sexta-feira, 20 de março de 2015

Opinião do dia – Marina Silva

É legitima a insatisfação da população e igualmente legitima a sua indignação. Foi vendido para a sociedade brasileira um Brasil colorido, sem problemas. Ganhar uma eleição, sabendo que o Brasil estava vivendo uma profunda crise econômica e uma profunda crise política pelo esgotamento deste presidencialismo de coalizão, o esgotamento desta forma de compor o governo com base na distribuição de pedaços do Estado e do orçamento do contribuinte para ter maioria no Congresso, e formar os principais cargos do Executivo, tudo isso está esgotado. A população quer melhorar a vida do Brasil e dos brasileiros. Quer manter o que já conquistamos, corrigir os erros que vem sendo cometidos e criar uma perspectiva de novos desafios. Infelizmente, o que está aí não está dando conta deste recado.

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Marina Silva, ex senadora e disputou a candidatura presidencial em 2014, em entrevista no Valor Econômico, 20 de marços de 2015.

Dilma diz que não mudará ministério e frustra aliados

• Reforma não 'resolve os problemas' e ajuste será 'pontual', afirma presidente

• Um dia após demissão de Cid Gomes, petista diz que não levará em consideração partidos ao escolher substituto

João Carlos Magalhães, Gabriela Guerreiro, Mariana Haubert e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Ao afirmar que uma reforma ministerial não "resolve os problemas" e que não pretende "alterar nada e ninguém", a presidente Dilma Rousseff desagradou setores do PMDB e do próprio governo que defendem mudanças para tentar superar a crise política e acalmar os mercados.

Dilma falou sobre o assunto nesta quinta (19) em evento no Palácio do Planalto, um dia após ser obrigada a aceitar a demissão de seu ministro da Educação, Cid Gomes, para evitar que o PMDB deixasse de apoiá-la na Câmara.

Cid havia atacado o principal aliado de Dilma no Congresso durante sessão na Câmara, acusando a sigla de chantagear a presidente para ter mais espaço no governo.

Dilma afirmou também que não levará em consideração os partidos que a apoiam ao escolher um substituto para Cid Gomes na Educação, mudança que classificou como uma "alteração pontual".

"Vocês [jornalistas] estão criando uma reforma que não existe", afirmou a presidente. "Não tenho perspectiva de alterar nada nem ninguém, mas as circunstâncias às vezes obrigam você a alterar, como foi o caso da Educação. Não tem reforma ministerial."

A fala de Dilma gerou preocupação entre assessores e peemedebistas, porque eles avaliam que o governo precisa fazer "rapidamente" uma reforma ministerial que acalme a base aliada, principalmente o PMDB, para garantir a aprovação do ajuste fiscal.

As declarações de Dilma também foram mal recebidas no mercado. A cotação do dólar, que vinha caindo no início do dia, passou a subir em seguida e fechou a R$ 3,305, maior valor em quase 12 anos.

Assessores presidenciais tentaram relativizar as declarações. Segundo eles, Dilma fará ajustes em sua equipe, como trazer o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Mas ela não quer admitir que essas mudanças sejam uma reforma ministerial antes de completar três meses de seu segundo mandato.

Ela analisa ainda tirar o ministro Pepe Vargas da articulação política do governo e entregar a pasta ao PMDB, que também pode herdar o Ministério da Integração Nacional, hoje controlado pelo PP.

Para evitar ser acusado de fisiológico, o PMDB pensa em formalizar à presidente uma proposta de reforma administrativa, cortando quase pela metade o número de ministérios, hoje 39. Segundo um líder peemedebista, o governo daria seu exemplo e o Congresso teria mais argumentos para aprovar o ajuste fiscal.

Na entrevista desta quinta-feira, Dilma disse que o Ministério da Educação não será "dado para ninguém" e avisou que vai "escolher uma pessoa boa para educação, não a pessoa desse, daquele ou de outro partido". Segundo ela, o nome será escolhido "o mais rápido possível".

Para Dilma, uma reforma não resolverá a crise em que seu governo mergulhou. "Reforma ministerial [não] é uma panaceia, ou seja, não resolve os problemas." O que resolve os problemas, disse, são medidas práticas e diálogo. "Precisa dessa capacidade de escutar os outros lados".

O ministro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, afirmou que a saída de Cid Gomes foi motivada por um "incidente político grave" e pela falta de "condições políticas" após o embate na Câmara: "Acho que ninguém desejava que isso pudesse se transformar no episódio que tivemos, mas aconteceu".

O ministro negou que a saída de Cid tenha resultado de pressão do PMDB. "Ele achava que não havia mais condições políticas porque a presença dele prejudicaria a relação do Congresso Nacional com o MEC. Foi uma iniciativa dele e foi imediatamente aceita pela presidente."

Pressionada, Dilma fará mudanças no Ministério

Mais mudanças à vista

• Pressionada, Dilma deve fazer alterações no ministério, além da pasta da Educação

Simone Iglesias ,Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA - No dia seguinte à saída de Cid Gomes do Ministério da Educação, a presidente Dilma Roussefff admitiu que mudanças pontuais na sua equipe podem ocorrer. Também ontem, o PMDB anunciou que assumirá uma posição de descolamento do governo - que tem o peemedebista Michel Temer como vice -, mas quer mudanças na articulação política e que o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves assuma o Ministério do Turismo. No Rio, o gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, foi demitido. Em meio à crise do vazamento de documento com críticas ao governo, o ministro Thomas Traumann (Comunicação Social) pode ser deslocado para a vaga. Alvo de críticas do PT, a Secom deve ser ocupada por alguém com perfil mais alinhado ao partido.

Reforma ministerial não é "panaceia"
Pela manhã, em entrevista, Dilma procurou minimizar as mudanças e afirmou que reforma ministerial não é "panaceia", e que fará "mudanças pontuais". Não disse, no entanto, a dimensão das alterações.

- Vocês (imprensa) estão criando uma reforma no ministério que não existe. São alterações pontuais. Eu estou fazendo uma alteração pontual. Eu não tenho perspectiva de alterar nada nem ninguém, mas as circunstâncias às vezes obrigam você a alterar, como foi no caso do Ministério da Educação - afirmou a presidente.

Além de acomodar Henrique Alves no Turismo, o PMDB quer que Dilma aproveite a saída de Cid Gomes para indicar Aloizio Mercadante (Casa Civil) para a Educação, pasta que já comandou. Na avaliação dos peemedebistas, o trio palaciano formado por Mercadante, Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Pepe Vargas (Relações Institucionais) não tem condições de operar a relação com a base aliada e com o Congresso.

Apesar da pressão sobre Dilma para deslocar Mercadante de função, ela não se mostra disposta a tirar do Palácio do Planalto o ministro considerado seu braço direito. Também não é do estilo da presidente aceitar pressão. Ela pode deixar por semanas no comando da Educação o secretário-executivo Luiz Cláudio Costa, e até mesmo trazer de volta ao cargo José Henrique Paim Filho, que saiu do MEC para dar lugar a Cid Gomes. A permanência de Traumann na Secom ainda será avaliada quando retornar dos Estados Unidos, onde está acompanhando a irmã, em tratamento de saúde. No fim do ano passado, quando o PT fez uma ofensiva sobre a pasta, por causa da verba publicitária, houve a possibilidade de Traumann ir para a Petrobras. Agora, com a demissão de Santarosa e pela proximidade do ministro com o presidente da estatal, Aldemir Bendine, o assunto voltou à tona.

Mercadante negou os rumores de sua volta para a Educação:

- Não comento, tenho trabalho demais para me preocupar com essas coisas - disse, após receber um prêmio na embaixada da Espanha.

O ministro da Casa Civil também negou que a demissão de Cid tenha sido fruto de pressão do PMDB, que coordenou o enfrentamento ao ex-ministro, que foi à Câmara explicar sua declaração de que há "400 achacadores" na Casa. O petista contou que Cid ligou imediatamente para ele, pediu uma audiência com Dilma e seguiu da Câmara para o Planalto, onde explicou para a presidente que não tinha mais condições de ficar no governo. Dilma concordou na hora.

Na busca de maior protagonismo, a bancada do PMDB na Câmara anunciou ontem novas bandeiras no Congresso. O partido apoiará a redução do número de ministérios, de 39 para 20; pedirá que seja vetado o aumento do Fundo Partidário e trabalhará pela desoneração do óleo diesel. A prática do PMDB, porém, mostra um histórico contraditório sobre esses temas. O partido ocupa seis ministérios e sempre reivindica mais espaço. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), almoçaram no Palácio do Jaburu com o vice-presidente Michel Temer para analisar a situação política. Na conversa, falaram da necessidade de "refundação do governo".

PMDB se diz disposto a ajudar
Para os peemedebistas, uma mudança ministerial é a forma mais rápida e fácil de dar novo ânimo e nova cara à gestão Dilma. Com apenas três meses de vida, na opinião da cúpula peemedebista, a imagem do governo é de fracasso. Além disso, o partido quer que as medidas de ajuste projetem uma perspectiva de crescimento e de melhora do cenário econômico.

- Tem um ditado que diz: me dê uma boa política que eu lhe darei uma boa economia. Nós do PMDB achamos que tem que ter uma coisa mais ampla, o que ela (Dilma) fala de concertação. O fato é que temos um problema político e outro problema econômico e temos que resolvê-los. Nossa discussão é uma coalização verdadeira. A disposição do PMDB é ajudar. O PMDB não está reivindicando nenhum cargo, nenhum ministério. Temos é preocupação com a crise política e com a econômica - disse Eunício Oliveira, após o almoço no Jaburu.

Apesar de ainda pressionar por indicações, o PMDB quer evitar estragos à sua imagem do governo Dilma para evitar que o partido seja tragado pela cada vez maior insatisfação popular.

- É fundamental, no momento em que se propõe ao país o ajuste das contas públicas, que o Poder Executivo dê demonstração clara a inequívoca do seu compromisso com o corte de gastos, com enxugamento de seus próprios gastos - afirmou Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara..

Dilma nega reforma ministerial após saída de Cid Gomes

• Presidente afirma que demissão de ex-ministro foi ‘pontual’ e que novas substituições não seriam suficientes para resolver problemas; para titular da Casa Civil, bate-boca entre ex-ministro da Educação e deputados foi ‘incidente político grave’

Tânia Monteiro e Ricardo Della Colletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia depois de se ver obrigada a fazer a primeira mudança na equipe com nem três meses de mandato, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira, 19, que a saída de Cid Gomes do Ministério da Educação (MEC) foi um ato “pontual”, ocorrido porque “as circunstâncias, às vezes, obrigam você a alterar, como foi o caso”. Em seguida, a petista negou planos de uma “ampla” troca de cadeiras na Esplanada como tática para contornar a crise política enfrentada pelo governo.

“Não tem reforma ministerial. Vocês (imprensa) estão criando uma reforma de ministério que não existe”, disse Dilma, após participar de cerimônia de lançamento de um pacote de modernização do futebol, no Palácio do Planalto. Para a presidente, reforma ministerial “(não) é uma panaceia, que resolve todos os problemas”. E emendou: “O que resolve problemas nós estamos colocando em prática, como essas medidas”.

A troca de ofensas no plenário da Câmara entre Cid Gomes e parlamentares contribuiu para acirrar ainda mais a tensão entre o governo e a base aliada e foi classificada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como um “incidente político grave”. Segundo o ministro, a permanência do colega “prejudicaria muito” o próprio MEC. Mercadante negou-se a comentar uma possível saída da Casa Civil para reassumir a Educação, como especulado no governo e no PT. “Tenho trabalho demais”, desconversou o chefe da Casa Civil.

Apesar de Dilma negar com veemência uma nova troca de ministros, a presidente está sendo pressionada pelos partidos a mexer na equipe. O PMDB quer mais espaço na Esplanada e pleiteia a Integração Nacional, que está nas mãos do combalido PP, sigla mais atingida pela Operação Lava Jato. A pasta, com grande capacidade de influência no Nordeste, tem um orçamento cobiçado pelas legendas.

Além disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recomendou à sucessora que transfira Jaques Wagner da Defesa para a Casa Civil, o que levaria Mercadante de volta ao MEC, e a troca de cadeiras entre o petista Pepe Vargas - titular da Secretaria de Relações Institucionais criticado pelas falhas na articulação política - e o peemedebista Eliseu Padilha, próximo do vice-presidente Michel Temer e hoje responsável pela Aviação Civil.

Há ainda outro problema a ser resolvido, que é a decisão sobre a permanência ou não do ministro Thomas Traumann, depois da publicação pelo Estado de um documento da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no qual afirma que o País vive “um caos político”. Ontem, Dilma não quis dizer se vai substituí-lo.

Sem dono. Na quinta-feira, ao designar Mercadante para comunicar que Cid Gomes deixaria o MEC, Dilma deu um sinal de que estaria fortalecendo seu ministro da Casa Civil. Na entrevista de ontem, questionada se devolveria a pasta da Educação para o PT ou a entregaria ao PMDB, ela respondeu que o MEC “não é dado a ninguém”. “Vou escolher uma pessoa boa para a Educação, e não pessoa deste, daquele ou de outro partido”. A presidente afirmou que fará a nomeação “o mais rápido possível”.

Dilma evitou responder sobre sua relação com a base aliada no Congresso, atualmente conflagrada. Mas exemplificou que, na elaboração das propostas de refinanciamento de dívidas de clubes em troca de regras de governança, houve amplo diálogo e o governo teve capacidade de “escutar todos os lados”. Na semana pós-manifestações contra o governo, Dilma e seus ministros têm dado ênfase ao “diálogo” com diversos setores políticos e da sociedade.

O Planalto está em busca de agendas positivas para tentar reverter a onda de más notícias. Como parte dessa estratégia, o governo anunciou para a próxima semana uma nova revisão da lei do Supersimples - sistema de tributação diferenciado para pequenas empresas -, a fim de se criar faixas de transição conforme o faturamento das empresas. Para Dilma, “o Brasil tem hoje todas as condições para superar este momento de dificuldades e encontrar caminhos sustentáveis”. / Colaborou Erich Decat

Delatores afirmam que mais 4 gerentes recebiam propina

• Segundo executivos da Camargo Corrêa, os funcionários que fariam parte do esquema seguem na Petrobras

• Empresários deram informações após acordo de delação premiada e devem deixar prisão em breve

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os dois executivos da Camargo Corrêa que fecharam um acordo de delação premiada com procuradores e policiais federais da Operação Lava Jato relataram nos depoimentos que quatro gerentes da Petrobras também receberam propina da empreiteira, segundo a Folha apurou com investigadores do caso.

Os nomes dos quatro gerentes, que continuam na estatal, não haviam aparecido até agora na investigação. Os executivos da Camargo Corrêa disseram que eles pediam suborno sempre que era preciso assinar um contrato ou aditivo para um empreendimento.

Uma das obras em que os gerentes receberam suborno, de acordo com os depoimentos, é a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cuja construção está em fase final.

A Camargo tem um dos maiores contratos para a construção dessa refinaria. O consórcio CNCC, liberado pela empreiteira, foi agraciado com um contrato de R$ 3,3 bilhões. O custo final da refinaria é estimado em US$ 18,5 bilhões (R$ 61 bilhões em valores correntes).

O investigado pela Operação Lava Jato que mais devolveu recursos aos cofres públicos até agora é um ex-gerente da diretoria de Serviços, Pedro Barusco: US$ 97 milhões (R$ 320 milhões atualmente). Dois ex-diretores estão presos (Nestor Cerveró e Renato Duque) e Paulo Roberto Costa, que dirigiu a área de abastecimento, foi solto após fazer acordo de delação.

Cartel
Os dois integrantes da cúpula da Camargo Corrêa que fizeram o acordo de delação são Dalton Avancini, presidente da empreiteira, e Eduardo Leite, vice-presidente da área de finanças.

O presidente do conselho de administração da empresa, João Auler, quis fechar um acordo, mas sua tentativa foi refutada pelos procuradores porque ele dizia não conhecer detalhes do esquema.

Os três estão presos desde 14 novembro na custódia da Polícia Federal em Curitiba (PR), sob acusação de terem pago R$ 40 milhões em suborno para fecharem contratos com a estatal. Eles também são réus por acusações de lavagem de dinheiro e formação de cartel.

Os dois executivos que fecharam o acordo já reconheceram nos depoimentos que as empreiteiras atuavam como cartel, apesar de insistirem que havia obras em que havia concorrência de verdade entre as empresas.
A dupla que faz a delação deve sair da prisão em breve. O acordo estabelece que eles devem ter uma pena menor em troca das informações sobre irregularidades que revelarem aos procuradores.

Os depoimentos foram concluídos na semana passada, mas o teor continua sob sigilo porque a Justiça ainda não homologou as delações.

Só um trecho foi revelado até agora. Nele, Leite diz que João Vaccari, tesoureiro do PT, disse saber que a Camargo atrasara o pagamento de suborno de R$ 10 milhões e pediu que o valor fosse entregue ao PT por meio de doação oficial, o que o partido nega.

Na lista, doleiros envolvidos em escândalos

• Nomes citados na Lava-Jato, no mensalão e no caso PC Farias aparecem como correntistas do HSBC

Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta – O Globo

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava-Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros que tinham contas numeradas no HSBC da Suíça em 2006/2007. Em todos os casos, eles foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Os citados negam irregularidades.

Na base de dados do HSBC suíço, vazada em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Henrique José Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio, foi acusado de ter alimentado as contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que, só entre maio de 1991 e junho de 1992, o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke tinha, em 2006/2007, uma conta com US$ 1,1 milhão.

"Mercado paralelo"
Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, em março daquele ano - 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção carioca.

Em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Na opinião do MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome "Eleven". Ela foi criada em outubro de 1988 e fechada em outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por "operar fortemente no mercado paralelo". Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, entre 1 e 16 de outubro de 1991.

No mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em sua offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a PF e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer enviou irregularmente ao exterior ao menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o Ministério Público, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas elas já haviam sido fechadas em 2006/2007.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC estava zerada.

Herança dos Safra
Nas décadas de 1970 e 1980, como a moeda americana servia para proteger os brasileiros da inflação, parte da classe média brasileira costumava recorrer a doleiros. Com a abertura da economia, a maior parte dessas operações passou a ser feita à luz do dia e sem a ajuda dos doleiros. Mas essa profissão ilegal continua a existir, como se observa nos sucessivo escândalos descobertos pela PF e pelo Ministério Público.

Os doleiros têm hoje basicamente duas funções. A primeira é facilitar operações internacionais que são feitas com dinheiro ilegal. A segunda é acobertar movimentações financeiras feitas por quem quer fugir de taxações ou não tem como comprovar a origem do dinheiro. Há também a operação inversa. Uma pessoa tem dinheiro no exterior e precisa trazê-lo ao Brasil. Nesse caso, o doleiro fica com os dólares que estão lá fora e entrega o valor equivalente, em espécie, aqui no Brasil. A taxa cobrada gira em torno de 2%. O negócio é lucrativo porque, em geral, envolve grandes quantias.

A hipótese mais provável para a presença de doleiros na base de dados do HSBC está relacionada à expansão do banco em território brasileiro na década de 1990. Em 1999, o HSBC adquiriu por cerca de US$ 10 bilhões os bancos Republic New York Corporation, nos Estados Unidos, e o Safra Republic Holding, na Europa. Ambos pertenciam ao banqueiro Edmond Safra - irmão de Joseph e Moise Safra, donos do Banco Safra no Brasil.

Durante muitos anos, os brasileiros enxergaram na família Safra um sinônimo de segurança para guardar suas fortunas. Quando o HSBC assumiu as carteiras do Republic New York e do Safra Republic Holding, muitos clientes brasileiros foram juntos. Os arquivos do HSBC foram vazados em 2008 por um ex-funcionário do banco.

Na festa de 70 anos, Marta rifa PT e chama PSB e PSDB para o seu aniversário

• Da lista de convidados, saem Lula e Rui Falcão e entram o governador Geraldo Alckmin e seu vice Márcio França

Julianna Granjeia e Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - A senadora Marta Suplicy deixou de lado os velhos companheiros do PT e convidou novos amigos para a festa de seus 70 anos na noite desta sexta-feira, em São Paulo. Da lista de convidados, saem Lula e Rui Falcão e entram o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu vice, Márcio França (PSB), o que confirma que a quase ex-petista está de malas prontas para ingressar no PSB, partido ao qual se filiará até maio. Se trocou os amigos, o banqueteiro é o mesmo das festas sempre elegantes de Marta, Toninho Mariutti.

Marta vai reunir um grupo de cem pessoas, entre políticos, artistas e integrantes da alta sociedade paulistana. A organização ficou por conta da empresa do marido da senadora, Márcio Toledo, articulador da saída de Marta do PT e de seu ingresso no PSB, com aval dos líderes tucanos.

Há exatos 13 anos, quando começava a campanha do PT à Presidência, a ex-ministra comemorava seus 57 anos em uma festa conjunta com o então presidente do partido, José Dirceu — hoje condenado pelo mensalão. Lotaram um bar paulistano com estrelas petistas e artistas, sempre ao som de música brasileira e cubana.

Este ano, nem o ex-presidente Lula foi lembrado. Tampouco o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que Marta escalou como secretário quando era prefeita da cidade, ou o presidente da legenda, Rui Falcão, que já foi vice-prefeito de Marta. Também ficou fora da lista de convidados o ex-marido de Marta Eduardo Suplicy.

A comemoração será realizada no salão de festas do apartamento de Toledo e Marta, nos Jardins, área nobre da capital paulista. O convite enviado por e-mail tinha um fundo cor de rosa, mas os convidados mais importantes receberam telefonemas e visitas de Toledo, que comanda todo o evento.

O governador Alckmin deve declinar do convite por ter agenda no interior de São Paulo. Deve representá-lo o chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, que recebeu telefonema de Toledo na semana passada.

Já o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sairá nesta sexta-feira às pressas da reunião estratégica do partido em Brasília para prestigiar a senadora. Deputados da bancada também devem participar da festa de Marta.

Na reunião em Brasília, a pauta do PSB é justamente a disputa municipal de 2016. Marta quer ser a candidata a prefeita pelo PSB, “o que casa muito bem com os planos do partido de ter o máximo de candidaturas em grandes cidades”, como disse Siqueira nesta quita-feira.

A disputa pela prefeitura de São Paulo é o maior temor dos petistas, que avaliam que Marta dificultará a tentativa de reeleição do prefeito Haddad. Por outro lado, é a maior aposta do PSDB para enfraquecer seus eternos rivais na capital.

Marta Suplicy avisa PSB que deixará o PT

• Senadora quer deixar atual partido até maio para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016 pela sigla de oposição

• Alckmin deu aval ao movimento político; petistas acham que é pouco provável que ela recue da decisão

Gustavo Uribe, Marina Dias - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com a intenção de disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016, a senadora Marta Suplicy avisou ao PSB que se desfiliará do PT até maio.

A informação foi repassada à cúpula estadual do partido pelo empresário Márcio Toledo, namorado da petista e principal articulador de sua candidatura.

O empresário também informou a intenção de Marta a um auxiliar do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que deu aval ao movimento. O PSB é o principal aliado dos tucanos em São Paulo. Seu presidente estadual, Márcio França, é o vice-governador do Estado.

Para se candidatar, a petista precisa estar filiada a um partido até outubro, um ano antes da eleição municipal.

A antecipação da desfiliação visa dar mais tempo à senadora para articular uma candidatura competitiva, com o apoio de siglas como PPS, PV e Solidariedade.

A adesão de Marta ao PSB conta com o apoio da cúpula nacional do partido, mas enfrenta resistências entre lideranças da sigla em São Paulo, que receiam que a petista transfira ao PSB parte da rejeição ao PT no Estado.

Entre petistas, a avaliação majoritária é que é pouco provável que Marta recue da decisão. As investidas do comando do PT não tiveram resposta da senadora, que tem intensificado as críticas ao governo de Dilma Rousseff.

Para petistas, o último sinal negativo ocorreu na última semana, quando Marta convidou Alckmin e secretários estaduais para sua festa de 70 anos e não contatou seus aliados petistas.

Segundo a Folha apurou, no entanto, ela ainda estaria disposta a continuar no PT caso o ex-presidente Lula garantisse à petista a candidatura do partido ao governo de São Paulo em 2018, o que é considerado pouco provável.

O PT em São Paulo tem monitorado o ânimo da militância. Os resultados apontam descontentamento dos eleitores de Marta, que têm achado a senadora "agressiva".

Centrais sindicais vão pressionar Congresso

• Sindicalistas recuam e, em vez de tentar derrubar MPs do ajuste fiscal, negociarão para perder menos direitos

Geralda Doca, Eliane Oliveira e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - As principais centrais sindicais do país vão abandonar o discurso em defesa da retirada das medidas provisórias 664 e 665, que restringem direitos trabalhistas e previdenciários. A partir da próxima semana, os dirigentes sindicais vão tentar alterar as medidas nas comissões especiais criadas ontem para analisar as MPs, num corpo a corpo com os parlamentares. Segundo um sindicalista, a alternativa será fazer ajustes no texto para reduzir os efeitos para os trabalhadores.

- Os parlamentares nos informaram que querem negociar, e o processo vai envolver as centrais e o governo - disse um dirigente sindical, que prefere não se identificar.

Na quinta reunião com o governo, realizada ontem no Ministério da Previdência, representantes das centrais defenderam a retirada das MPs, mas não tiveram sucesso. Reservadamente, as centrais sindicais já admitem que as propostas serão aprovadas no Congresso, com algumas alterações. Já os ministros encarregados de negociar as MPs admitem abertamente a possibilidade de alterações.

- Estamos negociando desde que as medidas vieram para o Congresso. Estamos abertos para discutir e encontrar soluções - disse ontem o ministro do Trabalho, Manoel Dias, após audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Insatisfeitos com as medidas de ajuste fiscal apresentadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, parlamentares do PT se queixam da falta de uma espécie de "animador", papel desempenhado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e do ex-presidente Lula em 2003.

- A diferença é que, naquela época, Lula acabara de ser eleito, estava no auge. Levy deveria mudar seu discurso pessimista, falar menos sobre a necessidade do ajuste e mais sobre crescimento. Além disso, agradaria e muito o partido a cobrança de impostos sobre a herança - disse um senador petista.

"Governo quer o bode na sala"
Também o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que os textos deverão sofrer alterações no Congresso.

Segundo integrantes do governo que estão participando das reuniões, o Executivo aceita fazer ajustes no cálculo da pensão por morte, no prazo de carência de dois anos para requerer a pensão, além de reduzir o prazo de carência para acesso ao seguro-desemprego - já alterado para 18 meses na primeira solicitação. O prazo anterior era de seis meses.

O governo aceita ceder em vários pontos, mas quer preservar o objetivo das medidas que é corrigir distorções e reduzir gastos. No caso das mudanças nas pensões, por exemplo, a economia será de R$ 120 bilhões em prazo de 11 anos (até 2025), de acordo com estimativas do Ministério da Previdência.

Já em relação às alíquotas da contribuição previdenciária sobre o faturamento das empresas, outra medida do ajuste fiscal, a pretensão do governo é enviar ao Congresso nos próximos dias um projeto de lei com pedido de urgência constitucional propondo a revisão das alíquotas.

Reservadamente, o governo sinalizou que aceita a revisão das alíquotas como forma de viabilizar a aprovação da medida no Congresso, mas, segundo fontes, em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou a sugerir o envio do projeto com alíquotas ainda mais altas que as propostas na MP 669 (rejeitada por Calheiros) para que o Congresso reduzisse as alíquotas ao patamar da MP - 2,5% a 4,5%.

- O governo quer colocar o bode na sala, mas não há chance disso prosperar. O Congresso só vai aprovar esse projeto com redução das alíquotas - disse um senador.

Procuradoria lança pacote anticorrupção

• Propostas do Ministério Público serão apresentadas hoje por integrante da Lava Jato e incluem responsabilização de partidos políticos

Beatriz Bulla e Talita Fernandes - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal vai apresentar na manhã de hoje uma série de propostas para combate à corrupção. O "pacote" elaborado pelo MPF será divulgado dois dias após a presidente Dilma Rousseff ter anunciado um conjunto de projetos de lei e um decreto com a mesma temática.

Os procuradores elaboraram medidas em "dez frentes", segundo pessoas envolvidas no trabalho, e divididas em três grupos temáticos: transparência e prevenção; efetividade; e celeridade e eficiência. Entre as propostas incluídas no pacote que será anunciado hoje estão a gradação do crime de corrupção e medidas de responsabilização dos partidos políticos, entre outras.

O Ministério Público Federal também sugere a melhoria das regras de transparência e mecanismos para previsão das formas de se recuperar o lucro derivado do crime de corrupção.

Resposta. O anúncio foi marcado para dois dias depois de o governo federal apresentar sete medidas de combate à corrupção como cumprimento de promessa de campanha e resposta aos protestos contra o governo federal, ocorridos em todas as 27 unidades da Federação no domingo passado.

Fazem parte do pacote do governo federal: um projeto de lei que criminaliza o caixa 2, uma proposta de emenda constitucional (PEC) para confisco de bens; pedido de urgência para um projeto para alienação de bens apreendidos; estabelecimento de ficha limpa para cargos de confiança; regulamentação da Lei Anticorrupção, de 2013; e a criação de um grupo de trabalho para cuidar do tema.

Dos pontos apresentados por Dilma em solenidade no Palácio do Planalto, apenas o decreto relativo à Lei Anticorrupção, que entrou em vigor em janeiro do ano passado e desde então aguardava regulamentação, tem validade imediata.

A regulamentação da lei é vista por advogados ligados a empreiteiras acusadas de participar de desvios de recursos da Petrobrás no âmbito da Operação Lava Jato como uma forma de acelerar os acordos de leniência entre as empresas e o governo federal. O Planalto conta com esses acordos para evitar uma "quebradeira" das empreiteiras e prováveis efeitos sobre a economia do País.

Caixa 2. O ponto de convergência entre os projetos do governo e do Ministério Público é a criminalização do caixa 2. As propostas da procuradoria serão apresentadas pelo subprocurador-geral da República Nicolao Dino e pelo coordenador da força-tarefa da Lava Jato que atua na Justiça do Paraná, Deltan Dallagnol.

Embora o governo e o Ministério Público tenham apresentado propostas distintas e em dias diferentes, ambos já discutiram no passado ações de combate à corrupção. A discussão dessas medidas foi o motivo apontado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para se reunirem às vésperas da entrega dos pedidos de inquérito contra políticos citados na Lava Jato enviados ao Supremo Tribunal Federal.

Prévia da inflação acumula alta de 7,90%

• Energia e combustíveis puxam os preços. Em 12 meses, acumulado é de 7,90%, o pior resultado desde maio de 2005

- O Globo

RIO - A inflação medida pelo IPCA-15, índice considerado uma espécie de prévia do IPCA, que é o índice oficial de variação de preços no país, ficou em 1,24% em março, informou o IBGE nesta sexta-feira. Houve desaceleração na taxa, já que em fevereiro, foi registrada uma alta de 1,33%, enquanto o IPCA fechou o mês passado com elevação de 1,22%. Em março de 2014, o IPCA-15 ficou em 0,73%.

No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 acelerou para 7,90% — o maior desde maio de 2005, quando ficou em 8,19%. O resultado é maior que o teto da meta do Banco Central (6,5%) para o IPCA fechado. Com isso, é possível que o indicador de março, a ser divulgado no início de abril pelo IBGE, se distancie ainda mais do objetivo do governo. No acumulado nos três primeiros meses do ano, o IPCA-15 já registra alta de 3,50%, acima dos 2,11% de igual período do ano passado.

O 1,24% de março deve-se principalmente ao aumento na conta de luz, nos preços dos combustíveis e dos alimentos que foram responsáveis por 77,42% do índice do mês, com impacto de 0,96 ponto percentual. A alta da energia elétrica (10,91% ), fez o grupo Habitação registrar o maior resultado no mês de março, com 2,78%.

A energia elétrica também foi a responsável pelo maior impacto individual no IPCA-15, de 0,35 ponto percentual, devido aos reajustes que passaram a vigorar a partir do dia 2 deste mês. Só a bandeira tarifária vermelha, válida no momento, teve alta de 83,33%, passando de R$ 3 para R$ 5,50. A alta no preço da conta de luz teve maior impacto em Curitiba (14,89%) devido ao reajuste extraordinário de 31,86%. No Rio de Janeiro, o custo da energia subiu 9,71%, devido ao reajuste de 21,05%.

Gasolina subiu 6,25%
Os combustíveis subiram 6,25%, gerando um impacto de 0,31 ponto percentual no IPCA-15. A maior parte, 0,26 ponto percentual, veio da gasolina, cujos preços subiram 6,68%. O preço nas bombas reflete o reajuste das alíquotas do PIS/Cofins a partir de 1º de fevereiro. O etanol ficou 5,32% mais caro e o diesel, 4,05%. Assim, o grupo Transportes fechou o mês de março em 1,91%.

O grupo alimentos registrou alta de 1,22%, pressionado por cebola (19,07%), cenoura (18,32%), tomate (13,04%), ovos (12,01%), hortaliças (7,62%) e feijão-carioca (4,17%).

Seguro de veículo (3,01%), higiene pessoal (2,17%), ônibus intermunicipal (1,82%), ônibus urbano (1,39%), automóvel novo (1,37%), mão de obra para pequenos reparos (1,23%) e eletrodomésticos (0,94%) também pressionaram o IPCA-15 em março.

Na outra ponta, comunicação registrou recuo nos preços de 0,78%, enquanto vestuário teve a segundo maior queda, de 0,11%. Despesas pessoais e artigos de residência subiram 0,41% e 0,44%, respectivamente. Educação teve elevação de 0,74%. Já saúde e cuidados pessoais aumentaram 0,96%.

Das 11 regiões pesquisadas, Curitiba registrou a maior alta, com 1,72%, seguida por Fortaleza e Porto Alegre, ambas com 1,38%. A menor ficou com Belém (0,72%).

O Rio de Janeiro, ficou com a terceira menor variação em março, de 1,10%, com desaceleração frente ao 1,59% de fevereiro. No acumulado em 12 meses, porém, a região tem a terceira maior taxa, de 8,69%, atrás apenas de Goiânia (9,33%) e Porto Alegre (8,82%).

O IPCA-15 é considerado uma prévia da inflação. Tem a mesma metodologia do IPCA, mas é calculado pelo IBGE em períodos diferentes, a partir do meio do mês. Os preços foram coletados entre 12 de fevereiro e 13 de março e comparados com os que estavam vigentes de 14 de janeiro a 11 de fevereiro.

Corrupção na Petrobras é 'uma mocinha de muito poucos anos, quase um bebê', diz FH

• Ex-presidente ressaltou que o escândalo que acontece na estatal não 'é uma senhora idosa', como disse a presidente Dilma

O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse na noite desta quinta-feira, em entrevista ao programa "Diálogos", da Globonews, que o atual escândalo de corrupção na Petrobras 'é uma mocinha de muito poucos anos, quase um bebê'. Na segunda-feira, em entrevista coletiva, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que a corrupção no Brasil 'é uma senhora bastante idosa', ao rebater as acusações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que o mal está no Executivo, e não no Legislativo.

O ex-presidente afirmou que a organização criada na estatal é algo novo, dos governos petistas.

— Ouvi a presidente dizer que a corrupção 'é uma senhora idosa'. Mas o que é isso? É a conduta errada de pessoas. Nós não estamos discutindo no Brasil que A, B ou C fizeram alguma corrupção. Nós estamos dizendo que uma organização que junto com funcionários nomeados pelo governo, da Petrobras , sustentação por parte de governo, por parte de partidos, ligação com empresas para formar um caixa para ser usado na política, isso é fato novo, digamos. Tem algo disso no mensalão — disse FH.

— Getúlio (Vargas) nunca organizou um sistema para se manter no poder às custas dos cofres públicos, que é o que está acontecendo hoje. Você acha que esse sistema pode ser organizado sem os partidos? Você acha que os governos não percebem? Eu não estou acusando, porque eu não tenho nenhuma prova, mas não posso imaginar que todo mundo seja ingênuo. Em Brasília, todo mundo falava do que acontecia com a Petrobras. (esse sistema) isso é fato novo. Não é a corrupção da senhora antiga. É uma corrupção de uma mocinha de muito poucos anos, um bebê, quase — acrescentou.

O tucano disse que a atual crise do governo é econômica, de condução política, social e moral.

— Essa (crise) de hoje é um conglomerado de crises.

Segundo ele, o grande problema do governo Dilma é de credibilidade.

— Não é questão de popularidade, é de credibilidade. No meu governo, eu perdi a popularidade mas não a credibilidade. Fui até o fim com maioria no Congresso, apoio dos setores de investimento e recuperei.

Segundo FH, o Brasil vive um momento de cooptação política, e não de coalizão. Defendendo a reforma política, o tucano acrescentou que hoje o país tem poucos partidos de fato no Congresso.

— Nós não vivemos mais no regime de coalizão, e sim o de cooptação. Na coalizão, você junta dois ou três partidos que são diferentes, mas tem um programa, uma sustentação, legitimação. A partir de certo momento, isso foi desaparecendo. Começou com a crise no mensalão. Em vez do presidente Lula fazer aliança com o PMDB, fez aliança dispersa que não deu muito certo. Agora, o que está acontecendo no Congresso? Vinte e poucos partidos no Congresso, 30 no Brasil, 39 ministérios. É receita pro fracasso. E não são partidos. Alguns são, poucos, dois, três, quatro. O resto são aglomerados de pessoas que se juntam para ter um pedaço do orçamento.

Em resposta a Dilma, FHC diz que corrupção é 'um bebê'

• Ex-presidente rebate declaração da petista de que prática de desvios no País é 'senhora idosa' e afirma que esquema na Petrobrás é fato novo

Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebateu a afirmação da presidente Dilma Rousseff (PT) de que a corrupção é uma "senhora idosa" no Brasil. Em entrevista à Globo News, o tucano disse que o escândalo de corrupção na Petrobrás traz à tona algo completamente novo em termos de corrupção praticada no País, em que uma organização de pessoas estabeleceu um sistema de sustentação de partidos e ligação a empresas para abastecer os caixas das legendas. "Isso é um fato novo. Essa corrupção não é uma senhora idosa, é uma mocinha, um bebê quase", disse o tucano.

FHC repetiu a declaração que tinha dado ao longo da semana de que, pela proporção que a corrupção ganhou na Petrobrás, considera impossível que o ex-presidente Lula e Dilma não soubessem, pois algo assim acaba sendo do conhecimento de todos no governo.

A declaração de Dilma foi feita um dia após os protestos contra o governo, no domingo, 15. Na avaliação do Palácio do Planalto, a corrupção foi o principal motivo que levou a multidão às ruas. Ao afirmar que práticas de desvios são antigas no País, Dilma tenta rebater tentativas da oposição de associar a corrupção ao seu governo.

O ex-presidente argumentou que, em seu governo, a indicação política para cargos de diretoria na estatal, feita por partidos da base, era bem mais incomum. Ele se disse lembrar de duas indicações políticas - de José Coutinho Barbosa e do hoje senador petista, mas à época integrante do PMDB, Delcídio Amaral.

Impeachment. Apesar de dizer torcer para que Dilma possa terminar seu mandato, FHC voltou a defender que o impeachment, diferentemente dos clamores por golpe militar de alguns grupos, é um instrumento da democracia. E comparou os pedidos para afastamento da petista àqueles que ele viu durante o seu segundo mandato (1999-2002). "Esse 'Fora Dilma' é como o 'Fora FHC'. A Dilma hoje simboliza, é alvo dessa irritação. Mas não creio que seja transcrito em passos exatamente para tirá-la do poder. Vai depender da comprovação de delitos e da opinião pública", afirmou.

Mas o tucano ponderou ver diferenças entre as crises enfrentas por Dilma e por ele, em seu segundo mandato. "Foi diferente. No meu governo, eu perdi popularidade mas não credibilidade, continuei com apoio do Congresso, de setores econômicos", afirmou.

Em pouco mais de meia hora de entrevista, FHC foi mais crítico ao governo Dilma, mas não deixou de mencionar o governo Lula. Disse lhe doer pensar que o Brasil não soube aproveitar o boom das commodities da década passada para dar um impulso de desenvolvimento. "Me dói como brasileiro, ver a perda de oportunidades históricas e a responsabilidade é do partido que está no poder, sem dúvida", afirmou.

Ele também afirmou que, no primeiro momento de crise de falta de apoio ao governo Dilma, havia uma sensação de que o governo Lula tinha sido bom e que ela havia conduzido mal a sucessão. Mas que, agora, a população passa a identificar como um processo somado e não quer "nem um nem outro".

Sobre os cartazes e manifestações no dia 15, mesmo que minoritários, mas que pediam a volta da ditadura, FHC avaliou que são resultado da falta de coordenação atual entre as forças políticas organizadas. O vácuo, permite, segundo ele, o alastramento de ideias radicais. Mas, Fernando Henrique não acha que há espaço para esse tipo de ideia prosperar. "Eu não me amedronto com isso.

Em muitos momentos da história, essa irritação é natural, mas não creio que isso vá prosperar pois a sociedade brasileira está bem organizada."

Merval Pereira - Dilma x Lula

- O Globo

A presidente Dilma está pagando para ver com a decisão de não fazer a reforma ministerial que a parte mais forte do PT, com o ex-presidente Lula à frente, está exigindo nos bastidores. Tirar Aloizio Mercadante do Gabinete Civil e Pepe Vargas da articulação política é o sonho de consumo desse grupo, para incluir o PMDB no núcleo duro do poder.

Mas nem Dilma nem o PMDB querem, por motivos diferentes. A presidente aparentemente se sente mais segura tendo Mercadante a seu lado do que Jaques Wagner, que seria o substituto ideal para Lula. Parece que a ela bastaram os quatro anos em que teve em sua cola Gilberto Carvalho na Secretaria Geral da Presidência, um homem de Lula no Palácio do Planalto.

E o PMDB neste momento se sente obrigado a anunciar que não quer o Ministério da Educação, depois de Cid Gomes ter dito com todas as letras que o motivo do desentendimento com o partido era a divisão de cargos, e não um sentimento de repulsa pretextado pela Câmara.

Para mostrar ainda mais seu desprendimento, o PMDB, pasmem, passou a defender a redução dos ministérios, de 39 para 25. Como Dilma disse que vai escolher o substituto de Cid Gomes fora dos partidos, temos então no meio da crise duas decisões corretas por motivações tortuosas.

A redução dos ministérios seria uma decisão de ampla repercussão positiva para o governo, pois não apenas estaria reduzindo seus gastos como tornando a máquina governamental mais ligeira, sem tantos compromissos partidários.

E se a escolha do ministro da Educação da "pátria educadora" for feita em bases técnicas, e não partidárias, estaríamos vendo pela primeira vez na formação desse Ministério uma escolha voltada para um projeto de Estado, e não uma ação entre partidos aliados onde cada um tem direito ao seu quinhão.

É bom lembrar que a escolha de Cid Gomes foi feita quase à sua revelia, que resistiu muito em aceitar a tarefa. Não havia nenhuma motivação razoável para colocá-lo onde estava, e parece que a Educação foi a pasta que sobrou para gratificar um aliado de primeira hora.

O paradoxo ficou maior ainda quando a presidente Dilma anunciou em seu discurso de posse um segredo que guardara de todos durante a campanha: o slogan de seu governo seria "pátria educadora". Imagino que o próprio Cid Gomes tenha ficado assustado com tamanha responsabilidade, sem verbas e sem projetos, e a partir daí tenha procurado um jeito de abrir mão desse abacaxi, ainda mais quando o governo começou a se desmanchar.

Não acredito que tenha sido premeditada a declaração sobre a existência de 300 ou 400 achacadores na Câmara. Como seu irmão Ciro, o ex-ministro da Educação tem a língua solta e fala o que pensa, sem prestar atenção no estrago político que possa causar.

Aliás, Ciro Gomes, indagado por um jornalista o que seu irmão deveria fazer quando fosse ao Congresso, receitou: "Repetir tudo o que disse e sair de lá com a cabeça levantada". Retrucado pelo repórter sobre se essa atitude não prejudicaria a relação da presidente Dilma com o Congresso, deu de ombros: "Não sei, nem me importa".

Foi o que o irmão mais velho fez, no mais puro estilo da família Gomes, que agora se qualifica para surgir como exemplo dos que enfrentam o Congresso de "achacadores". Provavelmente o arroubo do ex-ministro acabou lhe dando a chance de deixar o barco governista em situação favorável perante a opinião pública.

Mantidas as posições, quem fica nas mãos do PMDB é a presidente Dilma, que se distancia de seu mentor Lula e da parte mais ativa do PT, sem poder se livrar do peso do petrolão.

Eliane Cantanhêde - Infecção braba, antibiótico fraco

- O Estado de S. Paulo

A política é definida de fora para dentro do Congresso. Quanto mais vibrantes as ruas, mais fracos os governos; quanto mais fracos os governos, mais fortes a Câmara e o Senado e mais tonitruantes os líderes partidários.

Milhões de pessoas gritando "Fora Dilma", a aprovação da presidente despencando para 13%, a rejeição disparando para 62% e um documento do próprio Planalto admitindo o "caos político" e que "não será fácil virar o jogo"... Pois é, depois dessa sequência de tragédias para o governo, tudo o que Dilma Rousseff teve a oferecer foi o tal pacote anticorrupção.

Primeiro, o pacote não contém novidade e vem rolando preguiçosamente pela burocracia desde ao menos junho de 2013. Segundo, desabou sobre a opinião pública como um traque se comparado ao estrondo das ruas e das pesquisas. Terceiro, depende de aprovação do Congresso, controlado por dois alvos do Supremo e um PMDB conflagrado.

Para piorar, o anúncio das medidas, pela presidente e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi atropelado pelo bólido Cid Gomes, que chegou desgovernado e na hora do rush, ou da crise. O que ele falou sobre os "300 ou 400 achacadores" tem lá boas doses de verdade, mas ninguém fala o que quer, na hora que bem entende. Principalmente se é ministro de um governo atolado numa crise que poucas vezes se viu.

Gomes, famoso por levar a sogra para passar o carnaval em Paris num jatinho alugado com dinheiro público, reuniu fanfarronice, arrogância e inabilidade política no seu embate com o Congresso e sai do Ministério da Educação sem deixar saudade - nem no Planalto nem na própria pasta. E ainda vai responder a processo por danos morais apresentado ontem pela Câmara.

Mas o mais grave do pacote anticorrupção é o quinto aspecto, digamos, de cunho prático: se já estivessem em vigor, medidas como a criminalização do caixa 2, o confisco de bens obtidos ilicitamente e a aplicação da Ficha Limpa para servidores públicos teriam evitado o escândalo da Petrobrás?

O pacote seria capaz de impedir que um único diretor da Petrobrás amealhasse a bagatela de US$ 100 milhões, como aconteceu? Que o esquema rateasse mais de R$ 1 bilhão entre seus beneficiários?

Que empreiteiras assaltassem a empresa, políticos extorquissem, diretores embolsassem tanto, doleiros lavassem como nunca? Improvável. É um antibiótico fraco para uma infecção braba.
O resultado de tudo isso é que Dilma tenta manter a pose em público, mas está frágil, perdeu o controle da situação e não demonstra capacidade de reação minimamente razoável às ruas, às pesquisas, à força do PMDB, aos presidentes da Câmara e do Senado.

Tem-se, então, um círculo vicioso: povo nas ruas, governo fraco, PMDB forte, popularidade despencando e mais povo nas ruas, ou batendo panelas, ou fazendo buzinaços nos grandes centros. O 15 de março passou, a ameaça continua no ar.

Ok, manifestações são coisa de elite e de classe média mesmo, como nas Diretas-Já e no impeachment de Collor, mas o descontentamento atual, como naqueles momentos, vai muito além e atinge todas as regiões e todas as faixas de renda e de escolaridade.

Vejamos: pelo Datafolha, a rejeição a Dilma (e ao que ela representa) bate em 60% entre os que ganham até 2 salários mínimos e em 66% na faixa de 2 a 5 mínimos. E o desemprego mal começou a botar as garras de fora.

É assim que se esvai o último discurso dos que resumem tudo a um chilique das elites, a uma guerra entre ricos e pobres, brancos e negros, olhos azuis e castanhos. Quem faz um diagnóstico tão primário está errado e vai se arrepender. Principalmente se for presidente da República.

Alvissareiro. Para o Itamaraty, o reatamento dos EUA com Cuba pode ser entre 30 de março e 9 de abril, antes da Cúpula das Américas. Oremos!

Bernardo Mello Franco - O ministro e o lodo

- Folha de S. Paulo

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, está irritado com o tom dos protestos contra o governo. Na contramão de colegas que evitaram criticar os atos do último dia 15, ele afirma que as manifestações deram voz à direita radical e "remexeram o lodo da sociedade".

Filiado ao PT, o ministro se diz indignado com o que chamou de "demostrações de ódio" ao partido. Ele cita uma imagem que correu a internet: dois bonecos de Lula e Dilma pendurados por cordas no pescoço em Jundiaí, no interior paulista.

"Parece que remexeram o lodo da sociedade. Boneco enforcado em praça pública, gente defendendo golpe militar. Um horror", critica.

Para Juca, os grupos que pediram a saída da presidente, reeleita em outubro, flertaram com o "golpismo". Ele considera que defender o impeachment é "uma bobagem".

"Quem perde as eleições tem que se conformar", diz. "Isso é uma tentativa de interromper o processo democrático. A qualquer dificuldade, querem derrubar o governo. No futebol é assim: o time perde dois jogos e o técnico dança. Querem igualar o Brasil ao Campeonato Brasileiro."

Segundo Juca, a oposição "não pode se associar a tendências obscuras". O partido Solidariedade, que apoiou o tucano Aécio Neves em 2014, coleta assinaturas a favor do impeachment. "Isso é se associar ao lodo", ataca o ministro. "A presidente foi eleita e não vai ser meia dúzia de malucos que vão derrubá-la."

Para ele, os protestos foram maiores em São Paulo porque o Estado é "o principal reduto do maior partido da oposição", o PSDB. Juca também reconhece que há um forte "mal-estar" com a economia e que o ajuste fiscal "vai demorar a fazer efeito".

Apesar disso, o ministro diz não estar preocupado com o tombo na popularidade de Dilma. "Outros governos já sobreviveram a crises como essa", diz ele. "Na turbulência, tem gente que acha que o avião vai cair. O que o comandante faz? Manda apertar o cinto e avisa que vai passar."

José Casado - O espírito revolucionário no Palácio do Planalto

- O Globo

O governo deveria fazer uma revolução apoiada por robôs. É o que sugere um documento obtido no Palácio do Planalto pelos repórteres Valmar Hupsel Filho e Ricardo Galhardo, aparentemente produzido pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Ontem, ao reconhecê-lo, a presidente preferiu qualificar como "não oficial".

Desde os manuscritos em papiro, sabe-se que papel aceita tudo - inclusive estas linhas. Nesse documento "não discutido pelo governo", segundo a presidente, escreveram-se mais de 1.500 palavras, para a reflexão de Dilma Rousseff nas 48 horas seguintes ao desfile de multidões nas ruas de 160 cidades, na noite de domingo, e ao panelaço que se estendeu na noite de segunda-feira.

Ele contém um receituário de pílulas para a presidente atônita com o ruído das ruas, num país em que não existe crise institucional - apenas um governo sem rumo e com menos de três meses de mandato realizado.

Sugere aspirinas de obviedades: "Não adianta falar que a inflação está sob controle, quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou a sua conta de luz saltar em 33%." Ou ainda: "É preciso aceitar a mágoa desses eleitores (insatisfeitos), reconquistá-los."

Seu grande momento é a proposta de meios para reversão da crítica coletiva a Dilma, a Lula e ao Partido dos Trabalhadores. No texto - por sinal, mal escrito -, propõe-se a criação de um autêntico exército de robôs para uma operação clandestina de defesa, em regime de prontidão permanente, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Atuaria de forma oculta, ardilosa, em missões típicas de sapadores: "A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele."

Argumenta-se que o crescimento da insatisfação se deu no período pós-eleitoral. Em confissão, lembra-se nesse documento "não oficial", que "a partir de novembro, as redes sociais pró-Dilma foram murchando até serem quase extintas".

"Principal vetor de propagação do projeto dilmista nas redes, o site Muda Mais acabou" - acrescenta. "Os robôs que atuaram na campanha foram desligados e a movimentação dos candidatos do PT foi encerrada."

Em contrapartida, "a tática do PSDB foi exatamente a oposta". Alega-se: "Cerca de 50 robôs usados na campanha de Aécio continuaram a operar mesmo depois da derrota de outubro. Isso significou um fluxo contínuo de material anti-Dilma, alimentando os aecistas e insistindo na tese do maior escândalo de corrupção da História, do envolvimento pessoal de Dilma e Lula com a corrupção na Petrobras e na tese do estelionato eleitoral. Tudo com suporte avassalador da mídia tradicional."

"Em estimativas iniciais" - continua -, "a manutenção dos robôs do PSDB, a geração de conteúdo nos sites pró-impeachment e o pagamento pelo envio de WhatsApp significaram um gasto de quase R$ 10 milhões entre novembro e março. Deu resultado. Em fevereiro as mensagens/textos/vídeos oposicionistas conseguiram a capacidade de atingir 80 milhões de brasileiros. As páginas do Planalto mais as do PT, 22 milhões. Ou seja, se fosse uma partida de futebol, estamos entrando em campo perdendo de 8 a 2."

Conclui: "De um lado, Dilma e Lula são acusados pela corrupção na Petrobras e por todos os males que afetam o país. Do outro, a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia. Não é uma goleada. É uma derrota por W.O.."

Em meio à crise, alguém no Palácio do Planalto produziu e levou à presidente um documento "não oficial" propondo-lhe enfrentar os protestos nas ruas liderando uma revolução com um exército clandestino de robôs.

Dilma não deveria perder a chance de mandar imprimir uma placa e deixá-la à vista na sua sala de trabalho: "Errar é humano, mas, para se produzir um monstruoso erro, é preciso um computador." Depois, pode cair na gargalhada.

O ruim consegue ficar pior – Editorial / O Estado de S. Paulo

A demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação exibe a uma nação perplexa o teatro do absurdo em que se transformou o governo Dilma Rousseff, o da "Pátria Educadora", na qual se aprende que numa crise política fora de controle a situação nunca é tão ruim que não possa ser piorada.

É tão absurda a cena protagonizada pelo agora ex-ministro de Dilma na tarde de quarta-feira no plenário da Câmara dos Deputados, que a respeito dela qualquer especulação é válida. Desde que se tratou de uma encenação previamente combinada com o Palácio do Planalto para marcar posição na queda de braço de Dilma com os parlamentares, até de que foi simplesmente a melhor maneira encontrada pelo encrenqueiro ex-governador do Ceará para, sob a aura de destemor no combate à corrupção, pular fora do barco que soçobra.

De qualquer forma, o bate-boca no plenário da Câmara prestou ao País o desserviço de estimular o descrédito nas instituições democráticas. Mas há, como sempre, quem tenha contabilizado lucro. Aproveita o PMDB, porque, afinal, Cid Gomes ministro era uma peça na armação palaciana para enfraquecer politicamente o maior partido aliado do governo. E lucra, em particular, Eduardo Cunha, que capitaliza mais uma derrota do governo e fortalece sua posição de herói do baixo clero.

Chama também a atenção neste mais recente escândalo da República - o que ajuda a torná-lo ainda mais surreal - o fato de, a bem da verdade, todos os envolvidos terem razão. Cid Gomes cometeu a deliberada provocação de falar de corda em casa de enforcado, mas não há como negar - até porque a Operação Lava Jato não deixa - que entre os nobres deputados há um número expressivo de suspeitos de se enquadrarem na categoria de achacadores. Não há espírito de corpo que possa contestar essa evidência.

Por outro lado, não se pode confundir a instituição parlamentar com o eventual desregramento de alguns de seus integrantes, por maior que seja o número deles. Ou seja, o ex-ministro cometeu o pecado de não dar nomes aos achacadores. Por fim, Cid Gomes subiu à tribuna da Câmara na condição de ministro de Estado, representante do Poder Executivo, e, por uma questão de decoro, tinha a obrigação de tratar com respeito a instituição que naquele momento o convocava a prestar esclarecimentos sobre declarações desabonadoras que fizera sobre deputados. É legítima, portanto, a indignação dos parlamentares com o comportamento de Cid Gomes, mesmo por parte daqueles que possam ser moralmente vulneráveis.

O enredo desse teatro do absurdo é tão antigo quanto a história da humanidade - a luta pelo poder -, a encenação é farsesca no pior sentido, até porque não tem direção, e o elenco de canastrões é péssimo. Não é à toa que a plateia dá clara demonstração de não gostar do que está assistindo.
Dilma Rousseff - que não tem vocação para a cena pública nem consegue aprender o métier - tenta prestar atenção nas deixas e dizer sua fala. Mas só consegue provar que não é do ramo: quando alguém mete um caco no texto, dá-lhe um branco e ela não consegue emendar um improviso aceitável. O resultado tem sido desastroso.

Mas, quando o gênero em cartaz é o absurdo, o que é atentar contra a lógica e o bom senso? Um bom exemplo é o caso do senador Romero Jucá, que tem participação especial nesta e em qualquer outra peça - já foi devotado tucano no governo FHC e hoje presta sua fidelidade não ao governo do PT, pois ele é governista, mas não é tolo, mas ao espírito corporativo da chamada classe política.

No momento em que se discute a reforma política, o que pode implicar a proibição de doações de pessoas jurídicas para a atividade partidária; em que o escândalo da Petrobrás inibe os grandes doadores privados; e em que o governo tenta cortar gastos como condição essencial ao ajuste fiscal, nesse momento Romero Jucá, relator da proposta orçamentária, se apresenta como o providencial salvador dos políticos. Triplicou o Fundo Partidário e aumentou a dotação para as emendas parlamentares. A Pátria, entristecida, lamenta.

A sabedoria das massas nos protestos do dia 15

• Depois de manifestações gigantescas contra sua gestão, Dilma Rousseff enfrentará dificuldades para reinaugurar seu segundo mandato presidencial

The Economist - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma já esperava que os protestos de 15 de março fossem grandes. Por isso, reuniu um grupo de crise em sua residência oficial, a fim de monitorá-los. Mas ninguém, nem mesmo os organizadores, imaginava que eles teriam as proporções que tiveram. Em São Paulo, pelos cálculos da polícia, mais de 1 milhão de pessoas esteve na Avenida Paulista. Já o instituto Datafolha estima o número de manifestantes em 210 mil. Trata-se da maior manifestação política ocorrida na maior cidade do País desde as Diretas-Já, em 1985. Nacionalmente, a polícia calcula que 2,2 milhões de pessoas compareceram aos protestos em cidades dos 27 Estados do País. É um número superior ao dos que saíram às ruas no auge das manifestações de 2013.

As centrais sindicais, que dois dias antes haviam organizado atos a favor do governo Dilma, acusaram os manifestantes de pertencer à "elite branca". Contudo, havia muitos que não se encaixavam nesse estereótipo. "Sou negro, pobre e quero a Dilma fora", declarou um manifestante, do alto de um dos nove caminhões de som espalhados pela Paulista. Muitos dos que estavam lá vestiam a camiseta verde-amarela da seleção brasileira. Os políticos da oposição se mantiveram à distância. Compreenderam que sua presença ofuscaria a mensagem das ruas e serviria para reforçar as alegações do governo de que por trás dos protestos estavam os perdedores ressentidos das eleições de outubro último.

As queixas veiculadas em junho de 2013 eram difusas. As de domingo tinham dois alvos bem claros: Dilma e o PT. Alguns manifestantes, cerca de 25% dos que estiveram na Paulista, segundo um levantamento, defendiam o impeachment da presidente por conta do escândalo da Petrobrás. Entre os demais, a maioria queria mostrar sua indignação com a corrupção e a má gestão econômica do governo, que fez a inflação subir e deve provocar uma recessão este ano. Um grupo de extremistas clamava por intervenção militar - mas sua gritaria histérica foi abafada.

Implicação. As perspectivas de impeachment são reduzidas. Um presidente em exercício só pode ser deposto em virtude de delitos cometidos durante o mandato em curso. As investigações na Petrobrás têm como foco propinas pagas a agentes públicos num período que antecede o início do atual mandato de Dilma. Além disso, a presidente não foi pessoalmente implicada.

A verdadeira preocupação do governo é que a insatisfação popular, somada a um contexto de obstrução parlamentar, frustre os planos de Dilma para seu segundo governo. A classe trabalhadora, onde se concentra o apoio à presidente, não engole as medidas de austeridade que precisam ser adotadas para combater o déficit fiscal - atualmente em assustadores 6,75% do PIB - e evitar o rebaixamento da nota de crédito do Brasil.

Os participantes dos atos em favor de Dilma, ocorridos em 13 de março, protestaram contra cortes em benefícios sociais e acusaram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de ser um "liberal infiltrado" no governo. Em fevereiro, caminhoneiros bloquearam rodovias em protesto contra o aumento no preço dos combustíveis e de outros custos do setor. O governo cedeu à pressão e aceitou muitas das exigências dos manifestantes.

As duas casas do Congresso são comandadas por partidos governistas. Mas muitos dos aliados do governo são movidos a oportunismo mesmo quando as coisas vão bem. Com o escândalo da Petrobrás e a queda acentuada na popularidade da presidente - apenas 13% dos eleitores acham que ela faz um bom governo -, é muito provável que esses políticos deixem o governo em apuros.

O Supremo aprovou a abertura de investigações criminais contra 34 parlamentares. Entre eles também estão Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes, respectivamente, da Câmara dos Deputados e do Senado, ambos do PMDB. Todos negam qualquer malfeito.

Quanto maior for a preocupação dos congressistas implicados no escândalo em limpar seus nomes, menor será sua disposição de votar a favor de medidas econômicas impopulares. Calheiros, antes um defensor leal do governo, recentemente devolveu ao Executivo uma medida provisória que reduziria a desoneração das folhas de pagamento das empresas. Isso obrigou Dilma a reenviar ao parlamento a proposta, agora sob a forma de projeto de lei e com pedido de urgência constitucional. Na semana passada, o Congresso por pouco não derrubou os vetos presidenciais a dois projetos de lei potencialmente prejudiciais à disciplina fiscal. Os congressistas votaram majoritariamente contra a presidente, mas não em número suficiente para derrubar os vetos.

Na terça-feira, o Congresso aprovou o Orçamento deste ano. Isso ajudará o ministro Levy a manter sua promessa de alcançar um superávit primário de 1,2% do PIB. Mas a série de vitórias apertadas indica que ele terá de agir com cautela e consultar amplamente o Congresso antes de adotar novas medidas econômicas. Assim, o ajuste fiscal demorará mais tempo do que ele gostaria para acontecer e será preciso cruzar os dedos para que a nota de crédito do Brasil não seja rebaixada.

Dilma tem se esforçado para reinaugurar seu governo. Na coletiva de imprensa que deu na segunda-feira, a presidente prometeu "humildade" (nove vezes) e "diálogo" (12 vezes). Anunciou leis anticorrupção severas e se comprometeu com a realização de um reforma política.

Nada disso deve sensibilizar as pessoas que tomaram a Paulista no domingo. Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, o maior dos grupos organizadores da manifestação, diz que seu coletivo planeja novos protestos. O Movimento Brasil Livre, de tendência liberal, já marcou uma para 12 de abril. Essa "vai ser maior", promete o grupo. É melhor Dilma encontrar boas razões para que os manifestantes fiquem em casa.

Traduzido por Alexandre Hubner

O roto e o rasgado – Editorial / Folha de S. Paulo

• Enfrentamento entre Cid Gomes e deputados federais presididos por Eduardo Cunha constituiu espetáculo deplorável, mas revelador

Não apenas os ministérios e governos mas também os ditados populares necessitam, vez ou outra, de renovação. Seria pouco dizer simplesmente, a respeito das cenas presenciadas na quarta-feira (18) na Câmara dos Deputados, que o roto se ria do rasgado.

Entre Cid Gomes, ministro da Educação que viria a ser demitido em seguida, e os congressistas presididos por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), as altercações e enfrentamentos foram além do que se descreve no clássico bordão.

O roto rasgou o rasgado ainda mais, o esfarrapado esfarrapou os andrajos do andrajoso, e estranhamente as partes em conflito cantaram vitória após a rinha deplorável.

Cantou vitória, naturalmente, a ave mais alta do triste galinheiro. O presidente da Câmara pareceu derrubar mais um nome governista, em tempo recorde. Depois de vetar o deputado Henrique Fontana (PT-RS) como líder da presidente Dilma Rousseff (PT), fulminou o ministro da Educação --aliás, com bons argumentos.

Mais uma vez, Cunha pôde transfigurar em defesa da instituição o que, de outro ponto de vista, surge como mera pressão fisiológica sobre um governo atônito e destituído de um mínimo de competência.

Cid Gomes havia qualificado de "achacadores" os deputados que negociam com o governo. Termos impróprios nem sempre são os mais mentirosos, mas cumpria ao ministro, sem dúvida, penitenciar-se pela estouvada generalização.

Todavia, o mea-culpa anda em desuso na política brasileira --mesmo porque ninguém faria outra coisa se quisesse adotá-lo a sério.

Confrontado com acusações a que não poderia responder de forma convincente (como a de que pagou R$ 650 mil para um show de Ivete Sangalo na inauguração de um hospital), o ex-governador do Ceará redobrou seus ataques.

Não era difícil, quando se sabe que Eduardo Cunha está sob investigação no escândalo da Petrobras. Não era ilógico, quando se sabe que seu partido (PMDB) ocupa vários ministérios, mas negaceia apoio às medidas de ajuste econômico do governo ao qual pertence.

Mas não foi nada bonito, quando se percebe que, a caminho de sua demissão pela presidente da República, Cid Gomes confere a si mesmo e a seu partido (o PROS) uma aparência de desassombro a recobrir subserviências governistas.

Tratava de abandonar um barco que naufraga, acusou um deputado. Sobraram, de fato, indícios de que Cid Gomes agia de maneira personalista, preocupado em exibir-se a seu público como defensor intransigente da moralidade política. Ele sai, mas persiste a crise.

Uma crise de credibilidade a pesar sobre o Executivo e o Congresso, cujas dimensões são bem maiores do que as da escaramuça, tão lamentável quanto instrutiva, da última quarta-feira. É a "Pátria educadora" mostrando as coisas da política como elas são.