sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

É triste o que disse a presidente sobre propor diálogo com um grupo [EI] que está decapitando pessoas. Infelizmente, também em relação à política externa a presidente deixa péssimos exemplos para o seu sucessor.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República. Entrevista em Porto Alegre, 25 de setembro de 2014.

Costa diz que recebeu US$ 23 milhões de empreiteira no exterior

• Ex-diretor diz ter recebido US$ 23 milhões de empreiteira para facilitar contratos com estatal

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, disse ter recebido US$ 23 milhões (R$ 55,2 milhões) de uma empreiteira para facilitar contratos dessa empresa com a estatal. O ex-diretor deu a informação num dos cem depoimentos que já prestou depois de assinar o acordo de delação premiada, revelou ao GLOBO um dos investigadores da Operação Lava-Jato. O ex-diretor também confessou ter recebido US$ 1,5 milhão (R$ 3,6 milhões) para "não atrapalhar" a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, transação que resultou em prejuízos para a Petrobras.

Os US$ 23 milhões estão bloqueados em 12 contas bancárias na Suíça e deverão ser repatriados ao Brasil ao longo dos processos abertos a partir de descobertas da Lava-Jato, investigação sobre supostas fraudes dos grupos de Costa e do doleiro Alberto Youssef, entre outros acusados. Costa contou ainda que a comissão de US$ 1,5 milhão que recebeu por conta da refinaria Pasadena foi paga por um intermediário de um dos grupos envolvidos no negócio. O nome de quem pagou a propina está sendo mantido em sigilo.

STF pode abrir inquéritos
A série de depoimentos de Costa começou em 29 de agosto e terminou semana passada. Ao todo, o ex-diretor prestou cem depoimentos a procuradores da força-tarefa que estão à frente das investigações. Depois de fazer um amplo painel sobre a corrupção na Petrobras, Costa foi chamado para explicar detalhes de cada uma das delações que fez em troca de redução de pena. Os depoimentos foram criptografados e enviados ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Na próxima semana, o ministro deverá decidir se abre ou não inquérito contra os parlamentares acusados pelo ex-diretor.

Costa denunciou a empreiteira ao explicar o papel que teve na intermediação de contratos dela com a Petrobras. Ele apontou os contratos onde teriam ocorrido as irregularidades e indicou como recebeu os US$ 23 milhões.

Costa revelou um detalhe que deixou os procuradores surpresos. Ele disse que recebeu os US$ 23 milhões sem a habitual ajuda do doleiro Alberto Youssef. Teria sido uma "comissão por fora", sem que o doleiro soubesse. Ele e Youssef operavam juntos. Costa fazia a intermediação de contratos e Youssef se encarregava da movimentação do dinheiro. Mas alguns negócios de Costa eram tocados por duas filhas e dois genros.

Antes mesmo da prisão de Costa, os investigadores já tinham recebido informações sobre pagamentos da empreiteira ao ex-diretor na estatal.

Costa decidiu fazer acordo de delação premiada no final de agosto, depois que PF e Ministério Público fecharam o cerco sobre os negócios das filhas e dos genros. Ele teve receio de ver as filhas presas e resolveu abrir o jogo. A confirmação das denúncias poderá livrar Costa de futuras penas de prisão.

Doleiro cita mais políticos em esquema

• Youssef também dá nomes de operadores de alguns partidos, e não apenas do PP

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Na primeira conversa que teve com investigadores da Operação Lava-Jato depois de fazer acordo de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef abriu o jogo e confessou ter feito caixa dois, movimentação não declarada de dinheiro, para o PP (Partido Progressista). Numa demonstração de que está mesmo disposto a colaborar com a Justiça, Youssef citou nomes já delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e fez referências a outros políticos que não teriam sido mencionados até o momento no escândalo da Operação Lava-Jato, segundo revelou ao GLOBO um dos investigadores.

Depoimentos iniciam segunda
Youssef denunciou fraudes e indicou os supostos envolvidos na Petrobras e em outras áreas da administração pública ao acertar as cláusulas do acordo de delação premiada assinado com o Ministério Público Federal, na quarta-feira. A série de depoimentos formais da delação só começa na próxima segunda-feira.

No primeiro encontro com a força-tarefa do MP, o doleiro fez uma explanação geral das irregularidades que pode denunciar e mencionou nomes de políticos, operadores de alguns partidos (e não apenas do PP), e contratos supostamente fraudados.

A base do acordo é a produtividade. Quanto maior o volume de informações seguras oferecidas pelo doleiro, maior será a redução de suas futuras punições. Parte das informações fornecidas pelo doleiro coincide com relatos de Paulo Roberto Costa. Pelas investigações do Ministério Público Federal e da PF, os dois fizeram vários negócios em conjunto. Costa fazia a intermediação dos contratos. Youssef se encarregava da lavagem do dinheiro. Mas já está claro para os investigadores que eles tinham também negócios em separado.

Ao final da série de depoimentos, os investigadores deverão confrontar as informações do doleiro e do ex-diretor. Se for necessário, os dois serão submetidos a uma acareação. Youssef prometeu também apresentar provas ou, em alguns casos, indicar como cada informação poderia ser checada. O doleiro decidiu fazer acordo de delação depois de passar seis meses preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Segundo advogados, Youssef não suportou a pressão da família.

Ele também se viu sem saída depois que Costa e pelo menos mais quatro outros cúmplices decidiram colaborar com a Justiça e contar detalhes dos negócios dele. Entre os colaboradores que entregaram parte dos segredos do doleiro está a contadora Meire Poza e o advogado Carlos Alberto Pereira, ex-administrador da GFD Investimentos, uma das principais empresas de Youssef.

- Ele estava cercado de delatores - disse o advogado Antônio Figueiredo Basto, ao explicar a decisão de Youssef pelo acordo de delação premiada.

MP pede condenação de 8 réus
Ontem, o Ministério Público Federal pediu a aplicação de uma pena de 47 anos e 15 dias de prisão para a doleira Nelma Kodama, parceira de Youssef. Foi o primeiro processo da Operação Lava-Jato que chegou na fase de alegações finais. Os procuradores pediram a condenação de oito réus. Luccas Pace Júnior está entre eles, mas, como foi o primeiro delator a ter a colaboração homologada pela Justiça, o MP pede que sua eventual pena seja cumprida em regime aberto.

Nelma era uma das operadoras de câmbio negro do esquema desmontado pela Polícia Federal. Ela foi presa na véspera da operação com 200 mil euros na calcinha tentando embarcar no aeroporto de Guarulhos (SP) rumo a Milão, na Itália.

Dilma soube em 2009 de problemas em refinaria, mas caso foi arquivado

• Denúncia foi repassada à CGU, que alegou falta de pessoal para investigar

Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - Documentos obtidos pelo GLOBO revelam que a presidente Dilma Rousseff foi informada em 2009 sobre "indícios de irregularidades graves" nas obras da refinaria Abreu e Lima, quando era ministra da Casa Civil. Na época, ela pediu para a Controladoria Geral da União (CGU) apurar o caso, mas o processo acabou arquivado sem punir ninguém.

A CGU apenas requereu informações da Petrobras sobre os indícios de superfaturamento apontados em auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e mandou o processo ao arquivo em janeiro de 2014, sem qualquer avanço. Outro processo havia sido arquivado pela CGU em 2012. Ontem, o Palácio do Planalto afirmou ao GLOBO que a CGU "acompanha" as deliberações do TCU e as providências adotadas pela Petrobras.

A CGU deu duas justificativas para arquivar o processo que tem como origem informações levadas a Dilma. A primeira foi o "avanço físico" das obras em Pernambuco, com 80% da refinaria construída até o dia do arquivamento. A outra foi uma nota informativa elaborada pela área técnica da CGU responsável por acompanhar os processos da Petrobras.

Na nota, consta a informação de que a CGU tem apenas três servidores - "incluindo o chefe de divisão" - para planejar e executar ações de controle da Petrobras, da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Secretaria de Petróleo do Ministério de Minas e Energia. Por isso, auditorias em obras como Abreu e Lima não recebem prioridade, diz a área técnica. O documento foi elaborado em 7 de janeiro de 2014. O arquivamento do processo ocorreu dois dias depois.

Em campanha pela reeleição, Dilma adotou o discurso de que precisa ter acesso às denúncias do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso no Paraná, para adotar medidas administrativas. Também costuma exaltar o trabalho da CGU, que passa por uma crise de desinvestimento e falta de pessoal, exposta pelo próprio ministro, Jorge Hage. O esquema de Costa passava por contratos de Abreu e Lima. Quando teve a oportunidade de investigar, o governo de Dilma em nada avançou.

Suspeita já na terraplanagem
A suspeita de irregularidades graves informada à então ministra se referiam a um dos primeiros apontamentos feitos pelo TCU, ainda na fase de terraplanagem. O consórcio de empreiteiras responsável teria se beneficiado de um superfaturamento de R$ 59 milhões, segundo auditoria.

O TCU enviou ofícios tanto para o presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, senador Fernando Collor (PTB-AL), quanto para a ministra Dilma, em julho de 2009. Em agosto do mesmo ano, Collor enviou ofício a Dilma sobre o tema. No mês seguinte, a Casa Civil repassou o caso à CGU para a abertura de processo. O arquivamento ocorreu em janeiro de 2014. Com a polêmica sobre o voto favorável de Dilma à compra da refinaria de Pasadena, no Texas, e novas denúncias contra a estatal, a CGU desarquivou o caso em 15 de maio. Não se sabe qual encaminhamento foi dado desde então.

Outro processo sobre a refinaria teve tramitação semelhante na CGU. Em 2010, o então presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), repassou ao governo informações sobre irregularidades apontadas pelo TCU. Dois anos depois, foi tudo ao arquivo. Assim como no outro caso, em maio último o processo foi desarquivado.

O órgão de controle da Presidência tem demorado a levar adiante investigações. No caso de Pasadena, a CGU abriu investigação em dezembro de 2012. Trocou correspondências com a Petrobras por seis meses, e o processo ficou parado até abril de 2014, quando foi apensado a um novo.

O Palácio do Planalto afirmou que a CGU tem investigações em andamento sobre a Petrobras. Em relação à refinaria de Pasadena, diz que o relatório está "em conclusão" e poderá resultar "na apuração de responsabilidades de agentes públicos e empresas". Sobre Abreu e Lima, afirmou apenas que a CGU "acompanha as deliberações do TCU em relação às obras e as providências adotadas pela Petrobras". O Planalto destacou que há investigações em andamento sobre a atuação da Petrobras em "diversas frentes".

Em nota, a CGU informou que os processos que instaurou em 2009, 2012 e 2013 não eram auditorias. Os processos, segundo a CGU, foram abertos apenas para monitorar o atendimento pela Petrobras do que fora determinado pelo TCU.

"Em razão da elaboração de novos acórdãos do tribunal em 2013, a CGU arquivou os processos de monitoramento anteriores (por estarem desatualizados) e autuou novos processos, incorporando o diagnóstico atualizado do TCU. Assim, não houve prejuízo para o trabalho de monitoramento feito pela CGU ou perda de continuidade no objeto pretendido", diz a nota.

Aécio: 'muita gente vai tremer com delações'

• Tucano diz que Dilma deve desculpas aos brasileiros e compara Marina com torcedor que mudou de time

Flávio Ilha e Diogo Brondani* - O Globo

PORTO ALEGRE, SANTA MARIA (RS) E CAXIAS DO SUL (RS) - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse ontem em Porto Alegre que a delação premiada do doleiro Alberto Youssef, negociada com o Ministério Público Federal, vai fazer muita gente "tremer, e muito" com a possibilidade de que outros diretores da Petrobras sejam citados em denúncias de corrupção na estatal.

Aécio afirmou que é difícil acreditar que a presidente Dilma Rousseff não soubesse da corrupção nos negócios envolvendo a estatal, "uma empresa que ela comandou com mão de ferro". Segundo o tucano, Dilma perdeu a oportunidade de remontar a direção da empresa quando assumiu a Presidência e, sob esse aspecto, "tem responsabilidade, sim".

- A minha percepção é de que a coisa é muito mais grave do que está sendo noticiado. Tem muita gente por aí que treme, e muito, com essas delações premiadas e inclusive com uma declaração do diretor preso (Paulo Roberto Costa) em relação à participação de outros diretores da empresa. Não foi um fato isolado, não foi uma célula dentro da empresa. Essa coisa funcionou de forma orgânica dentro da Petrobras ao longo de todo esse governo do PT. Será que dá para acreditar que a presidente Dilma não sabia? - atacou Aécio.

O candidato tucano disse também que a presidente deve desculpas aos brasileiros "pela governança trágica e perversa" que se estabeleceu na Petrobras e anunciou que pretende, se eleito, "reestatizar" a empresa.

Aécio aproveitou para ironizar o discurso anticorrupção da presidente.

- O que a presidente gosta de chamar de malfeitos é, na verdade, um desvio semântico. É pouco para expressar a roubalheira que se estabeleceu dentro da nossa maior empresa - afirmou.

Aécio falou da decisão de anteontem do TCU sobre a refinaria Abreu e Lima:

- É um susto por dia. O Tribunal de Contas da União - não sou eu, não é a oposição - avaliou que houve também superfaturamento em obras na refinaria Abreu e Lima, algo que já denunciávamos lá atrás. É como se os escândalos sucessivos não bastassem.

Ao participar de uma sabatina no Grupo RBS, Aécio usou uma metáfora futebolística para criticar Marina Silva (PSB). Ele comparou a ex-senadora a um torcedor que muda de time.

- Eu vi Marina aqui no Rio Grande do Sul com ataques duros ao PT. Imagino o que achariam os gaúchos de um torcedor que ficou 24 anos como colorado, daí não conseguiu ser presidente e aparece em um Gre-Nal com camiseta do Grêmio. Ou de um gremista que vira colorado - afirmou.

Em campanha ao lado da candidata ao governo do Rio Grande do Sul pelo PP, Ana Amélia Lemos, Aécio voltou a falar de fator previdenciário.

- Nossa proposta não mudou um milímetro sequer. Vamos substituir o fator previdenciário por outro mecanismo que não puna a renda dos aposentados - garantiu.

O tucano voltou a defender "uma discussão franca e profunda" com as centrais sindicais para encontrar "uma alternativa" ao fator previdenciário, que considera perverso aos aposentados. Mas sinalizou que deverá manter, se eleito, algum instrumento de redução do poder de compra das pensões, como forma de minimizar o rombo da Previdência.

- Vamos discutir uma alternativa que não seja tão vigorosa como a que vem sendo usada - disse Aécio.

Crítica ao discurso de dilma na ONU
Aécio se disse estarrecido com as declarações de Dilma na ONU anteontem:

- Em primeiro lugar, ela utilizou um espaço do Estado brasileiro para fazer campanha política. A História se lembrará daquele momento do discurso da presidente na ONU. Ela esqueceu onde estava, para quem falava, para fazer propaganda para o horário eleitoral. Um dia triste para o Brasil.

Num roteiro que incluiu cinco cidades nos três estados da Região Sul num único dia, Aécio também foi a Caxias do Sul (RS), Santa Maria (RS), Blumenau (SC) e São José dos Pinhais (PR). A estratégia para contornar atrasos incluiu comícios relâmpago, cancelamentos e muita correria - inclusive com sinais vermelhos furados.

Em Santa Maria, Aécio fez um discurso de um minuto na praça central, num carro de som improvisado, além de uma caminhada de dez minutos. Em Caxias do Sul, a caminhada foi substituída por uma carreata imprevista, que teve apenas dois carros e uma moto. O comício foi cancelado. 
(* Especial para O GLOBO )

Dilma usou discurso na ONU para fazer campanha, diz Aécio Neves

- Folha de S.Paulo

SÃO PAULO - Candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves se disse "estarrecido" com a participação da presidente Dilma Rousseff na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

Para o tucano, Dilma "utilizou um espaço do Estado brasileiro para fazer campanha política".

"A história se lembrará daquele momento do discurso da presidente à ONU em que ela esqueceu onde estava, para quem falava, para fazer propaganda para o horário eleitoral. Um dia triste para o Brasil", disse o candidato nesta quinta-feira (25), em Porto Alegre.

No discurso em questão, na quarta-feira (24), a presidente abordou temas de política interna que vem explorando na campanha eleitoral, como resultados de políticas sociais e ações na economia.

Aécio também mencionou a citação que Dilma fez no discurso ao atualconflito entre os EUA e a facção radical EI (Estado Islâmico). Na ocasião, a presidente afirmou que o "uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos".

"A presidente propõe diálogo com um grupo [EI] que está decapitando pessoas. Infelizmente, também em relação à política externa a presidente deixa péssimos exemplos para o seu sucessor", afirmou o tucano.

Economia
O senador e ex-governador de Minas Gerais reiterou que irá "fazer o Brasil voltar a crescer e gerar empregos de qualidade". Disse que "nenhuma candidatura consegue construir o clima de resgate da credibilidade do Brasil como a nossa" e sugeriu que o país esteja hoje "no buraco".

"No primeiro momento, a gente tem que assumir o governo para ver o tamanho do buraco. [...] Vou fazer uma analogia aqui do que está acontecendo com o Brasil. Se você está dentro do buraco, a primeira coisa que você tem que fazer para sair do buraco é parar de cavar. É eleger o PSDB. Mais ou menos isso", disse.

Aécio volta a criticar gestão da Petrobras: "A presidente tem responsabilidade"

• Em entrevista marcada por ataques aos principais adversários, candidato negou mudança de posição sobre o fator previdenciário

- Zero Hora (RS)

PORTO ALEGRE - Em entrevista na manhã desta quinta-feira marcada por críticas às adversárias Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, negou que tenha alterado sua proposta sobre o fator previdenciário, um mecanismo criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para desestimular aposentadorias precoces. Em sua participação no Painel RBS Especial Eleições, ele prometeu estudar, com as centrais sindicais e o Congresso, uma alternativa que atenda aos interesses dos beneficiários sem comprometer as contas públicas.

– Nossa proposta não mudou um milímetro sequer. Vamos substituir o fator previdenciário por outro mecanismo que não puna a renda dos aposentados – garantiu.

Durante a conversa de uma hora com os jornalistas Rosane de Oliveira, Carolina Bahia e Moacir Pereira, o tucano fez duros ataques às duas primeiras candidatas mais bem posicionadas nas pesquisas. Quando mirou Marina, Aécio explorou o que considera fragilidades na trajetória da candidata. Ele recordou a ligação da ambientalista com o PT e criticou as mudanças de posição dela, uma referência indireta, por exemplo, à alteração do plano de governo na questão LGBT e às trocas de partido.

– Eu vi Marina aqui no Rio Grande do Sul com ataques duros ao PT. Imagino o que achariam os gaúchos de um torcedor que ficou 24 anos como colorado, daí não conseguiu ser presidente e aparece num Gre-Nal com camiseta do Grêmio. Ou de um gremista que vira colorado – afirmou.

O alvo, contra os petistas, foi a corrupção. O candidato lembrou o escândalo da Petrobras e criticou o mau uso das verbas públicas em obras de infraestrutura.

– Estarei no segundo turno para vencer o PT e iniciar um novo ciclo, onde a ética e a decência vão vigorar – assegurou.

O tucano se comprometeu a renegociar as dívidas dos Estados e citou a aliança com a candidata do PP ao governo do Rio Grande do Sul como uma das que "mais lhe agrada".

– Fizemos uma proposta no Congresso Nacional de mudança do indexador da dívida – disse. – Defendo que uma parcela do pagamento da dívida com a União fique nos Estados para investimentos em obras acordadas com a União – acrescentou.

O tucano também garantiu investimentos em infraestrutura no Rio Grande do Sul, como no Porto de Rio Grande, e em Santa Catarina, como na BR-101. No tema economia, Aécio prometeu, se eleito, a simplificação do sistema tributário, a previsibilidade para que "as pessoas saibam quais as regras de reajuste de preços" e a meritocracia.

– Estamos vendo algo inédito nesta eleição. Um candidato da oposição sinaliza quem será o seu ministro da Fazenda, se eleito (sobre anúncio de Aécio de que Armínio Fraga assumiria a pasta), e a candidata à reeleição sinaliza o ex-ministro (sobre declaração de Dilma de que Mantega não fica em um segundo mandato) – apontou.

Na entrevista, o tucano ainda defendeu uma reforma política e alegou "ter liderança no Congresso para negociar". Ele sinalizou para o voto distrital misto, o fim da reeleição com mandato de cinco anos para todos os cargos eletivos e criticou o atual número de partidos políticos. No segundo bloco do programa, Aécio baixou o tom das críticas às adversárias quando questionado sobre como conciliava a campanha eleitoral com a questão familiar.

– Pelo WhatsApp. Vou compensar depois do segundo turno – respondeu.

Aécio foi o quarto entrevistado da série de painéis com os presidenciáveis. A candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva, foi entrevistada em 4 de setembro. Luciana Genro (PSOL) participou do Painel RBS em 28 de agosto, e a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, foi a primeira participante da iniciativa.

Aécio condena discurso de Dilma na ONU

• Para candidato do PSDB, presidente utilizou o espaço na Assembleia Geral da entidade 'para fazer política eleitoral'

Lucas Azevedo - O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, condenou o uso eleitoral do discurso da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, nessa terça-feira, na ONU. "A presidente utilizou o espaço para fazer política eleitoral."

A declaração foi dada durante coletiva na sede da RBS, filiada da Rede Globo, no Rio Grande do Sul, na manhã desta quinta-feira, 25. Aécio participou de uma entrevista a jornalistas da empresa, que foi transmitida ao vivo por rádio e que será veiculada pela televisão posteriormente.

Ao fim da gravação, Aécio foi questionado por outros jornalistas, a quem declarou: "É triste o que disse sobre propor diálogo com o um grupo que está decapitando pessoas. Essa não é a política externa do Brasil".

Aécio se referiu à resposta que a presidente deu a jornalistas, na ONU, sobre qual posição do seu governo em relação aos ataques iniciados pelos EUA na Síria. "Eu lamento enormemente isso. O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, é o acordo e a intermediação da ONU. Eu não acho que nós podemos deixar de considerar uma questão - nos últimos tempos, todos os grandes conflitos que se armaram tiveram uma consequência: perda de vidas humanas dos dois lados", declarou a presidente.

Petrobrás. O tucano também aproveitou para criticar o escândalo de desvios de dinheiro envolvendo a Petrobrás revelado pela Operação Lava Jato, da PF. Ele disse torcer para que delações premiadas negociadas com os investigados pela operação sejam "feitas de uma vez só". "Meu pressentimento é que essa coisa seja muito mais grave do que é noticiado", disse o candidato ao comentar o acordo firmado entre o Ministério Público e o doleiro Alberto Youssef, preso desde março sob acusação de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobrás.

O doleiro é mais um a decidir por colaborar com a Justiça. O ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, também preso, aceitou fazer a delação. Aécio Neves disse não acreditar que a presidente Dilma Rousseff não tivesse conhecimento do que ele chama de "aparelhamento" da Petrobrás. "Isso não foi uma célula dentro da empresa. Essa coisa funcionou de forma orgânica na Petrobrás durante todo o governo do PT", afirmou em coletiva à imprensa.

"Dizer que ela não sabia o que estava acontecendo em uma empresa em que ela administrava com mão de ferro, primeiro como ministra de Minas e Energia, depois como presidente, e ela não mudar o quadro de diretores? Isso é inaceitável."

Dilma acusa de ‘extremamente conservadora e neoliberal’ política econômica de Marina

• Presidente e candidata à reeleição fez campanha na Bahia um dia depois de discursar em evento da ONU

Rodrigo Aguiar - Agência A Tarde

FEIRA DE SANTANA (BA) - A presidente Dilma Rousseff (PT) disse em evento de campanha na Bahia no início da tarde desta quinta — um dia depois de discursar na abertura da assembleia da ONU — que sua adversária Marina Silva (PSB) é "extremamente conservadora e neoliberal" e que fala sobre ajuste fiscal, mas que não explica nem diz de onde vai cortar. Chegou a dizer que abordar o tema de “ajuste fiscal” nesse momento é uma ação “eleitoreira”.

- Marina tem um modelo de política econômica extremamente conservadora e neoliberal. Ela não só pretende atender, prioritariamente, os bancos - como, no caso, deixou claro no programa dela de independência do Banco Central - como já falou em flexibilizar direitos trabalhistas, já falou em reduzir o papel dos bancos públicos e se reduz esse papel, não tem Minha Casa Minha Vida, não tem programa de agricultura familiar, financiamento pra indústria, não tem emprego - disse ela, acrescentando que não acredita em choque fiscal.

No início do mês, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), da tribuna da Casa, disse que Marina se transformou numa “FHC de saias”, que esconde “debaixo do xale o que tem de mais conservador que há no país”

De acordo com Dilma, "o Brasil não está desequilibrado".

- Não é necessário da forma que a candidata (Marina) diz que fará, pois o Brasil não está desequilibrado, não tem crise cambial. O Brasil passa, como o resto do mundo, por um processo de crise que nós não combatemos igual a eles (outros países) e sim garantindo emprego e investimento - afirmou a presidente, pouco antes de participar de carreata no município de Feira de Santana, segundo maior colégio eleitoral da Bahia, a 108 quilômetros de Salvador.

Segundo ela, se alguém propõe um ajuste fiscal tem que mostrar onde vai cortar.

- Vai cortar o quê, os programas sociais, o bolsa família? Choque fiscal é o quê?um baita ajuste que se corta tudo para pagar juros dos bancos? Não é necessário. O Brasil tem uma das menores dívidas líquidas sobre o Produto Interno Bruto do mundo, 34%. Todo o resto do mundo tirando uns seis países, tem dívida líquida acima de 100% ou perto de 100%. Focar falando de choque fiscal é uma forma perigosa e eleitoreira - declarou.

Para Dilma “o grande problema da candidata é que ela diz uma coisa num dia e no outro diz outra". Provocada, a presidente negou que estivesse atacando a adversária na campanha e disse que Marina se faz de vítima:

- Eu não estou atacando a candidata. estou discutindo as propostas. Agora, ela é que se vitimiza.

Questionada sobre o suposto esquema de desvios de dinheiro do Fundo de Combate à Pobreza pela ONG Instituto Brasil para abastecer campanhas do PT na Bahia, a presidente Dilma disse que as denúncias devem ser investigadas e os responsáveis punidos desde que existam provas.

- Todas as respostas já foram dadas. As denúncias existem para serem investigadas e os responsáveis condenados e presos - disse, ponderando que “as pessoas têm direito a defesa”.

- É fundamental ter provas. Caso contrário se mistura quem é honesto e quem não é.

Dilma chegou acompanhada do governador Jaques Wagner (PT), do candidato ao governo Rui Costa (PT), do vice-governador e candidato ao senado, Otto Alencar (PSD) e do candidato a vice, deputado federal João Leão (PP).

Um surto de tremedeira; O Estado de S. Paulo - Editorial

Os políticos andam especialmente nervosos nestes dias - e não é porque está se entrando na reta final da campanha para as eleições de 5 de outubro. A inquietação vem do que e quando o megadoleiro Alberto Youssef contar da história escabrosa do envolvimento de ilustres representantes da elite do poder em falcatruas para ninguém pôr defeito. Preso há seis meses graças à Operação Lava Jato, da Polícia Federal - que apanhou também o ainda mais notório diretor de abastecimento da Petrobrás entre 2004 e 2012, Paulo Roberto Costa -, Youssef é suspeito de ter branqueado algo como R$ 10 bilhões. A dinheirama percorria os conhecidos caminhos dos contratos superfaturados, tráfico de influência, pagamento de propinas e remessas para o exterior. O próprio Costa despachou para a Suíça uma bolada de US$ 23 milhões.

Imitando o petrocrata, que teria identificado uma trintena de figurões do governo e do Congresso Nacional que se esbaldaram no interminável carnaval de corrupção, o seu amigo e parceiro Youssef também achou que era o caso de fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no Paraná, onde está detido. Réu em nada menos de nove ações, foi convencido pela família a entregar a clientela não na esperança de ser libertado, o que motivou Costa, mas de não encanecer na cadeia. É o máximo que pode pretender, porque descumpriu a promessa de mudar de vida quando fez um acerto do gênero há 10 anos, no escândalo do Banestado - e isso não ficará de graça. Na quarta-feira, ao se divulgar que ele prestou o primeiro do que decerto será um extenso rol de depoimentos, um surto de tremedeira percorreu gabinetes políticos e escritórios executivos.

Como se o jogo tivesse sido combinado, nesse mesmo dia o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou as conclusões de uma auditoria em quatro contratos assinados pela Petrobrás com consórcios liderados por gigantes do ramo da construção pesada, como as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht, relativos a obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A instalação, que começou a ser construída em 2007 para operar a partir de 2011, é um poço sem fundo de lama. O projeto foi um presente que o então presidente Lula pretendeu dar para o caudilho venezuelano Hugo Chávez, que só entrou no negócio com a sua assinatura, ficando tudo mais por conta do Brasil, aos diligentes cuidados de Paulo Roberto Costa. Ainda sem data para ficar pronta, a obra é um portento de dinheiro desviado. Era para custar US$ 2,5 bilhões. Já engoliu US$ 20 bi - e a contagem continua.

Agora, a mais recente perícia do TCU aumentou em R$ 367 milhões a lambança de gastos superfaturados. Os citados consórcios se beneficiaram, segundo o órgão, de "desequilíbrio econômico e financeiro em desfavor da Petrobrás", do que haveria "fortes indícios", assim como no caso de "pagamentos indevidos" às construtoras. "Os pesos adotados na fórmula de reajustes dos contratos", relatou o ministro José Jorge, "não retratariam a variação dos custos de produção decorrente da inflação no período." Os reajustes mais gravosos ocorreram no quesito mão de obra, com variações da ordem de 70% a 80%. Daquele total, a estatal já desembolsou R$ 242 milhões. Os R$ 125 milhões restantes seriam pagos até maio do próximo ano. Mas o TCU aprovou uma medida cautelar obrigando a contratante a adotar uma nova tabela de preços para pôr os valores nos seus devidos termos.

Por dever de ofício e com algum otimismo, o relator disse esperar "uma melhoria dos procedimentos internos da Petrobrás relativamente à delimitação das condições de reajustes pactuadas em suas contratações de obras". O retrospecto dessa dezena de anos em que a maior empresa brasileira foi sendo gradativamente transformada numa extensão do aparato petista de poder desautoriza, porém, prognósticos de purificação cabal dos procedimentos na petroleira. Isso, mesmo tomando pelo valor de face a propalada preocupação com a lisura da atual diretoria executiva, comandada pela presidente Graça Foster. Fica a expectativa de que os efeitos das delações da dupla Costa & Youssef justifiquem o nervosismo de todos quantos empanzinaram o seu patrimônio à custa do País.

Custos da diplomacia eleitoreira: O Globo - Editorial

• Entre os danos causados pelo uso partidário da assembleia da ONU está o fim do sonho do assento no Conselho de Segurança e mais uma rusga com os Estados Unidos

Entre as marcas fortes destes 12 anos de administração petista, inclui-se a partidarização da política externa. Assim, tão logo Lula assumiu, a nova diplomacia brasileira começou a trabalhar contra as negociações com os americanos em torno da Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, sob aplausos do nacional-populismo já reinstalado no continente — Venezuela e Argentina, seus representantes mais proeminentes. De fato soterrou-se aquele projeto de integração Norte-Sul, e a diplomacia companheira fez o país mergulhar em outra direção, na política Sul-Sul, equivocada, como sabido.

A patética participação da candidata-presidente Dilma Rousseff na 69º Assembleia Geral da ONU mostrou outra faceta preocupante da "petização" da diplomacia brasileira: seu uso eleitoreiro, apenas para afeito da campanha da reeleição de Dilma. Neste caso, dizer que o Barão do Rio Branco enrubesce na tumba não é um bordão surrado.

Antes de representar o Brasil no discurso de abertura da assembleia, Dilma participou da Cúpula do Clima, com um providencial vestido vermelho, em óbvia obediência aos marqueteiros da campanha. Da tribuna da ONU, Dilma continuou no script eleitoreiro, ao fazer um discurso de prestação de contas de seu governo e dos oito demais anos de PT no Planalto, sem qualquer interesse para os representantes dos países.

Teve o mesmo objetivo a desastrada crítica, feita de forma mais clara em entrevistas, à ação militar da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico, grupo sectário tão radical e violento que foi desligado da al-Qaeda. Inspirada no antiamericanismo, agora com fins eleitoreiros, Dilma fez a inaceitável defesa dos jihadistas assassinos do EI, com base no conhecido discurso já usado sobre a guerra no Iraque — correto em si —, de que é necessário "dialogar", em vez de sacar armas.

Fez uma inacreditável confusão. O EI não é um Estado, mas um bando armado, fanático, já conhecido por degolar jornalistas e, agora, um turista, filmar as atrocidades e colocá-las na internet como peça de propaganda. Esqueceu-se a diplomacia companheira que da coalização participam países árabes, o que aumenta a legitimidade da operação.

Da desastrosa passagem por Nova York sobram danos para o Brasil. Além do descrédito semeado por Dilma, há um novo distanciamento em relação aos Estados Unidos, cuja economia se recupera e pode compensar as perdas nas exportações nacionais causadas pela debacle Argentina. Outro dano é o virtual fim do projeto de obtenção do assento no Conselho de Segurança, elevando o status político brasileiro ao peso que o país já tem na economia mundial. Não se pode mesmo dar poder de veto no CS a quem protege sectários.

É uma imagem emblemática a cena do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, liderança petista, aboletado na bancada brasileira na assembleia geral. Simbolizava a tutela da política externa pelo partido.

Viúva de Campos grava depoimento para campanha de Marina

• Renata Campos afirma que ex-ministra 'tem um pouco de Eduardo' e que é hora do Brasil 'dar um passo à frente'

Isadora Peron e Gustavo Zucchi - O Estado de S. Paulo

Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, gravou um depoimento para a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva. O vídeo deverá ser usado pela campanha do PSB no horário eleitoral da ex-ministra do Meio Ambiente.

Renata, que apoiou a indicação de Marina como sucessora de seu marido na candidatura presidencial após o acidente aéreo que o vitimou em agosto, gravou um depoimento de 1min36 em que associa a ex-ministra a Campos e garante que ela “será uma grande e bela experiência para o Brasil”.

“Eduardo pegou um pouco de Marina e Marina pegou um pouco de Eduardo. Acho que eles se complementavam e se entendiam muito bem”, diz Renata na gravação. A campanha divulgou o vídeo nas redes sociais e as imagens devem ser usadas também no horário eleitoral da TV. “O Brasil avançou até aqui, mas acho que precisamos dar um salto. Faz parte da vida mexer, sacudir, para continuar avançando”, afirma ela.

A participação de Renata no programa de Marina dividiu a opinião da equipe de campanha. Apesar de ser a viúva de Campos, integrantes argumentaram que ela não teria peso nacional nem o mesmo apelo que tem em Pernambuco. Em agosto, pouco depois da morte do ex-governador, Renata chegou a ser cogitada como vice na chapa do PSB antes de Beto Albuquerque ser oficializado na vaga.

“Com a história de vida dela, com a experiência que ela (Marina) tem, tenho certeza que ela vai fazer o Brasil avançar nas conquistas sociais”, diz Renata no vídeo. “Eu me sinto representada, assim como Eduardo se sentia representado, e tenho certeza que minha família se sente representada com Marina Silva presidente”, complementa a viúva de Campos.

Emoção. Renata já gravou uma participação no programa do candidato ao governo de Pernambuco Paulo Câmara (PSB). Ao contrário do depoimento prestado para o horário eleitoral da presidenciável, no discurso para a disputa estadual a viúva se emocionou ao falar da trajetória do marido com o aliado.

Temer e Renan acusam PF de intimidar candidato aliado

• Vistoria da Polícia Federal em jatinho do senador Edison Lobão Filho abre crise entre governo e PMDB

• Vice-presidente divulgou nota nesta quinta condenando ação de agentes que teriam vasculhado um avião da campanha de Lobão Filho, candidato do PMDB ao governo do Maranhão

Ricardo Brito e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma operação da Polícia Federal abriu uma crise entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB, principal aliado do governo Dilma Rousseff. Após denúncia anônima, equipe da PF vistoriou na madrugada de ontem, no interior do Maranhão, um avião da campanha do senador Edison Lobão Filho, candidato ao governo do Estado. A suspeita, não confirmada pelos agentes federais, era de dinheiro de caixa 2 de campanha na aeronave.

Numa atitude inédita, o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgaram notas públicas em que classificaram a ação da PF contra o correligionário de “intimidatória”. Temer – que compõe novamente a chapa presidencial encabeçada pela petista Dilma Rousseff – disse que é “inadmissível que forças policiais sejam instrumentalizadas para atingir candidaturas legitimamente constituídas”.

O senador e candidato a governador é filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), e aliado do senador José Sarney (PMDB-AP).

Os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, entraram no circuito para colocar “panos quentes” e tentar acalmar os peemedebistas.

Segundo relatos, uma equipe de nove agentes da PF comandada pelo delegado regional na cidade de Imperatriz, Paulo de Tarso Cruz Vianna Junior, abordou, com armas em punho, a equipe de campanha de Lobão Filho no hangar do aeroporto local. Eles revistaram o piloto e o copiloto e depois o avião da campanha e os carros. Após nada ser encontrado, o grupo dirigiu-se ao local onde estava Lobão Filho, em uma sala próxima. O candidato do PMDB protestou contra a abordagem.

Ele disse ao Estado que o delegado não disse de quem partiu a denúncia anônima e em seguida deixou o local. Lobão Filho retornou a São Luís e logo cedo foi iniciada uma operação em busca de explicações.

Lobão Filho falou pelo telefone com Temer, com Renan e com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, sobre a ação da PF. O pai ministro procurou o colega da Casa Civil.

Informada do fato, Dilma se reuniu com o comando de campanha e com Mercadante e Cardozo no fim da tarde. O caso e sua repercussão foram discutidos no Palácio da Alvorada.

‘Republicana’. O episódio em Imperatriz está sendo tratado como um erro da PF local, e não como uma ação do comando da instituição em Brasília. Cardozo enviou ofício à direção da PF, subordinada a ele, determinando a “apuração rigorosa” do fato (mais informações abaixo).

De acordo com informações do Palácio do Planalto, a presidente defendeu a apuração sem que seja beneficiado um lado ou outro. “Temos de fazer isso de forma absolutamente republicana”, afirmou Dilma.

Dentro e fora do Palácio do Planalto, ministros consultados pelo Estado consideraram a atitude da PF “um exagero”, “uma medida desproporcional”, já que não havia um inquérito ou um mandado.

Lobão Filho também anunciou ter apresentado seis medidas judiciais e administrativas para apurar o caso, entre elas um requerimento para que a PF explique as razões da abordagem. O candidato disse que a ação tinha por objetivo prejudicar sua campanha na reta final do 1.º turno. Segundo o Ibope, o candidato do PC do B, Flávio Dino, lidera a disputa estadual com42% das intenções de voto, ante 30% de Lobão Filho.

“A Polícia Federal não pode ser utilizada num instrumento eleitoral para uma campanha. Foi um constrangimento”, disse o peemedebista. “Me custa crer que a cúpula da PF tenha participado disso.” A reportagem não localizou os outros citados e a PF não se pronunciou.

Tempo de TV no 2º turno elevaria em 5 pontos votação de Marina

Cristian Klein – Valor Econômico

SÃO PAULO - Caso alcance o segundo turno na corrida presidencial, como indicam as pesquisas, Marina Silva (PSB) deverá ter um aumento em torno de cinco pontos percentuais apenas pelo efeito do crescimento de seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e TV. É o que estima um estudo realizado pelo economista e professor do Insper João Manoel Pinho de Melo.

Hoje, no primeiro turno, Marina dispõe de um programa de 2'03'', espaço cerca de 5,5 vezes menor do que o de sua principal adversária, a presidente Dilma Roussef (PT), que conta com 11'24''. No segundo turno, porém, os candidatos têm espaços iguais, tanto no horário eleitoral, com dez minutos para cada, quanto na quantidade de inserções veiculadas ao longo da programação normal das emissoras.

No artigo, publicado na revista "Review of Economic Studies", Melo estima o quanto da votação a mais recebida no segundo turno pode ser atribuída ao efeito isolado do incremento no tempo de propaganda. O economista analisou uma amostra de 37 eleições a governador que chegaram ao segundo turno entre 1998 e 2006.

Em média, o candidato que teve o menor tempo de TV ganha 0,15 ponto percentual para cada ponto percentual que o separa dos 50% de tempo igualitário que os finalistas recebem no segundo turno.

O cálculo desse salto parte da premissa de que a eleição se concentra nos dois principais candidatos. Assim, somados os tempos de propaganda de Dilma e Marina no primeiro turno, a petista tem uma fatia de 85% e a pessebista, de 15%. Como no segundo turno as duas ocuparão 50% cada, Marina ganhará 35 pontos percentuais em sua propaganda eleitoral.

Esses 35 pontos a mais multiplicados pelo fator de 0,15 ponto percentual indicam que a votação de Marina no segundo turno ganharia 5,25 pontos percentuais - apenas pelo impacto do aumento do tempo de TV.

"Para uma eleição apertada como esta, é uma grande diferença", afirma Melo, também economista da Pacifico Gestão de Recursos.

Para estimar o fator de 0,15 pontos percentuais, o professor comparou as primeiras pesquisas eleitorais divulgadas durante as campanhas de segundo turno com os resultados das urnas. A divulgação da primeira pesquisa da segunda etapa ocorre em média, afirma Melo, seis dias depois do primeiro turno. É um tempo suficiente, argumenta, para que o eleitorado seja exposto a outros fatores políticos, como eventuais anúncios de apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno - o que leva à reacomodação de forças. Com o cenário mais definido, diz Melo, é possível estimar melhor o efeito isolado do tempo de propaganda eleitoral até a votação final.

Se, por hipótese, no primeiro levantamento do segundo turno, Marina aparecer numericamente empatada com Dilma - como ocorreu na simulação do último Ibope - a tendência é que o incremento da propaganda de Marina a leve a vencer a disputa por 55% a 45% dos votos válidos. O resultado considera que a pessebista sairia de uma situação de empate (50% a 50%) e ganharia os cinco pontos percentuais devido ao efeito da propaganda, indo a 55%, enquanto Dilma, por sua vez, perderia os mesmos cinco, caindo para 45%.

Melo ressalva que outros fatores também influenciam o efeito da propaganda eleitoral, como sua qualidade e o discurso emitido pelo candidato. "É uma média. O efeito pode ser potencializado ou mitigado", diz, ressaltando ainda que, estatisticamente, há uma margem de erro.

Por isso, o incremento na votação de Marina pode variar de 1,75 a 8,75 pontos percentuais em razão do tempo de TV.

Fernando Gabeira: Papel de centroavante não é o de fazer gols

- O Estado de S. Paulo

Dilma Rousseff não para de nos surpreender. Agora disse que o papel da imprensa não é o de investigar, mas, sim, divulgar as informações que produzem os órgãos do governo.

Minha surpresa é maior ainda. Dilma apresentou a Lei de Acesso à Informação, depois de longo trabalho da Associação Brasileira do Jornalismo Investigativo. A lei foi impulsionada pelo trabalho do jornalista Fernando Rodrigues, que sugeriu a criação de uma frente parlamentar, monitorou todas as reuniões da comissão da Câmara que analisou o projeto, organizou seminários e trouxe gente de vários países para falar sobre o tema. Por que tanto empenho dos repórteres na aprovação de uma lei de acesso? O próprio nome de sua entidade é uma pista que Dilma não poderia desprezar: jornalismo investigativo.

Dizer que a imprensa não deve investigar é o mesmo que dizer que um centroavante não deve fazer gols. É uma frase absurda até para quem não conhece bem o futebol. E absurda para quem conhece o papel histórico da imprensa. A geração de Dilma acompanhou o escândalo do Watergate, que encerrou a carreira de Richard Nixon. Ela sabe disso e usou o tema para dizer que sua frase foi interpretada erroneamente. Com um pedacinho de papel na mão, ela tentou consertar o desastre.

Poderia passar o dia citando casos de importantes investigações da imprensa. Prefiro mencionar os casos de governos que pensam que esse não é o papel dos jornalistas. Vladimir Putin, por exemplo, também acha que o papel da imprensa não é investigar. A jornalista Anna Politkovskaia resolveu investigar o trabalho das tropas russas na Chechênia e foi assassinada. Sua morte chamou a atenção do mundo para a repressão contra a imprensa na Rússia.

A China expulsa correspondentes estrangeiros com frequência, ora por tentarem entrar em áreas proibidas no Tibete, ora por mencionarem a fabulosa riqueza pessoal dos burocratas que dirigem o país. E o jornal cubano Granma jamais vai investigar de forma independente um desmando do governo porque o castigo é desemprego, prisão e até pena de morte.

O jornalistas brasileiro Vladimir Herzog foi morto sob tortura durante o regime militar não tanto porque investigou, mas talvez porque só desconfiasse ativamente das notas oficiais da ditadura. No governo do PT não se persegue ou mata jornalista, dirão seus defensores. Mas não deixa de ser inquietante suspeitar que isso não se faça agora só porque a correlação de forças não permite. Um dirigente petista chamado Alberto Cantalice fez uma lista de nove jornalistas que considera inimigos, preocupando as entidades do setor aqui e fora do Brasil.

A frase de Dilma pode ser considerada um ato falho. Os intelectuais que se mantêm fiéis ao esquema, apesar das evidências de sua podridão, sempre vão encontrar uma forma de atenuar essa barbaridade. E os marqueteiros, um pequeno texto para convencer de que ouvimos mal o que Dilma disse. Os ato falhos, tanto em campanha como fora dela, são extremamente didáticos. No caso, a frase de Dilma revela com toda a clareza o pensamento autoritário da presidente: cabe ao governo produzir as informações e à imprensa divulgá-las ou até criticá-las, o que os jornalistas não podem é buscar os dados por conta própria.

Numa célebre intervenção sobre a espionagem americana, Dilma contou ter dito a Barack Obama: "Quando a pasta de dente sai do dentifrício, não pode mais voltar". Certas frases, quando escapam, têm o mesmo destino do creme dental: não podem voltar para o tubo, que é o artefato que Dilma queria mencionar ao dizer dentifrício. Espero que Obama a tenha entendido, com a mediação dos intérpretes. Creio que a entendo muito bem quando diz que o papel da imprensa não é investigar.

O governo petista pôs o Congresso de joelhos e alterou substancialmente a correlação de forças no Supremo Tribunal. Ele considera que a ocupação de todos os espaços vai garantir-lhe não só governar como quiser, mas o tempo que quiser. Porém a imprensa e as redes sociais ainda escapam ao seu controle. E creio que escaparão sempre, pois o País está dividido. O que mantém tudo funcionando é a existência de gente curiosa, que lê, troca informações e gosta de ser informada por órgãos independentes do governo. Mesmo se Dilma for reeleita, com sua truculência mental, uma considerável parte do Brasil que rejeita os métodos e o discurso do PT continua por aí, cada vez mais forte e mais crítica.

Apesar da alternância democrática, certos governos podem durar muitos anos. Mas creio ser impossível se perpetuarem quando têm a oposição das pessoas que prezam a liberdade.

Liberdade de quê?, perguntariam. Consumir mais, melhorar a renda não ampliam a liberdade? Ao se impor na Franca, o socialismo de Jean Jaurès e, mais tarde, de Léon Blum dizia que a justiça política tinha de se acompanhar da justiça econômica. Blum era um fervoroso e racional defensor da República. O PT inventou que seus opositores não gostam de pobre em aviões ou em shopping centers, que a oposição ao seu governo é fruto de intolerância classista.

Exceto um ou outro idiota, ninguém é contra a presença de pobres em aeroportos ou shoppings. O PT deturpou a ideia de República. Em nome de melhorias econômicas, armou o maior esquema de corrupção da História e agora flerta abertamente com a supressão da liberdade de imprensa. Ele usa uma aspiração republicana para sufocar as outras e seu líder máximo, amarfanhado, se veste de laranja para defender de inimigos imaginários a Petrobrás, que o próprio governo assaltou. Suas farsas estão mais grotescas e os atos falhos, mais inquietantes.

Sou do tempo do mimeógrafo. Ainda que consigam devastar a imprensa e proibir a internet, publicações clandestinas seguirão contando a história. Não faremos comissões futuras para investigar a verdade. Vamos conquistá-la aqui e agora, porque, como diz Dilma, a pasta saiu do dentifrício, ou o dentifrício saiu da pasta. Só não vê quem não quer ou é pago para confundir.

Estranho, mas não tenho nenhum medo de governos autoritários. Apenas uma sensação de tristeza e preguiça por ter de voltar a esses temas na segunda década do século 21.

*Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira: A força da cidadania

- O Globo

"A cidadania e as eleições" foi o tema de um debate ontem na Academia Brasileira de Letras (ABL), dentro do projeto "Brasil, Brasis". Coordenado por Domício Proença Filho, o cientista político e ecologista Sérgio Abranches, o publicitário Jorge Maranhão e eu discutimos o momento político que vivemos a 10 dias do 1º turno da eleição presidencial.

As visões foram complementares, eu me declarei otimista com a possibilidade de as pressões da sociedade, cada vez maiores, levarem a bom termo as re formas estruturais de que o país necessita, sobretudo a política. Considero que chegamos a um momento de tantas distorções no relacionamento entre os políticos e o governo, ambos se distanciando muito dos in ter esses e demandas da sociedade, que o prosseguimento dessa maneira de fazer política está com seus dias contados, mesmo que, nos seus estertores, as forças políticas que comandam esse retrocesso consigam uma sobrevida nas eleições presidenciais.

Sérgio Abranches, criador do conceito de "presidencialismo de coalizão", mostrou- se otimista com a possibilidade de, no 2º turno que se avizinha, darmos um salto de qualidade no nosso sistema de governo com um acordo programático entre o PSDB e Marina Silva. Um acordo desse tipo, nos moldes do que vigora, por exemplo, na Inglaterra, onde liberais e conservadores montaram programa de governo em que ambos os partidos tiveram que abrir mão de projetos em favor do acordo final. Para Abranches, só usando programas partidários como base para acordos congressuais sairemos da crise em que estamos instalados, com as coalizões sendo formadas em troca de favores e benesses do governo, e os partidos vendendo seu tempo de TV para propaganda em troca de nacos do poder central.

Ele comparou a eleição com o plebiscito sobre a separação da Escócia, quando a movimentação dos separatistas , embora derrotada, trouxe à tona a necessidade de mais autonomia para os países do Reino Unido. Também aqui no Brasil a força que está levando Marina ao 2º turno, sem que ela tenha estrutura partidária das maiores ou tempo no rádio e TV , seria a expressão de um sentimento latente na sociedade de recuperação da cidadania, refletido nas demonstrações de junho de 2013 e que deságua agora nas urnas . Já Jorge Maranhão, ativista da cidadania e que tem um blog, "A Voz do Cidadão", acentuou que a cidadania tem de recuperar seu sentido de ação política, sobretudo da elite mais responsável. O sentido de engajamento, de tomar conta não só dos mandatos dos eleitos, mas também da execução dos orçamentos públicos.

De valorizar e fiscalizar as instituições democráticas, as políticas, as jurídicas e as de controle e gestão do Estado. E obrigá-lo a servir mais e melhor os cidadãos do que estes àquele. Segundo Maranhão, temos a missão indelegável de fazer propostas de políticas públicas exequíveis, eficientes e voltadas ao bem comum, e não a interesses político-partidários de ocasião. O momento é o da defesa intransigente dessa cidadania, feita por verdadeiros agentes de cidadania, cada um experiente e preparado em seu segmento de atuação privada, mas com capacidade de mobilizar outros cidadãos e mesmo estratos inteiros da sociedade, numa grande onda de indignação cívica em prol das re formas do Estado. Hoje, disse Maranhão, as instituições políticas não são o "espelho da sociedade", como quer o cinismo de nossos políticos. E o processo eleitoral é apenas uma máquina de perpetuação de um triste cenário de descaso, impunidade e negligência.

Malabarismo
O instituto Vox Populi, que faz sondagens para o PT, divulgou ontem uma pesquisa na revista "Carta Capital" em que a presidente Dilma cai dois pontos em relação à pesquisa anterior do mesmo instituto, do dia 23, de 40% para 38%, enquanto Marina sobe três pontos, de 22% para 25%. A diferença entre as duas caiu, em dois dias, de 18 para 13 pontos. A mudança grande está no 2º turno, pois a pesquisa anterior do Vox Populi mostrava uma vitória de Dilma sobre Marina de 46% a 39%, uma diferença de 7 pontos a favor da presidente . Na pesquisa de ontem, Dilma caiu quatro pontos e Marina subiu dois pontos , voltando ao empate técnico . A diferença entre as duas, que foi, dois dias antes, de 7 pontos , voltou a ser de 1 ponto a favor de Dilma, de 42% para 41%. Uma diferença e tanto para quem, há dois dias, chegava a prever a possibilidade de a presidente Dilma vencer já no primeiro turno.

Dora Kramer: Zero noção de Estado

- O Estado de S. Paulo

Realmente o governo brasileiro não dá a mínima para o Brasil. Interessa-lhe única e exclusivamente a plataforma de poder, a máquina para fazer política, assegurar empregos e outros que tais cujos detalhes o fim da fase do segredo de Justiça poderá esclarecer.

Tivessem algum apreço pelo País, a presidente Dilma Rousseff e os que a cercam teriam pensado duas vezes (ou quantas fossem necessárias) antes de levar um discurso de cunho partidário à abertura da Assembleia-Geral da ONU, evitando também no campo internacional a proposição de "diálogo" com gente que não conversa, degola.

À presidente da República não parece ter ocorrido nem por um minuto que estaria ali na representação de um País e seu posicionamento no mundo. Foi à Organização das Nações Unidas com o mesmo espírito com que se dirige a um encontro do PT, à biblioteca do Palácio da Alvorada, ao canteiro de obras do Rio São Francisco ou onde grave sua participação no horário eleitoral da televisão ou recite a cantilena sobre a história do partido que salvou o Brasil.

Ainda que fosse tudo verdade, que tudo caminhasse àquelas maravilhas por ela contadas, que o dito combate à corrupção não se expressasse em repetidas operações "abafa", que o País tivesse sido inventado há 12 anos, não caberia à presidente aproveitar-se da tribuna da ONU para produzir cenas às câmeras de João Santana.

Não é bom nem imaginar qual terá sido a avaliação dos chefes de Estados ali presentes diante de uma presidente exclusivamente concentrada em enaltecer a si de maneira provinciana e, sobretudo, sectária na medida em que não falou como porta-voz do Estado brasileiro, uma instituição permanente, preferindo se colocar como porta-bandeira de uma corrente partidária em episódio transitório que se encerra dentro de um mês.

A presidente já havia deixado de lado a compostura quando chancelou o uso da mentira na campanha e aceitou vocalizar indelicadezas contra uma adversária. Na ONU, não desencarnou da candidata. No dia a dia, deixou em segundo plano suas funções. Ocupada com seus afazeres eleitorais, há tempo não recebe embaixadores que esperam para apresentar suas credenciais a fim de exercer a representação dos respectivos países. Já são 28, noticia O Globo.

Poderia até ser um exemplo menor, mera falta de cortesia, se o constrangedor discurso nas Nações Unidas não tivesse deixado patente que o governo brasileiro só tem olhos e põe realmente as mãos à obra quando o assunto é eleitoral.

Falo, não faço. A displicência com que o ex-presidente Lula trata o convite da Polícia Federal para que deponha como testemunha em um dos inquéritos ainda restantes do mensalão não combina com a maneira incisiva com que a presidente Dilma vem abordando a questão do combate à corrupção.

O assunto entrou na campanha depois do acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Desde então, a presidente tem acentuado que os governos do PT foram dos mais combativos e mais ativos na criação de controles. Segundo ela, só há tantos escândalos porque a corrupção passou a ser combatida.

Ocorre que desde fevereiro a PF tenta sem sucesso ouvir Lula sobre uma denúncia feita por Marcos Valério de Souza a respeito de um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT. O advogado Márcio Thomaz Bastos posterga o depoimento e Lula trata o tema com ironia. "Só se você me convidar", respondeu à jornalista que o indagou a respeito nesta semana.

Como não está intimado, não é obrigado a comparecer. Paulo Okamoto, um de seus assessores, diz que depois das eleições "talvez" o ex-presidente compareça. De onde se conclui que a disposição para colaborar com o combate à corrupção não é ampla, geral e muito menos irrestrita. Tem seus limites.

Eliane Cantanhêde: Guerra em família

- Folha de S. Paulo

Uma das eleições mais eletrizantes do país é em Pernambuco, onde há uma guerra transcendental: entre o ex-governador e grande líder local Eduardo Campos, morto em 13 de agosto, e o ex-presidente e grande líder nacional Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano de nascimento e vivíssimo em múltiplos sentidos.

Essa disputa entre um morto e um ícone está empatada, mas com duas trajetórias diferentes e abaladas pelo grande solavanco de agosto.

Segundo o Ibope, o candidato de Lula, Armando Monteiro (PTB), senador e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tinha 43% em julho, caiu 11 pontos, recuperou três e está com 35%.

Já o nome lançado por Campos, Paulo Câmara (PSB), economista, servidor do Tribunal de Contas do Estado e ex-secretário da Fazenda, disparou desde a queda do Cessna Citation. Tinha 11% em julho, foi a 29% em agosto e está na liderança, com 39%.

Com esse empate técnico, a viúva de Campos, Renata --que, aliás, demorou para gravar apoio a Marina Silva-- entrou de cabeça a favor do novato Câmara, até para preservar o espólio político para o filho mais velho, João Campos. Ela conta com a liderança da família Arraes, a aura do marido e as últimas eleições.

Em 2012, Lula peitou Campos e perdeu. Geraldo Júlio (PSB) tinha de 5% a 7% em julho, mas levou a Prefeitura de Recife já no primeiro turno, interrompendo 12 anos de gestões petistas. O de Lula, Humberto Costa (PT), amargou o terceiro lugar.

Com aquele ego todo, porém, Lula trata o seu Estado natal como questão de honra e Pernambuco dá ao PT recorde em cima de recorde de votos. Certamente, ele quer garantir a vitória de Monteiro, além de uma estrondosa votação de Dilma ali.

Detalhe: eles eram embolados, uma família. Câmara era aliado de Monteiro, que era ligado a Campos, que era "filho" de Lula. A política e a disputa de poder implodiram a aliança. E o avião a soterrou.

Maria Cristina Fernandes: O favoritismo de Alckmin

• Tucano faz a política que se conserva contra a mudança

- Valor Econômico

No programa em que se apresentou ao eleitor de São Paulo, o ex-presidente da Fiesp e candidato do PMDB ao governo, Paulo Skaf, dizia, desenvolto, que nada tinha contra o governador Geraldo Alckmin. Definiu-o como um sujeito educado e simpático mas disse não entender seu modo de governar: "Meio frio, meio distante, acha sempre que está tudo bem, não enfrenta os problemas de São Paulo como um desafio pessoal, com garra, com tesão, como se fosse a coisa mais importante de sua vida".

Sem brigar com a estampa de bom moço do governador, a peça publicitária, veiculada em metrificado tom de desabafo, parecia talhada para disputar o alckmismo por dentro de sua base, um eleitor que rejeita CPMF, foi contra o aumento do IPTU na capital e só quer um Estado que não atrapalhe.

Alckmin, como a maior parte dos candidatos à reeleição, chega à reta final desta campanha sem que seu favoritismo seja abalado. Pode ser o primeiro tucano a realizar o sonho de Sérgio Motta de 20 anos no poder. É o que, somados seus mandatos como vice de Mario Covas, alcançará se for reeleito para mais uma temporada no Palácio dos Bandeirantes.

A recandidatura é talvez a mais importante, mas não encerra as razões de seu favoritismo. Alckmin amoldou-se como ninguém às mudanças de São Paulo na Federação. As ações previsíveis, o tom monocórdico e a capacidade de tranquilizar sem nada dizer parecem funcionar como um amortecedor no Estado que, nas últimas décadas, viu a economia e a renda de seu povo cresceram menos que a do país.

Não se conhecem iniciativas de Alckmin para tirar o Estado do sufoco do endividamento, responsável, em parte, pelo vagar de seu crescimento. Suas marcas são outras. O governador encarou como missão inarredável o pedido da família de Eduardo Campos pelas medalhinhas de seu cordão. Não sossegou até que o Corpo de Bombeiros, em busca incessante pelos destroços de Santos, as encontrasse.

O governador atencioso foi forjado numa política que se conserva contra a mudança. Enquanto sete em cada dez brasileiros devem ficar entre a guerrilheira e a seringueira, o mesmo percentual de votos em São Paulo ruma para um vereador do interior e um empresário. Há quase 30 anos o Brasil ainda estava sob o colégio eleitoral, mas a disputa em São Paulo foi protagonizada por outro vereador caipira, candidato da situação, e o dono de um dos maiores conglomerados industriais do país, que bradou numa candidatura tão bonapartista quanto a de Skaf a incompetência do governo de plantão.

Em 1986, o ex-vereador de Campinas, Orestes Quércia, e Antonio Ermírio de Morais dividiram os votos de quem via no Estado mais dinâmico a capacidade de oferecer um projeto de modernização para o país que emergia da ditadura. Seu mais emblemático representante, Paulo Maluf, ficou em terceiro lugar. Tirando o PT, que ameaça repetir, em São Paulo, a mesma fatia de votos de Eduardo Suplicy (11%), a divisão de votos hoje só mudou porque o vereador de Pindamonhangaba e o ex-presidente da Fiesp engoliram os votos do malufismo (19,5%). O mais legítimo herdeiro de Paulo Maluf, Celso Russomanno, foi devidamente cooptado depois das eleições de 2012 e hoje faz campanha ao lado de Alckmin.

Esse enraizamento do governador paulista na política interiorana (52% dos votos do Estado) sempre o antagonizaram com a ala de intelectuais e exilados do PSDB, capitaneada por Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Ao contrário destes, o governador foi derrotado em duas tentativas de ser prefeito de São Paulo e de chegar à Presidência da República, mas parece imbatível no manejo de uma máquina que mantém uma azeitada rede de prefeitos e vereadores.

O eleitorado de Alckmin, no entanto, ao contrário do que muitos dos estrategistas petistas parecem acreditar, não reproduz uma assembleia do Rotary de Pindamonhangaba. O governador é o preferido dos mais pobres e menos escolarizados, exatamente como a presidente Dilma Rousseff. A diferença é que seu governo é aprovado por 46% dos paulistas enquanto o de Dilma, no Estado, colhe o beneplácito de 26%.

E de onde vem essa aprovação se os hospitais têm filas, os alunos passam de ano sem provar que aprenderam e a corrupção nos transportes se proliferou com muito mais rapidez que os ramais do metrô?

Dilma colhe, no país, um patamar de aprovação próximo ao de Alckmin graças ao baixo desemprego e aos programas sociais. As políticas federais podem não ser suficientes para reelegê-la porque elevaram o patamar de exigência de quem delas se beneficiou, mas preencheram a ausência de Estado em muitos cantos do país. O Estado que só agora chega em rincões já existe em São Paulo e foi construído com a participação de Alckmin - ou conivência, diriam os petistas se o termo não tivesse ficado tão batido depois do mensalão.

A chamada classe média emergente que agora migra para planos de saúde enfrenta filas em hospitais privados que pintam de nostalgia a lembrança dos hospitais públicos paulistas. As escolas são ruins mas não impedem os alunos da periferia de ingressar nas faculdades de terceira linha que se proliferaram nos últimos anos, ou no ensino técnico, o mesmo que Dilma agora espalha pelo Brasil com mais rapidez que as vagas no ensino superior.

E, por fim, Alckmin tem a sorte de não chover em São Paulo. Já falta água em muitos lugares mas a população vê que a chuva tarda. A oposição se esgoela para explicar que os canos, sem investimento, perdem 35% de sua vazão em desperdício, mas tem menos sucesso que o didático Alckmin em sua diuturna tarefa de convencimento de que a providência é divina.

A empresa de saneamento de São Paulo, é uma das maiores do mundo. Assim como as ações da Petrobras, as da Sabesp só caem mas, ao contrário daquela, a queda não está relacionada à perspectiva de reeleição do governante. A empresa desperdiça sua principal matéria prima e vê minguar a venda de seu escasso produto. Só sobrevive porque tem o Estado como acionista. Seus analistas asseguram que se o PT tivesse chance de ganhar seria pior. Talvez esteja aí um bom começo para entender as disputas num Estado em que mercado e eleitor parecem convergir.

Nelson Motta: No jogo sujo, todos perdem

• Se a delação de Paulo Roberto Costa equivale à queda de um Boeing carregado de políticos, empresários e funcionários poderosos, imaginem a de seu chefe Alberto Youssef

- O Globo

Quando os estrategistas da campanha de Dilma Rousseff festejavam o efeito devastador dos ataques massivos a Marina Silva, mostrando-a como uma ameaça às conquistas sociais e um salto no escuro, comemoravam o inverso da proposta que levou Lula ao poder: a vitória do medo sobre a esperança.

Mas, no segundo turno, quando o tempo de televisão é igual e os ataques e mentiras podem ser rebatidos no ato e com a mesma força persuasiva, será que os debates cara a cara vão mostrar, sem intermediários, quem é quem e o que quer fazer? Quem será a esperança e quem será o medo? Qual a melhor atriz?

Mas até o dia da eleição muita lama ainda vai rolar. Se a delação premiada de Paulo Roberto Costa equivale à queda de um Boeing carregado de políticos, empresários e funcionários poderosos e intocáveis, imaginem a de seu chefe Alberto Youssef. O medo de uns é a esperança de outros.

Até as grandes empreiteiras estão com medo e, na esperança de redução das acusações e das penas, já se uniram para oferecer sua colaboração nas investigações, mas foram rejeitadas pelo procurador-geral Rodrigo Janot como um "cartel de leniência". Cada uma terá o seu processo.

Pena que as bombas vão explodir depois das eleições, mas, seja quando for, assim como o julgamento público do mensalão, serão altamente educativas para a sociedade, como um antídoto do veneno das campanhas eleitorais, que deseducam e abusam do eleitor.

Em vez de uma polarização entre velhos adversários conhecidos, a eleição vai se tornando um plebiscito sobre o governo Dilma e o PT. E o pior que pode acontecer nesses casos é vitória do "sim" ou do "não" por diferença mínima, que, mais que uma conquista eleitoral, significa que o país está radicalmente dividido, não entre conservadores e progressistas, esquerda e direita, mas pelo marketing politico mais, ou menos, eficiente.

Nesse cenário, haverá esperança que possa vencer o medo que metade do Brasil tem de uma vitória de Marina, ou o medo que a outra metade tem de mais quatro anos de Dilma? Depois da guerra suja, os vencedores serão os melhores marqueteiros, o grande perdedor será o país.

Claudia Safatle: Governo não vê erros e aposta na recuperação

• Queda da confiança foi por falta de crescimento

- Valor Econômico

O governo não vê nada de errado com a política econômica que adotou nos últimos três anos. Ao rejeitar a existência de equívocos que teriam levado o país ao baixo crescimento e alta inflação ele não está recorrendo a um discurso eleitoreiro que, encerrada a disputa, será revisto caso a presidente Dilma Rousseff conquiste o segundo mandato. A negação é fruto da genuína convicção da presidente e do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ambos estão seguros de que o que derrubou a atividade econômica no país foi a crise internacional que começou em 2008/2009, aprofundou-se em 2011 na zona do euro e esgotou todas as fontes de dinamismo das economias maduras. A recuperação nos países ricos, portanto, trará de volta a expansão da atividade doméstica. A confiança dos empresários, segundo o ministro, também foi minada pela desaceleração econômica e não pelas ações do governo.

Ontem, de Feira de Santana, na Bahia, Dilma assegurou que "não é necessário um ajuste fiscal profundo" tal como seus adversários apregoam.

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda explicou, em entrevista ao Valor, que "2015 será um ano de ajuste fiscal nos moldes de 2011", quando o governo teve que fazer um contingenciamento de R$ 50 bilhões do gasto público para cumprir a meta de superávit primário de 3,1% do PIB. Dessa vez, segundo ele, o esforço fiscal será de menor magnitude, pois a meta fiscal é de 2% e 2,5% do PIB. "Mas vamos segurar a despesa."

Há uma enorme distância entre 2015 e 2011 quando a economia vinha de um crescimento de 7,5% em 2010. O corte na despesa em 2015, ano em que o crescimento continuará baixo, tende a ser mais doloroso do que em 2011. Fica, porém, a dúvida sobre o que Dilma considera "profundo".

Ela e Mantega atribuem grande parte da fragilidade da economia brasileira ao baixo crescimento nos Estados Unidos e na zona do euro. Ele cita estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que considera a economia mundial responsável por 60% do crescimento no Brasil. Os 40% restantes o ministro explica pela expansão do mercado interno, mas a falta de crédito para o consumo compromete essa performance.

Assim que os bancos privados liberarem mais o crédito para consumo, a economia americana firmar uma trajetória de recuperação e a Europa reagir aos estímulos fiscais esperados, que o ministro espera que sejam fortes, o Brasil voltará a crescer. "Lá [na Europa] eles têm que adotar uma política keynesiana", advoga.

O marco da mudança na macroeconomia, que já vinha sobre bases mais frouxas desde 2009, foi o segundo semestre de 2011. A taxa Selic, que subia desde o início daquele ano, foi revertida em agosto e passou a cair. Para tanto, o governo reforçou a meta fiscal com o excesso de receita de R$ 10,9 bilhões, A taxa de câmbio passou de R$ 1,67 para R$ 1,88 com a imposição de IOF sobre capital externo. No fim de 2012, os juros já eram de 7,25% ao ano, o superávit havia caído e o câmbio se desvalorizado.

Chega-se a setembro de 2014 em situação diversa: os juros de 11% ao ano, a meta fiscal derreteu para 1,9% do PIB e não será cumprida, o dólar subiu para a casa de R$ 2,40. Economistas da oposição calculam que superávit recorrente das contas públicas (que independe de receitas extraordinárias) é, hoje, próximo a zero. Sair de zero para 2% do PIB é um desafio de bom tamanho.

No último ano do governo Dilma, a expectativa é que a política econômica produza um crescimento de 0,5% e a inflação fique na casa dos 6,2%. Se isso se confirmar, o crescimento médio nos quatro anos de mandato terá sido de cerca de 1,6% a 1,7% e a inflação média ao redor de 6%. Uma performance que desaponta.

Enquanto os economistas críticos do governo identificam problemas graves na condução da economia, que levaram o país à recessão no primeiro trimestre deste ano, Mantega avalia que a retração da atividade foi pontual, fruto de uma conjunção de eventos transitórios, e que no segundo semestre os dados virão melhores.

"Não há recessão nem estagnação", sentencia Mantega. "A economia está sólida", garante. Seus argumentos: o mercado interno está intacto, a massa salarial cresce menos, mas cresce, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 67 bilhões, a bolsa de valores andou subindo e há oferta de emprego.

Os riscos apontados para a frente - com estagnação, recessão e desemprego - se não houver uma mudança no mix da política econômica, retomada das reformas e correção dos preços defasados, dentre outras ações defendidas por vários economistas, não são referendados pelo governo.

Mantega admite a necessidade de uma recuperação gradual do superávit primário para permitir redução dos juros, mas não concorda com a redução do papel dos bancos públicos nem com mudanças na concepção da política industrial. "Sem o conteúdo nacional", uma das críticas entre tantas outras à política industrial, "não teríamos a indústria naval", diz ele.

Em meio ao debate com os contornos da campanha eleitoral, o fato é que nada do que foi feito nos últimos anos, nem mesmo os quase R$ 500 bilhões colocados nos bancos públicos para financiar a economia, foi capaz de sustentar a expansão do investimento. Encerrou-se um ciclo de forte expansão da demanda que não foi substituído pelo crescimento da oferta. A produtividade da economia não cresce desde 2011 e a taxa de investimento retrocedeu.

Nos três primeiros anos da gestão Dilma houve uma acentuada queda da produtividade do capital, de menos 1,6% ao ano; e a produtividade do trabalho cresceu menos, de 2,1% para 1,4% ao ano, descrevem os economistas Fernando de Hollanda Barbosa e Samuel Pessôa no texto "Desaceleração Recente da Economia". O trabalho é parte da agenda "Sob a Luz do Sol", uma coletânea de diagnósticos e propostas para o país elaborada por profissionais reunidos no Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).

Os autores arriscam um palpite: "Uma possível conjectura é que o enorme intervencionismo do setor público que se iniciou de forma mais pesada em 2009 tenha reduzido muito a produtividade incremental do capital em função, provavelmente, de má alocação do recurso".