quem vai para a Presidência não é coitadinho, porque, se se sente coitadinho, não pode chegar lá.

Apesar de não ter divulgado ainda um programa completo de governo, ela afirmou que suas iniciativas já estão em andamento há quatro anos.

- Eu sempre estive no momento paz e amor. O meu programa tem quatro anos que está nas ruas. Mais do que nas ruas, está sendo feito. A mim, tem todo um vasto território para me criticar. Tudo o que eu fiz no governo está aí para ser criticado todo santo dia, como aliás é. Todas as minhas propostas estão muito claras e muito manifestas - afirmou, em entrevista no Palácio da Alvorada.

Embora sua propaganda tenha atacado Marina, Dilma defendeu uma campanha "do mais alto nível", com debate de propostas sem agressões pessoais aos adversários. A presidente afirmou ter ficado indignada quando a adversária disse que o PT cometeu irregularidades na Petrobras nos últimos 12 anos. Dilma lembrou que, em oito desses 12 anos, Marina era filiada ao partido e fez parte do governo. Além disso, disse a presidente, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, acusado de comandar o esquema de corrupção, foi demitido no início de seu mandato:

- Naquele momento, eu acho que houve um ataque, que não era propriamente um ataque político, que a candidata estava fazendo ao PT e a mim.

Aécio: discurso do governo é "enganação"
Em visita à Central Única das Favelas (Cufa) ontem, na Zona Norte do Rio, o senador Aécio Neves (PSDB) criticou o programa de transferência de renda do governo federal, espinha dorsal dos quase oito anos de gestão petista. Para o tucano, o discurso de que o governo melhorou a vida das pessoas é "enganação":

- Esse discurso de que o Estado melhorou a sua vida é uma grande enganação. Ninguém acha que foi o governo que melhorou a sua vida. A gente escuta muito um discurso de "olha, nós melhoramos a sua vida, nós tiramos milhões de brasileiros dessa situação para aquela". Nada disso, quem melhora a vida de cada um é quem acorda cedo, rala, chacoalha no transporte público, estuda e trabalha. Essa é a minha visão, muito diferente de um modelo que está aí governando o Brasil - atacou.

A declaração foi dada no lançamento do livro "Um país chamado favela", de Celso Athayde e Renato Meirelles, depois de os autores citarem o dado de que 76% dos moradores de favelas acreditam que a vida melhorou, mas apenas 1% creditam o resultado a iniciativas do governo - o primeiro motivo citado foi esforço pessoal, com 42%, e crença em Deus, com 40%. O livro entrevistou dois mil moradores de 63 favelas brasileiras.

Aécio Neves aproveitou para disparar críticas também à ex-senadora Marina Silva, afirmando que não muda de opinião "porque alguém tuitou algo contra a minha proposta", e que não basta "pinçar pessoas" aleatórias para fazer um projeto de governo:

- Eu não tampo o sol com a peneira, as coisas mudaram, o errado seria eu mudar de ideias porque alguém tuitou algo contra proposta minha, ou porque preciso agora agradar a um setor da economia que tem voto. Como no caso do agronegócio com a Marina, que tem sido frontalmente contrária ao avanço dos transgênicos no Brasil. Repito, o Brasil não é para amadores, não adianta pensar que vai pinçar uma pessoa aqui, outra acolá, e fazer um projeto de governo.

Aécio participou do encontro ao lado do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, com quem jogou capoeira. Aécio, como Dilma fez ontem, ensaiou a coreografia do "passinho"

OCDE reduz estimativa de crescimento do Brasil de 1,8% para 0,3% neste ano

• Foi o corte mais forte nas previsões do organismo. Para a zona do euro, projeção caiu com menos força: de 1,2% para 0,8%

- Reuters

PARIS - A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, que representa os principais países ricos do mundo) informou nesta segunda-feira que cortou suas estimativas de crescimento para as principais economias desenvolvidas. A redução mais forte frente às previsões divulgadas em maio foi a do Brasil neste ano e no próximo: de 1,8% para 0,3% em 2014, e de 2,2% para 1,4% em 2015.

"O Brasil caiu em recessão no primeiro semestre. O investimento tem sido particularmente fraco, minado pelas incertezas sobre a direção da política após as eleições e a necessidade de que a política monetária controle a inflação acima da meta", informou a OCDE no relatório.

"Uma recuperação moderada pode ser esperada conforme esses fatores se desenrolam, mas a projeção é que o crescimento permaneça abaixo do potencial em 2015", completou.

Para a zona do euro, a OCDE estimou expansão de apenas 0,8% neste ano, subindo para 1,1% em 2015. Isso marca uma forte redução em relação ao seu Cenário Econômico de maio para a zona do euro, quando projetou crescimento de 1,2% em 2014 e de 1,7% em 2015.

Para a OCDE, "o aspecto mais preocupante é a persistência de um crescimento baixo na zona do euro" e seu distanciamento de outras grandes economias, como Estados Unidos e China.
O organismo pediu estímulo muito mais agressivo do Banco Central Europeu (BCE) para conter o risco de deflação na zona do euro, ampliando a crescente pressão sobre o banco para impulsionar o crescimento antes de uma reunião de ministros das Finanças e membros de bancos centrais do G20 nesta semana na Austrália.

Organismo reviu para cima previsão para a Índia
Para os EUA, a projeção de crescimento caiu de 2,6% para 2,1% este ano, e de 3,5% para 3,1% em 2015. A China, por sua vez, teve as projeções de avanço de 7,4% este ano e 7,3% no próximo mantidas pela OCDE. E a Índia teve a estimativa elevada para expansão de 5,7% este ano (0,8 ponto percentual acima do cálculo de maio). Para 2015, a projeção foi mantida em 5,9% em 2015.

A OCDE informou que, embora a inflação da zona do euro — que atingiu a mínima de cinco anos em agosto, de 0,4% — deve se fortalecer conforme a demanda se recupera, níveis baixos perto de zero levantam o risco de deflação.

"Dado o cenário de baixo crescimento e o risco de que a demanda pode ser mais afetada, ou mesmo se tornar negativa, a OCDE recomenda mais suporte monetário para a zona do euro", disse a organização em comunicado que acompanha suas projeções.

"Ações recentes do BCE são bem-vindas, mas mais medidas, incluindo afrouxamento monetário são justificadas", completou.

Recentemente o BCE anunciou uma série de medidas num esforço para encorajar o empréstimo a empresas que precisam de crédito, mas até agora evitou o "afrouxamento monetário" adotado pelos EUA e Japão, que consiste de enorme compra de títulos governamentais e de outros tipos para reduzir o custo de empréstimo.

Para a Itália, previsão é de recessão este ano
Para a França, a OCDE prevê crescimento de 0,4% este ano e de 1% em 2015. Em maio esperava 0,9% para 2014 e 1,5% para 2015. A Alemanha, maior economia da zona do euro, também sofreu uma correção e terá expansão de 1,5% este ano, 0,4 pontos a menos que na previsão anterior. Para 2015, a OCDE espera também 1,5%.

A revisão maior forte da zona do euro, formada por 18 países, foi da Itália, para a qual OCDE espera recessão de 0,4% este ano e crescimento inexpressivo de 0,1% em 2015.

Por último, a OCDE chama a atenção para os riscos que pesam sobre a recuperação, com a intensificação dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, e as incertezas crescentes em torno do resultado do referendo de independência da Escócia, assimo com a vulnerabilidade de "certas economias emergentes frente à redução do programa de estímulo monetário dos Estados Unidos".

"Não queremos o embate, queremos discutir o Brasil", afirma Marina

Portal do PPS

CEILÂNDIA - Marina Silva, candidata à Presidência da República pela Coligação Unidos pelo Brasil, ironizou neste domingo (14) os ataques da presidente Dilma Rousseff e reafirmou a disposição de fazer uma campanha limpa. Para Marina, ao baixar o nível da disputa, a candidata do PT evita debater os problemas criados por ela mesma, em uma gestão cujo legado será a volta da inflação.

“A presidente Dilma diz que vai governar da mesma forma e isso nos preocupa, pois o tempo todo ouvimos que o país está com crescimento baixo, que a indústria está sendo reduzida a pó, que inflação está aumentando e os juros estão subindo”, disse Marina durante entrevista. “A presidente Dilma tem responsabilidade pelo governo e não pode comprometer o futuro do país para ganhar a eleição. Tem de dizer como vai resolver os problemas que ela própria criou.”

Acompanhada por seu candidato a vice, Beto Albuquerque, Marina cumpriu agenda de campanha no Distrito Federal. Pela manhã, ela realizou comício na cidade de Ceilândia, no entorno da capital federal, onde foi recebida pelo candidato ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), pelo candidato ao Senado, Antônio Regufe (PDT) e por centenas de militantes e simpatizantes de sua candidatura.

Em seu discurso, lembrou que sua candidatura foi a única até agora a apresentar um programa de governo, construído com a participação dos eleitores, uma demonstração do que é a nova política. “A nova política não é fazer para as pessoas. É fazer com as pessoas”, declarou. “Nós temos um programa e, infelizmente, nem a Dilma nem o Aécio tem. Querem ganhar a Presidência com um cheque em branco”, disse.

Em seu discurso, enfatizou que não pretende governar sozinhae que espera construir uma bancada forte no Congresso Nacional para aprovar projetos de interesse da população. “A gente não ganha eleição sozinho”, afirmou. “Vamos mostrar que a nova política começa em nós mesmos, não estamos na luta do poder pelo poder”. A candidata homenageou o Distrito Federal e a capital federal, onde viveu por muitos anos e educou seus filhos.

Conclamou os ouvintes a entrarem nas redes sociais para rebater as mentiras. “Eu quero pedir uma doação, de vinte, trinta, quarenta minutos, uma hora, duas horas de seu tempo. Entre nas redes sociais e nos ajude a esclarecer a verdade. Não queremos o embate, queremos o debate, queremos discutir o Brasil”, disse.

Prestigiados por centenas de militantes, Marina e Beto convocaram a população para uma campanha limpa e o debate respeitoso dos problemas do Brasil. “Nesse palanque não tem espaço para a corrupção, para o mensalão. Neste palanque o quem tem é a verdade”, afirmou. “Nossos adversários perderam a compostura e lançam mentiras contra Marina”, avisou, reiterando que a presidenciável manterá e aperfeiçoará programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. “Eles têm mentido, espalhado boatos. Estão desesperados”, endossou Marina.

Na conversa com jornalistas, Marina reiterou seu compromisso com a estabilidade econômica e descartou a adoção de medidas que imponham mais prejuízos à população. Questionada sobre a meta de inflação e o reajuste dos preços controlados pelo governo, Marina foi enfática: um governo seu terá compromisso com a independência do Banco Central, com uma meta de inflação de 4,5% e corrigirá os preços de modo escalonado, para não onerar o povo.

“Isso não será feito de uma vez só, sem critério, no chutômetro”, afirmou, sobre o reajuste das tarifas públicas. “Nós vamos trabalhar para que o Brasil faça o seu dever de casa sem prejuízo das políticas sociais. Nós vamos resolver os problemas com responsabilidade, fazendo os investimentos estratégicos e mantendo o respeito ao consumidor de energia, que já está com uma conta muito grande”, ressaltou, afirmando que o governo espera apenas o resultado das eleições para aumentar as tarifas.

Ouça o discurso de Marina

Dilma aguarda as eleições para reajustar preços, diz Marina

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

CEILÂNDIA - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou neste domingo que a presidente Dilma Rousseff está "apenas aguardando" o fim da eleição para reajustar preços administrados, como o dos combustíveis e da energia.

Questionada após um comício em Ceilândia, no Distrito Federal, sobre o represamento atual dos preços dos combustíveis, Marina argumentou que Dilma tem a responsabilidade de corrigi-los.
"(Ela) não pode comprometer o futuro do nosso País, da nossa economia, e prejudicar os trabalhadores para poder ganhar uma eleição", disse Marina.

A candidata pontuou que, se eleita, vai tratar do tema com responsabilidade e mantendo o respeito ao consumidor de energia, que segundo ela já está "com uma conta muito grande".

"Porque da forma como foi feito (o governo) está apenas aguardando que passem as eleições para poder colocar na conta do cidadão. O governo vai transferir para depois das eleições."

Mais cedo, ao se comprometer com uma meta de inflação de 4,5% ao ano, Marina foi questionada pelo Broadcast Político sobre como pretendia acomodar o choque de um eventual reajuste nos combustíveis. Ela respondeu que "isso não vai ser feito de uma vez ou no chutômetro".

Para Aécio, PT falhou pelo descompromisso total com a ética

• Ex-jogador Ronaldo Fenômeno acompanhou o candidato do PSDB à Presidência a um evento na Central Única das Favelas, no Rio

Mariana Durão – O Estado de S. Paulo

Estacionado em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, o candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, recebeu neste domingo, no Rio, o apoio explícito do ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Amigo do presidenciável, ele já havia declarado seu voto em Aécio, mas pela primeira vez acompanhou o candidato em uma agenda de campanha. Em evento na Central Única das Favelas (CUFA), na zona norte carioca, ele defendeu um olhar que vá além da segurança pública para as comunidades, com políticas de qualificação e geração de renda.

Aécio e Ronaldo chegaram juntos à CUFA, em Madureira, na zona norte carioca, onde participaram do lançamento do livro "Um país chamado favela", de Celso Athayde, fundador da CUFA, e Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. Juntos, ensaiaram um tímido jogo de capoeira e se arriscaram na "dança do passinho".

"O povo está cansado de tanta corrupção e a gente tem que mudar isso. Vamos começar agora a partida para virar esse jogo e fazer o Brasil crescer no caminho certo", disse Ronaldo a uma plateia de jovens. O cabo eleitoral famoso foi mais aplaudido que o presidenciável, que recebeu palmas e algumas poucas vaias.

De acordo com a publicação da CUFA, 76% dos moradores das favelas acham que sua vida melhorou nos últimos anos por esforço próprio ou com a ajuda de Deus. Apenas 1% creditam a mudança ao governo. O candidato do PSDB citou o dado para criticar o discurso do governo Dilma Rousseff sobre as mudanças geradas pelas políticas de distribuição de renda do PT.

"Esse discurso de que o Estado é que transformou a sua vida é uma grande enganação", disparou, afirmando que o papel do Estado é ser um parceiro na geração de renda e prestação de serviços. O candidato afirmou que a presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas é apenas um primeiro passo e prometeu estender a todo o País os programas de qualificação e renda Mutirão de Oportunidades e Poupança Jovem, que desenvolveu durante seu governo em Minas Gerais.

Na saída, Aécio voltou a criticar as campanhas de suas principais adversárias na corrida eleitoral. O tucano disse que a proposta do PT fracassou pelo "absoluto descompromisso com a ética que envergonha a todos os brasileiros" e pela má condução da economia. "O Brasil parou de crescer. E parando de crescer para de gerar empregos. Por isso a candidata do PT terá muita dificuldade em vencer as eleições", disse.

Aécio afirmou que o programa econômico do PSDB é desenvolvido por pessoas qualificadas e tem condições de inspirar aos mercados credibilidade e respeitabilidade: "Para atender os mercados? Não. Para voltarmos a crescer e dar emprego".

Em seguida, voltou sua artilharia contra a presidenciável Marina Silva (PSB) reafirmando que sua candidatura não adquiriu condições de governabilidade. "Repito: o Brasil não é para amadores", disse. O candidato do PSDB afirmou que tem um projeto coerente com seu passado e que não muda de posição ao sabor dos ventos. Indagado sobre a perda de apoio nessa fase da campanha, Aécio se limitou a admitir que o quadro das eleições mudou completamente após a morte do então candidato Eduardo Campos (PSB).

"As coisas mudaram, mas minhas convicções são as mesmas. Errado seria eu mudar de ideia porque alguém "twitou" contra uma proposta minha ou porque preciso agora agradar a um setor da economia porque tem votos, mesmo que lá atrás, como no caso do agronegócio com a Marina, tenha sido frontalmente contrário, por exemplo, ao avanço dos transgênicos", afirmou.

Apesar de estar em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, Aécio Neves fez questão de se mostrar confiante. Ele afirmou que acredita em uma virada até o dia 5 de outubro, data do primeiro turno das eleições.

"Minha expectativa é que depois de várias ondas nesta eleição está chegando a hora da onda da razão. E na onda da razão somos nós que vamos vencer as eleições", disse. No dia 25 de agosto, Aécio classificou o desempenho da candidata Marina Silva como uma onda nas pesquisas eleitorais.

PSDB não soube atuar na oposição, afirma Giannotti

• Para filósofo ligado a tucanos, após eleição,partido ficará dividido entre Serra, à esquerda, e Alckmin, à direita

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Referência teórica entre integrantes do PSDB - é muito próximo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso -, o filósofo José Arthur Giannotti diz que o partido não conseguiu se articular como oposição durante os governos petistas, razão pela qual está virtualmente fora do 2.º turno da eleição presidencial. Para o futuro, o filósofo prevê uma divisão ideológica entre os tucanos. De um lado, mais à esquerda, José Serra, líder nas pesquisas para a vaga paulista no Senado. De outro, mais à direita, o governador Geraldo Alckmin, favorito na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Aécio Neves, diz Gianotti, deixará o topo da pirâmide partidária.

Como explica o fato de Marina Silva ter roubado do PSDB os eleitores antipetistas, como mostram as pesquisas de intenção de voto da disputa presidencial?

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que sou um "tucanoide", e não um tucano. Já fui petista e agora meu voto é útil. Estávamos com um cenário polarizado entre PT e PSDB. Mas o PT veio para o centro, se corrompeu e criou uma situação em que o adversário não existia como força política. Quando você não tem uma oposição organizada, em geral quem ocupa esse espaço é uma dissidência da própria base aliada (como ocorreu com Eduardo Campos e Marina Silva, ex-ministros do governo Lula). O PSDB não conseguiu se articular como oposição.

Por quê?

Porque não teve discurso. Na medida em que o PT foi para o centro, ele roubou o discurso do PSDB. O PT virou o grande interlocutor com as forças capitalistas e populares, o que era o projeto da social democracia.

Mas embora tenha sempre poupado o ex-presidente Lula, Aécio se posicionou claramente como candidato de oposição a Dilma durante a campanha...

Ficou com uma imagem meio ambígua. Tanto é assim que ele precisa agora sair correndo para Minas Gerais para salvar a candidatura que ele apoia. Aécio não afirmou uma liderança realmente decisiva. E no Senado demorou. A oposição ficou apenas verbal e não teve força para fazer a luta política entre amigos e inimigos. Quando isso acontece, ou há dissidência na base aliada ou surge a demanda por um salvador da pátria. Já assisti ao Fernando Collor e ao Jânio Quadros.

Dá para compará-los com Marina, como fez Dilma?

Não, mas dá para lembrar deles na medida em que vem alguém religiosamente para salvar a pátria e depois tem uma enorme complicação na montagem do governo. A Marina não é um Collor, mas no sistema ela estava isolada. Não soube organizar o partido dela, a Rede, e foi obrigada a se aliar ao Eduardo Campos. Quando o avião cai, ela se acha predestinada a salvar a pátria e começa com esse discurso. A partir do desastre, ela lembra Jânio e Collor ao dizer que veio para salvar a pátria. O resultado é que o Aécio começou a murchar. Ao meu ver, essa tendência é irreversível. Agora temos um problema muito sério: uma crise de Estado.

Há uma crise de Estado?

Nossos analistas, que estão fortemente marcados pelo sociologismo, não veem essa crise. Quem viu e disse isso foi uma jurista, a Carmem Lúcia. Uma crise de Estado acontece quando você decide em cima e a decisão não chega embaixo. E o Estado, dessa forma, não funciona. Já temos uma crise de decisão. Ela continua se Dilma ou Marina vencerem.

E se o Aécio vencer?

O Aécio não vai ganhar.

Como seria um segundo mandato de Dilma?

O PT e particularmente o Lula vão interferir muito mais no governo. Ele vai interferir na política econômica. Já obrigou a Dilma a dizer que o novo governo terá uma nova equipe.

E o governo Marina?

Ela teria que organizar sua base e sua equipe de governo. Obviamente não vai precisar desta base aliada enorme que destruiu o Estado para ser construída e criou 39 ministérios. Nem a Dilma lembra quais são os ministros. Marina precisa encontrar uma nova funcionalidade.

O que será do PSDB depois da eleição?

Teremos um PSDB estilhaçado, mas tenho a impressão que o partido sairá com governadores e senadores fortes.

Aécio deixará de ser a grande liderança tucana nacional?

Ele voltará ser o que sempre foi: uma liderança do PSDB, mas não mais a ponta da pirâmide. Ideologicamente, o partido aparece com duas pontas: o Alckmin bem mais à direita e o Serra bem mais à esquerda.

Aécio disse que, em caso de derrota, vai para a oposição. Acha que isso vai acontecer?

Tenho a impressão que não. Nem ele nem o PSDB. Ele vai compreender que para fazer o antipetismo é preciso que ele apoie a Marina. Há um fenômeno interessante. O antipetismo está bem instalado na política brasileira hoje. É uma tremenda força. E não venham dizer que é esquerda contra direita.

A pauta evangélica tem grande peso na campanha presidencial. Como avalia isso?

Estamos assistindo à montagem de uma enorme bancada evangélica. Quando há uma crise de Estado, os conflitos religiosos aparecem. Quando não há uma estrutura do poder central organizando a sociedade, Deus aparece como o centralizador. Isso está evidente no Oriente Médio. O avanço evangélico é um sintoma da crise de Estado.

O fato de a Marina ser evangélica pesa nesse sentido?

Isso colabora para que ela venha na onda da salvação da pátria e do Estado.

Por que as manifestações de junho não formaram líderes ou candidatos?

Movimento popular desse tipo é como fogo-fátuo. Ele surge e desaparece. Essas redes sociais são extremamente importantes, mas não criam líderes. As lideranças políticas são, na verdade, formadas pelo processo partidário.

Tortuosos trajetos do dilmês: O Estado de S. Paulo - Editorial

Se algo ficou evidente nos anos de governo Dilma foi a incrível batalha que ela mantém com a língua portuguesa e com o próximo - seja ele quem for. Nestes anos, o País pôde conhecer em detalhes o dilmês, um modo único de falar, que expressa não apenas ideias desconexas, mas evidencia um jeito conflituoso de se relacionar com o interlocutor. Talvez isso explique o fato de, apesar da sua longa vivência política, até 2010 Dilma Rousseff nunca ter disputado nenhuma eleição. Para ela, a comunicação em público e com o público deve ser um tormento. Mas o dilmês não é apenas uma maneira de falar. É também um comportamento que tem caracterizado a sua administração, marcada pelo convívio difícil, se não rude, com seus auxiliares, ações descoordenadas e falhas de harmonia.

Ao ver o projeto de reeleição cada vez mais distante do seu horizonte, e sob a orientação do chefe Lula - que, não de hoje, lhe vem sugerindo para deixar de lado eventuais escrúpulos e afirmar que o seu eventual segundo governo não terá nada a ver com o que se acaba, especialmente em relação à economia -, Dilma na semana passada começou a ceder e disse que, caso a população lhe dê um novo mandato, formará uma outra equipe. "Obviamente, novo governo, novas e necessariamente (sic) atualização das políticas e das equipes." No dia seguinte, surgiu nova oportunidade para seguir a recomendação do chefe Lula e, questionada sobre a permanência do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda, ela respondeu: "Eleição nova, governo novo, equipe nova, agora só não faço uma coisa, não nomeio ministro em segundo mandato". Para todos, inclusive para o principal interessado, ficou certo que Guido Mantega deve continuar à frente do Ministério da Fazenda num eventual segundo mandato.

Naturalmente, Mantega - que é o ministro da Fazenda mais longevo da história recente do País - não ficou lá muito satisfeito com as declarações da presidente. Logo ele, que, sem se preocupar com a imagem pública e muito menos em demonstrar a consistência de seus conhecimentos de economia, leal e submisso, acompanhou Dilma pelos tortuosos caminhos que ela quis trilhar.

Diante do mal-estar criado, a presidente sentiu que era necessário socorrer o seu fiel escudeiro. E então novamente entrou em ação o dilmês. Tratou de explicar que o que havia dito - e todos haviam entendido - não era bem aquilo. Começou com o seu habitual "meu querido" - palavras gentis que, no entanto, significam que a presidente está se paramentando para a batalha e partindo para o ataque. "Meu querido, eu farei uma nova equipe, alguns (ministros) poderão ficar, outros serão renovados." E prosseguiu: "Um governo novo fará uma equipe nova. As pessoas que vão compor essa equipe podem vir do governo anterior, mas é uma nova equipe".

Alguma dúvida sobre o que ela quer agora dizer?

Dias depois, Dilma voltou ao tema - a recorrência é uma prática habitual do dilmês - para dizer que Mantega sairá, mas não por causa de uma mudança nos rumos da economia. Simplesmente "por questões eminentemente pessoais".

Não é de todo estranho que Lula, velha raposa da comunicação, de vez em quando confidencie - não muito confidencialmente - seu arrependimento por ter escolhido Dilma como sua sucessora. De forma não indolor, ele prova agora o mesmo que a população brasileira provou nestes últimos quatro anos: um governo tão confuso quanto a fala de Dilma - aquela confusão que, no início de agosto, a fez assim explicar o porquê das atuais dificuldades do setor energético. "Temos regime hidrológico muito sensível à água."

O trajeto do dilmês não é linear. E os resultados, tampouco. Dilma queria comunicar algo em princípio simples: novo governo, novos rumos para a economia. Mas o fez de forma atabalhoada e sem se preocupar em ferir os sentimentos de Mantega. Muito menos considerou que a demissão extemporânea do ministro da Fazenda provocaria reações entre os agentes econômicos, corroeria ainda mais a credibilidade da duramente criticada política econômica do governo e poderia prejudicar a já abalada economia nacional.

Marina Silva: Qual reforma política?

• Candidata do PSB quer fim da reeleição, unificação do calendário eleitoral e mandatos de cinco anos

- O Estado de S. Paulo

A campanha de Marina Silva (PSB)propõe “elevar progressivamente a responsabilidade dos atores da política” e defende uma reforma que inclua unificação dos calendários de eleições, fim da reeleição, mandato de cinco anos. A seguir, os pontos principais por ela defendidos.

A reforma política, para melhorar a qualidade da democracia, não avança porque não interessa à classe política. Como faria para avançar com essa reforma?

Queremos uma governabilidade programática, não a pragmática praticada atualmente. Ela passa por elevar progressivamente a responsabilidade dos atores da política, sejam os mandatários, os legisladores e, lógico, os cidadãos.

De que forma o seu projeto melhoraria a qualidade da representação política qual é a posição a respeito do voto distrital? Fim da reeleição? Voto obrigatório?`Plebiscito para mudar a constituição?

Nosso programa foi elaborado com intensa participação da sociedade - em seminários, oficinas, reuniões e plataformas digitais. Nele propomos uma reforma política com pontos como unificação do calendário geral das eleições, o fim da reeleição e mandato de cinco anos.

Seu governo defenderia uma participação mais ampla de movimentos sociais e conselhos?

É necessário criar mecanismos de participação que revigorem a democracia representativa, aumentando sua legitimidade. Esses novos instrumentos, no entanto, devem passar pela instância soberana do Parlamento, portador da soberania popular. A política precisa absorver a mensagem de reconectar eleitos e eleitores. A sociedade não quer mais que se façam coisas para ela, mas com ela. Trata-se de aprimorar os canais de diálogo, mas sem se sobrepor ao Legislativo.

Aécio Neves: Qual reforma política?

• O candidato do PSDB defende o fim da reeleição, o voto distrital misto e que exista uma cláusula de desempenho para a atuação partidária

- O Estado de S. Paulo

O presidenciável Aécio Neves (PSDB) pede uma reforma política para ordenar medidas “estruturantes”, como a tributária, voto distrital misto e fim da reeleição. A seguir, as avaliações da candidatura.

A reforma política é prometida há décadas pelos políticos e não avança porque não interessa aos que deveriam aprová-la. Se eleito, como sairia dessa armadilha?

Essa reforma é uma necessidade porque ela é que ordenará as forças e as representações partidárias, e permitirá o debate sobre as reformas estruturantes, como a tributária. Sem partidos vigorosos, sustentados sobre novas bases, os avanços ocorrem de forma improvisada, a conta-gotas.

O que pensa sobre voto distrital? Do fim da reeleição? Do voto obrigatório? De um plebiscito para mudar a constituição?

Defendo três pontos claros. O primeiro, que defendo há muito tempo, é o fim da reeleição, com mandato de cinco anos para todos. O segundo ponto é o voto distrital misto. Metade do Parlamento eleita por distritos, metade por listas partidárias; Para coroar isso, aprovaremos o retorno da cláusula de desempenho com uma carência de uma eleição, talvez duas. Seria possível reduzir o quadro de 22 partidos para sete ou oito.

Os demais partidos continuarão em funcionamento mas para ter acesso a tempo de TV e ao Fundo Partidário, é preciso um porcentual mínimo de votos.

Defenderia uma representatividade mais ampla que a atual, que incluísse a criação de conselhos populares?

A participação popular é fundamental e será incentivada em nosso governo. O que não pode ocorrer é a existência desses conselhos na forma proposta pelo PT, por decreto, ignorando o Congresso.

Dilma Rousseff: Qual reforma política?

• Candidata à reeleição considera "imprescindível um plebiscito" sobre temas como valores, representatividade e combate à corrupção

- O Estado de S. Paulo

A candidata Dilma Rousseff (PT) considera, em seu projeto de reforma política, “imprescindível um plebiscito” sobre temas como valores, representatividade e combate à corrupção, para “urgente transformação” do sistema político. Abaixo as respostas fornecidas por seu comitê de campanha.

A reforma política é prometida há décadas e não avança porque não interessa aos que deveriam aprová-la. Se reeleita, de que modo sairia dessa armadilha?

Esse assunto é prioridade, tanto que está no programa que a campanha apresentou ao TSE. No documento, a coligação defende que essa reforma tem o objetivo de resolver as distorções do nosso sistema representativo. Para assegurá-la, será imprescindível um plebiscito que defina a posição majoritária da sociedade sobre os principais temas: valores, representatividade e combate sem tréguas à corrupção.

De que forma o novo governo melhoraria a qualidade da representação política no País? Por exemplo, qual é a posição a respeito do voto distrital? Fim da reeleição? Voto obrigatório?`Plebiscito para mudar a constituição?

Ao longo dos últimos 12 anos, o Brasil avançou muito em termos sociais e econômicos. Agora, temos de correr na modernização do Estado brasileiro, para tornar os processos de relação entre o Executivo e o Legislativo mais transparentes.

Em um novo mandato, defenderia a ideia de uma representatividade mais ampla que incluísse a participação de movimentos sociais em conselhos?

Nesse esforço permanente de tornarmos o Estado mais ágil, mais transparente e mais próximo das demandas dos diversos segmentos sociais é importante valorizar a consulta. Nós somos a favor da participação de todos os segmentos no processo de estruturação das políticas do governo.

Ricardo Noblat: Dilma faz com Marina o que Collor fez com Lula em 1989

- O Globo

"Eles me agridem. E, quando peço para pararem com mentiras e calúnias, dizem que me faço de vítima" Marina Silva

O que há em comum entre Dilma e Lobinho? Conhecido no passado recente como "Lobinho 10%", o senador Lobão Filho é candidato do PMDB, da família Sarney, de Dilma e de Lula ao governo do Maranhão . Está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto . Perde para Flávio Dino, candidato do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O que há em comum entre Dilma e Lobinho? Aguardem o parágrafo seguinte.

O MEDO DA DERROTA aproxima Dilma e Lobinho . Bem como a principal arma que os dois usam para tentar vencer: a mentir a. Além da mentir a, manipulações, exageros, meias verdades e infâmias . Dilma e Lobão estão por trás das tempestades de críticas que ameaçam afogar Marina Silva (PSB) e Flávio Dino.

FILHO DE EDISON LOBÃO, o ministro de Minas e Energia, citado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras , como envolvido no escândalo de corrupção da empresa, Lobinho acusa Dino de querer implantar o comunismo no Maranhão . Sim, senhor , o comunismo que acabou no mundo. Mas para Lobinho não importa. O poder é o que importa
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É ASSIM TAMBÉM para Dilma, Lula e o PT . Resolução do PT diz que Marina é favorável à liquidação do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do BNDES. Se depender dela, os bancos públicos acabarão esvaziados , o pré- sal perderá importância e a condução da política econômica caberá "a um banqueiro de confiança dos especuladores" . A Petrobras ser á vendida. E aí? Tudo mentir a!

"EU NÃO TENHO banqueiro me apoiando ", afirmou Dilma. Marina é apoiada por Neca Setúbal, dona de 0,5% das ações do Banco Itaú. Neca nunca trabalhou no banco . Há dois anos , quando ajudou Fernando Haddad, prefeito de São Paulo , a fazer seu programa de governo , foi apresentada pelo PT como educadora. Agora que ajuda Marina virou banqueira. E aí?

AÍ QUE DILMA mentiu ao dizer que não tem apoio de banqueiro. Os bancos já doaram R$ 9,5 milhões para a campanha dela. Para a de Marina, menos da metade disso . "Está escrito no programa [d e Marina]: autonomia do Banco Central. Todo mundo sabe o que significa" , disparou Dilma. O programa de propaganda dela na TV sugeriu que autonomia do Banco Central é igual a faltar comida na mesa dos brasileiros .

CURIOSO. EM MAIO de 2010, candidata a presidente contra José Serra, Dilma defendeu a autonomia do Banco Central. Do mesmo jeito como Marina faz hoje. Serra era contra. Nos dois governos de Fernando Henrique , os bancos lucraram, em valores atualizados, R$ 31 bilhões. Nos dois governos de Lula , o pai dos pobres , R$ 200 bilhões em números redondos.

LULA SOFREU O diabo na mão de Fernando Collor ao enfrentá-lo na eleição de 1989. O mínimo que Collor disse dele foi que era aborteiro e racista. Se ganhasse , garfaria a poupança dos remediados. Collor ganhou e garfou a poupança. A corrupção abortou seu mandato pelo meio. Lula e Collor viraram aliados . Dilma admitiu fazer o diabo para se eleger . Marina sofre o diabo nas mãos dela e de Lula .

A SABATINA DO GLOBO, na última sexta-feira, Dilma garantiu que nunca teve afinidade com Paulo Roberto Costa , preso como um dos cérebro s do esquema de corrupção da Petrobras , estimado em R$ 10 bilhões (o mensalão é troco). Paulo Roberto foi convidado de Dilma para o casamento de sua fila em abril de 2008. Lá, encontrou Lula , que o chamava carinhosamente de Paulinho

Valdo Cruz: Dilma e sua ficção real

- Folha de S. Paulo

Peças do jogo pesado da campanha petista contra Marina Silva, os comerciais atacando propostas da principal adversária de Dilma têm, no fundo, tudo a ver com as convicções da presidente.

Em seu formato simplificado de mostrar os pontos fracos de Marina na visão petista, a propaganda dilmista reflete o que foi o seu primeiro mandato no Palácio do Planalto.

Banqueiros são retratados como devoradores de pratos de comida e de emprego dos trabalhadores na peça que ataca a proposta de Banco Central independente. Só faltou dizer que eles comem criancinhas.

Executivos são "flagrados" comemorando quando um narrador diz que a ideia de não priorizar o pré-sal vai tirar R$ 1,3 trilhão da saúde e educação. Afinal, empresário só quer lucrar, que se danem os outros.

Resumos fieis de como banqueiros e empresários da produção foram tratados em boa parte da gestão Dilma --com certo preconceito e ojeriza ao apetite deles pelo lucro.

Banqueiros seguem inimigos da pátria no PT. Empresários do setor produtivo já são mais bem tratados depois que Dilma descobriu que, sem eles, o país não anda e que o Estado não dá conta do recado.

Mas o que vale, hoje, é que o jogo bruto surtiu efeito. Dilma reagiu e Marina parou de crescer nas pesquisas. A ambientalista, porém, pode desenvolver vacinas contra a artilharia pesada do PT, obrigado a usar tal munição cedo demais.

Aí, Marina chegaria mais forte ao segundo turno, o que deve fazer a campanha dilmista subir o tom dos ataques para evitar tal cenário. O risco é errar na dose. Não só este, mas também destruir pontes, já dinamitadas, além do recomendável.

Conhecedores da alma da presidente temem que, reeleita neste clima acirrado, ela pode não sentir necessidade de recompor uma boa relação com políticos e empresários e se achar mais forte e livre para fazer tudo a seu estilo. Bem diferente do que Lula tem prometido por aí.

José Roberto Toledo: Mudar para voltar

- O Estado de S. Paulo

Governadores sentem saudades de 2010. Naquela eleição, a chance de eles voltarem ao cargo pelas urnas era de duas em três. Aí veio 2013 com suas ruas agitadas e tudo mudou. A mesma inquietude que ameaça abreviar a "quadrilogia" que o PT tenta emplacar no Cine Alvorada afeta a bilheteria nos Estados. Reprises e sequências vão sair de cartaz? Quando sim, por filmes ainda mais antigos.

Comparemos o ranking Ibope dos governadores de 2010 com o de 2014 - elaborado pelo instituto a pedido do Estadão Dados.

Em 2010, por esta época do ano, só três governadores tinham saldo negativo na sua avaliação pelos eleitores. O 1.º do ranking tinha 76% de aprovação. Na média dos 27, a taxa de ótimo+bom chegava a 47%, contra apenas 16% de ruim+péssimo - saldo médio de +31 pontos. Tanta popularidade acabou em quebra de recorde: dos 20 que tentaram, 10 se reelegeram já no primeiro turno. Outros três venceram o turno final. Total: 65% de reeleitos.

A eleição de 2014 nos Estados está mais para suspense do que para o romance de quatro anos atrás. Quase triplicou a quantidade de governadores mais mal do que bem avaliados. São sete no vermelho e um na margem de erro. Do último classificado para o menos pior: Rio Grande do Norte (saldo negativo de 63 pontos), Amapá (-44 pontos), Distrito Federal (-34), Mato Grosso (-20), Alagoas (-17), Maranhão e Rondônia (-1) e Roraima (+2).

Não foi só na parte de baixo da tabela que a aprovação dos governadores piorou. Os que estão no azul têm um saldo mais baixo do que tinham quatro anos atrás. Na média das 27 unidades da Federação, a taxa de ótimo+bom dos governadores caiu para 33%, e a de ruim+péssimo subiu para 26%. O saldo médio de popularidade despencou para +7 pontos. É 77% menor do que era.

Primeiro colocado de 2014, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (58% de ótimo+bom menos 9% de ruim+péssimo = +49 pontos de saldo), está mais de 20 pontos abaixo do que era o saldo do mais bem avaliado em 2010. Ele próprio tinha saldo maior há quatro anos do que agora. E os +52 pontos de então deixavam Puccinelli apenas na 5.ª colocação em 2010.

O líder do ranking não é candidato porque já foi reeleito em 2010. Mas a perda de popularidade generalizada não desanimou os governadores em primeiro mandato: 18 são candidatos à reeleição. Embora a quantidade seja semelhante à de quatro anos atrás, há uma diferença fundamental. Em 2010, uma boa colocação no ranking do Ibope era quase certeza de vitória. Não mais.

Dos 13 governadores que tinham saldo de avaliação superior a +30 em 2010, apenas um não se reelegeu. Em 2014, só Beto Richa no Paraná e José Melo no Amazonas se encaixariam nessa faixa. Mas nem mesmo para eles a eleição está garantida. Ao mesmo tempo, Geraldo Alckmin, com apenas +24 pontos de saldo de avaliação em São Paulo, corre livre e pode levar no primeiro turno.

Diminuiu a força da correlação entre popularidade e intenção de voto. Um dos motivos é que um terço dos incumbentes é de vice-governadores que assumiram o governo há pouco tempo. São menos conhecidos e, por isso, muitos eleitores respondem "não sabe" ao avaliá-los. Isso diminui sua taxa de aprovação ou rejeição.

O outro motivo, talvez mais importante, é que muitas das alternativas aos governadores que tentam se reeleger não são renovação. Os incumbentes enfrentam ex-governadores, como Eduardo Braga no Amazonas, Roberto Requião no Paraná e Iris Rezende em Goiás. Quando não é um ex-governador, é seu filho - caso de Helder Barbalho no Pará. É mudar para voltar.

O melhor exemplo vem do Espírito Santo. Atual governador, Renato Casagrande disputa contra o antecessor, Paulo Hartung. Em 2010, Hartung apoiou Casagrande. Agora, o enfrenta. Não importa quem ganhar, os capixabas terão um novo governador antigo.

Renato Janine Ribeiro: A economia sustentável

• Economia de Marina não é a mesma dos tucanos

- Valor Econômico

É curioso que os críticos de Marina Silva ignorem o que deveria ser sua maior contribuição para o debate sobre nossa sociedade - um debate tão importante que vai além da política e foca o modelo de civilização. Aliás, sua própria campanha não enfatiza este ponto, provavelmente para não perder o voto útil de empresários ou tucanos. Falo da sustentabilidade, tal como foi analisada por vários economistas de seu grupo. Sem ela, Marina não traria quase nada de novo.

Quando você compra uma passagem aérea, o estresse causado à natureza pela emissão de gás carbono não está incluído no preço. Você espeta a conta na natureza. Ela a repassa sob forma de El Niño, secas, fome, doença.

A estrutura de produção vigente inclui um cálculo deturpado de custos e preços. O mercado pode fixar estes últimos, mas vários custos são, perversamente, terceirizados. Não são bancados pelos agentes visíveis da economia, produtor, comerciante, consumidor. Mas alguém paga por eles. Pior, esse alguém é um vulnerável. Eu viajo de avião para a Europa, com isso sobe o efeito estufa, a Marginal alaga e favelados perdem tudo. A sequência causal que vai do meu voo até a perda do barraco é tão vaga e remota que torna impossível me mandarem o boleto do estrago que, involuntária e inconscientemente, causei. Mas inúmeros estudos científicos mostram que o aquecimento global produz esse tipo de efeito. Como enfrentar o problema?

Antes de mais nada, precisa haver transparência. Devemos reexaminar os custos envolvidos em qualquer atividade produtiva. O resultado será preocupante. Não se trata aqui de pregação ideológica ou doutrinária, mas de estudos de biólogos, ecólogos e, recentemente, economistas. Todos eles dizem: primeiro, os custos estão mal calculados; segundo, esse mau cálculo traz vantagens ocultas para certas classes ou grupos sociais (enquanto penaliza outros); terceiro, o planeta não pode continuar como está. Não dá para o homem estressar os recursos da natureza como tem feito.

Os recursos naturais são finitos e preciosos. Alguns não são propriamente finitos, como por exemplo a lavoura, mas mesmo ela necessita de nutrientes minerais. Esta, aliás, uma das razões para lidar com o lixo de forma diferente. Ele pode ser riquíssimo em nutrientes, não há sentido em enterrá-los num lixão. Precisam ser recuperados. Certamente isso vai custar caro. Mas esse custo está mal calculado, porque omite que em breve se esgotarão muitos dos recursos minerais que sustentaram o desenvolvimento no último século. Não reciclar os lixos é mais caro do que reciclar.

Quando alguns acusam os projetos sociais de Marina de ambiciosos, estão sendo modestos! A questão não é só ter dinheiro para educação em tempo integral. É mudar todo o nosso modo de viver. Lojistas dos Jardins fizeram várias perguntas, outro dia, a Walter Feldmann, que representava a candidata. Tinham medo do comunismo, mas nem perguntaram o que a candidata pensa do consumismo. Não perceberam que ela quer um novo pacto civilizatório. Provavelmente os lojistas teriam saído mais preocupados do que entraram, mas por outras razões.

Insisto: o custo geral - ou o preço final pago pela sociedade - pelo que se produza e consuma não vai aumentar. Alguém já paga pelo desastre. A ideia sustentável é fazer que o custo se torne preço, a ser pago pelo beneficiário ou usuário do produto que estressou a natureza. É parar de terceirizar os custos, de espetar na sociedade ou nos pobres o custo de bens que outros usufruem. Essa revisão da conta será dolorosa. Alguns produtos passarão a ter preços proibitivos e até sairão de linha. Satisfazer o consumo perdulário poderá ficar tão caro que não esteja ao alcance da maior parte dos bolsos. A carrodependência tem que diminuir. Pode ser contida por várias formas de cobrança. A Rede não quer tributar, mas há outras formas de cobrar. Pode-se cobrar pelo uso das vias, pela circulação no centro expandido, pelo emprego do carro nos horários de rush. A Air France e as ferrovias francesas já dão ao cliente a opção de pagar pelo plantio de árvores que compensem ambientalmente o carbono que o transporte gerou. Um dia, isso será obrigatório. Fará parte do custo e preço do produto. Viajaremos menos.

Daí, muito a debater. Como rever o setor produtivo, que afinal de contas é o "backbone" de nossa sociedade. Como completar a inclusão social, o que demandará mais produtos de uma natureza já extenuada. As dificuldades de como cobrar os custos, se não for pela via do imposto. E a pergunta se nossa sociedade está madura para esta mudança de rumo. É óbvio que não está. Ao mesmo tempo, é óbvio que o tempo urge. Se empurrarmos as coisas com a barriga, o custo - quando for precificado - da correção de rumo se tornará bem mais alto. Mas essa mudança radical na vida tomará tempo, talvez muito tempo.

Engana-se quem vê em Marina apenas a candidata do tripé ou do setor financeiro ou uma fadinha perdida na floresta. Há um projeto sério aí, certamente incompleto, talvez contraditório ou prematuro, mas há. Uma mudança é proposta, que no entender do Rede pode e deve ser executada rigorosamente dentro dos quadros do capitalismo, mas mesmo assim alterará muito, em termos de cultura.

Tudo isso pode ficar nas intenções. Um mandato não dará para tanto. Mas Marina não é Aécio. Cometerá um erro histórico, caso eleita, se fizer simplesmente a política econômica dos tucanos. E também errará quem apostar que o projeto dela é o deles.

PS - Para refletir sobre estes pontos, um bom começo é o livro de Ricardo Arnt, "O que os Economistas Pensam Sobre Sustentabilidade".

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo

Paulo Brossard: Corrupção deslavada

- Zero Hora (RS)

No depoimento prestado em "delação premiada", pela qual pretendeu reduzir sua pena e deixar a prisão, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras citou 32 parlamentares federais, um governador, envolveu cinco partidos, incluindo os dois maiores, como supostos beneficiários de inédito esquema de propinas, pactuado até bem pouco, com a maior empresa da América do Sul. Mercê de convenção, os comanditários participavam de 3% do valor de contratos celebrados pelo referido serviço da Petrobras.

Falando claramente, em todas as aquisições efetuadas, algumas pessoas eminentes, a começar pelo presidente do Senado, teriam passado a auferir os 3% do valor das compras. Há muitas variedades forjadas pela astúcia humana, mas esta parece inédita. A que título 80 pessoas referidas são contempladas com os 3% em tela?

Não há precedente na administração pública. Em verdade, na linguagem legal do Direito Penal, não se encontrará o emprego do adjetivo malfeito como sinônimo de delito. No entanto, a presidente da República, aliás, em campanha por sua reeleição, parece confundir o substantivo crime com o adjetivo "malfeito", como se fossem sinônimos. Logo após a revelação do fato, em manchete um dos nossos maiores matutinos estampou palavras suas "nunca soube dos "malfeitos" da Petrobras" (sic).

Deliberadamente ou não, mediante a espúria e pretendida equivalência entre os dois vocábulos, fosse na tentativa de dar-lhe foros de cidade, o que, aliás, seria inaceitável, ou outra suposta exegese, a enxertia se revelou inepta. No entanto, saliente-se que, na tradição do Direito Público, em qualquer dos seus ramos, jamais se admitiu que o substantivo "delito" fosse tomado como sinônimo do adjetivo "malfeito" e vice-versa, o que em linguagem quer dizer mal concebido ou mal executado.

Afinal deslocar 3% de uma despesa estatal para a algibeira de 80 beneficiários de alta expressão seria inconcebível qualquer que fosse o ângulo de apreciação.

Um fato é inequívoco, nunca antes na história deste país, a corrupção foi tão deslavada como nos últimos 12 anos.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Octávio Costa: Esta é a última reeleição?

- Brasil Econômico

Em entrevistas, Marina Silva e Aécio Neves garantiram que são contrários à reeleição dos presidentes da República. Não consideram que a fórmula em vigor desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso em 1998 seja a ideal para a vida política do país. Apesar das críticas, não assumiram compromisso com a mudança constitucional. Ambos deixaram a impressão de fazer pura retórica eleitoral. Promessas de campanha e nada mais. O que é uma pena. A experiência não tem sido favorável à reeleição. Além do desgaste do governante na luta pela garantia da vitória, os últimos quatro anos de exercício do poder dificilmente mostram a vitalidade dos primeiros quatro. Na metade do último mandato, o clima, seja nos estados seja no Planalto, é de decadência. De fim de festa.

Mas, por enquanto, o direito de se reeleger existe e a presidente Dilma Rousseff não abriu mão de exercê-lo. Enfrentou a resistência de grupos políticos próximos ao ex-presidente Lula, que preferiam não correr riscos e apostavam no carisma do chefe. Mas Dilma se impôs, sem abrir mão de sua vez. O próprio Lula tratou de matar pela raiz a conspiração dos companheiros mais exaltados. E usou um argumento decisivo. Afirmou que, sair candidato no lugar de Dilma, seria o mesmo que admitir erro ao indicar sua ministra da Casa Civil para a sucessão em 2010. Seria admitir que sua afilhada política não foi bem no cargo máximo da Nação. O melhor a fazer, na visão de Lula, é apoiar Dilma agora e aplainar o terreno para o retorno triunfal em 2018. É o que ele está fazendo.

Temos, então, Dilma em busca do novo mandato. Até a morte de Eduardo Campos, parecia tarefa fácil. Ela tinha tudo para repetir os feitos de FH em 1998 e de Lula em 2006. Despontava como favorita absoluta. Mas tudo mudou com a tragédia aérea de Santos, há um mês. Da noite para o dia, Marina Silva, que já surpreendera na eleição de 2010 com 20% dos votos, entrou na disputa com força suficiente para tirar o sono de Dilma. Basta ver o que está acontecendo na Escócia para entender a batata quente que caiu nas mãos da presidente. Acomodados à união com escoceses há 307 anos, os ingleses, de repente, enfrentam a ameaça de ver o Reino Unido perder um terço de seu território. Entraram em desespero e estão movendo mundos e fundos para garantir a vitória do Não à independência da Escócia no plebiscito da próxima quinta-feira. O PT está vivendo o mesmo desassossego. Instalado no poder há 12 anos, o partido trabalha com horizonte mais longo. Pretende ficar no Palácio do Planalto até 2022, com novos mandatos de Dilma e Lula.

E, a exemplo dos líderes ingleses, vai fazer tudo que for necessário. Dilma Rousseff também não quer entrar para a história como a primeira presidente após a volta da democracia que não conseguiu ser reconduzida. Nos Estados Unidos, o democrata Jimmy Carter leva este carimbo nas costas ainda hoje, e o republicano George Bush (pai) também sofre a mesma humilhação. Entende-se o esforço de Dilma e do PT para desconstruir a imagem de Marina Silva e afastar o fantasma da derrota. Os ataques são pesados e vão continuar. Se Lula em2006 só fazia campanha fora do expediente e nos fins de semana, hoje é impossível separar a Dilma candidata da presidente Dilma. O Palácio da Alvorada transformou-se numa trincheira política. A reeleição é uma questão de honra.

Representação distorcida: O Globo - Editorial

Chave no regime de democracia representativa, a estrutura partidária condiciona bastante a qualidade do próprio regime. Fio condutor principal das demandas da sociedade ao Congresso, o partido, quanto mais legítimo e fiel às bases, com as quais deve manter constante relação de troca, melhor.

Não é coincidência as mais sólidas democracias estarem assentadas em partidos consolidados, de fácil identificação com seu eleitorado e donos de programas transparentes. Do presidencialismo americano ao parlamentarismo monárquico britânico, há vários exemplos.

O tempo de maturação dos regimes tem importância. Os quase trinta anos ininterruptos de democracia, desde a volta dos civis ao poder, em 1985, são o mais longo período de estabilidade institucional, sem rupturas, experimentado pelo Brasil em 125 anos de República.

Não é muito tempo. Mas a constatação não pode servir de justificativa para distorções que persistem, desde o restabelecimento legal das liberdades, com a promulgação da atual Constituição, em 1988.

Uma dessas distorções é a pulverização excessiva de partidos com representação no Congresso — hoje, mais de 20. Ao todo, 32. Com a Rede, iremos a 33. Convenhamos, não há tantas correntes político-ideológicas e programáticas assim, não só no Brasil, como no planeta.

Promulgada a Carta, houve uma corrida para a legalização e criação de partidos. Tudo muito compreensível, depois de duas décadas de ditadura militar.

A fragmentação excessiva da estrutura partidária levou à aprovação, em 1995, de uma cláusula de barreira ou de desempenho, para que os partidos pudessem contar com bancada no Congresso e respectivas prerrogativas. A regra entraria em vigor em 2002, tempo suficiente para as legendas se adaptarem à norma. Por meio de fusões, por exemplo. Passaria a ser necessário atrair no mínimo 5% do votos válidos nacionais, na eleição de deputados, sendo, também no mínimo, 2% em nove estados. Nada que não houvesse sido testado, com êxito, em democracias parlamentaristas estáveis europeias.

Em 2006, porém, o Supremo Tribunal, acionado por partidos nanicos, derrubou a cláusula, por inconstitucional, sob a alegação de que impediria grupos políticos minoritários na sociedade de se expressar. Grave engano.

Se a democracia é representativa, merecem espaço nas Casas legislativas aqueles que de fato representam parcelas ponderáveis da sociedade. Como não é assim, proliferam legendas de aluguel, sempre dispostas a literalmente vender tempo da propaganda dita gratuita e o apoio parlamentar. O mensalão serve de prova. Dificulta-se a constituição de alianças para dar suporte aos governos, e com isso facilita-se o fisiologismo. Eis por que o governo Dilma tem 39 ministérios, quase todos loteados entre partidos. Sem considerar escândalos como o da Petrobras, cuja origem também é fisiológica.

Antonio Machado: Caminante no hay camino

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.