segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Difícil calcular, ainda, o impacto e o alcance de uma operação como a Lava Jato não só sobre usos e costumes, como também sobre o sistema partidário, esse elemento central da vida democrática. Numa visão clássica da moderna comunidade política de massas, os partidos são a própria “democracia que se organiza”, ao lado, naturalmente, de outros numerosos institutos que expressam o associativismo, representam interesses e, em última análise, animam o confronto de ideias e dão substância ao pluralismo.

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Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'Obras' de Gramsci no Brasil. ‘Lava Jato, partidos e democracia’. O Estado de S. Paulo, 15 de novembro de 2015.

PMDB usa congresso para reforçar críticas ao PT

• Principal partido da base aliada fará encontro amanhã no qual pretende destacar suas propostas para o País

PMDB usa congresso para reforçar as críticas ao modelo econômico da gestão petista

• Principal partido da base aliada fará encontro na terça-feira no qual pretende destacar suas propostas para a economia brasileira

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Dividido sobre o melhor momento de se apresentar como alternativa de poder ao governo Dilma Rousseff, o PMDB fará um congresso na terça-feira sem consenso nem mesmo sobre o seu novo programa econômico, intitulado "Uma Ponte para o Futuro". O encontro foi idealizado com o objetivo de fustigar Dilma e acenar para o PSDB e o mercado, mas perdeu força depois que o PMDB aumentou o seu tamanho no Ministério e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), passou a enfrentar processo de cassação no Conselho de Ética.

Mesmo assim, a cúpula do PMDB resistiu às pressões para adiar o congresso - que deve focar as críticas na condução da economia. No momento em que os tucanos tentam ganhar protagonismo na crise, o partido quer fugir da pecha de fisiologismo, destacar suas propostas e deixar claro que não desistirá de lançar candidato próprio à sucessão da presidente Dilma, em 2018. A ideia é transmitir para a opinião pública a imagem de que o PMDB vai se divorciar do PT e só não o fez ainda porque "o Brasil encontra-se em situação de grave risco", como diz um trecho do programa.

Com a ameaça de impeachment refluindo e Cunha na berlinda, acusado de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, o PMDB foi obrigado a recolher as armas na política e a se concentrar nas críticas ao modelo econômico petista. Diante do novo cenário, o vice-presidente Michel Temer - que em agosto afirmou ser preciso encontrar "alguém capaz de reunificar a todos" - adotou posição mais cautelosa, para se preservar, e submergiu.

Afastado da articulação política do Palácio do Planalto e distante de Dilma, Temer tem dito que o objetivo imediato do PMDB é preparar uma agenda consistente para o País. "Se o governo incorporar essas teses, isso será um trabalho do PMDB", avaliou o vice, que também comanda o partido. "Se não, vamos trabalhar como um programa para 2018."

As correntes do PMDB, no entanto, não chegaram a um acordo sobre o documento "Uma Ponte para o Futuro" e querem desidratar as questões mais polêmicas. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, detestou o trecho sobre as relações trabalhistas.

O programa propõe que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, achou a ideia "muito boa", mas Renan disse que a norma pode acabar abrindo brecha para a flexibilização de direitos dos empregados, empurrando o PMDB para uma pauta negativa.

"O PMDB é uma federação de partidos e cada um tem uma posição, mas tudo será discutido", disse Renan. "Estou cuidando da Agenda Brasil, que tramita no Legislativo. Creio que com ela será possível criar mais rapidamente as condições para a retomada dos investimentos."

Teses. Escrito pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto em parceria com o ex-secretário de Política Econômica Marcos Lisboa e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco, o documento do PMDB abriga teses opostas às defendidas pelo PT. Entre elas estão o fim do porcentual previsto na Constituição para despesas com saúde e educação e o término das indexações de benefícios sociais ao salário mínimo. Além disso, o texto atribui a crise atual aos gastos excessivos do governo nos últimos anos.

"Qual é o problema de criticar o governo?", questionou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). "O PT faz isso todo dia. Além disso, nós não somos governo. Apoiar é uma coisa e ser governo é outra." Com a reforma ministerial de outubro, o PMDB ampliou o espaço na equipe e passou a controlar sete ministérios, entre eles o da Saúde, dono do maior orçamento da Esplanada.

Sob o argumento de que não adianta procurar culpado pela crise nessa altura do campeonato, Moreira Franco amenizou as divergências em relação ao programa do PMDB e admitiu mudanças. "No PMDB não existe centralismo democrático. Existe maioria", disse dando uma estocada no PT. Ex-ministro de Dilma e amigo de Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães garantiu, ainda, que a acusação de corrupção contra Eduardo Cunha, um dos principais líderes do PMDB, não vão constranger o partido. "Estamos assistindo à presidente da República e ao presidente da Câmara discutirem o próprio mandato enquanto a economia vai para o vinagre", afirmou. "É isso que nos preocupa."

'Reflexão'. Informados de que o congresso corre risco de ser esvaziado, dirigentes do PMDB adotaram o discurso de que o encontro foi convocado pela Fundação Ulysses Guimarães para uma "reflexão" do momento. O PMDB, agora, aposta suas fichas na convenção nacional de março de 2016, quando será escolhida sua nova direção. Até lá, a estratégia do partido consiste em ganhar tempo para se descolar da crise, dando visibilidade às propostas econômicas.

Em conversas reservadas, porém, ministros e parlamentares do PMDB admitem que, se o quadro piorar, o rompimento com o PT será inevitável no ano eleitoral de 2016, quando haverá disputa para as prefeituras.

PMDB eleva crítica ao governo

Ala descontente com o Planalto vai pedir o fim da aliança com o PT em congresso amanhã.

Em congresso, PMDB deve elevar tom das criticas ao governo

• Ala do partido pode apresentar pedido para romper aliança com PT, mas isso não será votado no encontro

Maria Lima - O Globo

- BRASÍLIA- Com o mote “O PMDB tem voz e não tem dono”, e depois de divulgar um documento com diretrizes econômicas para tirar o país da crise, o congresso nacional do PMDB, que será realizado em Brasília amanhã, pode se tornar um palco para o vice- presidente Michel Temer e para as alas da legenda que querem romper a aliança com a presidente Dilma Rousseff.

— O partido é player para a sucessão presidencial, agora ou numa futura eleição — diz um aliado do vice.

O congresso peemedebista vai dar visibilidade ao documento intitulado “Uma ponte para o futuro”, elaborado por economistas sob a coordenação do ex- ministro Moreira Franco, presidente do Instituto Ulysses Guimarães. Quando foi divulgado, há algumas semanas, o programa econômico gerou controvérsia com parte do governo, já que propõe uma ruptura do atual modelo, apontado pelo PMDB como a origem da grave crise que o país atravessa na economia.

A ala descontente do PMDB quer também aproveitar o congresso para dinamitar a relação com o governo e o PT. Esses peemedebistas devem apresentar uma moção de rompimento da aliança, mas o efeito disso será apenas midiático, porque qualquer deliberação partidária sobre o posicionamento do partido só poderá ocorrer na convenção nacional, marcada para março do ano que vem. Porém, uma outra ala do partido, encabeçada pelos ministros que estão satisfeitos com a nova fatia de poder na Esplanada, tenta botar panos quentes e evitar que o movimento antigoverno ganhe corpo.

Nesse cenário de divisão, o PMDB terá ainda que administrar outra saia justa: a participação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Ele já disse várias vezes que prefere que o partido rompa a aliança com o governo. Agora, pressionado pelas investigações da Operação Lava- Jato, também pode usar o evento para buscar apoio contra sua cassação no Conselho de Ética.

Temer, que é presidente da legenda, deve adotar o tom de “reunificar a sociedade que está muito dividida”, segundo Moreira Franco — que trabalha nos bastidores para viabilizar a posse do vice em caso de impedimento de Dilma. Outro integrante dessa ala, o senador Romero Jucá ( PMDB- RR) comandará uma sala de discussão sobre o programa econômico do partido e, no encerramento, vai apresentar o documento final com as mudanças propostas.

No discurso, Temer vai detalhar a crise e defender as medidas do programa do PMDB para resolver, por exemplo, a crise que tem devolvido 40 milhões de brasileiros que ascenderam à classe C a condições até piores do que enfrentavam antes. Vai ressaltar que o modelo de retomada do crescimento econômico e da capacidade de investimento do PMDB não tem nada a ver com a atual matriz econômica do governo Dilma.

— Estão querendo nos colocar num falso dilema. Cunha e Dilma ficam se ameaçando ao redor do impeachment, os números pioram a cada dia, e, enquanto isso, o país não discute alternativas para o que aí está. Neste quadro, temos que discutir saídas para a crise. Não se trata de Michel ( Temer) se colocar como “esse cara sou eu” — diz Moreira Franco.

Outro dirigente do PMDB, mais ligado à ala governista, diz que não há movimento para esvaziar o congresso da sigla: pelo contrário, o trabalho seria para trazer o máximo de gente possível para mostrar a vida partidária nos estados e a unidade partidária para os desafios do futuro.

— É o momento para falar. É bom ter essas sessões de exorcismo, ver o que vai na alma do partido. Michel e Moreira lançaram o programa para debate na sociedade. Temos a espinha dorsal de um programa para assumir hoje ou depois de uma nova eleição. Se tiver que assumir amanhã, esse é o nosso programa — diz esse integrante da Executiva Nacional.

O ex- ministro Geddel Vieira Lima ( PMDB- BA), que defende o rompimento com o governo, afirmou ao GLOBO que há uma tentativa da ala mais governista de esvaziar o congresso da legenda.

— Como houve uma grande repercussão no lançamento do programa, os ministros não querem uma manifestação real contra o governo no congresso — avalia Geddel.

PMDB e PSDB antecipam sucessão de Dilma

Por Thiago Resende e Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A três anos da eleição, a sucessão presidencial já está nas ruas. PSDB e PMDB tentam emergir como resposta à crise do governo federal. O primeiro partido a apresentar uma alternativa aos governos do PT, há 13 anos no poder, foi seu parceiro e vice PMDB, que realiza amanhã o seu congresso partidário, em Brasília. O encontro irá discutir o documento "uma ponte para o futuro", publicado no mês passado. Em dezembro, será a vez do PSDB divulgar seu texto.

O PT, por seu turno, tenta escapar da pauta negativa em que se encontra desde o início do ano - para ser mais preciso, talvez, desde a época do mensalão, o esquema de compra de votos por apoio do Congresso desvendado em 2005. Em seu site no internet, o partido divulgou uma cartilha rebatendo 13 pontos sobre os quais recaem acusações e críticas à sigla.

Uma pesquisa do Ibope divulgada recentemente chamou a atenção dos dirigentes partidários: do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-senadora Marina Silva, passado por José Serra e Geraldo Alckmin (ambos do PSDB-SP), todos apresentaram altos índices de rejeição. A leitura óbvia - e reforçada pelo PT, que tem interesse nela - é que a população cansou das querelas congressuais e quer mais ação positiva de seus representantes. Mas pode ser também um reflexo da "antipolítica" manifestada em protestos.

O documento pemedebista foi visto por muitos como um programa mínimo para um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, no caso do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A discussão da "Proposta Temer" será um passo no descolamento do atual governo, mas sem perspectivas de rompimento, até porque não será a esfera partidária capaz de tomar esse tipo de decisão, de acordo com o líder da legenda no Senado, Eunício Oliveira (CE), que não descarta a possibilidade de pemedebistas externarem o desejo de saída do governo.

"Não tenha dúvida que o PMDB vai querer uma candidatura própria nas eleições presidenciais. O PMDB tem que sair completamente do governo em algum momento para essa disputa. Mas agora geraria muita instabilidade", observou Eunício.

Promovido pela Fundação Ulysses Guimarães, o evento vai reunir principalmente pemedebistas críticos à gestão Dilma e à política econômica. O presidente da Fundação é o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco, que, segundo parlamentares, ainda está irritado por ter sido "cortado" do ministério de Dilma e muito ligado a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula, que se opõe ao atual governo. Moreira foi ministro da secretaria de Assuntos Estratégicos e da Aviação Civil, até o ano passado.

Antes de o ano acabar, em dezembro, o PSDB também vai reunir as propostas do partido num documento. "O PSDB não pode resumir sua atuação política ao impeachment", disse o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. Aécio evita dar detalhes do documento que, de acordo com ele, fará um diagnóstico da crise econômica e com propostas para o país, principalmente, na área social. Mas um debate no plenário do Senado neste mês entre Serra, Aécio e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sinaliza um dos pilares do plano: o comércio exterior.

"Se internamente a economia vai mal, o natural seria apostar nas exportações, mas prevalecem, na política externa, as mesmas ideias atrasadas da política doméstica, com consequências ainda mais graves", discursou Tasso. Na mesma linha de raciocínio, Aécio ressaltou que, nos dez primeiros meses do ano, as importações recuaram 22% e as exportações em um ritmo um pouco menor por causa da desvalorização do real. "Isso faz com que haja agora um superávit na nossa balança comercial alcançado pela pior das equações, exatamente consequência da retração da nossa economia", concluiu o presidente da sigla.

A oposição não desistiu do impeachment, mas teve que mudar a postura para ficar mais parecida com a rua. O PSDB rompeu - o que hesitava fazer - com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado pela Lava-Jato, e quer mostrar ideias de governo.

Na semana passada, Aécio reuniu-se com deputados federais que são pré-candidatos a prefeitos nas eleições de 2016. "O que podemos fazer agora quanto PSDB, além das críticas, além da correção de rumos que temos aqui cobrado, estamos apresentando propostas", afirmou o presidente nacional do partido, derrotado por Dilma nas eleições presidenciais do ano passado.

Um deputado tucano que participou do encontro contou que o partido vai insistir nas críticas ao aumento de impostos e deve defender corte mais vigoroso nas despesas da máquina pública e mais recursos para o Bolsa Família.

PF detalha propina em Pasadena

Novo colaborador da Operação Lava- Jato promete entregar documentos que mostram que ex- diretores da Petrobras indicados pelo PMDB receberam propina por Pasadena.

PF começa a fechar acordos de deleção premiada

• Doleira Nelma Kodama, parceira de Alberto Youssef, foi a primeira a aceitar

Cleide Carvalho – O Globo

- CURITIBA- A Polícia Federal vai começar a negociar e fechar diretamente acordos de delação premiada na Operação Lava- Jato. Até agora, as delações eram feitas apenas na esfera do Ministério Público Federal. A doleira Nelma Kodama, que atuava em parceria com Alberto Youssef, foi a primeira a fechar acordo com a PF. A alteração deverá servir para agilizar as investigações, uma vez que o interesse pelos acordos é grande, e muitos possíveis colaboradores podem ajudar a elucidar pontos específicos de apurações, feitas pela polícia, ainda em andamento. Tanto na PF como no MPF, a homologação é feita pela Justiça.

A colaboração com a PF segue os moldes das que são acertadas com os procuradores da República, ou seja, pode resultar também em redução de penas, por exemplo. Nos depoimentos à Polícia Federal, são abordadas provas específicas.

— Para nós, essas novas delações valem mais do que os depoimentos iniciais — afirma um dos investigadores, referindo- se aos depoimentos tomados depois da homologação do acerto.

As mais de 30 delações firmadas até agora foram conduzidas apenas pela força- tarefa do MPF. Com a abertura do leque, a PF dará a largada em uma série de negociações com outros envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. Os depoimentos poderão ser acompanhados por procuradores. A intenção é atrair delatores ligados a empresas que possam dar mais detalhes sobre os mecanismos usados para pagamento de propina.

Investigação entra em nova fase
A investigação das empreiteiras entrou também em nova fase. A PF iniciou a perícia da contabilidade das empresas, mesmo daquelas cujos executivos já foram julgados em ações da LavaJato, como a OAS e a Mendes Júnior. A perícia foi detalhada e passou a ser mais completa depois das informações apresentadas pela Camargo Corrêa, que fechou acordo de leniência.

O objetivo é detalhar quem recebeu valores significativos das empreiteiras e identificar outros repassadores de recursos que não são os operadores já identificados pelo ex- gerente da Petrobras Pedro Barusco, que fechou acordo de delação.

Boa parte da propina a políticos foi repassada por empresas de consultoria, assessorias ou escritórios de advocacia. A Camargo Corrêa identificou 13 fornecedores que ela própria usou para repassar dinheiro, entre eles dois escritórios de advocacia. A Odebrecht foi a primeira das empreiteiras do cartel a ter sua contabilidade dissecada depois do acordo de leniência feito pela Camargo.

Do pente- fino na contabilidade poderá ainda, segundo os investigadores, surgir mais nomes de políticos beneficiados com repasses de recursos, inclusive, fora do âmbito da Petrobras. A investigação também revela esquemas, por exemplo, na hidrelétrica de Belo Monte e na Eletronuclear, ambas alvos de fraude envolvendo pessoas já investigadas no âmbito da Lava- Jato.

A devassa contábil deverá ajudar a PF em duas investigações mais complexas, do grupo Andrade Gutierrez e da construtora Queiroz Galvão. A Queiroz segue apenas como investigada na Lava- Jato, mas, segundo relatório da PF, foi a segunda empreiteira mais beneficiada com contratos da Petrobras entre as 27 empresas do cartel.

Nova fase da Lava-Jato apura contratos da Abreu Lima e Pasadena

• PF deflagra 20ª etapa da operação com 18 mandados, sendo dois de prisões temporárias

Por O Globo

SÃO PAULO - A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira a 20ª fase da Operação Lava-Jato – Operação Corrosão. Estão sendo cumpridos dois mandados de prisão temporária e cinco mandados de condução coercitiva nas cidades do Rio de Janeiro, Rio Bonito (RJ), Petrópolis (RJ), Niterói (RJ) e Salvador, na Bahia. Também serão cumpridos 11 mandados de busca e apreensão.

As ações policiais, segundo a PF, têm como alvo ex-funcionários da Petrobras investigados pelo recebimento indevido de valores por parte de representantes de empresas contratantes da estatal, notadamente em contratos relacionados com as refinarias Abreu e Lima e Pasadena.

Também estão sendo cumpridas medidas em investigação que apura a atuação de novo operador financeiro identificado como facilitador na movimentação de recursos indevidos pagos a integrantes da Diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, dentre outros crimes em apuração.

Os presos serão levados ainda hoje para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná.

Aval de Lula garantiu contrato bilionário com a Petrobras, diz delator

Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Representantes do grupo Schahin que fecharam um acordo para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato indicaram que o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo para que o grupo conseguisse um contrato bilionário com a Petrobras em 2007.

Segundo eles, o contrato foi uma compensação em troca do perdão de uma dívida milionária que o PT tinha com o banco Schahin. Foi o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, que mencionou o apoio de Lula a executivos do grupo durante as negociações para livrar o PT da dívida, eles disseram.

As negociações ocorreram no fim de 2006, após a reeleição de Lula, de acordo com um dos depoimentos colhidos pelos procuradores da Lava Jato. Em 2007, poucos meses depois da conversa com Bumlai, a construtora do grupo Schahin assinou com a Petrobras um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar o navio-sonda Vitória 10.000.

Delação
O episódio foi relatado a procuradores da Lava Jato na semana passada, em Curitiba, por um dos acionistas do grupo, Salim Schahin. Ele controla o grupo com o irmão, Milton. As negociações para que o Schahin colabore com as investigações tiveram início há quase dois meses.

Salim fechou na semana passada acordo de delação premiada em troca de redução da sua pena no futuro, mas o acordo ainda não foi homologado pelo juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato no Paraná.

Representantes do grupo Schahin que participam das negociações disseram que os acionistas não tiveram contato com o ex-presidente Lula, mas acharam suficiente a garantia oferecida por Bumlai de que ele daria seu aval ao contrato do navio-sonda.

Dilma diz que respeita opinião de Lula, mas Levy 'fica onde está'

• Presidente classificou como 'nocivos' os rumores sobre permanência ou não do ministro da Fazenda no cargo

Fernando Nakagawa - O Estado de S. Paulo

ANTÁLIA, TURQUIA - A presidente Dilma Rousseff reafirmou nesta segunda-feira, 16, que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, "fica onde está" e classificou os rumores sobre a permanência dele do governo como "nocivos". Ao ser questionada se concordava com as avaliações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o ministro deveria deixar o cargo, Dilma não escondeu que há diferenças. "Eu não só gosto muito do presidente Lula, como o respeito. Mas não concordamos e não temos de concordar com todas as avaliações."

Após a participação na reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20, Dilma negou que tenha intenções de retirar Levy do governo. "Eu considero o ministro Levy sobretudo um grande servidor público. Ele tem compromisso com o País, com a estabilidade do País", disse. "Acho extremamente nocivas as especulações quanto ao ministro que me obrigam a, de forma sistemática, reforçar que o ministro fica onde está".

Dilma disse aos jornalistas que "não tem de concordar em tudo" com as pessoas que gosta imensamente. "Até porque nós somos adultos, e cada um tem uma forma de encarar a realidade", disse aos jornalistas. Apesar de reconhecer as diferenças, Dilma disse que "no geral, a gente (ela e Lula) concorda" com a maioria dos temas.

Com a acusação de que Levy usa um remédio muito amargo para a economia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é quem estaria liderando a pressão contra o ministro. Lula defende que a solução seria o substituir por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e ainda teria dito em um jantar que Levy teria "prazo de validade".

Especulações sobre Levy são nocivas ao país, aponta Dilma

Por Assis Moreira – Valor Econômico

BELEK (TURQUIA) - A presidente Dilma Rousseff foi enfática nesta segunda-feira ao rechaçar as críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e afirmou que as especulações sobre a queda do ministro são nocivas para o país.

Ao ser indagada em entrevista se concordava com a declaração de Lula de que Levy não tinha mais prazo de validade na Fazenda, a presidente retrucou que discordava de tal posição. “Não concordo com Lula. E não temos de concordar com todas as avaliações de pessoas das quais gosto imensamente.” “Repito: Levy é um grande servidor público, tem compromisso com a estabilidade do país”, acrescentou Dilma, que está na Turquia na reunião de cúpula do G-20.

A presidente foi além, avaliando ser nocivo para o país as especulações sobre o futuro de Levy. "É extremamente nocivo para o país as especulações que vira e mexe são feitas e me obriga a vir a público e reforçar que Levy fica onde está", afirmou. Para ela, “isso não contribui para o país”.

Ao terminar a entrevista, Dilma foi perguntada se tinha algum problema com o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, que é apontado como candidato de Lula ao ministério da Fazenda. “Não tenho problema com ninguém”, disse. Deu um passo e acrescentou: “Estou na fase de ‘Dilminha paz e amor’”.

Ontem, à margem do G-20, ao ser perguntado se sentia estável no cargo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que "estava navegando". Ele disse que permanecerá até “segunda ordem”, e avalia que tem respaldo da presidente, tanto que está com ela na cúpula do G-20 na Turquia. “Não vim aqui a passeio”, afirmou. Levy, que tinha deixado o Brasil em avião de carreira, deve voltar a Brasilia no avião presidencial nesta tarde.

Sobre situação política no Brasil, Dilma acredita que “está cada dia se normalizando mais”, numa referência a menores pressões sobre um possível impeachment, e disse que o governo avalia que tem maioria no Congresso, "em alguns casos bem confortável, em outros mais apertada".

No G-20, uma das conclusões dos líderes é de que a retomada do crescimento econômico mais sólido passa pela confiança da sociedade, o que visivelmente está faltando em vários lugares.

Pela 1ª vez desde 2003, previsão para inflação deste ano passa de 10%

• Economistas projetam que IPCA encerre 2015 a 10,04%, segundo pesquisa Focus

Por Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - A previsão para a inflação neste ano rompeu a barreira dos dois dígitos, o que não acontecia desde 2003. De acordo com a pesquisa semanal que o Banco Central faz com instituições financeiras, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 9,99% para 10,04%.

Foi a nona alta seguida da projeção para o índice oficial, que se distancia cada vez mais da meta de 4,5% neste ano com margem de tolerância de 2 pontos percentuais. Para 2016, a estimativa para inflação encostou no teto: passou de 6,47% para 6,5%, na 15ª elevação consecutiva da estimativa.

O aumento do pessimismo em relação à inflação ocorreu mesmo com uma perspectiva menor para o câmbio. A previsão para o dólar no fim deste ano caiu de R$ 4 para R$ 3,96. Para 2016, a projeção continuou em R$ 4,20 no encerramento do ano. No entanto, os analistas acreditam que o dólar ficará num patamar mais baixo durante um ano. Por isso, a cotação média da moeda americana caiu de R$ 4,11 para R$ 4,08 durante todo o período.

A expectativa para a alta dos preços administrados no ano que vem piorou pela nona semana seguida e chegou a 7%, contra 6,95% antes. Para este ano permaneceu em 17%.

O BC mudou recentemente o discurso e passou a destacar que fará o que for preciso para levar a inflação ao centro da meta em 2017, quando antes dizia que esse nível seria atingindo ao fim de 2016.

Recessão maior em 2016
Além de ter de lidar com uma inflação de dois dígitos, o brasileiro conviverá com forte recessão neste e no próximo ano. A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano não piorou de uma semana para outra. Foi mantida em queda de 3,10%. Já a estimativa para 2016, chegou aos 2%, na sexta diminuição seguida.

O cenário para a produção industrial também piorou para 2016, chegando a uma contração de 2,15%, sobre queda de 2% na semana anterior.

O levantamento, que abrange uma centena de especialistas, não mostrou desta vez alteração na perspectiva para a taxa básica de juros no fim do ano que vem, permanecendo em 13,25%. Também foi mantido o cenário de que a Selic encerrará este ano nos atuais 14,25%.

Edinho visitou Andrade Gutierrez antes e depois da reeleição de Dilma

• Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação e alvo da Lava Jato procurou em 2014 Otávio Azevedo, presidente da empreiteira que mais doou (R$ 21 milhões) para a campanha da petista

Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência Edinho Silva – investigado na Operação Lava Jato – visitou três vezes o empresário Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, na sede da empreiteira. Uma visita foi em 2012, a dois meses das eleições municipais. As outras duas foram em 2014, em agosto (dois meses antes das eleições presidenciais) e em novembro, um mês depois do pleito em que a presidente Dilma Rousseff se reelegeu.

A informação consta de planilha de controle de visitas recebidas por Otávio Azevedo. Edinho foi tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma. Ele está sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF), por suspeita de obter financiamento de campanha mediante ‘ameaças’ sobre contratos da Petrobrás.

A Andrade Gutierrez é a empreiteira que mais doou para a campanha da reeleição de Dilma, R$ 21 milhões, quase três vezes o montante repassado pela UTC Engenheira, do empresário Ricardo Pessoa, delator da Lava Jato que disse ter sido ‘persuadido’ por Edinho a ‘doar mais para o PT’.

Para todos os candidatos do PT a Andrade Gutierrez doou R$ 39, 3 milhões.

A planilha de visitas da Andrade Gutierrez foi anexada pela Polícia Federal nos autos da Operação Lava Jato. O presidente da empreiteira Otávio Marques de Azevedo é réu em processo por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi preso em 19 de junho, na Operação Erga Omnes, desdobramento da investigação sobre esquema de propinas que se instalou na Petrobrás entre 2004 e 2014. Nesta sexta-feira, 13, frente a frente com o juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato, Otávio Azevedo ficou em silêncio.

Os registros da Andrade Gutierrez indicam que a primeira visita ocorreu no dia 20 de agosto de 2012. Edinho entrou na empresa às 8h54 e saiu às 10h17. A segunda visita foi no dia 25 de agosto de 2014, entrada às 14h48 e saída às 15h25. A terceira, no dia 3 de novembro de 2014. O então tesoureiro da campanha de Dilma entrou às 15h09 e saiu às 15h50.

Nas três oportunidades em que esteve na empreiteira, cuja sede fica em São Paulo, Edinho Silva se identificou como membro da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Em um campo de observações na mesma planilha, a Polícia Federal qualifica Edinho Silva como ‘Deputado estadual/SP (2011-2015), Presidente do PT/SP, e atual Ministro Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência’. O ministro não é mais deputado – seu mandato parlamentar expirou em fevereiro.

Em outubro passado, o ministro foi ouvido na Polícia Federal, em Brasília. Ele confirmou encontros com o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa – delator da Lava Jato -, mas negou que tenha feito pressão para que o empreiteiro doasse recursos para a campanha da reeleição da presidente Dilma, em 2014.

O ministro também negou, na ocasião, ter dito as frases que Ricardo Pessoa lhe atribuiu em sua delação premiada. Aos procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato, o dono da UTC disse ter sido ‘persuadido’ por Edinho a ‘contribuir mais para o PT’, uma vez que a empresa tinha contratos expressivos com a Petrobrás. “O Edinho me disse: ‘Você tem obras na Petrobrás e tem aditivos. Não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Estou precisando'”, relatou Pessoa.

A suspeita é que os R$ 7,5 milhões doados pela UTC à campanha da petista tenham sido fruto de dinheiro desviado da Petrobrás. Em setembro, o ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a investigação do ministro, após pedido de abertura de inquérito enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Nesta semana, em depoimento à Justiça Federal no Paraná, base da missão Lava Jato, Ricardo Pessoa declarou. “Na época de campanha as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina, eram contribuições de campanha mesmo. O restante não, o restante era como se pagava a comissão da propina da Petrobrás.”

Após esse depoimento de Ricardo Pessoa, o ministro Edinho Silva declarou que ele ‘reforça’ sua alegação de que a campanha da presidente Dilma respeitou a legislação eleitoral. “A fala dele (Pessoa) só reforça aquilo que temos dito desde o início, todas as doações da campanha da presidenta Dilma ocorreram dentro da legalidade.”

Na sexta-feira, 13, a assessoria do ministro disse que não foi possível manter contato com Edinho porque ele estava em vôo.

Vaccari. O mesmo relatório de visitas à Andrade Gutierrez que cita Edinho Silva mostra que João Vaccari Neto, ex-tesoureiro nacional do PT, visitou o empresário Otávio Marques de Azevedo vinte vezes, entre 13 de novembro de 2007 e 25 de agosto de 2014. Em todas as ocasiões, Vaccari informou na recepção da empreiteira que o motivo da visita era ‘particular’. Vaccari também está preso – a Lava Jato o pegou em março e lhe atribui arrecadação de propinas para abastecer o caixa do PT.

Falta de opções pode dar sobrevida a candidatura de secretário de Paes

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O consenso sobre o nome do secretário municipal Pedro Paulo (PMDB) como pré-candidato a prefeito do Rio custou ao atual ocupante do cargo, Eduardo Paes (PMDB).

Ele se empenhou para que o principal concorrente, o deputado Leonardo Picciani (PMDB), se tornasse líder do PMDB na Câmara no início do ano. Já havia empregado em dezembro seu irmão mais novo, Rafael (PMDB), 29, como secretário de Transporte.

A costura convenceu o presidente do PMDB-RJ e da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, a aceitar Pedro Paulo como o pré-candidato oficial do partido, pacificando a sigla em torno do braço direito de Paes.

A falta de opções de consenso no horizonte é a principal arma para que o secretário mantenha o posto após um mês sob ataque pelas agressões à ex-mulher Alexandra Mendes Marcondes.

Oficialmente, Pedro Paulo segue com apoio de Paes e do partido. Em nota, a sigla diz que "não cogita outro nome para a sucessão do prefeito".

Em entrevista neste domingo (15), Paes voltou a defender seu secretário, afirmando que as agressões são assunto da vida privada.

"Não estamos falando algo da dimensão pública dele. Na dimensão pública, ele é o quadro mais preparado", disse Paes. Ele negou ter um plano B para a candidatura.

"Não estou buscando um homem perfeito. Quero um candidato que governe bem a cidade. E o meu candidato a prefeito é Pedro Paulo".

Aliados avaliam, porém, que Pedro Paulo tem pouca chance de superar o baque. Ele começava a se expor quando os registros policiais foram divulgados. O rótulo de agressor foi o primeiro que a maioria do eleitorado recebeu.

Irritaram os aliados as seguidas versões falsas de Pedro Paulo –divulgadas não só para a imprensa, como também a correligionários e funcionários–, desmentidas ao longo de um mês.

Inicialmente, ele negou ter ocorrido agressão em 2010 que deixou a ex-mulher com um dente quebrado. Depois, disse ter sido caso único. Terminou a semana reconhecendo dois casos, mas chamou-os de "episódios superados".

A entrevista com a ex-mulher foi considerada positiva, desde que sem novas revelações. Apesar disso, o prefeito não vai abandonar o mais fiel aliado. A esperança é que o tema esfrie após um ano –e uma Olimpíada no meio.

O único nome que uniria o PMDB do Rio é o do ex-governador Sérgio Cabral. Com a imagem ainda desgastada após renunciar ao governo do Estado, ele não tem interesse.

Leonardo Picciani está empenhado na sucessão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ainda que decida viabilizar-se, Paes não o vê como uma boa opção.

O secretário estadual de Transporte, Carlos Roberto Osório (PMDB), surge como uma possível terceira via. Novato –participou da primeira campanha em 2014, ao se eleger deputado estadual–, foi secretário-geral da candidatura do Rio como cidade-sede da Olimpíada de 2016.

Ex-funcionário da CNN, tem facilidade em conceder entrevistas, mas Paes e Cabral avaliam que não tem experiência para enfrentar uma disputa majoritária.
A avaliação no PMDB é que nem Eduardo Paes nem Jorge Picciani podem decidir sozinhos. A falta de opções pode salvar a pré-candidatura de Pedro Paulo.

Ricardo Noblat: Bate em mulher e pede voto

- O Globo

“Falamos de algo da vida pessoal de Pedro Paulo. Não de algo da dimensão pública dele” Eduardo Paes, prefeito do Rio

De duas, uma. Ao dizer que descarta a ideia de trocar seu secretário Pedro Paulo Carvalho por outro nome que concorra à prefeitura do Rio em 2016, Eduardo Paes apenas ganha tempo para encontrar um novo candidato. Ou então: apesar da enrascada em que Pedro Paulo se meteu, Eduardo, de fato, não abre mão de ser sucedido por ele, amigo de fé, parceiro há 18 anos, camarada.

O PLANO DE Eduardo de disputar em 2018 o governo do Rio ou a vaga de Dilma passa pela eleição de Pedro Paulo para prefeito. Só que o futuro de Pedro Paulo já não pertence ao prefeito, mas aos cariocas que começam a reagir, indignados, contra o que ele fez. Especialmente as cariocas, chocadas com a descoberta de que Pedro Paulo espancou sua exmulher duas vezes.

“EU ACHO QUE aconteceu uma coisa de casal, que só interessa a eles”, disparou Eduardo, afinado com Pedro Paulo e desafinado com as ruas. “O que deve valer para o eleitor é tentar compreender quais são as propostas dele para a cidade. É preparado? Que realizações tem? É disso que se trata a eleição”. Não é só disso. E espanta que o prefeito de uma cidade cosmopolita como o Rio pense assim.

O QUE ACONTECEU com Pedro Paulo e Alexandra somente caberia a eles se Pedro Paulo não fosse um homem público. Os eleitores têm o direito de conhecer como os aspirantes a governá- los se comportam longe dos refletores. A Pedro Paulo não se pode negar o direito ao arrependimento. Mas tampouco aos eleitores o direito de julgá- lo pelo que fez de bom ou de ruim.

NÃO EXISTEM duas morais, uma pública e outra privada. Exige- se do homem público que seja coerente com o que prega. Se para atrair votos ele condena a violência, não pode na intimidade da família ou dos amigos agredir quem quer que seja. “Eu me descontrolei”, desculpou- se Pedro Paulo, orientado por especialistas em crises de imagem que o treinaram para mentir melhor.

CHAMAR DE “descontrole” o ato de bater em uma mulher é debochar da nossa inteligência. É uma confissão de ignorância abissal dos meios mais civilizados de se resolver conflitos entre humanos. No limite — quem sabe? —, pode ser também uma forma de disfarçar um possível traço de misoginia sempre tão comum entre aqueles que levam uma vida dupla, obrigados a mentir o tempo todo.

HÁ UM MÊS, quando a “Veja” revelou que em 2010 ele surrara Alexandra no apartamento do casal na Barra da Tijuca, Pedro Paulo negou. E distribuiu um documento assinado por Alexandra onde ela negava que tivesse apanhado. O documento era falso. Ouvida pelo Ministério Público, Alexandra confirmou tudo o que registrara em delegacia, na época.

FORA TRAÍDA pelo marido com uma mulher que parecia um travesti. E, ao cobrar satisfações, Pedro Paulo respondeu com socos e chutes que a deixaram coberta de marcas. Um dos socos arrancoulhe um dente. Confrontado com o que dissera Alexandra, só restou a Pedro Paulo apelar novamente para a mentira: “É importante dizer que foi um episódio único na minha vida”. Não foi!

NA SEMANA PASSADA, soube- se que ele espancara Alexandra na noite do Natal de 2008, e diante da filha do casal, Manuela, de 10 anos. O ato final da humilhação de Alexandra ocorreu na quinta- feira. Forçada pelo ex- marido a defendê- lo, Alexandra jurou que só apanhou dele duas vezes. “Pedro nunca foi um cara agressivo”, recitou. Agressivo, mentiroso e egocêntrico, Pedro pede seu voto para governar o Rio.

Míriam Leitão: Prefeito se enfraquece ao defender agressor de mulher

- O Globo

Alguém que seja amigo do prefeito do Rio avise a Eduardo Paes que ele perde reputação cada vez que sai em defesa do seu candidato Pedro Paulo, porque ele se revela nos argumentos que usa.

Agressão contra mulher não é um problema pessoal. É de fato e de direito um crime e, portanto, de interesse coletivo. É velha como o machismo a ideia de que em briga de marido e mulher não se mete a colher.

Não interessam as circunstâncias, não há atenuante, quem acha que resolve qualquer problema do casal atacando fisicamente a mulher é uma pessoa condenável. Até porque a violência como argumento é condenável seja quem for que estiver envolvido.

O prefeito insiste, e ainda usa esses argumentos toscos de que as “brigas” são problema dele, Pedro Paulo. E diz, como fez no GLOBO de domingo, que “aconteceu entre quatro paredes, não se sabem as circunstâncias”. Ao fazer isso, Eduardo Paes consome o capital que construiu de imagem de político jovem e com ideias atualizadas. Esta é velha, velha.

Paes tem ambições, muitas, e, em cada campanha que fizer, isso lhe será cobrado. Seu candidato está condenado, sem salvação, mas o fato mais relevante é que Eduardo Paes se enfraquece a cada defesa que faz e mostra a cara de um político que ainda não entendeu a gravidade da questão da mulher. Nós lutamos, caro prefeito, para vencer séculos de discriminação e violência, uma História inteira de ofensas e submissão. 

A violência dita doméstica é pública, nos diz respeito e é inaceitável. Achar que o que acontece entre quatro paredes não é crime, não é uma questão pública, é uma atitude reveladora de desprezo pela mulher, sua causa, sua luta.

Denis Lerrer Rosenfield: A tortura dos números

- O Estado de S. Paulo

Números, por mais que sejam torturados, não permitem que se diga algo diferente do que expressam. Distorções têm racionalmente limites, salvo para os que se contentam com imposturas ideológicas.
Essa impostura está presente em Mato Grosso do Sul, na atuação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa entidade da Igreja Católica entrou na luta propriamente política, denunciando um suposto “genocídio” da etnia guarani no Estado. Procura, com isso, prejudicar os empreendedores rurais, como se fossem responsáveis por tal “situação”. Vão mais longe, apregoando um boicote internacional a seus produtos. A impostura não conhece fronteiras!

Os números da Superintendência da Inteligência de Segurança Pública do Estado são eloquentes. Eles mapeiam os homicídio dolosos tendo indígenas como vítimas, nos anos de 2008 a 2015, no total de 229 casos, com os respectivos boletins de ocorrência e inquéritos policiais instaurados. Os inquéritos permitiram apurar a definição de autoria de 167 casos, perfazendo um porcentual de esclarecimento de 72,9%. Nestes, 85 são de adolescentes infratores indígenas, mais de 50% dos casos apurados.

Os autores indígenas perfazem 155 dos casos apurados, enquanto autores não indígenas somam apenas 9. Ou seja, a violência é de indígena contra indígena, e não de branco contra indígena, como os agentes ideológicos não se cansam de apregoar. Eles criaram o conceito de “genocídio” em completo desapego aos fatos. Buscam a plateia das ONGS nacionais e internacionais, que estão mais preocupadas em denegrir a imagem do Brasil do que em ajudar os indígenas.

Se atentarmos para a motivação dos crimes, os oriundos do consumo de bebidas e drogas totalizam 88, restando 4 por vingança, 44 por desentendimento interpessoal/ciúmes e 47 por motivos fúteis. Ali não são os conflitos agrários que estão em causa, mas sim o abandono, a falta de políticas públicas e uma maior integração social e econômica.

A tendência do Cimi e da Funai, além de ONGs nacionais e internacionais, é tudo reduzir a um conflito fundiário, na verdade, à luta que “representam” contra o lucro, o agronegócio e o capitalismo em geral. Sua posição esquerdizante os impede perceber as mudanças culturais profundas que essas tribos sofreram. Clamam, isto sim, por melhores condições de saúde, de educação e por políticas públicas que reduzam e eliminem os preconceitos de que ainda são objeto.

A posição do Cimi é particularmente reveladora, pois foram as políticas missionárias da Igreja que, no passado, mudaram, se não destruíram as formas religiosas tribais, produzindo importantes conflitos identitários. Ou seja, pessoas que perdem sua identidade, no caso, tribal e religiosa, são as que se sentem abandonadas no mundo. Suicídios têm também causas culturais, religiosas.

Ora, esse órgão da CNBB está, na verdade, transferindo para os empreendedores rurais uma responsabilidade que, de certa maneira, é sua. Trata-se de uma espécie de sentimento de culpa, acompanhado de uma desresponsabilização moral. No caso, operaram uma conversão, a conversão ao marxismo via Teologia da libertação, como se assim pudessem voltar a outro tipo de trabalho missionário.

No estágio de aculturação em que essas tribos se encontram, o mais adequado seria a adoção de políticas públicas que os contemplassem como pessoas em busca de bem-estar, e não meras peças de museu que devem ser preservadas. Necessitam, isso sim, de políticas públicas voltadas para uma melhor qualidade de vida. Querem médicos, TV, automóveis e instrumentos de trabalho, não a volta do xamã.

Em boa hora a Assembleia Legislativa sul-mato-grossense criou a CPI do Cimi, tendo como presidente a deputada Mara Caseiro e como relator o deputado Paulo Corrêa. Trata-se de um trabalho sério de investigação, voltado para desvelar a névoa ideológica que cerca as atividades dessa entidade e de ONGs correlatas.

Não estamos diante de um filme de faroeste, em que se possam discriminar mocinhos e bandidos. A realidade é muito mais complexa e nuançada. Ambos, na verdade, são vítimas - vítimas de políticas estatais e, mesmo, eclesiásticas, que têm como objetivo pôr as duas partes, com suas expectativas de direito, em confronto.

A Funai nada faz para equacionar os conflitos. De fato, é parte do problema, não de sua solução, incentivando lutas e confrontos. Considera sagradas suas “demarcações de terras”, quando são frequentemente distorcidas, com base em laudos antropológicos de cunho ideológico.

Ademais, aferra-se a desrespeitar as decisões do STF estabelecidas quando do julgamento do caso da Raposa-Serra do Sol. Ora, dentre outras condicionantes, estipulou a Corte Máxima o marco temporal da Constituição de 1988 como linha divisória das terras indígenas e vedou a ampliação de seus territórios. Termina, assim, por criar uma infinidade de conflitos e judicializações, enquanto reclama dessa mesma judicialização!

Na verdade, esse órgão estatal procura colocar-se acima do Estado e do STF. Se seguíssemos sua política, empreendedores rurais seriam simplesmente expropriados de suas terras, como se não tivessem títulos de propriedade reconhecidos pelo Estado há décadas, anteriores à Carta de 1988.

Logo, se há necessidade de mais territórios indígenas em algumas áreas, por causa de explosão demográfica ou outra, não adianta insistir no conflito. A razão exigiria apostar na solução e esta passa pela compra de terras, pelo valor de mercado, pagas em dinheiro. Assim, ambas as partes poderiam ter suas expectativas de direito atendidas. Por que não uma aposta na negociação e no reconhecimento mútuo de direitos?
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Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS

Valdo Cruz: O terror de cada um

- Folha de S. Paulo

Paris gera um alerta mundial contra o terrorismo. As cenas de crueldade perpetradas pelo Estado Islâmico são injustificáveis. Seja lá o argumento que se use: vingança, religioso ou desigualdade.

Há um pouco ou muito de cada um destes componentes na ação dos terroristas. Todos podem e devem ser motivos de protestos. Nenhum dá a liberdade a quem quer que seja para tirar a vida alheia.

Já vivemos momentos piores na história da humanidade. Mas nunca estivemos tão próximos de cada uma destas tragédias como hoje na era da conexão tecnológica global. O que nos torna mais sensíveis a elas ou, pelo menos, deveria.

Afinal, nossas reações não são as mesmas para tragédias semelhantes que ocorrem a cada dia mundo afora. Ficamos mais indignados quando atacam a Paris que conhecemos e visitamos. Nem tanto quando as explosões são em Cabul.

A vida tirada no Afeganistão, onde muitos de nós jamais iremos, vale o mesmo que a subtraída na França, que alguns consideram segunda pátria. Não que isto deva ser motivo para não usar a tragédia de Paris a fim de alterar este caos planetário criado pelo Estado Islâmico.

Pelo contrário. Mas não só lá, em Paris, mas acolá, em Bagdá. E também aqui, nas nossas esquinas e morros, onde uma guerra diária é travada e não nos indignamos com a vida alheia tirada, mas tão somente com a segurança ameaçada.

Tal argumentação não tira um minuto do sono de boa parte dos líderes mundiais, principalmente os ocidentais. Que vão utilizar os atos terroristas de Paris para destruir seus autores e acabarão levando juntos muitos inocentes como os atingidos nas ruas parisienses.

Mas talvez desperte aqui ou acolá o sentimento de que devemos nos indignar com atentados semelhantes onde aconteçam, com quem seja, até com nossos inimigos. Não é nada fácil. Mas se queremos um mundo novo, este é o caminho.

Marcos Nobre: Terror e Política

• Um movimento político para suspender o verdadeiro debate

- Valor Econômico

Assim como toda a série de atentados dos últimos quatorze anos, também os ataques de 13 de novembro em Paris e em Saint Denis se reivindicam do 11 de setembro. As medidas de segurança e de controle tomadas desde então tornaram virtualmente impossível repetir algo das mesmas proporções da derrubada das Torres Gêmeas e do ataque ao Pentágono. A estratégia passou a ser reviver o momento de terror de 2001 como episódio inaugural de autoafirmação de um velho novo inimigo global.

O objetivo primordial dos atentados de Paris é manter a posição de inimigo global conquistada. É bem-vinda toda e qualquer caricatura que colabore para isso. A mais recorrente é a que diz se tratar de um projeto antimoderno de espalhar à força pelo mundo um modo de vida tradicional ligado a uma interpretação regressiva da religião. Pouco importa que esse inimigo seja um arquipélago de médios, pequenos e minúsculos grupos que não se entendem entre si, sem qualquer unidade ideológica consistente. Pouco importa lembrar que lançam mão em seus ataques de tudo de que podem dispor de tecnologicamente mais avançado.

Por não ter e não pretender ter território nem Estado, a posição de inimigo global depende também de uma declaração oficial de guerra. Foi o que fez George W. Bush como presidente dos EUA, em 2001. Foi o gesto repetido pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, em 2015. O velho novo inimigo global conseguiu ver decretado o estado de emergência na França. Isso tinha acontecido pela última vez em 1961, durante a Guerra da Argélia. A França restabeleceu controle de fronteiras em um espaço europeu que tinha abolido essa prática. Em outras palavras, deu uma resposta nacional a uma ameaça global.

Pode soar estranho afirmar que o inimigo global não pretende se estabelecer em um território nem se constituir em Estado, já que um dos nomes de guerra que recebeu foi justamente "Estado Islâmico". Mas não se trata de um Estado nem é reconhecido como "islâmico" pelas cerca de um bilhão e meio de pessoas que se declaram praticantes do Islamismo em todo o mundo, a maior parte delas na Ásia e não no Oriente Médio ou na África. Aliás, um dos grandes méritos do ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, foi o de ter proposto, em 2014, o banimento da expressão, por julgá-la ofensiva ao Islã e por não se tratar de um Estado. A partir desse momento, o governo francês passou a usar o nome "Daesh", utilizado pelos inimigos árabes do velho novo inimigo global. A declaração de guerra de anteontem foi mais um passo atrás nesse movimento.

As atrocidades históricas cometidas pelas potências imperialistas no Oriente Médio e em outros lugares do planeta forneceram e continuam a fornecer o combustível que move o velho novo inimigo global. Suas raízes mais imediatas estão na Guerra Fria, em grupos de combate que recebiam recursos, financiamento e treinamento dos EUA contra a União Soviética. Ou vice-versa, conforme a necessidade, as circunstâncias e os interesses. Com a queda do Muro de Berlim, viram-se subitamente sem sustento nem propósito imediato.

Na década de 1990, lutaram para sobreviver. E lutaram entre si pela liderança dos escombros da Guerra Fria. Mesmo os acordos de não-agressão mútua que estabelecem são sempre frágeis e provisórios. Alguns dos ensaios mais visíveis da tentativa de conquistar a posição de inimigo global foram o atentado ao World Trade Center em 1993 e a série de oito atentados em solo francês em 1995, dos quais o mais letal foi o praticado na estação de Saint Michel, em Paris. Conquistou a posição pretendida com os atentados de 2001 em solo dos EUA, de uma dimensão e alcance inéditos.

Após o 11 de setembro, entretanto, fechou-se o cerco às movimentações financeiras mundiais que sustentavam suas ações. Com controles cada vez mais rígidos, foi necessário procurar fontes mais locais e mais diretas de financiamento. Resgates obtidos mediante sequestro não bastam para isso. Daí que o território controlado pelo novo inimigo global siga também o traçado dos campos de produção e exploração de petróleo. E isso não apenas em partes do Iraque ou da Síria. O esquema se repete na Líbia, na Nigéria, no Chade.

O velho novo inimigo global só se importa com territórios na medida em que isso for necessário para seu financiamento e para sua sobrevivência operacional. Sua lógica não é territorial, muito menos nacionalista. Seu lugar é a rede. Mas infla sua própria importância ser identificado ao Islã e ganhar o selo de Estado. Usa esse nome como usava e usa Al-Qaeda (em suas diferentes franquias) ou Al-Shabab, Boko Haram, Talibã. O novo inimigo global tem muitos nomes e muitas caras. Desde que lhe seja conveniente, não recusa nenhuma máscara. Adapta-se a cada momento àquela que lhe garanta na posição de inimigo. A preferida atende pelo nome de "Choque de Civilizações". Mas aceita qualquer estereótipo que identifique religião e terrorismo. O importante é aparecer como maior do que é. O importante é aparecer como representante de uma religião, de uma etnia, de uma enorme comunidade. E provocar ódio e desejo de eliminação.

O velho novo inimigo global é um movimento político de baixíssimo teor político. Mas é um movimento político. Nasceu de sucata da Guerra Fria, reciclada para acompanhar a globalização em seu rastro de pobreza, desigualdade e violência. Sua unidade está na posição de inimigo que ocupa e que pretende continuar ocupando. O fundo comum ao arquipélago de grupos que usa a mesma máscara do inimigo global está no seu modo de operar e não em uma cartilha ideológica qualquer. Atinge seu objetivo quando consegue despolitizar suas ações. Aposta sempre na suspensão da reflexão. Quanto menos complexas e quanto mais simplistas forem as explicações, tanto mais fácil se torna manter a posição de odiado a ser eliminado. É um movimento político que tem por objetivo suspender o autêntico debate político. Não há dor de perda de vida humana que possa receber consolo ou compensação. É com isso que conta o velho novo inimigo global.
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Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap.

José Roberto de Toledo: A morte de um rio

- O Estado de S. Paulo

Há algo de errado no mundo quando caçar um animal silvestre pode levar uma pessoa para a cadeia, mas destruir toda uma bacia hidrográfica, provocar a morte de mais de uma dezena de pessoas, assorear rios caudalosos, extinguir espécies inteiras, deixar meio milhão de pessoas sem água potável é punido só com multa. O problema, obviamente, não é o tipo de punição dada ao caçador.

O desastre ambiental provocado pela mineradora Samarco em Mariana, no coração de Minas Gerais, e que esparramou uma onda com toneladas de rejeito de minério, entulho e lama por centenas de quilômetros ribanceira abaixo até chegar ao mar não tem precedente na história do Brasil. Sufocar um rio do tamanho do Doce de uma só vez e em tão curto espaço de tempo era inimaginável. Chamar de acidente ou fatalidade é zombaria. “Nenhuma barragem se rompe por acaso. Temos que identificar qual foi a causa, se a má operação da empresa ou falha no monitoramento. Não podemos encarar como acidente um fato deste tamanho”. As palavras são do promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, em entrevista ao jornal O Estado de Minas. Não podemos.

Por mais necessárias e urgentes que sejam as indenizações financeiras para tentar minorar o drama das populações afetadas, não parece justo que um desastre dessas proporções seja punido exclusivamente com multas. Seria o mesmo que dizer às empresas com capacidade de provocar impacto tão profundo no meio ambiente e na vida das pessoas que tudo bem, acidentes acontecem.

A causa não foi um terremoto, não foi uma tempestade, nem sequer uma chuva. Na melhor hipótese, foi inépcia. Na pior, descaso. É assustador imaginar que isso seja possível em uma empresa fruto da parceria entre a maior e a quinta maior mineradoras do mundo. Na verdade, não foi a primeira vez que isso acontece com uma megaempresa. Há outros exemplos de desastres ambientais de magnitude semelhante e que acabaram em acordo financeiro.

A contaminação maciça provocada no Golfo do México pelo vazamento ao equivalente a 4,2 milhões de barris de petróleo de uma plataforma da British Petroleum em 2010 terminou com um acordo judicial, 15 anos depois, em que a empresa aceitou pagar US$ 18,7 bilhões ao governo dos EUA. E negócios à frente.

Quem sabe, em meio ao desastre, não surja da Justiça alguma esperança. Um juiz destemido, um grupo de procuradores interessados em investigar o caso a fundo e responsabilizar quem merece ser responsabilizado - sem caça às bruxas, usando apenas instrumentos legais dentro do que estabelece a legislação. Se não vier do Judiciário, não parece que virá de outros Poderes.

As primeiras reações dos políticos, de ministros a senadores, não inspiram confiança de que a punição para o desastre acabe em algo além de uma repreensão acompanhada de algum desembolso. Por enquanto fala-se em R$ 250 milhões. É uma ninharia, para empresas desse porte. É menos do que a Vale - uma das sócias da Samarco - gastou financiando campanhas de políticos nacionais e locais ao longo de tantas eleições no Brasil. Mas, obviamente, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Espera-se. Tampouco deixa de ser uma mistura de tragédia e ironia que a Vale, após eliminar o Rio Doce do próprio nome, esteja, mesmo que indiretamente, implicada no assoreamento desse mesmo vale.

Atentados na França. Face à crueldade dos terroristas, é importante não esquecer dos heróis anônimos que, por bravura ou apenas por cumprir seu dever, evitaram que o massacre fosse ainda maior. Não tivesse um segurança do Stade de France impedido a entrada do homem-bomba que comprara ingresso para o jogo França x Alemanha, a explosão que ocorreu do lado de fora do estádio teria ocorrido nas arquibancadas, fazendo muito mais vítimas e possivelmente provocando uma correria que mataria ainda mais gente.

Aécio Neves: Mariana

- Folha de S. Paulo

Neste momento de sofrimento e indignação é preciso que o grito de socorro e alerta que ecoa de Mariana alcance a consciência do Brasil.

Um país se constrói com ações objetivas e com valores. Nas duas dimensões estamos em falta com os brasileiros das áreas atingidas pela tragédia.

Aparentemente se esquecendo do simbolismo do cargo que ocupa, somente uma semana após o rompimento das barragens que provocaram o grave desastre ambiental, -e após reiteradas críticas pela sua ausência- a presidente Dilma Rousseff sobrevoou a região, se limitando a contemplar à distância a destruição.

Não se encontrou com nenhuma das famílias, não apertou as mãos de quem perdeu entes queridos, não olhou nos olhos de nenhum desabrigado, não sentiu o odor da lama que varreu do mapa uma localidade inteira e afetou dezenas de municípios, em Minas e no Espírito Santo. Não levou a nenhum dos atingidos a solidariedade dos brasileiros que representa.

A passagem meteórica da presidente é reveladora da enorme distância que separa a vida real da população da pauta dos governantes de plantão. Some-se a isso, em mais uma evidência do distanciamento do governo da tragédia, o constrangedor vídeo que circula nas redes sociais mostrando que, sete dias depois, a presidente não sabia sequer o nome da empresa responsável pelo desastre.

Durante muitos anos ainda ouviremos falar da tragédia de Mariana. Não são apenas os números que são superlativos, mas toda a dimensão humana, social, ambiental e econômica que o fato envolve. O que aconteceu diz respeito ao país como um todo. A questão ambiental, com toda a sua complexidade, precisa tornar-se protagonista na agenda pública. Agir no presente significa escolher o futuro.

Precisamos de mais celeridade e transparência. Precisamos de compromisso e de comprometimento.

O projeto de lei do novo marco da mineração continua tramitando na Câmara dos Deputados sem merecer a devida atenção do governo, até o presente momento. Ele não foi capaz de contemplar as graves questões que o setor enfrenta na área ambiental, nem estabelecer as diretrizes necessárias para que se possa adotar a sustentabilidade como um pressuposto das suas atividades.

A tragédia de Mariana, que avançou sobre Governador Valadares e diversos outros municípios e chega ao Espírito Santo, se impõe como um divisor nas políticas públicas que regem a questão ambiental no país. Temos o dever de buscar o crescimento econômico em harmonia com a preservação do ecossistema e a valorização da dignidade humana. É um bom sonho a renascer da terra devastada.

Bento Rodrigues não pode se transformar apenas em mais uma fotografia na parede.
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Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

Marcus Pestana: Mariana: um grito em favor da vida e do futuro

- O Tempo (MG)

Cenas desoladoras. A fúria da lama de rejeitos minerais engolindo o pacato e bucólico distrito de Bento Rodrigues. Dezenas de vidas e sonhos soterrados pelas ondas que as barragens rompidas de Fundão e Santarém cuspiam. Mariana, berço de Minas, barroca e colonial, chorando seus filhos. Casas, veículos, plantações, móveis impotentes se rendendo à força da corrente de destruição que de Mariana descia em direção ao Vale do Rio Doce. Por onde passava, o caos se instalava. Nem a mais insensível pessoa conseguiu ficar indiferente ao maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil.

Um colega da bancada mineira postou um vídeo com uma matéria linda sobre a Associação de Produtores de Geleia de Pimenta Biquinho em Bento Rodrigues. Fiquei imaginando a dor daqueles personagens. Cinco mulheres e um homem que se reuniram para plantar laranja, limão e a pimenta, e, juntos, em sua pequena fábrica, adicionaram açúcar e alguns segredos não revelados para fornecer a seus clientes a iguaria. Nas entrevistas, aulas de empreendedorismo, amizade e solidariedade. Agora todo esse esforço foi enterrado debaixo da lama.

Mas nenhum impacto é maior do que a perda de vidas. Parentes olhando para aquele oceano de lama em busca de um fio de esperança em relação aos desaparecidos queridos.

Onde falhamos? O que deixou de ser feito? As vidas não voltarão. O rio está ameaçado. Os efeitos da tragédia são devastadores. O maior e talvez único ganho será o aprendizado.

E o pior, o perigo ainda não passou. A maior barragem, Germano, que represa um volume três vezes maior do que as duas que se romperam, ganhou uma trinca enorme na base de sua estrutura.

Nesses momentos de tragédia e comoção é natural, e se repete sempre, uma enorme mobilização. Todos se reúnem numa rede de solidariedade e apoio às famílias e regiões afetadas. Mas, com o tempo, essa energia vai se arrefecendo e muitos recursos e medidas anunciadas ficam pelo meio do caminho.

Agora é preciso menos retórica e mais ação. E transparência. A lama é tóxica ou não? Germano corre risco de se romper? Quais são as alternativas para normalizar o abastecimento de água na área afetada? O rio Doce sobreviverá e de que forma?

Da nossa parte, no Congresso Nacional, cabe aperfeiçoar o arsenal legal-normativo que regula o licenciamento ambiental de empreendimentos como o causador da tragédia e aprovarmos rapidamente o novo Código da Produção Mineral que modernizará o funcionamento do setor.

É hora de aprender com os erros e agir.

Minas Gerais carrega no nome sua essência mineral. Nossa economia depende fortemente da produção mineral. Mas antes vem a defesa da vida e do horizonte ambiental das futuras gerações. Defender a vida e o futuro é, sim, criar empregos, renda e riqueza, mas é, acima de tudo, ouvir o grito silencioso e forte que nasce em Mariana, nos abrindo os olhos para percebermos que o desenvolvimento não pode ser a qualquer preço. É preciso que seja seguro e sustentável.
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Marcus Pestana, deputado federal PSDB-MG)

Angela Bittencourt: Procura-se ministro para tempo de guerra

• Efeito de atentado é maior se destaque na mídia for maior

- Valor Econômico

Procura-se urgente um ministro para a República do Brasil. Ser alto não é condição imprescindível, mas ajuda. Do primeiro para o segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff, a equipe econômica teve um upgrade: 190 cm passou a ser a estatura predominante. Um meio rápido de limar diferenças. Joaquim Levy e Nelson Barbosa falam de igual para igual, ainda que não ouçam a chefe da mesma maneira. Note.

Procura-se urgente um ministro para o Bloco P, da Esplanada dos Ministérios, Brasília, Distrito Federal. Até a sexta-feira, as peculiaridades da função exigiam alguma prática e imensa habilidade. A partir desta segunda-feira, ao menos um atributo deverá ser adicionado ao currículo para tranquilizar a contratante. O candidato deve ter noção de finanças internacionais. Se dispuser de entendimento mais que mediano de questões geopolíticas, entra na seleção final. Arrisco dizer que será praticamente contratado se comprovar experiência em gestão da economia em momentos de crise.

Parece um currículo e tanto? Pode ser. Mas é desse profissional que o Brasil precisa. No "day after" dos atentados em Paris, com mais de 100 mortos e 300 feridos, de autoria reivindicada pelo Estado Islâmico e pelo grupo tratada como o 'início da tempestade', já não basta à República do Brasil buscar um novo ministro com a bagagem técnica de Joaquim Levy e a expertise de Henrique Meirelles. É pouco.

O Brasil precisa de um ministro com espírito aberto para enfrentar os desafios de uma guerra e a tormenta que compartilhará com mais de 200 milhões de brasileiros - a de uma economia que sucumbe à sombra de escândalos de corrupção e de uma crise política de alta voltagem sob a batuta de uma governante com 10% de aprovação popular e de seu antecessor que diz ter um plano melhor para o país. E, até por essa razão, tornou-se o anunciante do "Procura-se um ministro".

Um novo ministro pode mesmo ser necessário para o risco de governos petistas enfrentarem dias de tucanos dos anos 1990. É improvável, mas sabe-se lá! O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dono de dois mandatos no Planalto, viu sua popularidade derreter de carona na Crise da Ásia, ou do Sudeste Asiático, que teve início na Tailândia, em 1997, alastrou-se sobretudo nos mercados cambiais e consta em registros como a primeira grande crise dos mercados globalizados.

Como a História é caprichosa, não estará ela preparando para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva crises geopolíticas que o fará lembrar do alerta de Francisco, o Papa, que teme estar sendo engendrada por terroristas a Terceira Guerra Mundial? Exagero? Pode ser. É certo que ataques terroristas não são eventos cotidianos, mas as suas consequências são. E, no mínimo, porque um dos preceitos do terrorismo é romper estruturas.

O ataque do grupo islâmico Al-Qaeda às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, em Nova York, matou quase 3 mil pessoas de 70 países. O índice Dow Jones Industrial (DJIA) caiu 7,1% no primeiro dia de negócios após a suspensão de cinco pregões pelo ato terrorista. Em uma semana, a queda desse índice chegou a quase 15%, a maior de toda a história __ posto perdido apenas em 2008 para outra semana infernal, quando o mundo gelou sem que um tiro de fuzil fosse disparado.

Na semana fatídica da retomada do pregão em 2001, a Bolsa de Nova York contabilizou perda de valor de mercado de quase US$ 2 trilhões a preços de hoje. Negócios fizeram água. A perda de empregos foi avassaladora nos EUA que declararam guerra ao terror e invadiram o Afeganistão.

À sua maneira, o Federal Reserve - Fed, o BC americano - foi para o ataque e acelerou a redução da taxa de juro na tentativa de manter a economia aquecida. A política monetária frouxa alimentou a formação de bolhas de ativos. E o mundo capotou em 2008. A mudança da rota dos juros que tombaram a zero com a crise imobiliária estava prevista para o mês que vem, até a sexta-feira passada. O cronograma será mantido?

É precipitado, sem dúvida, supor que os mercados sofrerão com o fechamento de fronteiras na Europa; com o descaminho de milhares de refugiados que já afetavam o tecido sócio-econômico da região, procurando escapar do extremismo do mesmo Estado Islâmico; com o monitoramento mais intenso do espaço aéreo; e a queda na receita com turismo. Em breve, o estrago dos atentados na atividade será observado.

O especialista Mikel Buesa, professor de Economia do Terrorismo na Universidade Complutense de Madri, comenta em análises comparativas entre os atentados de Nova York em 2001; Madri, em 2004; e Londres, em 2005, que o custo das ações terroristas sobre a economia dos três países - EUA, Espanha, Inglaterra - revelou a importância da recepção ao ato terrorista. "Quanto maior for a reação na mídia e nos governos, maior será o impacto. Os terroristas querem propaganda", diz em entrevista ao Portal Terra e publicações internacionais.

Dentre as principais perdas para essas economias, afirma Buesa, está a redução significativa do PIB, mas o impacto econômico vem diminuindo, assim como seu impacto emocional e político porque a sociedade aprendeu a moderar suas reações. Buesa diz que muito foi aprendido com os atentados dos últimos anos, o que contribui para conter prejuízos. Muitos estudos foram desenvolvidos mapeando efeitos no turismo e nos investimentos.

O professor conta que para um país desenvolvido que sofre um atentado terrorista, o PIB tem uma redução de 0,7% a cada 1 milhão de pessoas. No caso de países subdesenvolvidos, a queda dobra. "Em Nova York, fizemos uma pesquisa e detectamos que logo após os atentados diminuem - nesta ordem de importância - o número de passageiros nos trens e nos ônibus, o número de espectadores de teatro e cinema e de clientes em restaurantes, além de haver uma redução no trânsito de turistas. Mas também verificamos que entre seis meses e um ano depois, os dados para esses setores já haviam voltado ao normal."

Em Nova York (2001), bancos perderam todos os registros com a queda dos sistemas. Em Madri (2004) já havia cópias em outros locais. Em Londres (2005), as consequências econômicas foram quase inexistentes.

Celso Rocha de Barros: Levy e Meirelles

- Folha de S. Paulo

Ao escrever essa coluna, posso estar sendo feito de otário, e gostaria que o leitor soubesse disso, para não correr o mesmo risco. Há boatos de que Henrique Meirelles pode substituir Joaquim Levy na Fazenda. Há uma possibilidade razoável de ser blefe, coisa de quem quer desgastar Levy, desgastar Dilma, ou simplesmente ganhar uns trocados na bolsa de valores.

Mas vamos supor que não seja nada disso, e que a substituição seja uma possibilidade real. No mínimo, vale o exercício, pois pode ajudar a esclarecer o que está em jogo no ajuste. O que de substantivo aconteceria?
A julgar pelo retrospecto e pelas declarações recentes, não faz muito sentido esperar que Meirelles seja um ministro da fazenda heterodoxo. Meirelles tem uma visão de economia exatamente igual à de Levy. Supondo níveis semelhantes de competência (e por que não fazê-lo?), a substituição, sozinha, não quer dizer muito.

Na verdade, de acordo com o que tem vazado, Meirelles seria um ministro mais ortodoxo que Levy. O que se tem dito é que exigiria o direito de nomear a equipe econômica inteira. Para os propósitos dessa discussão, só o que faria diferença seria a substituição do desenvolvimentista Nelson Barbosa no Planejamento. Cada um terá uma opinião diferente sobre a conveniência de fazê-lo, mas é indiscutível que isso aumentaria o teor de ortodoxia no governo.

Dentro desses parâmetros, só faria diferença trocar o ministro se isso fosse parte de algum grande arranjo político que, por motivos que não estão claros, fosse mais fácil com Meirelles.

O problema do ajuste fiscal em 2015 não foi a falta de um plano de longo prazo, foi a dificuldade de aprovar qualquer coisa durante a crise política. Os parlamentares passaram 2015 sem saber se deviam fazer acordos com esse governo ou com o que o substituiria em caso de impeachment. Deve-se dizer, semana passada houve sinais de que as coisas começaram a destravar no Congresso (ao que parece, sem relação com os boatos de substituição na Fazenda).

Por outro lado, o ajuste fiscal de longo prazo, que talvez devesse ter prioridade sobre o de curto prazo (discutam, economistas) depende de negociações realmente difíceis. Pensem na Previdência, ou nas vinculações orçamentárias, por exemplo. Isso se resolve com grandes acordos políticos, e em 2015 não conseguimos fazer nem acordos políticos modestos.

Ainda segundo os boatos, Meirelles seria uma indicação de Lula. Não sabemos porque Lula gostaria de trocar um ortodoxo por outro, mas vamos supor que queira fazê-lo. Nesse caso, o apoio de Lula faria diferença, se fosse sinal de que o PT pretende declarar apoio ao ajuste de longo prazo. Não são esses os ruídos que têm vindo do PT.

Se não houver nada disso, a substituição seria apenas um exemplo de mudar o técnico para ver se melhora a moral do elenco. Às vezes dá certo, mas raro é o time rebaixado que não tenha tentado dar uma animada mudando o técnico três ou quatro vezes durante o campeonato.

Há uma crise política em curso, que talvez tenha começado a arrefecer, mas ainda não passou. E a sociedade civil precisa fazer a discussão da sustentabilidade fiscal do Estado brasileiro. Nem Joaquim Levy nem Henrique Meirelles são o problema, e nenhum deles, sozinho, será a solução.