terça-feira, 23 de agosto de 2016

Opinião do dia – Karl Marx

É certo que a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas, que o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria converte-se em força material quando penetra nas massas. A teoria é capaz de se apossar das massas ao demonstra-se ad hominem, e demonstra-se ad hominem logo que se torna radical. Ser radical é agarrar as coisas pela raiz. Mas, para o homem, a raiz é o próprio homem.

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Karl Marx (1818-1883), ‘Critica da filosofia do Direito de Hegel’ – Introdução, p.151- Boitempo Editorial, São Paulo, 2005.

Na contramão do ajuste

• PMDB, partido de Temer, trabalha para aprovar aumento salarial aos ministros do STF

Júnia Gama, Isabel Braga, Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- Na contramão do discurso de austeridade com as contas públicas, o PMDB, partido do presidente interino, Michel Temer, vem tentando acelerar a aprovação dos projetos que concedem aumentos salariais aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao procurador-geral da República e aos defensores públicos. A proposta do STF, que serve como teto do funcionalismo e tem efeito cascata para toda a administração pública, vinha sendo apoiada, inclusive, pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Diante da resistência do PSDB e do DEM, que vêm se desentendendo com o governo em relação à condução da pauta econômica, o Executivo ontem recuou. Mas apenas temporariamente.

Nos bastidores, Planalto e Senado já discutem posse

• Temer pode assumir Presidência definitivamente horas após julgamento de Dilma, como ocorreu com Itamar quando Collor saiu

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - O impeachment de Dilma Rousseff ainda não foi aprovado pelo Senado, mas o Palácio do Planalto e o Senado, nos bastidores, já discutem como será a cerimônia de posse de Michel Temer como presidente efetivo da República, em sessão solene do Congresso. A ideia é que seja adotado o mesmo rito de 1992, quando Itamar Franco tomou posse depois do processo contra Fernando Collor, que renunciou ao cargo de presidente no julgamento final do impeachment.

O julgamento final de Dilma começa na quinta-feira, mas a votação só deve ocorrer entre os dias 30 e 31. A avaliação é que acabe na madrugada de 31. Neste caso, a sessão do Congresso para a posse de Temer poderia ocorrer às 15h, para dar tempo de todos descansarem, mas isso depende de definição do presidente do Supremo Tribunal Federal e do processo de impeachment, ministro Ricardo Lewandowski. Além disso, interlocutores de Temer lembram que ele tem viagem marcada para a China no dia 31, em caso de aprovação do impeachment.

Senado vai examinar cláusula de barreira

• Proposta que contém proliferação de partidos está na pauta de comissão

Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- O Senado começa a discutir amanhã a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece o fim das coligações nas eleições proporcionais a partir de 2022 e cria cláusula de desempenho para acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita de rádio e TV. Na pauta da Comissão de Constituição e Justiça, a proposta, de autoria dos senadores tucanos Aécio Neves (MG) e Ricardo Ferraço (ES), pretende conter a proliferação de partidos.

A PEC dos tucanos, relatada por Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), estende a regra de fidelidade partidária aos detentores de cargos majoritários. O Supremo havia decidido que a regra que leva à perda de mandato de quem troca de partido só se aplicava aos cargos proporcionais. Se aprovada este ano, a regra já valerá para prefeitos eleitos em outubro.

Regra de transição
No caso da cláusula de desempenho, a proposta prevê uma regra de transição. Para ter direito a Fundo Partidário e tempo de televisão, os partidos teriam que obter, nacionalmente, pelo menos 2% dos votos para deputado federal, com este percentual tendo que ser atingido também em pelo menos 14 estados. Em 2022, o piso subiria para 3% dos votos nacionais.

Ferraço está animado com a possibilidade de avançar com a matéria no Senado.

— Estou otimista, conversei com muitos líderes, todos convencidos desta necessidade. Não há viva alma que defenda que o nosso sistema político fique como está, com 27 partidos com representação e 34 com registro no TSE. Precisamos de determinado tipo de desempenho para acesso ao fundo e ao tempo de TV.

Ação de Dilma por votos contra impeachment abre crise com PC do B

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um pedido da presidente afastada, Dilma Rousseff, abriu uma crise entre o comando do PT e do PCdoB.

Na expectativa de conquista de votos contrários a seuimpeachment no Senado, Dilma pediu que a cúpula do PT interviesse em cinco cidades do Maranhão em atendimento a reivindicações dos senadores maranhenses João Alberto (PMDB) e Roberto Rocha (PSB).

O comando do PT interveio em apenas dois municípios. Em Codó, quinta maior cidade do Estado, determinou que o PT rompesse a aliança com o PC do B, na qual ocuparia a vice da chapa, para apoiar o candidato do PSDB.

Em Timon, terceiro maior município do Maranhão, a direção petista decidiu que o partido saísse de uma chapa composta por PSB e PC do B em favor do outra integrada por PSD e PMDB.

Segundo petistas, a operação também contemplaria o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Geddel chama de 'bobagem' crítica de que Temer receia delação

Gustavo Uribe, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, rebateu nesta segunda-feira (22) a presidente afastada Dilma Rousseff.

Segundo ele, é uma "bobagem" a crítica feita pela petista de que o presidente interino, Michel Temer, quer agilizar a votação do processo de impeachment no Senado Federal com medo do surgimento de denúncias que o comprometam.

"Eu prefiro não comentar as bobagens que a presidente afastada fala", disse o ministro.

Em entrevista ao SBT, exibida na madrugada desta segunda-feira (22), a petista disse que o governo interino tem medo de uma delação premiada "que mostre claramente qual é o grau de comprometimento de quem" a votação do impeachment beneficia.

Sob pressão do STF, Janot rompe acordo de delação com OAS

Procuradoria rompe negociação de delação com Léo Pinheiro

Aguirre Talento, Gabriel Mascarenhas, Bela Megale, Daniela Lima e Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio à cobrança de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou o rompimento das negociações de delação premiada com Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira, um dos principais alvos da Operação Lava Jato.

A decisão ocorreu após ter vazado que o nome do ministro do STF José Antônio Dias Toffoli havia sido mencionado nas conversas entre Pinheiro e procuradores da República. A informação foi divulgada pela revista "Veja" no fim de semana.

O vazamento provocou uma reação de ministros do Supremo contra a PGR nos bastidores sob a avaliação de que não há, ao menos por ora, nenhum indício de crime contra Toffoli.

A história envolvendo o ministro e a OAS não teria, segundo advogados e investigadores, se transformado em um anexo da pré-delação –ou seja, oficialmente o caso estaria fora do "cardápio" da colaboração.

PGR suspende negociação de delação com Léo Pinheiro, da OAS

• A determinação veio do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após vazamento de informações sobre as tratativas entre o empresário e os investigadores da Lava Jato

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria-Geral da República suspendeu as negociações de delação premiada do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro. A informação foi revelada pelo jornal "O Globo" nesta segunda-feira, 22, e confirmada pelo Estado.

A determinação veio do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após vazamento de informações sobre as tratativas entre o empresário e os investigadores da Lava Jato.

No final de semana, a revista "Veja" revelou que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli é citado na proposta de delação de Pinheiro. Segundo investigadores com acesso ao caso, a informação não consta em nenhum anexo - como são chamados os documentos prévios à celebração do acordo de colaboração, nos quais o delator informa o que vai contar.

O vazamento da informação deixou Janot muito incomodado, segundo fontes ligadas à PGR. O vazamento das informações é interpretado pela procuradoria como uma forma de pressão para concluir o acordo, que pode beneficiar Pinheiro.

A delação de Léo Pinheiro tem sido uma das mais complicadas desde o início da investigação, mas nas últimas semanas avançou após a assinatura de um acordo de confidencialidade entre as partes. Agora, as tratativas foram rompidas.

De acordo com a reportagem da revista Veja, Toffoli recorreu a uma empresa indicada por Léo Pinheiro para realizar uma obra em sua casa em Brasília. Ainda segundo a reportagem, o executivo da OAS informou que o próprio ministro teria custeado as despesas. Ao Estado, Toffoli disse que não possui relação de intimidade com Léo Pinheiro e que pagou pelas reformas realizadas em sua residência.

Documento da OEA sobre impeachment é ‘besta’, diz Serra

• Ministro das Relações Exteriores afirma ainda que pedido de informações de órgão internacional sobre processo de afastamento de Dilma Rousseff é ‘malfeito’

Mariana Sallowicz, - O Estado de S. Paulo

RIO - O ministro das Relações Exteriores, José Serra, chamou nesta segunda-feira, 22, de “besta” e “malfeito” o documento com pedido de explicações sobre o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff enviado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).

“A OEA mandou um documento besta, malfeito, e quem tem que responder a respeito de impeachment, evidentemente, é o Congresso. O impeachment não tem nada a ver com o Executivo, tem a ver com o Congresso”, afirmou Serra, durante evento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), no Rio de Janeiro.

Apesar da crise política, cresce número de candidatos

• Este ano serão 485 mil na disputa; mas PT registra queda de quase 50%

Fábio Vasconcellos - O Globo

Crise política, baixa confiança da população nos partidos e fim do financiamento privado de campanha. O cenário da disputa eleitoral deste ano tinha tudo para desmotivar o lançamento de candidaturas. Sem recursos, a saída para as legendas seria reduzir o número de competidores. Mas não foi isso que aconteceu. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que o Brasil terá 485 mil candidatos a prefeito, vice-prefeitos e vereadores, um volume quase 1% maior que o registrado em 2012. O comparativo considera todos os registros antes do julgamento feito pelo TSE, a quem cabe deferir ou não as candidaturas.

Pelos dados, a crise parece ter afetado mais as estratégias do PT. Entre os partidos que disputam prefeituras, a legenda reduziu quase à metade as suas candidaturas. Serão 992 frente aos 1,8 mil de 2012. PTB e PR também apresentam variação negativa no período. Apesar disso, o número de candidatos a prefeito, considerando todos as siglas, é 3% maior este ano. O PMDB lidera a lista com mais de 2,3 mil candidatos.

Número de candidatos a prefeito do PT cai pela metade em todo o país

Por Ricardo Mendonça – Valor Econômico

SÃO PAULO - O primeiro sinal eleitoral da crise enfrentada pelo PT apareceu ontem na planilha geral de registro de candidaturas organizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Este ano o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente afastada, Dilma Rousseff, lançou 23.599 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, uma queda de 47,2% em relação ao total de postulantes petistas em 2012, ano da última eleição municipal.

Entre as agremiações grandes, médias e pequenas, nenhuma caiu tanto nesse quesito. Apenas o nanico PCB (Partido Comunista do Brasil) apresenta um número proporcionalmente mais expressivo, com queda de 57%. O PTB, terceira maior redução, caiu 17%. O arquirrival PSDB caiu 6,6%.

Outra forma de medir o encolhimento do PT é pelo ranking de candidatos a prefeito. Quatro anos atrás -antes da Operação Lava-Jato e enquanto Dilma batia recordes de popularidade-, a sigla era a segunda com o maior número de candidatos no país, atrás apenas do PMDB. Disputava o comando de 1.901 municípios com nomes próprios. Agora, os petistas são cabeças de chapa em 992 localidades (-47,8%), o que coloca a legenda na sexta posição do ranking, atrás de PMDB, PSDB, PSD, PP e PSB (confira no gráfico).

No sentido oposto, dois partidos médios apresentam notável aumento no número de candidatos a prefeito. O PSD, que passou de 1.170 postulantes em 2012 para 1.346, crescimento de 15%, e o PRB, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, que pulou de 320 para 426, avanço de 33,1%. O PRB tem candidatos competitivos nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, com o deputado federal Celso Russomanno, líder nas pesquisas, e no Rio, com o senador Marcelo Crivella.

Cinco partidos que não existiam em 2012 (Pros, PEN, Rede, PMB e Novo) irão participar desta eleição com 29.290 candidatos a prefeito, vereador e vice. Liderada pela ex-ministra Marina Silva, que concorreu à Presidência em 2010 e 2014, a Rede estreia com 153 nomes para prefeito.

Ibope divulga pesquisas eleitorais em oito capitais

- Valor Econômico

SÃO PAULO - Atual prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) seria reeleito no primeiro turno se a disputa fosse hoje, segundo o Ibope divulgou ontem. Ele tem 68% das intenções de voto, segundo a pesquisa que ouviu 602 eleitores entre 18 e 21 de agosto.

Em segundo lugar está Alice Portugal (PCdoB), com 8% e em terceiro Sargento Izidorio (PDT), com 6%. A pesquisa foi registrada sob o número 02257/2016 no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Bahia. Ela foi encomendada pela TV Bahia.

No Recife, o atual prefeito, Geraldo Julio (PSB), está em segundo lugar, com 26%. O líder é João Paulo (PT), com 27%, resultado que configura empate estatístico. O terceiro colocado, Daniel Coelho (PSDB), tem 11%. A pesquisa foi registrada sob o número 02025/2016, no TRE-PE, por encomenda da Rede Globo e Folha de Pernambuco. O Ibope ouviu 805 eleitores entre 18 e 21 de agosto.

Em Belo Horizonte, João Leite (PSDB) tem 21%, contra 11% do ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil (PHS). O terceiro colocado é Luis Tibé (PTdoB), com 6%. A pesquisa foi realizada entre 18 e 21 de agosto, com 805 entrevistados, e encomendada pela Rede Globo. O número é 04289/2016, registrado no TRE de Minas Gerais.

Já em Porto Alegre, Luciana Genro (Psol) segue na liderança, com 23%, seguida por Raul Pont (PT), com 18%. O terceiro colocado é Nelson Marchezan Jr (PSDB), com 12%. Foram ouvidas 602 pessoas entre 18 e 21 de agosto. O número da pesquisa, encomendada pelo Grupo RBS, é 09253/2016, registrada no TRE-RS.

Críticas ao PT dão o tom do 1º debate em São Paulo

• Marta fala do Minha Casa, e Doria, da economia; líder nas pesquisas, Celso Russomanno é poupado

- O Globo

O primeiro debate entre candidatos a prefeito de São Paulo, ontem à noite, na TV Bandeirantes, foi marcado por críticas à gestão petista no governo federal, com o objetivo de atingir o prefeito Fernando Haddad (PT), que tenta a reeleição. O PT foi acusado pelos candidatos de destruir a economia e abandonar projetos sociais. E chegou a ser chamado de “quadrilha”.

A candidata do PMDB, a ex-petista Marta Suplicy, criticou o governo da qual foi ministra ao mencionar construções interrompidas que viu durante a pré-campanha em São Paulo: — O que vi de Minha Casa Minha Vida parado! Ao ser perguntado sobre o que fará para gerar empregos na capital paulista, se eleito, João Doria, do PSDB, afirmou que terá que “rezar para a economia melhorar”:

O pêndulo das gerações - José de Souza Martins

• Polêmica em torno de proposta de uma Escola sem Partido revela desconhecimento sobre a força das novas gerações, diz sociólogo

O Estado de S. Paulo /Aliás, 21/8/2016.

A celeuma em torno da chamada escola sem partido revela fraturas na sociedade brasileira mais profundas do que a da mera discórdia em relação a concepções de escola. Tanto os argumentos dos que defendem a escola sem partido quanto os dos que defendem a escola sem mordaça expõem o inconciliável da segmentação da sociedade brasileira, iniciada nos idos de 1968, por coincidência o ano da rebelião juvenil, especialmente na USP, e o ano do Ato Institucional nº 5, o mais contundente cala a boca que o Estado brasileiro pôs em vigor desde o final da Segunda Guerra Mundial. De fato, os embates de agora, de um lado e de outro, filiam-se à polarização que dividiu o Brasil profundamente há meio século e que nos divide até hoje.

Decisão controvertida - Merval Pereira

- Globo

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está sendo instado a mudar a decisão de cancelar as negociações da delação premiada do ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro, transformando-a em uma suspensão temporária, enquanto novas regras são negociadas.

Janot irritou-se com o vazamento de partes da delação na revista “Veja”, em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli aparece, numa sugestão de acusação que apenas se insinua, segunda a própria reportagem.

O ministro teria consultado o empreiteiro a respeito de infiltrações em sua casa, que sugeriu uma empresa para tratar do caso. Ambos afirmam que foi Toffoli quem pagou o conserto, mas na reportagem há insinuações de que, se o ex-presidente da OAS citou esse caso, é porque indicava ter mais coisas a contar.

Primeira vez – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A tocha olímpica mal se apagou e a Lava Jato voltou a incendiar o noticiário. A Procuradoria-Geral da República interrompeu as negociações com Léo Pinheiro, o ex-presidente da OAS. Ele acenava com uma delação capaz de implodir boa parte do sistema político.

O empreiteiro sugere ter dinamite para abalar todas as facções em guerra pelo poder. Até ser preso, ele era próximo de altos personagens do governo afastado e do interino. Também circulava na cúpula do Judiciário, uma zona de sombra que começa a ser iluminada pela investigação.

Pinheiro já deu pistas sobre Lula, Michel Temer e Aécio Neves, para citar apenas três políticos graúdos que orbitam sua delação. Ele participou das obras no sítio de Atibaia, negociou um repasse de R$ 5 milhões com o presidente interino e relatou o suposto pagamento de propinas na maior obra do tucano em Minas.

Nem tudo é desgraça - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Vamos admitir: nós, brasileiros, morríamos de medo de que fosse tudo um vexame e, antes mesmo que começasse, estávamos loucos para a Olimpíada passar logo. Pois agora estamos orgulhosos, com a sensação de que tudo deu certo e morrendo de saudade. Se tudo o que é bom acaba rápido, a Olimpíada acabou muito rápido, deixando um gostinho de “quero mais”.

Como nada é perfeito, muito menos o Brasil e o Rio, tivemos ônibus de estrangeiros apedrejado, um soldado da Força Nacional assassinado com um tiro na cabeça, um técnico alemão morto num acidente de trânsito e um festival de pequenos furtos – de carteiras, celulares, objetos pessoais. Sem falar na ciclovia que desabou, na “piscina verde” e nas críticas às condições (ou falta de) das águas cariocas e nos entupimentos da Vila Olímpica.

Todas essas coisas poderiam ter acontecido em qualquer outra parte do mundo, com exceção, talvez, do soldado vítima do tiro ao entrar por engano na Favela da Maré. Mas, dificilmente, o clima de festa teria sido tão contagiante. Logo, o Brasil tem desvantagens que não são exclusividades brasileiras, mas tem festas com muita personalidade.

Os piores temores geraram intensos debates dentro e fora do País, mas só antes do início dos Jogos. Bastou a bela e criativa cerimônia de abertura, que cativou a imprensa mundo afora, para que ninguém mais falasse ou sequer se lembrasse de atentados terroristas, de Estado Islâmico, Al-Qaeda, Aedes aegypti, zika, dengue, chikungunya e H1N1.

Negros, louros, mulatos, mulheres e homens de todos os cantos do mundo caíram na maior farra e houve até o triste episódio do norte-americano Ryan Lochte inventando uma mentira cabeludíssima só para, aparentemente, esconder da namorada que andava chegando às 7 da manhã no hotel. Mas não há notícia de epidemias, gripes, contágios.

Dentro das quadras e piscinas, o Brasil pouco evoluiu: com 200 milhões de habitantes, sol o ano inteiro, florestas, oceanos, mares, rios e cachoeiras, poderia sonhar, e sonhou, em ficar entre os dez primeiros, mas acabou em 13.º lugar, com 19 medalhas, sete delas de ouro. Com essas condições e esses anos todos para se preparar, poderia sair melhor.

Mas também é justo destacar que as nossas medalhas foram emocionantes. Rafaela Silva, no judô, Thiago Braz, com o recorde do salto em vara, Alison “Mamute” e Bruno Schmidt, no vôlei de praia, o time do Bernardinho, que começou mal, foi crescendo e levou o ouro. Tudo foi disputado, chorado, comemorado à brasileira. E o Isaquias, que sai da Olimpíada com três medalhas, direto da Bahia para o mundo? E o choro do Diego Hypólito ao ganhar a prata?

E não foi só isso. Difícil descrever o fascínio dos brasileiros diante de Usain Bolt, Michael Phelps, Simone Biles? Tudo aqui pertinho, no Rio, no Brasil. Arenas, pistas e a grande maioria das piscinas deram conta, a iluminação foi perfeita e a torcida brasileira... bem, foi a torcida brasileira.

Além disso, o Rio herda dessas duas semanas o BRT, o novo metrô, dois museus, o Porto Maravilha. O estádio aquático pode ser desmontado e instalado em comunidades carentes, parte significativa do Complexo de Marechal será delegado ao Exército, Marinha e Aeronáutica, para treinar jovens talentos e patrocinar atletas prontos.

Olimpíadas não resolvem os males nacionais, mas ajudam a sacudir positivamente a autoestima do País e a mostrar que, “yes, we can”, sim, nós podemos fazer uma festa muito bonita de abertura, receber bem milhares de estrangeiros, criar as condições necessárias para realizar os jogos mais importantes do planeta. O impeachment da primeira presidente mulher, a crise econômica, o desemprego, a Lava Jato e a desigualdade social continuam, mas a Olimpíada deixa uma nação de alma lavada, com a sensação de dever cumprido.

Lições dos jogos - Míriam Leitão

- O Globo

Sem tempo para o descanso, o Brasil entra esta semana na reta final do processo de impeachment, que tem sido longo e tenso. A crise econômica permanece entre nós. Os Jogos Olímpicos se foram. Quando o fogo apagou no Maracanã, em noite de chuva e ventos fortes, o estádio fez o som de lamento. O trabalho para o sucesso da Rio 2016 continua porque é a hora de realizar o planejado e consolidar o legado.

Para que uma Olimpíada dê certo, é preciso muita estratégia, planejamento e trabalho, antes; boa execução e sorte, durante; e novo esforço, depois. Agora é a hora de confirmar o legado. A luta para evitar a repetição de Atenas, com seus equipamentos esportivos abandonados, tem que ser retomada agora, para realizar o que foi planejado e transformar arenas e ginásios em escolas, centros esportivos e de lazer. Para isso, será preciso investimento e esforço de manutenção, num país que permanece em crise fiscal.

Temer entre a indústria e a China - Fernando Exman

• Empresariado quer manter mecanismos de defesa comercial

- Valor Econômico

O presidente interino Michel Temer planeja estrear no palco internacional já nos próximos dias como o novo chefe de Estado e governo do Brasil, tão logo seja sacramentado o impeachment de Dilma Rousseff. Ele se prepara para apresentar a líderes e investidores estrangeiros um Brasil ávido por parcerias e negócios, mas, uma vez à frente da Presidência da República de forma definitiva, também passará a encarar de frente os desafios que se colocam ao país nessa área. Um deles é a proximidade da data em que a China, justamente o primeiro destino de Temer, pode passar a ser reconhecida como uma economia de mercado.

A postura do seu governo a respeito desse assunto deve ser um dos fatores a ditar o nível de respaldo político que Temer receberá de grande parte do setor industrial daqui em diante. Também não devem passar despercebidas pelo empresariado as opiniões de outros potenciais candidatos a presidente. Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e das Relações Exteriores, José Serra, por exemplo, têm papel fundamental na formulação do posicionamento brasileiro nessa questão.

O rival de Paes – José Casado

• Na cidade remodelada, com saúde, transporte e habitação insuficientes, emergiu uma nova liderança. O problema do prefeito é a paixão pela própria imagem no espelho

- O Globo

Aconteceu na primavera de oito anos atrás. O Rio acabara de passar à fase final da disputa para sediar a Olimpíada de 2016 com Chicago (EUA), Tóquio (Japão) e Madri (Espanha).

A delegação do Brasil foi comemorar num restaurante aos pés da Acrópole de Atenas — obra simbólica da modernidade da Grécia do século V, antes de Cristo, erguida por Péricles, um democrata reformador, sob influência da mulher Aspásia de Mileto, e com ajuda do escultor Fídias, cuja empreitada foi marcada por acusações de desvio de verbas.

Rio venceu o desafio de realizar uma boa Olimpíada – Editorial / Valor Econômico

Apesar das adversidades e do ceticismo generalizado, o Rio de Janeiro fez da Olimpíada de 2016 uma bela festa. Sem tradição de planejamento de longo prazo e com a proverbial ineficiência da máquina pública, as obras só engrenaram em cima da hora, deixando de novo a desagradável impressão de que apenas um triz separa o desastre do sucesso. Na competição, o Brasil teve seu melhor desempenho olímpico, com 19 medalhas, um pouco melhor que no passado, mas ainda aquém do potencial devido a uma política deficiente, que privilegia atletas que já demonstraram grande potencial. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, saiu-se bem do pesadelo logístico que teve de encarar.

A escolha do Rio como sede dos jogos foi feita em 2009, em uma cartada de prestígio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também conseguira trazer para o Brasil a Copa do Mundo. Influência política global e projeção da imagem do país estiveram à frente de quaisquer outros cálculos, como o dos enormes custos de infraestrutura e organização.

O aumento da informalidade – Editorial / O Estado de S. Paulo

O aumento do número de trabalhadores sem registro em carteira – e, portanto, sem as garantias e os direitos com que contam os regularmente contratados – representa uma preocupante interrupção do relativamente longo período de intensa formalização do mercado de trabalho e da atividade econômica em geral, cujas consequências foram positivas para as famílias, as empresas regularmente estabelecidas e o governo. Dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram a existência, no País, de mais de 10 milhões de pessoas que trabalham na informalidade. Boa parte delas, como mostrou reportagem do Estado, perdeu o emprego por causa do agravamento da crise econômica. Esses trabalhadores buscam alguma renda em atividades esporádicas e sem nenhuma forma de registro, enquanto esperam o retorno ao mercado formal. Em geral, trabalham mais, mas ganham bem menos do que ganhavam quando regularmente empregados.

Vício tributário – Editorial / Folha de S. Paulo

Seria difícil apontar o mais pernicioso dos artifícios adotados para mascarar a deterioração das finanças públicas nos últimos anos, mas a banalização dos programas de parcelamento de dívidas com o fisco por certo figuraria entre os principais candidatos.

A arrecadação dava os primeiros sinais de enfraquecimento ao final de 2013 quando o governo Dilma Rousseff (PT) se valeu do expediente. Reabriu-se o plano lançado em 2009 –que já havia sido o quarto em um decênio– com juros e prazos privilegiados para que empresas com tributos em atraso regularizassem sua situação.

Teto de gastos é um divisor de águas para o país – Editorial / O Globo

• Limitar a evolução de dispêndios à inflação do ano anterior é medida lógica para acabar com o desvario de se permitir o crescimento autônomo de despesas

Confirmados os prognósticos para o julgamento do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, Michel Temer terá de enfrentar, logo em seguida, a decisiva agenda legislativa do teto para os gastos públicos. Não será fácil esta batalha, crucial para a estabilização do país e, por decorrência, o governo. A aprovação da emenda constitucional é chave para que as despesas públicas reduzam o ritmo de crescimento, e mude a percepção real de que o Tesouro ruma para a insolvência (default).

A indústria e a lição dos erros – Editorial / O Estado de S. Paulo

Progresso econômico para valer, sem o risco de mais um voo de galinha, só será possível se o governo tiver aprendido as lições da crise – pelo menos em grau suficiente para evitar a repetição dos piores erros cometidos entre 2010 e 2015. Um dos enganos mais graves foi a política de estímulos fiscais e financeiros a setores e grupos, com enorme desperdício de dinheiro, desastrosa sangria do Tesouro e grave perda de produtividade e competitividade. A economia brasileira será mais segura, se a primeira reação do presidente Michel Temer, ao ouvir a expressão “política industrial”, for de cautela e até desconfiança.

Entre 2012 e 2015 a produção da indústria brasileira só cresceu em um ano (2013), apesar dos muitos estímulos oficiais e do protecionismo aduaneiro. Para o setor manufatureiro a recessão começou no meio do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, continua neste ano e, por todas as projeções, só será substituída por uma leve reativação em 2017.

Consolo na praia – Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores
A infância está perdida
Mas a vida não se perdeu

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras
Em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
Murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
Precipitar-te de vez_ nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.