segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Opinião do dia – Joaquim Barbosa

"Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça. Reflita: você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à política?"
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Joaquim Babosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), na sua página do Twitter

Crise generalizada derruba salários e vagas no setor de óleo e gás

• Consultoria detecta redução de 25% no número de vagas para a área e um recuo médio de 30% nos salários dos gerentes

Mariana Durão - O Estado de S. Paulo

RIO - Preços do barril de petróleo em baixa, denúncias de corrupção, aperto financeiro na Petrobrás, escassez de leilões, economia desaquecida, freio em projetos de exploração. O inferno astral da indústria de óleo e gás ronda o mercado de trabalho. Petroleiras e prestadoras de serviços eliminam vagas e a remuneração de técnicos e executivos do setor está em queda.

A consultoria de recrutamento Michael Page detecta uma redução de 25% no número de vagas para a área e um recuo médio de 30% nos salários de média e alta gerência. Presente em 36 países, a Michael Page é especializada no recrutamento de profissionais para cargos de chefia nas principais empresas instaladas no País, inclusive no setor de petróleo e gás natural. A consultoria funciona como intermediária na contratação de executivos, identificando nomes disponíveis no mercado e apresentando aos seus clientes.

Segundo a Michael Page, vários cargos registram uma variação salarial negativa. Um geólogo que chegou a ser contratado por até R$ 48 mil em 2013 agora atinge no máximo R$ 35 mil. Para gerentes de exploração, o valor teto caiu 33%, de R$ 75 mil para R$ 50 mil. O estudo não inclui remuneração variável e benefícios. Os salários se referem a profissionais com experiência de mais de oito anos.

Os valores estão longe de serem baixos, mas são um termômetro da desaceleração do emprego no setor. Segundo Giovanna Dantas, gerente executiva de Oil&Gas da Michael Page, na prática as contratações vêm sendo feitas pelo piso e não pelo teto das posições. A carteira da consultoria revela redução de 25% nas vagas na área, sendo muitas destinadas à substituição e não à ampliação dos quadros.

"Hoje infelizmente não temos no Brasil grandes projetos de exploração, onde se concentra a mão de obra pesada. A Petrobrás não está com caixa para investir e aí você começa a desencadear demissões", diz Giovanna.

Os salários na atividade petroleira no Brasil tiveram um boom no passado recente, com a ascensão do pré-sal e a boa fase de empresas como a HRT e a OGX, cujo controlador Eike Batista ficou famoso por caçar (e roubar) talentos de concorrentes como a Petrobrás. A isca era um pacote de remuneração estratosférico e que acabou inflando os contracheques.

O vento começou a virar no segundo semestre de 2013, quando a OGX comunicou a inviabilidade de campos de petróleo e a Petrobrás, pressionada pela defasagem dos preços dos combustíveis, freou gastos e passou a renegociar contratos. Desde lá a estatal vem reduzindo investimentos, em especial na perfuração de poços. O quadro se agravou com os escândalos revelados na Operação Lava Jato.

Para Vanessa Zehetmeyer, responsável pela área de óleo e gás na Hays, consultoria especializada em recrutamento e seleção para empregos de média e alta gerência, 2015 será o ano de arrumar a casa e apenas fazer contratações estratégicas. "Não vejo forte redução do nível salarial, mas não haverá mais a ascensão de antes. Profissionais acostumados a negociar a troca de empresa com aumento de 40% terão dificuldade."

Em princípio, o movimento sugere um retorno dos salários ao nível anterior ao boom, mas a situação pode piorar. O bloqueio de 23 empresas às licitações da Petrobrás deve contribuir para elevar a oferta de profissionais. A lista incluiu grupos como Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez, Techint, Camargo Corrêa, Mendes Junior e Odebrecht. A incerteza já leva contratados a buscar uma recolocação, mesmo por remuneração menor.

Enxuta após a recuperação judicial a Óleo e Gás Participações (ex-OGX) anunciou no dia 21 um corte de 40% da folha de pagamento, cerca de 35 pessoas.

No setor fala-se também em demissões pela SBM Offshore no País. Acusada de pagar propina a funcionários da Petrobrás, está impedida de fazer novos negócios com a estatal e perdeu o contrato de aluguel de uma plataforma. Em dezembro, a SBM divulgou que faria 1,2 mil cortes no mundo em 2014 e 2015.

O Estado ouviu funcionários de operadoras e fornecedoras que preferiram não se identificar. Os rumores são de demissões em curso na Schlumberger, em especial em Macaé, além de temor de que o mesmo ocorra na Baker Hughes.

A BP Energy cortou pessoal no Brasil após a venda do campo de Polvo, na Bacia de Campos, para a HRT. O negócio foi concluído há um ano e, segundo fontes, depois disso a BP reduziu à metade seu escritório em um prédio na Avenida Atlântica, no Rio, onde ocupava oito andares. "Quase todos os gringos foram embora", diz um ex-funcionário. Procurada, a BP disse que "não se posiciona em relação a estes números (de demissões) por ser uma informação estratégica".

Reflexos. Diante da derrocada do petróleo e das atividades de perfuração, as empresas anunciaram recentemente demissões globais. A Halliburton admitiu ter eliminado 1 mil de 80 mil empregos no fim de 2014. Já a Baker demitirá 7 mil. A Schlumberger reduzirá o quadro global em 7% ou 9 mil vagas.

A executiva da Hays confirma que algumas empresas estão demitindo, seja por projetos postergados ou cancelados. Mas não vê motivo para alarmismo. "Profissionais de nível técnico e de engenharia temem repetir a década de 90, quando muitos foram atuar em outras áreas, como autônomos, taxistas", diz Vanessa, ponderando que a situação é diferente. "Temos o pré-sal, que tem de acontecer, embora a velocidade possa mudar."

No vermelho, maioria dos Estados terá ano de aperto

• Maioria dos Estados fechou balanço de 2014 com deficit no orçamento e agora precisará tomar medidas impopulares

• Equipe econômica indica que aperto de cintos exigirá maior contribuição também dos governos estaduais

Gustavo Patu – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A exemplo do que ocorre com o governo federal, desequilíbrios orçamentários herdados dos mandatos anteriores estão disseminados entre os Estados e têm obrigado os governadores a tomar medidas impopulares de ajuste.

Levantamento feito pela Folha mostra que 18 dos 27 governadores publicaram nas últimas semanas balanços financeiros mostrando que suas contas fecharam o ano passado no vermelho.

Dito de outra maneira, as receitas desses Estados foram insuficientes para cobrir as despesas com pessoal, custeio administrativo, programas sociais e investimentos.
Trata-se de algo inédito desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, impôs regras para disciplinar as finanças públicas.

Em 2011, primeiro ano das administrações passadas, apenas dois governadores registraram saldo negativo e precisaram se endividar para financiar gastos cotidianos e obras de infraestrutura.

Ao final dos mandatos, a lista dos deficitários é ampla a ponto de incluir Estados ricos e pobres, grandes e pequenos --e governadores dos principais partidos do país.

Isso obrigará os governadores que tomaram posse no início do ano a apertar os cintos, porque a oferta de crédito nos bancos federais e os repasses do Tesouro Nacional para obras tendem a minguar, e as receitas continuarão sofrendo com a crise econômica.

A equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicou que espera que Estados e municípios alcancem um superavit de R$ 11 bilhões neste ano, o equivalente a 17% da meta de economia estabelecida para o setor público, de R$ 66 bilhões, incluindo o governo federal e as estatais.

No ano passado, os governos estaduais tiveram deficit de R$ 13,2 bilhões, pela metodologia adotada pelo Banco Central, e de R$ 11,7 bilhões pelos balanços locais, sem incluir o Amapá, que ainda não publicou os dados.

Escalada
Em valores absolutos, os maiores rombos foram contabilizados no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco --comandados, respectivamente, pelo PMDB, pelo PSDB e pelo PSB, todos vitoriosos nas últimas eleições.

Como proporção da economia local, o maior deficit é o do Acre, onde o PT conquistou nas urnas o quinto mandato seguido. Os Estados superavitários foram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pará, Rondônia e Roraima.

A escalada dos gastos nos Estados foi amparada por políticas adotadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff para estimular a economia, com ampliação do crédito nos bancos oficiais.

O aumento das despesas ocorreu num período em que a arrecadação de impostos --incluindo tributos federais compartilhados com os governos regionais-- acompanhou o esfriamento da economia, agravada no ano passado.

Agora, tanto o Palácio do Planalto quanto boa parte dos governadores enfrentam resistências contra os inevitáveis pacotes de ajuste fiscal.

No Paraná, o tucano Beto Richa teve de recuar em suas propostas de redução das despesas com o funcionalismo público na semana passada, quando servidores invadiram a Assembleia Legislativa.

Medidas que incluem cortes orçamentários e aumento de impostos também estão em debate no Distrito Federal --onde o governo foi obrigado a atrasar salários-- e em Estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás.

Rio se endividou para ampliar investimento

• Estado que sediará Olimpíada acumulou em 2014 seu maior deficit desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal

• Crescimento dos gastos com pessoal aumentou pressão sobre finanças do Paraná e obrigou o Estado a parar obras

Italo Nogueira e Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

RIO, CURITIBA - Juntos, Rio de Janeiro e Paraná gastaram quase R$ 12 bilhões acima de suas receitas em 2014, o que torna os dois Estados estratégicos para a busca do reequilíbrio das contas públicas neste ano.

A cifra, que desconsidera as despesas com juros da dívida, supera o rombo conjunto de todos os demais governos estaduais deficitários.

No Rio, o deficit de R$ 7,3 bilhões foi o maior desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal e ficou 30% acima do esperado.

A causa principal foram os financiamentos tomados para obras como uma nova linha do metrô, compromisso para a Olimpíada de 2016.

Desde o governo Sérgio Cabral (PMDB), o Estado defende usar empréstimos para investir. Argumenta-se que o ajuste fiscal feito no início da gestão --quando o secretário da Fazenda era o hoje ministro Joaquim Levy-- abriu espaço para o endividamento.

Contudo, a desaceleração econômica e a crise no setor de petróleo derrubaram a arrecadação do Estado. Hoje a dívida fluminense equivale a 178% da receita anual, maior patamar desde 2005 --o teto fixado por lei é de 200%.

Neste ano, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) anunciou cortes em despesas como telefone e combustíveis, além da gratificação de cargos comissionados.

Já o Paraná, cujo deficit foi de R$ 4,6 bilhões em 2014, enfrenta uma crise financeira há pelo menos dois anos, que já forçou o Estado a suspender obras, atrasar pagamentos e parcelar salários.

No orçamento, o principal nó é a folha de pagamentos. Os salários de professores e policiais foram elevados e os gastos com pessoal somam 47% da receita, acima do limite prudencial de 46,55% e perto do teto legal de 49%.

O Estado argumenta que as receitas não evoluíram como o esperado, devido ao baixo crescimento do país, e que precisou gastar para melhorar os serviços públicos.

Com pouco dinheiro, o governo de Beto Richa (PSDB) tem atrasado pagamentos e suspendido obras desde 2013. No final do ano passado, para conseguir pagar os salários, sacrificou as férias: o abono foi parcelado em três vezes e adiado para 2015.

Neste ano, Richa aumentou impostos e propôs cortar o anuênio de servidores, alterar o regime de previdência e congelar um quarto do orçamento (R$ 11 bilhões).

Insatisfeitos, servidores acusam o governo de má gestão e ameaçam greve geral. Richa nega problemas de gestão e argumenta que as medidas são "impopulares, mas absolutamente necessárias".

Barusco admite que recebeu propina da Rolls-Royce

• De acordo com "Financial Times", empresa britânica pagou us$ 200 mil a ex-gerente da Petrobras

- O Globo

O escândalo de corrupção na Petrobras ameaça, agora, tragar mais empresas estrangeiras. O site do jornal "Financial Times" informou ontem que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco envolveu a gigante Rolls-Royce no escândalo de corrupção instalado na estatal. Segundo a publicação, Barusco contou que a empresa britânica - que fabrica turbinas usadas nas plataformas da Petrobras - pagou propina para conseguir um contrato de US$ 100 milhões com a estatal.

Segundo a reportagem, Barusco disse à polícia que, só ele, recebeu da Rolls-Royce US$ 200 mil, e que isso era só uma pequena parte do acerto da propina. A informação, diz o "Financial Times", consta nas mais de 600 páginas que registram os depoimentos prestados por ele como parte de sua delação premiada.

Em nota, a Rolls-Royce disse que "queria deixar claro que não tolera condutas impróprias de nenhum tipo e que tomará todas as medidas necessárias para garantir isso".

No Reino Unido, a empresa é investigada por ter pago, supostamente, propina na China e na Indonésia. Outras empresas estrangeiras estão supostamente envolvidas nos contratos irregulares da Petrobras. A Justiça já investiga acusações de contratos fraudulentos da estatal com a holandesa SBM Offshore, que já afirmou estar cooperando com as investigações, e com unidades de duas companhias de Cingapura - a Keppel Corporation e a Sembcorp Marine. Ambas negaram todas as acusações.

Barusco contou que o esquema de propinas foi gerido por vários operadores ou agentes que agiram em nome das empresas. Segundo ele, seu amigo Luiz Eduardo Barbosa, ex-executivo do grupo de engenharia suíço ABB, foi o responsável por intermediar os subornos de Rolls-Royce, SBM e Alusa, empresa brasileira de construção civil. A Alusa, que mudou seu nome para Alumini, negou veementemente as acusações. Procurado pelo "Financial Times", Barbosa não foi encontrado para comentar o caso.

PP levou R$ 316 milhões em propina, diz Youssef

• Doleiro entregou planilha à força-tarefa da Lava-Jato com registros de contratos de obras no total de R$ 31,6 bilhões. Partido ficou com 1%

- Zero Hora (RS)

Peça-chave das investigações na Petrobras, o doleiro Alberto Youssef entregou planilha com registro de contratos que totalizam R$ 31,6 bilhões, assinados por empreiteiras do cartel a partir de 2004 para 11 obras da estatal. Segundo ele, do valor global desses contratos foram pagas propinas de 1% ao PP.

A planilha indica, em valores não corrigidos, pagamentos de R$ 316 milhões à sigla. Investigadores da Operação Lava-Jato acreditam que essa seria a cota do PP no esquema de corrupção desbaratado pela operação da Polícia Federal a partir de março de 2014. A planilha, registrada em duas folhas anexadas ao termo de delação do doleiro, indica 15 pagamentos da Petrobras a empreiteiras do cartel.

Youssef citou 15 empreiteiras como pagadoras de "comissões". "Os pagamentos de comissões feitos pelas mesmas o foram tanto em espécie, como por intermédio de contratos feitos junto a GFD (empresa do doleiro), junto às empresas de Leonardo Meirelles (testa de ferro de Youssef), dentre elas a KFC", relatou. "Foram feitos pagamentos no Exterior junto às contas de Meirelles, em especial pela Odebrecht", detalhou.

A GDF e as empresas ligadas a Meirelles integravam a rede de lavagem de dinheiro criada por Youssef para operar os desvios na Petrobras e regularizar esse dinheiro não declarado por meio de operações financeiras fictícias ou por intermédio do câmbio negro.

Na planilha, a obra que envolve o maior valor de propina ao PP, R$ 90 milhões, é da Refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos (SP). Em nota, o PP informou que só poderá se posicionar após tomar conhecimento oficial sobre os depoimentos que envolvem a legenda. A sigla diz estar disposta a colaborar.

Caiado e Aécio assumem linha de frente da oposição no Senado

• Por enquanto, Serra e Tasso preferem se manter longe de embates

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - Nos primeiros dias da nova legislatura, a oposição no Senado mostrou que está fortalecida, partindo para o enfrentamento com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). O maior embate foi sobre a escolha dos cargos da Mesa Diretora. Por conta da exclusão dos partidos oposicionistas (PSDB, DEM e PSB) da Mesa, o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), teve um bate-boca com Renan em plenário. Mas as duas novas estrelas do PSDB - José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE) - mantiveram-se discretas. O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), foi quem roubou a cena: discutiu com Renan e levou para o Senado táticas de obstrução já usadas na Câmara.

O comportamento mais agressivo de Caiado e suas manobras de obstrução deixaram atônitos os colegas. Ex-deputado, Caiado utilizou táticas como pedir a verificação do quórum de senadores presentes para obstruir a sessão de escolha dos 11 integrantes da Mesa: sete titulares e quatro suplentes. A tática surpreendeu Renan, já que este tipo de embate não é comum nas sessões do Senado. A brincadeira entre os senadores era de que o clima da Câmara, onde os debates são mais acirrados, havia contaminado o Senado.

Em contrapartida, Serra e Jereissati não foram para os embates. Serra preferiu uma atuação mais econômica, apresentando desde já uma emenda ao texto da Medida Provisória 663 que exige transparência em relação aos dados sobre as operações entre União e BNDES. Ele propõe ainda que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vá ao Senado prestar esclarecimentos sobre a MP 663, que prevê principalmente nova capitalização do BNDES. O montante autorizado pela MP é de R$ 50 bilhões.

Nas comissões, nova batalha
Já o senador Tasso Jereissati, conhecido pelos discursos inflamados na outra passagem pelo Senado, ainda não foi para a briga. Aécio protagonizou a troca de farpas com Renan, mas depois também se manteve afastado.

As sequelas das manobras que garantiram a reeleição de Renan no comando do Senado e da Mesa Diretora acabaram paralisando as votações na Casa. Diferentemente da Câmara, o Senado não votou projetos ou MPs nos primeiros 15 dias de legislatura. A próxima batalha entre Renan, que tem ao seu lado PMDB e PT, e a oposição será a escolha dos comandos das chamadas comissões temáticas. A oposição teme que Renan não cumpra o critério da proporcionalidade na escolha dos presidentes das comissões e exclua novamente a oposição.

Irritado com a postura de Renan, Ronaldo Caiado ingressou com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a escolha da Mesa Diretora. O ministro Luiz Fux já pediu esclarecimentos a Renan, mas a intenção do DEM foi mais política.

- Estamos com o Senado parado, não sabemos qual vai ser a regra para a definição de comissões e o clima é de calmaria total. Ficou tudo para depois do carnaval - reclamou Caiado.

Experiente, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que o carnaval está servindo para acalmar os ânimos.

Apesar de ter criado uma tropa de choque no Senado, Renan começou a se reaproximar do PSDB nos últimos dias. Antes do carnaval, telefonou para o líder tucano Cássio Cunha Lima (PB) e combinou um café logo depois do feriadão. Renan disse que também pretende conversar com Aécio.

Crise atinge diretoria da Petros

• O fundo de pensão da estatal é controlado por petistas ligados a movimentos sindicais e a Vaccari

- O Tempo (MG)

RIO DE JANEIRO. A devassa nas contas da Petrobras desencadeou uma crise na Petros, fundo de pensão dos funcionários da estatal. Na última sexta-feira, durante reunião do Conselho Deliberativo da entidade, o diretor de Seguridade, Maurício França Rubem, surpreendeu os conselheiros ao pedir demissão. Foi mais um capítulo da disputa interna iniciada há dois meses, desde que a então presidente da Petrobras Maria das Graças Foster estendeu à Petros a auditoria interna em curso na estatal pelos escritórios Trench, Rossi e Watanabe Advogados e Gibson, Dunn & Crutcher.

Em dezembro, antes da decisão, Helena Kerr, a diretora de Administração e Finanças, já havia pedido demissão. Agora, são duas cadeiras vagas na cúpula da Petros, que tem três diretores e um presidente.

A Petros entrou na mira da auditoria da Petrobras e também da operação Lava Jato depois que o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos auxiliares do doleiro Alberto Youssef, disse em depoimento que dirigentes da fundação receberam parte de uma propina de R$ 500 mil para fechar um investimento de interesse do esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Polícia Federal. A Petros perdeu R$ 13 milhões com a operação. O advogado disse ainda que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ajudava a influenciar negócios de interesse de Youssef na Petros, o que o petista nega.

Segundo maior fundo de pensão do país, com R$ 80 bilhões em ativos e 150 mil participantes, a Petros é controlada desde 2003 por dois grupos sindicais do PT. O mais forte é o de ex-sindicalistas bancários de São Paulo, do qual fazem parte Vaccari e Wagner Pinheiro, atual presidente dos Correios, que dirigiu a Petros entre 2003 e 2010. Além da presidência, esse grupo sempre controlou a diretoria de Investimentos, de onde saíram os dois sucessores de Pinheiro. O outro grupo, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ficava com as demais diretorias e a presidência do Conselho. 

A harmonia começou a mudar em março de 2014, quando o então diretor de Investimentos Carlos Fernando Costa assumiu a presidência. No lugar dele ficou o ex-diretor de Administração Newton Carneiro da Cunha.

Engenheiro da Petrobrás cita represália após cancelar licitação acima do preço

• Funcionário da estatal disse que subordinados de Pedro Barusco, ex-gerente que admitiu ter recebido US$ 97 milhões em propina, o pressionavam contra cancelamento de certames e que foi deslocado de refinaria após questionar aumento de preços

Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

Em depoimento à Polícia Federal em um dos inquéritos da Lava Jato, o engenheiro eletricista da Petrobrás, Luiz Antônio Kalil Horta relatou que era pressionado por subordinados do ex-gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco, que admitiu ter recebido US$ 97 milhões em propinas na estatal, a negociar licitações muito acima do valor estipulado e que chegou a ser deslocado da comissão de licitações da Refinaria de Paulínia (Replan), no interior de São Paulo, após cancelar certames com preço maior que o previsto.

Segundo o engenheiro, em uma licitação para ampliação da casa de força da refinaria, em 2007, o menor lance dado pelas empresas convidadas para o certame foi de R$ 919 milhões, muito acima da previsão inicial de R$ 506 milhões estimados pela área técnica da Petrobrás, o que motivou o cancelamento da licitação na época. Ao mencionar que iria adotar essa medida, contudo, ele disse que foi procurado pelo funcionário do Serviço de Engenharia da estatal (Segen, que faz as estimativas de preços das licitações da Petrobrás) Fernando de Almeida Biato, e pelo seu chefe direto na refinaria, Jairo Luiz Bonet.

Na ocasião, ambos falaram para ele não cancelar o certame e negociar com as empresas, sugestão que não foi acatada por Kalil Horta, que cancelou a licitação e realizou outra, vencida por um preço dentro da estimativa inicial da área técnica da Petrobrás. Em uma situação semelhante, no mesmo ano, Kalil Horta conduziu a licitação para a ampliação da estação de tratamento de água (ETA) da Replan.

Neste caso, ele cancelou o primeiro certame pois as propostas também estavam acima da estimativa do Segen e, na segunda licitação, uma das empresas ofereceu preço próximo ao levantado pela estatal, mas um funcionário do Segen, que ele não recorda o nome, aumentou a estimativa do contrato. “Essa medida não teve nenhuma justificativa, uma vez que a empresa que ofereceu a proposta era idônea e tinha condições de executar a obra”, relatou o engenheiro à PF. Kalil Horta disse que ficou indignado e chegou a telefonar para o funcionário, que alegou ter sido pressionado para fazer isso, e que “naquele mesmo dia esse funcionário lhe enviou um e-mail retornando a estimativa ao patamar anterior”.

Kalil Horta, contudo, não chegou a concluir essa licitação e foi transferido para a refinaria Presidente Bernardes em Cubatão (SP), “perdendo inclusive uma gratificação de chefia de cerca de 15% a 20% do seu salário”, relatou. Além dele, outro engenheiro que atuava na comissão de licitação da Replan, chamado Seishiro Morimoto foi deslocado da refinaria após a licitação que ele conduzia de construção de unidades de hidrotratamento de gasolina ser cancelada devido ao preço muito acima do levantado pela estatal. Segundo Kalil Horta, foram feitas outras licitações a preços muito mais elevados.

Também questionado pela Polícia Federal um mês após o depoimento de Kalil Horta, Morimoto confirmou ter ficado “intrigado” com o fato de que foram convidadas 18 empresas para este certame, mas apenas três propostas terem sido apresentadas na época, o que, segundo ele “era bastante incomum”. Diferente de Kalil Horta, contudo, Morimoto disse não se recordar se o preço das licitações posteriores foram acima das estimativas iniciais e que foi deslocado para a refinaria de Capuava (SP), após o certame, a seu pedido. Ele também negou ter havido pressão por parte de seus superiores para negociar com as empresas ao invés de cancelar a licitação.

‘Pessoal de cima’. Atuando desde 1983 na estatal, Kalil Horta, por sua vez, disse que seus superiores na Replan, que também eram chefes de Morimoto,incentivavam as negociações com as empresas e chegavam até a questionar os valores das propostas apresentadas pelo Segen. Dentre os que eram contra o cancelamento dos certames, segundo o engenheiro, estavam Biato, subordinado direto de Barusco, Bonet, o gerente do empreendimento Faustino Vertamati e o gerente-geral da Replan Raimundo Cerqueira Neto.

Questionado se tinha contato com Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, o engenheiro negou que mantinha relacionamento com os executivos, mas disse que Biato se referia a eles como ‘o pessoal de cima’ que “estaria mandando que negociasse com as empreiteiras que estariam oferecendo propostas muito altas”.

O depoimento de Kalil Horta foi dado em 14 de janeiro, em um dos inquéritos da Lava Jato conduzido pela Polícia Federal que apura o esquema de desvios e lavagem de dinheiro que se instalou na Petrobrás. Morimoto falou à PF no âmbito do mesmo inquérito em 12 de fevereiro.

Agenda de ministro da Justiça omite compromissos

• Encontros de Cardozo com advogados de empreiteiras sob investigação viram alvo de críticas

• Desde a deflagração da Operação Lava Jato, em março de 2014, site deixou de informar atividades em 80 dias

Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A agenda divulgada pelo Ministério da Justiça em seu portal na internet omite boa parte dos compromissos oficiais do ministro José Eduardo Cardozo, de acordo com levantamento feito pela Folha.

Nos últimos dias, após virar alvo de críticas com a revelação de que se encontrou com advogados de empreiteiras sob investigação da Operação Lava Jato, Cardozo disse que não agiu errado e que todos os seus compromissos são divulgados na internet.

Mas o levantamento da Folha mostra que sua agenda não informa quais foram suas atividades em 80 dos 217 dias de trabalho que ele teve desde a deflagração da Operação Lava Jato pela Polícia Federal, em 17 de março de 2014.

Nesses 80 dias, não é possível saber onde o ministro esteve, nem se houve reuniões durante o expediente.

Na sexta-feira (13), quando os encontros de Cardozo com advogados das empreiteiras provocaram questionamentos, sua assessoria informou que audiências desse tipo são registradas na agenda oficial.

O levantamento da Folha mostra que apenas três encontros com advogados foram registrados desde março do ano passado. O mais recente ocorreu no dia 5 deste mês, quando Cardozo recebeu em seu gabinete três advogados que defendem a Odebrecht, segundo o jornal "O Globo".

Além deles, a agenda mostra que foram ao gabinete de Cardozo duas advogadas, em dias diferentes do mês de julho. Nenhuma delas, porém, defende personagens ou empresas envolvidas no esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Lava Jato.

O ministro, a quem a Polícia Federal é subordinada, diz que a lei garante a advogados o direito de ser recebido por autoridades públicas.

A Folha informou que Cardozo teve neste ano pelo menos três conversas com advogados de empreiteiras sob investigação, entre elas a UTC e a Camargo Corrêa. Elas não constam da agenda oficial.

Com relação aos 80 dias em que não existe registro das atividades de Cardozo, sua assessoria disse que houve "problemas no sistema de TI (Tecnologia da Informação)".

A assessoria afirmou que na maior parte desses dias Cardozo estava em despachos no gabinete ou em reuniões internas que sofreram alterações de horários. Segundo a assessoria, o encontro com advogados da Odebrecht foi o único em que o ministro tratou da Operação Lava Jato.

Joaquim Barbosa pede demissão de ministro da Justiça pelo Twitter

• Senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, saiu em defesa do ministro pela mesma rede social

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após a divulgação de notícias sobre reuniões do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com advogados de empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa decidiu esquentar a polêmica. Pelo Twitter, ele pediu a demissão de Cardozo no último sábado, 14. O ministro evitou polemizar, mas petistas saíram em sua defesa e criticaram Barbosa.

“Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça”, escreveu Barbosa, que foi relator do processo do mensalão. “Reflita: você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, vc vai recorrer à Política?”, completou o ex-presidente do Supremo, que condenou à prisão dirigentes históricos do PT e se orgulhava de não receber advogados.

Cardozo disse ao Estado que só recebeu em audiência advogados da Odebrecht, como consta de sua agenda, e negou que tenha tratado da Lava Jato com Sérgio Renault, defensor da UTC, ou com advogados da Camargo Corrêa. As três são alvo da operação e as duas últimas têm executivos presos pela Polícia Federal.

“Eu não vou polemizar com o ministro Joaquim Barbosa. Ele, como qualquer cidadão, tem todo o direito de se manifestar livremente. Vivemos numa democracia”, afirmou Cardozo.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tuitou neste domingo em defesa do ministro. “A quem interessa a demissão de um ministro da Justiça independente, chefe de uma Polícia Federal que apura o que tem que apurar, sem interferências? Nem a oposição retoca José Eduardo Cardozo. O que há por trás de quem o critica? Pensem”, postou.

O encontro do ministro com três advogados da Odebrecht ocorreu no dia 5. Segundo a revista Veja, Cardozo estaria numa articulação para acalmar empreiteiros acusados de participação no esquema de corrupção da Petrobrás porque muitos ameaçam apontar o dedo para Dilma e para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se não forem socorridos.

Representações. Ao Estado, Cardozo afirmou que os advogados da Odebrecht pediram uma audiência formal para solicitar providências sobre possíveis irregularidades cometidas na Lava Jato. Disse que os fatos relatados provocaram duas representações, encaminhadas para apuração. Questionado sobre as denúncias, o ministro se esquivou: “Não posso revelar porque isso tramita em sigilo”. Em nota divulgada neste domingo, a assessoria de Cardozo observou que “é dever do Ministério da Justiça receber (...) representações e determinar o seu regular processamento, sob pena de incorrer em grave violação legal”.

No acordo de delação premiada, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou que a Odebrecht pagou a ele US$ 31,5 milhões em propina, de 2012 a 2013, em contas na Suíça. A empresa nega.

Cardozo disse não estar agindo para tranquilizar advogados de empresários que ameaçam o PT e o governo Dilma. “Eu jamais faria isso. Eu não me reuni com Sérgio Renault, que, aliás, é meu amigo. Ele nem entrou no gabinete. Ficou na antessala. Esteve lá porque marcou um almoço com o Sigmaringa Seixas, que estava comigo, e foi buscá-lo.”

Na quarta-feira, em entrevista ao Estado, Cardozo acusou o PSDB de usar a Lava Jato para tentar incriminar Dilma. “Aqueles que querem fazer isso têm motivação política e problema psicológico, por não aceitarem o resultado das urnas.”

Lava-Jato : Barbosa sugere a Dilma demitir Cardozo

• Ex-ministro do STF critica reunião de Ministro da Justiça com advogados da Odebrecht, acusada na Lava-Jato

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa foi ao Twitter para pedir a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ontem, O GLOBO revelou que o petista recebeu em audiência advogados da empreiteira Odebrecht, citada nas investigações da Operação Lava-Jato.

"Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça. Reflita: você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à política?", escreveu

No último dia 5, Cardozo recebeu os representantes da Odebrecht em seu gabinete. Na agenda oficial da reunião com Maurício Roberto Ferro, Pedro Estevam Serrano e Dora Cavalcanti constava só a informação de que se tratava de uma "visita institucional". Não há menção ao fato de que os três representavam a empreiteira, que Ferro é vice-presidente jurídico, e Serrano e Dora trabalham para a construtora.

No sábado, o ministro confirmou ao GLOBO a reunião, mas disse que os advogados foram lhe entregar representações denunciando supostas irregularidades na Operação Lava-Jato. Alegando sigilo, Cardozo não quis dar detalhes das acusações feitas pela defesa da empreiteira. Procurada desde sábado, a construtora ainda não se pronunciou sobre a reunião do dia 5. A assessoria do ministro foi procurada novamente ontem para responder ao pedido feito por Barbosa, mas não respondeu.

Rubens Bueno (PR), líder do PPS na Câmara, engrossou o coro contra a postura de Cardozo. No Twitter, ele escreveu que "não é função do ministro da Justiça se reunir com advogados de empresas que estão sendo investigadas pela Polícia Federal. Trata-se de uma postura, no mínimo, imprópria". Bueno destacou ainda que a oposição ficará atenta a qualquer tentativa de manipulação das investigações.

Humberto Costa, líder do PT no Senado, saiu, por sua vez, em defesa de Cardozo. Também no Twitter, ele questionou a motivação de Barbosa para defender a demissão dele. "A quem interessa a demissão de um ministro da Justiça independente, chefe de uma Polícia Federal que apura o que tem que apurar, sem interferências? Nem a oposição retoca José Eduardo Cardozo. O que há por trás de quem o critica? Pensem", escreveu.

O ex-ministro da Justiça Tarso Genro (PT) atacou o Poder Judiciário. Para ele é política a decisão de manter presos executivos de empreiteiras. "Duvido que os empresários dos processos sobre a corrupção na Petrobras ainda estejam presos por causas processuais ou investigativas. Continuam presos por uma função política do Poder Judiciário e para direcionar os processos judiciais", escreveu.

Odebrecht fala em "calúnias"
A Odebrecht também foi citada pelo doleiro Alberto Youssef, que a acusou de pagar R$ 10 milhões de propina ao ex-deputado José Janene (PP), já falecido. A Odebrecht negou e classificou as acusações como "calúnias". A empreiteira é alvo de um inquérito específico na Lava-Jato.

Na edição desta semana, a revista "Veja" afirmou que Cardozo teria se reunido também com Sérgio Renault, sócio de um escritório que defende a UTC Engenharia, outra empreiteira envolvida na Lava-Jato. Cardozo diz que o encontro com Renault foi na antessala de seu gabinete, quando o ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, saia de uma audiência.

Barbosa defende demissão de Cardozo

• Ex-presidente do STF atacou petista no Twitter

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa defendeu a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em mensagem divulgada no Twitter na noite de sábado (14).

Na publicação, ele sugere aos seguidores que se mobilizem para pedir a saída de Cardozo. "Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça".

Em mensagem posterior, Barbosa associou o pedido às notícias sobre os encontros que Cardozo teve com advogados de empresas investigadas pela Operação Lava Jato.

"Reflita: vc defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, vc vai recorrer à política? [sic]", questionou Barbosa.

Durante o julgamento do mensalão, e mais tarde como presidente do STF, Barbosa colecionou atritos com advogados, recusando-se a recebê-los em seu gabinete e criticando publicamente a forma como defendiam seus clientes.

Em nota, Cardozo evitou polêmica com Barbosa: "Como qualquer cidadão, [ele] tem o direito de manifestar opinião sobre quaisquer fatos da vida pública nacional".

Barbosa citou um episódio associado ao julgamento do mensalão para criticar Cardozo. "Ajuda à memória coletiva: pesquisem sobre uma controvertida decisão do TCU de jun/jul 2012, pouco antes do início do julgamento [sic]", disse em sua conta no Twitter.

O ex-presidente do STF se referiu a uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que considerou legal a apropriação do chamado bônus-volume pelas agências do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do esquema do mensalão.

A decisão se baseou na lei 12.232/2010, que autoriza as agências de publicidade contratadas pelo governo federal a reter o bônus-volume, comissão paga pelos veículos de comunicação às agências.

A lei nasceu de um projeto apresentado por Cardozo em 2008, quando ele era deputado federal. Ele permitia a apropriação das comissões em contratos futuros, mas uma emenda do deputado Milton Monti (PR-SP) estendeu o benefício a contratos antigos, como os de Valério.

Com R$ 1,5 bi a receber da Sete Brasil, estaleiros cortam produção e demitem

• Paralisia. Cinco estaleiros que têm contratos com a empresa, criada para gerenciar a construção de sondas para a Petrobrás, estão sem receber desde novembro; na Bahia, unidade que pertence às construtoras Odebrecht, OAS e UTC está com as obras paradas

Josette Goulart - O Estado de S. Paulo (15/2/2015)

Com uma carta aos funcionários dizendo que a indústria naval vive uma crise sem precedentes e que os atrasos de pagamento da Sete Brasil tornaram sua situação insustentável, o estaleiro Enseada, no Recôncavo Baiano, demitiu na sexta-feira 350 trabalhadores. O número de demitidos acentua ainda mais a queda de empregados no setor de construção naval. Segundo o Sindicato da Indústria Naval, só em janeiro deste ano, foram cortados três mil postos.

A situação é crítica para os cinco estaleiros que têm contratos com a Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção das sondas a serem usadas pela Petrobrás na exploração do pré-sal. Segundo fontes ligadas à empresa, a Sete deixou de pagar aos cinco estaleiros entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões desde novembro. E é no estaleiro da Bahia que a situação parece mais grave.

O estaleiro Enseada, que pertence às construtoras Odebrecht, OAS e UTC, além do grupo japonês Kawasaki, começou a ser construído em 2012 para atender a demanda do pré-sal. O estaleiro já está 82% concluído, mas as obras foram paralisadas desde que a Sete Brasil começou a atrasar pagamentos e três mil trabalhadores foram desmobilizados. As demissões alcançam o estaleiro, que informou a suspensão da produção, assim como outros fornecedores da Sete. A empresa está desde novembro sem pagar o Enseada e a dívida já chega a R$ 500 milhões. Com a inadimplência de seu único cliente, está impossível obter crédito.

Também sem receber, o estaleiro Rio Grande, da construtora Engevix, reduziu o ritmo da produção e a empresa só não demitiu porque tem outros contratos em andamento e conseguiu transferir seus funcionários para trabalhar em outras embarcações. Os atrasos da Sete com o Rio Grande chegam a R$ 180 milhões, e a estimativa é de que atinjam R$ 250 milhões.

Montante parecido é devido ao estaleiro Jurong, do grupo SembCorp de Cingapura, segundo informou o presidente mundial na semana passada. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, na semana anterior, o presidente do estaleiro no Brasil chegou a ameaçar processar a Sete na Justiça.

Segundo fontes próximas à companhia, outros R$ 900 milhões estão em atraso com os outros dois estaleiros, o Atlântico Sul, que pertence à Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, e o estaleiro BrasFels, do grupo Keppel de Cingapura. E as demissões também já começam a ser percebidas no Atlântico Sul (leia mais na página B3).

Nenhum dos estaleiros quis conceder entrevistas sobre o assunto. O estaleiro Jurong informou apenas que as atividades estão normais. O Enseada confirmou as demissões. E o Rio Grande disse que teve de realocar pessoal. Atlântico Sul e BrasFels, não quiseram comentar.

Lava Jato. Há menos de duas semanas, vieram à tona os termos da delação premiada do ex-diretor da Sete, Pedro Barusco, e todos os estaleiros foram envolvidos na Operação Lava Jato. Eles teriam pago propinas à empresa para fechar os contratos. Isso vai dificultar a liberação do financiamento do BNDES, de cerca de US$ 3,2 bilhões. O dinheiro serviria para garantir a construção do primeiro bloco de sondas. A Sete informou que "está em constante negociação com os estaleiros e que confia que, em breve, terá aprovada a liberação dos recursos contratados com o BNDES".

As dificuldades da Sete começaram quando Barusco, em novembro, fez o acordo de delação premiada. Como além de ex-funcionário da Petrobrás, era ex-diretor da Sete, surgiu a dúvida se haveria implicação da empresa. Em dezembro, a então diretoria da Petrobrás ameaçou desistir do contrato de sete sondas, que faziam parte do contrato do Atlântico Sul. Sem ele, a Sete, controlada pelos bancos BTG, Santander e Bradesco além de fundos de pensão, iria à bancarrota. Em janeiro, com a intervenção do governo, a diretoria da Petrobrás voltou atrás e assinou o termo. Mas o BNDES fez ajustes, e quando a Petrobrás iria novamente assiná-lo, a diretoria da empresa mudou.

Em PE, Atlântico Sul demitiu 620 em 7 meses

• Sindicato afirma que estaleiro chegou a ter 11 mil funcionários em 2011; no ano passado eram 5,6 mil e atualmente 4.975

Ângela Lacerda- O Estado de S. Paulo (15/2/2015)

RECIFE - Desde agosto do ano passado, 620 trabalhadores do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) foram demitidos em Pernambuco. Cento e vinte deles nos primeiros 40 dias de 2015. "A situação é muito preocupante", afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (Sindmetal), Henrique Gomes, para quem a crise na Petrobrás, envolta em denúncias de desvios de recursos e propinas, provocou um efeito dominó: o EAS não recebe os pagamentos da Transpetro pelos navios entregues, e, sem receber, o estaleiro reduz o número de funcionários e também não paga seus fornecedores, que, por sua vez, começam a demitir. "Quem paga o pato são os trabalhadores", lamenta.

Ele lembra que o Atlântico Sul chegou a ter 11 mil funcionários em 2011. No ano passado, eram cerca de 5,6 mil e atualmente 4.975. O fato de a empresa ter muitas encomendas - um total de 22 navios petroleiros e o casco P-55 dentro do Processo de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) - não acalma o sindicalista. "A Transpetro é da Petrobrás e, dependendo das circunstâncias, pode vir a cancelar pedidos", adverte, ao frisar que muitas empresas fornecedoras do estaleiro instaladas em Pernambuco poderão fechar. "É um momento delicado."

Segundo ele, um desses fornecedores, a Máquinas Piratininga, que fazia anéis para o estaleiro, demitiu aproximadamente 300 trabalhadores nos últimos dois meses. Gomes informa que as rescisões ainda não foram pagas e que a empresa mantém no seu quadro entre 30 e 40 funcionários. "Temos todas as homologações aqui no sindicato", assegura.

Sem resposta. Procurada pela reportagem, a direção da Máquinas Piratininga - localizada em Jaboatão dos Guararapes - não quis conceder entrevista. O Estaleiro Atlântico Sul não atendeu à reportagem nem se pronunciou sobre o assunto.

Do total contratado pela Transpetro, o estaleiro entregou os petroleiros João Cândido (2012), Zumbi dos Palmares (2013) e o Henrique Dias (2014). O quarto, o André de Rebouças, foi batizado e deve ser entregue em março.

A secretária de Planejamento de Ipojuca, cidade onde está o estaleiro, Danielle Lima, afirma que "até o momento" as demissões no Atlântico Sul não provocaram impacto ou queda de receita do município. "Vamos acompanhar e analisar e no primeiro quadrimestre poderemos entender como a arrecadação se comporta", disse ela, que espera um ano difícil devido ao cenário econômico do País.

A secretária observa que hoje cerca de 10% dos trabalhadores no complexo industrial de Suape - onde se localiza o EAS - são de Ipojuca, e a prefeitura finaliza um estudo que indicará as vocações econômicas e produtivas e as potencialidades do mercado para adotar um programa de qualificação profissional que possa inserir mais nativos nos postos de trabalho.

Ricardo Noblat - De promessas vãs fez-se o desengano

- O Globo

"Me dá, me dá / Me dá o que é meu / Foram vinte anos / Que alguém comeu "
Samba-enredo do Império Serrano, 1986

O Grêmio Escola de Samba O Povo Unido Jamais Será Vencido saúda este mui nobre e tropical ajuntamento e pede passagem. Não esperem um desfile de luxo, não mesmo. Afinal, foi- se o tempo do carnaval patrocinado por bicheiros, empresas privadas e estatais. Tem ditador africano capaz de meter a mão no bolso e financiar escola que cante as belezas do seu país. Mas isso é como acertar a mega-sena acumulada .

A VIDA transcorreu confortável até meados do ano passado Destaques , figurantes , passistas e músicos acreditaram que tudo ficaria melhor caso reelegessem a diretoria da escola . Deu no que sentem na pele. E já não mais escondem. Agora, a palavra de ordem é austeridade. Menos purpurina. Menos paetê . Menos espelhos . Menos penas de pavão. De volta à realidade ingrat a. Quarta-feira de Cinzas é todo dia .

SE O CARRO abre-alas apresentar algum defeito, relevem, por favor. Se a comissão de frente errar o passo, não pensem em sabotagem. Poderá ser descuido. Se a certa altura do desfile o samba atravessar, paciência. Não cobrem perfeição de quem se sente enganado. Se faltar harmonia, perdoem. O mal-estar é geral. E para escapar de hostilidades , a presidente da escola saiu de férias .

PREFERIU manter distância da muvuca. Que perigo correria se fosse re conhecida na rua... Pois já não cota com a confiança dos seus súditos. Sab ia de tudo, mas finge que não. É culpada pela maioria dos malfeitos que se sucederam. Mentiu sem pudor ao acenar com desfiles superiores aos mais recentes. Fez a Nação de boba .

QUANDO CELEBROU sua reeleição, prometeu que tudo faria para doravante ser um a pessoa melhor. Quer o ser "um a pessoa ainda melhor do que tenho me esforçado para ser", prometeu solene e modesta, ora vejam. E na hora se impacientou com o barulho daqueles que comemoravam felizes sua vitória. Falou em diálogo pelo menos meia dúzia de vezes.

UMA DELAS: estou "disposta a abrir um grande espaço de diálogo com todos os setores da sociedade para encontrarmos as soluções mais rápidas para os nossos problemas". Papo furado! Desde então não se notou nenhuma mudança nela. Chegou a passar pouco mais de 30 dias sem dirigir uma única palavra ao seu vice. Nem mesmo por telefone. Diz que manda na escola com a ajuda do resto da diretoria. Balela pura!

TRATA-SE DA mesma personalidade irascível de antes . Que devota um indisfarçável desprezo pelos aliados . Entre relacionar-se com seus semelhantes, que não sabe e não gosta, e apelar para a propaganda, que vê como um a poção mágica, decidiu chamar o marqueteiro. É postura arrogante de quem subestima a inteligência alheia. Não é a única pessoa a proceder assim. Seu antecessor na presidência também procede, embora seja simpático e bom de gogó .

EM CASO DE emergência, se faltar quem puxe o samba , ele puxa à vontade. Se deixarem, puxará em qualquer situação. Na comunidade, só se comenta as broncas que ele costuma dar na sua sucessora. Comenta-se também a irritação da sucessora com a deslealdade do ex, que deixa vazar de propósito tudo o que sente e acha do comportamento dela .

O EX NÃO engoliu o fato de ter perdido a chance de reocupar um lugar que era seu por merecimento. E teme que uma nova administração medíocre da sucessora possa aposentá-lo para sempre. De resto, está em pânico com o risco de ser apontado como o chefe da gangue que tungou a escola em milhões de dólares. Sem que a sucessora tenha suado a camisa o bastante para defendê-lo .

José Roberto de Toledo - Pátria especuladora

- O Estado de S. Paulo

Na campanha presidencial, as ações da Petrobrás caíam toda vez que subiam as intenções de voto em Dilma Rousseff (PT). O registro de uma pesquisa desencadeava um sobe e desce das cotações em 50 tons de especulação. Pouca gente ganhou muito dinheiro vendendo e recomprando Petrobrás. Mas não só Petrobrás.

Um pequeno grupo de empresas viu suas ações oscilarem na Bovespa na razão inversa da petroleira: os chamados "papéis Dilma". Se a presidente subia nas pesquisas, eles disparavam junto. Se caía, despencavam. As estrelas do pacote eram as donas de faculdades. Terá o mercado adivinhado que o lema do segundo mandato da presidente seria "Pátria educadora"? Não, só fez contas.

Desde que o governo federal começou a mudar as regras de acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), em 2010, ser dono de muitas faculdades passou a ser o que há de mais próximo ao capitalismo sem risco no Brasil. O aluno assume um financiamento no Fies, e a faculdade tem a garantia de que receberá integralmente e na data certa o valor da sua mensalidade. Se o aluno não pagar o financiamento, o problema é seu, meu, nosso.

O negócio é tão bom que o Fies foi tomado de assalto - no bom sentido - por educandos e educadores. Desde 2010, o volume de recursos do Tesouro transferidos para os cofres das faculdades dobra todo ano: de R$ 1,1 bilhão, pulou para R$ 13,4 bi em 2014. Mas, como demonstraram os jornalistas Paulo Saldaña e Rodrigo Burgarelli, tanto dinheiro não acelerou o acesso de jovens à educação superior além da taxa histórica de crescimento.

O que aconteceu foi que as faculdades "securitizaram" os alunos que já tinham - usando incentivos criativos para que aderissem ao Fies, zerando assim a inadimplência das mensalidades. Alguns grupos se beneficiaram mais do que outros e ficaram com uma parte recorde de recursos públicos - desbancando empreiteiras e laboratórios no ranking de transferências do Tesouro.

Em 2014, o grupo Kroton/Anhanguera recebeu pouco mais de R$ 2 bilhões do governo federal. Nunca antes um grupo privado recebeu tanto dinheiro do Tesouro em tão pouco tempo. Tudo legal. É que a maioria dos seus estudantes está hoje garantida pelo Fies.

Essa agressividade foi recompensada também pelo mercado financeiro. Nove entre dez fundos de ações passaram a incluir a companhia em seu portfólio. Como resultado, as ações da Kroton tiveram uma valorização de mais de 500% entre março de 2012 e novembro de 2014. Ao mesmo tempo, o Ibovespa caiu 18%.

A Kroton foi a estrela da festa, mas não brilhou sozinha. Outros grupos educacionais também receberam centenas de milhões de reais do Fies e viram suas ações se valorizarem muito acima da média das outras empresas brasileiras ao longo dos últimos anos. Foram os casos da Gaec Educação e da Estácio Participações.

O champanhe começou a azedar, todavia, em 27 de novembro de 2014. Coincidentemente, essa data marca o pico de valorização das ações das três empresas Fies-dependentes. Desde então, caíram mais que a Petrobrás (com Lava Jato e tudo). O que aconteceu naquela quinta-feira que estragou a festa de Kroton, Gaec e Estácio? Dilma confirmou Joaquim Levy como ministro da Fazenda.

Precisando cortar gastos para equilibrar as contas, não deve ter sido difícil ao novo ministro perceber que o Fies era um ponto muito fora da curva. Para consternação do mercado e das faculdades, o Ministério da Educação impôs várias mudanças restringindo o acesso ao programa, no final de dezembro.

Desde então, o lobby dos Fies-dependentes educou Brasília. Para o contra-ataque, contatou a banda oposicionista do PMDB. Na quinta-feira, o governo reverteu parte das restrições ao Fies. O MEC só anunciou as mudanças no fim da tarde, mas, curiosamente, as ações da Kroton disparavam desde a abertura do pregão, logo pela manhã. Foram as que mais subiram naquele dia. Pátria educadora é isso.

Gustavo Patu - Teoria do estelionato

Todos os presidentes vitoriosos nas urnas após o fim da ditadura militar cometeram estelionatos eleitorais. Trata-se de regra, portanto, não de exceção.

Collor confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança, medida que na campanha havia acusado o adversário Lula de planejar. FHC conquistou seu segundo mandato com a promessa de preservar os fundamentos originais do Plano Real, que já faziam água por todos os lados e foram abandonados em semanas.

Do lado petista, Lula abraçou em seu primeiro governo as diretrizes neoliberais demonizadas pelo partido, incluindo o Bolsa Família na área social (seu programa era um tal Fome Zero, algumas vezes mais caro). Dilma Rousseff repete a dose agora, com o agravante de ter associado tal agenda à fome e ao desemprego, à base de argumentação rudimentar.

Uns se saíram melhor do que outros de seus embustes. O mais bem-sucedido, claro, foi Lula, que manteve a aprovação do eleitorado e contou com a boa vontade da classe política, além do entusiasmo dos mercados; FHC jogou fora sua popularidade, mas preservou apoios entre os partidos e a elite econômica; Collor ficou sem nada e deu no que deu.

Dilma não é Collor. Dispõe de um partido poderoso e de militantes fiéis na academia, na imprensa e na internet. A vasta base de sindicatos, movimentos e associações ligadas ao PT pode resmungar contra o corte de gastos sociais, mas não tem alternativas na oposição.

No entanto, os consertos necessários nas contas do governo, na inflação e no dólar estão se mostrando mais dolorosos e menos frutíferos que o previsto. O custo da escalada da rejeição da presidente ainda está longe de trazer o benefício da restauração da credibilidade no mercado.

Nesse cenário, a governabilidade dependerá crescentemente da boa vontade do Legislativo, ou do que restar dele após o caso Petrobras. Uma mina para PMDBs, PSDs ou PLs.

Vinicius Mota - O PMDB tem algo a dizer

- Folha de S. Paulo

Há uma convicção difusa na opinião pública e na crítica informada de que o sistema de representação política do Brasil é um estorvo a necessitar ampla modernização. No horizonte do anseio reformista estão modelos ideais de coerência doutrinária e organização do voto.

Um indício da força desse juízo é a série de intervenções no ordenamento partidário e eleitoral praticadas pelo Supremo Tribunal Federal neste século. A corte já tentou harmonizar à força as coligações partidárias e impingir fidelidade partidária aos eleitos. Agora está prestes a proibir, numa interpretação bastante subjetiva, empresas de financiarem candidatos.

Os comandos cerebrinos do Supremo têm sido subvertidos pela prática política. Restabeleceu-se a liberdade de coligações; abriram-se fendas para mudanças de partido. É provável que o veto ao dinheiro empresarial seja também relativizado após ser decretado pela Justiça.

Será apenas por maldade e medo de perder o posto que a massa de deputados, senadores e lideranças partidárias contraria a opinião média de elites influentes acerca do que é melhor para o Brasil?

Avaliado em quesitos objetivos ""como o grau de competição, previsibilidade, estabilidade e influência nas ações do Estado"", o modelo político-partidário brasileiro não se sai mal. Ele representa razoavelmente bem as demandas da grande maioria mal remediada dos eleitores, que depende dos fundos públicos para satisfazer necessidades de vida e bem-estar.

Pela primeira vez em muitos anos, pode tornar-se majoritária uma ideia de reforma adaptativa surgida no núcleo dos praticantes da política. Trata-se do "distritão", pelo qual são eleitos para deputado federal sempre os candidatos mais votados em cada Estado. Alguns malham a proposta porque vem do PMDB. Para outros, como eu, esse é um motivo para avaliá-la com interesse e profundidade.

Marcus Pestana - Reforma política: de volta ao começo

Na última terça-feira, foi instalada a Comissão Especial – da qual farei parte – que apreciará a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma política, construída no âmbito do grupo de trabalho nomeado pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, em 2013.

Recordando, as manifestações sociais nas principais cidades brasileiras em 2013 revelaram um mal-estar com o sistema político reinante. O motor das mobilizações, na verdade, eram questões mais concretas: qualidade da educação, custo do transporte coletivo, mobilidade urbana e as debilidades de nosso sistema público de saúde.

A leitura das elites políticas, no entanto, foi de que o centro das demandas era a reforma política, tema de natureza institucional, que não fala diretamente às angústias da maioria da população. A maioria da sociedade não tem clara percepção de que, melhorando o processo decisório, haverá desdobramentos na saúde, na educação, na segurança e no bem estar dos cidadãos. Isto não invalida a urgência de uma profunda mudança no nosso sistema político.

Após a ocorrência das maiores movimentações de massa dos últimos 20 anos, no afã de mostrar serviço, a presidente Dilma propôs uma Constituinte exclusiva e, depois, um plebiscito. Ora, como instalar um poder constituinte com instituições democráticas em pleno funcionamento e uma Constituição em vigor? O plebiscito também não se mostrou uma saída adequada.

A melhor resposta veio do GT da Câmara com a PEC 352/2013. Ela prevê a regionalização do voto proporcional, a cláusula de desempenho para conter a multiplicação artificial e perversa de partidos, o fim das coligações proporcionais que induzem o eleitor ao erro, o fim da reeleição, a coincidência de mandatos, o voto facultativo, a melhoria das regras do financiamento da atividade política e um referendo em que a população apoiará ou não as mudanças.

Vamos lembrar os objetivos essenciais de uma reforma política substantiva: aproximar a sociedade de sua representação, aprimoramento das regras do financiamento e fortalecimento dos partidos políticos. O objetivo central é avançar no funcionamento da democracia brasileira. O PT tenta transferir, hipocritamente, o eixo principal para o financiamento público de campanha, como varinha de condão contra a corrupção, demonizando as doações privadas. O PT, nos últimos anos, foi disparadamente o que mais captou doações privadas. A postura do PT deve estar presa a um trauma freudiano a partir do mensalão e do escândalo da Petrobras. Corrupção se combate é com corrupto na cadeia.

Mal ou bem, chegamos aqui com esse sistema. Mas ele se esgotou e produziu uma disfunção grave. Vamos ver se a Comissão Especial da Câmara consegue avançar na construção dos consensos necessários e finalmente aprovar a tão falada reforma política.

Mas é preciso estar atento. A sociedade civil organizada tem que participar ativamente. Não tenhamos dúvidas de que é sempre possível piorar.
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Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

Celso Ming - O fator político

- O Estado de S. Paulo (15/2/2015)

A economia está carregada de incertezas. Mas, de longe, a principal é de natureza política: Além da equipe econômica, não há no governo quem se empenhe na defesa do ajuste. Nem a presidente Dilma.

Não é que as incertezas econômicas sejam irrelevantes. Ao contrário, são até mais graves do que as que o governo vem admitindo e, isoladamente, têm enorme potencial de impacto sobre os resultados.
Entre elas estão a ameaça de racionamento de energia elétrica e de água tratada, fatores que, por si sós, podem derrubar o PIB em alguma coisa entre 1,5% e 2,0%, adiar investimentos e desorganizar a vida econômica.

O risco de rebaixamento dos títulos do Brasil para o grau de especulação não produziria apenas aumento de custos do financiamento externo. Se ele acontecesse, o nível de confiança, hoje abalado, cairia ainda mais e concorreria para prostrar o País.

Há a inflação, que aumenta seu galope à medida que o governo se vê obrigado a aplicar os até agora sistematicamente negados tarifaços para realinhar preços antes represados. As contas externas continuam em deterioração, fator que, por sua vez, vem puxando as cotações do dólar para as cercanias dos R$ 3, encarecendo produtos, capitais e serviços importados. A indústria, cada vez mais desidratada, vai perdendo os lenitivos fiscais de que dispunha nos três últimos anos... E por aí vai. Não faltam indicadores ruins.

Do ponto de vista meramente técnico, as soluções estão à mão. É só aplicar o que está nos manuais. A questão é que a economia pressupõe a política e aí se concentram os problemas, porque a tarefa mais relevante consiste em distribuir pela população infindáveis contas a pagar.

A presidente Dilma assumiu seu segundo mandato a 1.º de janeiro sem direito à trégua de praxe dos cem primeiros dias. Mostrou-se incapaz de coordenar sua base de apoio político e vai levando uma lambada atrás da outra no Congresso. Hostis a seu governo, os políticos começaram a sabotar o programa de ajuste fiscal. Na semana passada, a Câmara dos Deputados impôs o tal Orçamento Impositivo, pelo qual distribui verbas entre os parlamentares. A Medida Provisória 665, que reexamina as condições do abono salarial e do seguro-desemprego, recebeu 233 emendas, e a 664, que impõe restrições ao regime de pensões, tem outras 508. A volta à austeridade e à formação de superávits primários não conta com a colaboração do Congresso.

A aprovação popular ao governo despenca nas pesquisas de avaliação. Até mesmo dentro do seu partido, o PT, e no âmbito das suas bases sindicais, a presidente Dilma vai sendo duramente acusada de práticas de estelionato eleitoral - na medida em que prometeu uma coisa na campanha e vai entregando outra.

A crise da Petrobrás, as escolhas polêmicas que fez na recomposição da diretoria da empresa e os desdobramentos da Operação Lava Jato sobre sua base política semeiam dúvidas sobre a capacidade da presidente de manter a atual orientação da política econômica.

A presidente parece isolada e, sobretudo, confusa. Esta não é a política econômica dos seus sonhos, mas não tem opção melhor à mão. Em vez de defendê-la com todas as forças e exigir o mesmo de todo o governo, Dilma vacila e com isso deixa de passar firmeza à sua equipe. Desamparada e sem liderança, a sociedade se ressente e se manifesta como pode.

Paulo Guedes - Aposta nas instituições

- O Globo

Inflação alta e subindo, crises de água e luz, ameaça de recessão, déficit fiscal e buraco nas contas externas. Empreiteiros pagando propina a políticos, rebelião na Câmara de Deputados, isolamento e ameaça de Impeachment à presidente Dilma Rousseff. Com a economia e a política em chamas, não há saída fácil.

Apostar no aperfeiçoamento das instituições é o único caminho seguro para a prosperidade. Para reequilibrar a economia e regenerar a política, teremos de apostar nas instituições. A "independência" do Banco Central, inaugurada no Plano Real e institucionalizada no sistema de metas de inflação, trouxe aos brasileiros uma moeda decente. Do mesmo modo, a independência do Poder Judiciário exibida nas admiráveis atuações de Joaquim Barbosa e Sergio Moro aumentou as chances de que nossos filhos e netos possam viver num país melhor.

Ao contrário, a degeneração das instituições é uma conhecida rota para o caos. Os socialistas bolivarianos e peronistas do século XXI, que nos últimos anos apostaram cada vez mais no controle do Legislativo e do Judiciário, atacando o Estado de Direito e a liberdade de imprensa e aprofundando suas intervenções nos mercados, levaram finalmente seus países à ruína econômica e à violência política.

Essa aposta no aperfeiçoamento institucional também se aplica aos primeiros movimentos da Câmara de Deputados sob a presidência de Eduardo Cunha. No momento em que se revela à Justiça um mercado político "paralelo", onde se compra governabilidade "por fora" dos fóruns republicanos e dos orçamentos públicos, a declaração de independência do Legislativo por Cunha e sua proposta de levar adiante uma reforma política são bastante desejáveis. Seriam portanto precipitadas as críticas de que o PMDB estaria apenas renegociando novos termos de adesão à "velha política", aumentando o preço de fisiológica sustentação parlamentar ou vendendo caro um seguro presidencial contra o Impeachment .

Penso que está tudo em aberto, que seguimos em uma transição incompleta do Antigo Regime para uma Nova República, que os inimigos da sociedade aberta foram flagrados e estão em fuga à luz das informações em livre fluxo e que estaremos já em 2015 regenerando nossas práticas políticas e aperfeiçoando nossas instituições.

Carlos Drummond de Andrade - Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.